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TERRAS-RARAS BRASILEIRAS

— perspectivas de uma nova era —


Raul José de Abreu Sturari1

RESUMO

Os Elementos Terras-Raras (ETR) compreendem o Escândio (Sc), o Ítrio (Y)


e mais 15 (quinze) elementos conhecidos como lantanídeos (Ln). Suas
aplicações têm sido crescentes, em especial na composição de produtos de
alto valor agregado, como telas de aparelhos eletrônicos, catalizadores,
baterias recarregáveis e imãs industriais. Atualmente, a China destaca-se
como principal ator global, com a quase totalidade da produção e cerca da
metade das reservas, bem como da demanda por terras-raras. Fazendo valer
seu monopólio, autoridades daquele país têm implementado medidas que
proporcionam grandes lucros às suas empresas, em detrimento de parceiros
internacionais, principalmente Estados Unidos da América, União Europeia e
Japão, gerando contenciosos que estão sendo tratados junto a organismos
internacionais. Essa conjuntura ensejou uma corrida por novas jazidas de
terras-raras, com foco voltado para o Brasil, devido ao anúncio de potenciais
depósitos que podem se sobrepor aos conhecidos na China. Representantes
do poder público, da iniciativa privada e terceiro setor têm se movimentado
para o estabelecimento de uma nova ordem política, econômica e social
relacionada às terras-raras. Todavia, o País só conseguirá posicionar-se
adequadamente se houver consenso em torno das medidas a serem
adotadas. Nesta fase de elaboração de um novo arcabouço normativo,
contudo, falta uma visão estratégica, voltada para a Defesa Nacional, em
especial na Região Amazônica, onde as Forças Armadas devem suprir as
deficiências dos demais órgãos públicos, na proteção dos legítimos
interesses nacionais.

PALAVRAS-CHAVE
Terras-raras, Elementos Terras-Raras (ETR), mineração, minerais
estratégicos, Novo Marco Regulatório da Mineração, Amazônia.

                                                                                                               
 
1
Doutor em Política e Estratégia Marítimas pela Escola de Guerra Naval; doutor em
Aplicações, Planejamento e Estudos Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército; diretor de Prospectiva Estratégica do Instituto Sagres – Política e Gestão
Estratégica Aplicadas; e assessor de Política e Estratégia Nacional do Núcleo de Estudos
Prospectivos do Estado-Maior do Exército.
  2  

ABSTRACT

The rare earth elements (REE) include scandium (Sc), yttrium (Y) and 15
(fifteen) other elements known as lanthanides (Ln). The applications of REE
have been increasing, especially in the composition of high value-added
products such as screens for electronic devices, catalytic converters,
rechargeable batteries and industrial magnets. Currently, China stands out as
the main global actor, registering almost total production and nearly half of the
reserves, as well as half of the demand for rare earths. Asserting their
monopoly, authorities from that country have implemented measures that
provide large profits to its companies in detriment to international partners,
mainly the United States of America, the European Union and Japan, giving
rise to disputes that are being dealt with in tandem with international
organizations. This situation lead to a race to find new rare earth deposits,
with a focus on Brazil since the announcement that its potential deposits
might surpass those known in China. Government authorities, and those from
private initiatives and the third sector, have been active towards establishing a
new political, economic and social order in regards to rare earths. However,
Brazil will only be able to adequately take a stand if a consensus is reached
on which measures should be adopted. This phase of the elaboration of a
new normative outline is missing a strategic vision that focuses on national
defense, especially in the Amazon region, where the Armed Forces should
provide what other public organs fail to offer in regards to protecting legitimate
national interests.

KEYWORDS

Rare Earths; Rare Earth Elements (REE); Mining; Strategic Minerals; New
Mining Regulatory Framework; Amazon.

1 INTRODUÇÃO

Embora seja um tema desconhecido, de maneira geral, pelo


grande público, as terras-raras têm merecido amplo destaque nos meios
relacionados às atividades mineradoras de pesquisa, exploração, produção,
assim como de comercialização e aplicação desses elementos metálicos,
com importantes reflexos para os setores econômicos específicos da
indústria e do comércio.

 
 
  3  

Em torno das terras-raras, empresas multinacionais e governos de


países desenvolvidos e em desenvolvimento disputam um mercado estimado
em cerca de US$ 5 bilhões por ano2.
O presente artigo aborda uma base conceitual para entendimento
do que sejam efetivamente as terras-raras e suas principais aplicações.
Discorre ainda sobre a conjuntura internacional e o panorama brasileiro, em
face das múltiplas variáveis que envolvem a questão das terras-raras. No
ambiente nacional, foram destacados o marco legal, os principais sítios
conhecidos e a Região Amazônica, esta com foco nos estudos existentes, no
potencial estimado e nas implicações ambientais e indigenistas.
A finalidade é delinear um quadro sobre as terras-raras que
permita subsidiar decisões estratégicas em torno do tema, em especial no
âmbito das Forças Armadas e da Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República. Para tanto, as considerações finais apresentam
uma síntese contextual e propostas de ações pontuais para esses atores, em
defesa dos legítimos interesses nacionais.
 
 

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 BASE CONCEITUAL

Paradoxalmente, terras-raras não são terras e tampouco raras.


Esses metais foram designados como “terras” porque essa era a
denominação genérica dos óxidos da maioria dos elementos metálicos e
“raros” por serem de difícil separação e conhecidos somente em minerais da
Escandinávia, à época dos estudos iniciais. Hoje sabe-se que constituem um
grupo relativamente abundante de elementos químicos, conforme
classificação da União Internacional de Química Pura e Aplicada3 (IUPAC).
 

                                                                                                               
 
2  Jornal VALOR ECONÔMICO. China suspende produção de terras raras para
pressionar preços. 20/10/2011.
3  União
Internacional de Química Pura e Aplicada (em inglês: International Union of Pure and
Applied Chemistry, IUPAC). Organização não governamental (ONG) criada em 1919, em
Genebra.

 
 
  4  

 
Figura 1 – Tabela Periódica dos Elementos
Fonte: Ptable (www.ptable.com)

O grupo terras-raras inclui 17 (dezessete) elementos químicos que


podem ser visualizados na Tabela Periódica (figura 1), com destaque para o
Escândio (21) e o Ítrio (39). Os demais (57 a 71) estão representados na
penúltima linha, no quadro colocado na parte inferior da tabela. Assim, são
Elementos Terras-Raras (ETR):
• escândio (Sc);
• ítrio (Y);
• lantânio (La);
• cério (Ce);
• praseodímio (Pr);
• neodímio (Nd);
• promécio (Pm);
• samário (Sm);
• európio (Eu);
• gadolínio (Gd);
• térbio (Tb);
• disprósio (Dy);
• hólmio (Ho);
• érbio (Er);
• túlio (Tm);
• itérbio (Yb); e
• lutécio (Lu).

 
 
  5  

Mesmo o mais raro dos ETR, o túlio, ocorre em maior volume na


crosta terrestre que o mercúrio e a prata, por exemplo. A exceção fica por
conta do lantânio, por ser instável.
Segundo a IUPAC, terras-raras se resumem aos lantanídeos
(símbolo Ln), acrescidos do Sc e do Y. Todos são encontrados no meio
ambiente, em estado natural, exceto o Promécio (Pm), e podem ser
subdivididos em leves (La, Ce, Pr, Nd, Sm e Eu) e pesados (Gd, Tb, Dy, Ho,
Er, Tm, Yb, Lu, Sc e Y).
Os primeiros ETR começaram a ser estudados nas últimas
décadas do Séc. XVIII, a partir de amostras isoladas pelo químico e
mineralogista finlandês Johan Gadolin, que terminou por emprestar seu nome
ao mineral que ficou conhecido, a partir de 1800, como gadolinite, ou
gadolínio (Gd). Mesmo após muitas pesquisas, somente no Séc. XX esses
elementos foram catalogados conforme hoje estão definidos.
Em formas elementares, os metais de terras-raras são geralmente
macios e maleáveis, com cores que variam do cinza escuro ao prateado.
Tornam-se reativos quando divididos em partes muito finas ou quando
submetidos a temperaturas elevadas. São, portanto, magnetizáveis, além de
bons condutores de calor e de eletricidade. Determinadas argilas, como as
chamadas lateríticas, são fontes econômicas de terras-raras, embora as
semelhanças químicas dificultem e encareçam a mineração.
 

2.2 APLICAÇÕES ATUAIS

As aplicações dos ETR são tantas e tão diversificadas que alguns


especialistas são estão se referindo a eles como o “ouro do Séc. XXI”4.
Embora seja o mais comum e, por isso, o de menor valor, o cério
tem sido usado para polir vidros de alta qualidade, incluindo espelhos e
lentes de precisão.
O cério, o lantânio, o neodímio e o praseodímio integram o
chamado mischmetall 5 , utilizado na metalurgia para a limpeza de aço e
enxofre, bem como para a remoção de impurezas de chumbo e antimônio.
Combinado com o ferro e o magnésio, por exemplo, o mischmetall tem sido
                                                                                                               
 
4  CABRAL Rafael. O ouro do século 21. Matéria do Jornal O Estado de São Paulo de 14
ago. 2011. Disponível em http://blogs.estadao.com.br/link/o-ouro-do-seculo-21/. Consulta
realizada em 31 ago. 2012.
5  FÜRST, Omar. Terras Raras-Metais. Matéria de 28 nov. 2011. Disponível em
http://bibocaambiental.blogspot.com.br/2011/11/terras-raras-metais.html. Consulta realizada
em 01 set. 2012.

 
 
  6  

utilizado na produção de uma série de outras ligas metálicas.


Segundo o FÜRST (2011), a estrutura eletrônica dos átomos de
ETR os torna particularmente eficazes na excitação de alta energia de raios
gama, raios X, raios catódicos (elétrons) ou radiação ultravioleta, permitindo
obter luminescência de banda estreita no espectro visível. Isso tem
propiciado o desenvolvimento de diversos materiais luminescentes, tais como
as novas gerações de lâmpadas fluorescentes compactas, que convertem os
raios ultravioleta em luzes de cores vermelha, verde e azul, tendo como
resultado uma radiação “branca”. O európio bivalente é utilizado para a
obtenção de luminescência azul, o cério e térbio para o verde e európio
trivalente para o vermelho. Nas telas planas de aparelhos eletrônicos, por
exemplo, os ETR criam LEDs ”brancos”, em especial com o uso de neodímio.
As baterias recarregáveis desenvolvidas e aperfeiçoadas com o
emprego de ETR apresentam ótimo potencial de sucesso para um importante
desafio a ser vencido: o armazenamento de energia proveniente de fontes
limpas e renováveis. Baterias de níquel-hidreto de lantânio, por exemplo, já
substituem as de níquel-cádmio com vantagens.
Os catalizadores também têm sido bastante aperfeiçoados com o
emprego do cério, em especial na indústria automobilística.
A indústria de ímãs permanentes passa por um processo
revolucionário, com a utilização de ETR. As ligas com base em cobalto-
samário e em neodímio-ferro-boro vêm sendo aperfeiçoadas, permitindo a
miniaturização de equipamentos eletrônicos com alta resistência à
desmagnetização. A demanda por esses novos ímãs cresce
significativamente, pressionando o aumento de preços.
Plásticos e tintas à base de cério e lantânio são desenvolvidos
como alternativa aos corantes de metais pesados, em especial para as cores
marrom, laranja e vermelho. Os ETR também melhoram a propriedade de
alguns tipos de cerâmica.
Também os cabos de fibra óptica contêm ETR, que atuam como
amplificadores de sinal e permitem transmissões a longas distâncias.
Conforme informa DALTRO (2012), as terras-raras são
progressivamente usadas em diversos produtos, tais como telas para
monitores e televisores, turbinas eólicas, carros híbridos e elétricos,
refinamento de petróleo e propagação de laser em meios sólidos.
 
 
 
 
 

 
 
  7  

2.3 CONJUNTURA INTERNACIONAL

A República Popular da China (RPC) é o principal ator global no


que se refere aos ETR, com mais da metade reservas (dados de 2010), cerca
de 97% da produção e mais da metade da demanda (dados de 2009).

 
Figura 2. Reservas mundiais de ETR, 2010.
Fonte: BENTLIN (2012).

 
Gráfico 1. Reservas mundiais de ETR, em 2010, milhões de toneladas.
Fonte: BENTLIN (2012). Organizado pelo autor.

 
Buscando evitar as consequências desse monopólio, empresas e
países promovem, no momento, prospecções de novas reservas em todo o
mundo, motivo pelo qual estima-se que a participação chinesa caiu de 53%
(dados de 2010) para cerca de 30%, em 2012, segundo estudos recentes.
 

 
 
  8  

 
Figura 3. Produção e demanda de ETR, 2009.
Fonte: BENTLIN (2012).
 
 
 
 

Gráfico 2. Produção mundial de ETR, em toneladas e porcentagem.


Fonte: BENTLIN (2012). Organizado pelo autor.

Gráfico 3. Demanda mundial de ETR, em toneladas e porcentagem.


Fonte: BENTLIN (2012). Organizado pelo autor.

 
 
  9  

O monopólio chinês não é obra do acaso e sim de planejamento


estatal de longo prazo, provavelmente apoiado em métodos e técnicas de
prospectiva, visualizando cenários onde os ETR continuariam a se valorizar
devido a novas e crescentes aplicações em produtos de alta tecnologia. O
quadro atual, portanto, está fazendo valer uma vantagem comparativa que
teria sido percebida há décadas pelo líder Deng Xiao Ping (1904-1977): “Se
os árabes têm petróleo, a China tem terras raras” 6 . Daí porque alguns
autores afirmam também que os ETR são o “petróleo do Séc. XXI”.
Aproveitando essa conjuntura, a China trabalha no sentido de criar
restrições ao comércio de ETR, favorecendo as indústrias locais com preços
mais baixos, ao tempo em que pressionam aumentos sucessivos das
cotações no mercado internacional.
Em outubro de 2011, a companhia Baotou Steel Rael-Earth Hi –
Tech, maior produtora de ETR da China, suspendeu suas operações por um
mês, na tentativa de “estimular o mercado”7.
Acusadas em foros internacionais por induzir o desenvolvimento
econômico, nas últimas décadas, sem se importar com os danos causados à
natureza, as autoridades chinesas alegam, nesse caso, que os controles
sobre as terras-raras são necessários como medida de proteção ambiental e
estão de acordo com normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Contudo, em processo similar sobre o comércio de matérias-primas, a OMC,
em janeiro de 2012, decidiu que atitudes como essa só seriam válidas se o
país estivesse dando o mesmo tratamento aos mercados nacional e
internacional.
A análise das medidas divulgadas permite também delinear um
desejo do governo chinês no sentido de promover a concentração de
empresas do setor, tanto na produção quanto na exportação, de modo a
facilitar o monitoramento e o controle. Essa aspiração fica mais visível com o
lançamento, no mesmo pacote, da primeira plataforma de comércio à vista
para ETR, liderada pela Baotou Steel Rare-Earth Hi Tech, permitindo
somente comercialização física, segundo o Shanghai Securities News, apud
LIAN e STANWAY (2012).
O reflexo junto aos parceiros comerciais foi imediato. Em março de
2012, os Estados Unidos da América (EUA), a União Europeia e o Japão —
não por coincidência os principais compradores — entraram com uma ação
junto à OMC acusando a China de descumprir compromissos anteriores e

                                                                                                               
 
6  Segundo LANDGRAF (2011), trata-se de uma lenda urbana e, portanto, carece de
comprovação.  
7  Jornal VALOR ECONÔMICO. China suspende produção de terras raras para
pressionar preços. 20/10/2011

 
 
  10  

prejudicar o livre comércio.


Agora, as tensões comerciais tendem a se agravar, na medida em
que as indústrias chinesas passem a contar com matérias-primas oriundas de
ETR em condições bastante vantajosas, quando comparadas à dos
concorrentes internacionais. LIAN e STANWAY (2012) indicam que empresas
das União Europeia pagam duas vezes mais que as firmas chinesas pelos
ETR.
Na defesa de seus interesses, ambos os lados procuram formas
de flexibilizar suas posições sem prejuízos de vulto. Em abril de 2012,
conforme YAP (2012), o ministro do governo chinês da Indústria e da
Tecnologia de Informação declarou que estava convidando companhias
estrangeiras a se unir a empresas locais, em projetos de proteção ao meio
ambiente junto às empresas de mineração de terras-raras. Embora essa
iniciativa não represente um afrouxamento pelos controles de exportação de
ETR, pode ser interpretada como um sinal de boa vontade comercial, além
de uma demonstração internacional de preocupação com o meio ambiente.
Em maio, agências internacionais publicaram que a União
Europeia estava preparando uma grande ofensiva comercial, incluindo a
questão das terras-raras, que poderá, nas palavras de CHAFFIN (2012),
“provocar uma escalada dramática nas tensões com a China”.
No início de agosto de 2012, o governo de Pequim divulgou nova
regulamentação, determinando que minas e empresas de fundição cumpram
níveis mínimos de produção para continuar operando. Segundo o jornal
"China Daily"8, as novas regras podem resultar na desativação de cerca de
20% da capacidade produtiva do país, agravando os limites sobre
exportações fixados em 2009.
Segundo CARVALHO (2012) — com base em relatório do governo
australiano — a demanda atual, de cerca de 150 mil toneladas, será mais de
30% maior em 2015, atingindo 200 mil toneladas. O aumento da demanda e
o monopólio chinês implica aumento de preços. O neodímio, por exemplo, foi
valorizado em 272% nos últimos dois anos.
Os interesses, portanto, multiplicam-se. BAUDET (2011) informa
que pesquisadores de países ocidentais já conheciam, há décadas, o
potencial das terras-raras, mas seus alertas não foram suficientes para
convencer as autoridades, que se deixaram levar por medidas menos
onerosas, no curto prazo.
A dianteira tomada pela China dificilmente será alcançada. Isso porque seu
monopólio sobre as terras-raras não se limita a uma simples arma política que
serve para ser exibida quando surgem tensões diplomáticas com vizinhos. É

                                                                                                               
 
8  Jornal VALOR ECONÔMICO. Pequim restringe a produção de terras-raras. 09/08/2012

 
 
  11  

também, e acima de tudo, uma nova prova do restabelecimento do atual


equilíbrio econômico mundial. Pequim dispõe de meios para se tornar o centro
daquilo que Augustin Roche chama de “a indústria industrializante” do século
21, a saber: as energias limpas (solar, eólica, carros elétricos, etc.), cujos
investimentos cresceram 230% desde 2005 (BAUDET, 2011).
 
Segundo Hubertus Bardt, especialista em matéria-prima do
Instituto de Economia Alemã (IW), “os chineses querem atrair para o país a
tecnologia de processamento e elevar, consequentemente, o valor
agregado” 9 . Por isso os principais países consumidores fazem pressões
diplomáticas e comerciais no sentido de minimizar o poder da China com seu
monopólio.
Como exemplo de medida visando contrapor a China, pode ser
citada a reativação da produção, em 2011, da mina de Mountain Pass, na
Califórnia, única mina de terras-raras dos EUA. Recentemente, a General
Motors e a Toyota anunciaram que os novos motores elétricos de seus
automóveis híbridos estão sendo fabricados de modo a não depender mais
de ETR.
Em março de 2012, a empresa americana Molycorp divulgou a
compra da canadense Neo Material Technologies pelo valor de 1,3 bilhão de
dólares canadenses10. A intenção é consolidar-se, em âmbito mundial, como
empresa integrada de ETR, vertical e tecnologicamente avançada,
fortalecendo as relações com a China e ampliando a presença da Molycorp
em mais 11 (onze) países. Trata-se de um exemplo típico das intrincadas
relações que caracterizam o setor.
O potencial das terras-raras é tão promissor que, recentemente,
uma empresa norte-americana do Vale do Silício anunciou um projeto para
extrair minérios de asteroides, dentro de dez anos. Peter Diamandis, um dos
fundadores da Planetary Resources e da Singularity University, afirmou que a
empresa pretende "tornar os recursos do espaço disponíveis à
humanidade”11. Embora haja muita polêmica em torno do assunto, o mesmo
empreendedor afirmou que, dentre os metais almejados estão os
pertencentes ao grupo terras-raras.
De todo modo, é possível afirmar que os elementos terras-raras
serão, nas próximas décadas, cada vez mais demandados e valorizados, a
ponto de conferir aos países produtores importante vantagem competitiva no
âmbito do mercado internacional.
                                                                                                               
 
9  Matéria do Movimento Solidariedade Ibero-americana, disponível em
http://blogdoambientalismo.com/o-brasil-e-a-formula-chinesa-para-terras-raras/, Consulta
realizada em 11/09/2012.
10  Jornal VALOR ECONÔMICO. Destaques. 12/03/2012

11  Jornal VALOR ECONÔMICO. Empresa quer explorar minerais no espaço. 25/04/2012

 
 
  12  

2.4 CONJUNTURA NACIONAL

Até porque esses elementos só ganharam importância


internacional nas últimas décadas, o Brasil não tem tradição e até bem pouco
tempo atrás não era considerado explorador de terras-raras, nem em
potencial. Contudo, segundo LANDGRAF (2011), professor associado da
Escola Politécnica da USP e diretor de inovação do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas, um novo mapeamento, publicado em 2010, estima que
somente em Catalão (GO) as reservas de terras-raras chegam a 120 milhões
de toneladas, ou mais de três vezes as reservas confirmadas da China, no
mesmo ano. Há também importantes ocorrências na região de Araxá (MG) e
levantamentos preliminares indicando presença na região de Seis Lagos, em
São Gabriel da Cachoeira, na Amazônia.
Caso esses e outros dados sejam confirmados, o Brasil
certamente será inserido como destacado ator global na produção e na
comercialização de ETR.
Em novembro de 2011, de acordo com CASTRO (2011), a Vale
divulgou a descoberta de terras-raras em suas minas de Patrocínio (MG), ao
lado de jazidas de rochas fosfáticas. Embora haja intenção de explorá-las, os
estudos são iniciais e o cronograma, indefinido.
O Estado de Minas Gerais criou, recentemente, a Taxa de
Controle, Monitoramento e Fiscalização das Atividades de Pesquisa, Lavra,
Exploração e Aproveitamento de Recursos Minerários (TFRM), que será
cobrada das empresas que explorarem recursos minerais no Estado e os
beneficiarem em outros lugares. Estimativas apresentadas por SOUZA
(2012) indicam que essa taxa poderá representar, em 2012, uma receita
extra de cerca de R$ 500 milhões. O Pará, que também destaca-se pela
produção de minérios, também criou taxa semelhante. As medidas têm como
alvo, entre outras atividades de mineração, ampliar a arrecadação sobre a
produção de ETR.
Em maio de 2012, a Companhia Brasileira de Metalurgia e
Mineração (CBMM) anunciou o início da produção de concentrados refinados
de terras-raras em sua fábrica de Araxá (MG).
A empresa é líder mundial na produção de nióbio e desenvolveu um método que
diz ser inédito no mundo, no qual usa o rejeito gerado (da produção de nióbio)
para extrair as terras-raras. A fábrica-piloto que já está em operação tem
capacidade para produzir 1.000 toneladas de concentrados por ano, mas poderá
chegar a 3 mil. O total de investimentos nessa primeira fase das pesquisas e
produção é de R$ 50 milhões (VALOR ECONÔMICO, 23/05/2012).

 
 
  13  

Ao que tudo indica, portanto, os ETR podem ser considerados


subproduto do nióbio, evitando, nesse caso, a abertura de novas minas. Se
essa possibilidade for confirmada em outras regiões produtoras, o Brasil está
diante de uma inédita oportunidade.
Embora não seja um ETR, o nióbio é escasso no mundo e
abundante no Brasil. Sua utilização é variada, mas destaca-se na
composição de ligas de aço de grande resistência, que precisam operar a
altas temperaturas, como as turbinas de aeronaves a jato.
De acordo com o Plano Nacional de Mineração (2010), o Brasil
possui 98% das reservas mundiais, bem como da produção mineral de
nióbio. Mas quando se trata de produtos de primeira transformação, em
especial as ligas de ferro-nióbio, o País situa-se na 6a posição, em ordem de
importância, com apenas 4% da produção mundial12.

 
Gráfico 4 – produção de nióbio, no mundo e no Brasil.
13
Fonte: Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) .
 
Segundo o IBRAM, o potencial do nióbio é significativo e a
tendência é de valorização, em especial devido à sustentabilidade ambiental.
O aço produzido a partir de ligas de ferro-nióbio, por exemplo, é mais
resistente e até 60% mais leve do que o aço tradicional.
O Plano Nacional de Mineração 2030, que norteia as políticas de médio e longo
prazo, estima um crescimento de 5,1% para o mercado interno e 3,8% para o
mercado externo. As principais reservas minerais estão localizadas nos
municípios de Itambé (BA), Itapuã do Oeste (RO), Catalão e Ouvidor (GO),
                                                                                                               
 
12  Dados de 2008.
13  Disponível em http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00001458.pdf. Consulta realizada
em 28/09/2012.

 
 
  14  

Araxá e Tapira (MG) e Presidente Figueiredo e São Gabriel da Cachoeira (AM).


A de São Gabriel, a maior, esteve na mira do governo de Fernando Henrique
Cardoso. Em 1997, houve a intenção de vender, por R$ 600 mil, a reserva
capaz de abastecer todo o consumo mundial por mais de mil anos.
O minério também pode ser encontrado no nordeste de Roraima, na terra
indígena Raposa Serra do Sol. Conforme o ministério, não há informações sobre
novas minas que passarão a produzir (OLIVEIRA, 2012).
 
Embora seja arriscado, no momento, afirmar que nióbio e ETR
ocorrem normalmente juntos, na natureza, essa é uma possibilidade que não
pode ser descartada, uma vez que associações minerais são, de certo modo,
comuns. Segundo o engenheiro Hugo Ricardo Sandim, professor da Escola
de Engenharia de Lorena (EEL-USP), apud OLIVEIRA (2012), nióbio e
tântalo aparecem quase sempre juntos, na natureza. O tântalo também não é
um ETR, mas é escasso e tem valor cerca de 20 vezes maior do que o
nióbio. Tem aplicações em produtos tecnológicos, como telas de LCD e
capacitores de celulares.
O Plano Nacional de Mineração (2010) projeta ainda um
crescimento médio de 4,5% ao ano, na produção brasileira de nióbio,
alcançando 161 mil toneladas em 2030.
O governo federal tem tomado medidas para posicionar o País no
contexto internacional. Um julho de 2012, ingressou formalmente com ação
junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) para participar como
terceira parte interessada na disputa que os EUA, o Japão e a União
Europeia promovem contra a China, acusando-a de restringir a exportação de
terras-raras (MOREIRA, 2012). As interpretações resultantes poderão
subsidiar, em futuro próximo, posturas e atitudes no âmbito do comércio
internacional de matérias-primas.
A empresa canadense MbAC Fertilizantes, criada para atuar na
América Latina e com operações restritas ao Brasil, até o momento, realizou,
no primeiro semestre de 2012, pesquisas geológicas no município de Araxá,
MG. Informações preliminares apontam para 2,7 milhões de toneladas de
minério contido com, no mínimo, teor de 6,6% dos elementos cério, lantânio e
ítrio. Isso significa que a região abriga ao menos 132 mil toneladas desses
ETR 14 . Os estudos deverão ensejar requerimento de lavra junto ao
Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), com vistas a explorar
as complexas cadeias de produção de terras-raras.
Em setembro de 2012, a empresa brasileira B&A Mineração
comprou ações da MbAC Fertilizantes, perfazendo a sua participação em
cerca de 11,5%. Nas mesma ocasião, a MbAC informou que está buscando
                                                                                                               
 
14  Jornal VALOR ECONÔMICO. MbAC Fertilizantes quer encabeçar exploração de
terras-raras no Brasil. 29/03/2012.

 
 
  15  

parcerias para, até 2016, tornar o Brasil o maior produtor mundial de ETR. O
mercado reagiu favoravelmente e suas ações foram muito valorizadas15.
De todo modo, as terras-raras têm despertado interesse de
empresas e governos. SOUZA (2012), informa que logo após o anúncio da
CBMM de produção de ETR, a Companhia de Desenvolvimento Econômico
de Minas Gerais (Codemig) divulgou que o Estado investiu R$ 12,5 milhões
nas pesquisas e na fase de produção inicial, de um total de R$ 50 milhões.
CBMM e Codemig são sócias na extração de nióbio das minas de Araxá e,
por contrato, o Estado não investe no negócio mas recebe 25% dos
resultados. Com o investimento nas recentes pesquisas, a intenção do
governo de Minas Gerais é manter a mesma proporção, no que se refere aos
ETR.
Outra matéria de SOUZA (2012) indica que o empresário Eike
Batista, do grupo EBX, afirmou que estuda investir na exploração de terras-
raras. “É um produto que tem demanda no mundo inteiro e nos interessa,
sim. Estamos estudando. O maior potencial em terras-raras está em Minas
Gerais”.
Ironicamente, é possível afirmar que o Brasil deve ter terras-raras
“até debaixo d’água”. O pesquisador Kaiser de Souza, chefe da divisão de
geologia marinha do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), apud
VASCONCELLOS (2012), declarou que a nossa “Amazônia Azul” — ou seja,
o Mar Territorial e a Zona Econômica Exclusiva, que abrange 200 milhas a
partir da Costa — guarda não só o petróleo, inclusive do pré-sal, como
também crostas cobaltíferas, ricas em minerais metálicos, como cobalto,
manganês, níquel, cobre e terras-raras. "A China, que controla o mercado
mundial de terras raras, hoje pesquisa sua plataforma continental e também
áreas internacionais do Atlântico Sul", complementa SOUZA.
Ocupar um papel de destaque como consumidor de ETR, todavia,
é um desafio ainda maior do que minerar e exportar. Para desenvolver outras
fases da cadeia produtiva — em especial no que se refere à manufatura de
bens de alta tecnologia que utilizem ETR — o Brasil precisa capacitar
especialistas e incentivar a instalação de indústrias de ponta, o que implica
uma série de outras variáveis bem mais abrangentes.
O Brasil tem potencial para entrar nesse mercado. E nós vemos isso como uma
grande oportunidade", disse o diretor da fabricante de ligas metálicas Resind,
Almir Clemente. A empresa tem uma grande ambição: abastecer o mercado
interno. Com faturamento um pouco acima de R$ 25 milhões em 2010, a
empresa mineira é especializada na recuperação de resíduos metálicos,
atuando no reprocessamento do estanho e outros metais. A capacidade da
companhia é de 300 toneladas de matérias-primas processadas por mês.

                                                                                                               
 
15  Jornal VALOR ECONÔMICO. Ações da MbAC Fertilizantes reagem à entrada da B&A
Mineração. 19/09/2012.

 
 
  16  

Clemente acredita que pode entrar no novo negócio: há seis meses ele
desenvolveu uma tecnologia para produzir uma liga de terras-raras. Com isso,
quer abastecer primeiramente a cadeia da indústria automobilística e, em uma
segunda etapa, fornecer para os fabricantes de catalisadores, importantes para
o processo de refinamento do petróleo (DEZEM, 2011).

2.4.1 Marco Legal

Existe ampla e diversificada legislação que regula a atividade de


mineração, derivada da Constituição Federal, a qual aborda a questão em 10
(dez) artigos, cujo extrato constitui o Anexo A ao presente trabalho.
A evolução das conjunturas nacional e internacional, contudo,
ensejam um novo Marco Regulatório da Mineração, o qual está sendo
elaborado pela Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral,
do Ministério de Minas e Energia (SGM/MME). Os trabalhos têm, como
subsídios, uma série de estudos e pesquisas, com destaque para o já citado
Plano Nacional de Mineração 2030 (PNM 2030), divulgado em 2010, que
refere-se aos ETR de modo bastante peculiar:
 
Uma segunda situação é a dos minerais que deverão crescer em importância
nas próximas décadas por sua aplicação em produtos de alta tecnologia. As
terras raras, o lítio, o cobalto, o tântalo, entre outros denominados de materiais
“portadores do futuro”. A produção mundial desses minerais se dá em
quantidades da ordem de dezenas de milhares de toneladas, com alto valor
unitário. A estratégia aqui não deve se limitar à descoberta e produção destes
bens minerais no País. Os países desenvolvidos desprovidos desses recursos
minerais os importam em bruto ou beneficiado e, após processamento, fazem
uso deles em produtos de alta tecnologia.
A estratégia preconizada vai muito além, com a necessidade de programas
específicos coordenados entre governo e setor privado para o desenvolvimento
de processos e produtos em cadeias produtivas de alto valor agregado,
eventualmente atuando em determinados nichos, em um ambiente de intensa
competitividade internacional. É neste contexto que os importantes recursos
identificados de terras-raras no Brasil, com teores e reservas elevados, deverão
merecer uma atenção muito especial e a implantação de um amplo programa de
P,D&I. Lembra-se que o Brasil já produziu terras-raras a partir de monazita, que
era processada quimicamente para a produção de .óxidos de terras-raras. As
terras-raras são cada vez mais aplicadas nas indústrias de alta tecnologia, como
é o caso da ‘energia verde’ (turbinas eólicas e células foto voltaicas), carros
híbridos elétricos, imãs permanentes de alto rendimento, supercondutores,
luminóforos e na comunicação a distância (PLANO NACIONAL DE
MINERAÇÃO 2010).
 
O PNM 2030 aponta, ainda para 11 (onze) objetivos estratégicos,
a saber:
• assegurar a governança pública eficaz do setor mineral;
• garantir a ampliação do conhecimento geológico do território
nacional;
• estabelecer diretrizes para minerais estratégicos;

 
 
  17  

• estabelecer diretrizes para mineração em áreas com


restrições legais;
• ampliar os programas de formalização e fortalecimento de
MPEs (micro e pequenas empresas);
• ampliar o conteúdo de PD&I nas atividades de geologia,
mineração e transformação mineral;
• estimular programas de formação e qualificação de recursos
humanos;
• promover a ampliação de infraestrutura e logística;
• promover a produção sustentável do setor mineral;
• estimular a agregação de valor na cadeia produtiva de bens
minerais com competitividade; e
• promover o desenvolvimento sustentável em regiões de base
mineradora.
 
Considerando que o PNM 2030 aborda os ETR como parte dos
minerais “portadores de futuro”, dentre as ações decorrentes merecem
destaque algumas das relacionadas ao objetivo estratégico “estabelecer
diretrizes para minerais estratégicos”, a seguir transcritas:
− realização de levantamento geológico, pela CPRM, de áreas
potenciais para minerais estratégicos carentes e portadores
do futuro.
− apoio à pesquisa mineral e ao fomento para abertura de
novas minas em áreas com presença de potássio, fosfato e
minerais portadores de futuro.
− promoção de estudos das cadeias produtivas desses
minerais, visando à agregação de valor com competitividade
nos seus diversos elos.
− criação de Grupos de Trabalho para acompanhamento de
bens minerais estratégicos, com enfoque para as
oportunidades e ameaças do mercado internacional.
− articulação interministerial com o setor produtivo para
elaboração de programas de longo prazo voltados aos
minerais portadores de futuro, objetivando a interação entre
ICTs e empresas, para a identificação de nichos competitivos
de atuação.

Segundo o Ministério das Minas e Energia (MME), representantes


do setor e demais segmentos da sociedade organizada estão sendo
chamados a participar dos debates em torno do novo Marco Regulatório da

 
 
  18  

Mineração, de modo a “construir uma ferramenta que auxilie no crescimento


da mineração no país”16.
Entre os objetivos identificados para o País, podem ser
destacados:
• remover os obstáculos e promover soluções no sentido de
impulsionar o desenvolvimento da mineração;
• garantir melhor aproveitamento dos recursos minerais;
• fortalecer a ação do Estado;
• estimular a maximização do aproveitamento de jazidas;
• permitir melhor controle ambiental;
• atrair investimentos para o setor mineral; e
• contribuir para a elevação da competitividade das empresas
de mineração;
As propostas em estudo para compor o novo Marco Regulatório da
Mineração não são simples e analistas do setor indicam que algumas
deverão ser objeto de intensos debates do Congresso Nacional. As principais
são:
• criação do Conselho Nacional de Política Mineral;
• criação da Agência Reguladora de Mineração, provavelmente
por transformação do Departamento Nacional de Produção
Mineral;
• mudanças na outorga de Título Mineral, garantindo melhor
acompanhamento e fiscalização pelo órgão gestor;
• ampliação federativa na fiscalização e gestão dos recursos
minerais (art. 23 da Constituição Federal);
• inserção de critérios específicos para a emissão dos direitos
minerários, incentivando o aproveitamento continuado da
jazida e coibindo a chamada especulação improdutiva de
títulos minerários;
• consolidação dos papéis institucionais dos agentes públicos
do setor, representados pelo Ministério de Minas e Energia e
entidades vinculadas: o Departamento Nacional de Produção
Mineral (DNPM), provavelmente transformado em Agência, e
o Serviço Geológico do Brasil (CPRM); e
• criação de arcabouço legal específico para questões como
ETR, águas minerais, mineração em terras indígenas e em
faixa de fronteira.

                                                                                                               
 
16  Disponível em
http://www.mme.gov.br/sgm/menu/marco_regulatorio/marco_regulatorio_da_mineracao.html.
Consulta realizada em 01 de outubro de 2012.

 
 
  19  

 
O Ministério das Minas e Energia — também por intermédio da
Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de
Minas e Energia (SGM/MME) — estuda ainda a reformulação do atual
modelo de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais
(CFEM).
O novo modelo de CFEM objetiva promover uma justa redistribuição dos
benefícios econômicos que a mineração gera, considerando o papel que os
bens minerais exercem na sociedade e na economia brasileira, bem como
melhorar o usufruto dessa riqueza por todos os atores que compõem o setor. O
novo modelo propõe alterações na forma de cálculo, nos critérios de distribuição
e uso da CFEM, passando por aperfeiçoamento nos procedimentos de
17
arrecadação, fiscalização e cobrança .

Todavia, o teor da proposta e, em especial, sua justificação,


abordam outras importantes questões a serem discutidas por representantes
de órgãos públicos e da iniciativa privada. Por esse motivo, o PL em tela
constitui o Anexo B ao presente artigo.
Promovendo debates públicos, a SGM/MME conta com a
participação efetiva de vários segmentos que compõem o setor mineral
brasileiro, identificando fragilidades e propondo oportunos aperfeiçoamentos,
com vistas a tornar mais justa a distribuição da riqueza gerada pela
mineração e estimular o desenvolvimento de regiões produtoras.
Nesse sentido, foi apresentado, em 25/05/2012, na Câmara dos
Deputados, o Projeto de Lei (PL) Nº 3.910/2012, que “altera a Lei nº 7.990,
de 28 de dezembro de 1989, e a Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que
regulamentam a compensação financeira pela exploração de recursos
minerais, e cria uma participação no resultado mineral”18. Essa proposta foi
elaborada no âmbito do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica,
sob a coordenação da Deputada Teresa Surita (PMDB-RR) e a presidência
do Deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE).
Da justificação do referido projeto, extrai-se que os atuais
dispositivos legais, apesar de meritórios, “não estabelecem uma participação
governamental compatível com a atividade mineral brasileira em época de
altos lucros e precisam ser aperfeiçoados” (PL Nº 3.910/2012).
Em agosto de 2012, o projeto foi apensado ao PL 1117/2007, com

                                                                                                               
 
17  Disponível em:
http://www.mme.gov.br/sgm/menu/marco_regulatorio/projeto_de_lei_CFEM.html. Consulta
realizada em 01 de outubro de 2012.
18  Disponível em
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=545373.
Consulta realizada em 28 de setembro de 2012.

 
 
  20  

regime de tramitação ordinária e sujeito à apreciação conclusiva pelas


comissões, o que normalmente implica uma longa tramitação antes de ser
concretizado em Lei.
 

2.4.2 Principais Sítios Conhecidos

Segundo o informações disponibilizadas na internet pelo serviço


geológico norte-americano (USGS), o território brasileiro tem 48 depósitos
conhecidos de ETR, conforme tabela transcrita que constitui o Anexo C ao
presente trabalho. Esses depósitos estão indicados em um formato especial
do Google Earth, também disponibilizado pelo USGS, conforme imagem a
seguir, com destaque para as Regiões Sudeste e Centro-Oeste.

 
Figura 4 – Mapa com a localização de depósitos de ETR.
Fonte: USGS (www.usgs.gov).

No âmbito do governo federal, o órgão encarregado de realizar


levantamentos geológicos, levantamentos geofísicos e avaliação dos
recursos minerais é o Serviço Geológico do Brasil, conhecido pela sigla
CPRM, devido ao nome da antiga Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais, criada em 1969.
Na atualidade, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
da CPRM contempla 268 projetos em 49 empreendimentos, inerentes à Ação
GESTÃO ESTRATÉGICA DA GEOLOGIA, DA MINERAÇÃO E DA
TRANSFORMAÇÃO MINERAL, que contém os projetos sintetizados no
quadro a seguir.
 
 

 
 
  21  

PROJETOS  
Avaliação  dos  Recursos  Minerais  do  Brasil   35  
Gestão  da  Informação  Geológica   18  
Gestão  e  Coordenação  do  Programa  de  Aceleração  do  Crescimento  -­‐  PAC   1  
Levantamento  da  Geodiversidade   36  
Levantamentos  Aerogeofísicos   21  
Levantamentos  Geológicos   99  
Levantamentos  Geoquímicos   12  
Levantamentos  Hidrogeológicos   45  
Produção  Laboratorial  de  Análises  Minerais  -­‐  LAMIN   1  
Quadro 1 – Projetos do PAC – Gestão Estratégica da Geologia, da Mineração e da
Transformação Mineral
Fonte: CPRM
 

O governo brasileiro informou que espera concluir até 2014 um mapa com as
novas áreas para exploração desses 17 elementos químicos empregados na
indústria de alta tecnologia.
Iniciado em janeiro, o projeto brasileiro conta com um orçamento de R$ 18,5
milhões e é liderado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão vinculado
ao Ministério de Minas e Energia.
O governo brasileiro também quer criar logo um marco regulatório para a
exploração de terras-raras, antes que ocorra uma corrida pela exploração no
país. A ideia é antecipar a discussão que ocorre hoje, por exemplo, com os
royalties do pré-sal. Enquanto poucas empresas começam a pesquisar o setor,
seria mais fácil conciliar interesses, na avaliação de um grupo de estudos
formado para avaliar o tema, capitaneado pelo Ministério de Minas e Energia.
— Faremos uma seleção de alvos que, potencialmente, podem oferecer as
melhores condições de exploração. Neste ano, vamos centrar os esforços em
duas delas, na Amazônia e em Roraima — afirmou o presidente do CPRM,
Manoel Barretto” (NOVO, 2012).

 
Especificamente sobre ETR, a CPRM informa que executa, em
todo território nacional, o projeto “Avaliação do Potencial dos Minerais
Estratégicos do Brasil”, com o objetivo de identificar novas áreas potenciais
de ocorrência de terras-raras. Segundo Reinaldo Brito, chefe do
Departamento de Recursos Minerais (Derem), “devido aos preços
extremamente altos, a busca por depósitos de terras raras no Brasil está em
franca ascensão”19. O mapa a seguir apresenta alguns dados atuais.
 

                                                                                                               
 
19  Disponível em
http://www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1472&sid=48. Consulta
realizada em 01 de outubro de 2012.

 
 
  22  

 
Figura 5 – Mapa com as ocorrências conhecidas de ETR.
Fonte: CPRM.
 
 

2.4.3 Terras-raras na Amazônia

2.4.3.1 Estudos e Potencial

Dentre os projetos em curso no PAC da CPRM (quadro 2),


destacam-se dois relacionados à avaliação dos recursos minerais:
Metalogenia das Províncias Minerais do Brasil – Áreas do PA e AP e Áreas
do AM e RR.
O primeiro, Áreas do PA e AM, tem como objetivo uma pesquisa
de abordagem metalogenética com ênfase na Província Mineral de Carajás,
no Escudo Guaporé e na fronteira NW do Pará e SW do Amapá, no Escudo
das Guianas.
Da justificativa do projeto, extrai-se que
A Província Mineral de Carajás representa a maior província mineral do País, e
ao longo das últimas décadas importantes pesquisas têm sido realizadas
especialmente em grandes depósitos, sobretudo por iniciativa de empresas
privadas do setor mineral, que detêm a tutela das informações produzidas, com
contribuição menor de pesquisas acadêmicas. Há carência de estudos
específicos em diversas ocorrências minerais de menor escala. Há necessidade
pesquisas que fomentem a descoberta de novos depósitos, que subsidiem a
proposição de modelos metalogenéticos em objetos metalogenéticos
específicos, além da integração das informações produzidas em um contexto

 
 
  23  

geológico regional atualizado. No sudeste do escudo das Guianas são


reconhecidos terrenos tipo granito-greenstone, relacionados a blocos tectônicos
distintos, cujas zonas de articulação têm sido palco de reativações tectônicas
sucessivas, definindo um ambiente altamente potencial para conter
concentrações minerais de interesse econômico, sendo algumas já reveladas
por pesquisas realizadas, ainda na década de 70, na região de fronteira entre o
NW do Pará e SW do Amapá. Muito se avançou na última década no
conhecimento geológico e geotectônico deste setor do Escudo das Guianas. No
entanto, o nível de conhecimento metalogenético ainda é muito precário, além
de defasado, e incompatível com a potencial metalogenético da região. (CPRM,
2012).
 
Por sua vez, o projeto Metalogenia das Províncias Minerais do
Brasil – Áreas do AM e RR
se propõe a reunir, avaliar, consistir e, eventualmente, adensar dados
produzidos pelo Serviço Geológico do Brasil-CPRM, serviços geológicos
estaduais, universidades e empresas de mineração a respeito dos principais
depósitos minerais brasileiros. Trata-se de trabalho de síntese do conhecimento,
com foco nos principais aspectos geológicos, evolutivos, metalogenéticos e
parâmetros-chave de exploração de depósitos minerais e distritos mineiros
localizados das diferentes províncias geológicas brasileiras. Visa também avaliar
o potencial das principais províncias geológicas do Brasil, incluindo modelagem
metalogenéticas de áreas de relevante interesse mineral, bem como, estudar as
áreas de baixo conhecimento geológico em regiões ínvias (sic) como é o caso
das áreas Amazônicas (CPRM, 2012).

 
Ambos os estudos iniciaram efetivamente suas atividades em 2012
e têm término previsto para 2014.
Segundo o Portal de Informações Geográficas da Prefeitura de
Manaus, os estudos da CPRM ocorrem
após o Mineral Commodity Summary 2011, uma das publicações mais
importantes da geologia mundial, elaborada pelo US Geological Survey (USGS
– sigla do serviço americano de geologia), indicar o Brasil como uma das
possíveis novas fronteiras minerais com mais de 52 milhões de toneladas de
20
terras raras (GEOMANAUS, 2010) .

O conhecimento geológico do território brasileiro tem sido objeto


de atenção de grande parte do mundo desenvolvido e em desenvolvimento.
O USGS aponta, em seu site, que a maior ocorrência de ETR na Região
Amazônica deve estar na Calha Norte do Rio Amazonas, com destaque para
a área de Seis Lagos, em São Gabriel da Cachoeira, onde já estão
comprovadas importantes reservas de nióbio, permitindo supor que haja a
mesma proximidade entre nióbio e ETR que já ocorre em Araxá, MG.

                                                                                                               
 
20  Disponível em http://geo.manaus.am.gov.br/geologia-brasil-intensifica-pesquisa-por-terras-
raras-na-regiao-amazonica/. Consulta realizada em 01 de outubro de 2012.

 
 
  24  

 
Figura 6 – Mapa da Região Norte com depósitos de ETR.
Fonte: USGS (www.usgs.gov).

Outro local em destaque na Região Norte é Pitinga (AM). As


potencialidades econômicas da mina estão sendo analisadas pelo
proprietário, o grupo peruano Minsur, por intermédio de sua subsidiária
brasileira, a Mineração Taboca. No local, a empresa explora estanho e ligas
de tântalo e nióbio. Os estudos estão em fase final e evidenciam expressiva
concentração de xenotima, uma das principais fontes de ETR.
a empresa pretende levantar quais são os tipos de terras-raras encontradas,
determinar o volume e as possibilidades de extração. A partir de então, a
Taboca pode começar a traçar projetos de produção desses metais. "As terras-
raras estão no nosso radar. Mas ainda não temos uma definição sobre o setor.
Não estabelecemos ainda quais seriam as rotas de produção", afirmou o
presidente da Mineração Taboca, João Luiz Serafim. (DEZEM, 2011).

 
2.4.3.2 Terras Indígenas

Uma vez que ainda estão em fase de desenvolvimento importantes


projetos especificamente voltados para a “Avaliação do Potencial dos
Minerais Estratégicos do Brasil”, no âmbito da CPRM, tendo com um dos
principais focos as terras-raras, qualquer tentativa de estabelecer um paralelo
entre os depósitos conhecidos e as Terras Indígenas deve se revelar como
prematuro, em futuro próximo.
Todavia, um simples exercício de comparação das localizações
disponibilizadas pelo Serviço Geológico norte-americano (USGS) com os

 
 
  25  

mapas oferecidos pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) permite


interessantes inferências. O mapa da figura 7 apresenta, em maior área, as
Terras Indígenas regularizadas, bem como as localizações dos depósitos
indicados pelo USGS (triângulos com números de 1 a 5).
 

 
Figura 7 – Mapa com Terras Indígenas e depósitos de Terras Raras.
Fontes: FUNAI e USGS. Adaptação do autor.
 
Nesse contexto, os maiores destaques devem ser dados: triângulo
o
n 1 – minas da região de Seis Lagos em São Gabriel da Cachoeira que
também guarda grandes reservas de nióbio; e triângulo no 2 – minas de
Pitinga, de propriedade do grupo peruano Minsur (subsidiária brasileira -
Mineração Taboca). A proximidade de ambas as minas com Terras Indígenas
já regularizadas permite afirmar que a formação geológica pode ser a
mesma, evidenciando o potencial de mineração dessas terras.
Os demais depósitos (triângulos 3, 4 e 5) apontados pelo USGS
carecem de estudos mais detalhados e ainda não disponíveis, no âmbito
deste trabalho.
Uma das mais polêmicas propostas em estudo no MME, referente
ao novo Marco Regulatório da Mineração, consiste na liberação de grandes
extensões de terra indígena para a mineração. A questão reporta-se ao inciso
XVI do art. 49 da Constituição Federal, que determina ser de competência
exclusiva do Congresso Nacional “autorizar, em terras indígenas, a
exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de
riquezas minerais”, embora a mesma Carta Magna, em seu art. 231,
reconheça os direitos originários dos índios sobre as terras que
tradicionalmente ocupam. Além disso, o parágrafo 3o do mesmo artigo indica
que

 
 
  26  

O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a


pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser
efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades
afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na
forma da lei (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988).
 
O Brasil possui 688 reservas indígenas21 que cobrem 109.231.453
hectares, ou cerca de 13% do território brasileiro, mais que o dobro da área
da Suécia. Desse total, 98% estão localizados na Amazônia 22 . Parcela
significativa dessas reservas são potencialmente ricas em grande variedade
de minerais, inclusive ouro, ferro, níquel, diamantes e ETR.
Especialistas apontam que essa Lei poderia beneficiar pequenas e
grandes mineradoras, além de proporcionar importante fonte de renda para
as comunidades locais, que ficariam com 2% da receita bruta da extração
nas suas terras. Outro argumento em favor da Lei é o estabelecimento de
adequada segurança jurídica, essencial para o investimento de grandes
mineradoras, como a BHP, a Rio Tinto e a Vale.
Diversos atores estarão certamente envolvidos nessa questão:
• órgãos públicos federais, estaduais e municipais, cada um
com diferentes — e, por vezes, divergentes — atribuições
legais e interesses políticos, econômicos e sociais;
• sociedades indígenas carentes de reconhecimento e
valorização das identidades étnicas específicas, demandando
aceitação de suas formas tradicionais de organização social,
de ocupação da terra e de uso dos recursos naturais;
• garimpeiros, em sua maior parte caboclos, enfrentando toda
a sorte de vicissitudes, na busca incessante de recursos para
a sobrevivência e melhoria da precária qualidade de vida;
• organizações de proteção aos índios, algumas alinhadas com
aspirações político-econômicas de outros países ou
empresas multinacionais;
• empresas mineradoras, nacionais e internacionais,
interessadas em explorar os minerais estratégicos, com
destaque para os ETR, inserindo o Brasil em um contexto
internacional hoje dominado pela China; e
• organizações ambientalistas, com foco na preservação ou no
desenvolvimento sustentável, inclusive contando com
                                                                                                               
 
21  Fonte:  Fundação  Nacional  do  Índio  (FUNAI).  Disponível  em  http://www.funai.gov.br.  Consulta  
realizada  em  01  de  outubro  de  2012.  
22  Fonte:  BRASIL,  2007.  Informe  Nacional  sobre  Áreas  Protegidas  no  Brasil.    

 
 
  27  

financiamentos externos.

Esse complexo mosaico de atores e interesses permite afirmar que


o projeto de Lei em tela deverá ter uma longa e sinuosa jornada de
tramitação no Congresso Nacional.
 

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo atravessa uma era com características que a História


revela como inéditas, onde os exponenciais avanços da ciência e da
tecnologia — em especial sobre áreas do conhecimento ainda pouco
exploradas — estão se fazendo sentir de modo cada vez mais concreto,
alterando sucessiva e significativamente o cotidiano de grande número de
pessoas, ao redor do globo.
Nesse contexto, é lícito afirmar que as aplicações dos ETR — em
especial aquelas voltadas para bens tecnológicos — indicam forte tendência
de crescimento. As atuais telas de aparelhos eletrônicos, turbinas e baterias
recarregáveis que contêm derivados de terras-raras, por exemplo, serão
consideradas produtos primitivos, quando comparadas aos seus sucessores,
dentro de dez ou vinte anos.
A China, principal ator internacional no que se refere às terras-
raras, construiu importantes vantagens competitivas às custas de consistente
visão prospectiva e de firme gestão governamental, a ponto de dominar
quase integralmente as reservas e a produção, bem como cerca da metade
da demanda mundial.
Esse monopólio tem permitido lucros vultuosos às empresas
chinesas, em detrimento dos demais países consumidores, com destaque
para os EUA, a União Europeia e o Japão, gerando contenciosos que estão
sendo disputados junto a organismos internacionais, em particular na
Organização Mundial do Comércio (OMC).
Essa conjuntura ensejou uma corrida pela descoberta de novas
jazidas de terras-raras em todo o mundo, e os olhares internacionais voltam-
se para o Brasil, uma vez que avaliações ainda preliminares indicam a
ocorrência de depósitos que poderão ultrapassar, em muito, os chineses.
Atores governamentais e representantes de empresas de
mineração têm se movimentado, na tentativa de antecipar as discussões e as
disputas que hoje ocorrem, por exemplo, sobre a exploração do petróleo do
pré-sal. Nesse sentido, merecem destaque o Plano Nacional de Mineração
2030, divulgado em 2010, bem como as pesquisas para avaliação do

 
 
  28  

potencial dos chamados minerais estratégicos, em execução pela CPRM,


com término previsto para 2014.
Atualmente, o governo também elabora o novo Marco Regulatório
da Mineração, ao tempo em que constrói proposta de reformulação do atual
modelo de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais
(CFEM). Esses trabalhos estão sendo conduzidos pelo Ministério da Minas e
Energia, com a participação de representantes dos demais órgãos públicos,
da iniciativa privada e do terceiro setor, de modo a buscar consensos em face
do diversificado leque de aspirações.
No âmbito do Poder Legislativo, o Conselho de Altos Estudos e
Avaliação Tecnológica da Câmara dos Deputados apresentou o Projeto de
Lei Nº 3.910/2012, que “altera a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e
a Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que regulamentam a compensação
financeira pela exploração de recursos minerais, e cria uma participação no
resultado mineral”.
Todos esses movimentos precisam contar com o aporte de
conhecimentos e avaliações que guardem uma visão prospectiva, de longo
prazo, além de análises diretamente relacionadas com a Defesa Nacional,
ensejando participação mais intensa — por parte de representantes do
Ministério da Defesa, das Forças Singulares e da Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República — nos trabalhos de elaboração do
novo Marco Regulatório da Mineração e na reformulação do atual CFEM.
A pesquisa, a exploração, a produção e a comercialização de
terras-raras na Região Amazônica — em face do enorme potencial e das
dificuldades de diversos órgãos públicos se fazerem efetivamente presentes
— fragilizam o Estado brasileiro, na medida em que tendem a se agravar
problemas como contrabando, descaminho, agressões ao meio ambiente e
contenciosos sociais envolvendo empresas, garimpeiros e índios. Nesse
sentido, avulta de importância a participação das Forças Armadas nas
articulações para a construção do novo marco regulatório, com vistas à
defesa dos interesses nacionais.
 
 
 

REFERÊNCIAS

BAUDET, Marie Béatrice. Serão as terras-raras uma nova fonte de


conflito? Matéria de 14/01/2011, disponível em
http://wap.noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2011/01/14/serao-as-
terras-raras-uma-nova-fonte-de-conflito.htm. Consulta realizada em
11/09/2012.

 
 
  29  

BENTLIN, Fabrina R.S. Desenvolvimento de Métodos Analíticos para a


Determinação de Lantanídeos por Técnicas de Espectometria Atômica
com Plasma Indutivamente Aclopado. Tese de doutorado disponível em
http://www.lume.ufrgs.br. UFRGS, 2012. Consulta realizada em 03/09/2012.
3.1.1 BRASIL MINERAL ONLINE. Terras Raras - China impõe novas
restrições à produção. Matéria publicada em 15/8/2012. Disponível em
http://www.brasilmineral.com.br. Consulta realizada em 03/09/2012.
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(PNM – 2030). Brasília: MME, 2010.
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Protegidas no Brasil. Secretaria de Biodiversidade e Florestas,
Departamento de Áreas Protegidas. Brasília: MMA, 2007.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988, 292 p.
CABRAL Rafael. O ouro do século 21. Matéria do Jornal O Estado de São
Paulo, de 14/08/2011. Disponível em http://blogs.estadao.com.br/link/o-ouro-
do-seculo-21/. Consulta realizada em 31/08/2012.
CARVALHO, Marcelo Ribeiro. Uma Geopolítica das Terras Raras. Matéria
disponível em http://jesuinogeografic.blogspot.com.br/2012/01/uma-
geopolitica-das-terras-raras.html. Consulta realizada em 06/09/2012.
CASTRO, Gleise. Cresce o interesse por terras raras. Jornal Valor
Econômico. São Paulo, 13/12/2011.
CHAFFIN, Joshua. UE prepara mega-ação comercial contra a China.
Jornal Valor econômico. São Paulo, 20/10/2012
DALTRO, Ana Luiza. A Guerra por Metais Essenciais à Alta Tecnologia.
Revista VEJA de 21/03/2012. Também disponível em
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/metais-terras-raras/. Consulta
realizada em 20/09/2012.
DEZEM, Vanessa. China força corrida por terras-raras no Brasil. Jornal
Valor Econômico. São Paulo, 28/07/2011.
FÜRST, Omar. Terras Raras-Metais. Matéria 28/11/2011. Disponível em
http://bibocaambiental.blogspot.com.br/2011/11/terras-raras-metais.html.
Consulta realizada em 01/09/2012.
Jornal FOLHA DE SÃO PAULO. Vale e Petrobras podem viabilizar Terras
Raras no Brasil, diz Agência. Matéria de 24/04/2012, disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1080722-vale-e-petrobras-podem-
viabilizar-terras-raras-no-brasil-diz-agencia.shtml.
Jornal VALOR ECONÔMICO. Ações da MbAC Fertilizantes reagem à
entrada da B&A Mineração. 19/09/2012.
_______. CBMM inicia produção de terras-raras em Araxá. 23/05/2012
_______. China suspende produção de terras raras para pressionar
preços. 20/10/2011
_______. Destaques. 12/03/2012

 
 
  30  

_______. Empresa quer explorar minerais no espaço. 25/04/2012


_______. MbAC Fertilizantes quer encabeçar exploração de terras-raras
no Brasil. 29/03/2012
_______. Pequim restringe a produção de terras-raras. 09/08/2012
LANDGRAF Fernando J. G. Terras Raras, um Negócio da China? Matéria
publicada no jornal Valor Econômico de 13/04/2011.
LIAN, Ruby e STANWAY David. China deve lançar plataforma de
comércio de terras-raras em agosto. Agência Reuters. Matéria disponível
em http://www.institutocarbonobrasil.org.br. Consulta realizada em
03/09/2012.
MOREIRA, Assis. África do Sul negocia para suspender barreiras contra
carne brasileira. Jornal Valor Econômico. São Paulo, 27/07/2012.
NOVO, Aguinaldo. Brasil Mapeia Novas Áreas de Terras-Raras. Jornal O
Globo de 14/03/2012. Disponível emhttp://oglobo.globo.com/economia/brasil-
mapeia-novas-areas-de-terras-raras-4311928#ixzz22gd7P82e. Consulta
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OLIVEIRA, Cida. O Nióbio é nosso? Revista do Brasil – Ed. 74, Agosto de
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Consulta realizada em 27/09/2012.
SOUZA, Marcos de Moura. Eike elogia medidas do governo para
incentivar crescimento. Jornal Valor Econômico. São Paulo, 24/05/2012.
SOUZA, Marcos de Moura. Governo de MG será sócio da CBMM em
terras-raras. Jornal Valor econômico. São Paulo, 24/05/2012.
SOUZA, Marcos de Moura. Minas espera arrecadar R$ 500 milhões por
ano com nova taxa para mineradoras. Jornal Valor econômico. São Paulo,
06/01/2012.
VASCONCELLOS, Carlos. Brasil reivindica extensão maior da Amazônia
Azul. Jornal Valor Econômico. São Paulo, 26/09/2012.
3.1.2 WIKIPÉDIA. Terra-rara. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Terras_raras. Consulta realizada em 31/08/12
YAP, Chein-Wei China acena com acordo em disputa por terras-raras.
Jornal Valor Econômico. São Paulo, 26/04/2012.

ANEXOS

Anexo A – Extrato da Constituição Federal referente aos Recursos Minerais.


Anexo B – Projeto de Lei 3910/2012.
Anexo C – Depósitos de terras-raras no Brasil segundo o USGS.

***

 
 
  31  

TERRAS RARAS E AMAZÔNIA LEGAL


— perspectivas de uma nova era —
ANEXO A

EXTRATO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


REFERENTE AOS
RECURSOS MINERAIS

Art. 20. São bens da União:


IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
§ 1º - É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União,
participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de
recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros
recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar
territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa
exploração.
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios:
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa
e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
XVI - autorizar, em terras indígenas, a exploração e o aproveitamento de
recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais;
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
§ 3º À exceção dos impostos de que tratam o inciso II do caput deste artigo e
o art. 153, I e II, nenhum outro imposto poderá incidir sobre operações
relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de
petróleo, combustíveis e minerais do País.(Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 33, de 2001)
Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o
Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e
planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para
o setor privado.
§ 4º - As cooperativas a que se refere o parágrafo anterior terão prioridade na
autorização ou concessão para pesquisa e lavra dos recursos e jazidas de
minerais garimpáveis, nas áreas onde estejam atuando, e naquelas fixadas
de acordo com o art. 21, XXV, na forma da lei.

 
 
  32  

Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os


potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo,
para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida
ao concessionário a propriedade do produto da lavra.
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos
potenciais a que se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser
efetuados mediante autorização ou concessão da União, no interesse
nacional, por brasileiros ou empresa constituída sob as leis brasileiras e que
tenha sua sede e administração no País, na forma da lei, que estabelecerá as
condições específicas quando essas atividades se desenvolverem em faixa
de fronteira ou terras indígenas. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 6, de 1995)
§ 2º - É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da
lavra, na forma e no valor que dispuser a lei.
§ 3º - A autorização de pesquisa será sempre por prazo determinado, e as
autorizações e concessões previstas neste artigo não poderão ser cedidas ou
transferidas, total ou parcialmente, sem prévia anuência do poder
concedente.
§ 4º - Não dependerá de autorização ou concessão o aproveitamento do
potencial de energia renovável de capacidade reduzida.
Art. 177. Constituem monopólio da União:
V - a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a
industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus
derivados, com exceção dos radioisótopos cuja produção, comercialização e
utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme as
alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta Constituição Federal.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006)
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo
para as presentes e futuras gerações.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio
ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão
público competente, na forma da lei.
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.
§ 3º - O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais
energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas
só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as
comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados
da lavra, na forma da lei.

***

 
 
  33  

TERRAS RARAS E AMAZÔNIA LEGAL


— perspectivas de uma nova era —
ANEXO B

PROJETO DE LEI Nº 3.910, DE 2012

Altera a Lei nº 7.990, de 28 de


dezembro de 1989, e a Lei nº 8.001, de 13
de março de 1990, que regulamentam a
compensação financeira pela exploração
de recursos minerais, e cria uma
participação no resultado mineral.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º O art. 6º da Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989,


passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 6º A compensação financeira pela exploração de recursos


minerais, para fins de aproveitamento econômico, será de até 4% (quatro por
cento) sobre o valor do minério produzido. (NR)”
Art. 2º O art. 2º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, passa a
vigorar com a seguinte redação:

"Art. 2º Para efeito do cálculo de compensação financeira de que


trata o art. 6º da Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, entende-se por
valor do minério produzido o valor do produto mineral obtido após a última
etapa do processo de beneficiamento, ocorrida antes de sua transformação
industrial.
§ 1o O percentual da compensação, de acordo com as classes de
substâncias minerais, será de:
I - minério de alumínio: 4% (quatro por cento);
II - ferro, carvão e demais substâncias minerais: 3% (três por
cento), ressalvado o disposto nos inciso IV e V deste artigo;
III - pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e
metais nobres: 0,2% (dois décimos por cento);
IV - ouro: 1% (um por cento), quando extraído por empresas
mineradoras, e 0,2% (dois décimos por cento) nas demais hipóteses de
extração; e
 
 
  34  

V - fertilizante: 2% (dois por cento).


....................................................................................(NR)”
Art. 3º A Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, passa a vigorar
acrescida do art. 2º-A, com a seguinte redação:

“Art. 2º-A Nos casos de minas de grande volume de produção, ou


de grande rentabilidade, haverá o pagamento de uma participação no
resultado pelo produtor mineral, a ser regulamentada em decreto do Poder
Executivo.

§ 1º A alíquota da participação no resultado será de, no mínimo,


10% (dez por cento).

§ 2º A base de cálculo da participação no resultado será a receita


bruta da mina, deduzidas as compensações financeiras, os investimentos na
exploração, os custos operacionais, a depreciação e os tributos previstos na
legislação em vigor.

§ 3º A cada ano, as deduções de que trata o § 2º não poderão


ultrapassar o percentual máximo de 60% (sessenta por cento) da receita
bruta.

§ 4º Somente as empresas que apresentarem lucro líquido maior


que R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais), no ano financeiro
imediatamente anterior ao da apuração, estarão sujeitas ao pagamento da
participação no resultado de que trata este artigo.”

Art. 4º Os recursos da participação no resultado de que trata o art.


3º serão distribuídos na seguinte proporção:

I - 20% (vinte por cento) ao Ministério da Ciência, Tecnologia e


Inovação, com a finalidade de constituir fonte de recursos para pesquisa e
desenvolvimento na área de geologia, mineração e transformação mineral;

II - 20% (vinte por cento) ao Ministério de Minas e Energia para o


financiamento de estudos e serviços de geologia e geofísica aplicados à
prospecção mineral, de estudos de planejamento, de regulação do setor
mineral e de estudos, pesquisas, projetos, atividades e serviços de
levantamentos geológicos básicos no território nacional;

III – 10% (dez por cento) ao Ministério de Meio Ambiente para


atividades voltadas à proteção ambiental e ao desenvolvimento sustentável;

 
 
  35  

III - 10% (dez por cento) ao Estado onde se localiza a mina ou


confrontante com a plataforma continental;

IV - 15% (quinze por cento) para os demais Estados, de acordo


com as mesmas regras do rateio do Fundo de Participação dos Estados e do
Distrito Federal (FPE), de que trata o art. 159 da Constituição;

V - 10% (dez por cento) ao Município onde se localiza a mina ou


confrontante com a plataforma continental;

VI - 15% (quinze por cento) para os demais Municípios, de acordo


com as mesmas regras do rateio do Fundo de Participação dos Municípios
(FPM), de que trata o art. 159 da Constituição.

Art. 5º Esta lei entra em vigor após decorridos cento e oitenta dias
de sua publicação.

JUSTIFICAÇÃO  

A política pública referente à compensação financeira ou à


participação governamental na exploração de recursos minerais deve ter
como base o § 1º do art. 20 da Constituição Federal.

Transcreve-se, a seguir, esse dispositivo constitucional:

"Art. 20. ............................................................................................

...........................................................................................................

§ 1º . É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito


Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta
da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás
natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e
de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma
continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou
compensação financeira por essa exploração. "

A Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, instituiu, para os


Estados, Distrito Federal e Municípios, com base nesse dispositivo,
compensação financeira pelo resultado da exploração de petróleo ou gás
natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, de
recursos minerais em seus respectivos territórios, plataformas continental,
mar territorial ou zona econômica exclusiva.

 
 
  36  

Essa Lei estabeleceu um percentual de compensação financeira


de até 3% sobre o valor do faturamento líquido resultante da venda do
produto mineral, obtido após a última etapa do processo de beneficiamento
adotado e antes de sua transformação industrial.

Com relação à Compensação Financeira pela Exploração de


Recursos Minerais – CFEM, a Lei nº 7.990 não definiu o percentual dessa
Compensação para os vários minerais, nem definiu o que é “faturamento
líquido”. A Lei nº 8.001, de certa forma, preencheu essas lacunas, conforme
disposto em seu art. 2º, transcrito a seguir:

“Art. 2º Para efeito do cálculo de compensação financeira de


que trata o art. 6º da Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989, entende-
se por faturamento líquido o total das receitas de vendas, excluídos os
tributos incidentes sobre a comercialização do produto mineral, as
despesas de transporte e as de seguros.

§ 1º O percentual da compensação, de acordo com as classes


de substâncias minerais, será de:

I - minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio: 3%


(três por cento);

II - ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias minerais:


2% (dois por cento), ressalvado o disposto no inciso IV deste artigo;

III - pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados


e metais nobres: 0,2% (dois décimos por cento);

IV - ouro: 1% (um por cento), quando extraído por empresas


mineradoras, e 0,2% (dois décimos por cento) nas demais hipóteses de
extração.”

Apesar de meritórios, esses dispositivos legais não estabelecem


uma participação governamental compatível com a atividade mineral
brasileira em época de altos lucros e precisam ser aperfeiçoados.

Em 2011, a produção de petróleo e gás natural gerou


participações governamentais, referentes a royalties e participação especial,
de R$ 25,6 bilhões. No setor mineral, não existe participação especial e a
CFEM (royalties) arrecadada foi de apenas R$ 1,5 bilhão. Assim, o setor
petrolífero gerou participações governamentais muito maiores que o setor
mineral.

 
 
  37  

No Brasil, as duas principais empresas de exploração de recursos


naturais são a Petrobras e a Vale. No ano de 2011, o lucro líquido da
Petrobras foi de R$ 33,3 bilhões, enquanto o da Vale foi de R$ 37,8 bilhões.
Levando-se em consideração que a Petrobras foi responsável por pouco
mais de 90% da produção de petróleo e gás natural no Brasil e que a Vale é
responsável por cerca de 40% do valor da produção mineral brasileira,
conclui-se que o lucro líquido do setor mineral foi maior que o do setor de
produção de petróleo.

Mesmo tendo apresentado um lucro maior, o setor mineral gerou


muito menos recursos, em termos de participações governamentais, que o
setor petrolífero.

Sugere-se, então, um pequeno aumento de um ponto percentual


na alíquota da CFEM para a maioria dos minérios e a criação de uma
participação no resultado, a ser cobrada quando da exploração de minas de
grande volume de produção ou de grande rentabilidade, a exemplo do que
ocorre no setor petrolífero.

Propõe-se, ainda, que a base de cálculo da CFEM seja o valor do


minério produzido em vez de ser o faturamento líquido, pois é sabido que na
venda de minério para o exterior algumas empresas tomam o valor de
transferência para uma trading como base de cálculo. Isso provoca uma
redução na arrecadação da CFEM.

Sugere-se também que seja mantido na alíquota máxima da


CFEM apenas o minério de alumínio, que na província de Western Australia,
por exemplo, está sujeito a uma alíquota 7,5%, que é muito mais alta que a
do Brasil. Manganês e sal-gema passariam a sofrer incidência de uma
alíquota comum de 3%, junto com o ferro, carvão e outras substâncias
minerais. O fertilizante, em razão da grande necessidade de produção
interna, teria sua alíquota de CFEM fixada em 2%.

Outra proposta é a cobrança de uma participação no resultado de,


no mínimo, 10% da receita líquida de minas de grande rentabilidade ou
volume de produção. Essa participação afetaria apenas os lucros
extraordinários resultantes da exploração de determinadas minas e seria,
parcialmente, destinada à pesquisa e desenvolvimento na área de geologia,
mineração e transformação mineral.

 
 
  38  

A atual escassez de recursos para pesquisa e desenvolvimento do


Fundo CT-Mineral não é compatível com a exploração mineral brasileira. Em
2009, o orçamento desse fundo foi de cerca de R$ 15 milhões, proveniente
de 2% da CFEM. Esse valor é muito inferior ao fundo setorial para a área de
petróleo e gás natural – CT-Petro, que apresentou, nesse mesmo ano, um
orçamento de R$ 804 milhões.

Além dos recursos do CT-Petro, destaque-se que, em 2009, a


Petrobras investiu cerca de R$ 1,5 bilhão em atividades de desenvolvimento
tecnológico em seu Centro de Pesquisas (Cenpes). Nas atividades de
pesquisa exploratória, a empresa investiu aproximadamente R$ 8,8 bilhões.

As atividades de transformação mineral, assim como as de


agregação de valor aos minerais estratégicos, como os terras-raras, não
recebem recursos de nenhum fundo setorial. Com a parcela da participação
no resultado ora proposta, recursos compatíveis com a relevância do setor
mineral poderão ser destinados às atividades de pesquisa e desenvolvimento
nessas áreas.

Ressalte-se que a China somente chegou a controlar 97% do


mercado mundial de terras-raras em razão dos significativos recursos
destinados ao financiamento das atividades de pesquisa e desenvolvimento.
Registre-se, ainda, que o Brasil somente chegou ao domínio tecnológico da
produção de petróleo em águas profundas pela mesma razão.

Uma participação governamental semelhante à participação no


resultado ora proposta foi criada na Austrália. No dia 20 de março de 2012, o
Parlamento Australiano aprovou a criação de um novo tributo mineral sobre
lucros extraordinários (Minerals Resource Rent Tax), a ser cobrado, a partir
de 1º de julho do mesmo ano, das empresas mineradoras de ferro e carvão
que tenham lucro anual maior que AU$ 75 milhões.

Tributos sobre lucros extraordinários são definidos como aqueles


que podem ser cobrados sem que se distorçam as decisões dos investidores.
No regime brasileiro de concessão petrolífera, existem duas diferentes
participações governamentais: compensação financeira (royalty) e
participação especial. Os royalties e participação especial são arrecadados
pelo governo federal e distribuídos aos órgãos da administração direta
federal, aos Estados e aos Municípios.

 
 
  39  

Na Austrália, cabe aos Estados a cobrança dos royalties pela


exploração de recursos naturais não renováveis. Normalmente, os royalties
são cobrados com base apenas no volume ou no valor da produção, sem
levar em conta a rentabilidade da mina.

Em tempos de baixa rentabilidade, os royalties, tanto no Brasil


quanto na Austrália, incidem sem levar em conta os lucros extraordinários.
Quando a rentabilidade é muito alta, os royalties recuperam apenas uma
pequena parte dos lucros extraordinários. É importante, então, haver um
tributo sobre lucros extraordinários, de modo a se arrecadar para a sociedade
uma parte do lucro extraordinário de determinado projeto de extração
comercial de um bem público.

Uma forma de tributo sobre lucros extraordinários é o tributo de


Brown, que é um imposto que incide sobre a diferença entre receita e
despesa. Quando o fluxo de caixa é positivo, o governo taxa o investidor;
quando é negativo, geralmente na fase de investimento, o governo reembolsa
o investidor.

O modelo de Brown é, contudo, difícil de administrar em razão da


natureza imediata do reembolso. Dessa forma, os governos usam modelos
similares ao de Brown, mas sem a necessidade do reembolso.

Um modelo bastante usado é o de Garnaut-Clunies Ross, no qual


se cobra um tributo quando o fluxo de caixa de um projeto é positivo, mas
não há reembolso quando o fluxo de caixa é negativo. As perdas
correspondentes ao fluxo de caixa negativo são utilizadas como dedução nos
anos em que o fluxo de caixa for positivo. As perdas são corrigidas por uma
taxa de juros que pode incluir um prêmio de risco, pois existe a possibilidade
de o investidor não se beneficiar de deduções no futuro.

Como os royalties tendem a ser fixos, eles, normalmente,


correspondem a uma baixa alíquota, de modo a permitir a operação da mina,
mesmo em períodos de preços baixos. Assim, os royalties falham em garantir
um retorno para a sociedade nos períodos de preços altos.

Em razão disso, o Parlamento da Austrália decidiu pela instituição


do já citado Minerals Resource Rent Tax que é, efetivamente, um tributo
sobre lucros extraordinários – TLE sobre as operações com carvão e ferro,
que juntamente com o petróleo e gás, são responsáveis pela maior parte da
riqueza natural não renovável desse país.

 
 
  40  

O TLE é um tipo de tributo baseado no modelo de Garnaut-Clunies


Ross. Ele incide sobre os lucros líquidos das grandes empresas em um
determinado ponto de taxação. Esse ponto separa as operações a montante
(upstream) e a jusante (downstream).

Como, em geral, os minérios são vendidos a jusante do ponto de


taxação, é necessário que se calcule os lucros líquidos no ponto de taxação.
Para isso são utilizados métodos apropriados para cada circunstância
particular.

Para calcular o lucro sobre o qual incidirá o TLE, podem ser


contabilizadas as despesas operacionais e de investimento por meio de um
processo de atribuir uma parcela da receita ao pagamento das operações a
montante (upstream).

Essas despesas, juntamente com os créditos de royalties, as


perdas, a depreciação e as perdas de outros projetos podem ser deduzidos
das receitas. Se as perdas e os créditos de royalties não puderem ser usados
em um determinado ano, elas podem ser transferidas para frente e corrigidas.

O TLE é calculado multiplicando-se o lucro da mineração pela taxa


do TLE de 30%. No entanto, é importante reconhecer que os mineradores
utilizam técnicas especiais para extrair os recursos e para trazê-los até o
ponto de taxação. Dessa forma, utiliza-se um fator de extração que reduz a
taxa básica do TLE de 30% para uma taxa efetiva de 22,5%.

Apesar de conceitualmente interessante, sugere-se que seja


adotado, no Brasil, não um tributo como o TLE, mas uma participação no
resultado, a exemplo do que já ocorre no setor petrolífero nacional, conforme
já mencionado.

No ano de 2010, apenas a empresa Vale S.A. obteve uma receita


líquida de venda de cerca de R$ 83,2 bilhões. Como os custos dos produtos
vendidos e serviços prestados foram de aproximadamente R$ 33,8 bilhões, a
empresa apresentou um lucro bruto de R$ 49,4 bilhões. Sendo assim, os
custos representaram cerca de 40% da receita.

Nesse mesmo ano, apenas a produção de minério de ferro e


pelotas de minério de ferro geraram uma receita de US$ 32,7 bilhões, o que
representou 72,4% da receita operacional líquida. Admitindo-se um mesmo
percentual de custo em relação às receitas, de 40%, as minas de minério de

 
 
  41  

ferro da Vale teriam gerado uma receita, após deduzidos os custos, da ordem
de US$ 19,6 bilhões.

Como o Projeto de Lei ora proposto estabelece uma alíquota de


participação no resultado de, no mínimo 10%, apenas as minas de minério de
ferro da Vale poderiam gerar uma receita para a União, Estados e Municípios
de aproximadamente US$ 1,96 bilhão.

Computando-se todas as demais minas do Brasil, a arrecadação


de participação no resultado poderá ser próxima de US$ 4 bilhões, já que a
Vale representa cerca de 40% do valor da produção mineral brasileira.
Considerando-se uma taxa de câmbio de 1,8 reais por dólar americano, a
aprovação desta proposição poderia gerar uma arrecadação de participação
no resultado de R$ 7,2 bilhões.

Essa arrecadação será distribuída da seguinte forma:

- R$ 1,44 bilhão ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação


(MCTI) para pesquisa e desenvolvimento na área de geologia, mineração e
transformação mineral;

- R$ 1,44 bilhão ao Ministério de Minas e Energia (MME) para


prospecção mineral, levantamentos geológicos, planejamento e regulação do
setor mineral;

- R$ 720 milhões ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) para


atividades voltadas à proteção ambiental e ao desenvolvimento sustentável;

- R$ 720 milhões aos Municípios produtores;

- R$ 1,08 bilhão a todos os demais Municípios;

- R$ 720 milhões aos Estados produtores; e

- R$ 1,08 bilhão aos demais Estados.

Ressalte-se, ademais, que os recursos destinados ao MCTI e


MME são muito inferiores aos investidos pelo setor petrolífero em
desenvolvimento tecnológico e pesquisa exploratória.

Diante do exposto, solicita-se o apoio dos nobres Pares desta


Casa para que este Projeto de Lei, que aperfeiçoa a sistemática de cobrança
das participações governamentais decorrentes da exploração mineral e

 
 
  42  

garante importantes recursos para pesquisa e desenvolvimento, seja


rapidamente transformado em lei.

Sala das Sessões, em de de 2012.

Deputada TERESA SURITA (PMDB-RR)


Coordenadora do tema no âmbito do Conselho de Altos Estudos e Avaliação
Tecnológica

Deputado INOCÊNCIO OLIVEIRA (PR-PE)


Presidente do Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica
Deputado ARNALDO JARDIM
Deputado ARIOSTO HOLANDA
Deputado BONIFÁCIO DE ANDRADA
Deputado FÉLIX MENDONÇA
Deputado JAIME MARTINS
Deputado JORGE TADEU MUDALEN
Deputado MAURO BENEVIDES
Deputado NEWTON LIMA
Deputado PEDRO UCZAI
Deputado WALDIR MARANHÃO

***

 
 
  43  

TERRAS RARAS E AMAZÔNIA LEGAL


— perspectivas de uma nova era —
ANEXO C

DEPÓSITOS DE TERRAS-RARAS NO BRASIL


SEGUNDO O
SERVIÇO GEOLÓGICO NORTE-AMERICANO (USGS)23

 
 
NOME DO DEPÓSITO ESTADO
Morro dos Seis Lagos (São Gabriel da Cachoeira)
Pitinga Amazonas
Sucunduri
Mutum
Maicuru
Para
Maraconai
Matum (Marum, Mutum)
Alcobaça
Angico dos Dias
Cumuruxatiba (Curumuxatiba, Comoxatiba) Bahia
Porto Seguro District
Prado área
Vitoria District Bahia, Espirito Santo
Anchieta (Parati, Imbiri, Pipa de Vinho, Mãe-bá)
Aracruz
Guarapari (Praia do Vaz, Vila Velha, Restinga, Canto do
Riacho, Praia de Diogo) Espírito Santo
Itapemirim (Boa Vista, Siri)
São Mateus
Serra (Jacareípe)
Arenópolis (Areianópolis)
Caiapó
Goiás
Catalão I
Catalão II
 
 
 
 
 
                                                                                                               
 
23  Disponível  em  http://www.usgs.gov.  Consulta  realizada  em  01  de  outubro  de  2012  

 
 
  44  

 
 
 
 
 
Araxá (Barreiro)
Careaçu
Cordislândia
Salitre I e II
São Gonçalo do Sapucaí área Minas Gerais
São Sebastiao da Bela Vista
Serra Negra
Tapira
Poços de Caldas (Morro do Ferro)
Mataracá Paraíba
Mato Preto
Paraná
Paranaguá
Buena (Buena Norte, Buena Sul)
São Joao de Barra (Barra São Joao) Rio de Janeiro
Sepetiba
Camaratuba Rio Grande do Norte
Anitápolis Santa Catarina
Barra do Itapirapuã
Goiás
São Paulo
Itanhaém
Jacupiranga
Brejo Grande - Pacatuba Sergipe
Northeast Dunes Região Nordeste
 
 
*  *  *  
 
 

 
 

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