Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
4.● Predomínio de neutrófilos na fase inicial, nas primeiras 24 horas, nas inflamações desencadeadas
pela maioria dos agentes flogógenos, pela ação de citocinas e quimiocinas liberadas por macrófagos
e células dendríticas residentes, ativadas, nos tecidos com lesão. Depois das 48 horas, os monócitos,
ativados como macrófagos M1 (pró-inflamatórios), passam a ser os dominantes no sítio inflamatório.
Nas inflamações decorrentes de infecções virais ou por micobactérias, por exemplo, predominam os
linfócitos, plasmócitos, monócitos e macrófagos. Os neutrófilos também podem estar presentes nas
inflamações crônicas de longa duração como, por exemplo, na osteomielite bacteriana crônica, em
pneumonites crônicas, etc.
• Marginação leucocitária, onde os leucócitos ativados entrando em contato com o endotélio, também
ativado, são estimulados a saírem da luz vascular para o interstício tecidual, caracterizando a
diapedese (predominantemente na região venular).
• = Comprometimento da função
Os Fenômenos da Inflamação
(1) Segundo Brasileiro Filho, G. - Bogliolo Patologia Geral, sexta edição, Rio de Janeiro, Guanabara Kogan, 2018.
As Citocinas e Quimiocinas
As citocinas são proteínas produzidas por células do sistema imunológico, parenquimais, endoteliais
e estromais, que regulam asrespostas imunológicas [inata e adaptativa (humoral e celular)], modulam
as funções de inúmeras células, com ações pró-inflamatórias e anti-inflamatórias, etc.
As quimiocinas são peptídeos de baixo peso molecular, que promovem a ativação e a diferenciação
celulares e controlam o tráfego das células (quimiotaxia), exercendo atração celular. São
caracterizadas por quatro grandes grupos, segundo os resíduos de cisteína na extremidade N (NH 2,
aminoterminal) do peptídeo, a saber: as quimiocinas do grupo CXC (com duas cisteínas separadas
por um outro aminoácido qualquer); do grupo CC (com duas cisteínas contíguas); do grupo C(γ) (com
uma cisteína) e do grupo C3XC(δ) (com duas cisteínas separadas por 3 outros quaisquer
aminoácidos). As quimiocinas podem ser induzidas ao serem secretadas após agressões,
promovendo a ativação, a diferenciação e o tráfego dos leucócitos na inflamação e, ou ter função
homeostática, ao regularem a migração das células nos órgãos linfoides. Também atuam na migração
e diferenciação celulares durante a embriogênese, na quimiotaxia e diferenciação de células
neoplásicas malignas, e na regulação da angiogênese. Considerando-se o processo inflamatório e a
resposta imunológica, citamos, a seguir, algumas citocinas e quimiocinas:
Neuropeptídeos
Os neuropeptídeos são secretados por terminações nervosas e leucócitos, iniciando e regulando a
resposta inflamatória. Como exemplos, a substância P promove vasodilatação, aumento da
permeabilidade vascular e dor. As neurocininas A e B, promovem vasodilatação e broncoconstrição.
O peptídeo relacionado ao gene da calcitonina exerce efeitos contrários aos da substância P e da
histamina e induz os mastócitos a produzirem a IL-10, etc.
A Evolução da Inflamação
Os processos inflamatórios agudos, especialmente nos tecidos lábeis e estáveis, quando os agentes
flogógenos, desencadeadores de lesão tecidual foram eliminados, não tendo ocorrido muita lesão,
evoluem para cura, com resolução completa, com regeneração e pouca fibrose, ou o processo de
reparo, cura, pode associar-se com a formação de tecido conjuntivo fibroso (cicatriz), cistos,
calcificações, etc, devido à ocorrência de complicações locais, como abscessos, necroses e
degenerações. Porém, quando o agente, endógeno ou exógeno, que desencadeia a lesão celular nos
tecidos não pôde ser eliminado, a reação inflamatória persiste, tornando-se crônica, até que a causa
da inflamação seja eliminada, permitindo o estabelecimento do reparo tecidual, ou seja, a cura. Leia
abaixo sobre Reparo Tecidual.
2) A INFLAMAÇÃO CRÔNICA - ANOTAÇÕES PERFUNCTÓRIAS
A reação inflamatória crônica é reação tecidual complexa com duração prolongada (semanas, meses),
onde inflamação ativa, processo de reparo e a destruição tissulares estão presentes.
Pode ser desencadeada por: 1. Infecções e parasitoses persistentes. 2. Exposição prolongada a
agentes tóxicos exógenos e endógenos (estresse metabólico). 3. Autoimunidade. 4. Corpos
estranhos, etc.
Os Macrófagos
Os monócitos estimulados por GM-CSF, LPS, IFNγ e produtos bacterianos diferenciam-se
em Macrófagos M1, que têm ações pró-inflamatórias com a liberação de IL-1 (3+), IL-12 (3+), IL-23
(3+), TNF (3+), IL-10 (+/-), CXCL-9 (quimiocina), radicais livres do NO e O2, metaloproteinases, etc, e
os estimulados por M-CSF, IL-4, IL-10, IL-13, IL-21, lipoxinas, resolvinas, corticosteroides, PGE 2,
vitamina D3 e CCR4, etc, diferenciam-se em Macrófagos M2, que liberam citocinas anti-inflamatórias,
fazem a remoção de restos apoptóticos e celulares, e estímulam o reparo e a angiogênese por meio
da liberação de citocinas, quimiocinas e fatores de crescimento.
As Células Dendríticas
Originam-se de precursores na medula óssea e realizam a fagocitose, o processamento e a
apresentação de antígenos (micro-organismos e outros) aos linfóctios TCD4+, via Complexo Principal
de Histocompatibilidade (MHC) de classe II e aos linfócitos T CD8+, via MHC de classe I, nos órgãos
linfoides regionais, para onde migraram a partir de seus sítios de origem na pele, mucosas, e no
interstício dos tecidos de muitos órgãos. Nos folículos linfoides as células dendríticas também
apresentam antígenos aos linfócitos B, favorecendo maior afinidade dos anticorpos produzidos com
os antígenos apresentados. Possuem receptores para a porção Fc de IgG e para C3b, podendo,
assim, capturar antígenos ligados com anticorpos e proteínas do complemento. Na pele foram
descritas as células dendríticas de Langerhans presentes na epiderme.
Os Mastócitos e Eosinófilos
Os mastócitos distribuem-se nos tecidos conjuntivos dos órgãos em geral, incluindo a pele e as
mucosas. Participam nas reações de hipersensbilidade imediata por apresentarem receptores para a
porção Fc da IgE, liberando histamina, prostaglandinas e vários outros mediadores químicos, e nas
reações inflamatórias aguda e crônica. Liberam quimiocinas que atraem neutrófilos, mediadores
químicos pró-inflamatórios, citocinas imunorregulatórias de linfócitos B e linfócitos TH1 e TH2; realizam
o processamento e a apresentação de antígenos bacterianos para linfócitos T e macrófagos, e
participam dos processos de reparo teciduais promovendo a proliferação de fibroblastos, a síntese de
colágeno, a neoformação de vasos sanguíneos e a proliferação epitelial, entre outros. Os eosinófilos
estão envolvidos nas reações imunológicas mediadas por IgE, sendo recrutados para os tecidos onde
há reação de hipersensibilidade imediata, por meio de quimiocinas liberadas pelas células epiteliais,
linfócitos TH2 e mastócitos. Estão também presentes nos tecidos nas infecções parasitárias, de um
modo geral, envolvendo helmintos (trematódeos, cestódeos e nematódeos) e protozoários (Giardia
spp, Entamoeba spp, Leishmania spp, Cryptosporidium spp, etc).
A Destruição Tissular
No processo inflamatório os fenômenos alterativos, caracterizados por necrose e degeneração,
podem ser promovidos pela ação direta de agentes desencadeadores da inflamação (bactérias,
protozoários, agentes físicos e químicos, etc), assim como pela ação de enzimas liberadas das células
mortas, causando a autólise, ou de leucócitos, promovendo a heterólise, e, ou pela ação citotóxica
realizada pelos leucócitos. Igualmente, os fenômenos vasculares como a vasodilatação, o aumento
da permeabilidade vascular, o alentecimento da velocidade do fluxo sanguíneo e o dano endotelial,
podem promover a trombose local e causar isquemia tecidual, com necrose do tecido.
O Reparo Tecidual
O reparo dos tecidos depende da reação inflamatória, sendo caraterizado por regeneração das
estruturas celulares e extracelulares, ou por cicatrização, sendo substituídos os tecidos lesados por
tecido conjuntivo fibroso. Leia abaixo sobre Reparo Tecidual.
Doença de Crohn;
Doença Granulomatosa Crônica;
Outras Sarcoidose;
Doenças Cirrose biliar primária;
Granulomatose de Wegener e outras vasculites;
Câncer (Linfoma; Seminoma);
Viroses (Tireoidite granulomatosa de "de Quervain"); Etc.
As proteínas de fase aguda: a síntese das proteínas de fase aguda (fibrinogênio, proteína amiloide
sérico A, alfa-1-antitripsina, proteína C reativa, ceruloplasmina, haptoglobina, α2-macroglobulina, etc)
pelo fígado, é uma das muitas respostas do hospedeiro à infecção, inflamação ou trauma. Algumas
funções de tais proteínas podem ser citadas, a saber:
A síntese de Proteína C Reativa (PCR) é primariamente estimulada pela IL-6 e, em menor grau,
pela IL-1, e pode ser modificada por vários hormônios e citocinas. Após a liberação da PCR na
circulação, a sua deposição pode ocorrer nos sítios de lesão ou inflamação. A proteína C reativa,
ligada ao lipopolissacarídeo (LPS) bacteriano, ativa C1q do complemento. Juntamente com C3b,
atua como opsonina, o que facilita a fagocitose pelos neutrófilos e macrófagos. A ativação do
complemento, mediada pela PCR, não vai além de C3. A PCR ligada ao fator H (glicoproteína
reguladora da via alternativa do complemento), reduz a produção do complexo de ataque à membrana
(MAC).
A alfa-1-antitripsina é uma antiprotease do plasma, que modula a ação das proteases liberadas
pelos fagócitos.
A ceruloplasmina, proteína carreadora de cobre, atua favorecendo a remoção dos radicais livres
liberados pelos fagócitos, tendo uma função antioxidante.
A haptoglobina auxilia na opsonização, ajudando na fagocitose dos restos celulares.
A α2-macroglobulina é uma antiprotease, que inibe a coagulação e a fibrinólise.
A proteína amiloide sérico A tem várias funções como: é uma apolipoproteína que associa-se com
as lipoproteínas de alta densidade (HDL) no sangue, atuando no transporte de colesterol para o
fígado; promove o recrutamento de leucócitos (neutrófilos, monócitos, linfócitos T), mastócitos e outras
células para os sítios de inflamação, ao induzir a síntese de várias citocinas e quimiocinas; favorece
a síntese de enzimas (metaloproteinases) que degradam a matriz extracelular, etc.
O fibrinogênio como precursor da fibrina é importante para a hemostasia secundária pela formação
do trombo, favorecendo a angiogênese e a cicatrização. Além disso, o fibrinogênio em concentrações
aumentadas no plasma, neutraliza as cargas negativas nas superfícies das hemácias, permitindo a
agregação das mesmas, ficando as hemácias empilhadas, o que auxilia na formação do trombo,
caracterizado por rede de fibrina que agrega hemácias, plaquetas, leucócitos e moléculas do plasma.
A reação inflamatória é um processo local, tecidual, onde ocorreu o dano celular. As inúmeras células
envolvidas no processo, liberam citocinas, quimiocinas, e mediadores químicos, que promovem os
vários fenômenos teciduais descritos, os quais pelas vias sanguínea, linfática, e nervosa, levam
a repercussões sistêmicas, pela ativação do sistema neuroimunoendocrinológico, com a
manifestação de sinais e sintomas, subclínicos ou clínicos, dependendo do sítio e da intensidade do
processo inflamatório, em função do agente agressor, flogógeno, e da hipersensibilidade do
organismo. Assim, são comuns os linfonodos regionais, que drenam o sítio da inflamação, sofrerem
hiperplasia reativa pela liberação de antígenos do agente flogógeno, que podem promover a
proliferação cortical de folículos linfoides (linfócitos B) e, ou paracortical de linfócitos T, com a liberação
dos linfócitos na circulação, os quais vão para o sítio inflamatório. Igualmente a medula óssea sofre
estímulos por meio de fatores estimuladores de colônias e outras citocinas, para produzir e liberar, no
sangue, maior número de leucócitos e outras células hematopoéticas, ocorrendo a chamada
leucocitose. As teminações nervosas aferentes, nos sítios de inflamação, estimulam o Sistema
Nervoso Central, assim como várias citocinas (IL-1, TNF-α, IL-6, etc) liberadas no sangue, sendo,
assim, ativados vários centros nervosos, como o hipotálamo, e a partir deste, o eixo hipotálamo-
hipófise-adrenal-tireoide, com a liberação de ACTH e TSH, que promovem efeitos hipermetabólicos,
pela liberação no sangue de glicocorticoides (adrenal) e tiroxina (tireoide), favorecendo-se os
catabolismos lipídico, glicídico e protéico, os quais preparam o organismo para responder ao estresse
devido à inflamação, aumentando a glicemia (a glicose é importante substrato para a produção de
ATP), além de serem estimulados os centros nervosos de controle da temperatura corporal, do apetite,
e da vigilia, surgindo a febre, a falta de apetite e a sonolência. Também é estimulado o Sistema
Nervoso Autônomo, Simpático e Parassimpático, sendo liberados, respectivamente, a adrenalina e a
acetilcolina. A adrenalina aumenta a frequência e a força de contração cardíacas, o fluxo sanguíneo
dos músculos voluntários dos membros e a glicemia, além de promover a lipólise, o relaxamento
intestinal, a broncodilatação, etc, e ter efeito supressor da resposta imunológica pela ativação dos
receptores beta-adrenérgicos em macrófagos e linfócitos, e estimulador da fagocitose microbicida
pelos macrófagos, através do estímulo dos seus receptores alfa-adrenérgicos. A acetilcolina causa a
redução da frequência e da força de contração cardíacas, o aumento do fluxo sanguíneo no Sistema
Digestório, aumento de motilidade intestinal, dilatação de esfíncteres no trato gastrointestinal,
broncoconstrição, sudorese, aumento de salivação, etc, e tem atividade anti-inflamatória pela ativação
dos receptores colinérgicos em macrófagos e linfócitos.
Em determinadas situações devido à infecções, traumatismos, queimaduras, pancreatite, e a ação
de agentes físicos e químicos, etc, a resposta inflamatória local, pela liberação na circulação de muitas
moléculas de alarme de agressão ou pela disseminação de agentes infecciosos, pode estabelecer
uma Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica [caracterizada por: hipertermia (>38oC) ou
hipotermia (<36oC), aumento da frequência cardíaca (>90 bpm), aumento da frequência
respiratória (>20 irpm), paCO2menor que 32 Torr, leucócitos com
contagem > 12.000/mm3 ou < 4.000/mm3], devido às síntese e liberação sistêmicas de mediadores
químicos da inflamação, com ativação sistêmica endotelial, vasodilatação, aumento da
permeabilidade vascular, edema generalizado, que devido à vasodilatação arteriolar sitêmica
promove hipoperfusão e hipoxemia em muitos órgãos, promovendo necrose e degenerações, com
liberação de radicais livres e enzimas pelas células inflamatórias locais nos pulmões, fígado, rins,
encéfalo, e demais órgãos, favorecendo o metabolismo anaeróbio, com falência de múltiplos órgãos,
como por exemplo: • dano difuso de bronquíolos respiratórios e dos alvélos, com hiperemia, edema e
hemorragia (pulmão de choque), • necrose tubular aguda e insuficiência renal, • insuficiência contrátil
miocárdica, • encefalopatia hipóxico-isquêmica, etc, caracterizando, no conjunto, as consequências
letais do estado de choque.
A INFLAMAÇÃO EM RESUMO É:
• Inflamação aguda → Coágulo sanguíneo [matriz extracelular (MEC) provisória] → preenche a área
lesada;
• Mediadores químicos locais → recrutamento de leucócitos (neutrófilos, eosinófilos, monócitos /
macrófagos, linfócitos T, linfócitos B / plasmócitos), mastócitos, fibroblastos, células endoteliais, etc;
• Macrófagos e demais leucócitos → citocinas → fibroplasia (proliferação de tecido conjuntivo) +
angiogênese (neovascularização capilar) → tecido de granulação;
• Tecido de granulação → organização (fibrose progressiva) → remodelação;
• Remodelação → síntese, degradação e rearranjo da nova MEC + regressão dos vasos neoformados
+ redução do número de células locais → tecido conjuntivo denso = cicatriz.
a. | A Fase Inflamatória. Um a três dias após a lesão, o ferimento mostra-se cheio de coágulo
sanguíneo, devido à hemostasia, e com células inflamatórias (neutrófilos, mastócitos, eosinófilos,
monócitos/macrófagos, linfócitos) atraídas ao sítio do ferimento. A trama de fibrina e demais proteínas
do plasma, no coágulo sanguíneo formado, atuam como matriz extracelular provisória, que promove
atração e migração para leucócitos, células endoteliais e fibroblastos.
b. | A Fase de Nova Formação Tecidual (Proliferativa). Após três a dez dias da lesão, os
macrófagos são abundantes no sítio do ferimento e novos vasos sanguíneos se formam. Fibroblastos
migram, proliferam e depositam componentes da matriz extracelular e diferenciam-se, mais tarde, em
miofibroblastos, importantes na contração, retração, do local ferido. O novo tecido que agora preenche
o ferimento é conhecido como tecido de granulação. Nos bordos do ferimento, os queratinócitos da
epiderme lesada e dos folículos pilosos migram ao longo da derme exposta e por sobre a matriz
extracelular provisória em ritmo aumentado de proliferação, caracterizando um processo de
regeneração epitelial. Na superfície lesada comumente há uma crosta de coágulo seco, sob a qual
ocorre a regeneração epitelial.
c. | A Fase de Remodelação Tissular. Uma a duas semanas após a lesão, a reepitelização do
ferimento é completada, a densidade celular do tecido de granulação gradualmente decresce e a
matriz extracelular é remodelada por meio da síntese e degradação dos componentes da MEC,
controlada pela ação das metaloproteases e glicosidases. Nesta remodelação da MEC vai havendo
um aumento das fibras colágenas, com substituição do colágeno tipo III pelo tipo I, que passa a
predominar, e redução da síntese de glicosaminoglicanos, especialmente do ácido hialurônico. O
colágeno tipo I predominante, passa a apresentar maior número de ligações cruzadas, tornando as
fibras colágenas tipo I mais grossas e compactas, o que favorece a compressão dos vasos capilares
e a redução de seu número. Simultaneamente há a ação de citocinas, quimiocinas e produtos da
degradação da MEC, os quais ligam-se a receptores nos fibroblastos, induzindo-os, geneticamente,
à síntese de proteínas e poliglicanos, e a expressarem actina, transformando-os em miofibroblastos,
importantes na retração da cicatriz, como já foi referido. Os peptídeos, produtos da degradação da
MEC, pela ação das metaloproteases, têm também ação antiproliferativa, dificultando a migração
celular, promovendo a apoptose de fagócitos, a proliferação de fibroblastos e a redução da
neovascularização. A remodelação da matriz extracelular pode durar meses, 1 ano ou mais,
dependendo da lesão, sua extensão e profundidade. A remodelação resulta na formação de uma
cicatriz com reduzida resistência à tração (cerca de 80% do normal) e sem apêndices cutâneos.
Em situações patológicas a cicatrização das feridas cutâneas pode evoluir como cicatriz hipertrófica
ou como queloide, devido a um excesso de tecido conjuntivo produzido, com fibroblastos e
componentes da MEC, especialmente fibras de colágeno tipo I, que predominam no queloide, com
aspecto pseudotumoral, em comparação com a cicatriz hipertrófica, com fibroblastos e colágeno.
Quando as extremidades fraturadas ficam muito próximas, justapostas, como numa fissura, os
osteoclastos, presentes nas extremidades, proliferam e, por fagocitose, removem o tecido danificado
das superfícies fraturadas, sendo formado novo tecido ósseo cortical, que une as extremidades,
caracterizando um reparo osteonal, primário. Porém, quando o espaço entre as extremidades
fraturadas é maior, o reparo é dito secundário, pois se interpõe um coágulo sanguíneo no espaço
intercortical ósseo, que atua como uma matriz extracelular primordial, contendo plaquetas, leucócitos
e hemácias, o qual é fonte de muitos mediadores químicos inflamatórios, ativando-se o endotélio
periosteal e o dos vasos do sistema de Havers (osso lamelar), e promovendo reação inflamatória e
neovascularização capilar (fase inflamatória na primeira semana de reparo). Simultaneamente,
fatores de crescimento mesenquimais estimulam a hiperplasia e a diferenciação de células tronco
precursoras no canal medular, no periósteo e vindas do sangue, originando-se os vasos sanguíneos,
condroblastos e osteoblastos, todos envolvidos no reparo ósseo. Assim, fatores de crescimento no
canal medular ósseo e no coágulo sanguíneo promovem a diferenciação de células mesenquimais
locais em fibroblastos e condroblastos, surgindo um calo fibrocartilaginoso ou calo mole (fase de calo
mole da segunda à terceira semanas de reparo), que sofre ossificação endocondral, pela substituição
da cartilagem por tecido ósseo. Na ossificação endocondral os condrócitos sofrem apoptose, os vasos
sanguíneos capilares invadem a cartilagem, a matriz cartilaginosa é degradada pelas
metaloproteinases e os osteoblastos sintetizam matriz óssea, com colágeno tipo I e osteocalcina e
osteopontina, proteínas importantes para a mineralização da matriz extracelular. Também, a partir do
periósteo, vasos neoformados, fibroblastos e osteoblastos promovem ossificação intramembranosa,
formando-se osso esponjoso, ou trabecular, o qual se funde com o osso endocondral formado,
surgindo um calo duro (fase de calo duro, da quarta à décima sexta semanas de reparo). O calo duro
sofre remodelação, sendo substituído o osso esponjoso, trabecular, por osso lamelar, reconstituindo-
se o sistema de Havers (fase de remodelamento, da décima sétima semana de reparo em
diante). Quando os ossos fraturados ficam bem imobilizados a cura se dá por ossificação endocondral
do calo mole e formação de osso novo diretamente a partir do osso cortical justaposto, com mínima
ou nenhuma formação óssea membranosa a partir do periósteo. Caso o local fraturado apresente
mobilidade, ocorre estímulo para a formação óssea membranosa a partir do periósteo, surgindo um
calo externo ou calo periósteo. Sendo o movimento do local de fratura mais amplo, é formado um calo
mole a partir do endósteo e do coágulo sanguíneo interposto na zona de fratura, com pouca
ossificação da cartilagem formada e inibição ou retardo na ossificação membranosa periosteal. Neste
último caso não havendo a consolidação das extremidades do osso fraturado, o resultado será uma
pseudoartrose.
REFERÊNCIAS
Brasileiro Filho, G. - Bogliolo Patologia Geral, 6a edição, Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2018.
Kumar, V.; Abbas, A.B. & Aster, J.C. - Robbins & Cotran Patologia. Bases Patológicas das Doenças.
9a edição, São Paulo, Elsevier, 2016.
Reparo tecidual:
Diegelmann, R.F. & Evans, M.E. - Wound Healing: An Overview of Acute, Fibrotic and Delayed
Healing. Frontiers in Bioscience; 9, 283-289, January 1, 2004.pdf
Isaac, C.; Ladeira, P.R.S.; Rêgo, F.M.P.; Aldunate, J.C.B. & Ferreira, M.C. - Processo de Cura
das Feridas: Cicatrização Fisiológica. Revista de Medicina (São Paulo); 89(3/4):125-31, jul-dez
2010.pdf
Cicatrizações por primeira, segunda e terceira intenções (ilustração):
https://365vezes.files.wordpress.com/2012/01/cicatriz-2.jpg
http://www.intechopen.com/books/skin-grafts-indications-applications-and-current-research/efficacy-of-autogenous-
dermis-graft-for-wound-coverage
http://www.podiatrytoday.com/files/imagecache/normal/PT0813NPWT5.png