Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Página 02
OS TESOUROS ESCONDIDOS
Joseph Shulam
Jerusalem, Israel
2008
Página 03
NETIVYAH
P.O. Box 8043
Jerusalem, 91080
ISRAEL
NETIVYAH U.S.A.
P.O. Box 1387
Mt. Juliet, TN 37121
U.S.A.
netivyah@netivyah.org.il
www.netivyah.org
ISBN (978-0-9818730-0-8)
Impresso em Israel
Página 04
Joseph Shulam
Página 07
Introdução.................................................................................................. 9
Considerações do Escritor.......................................................................... 11
Primeira Parte:
Métodos Interpretativos Judaicos para os Textos Sagrados
Capítulo 3: Hekkesh................................................................................... 65
Segunda Parte:
Os Desafios Contemporâneos para o Judaísmo Messiânico
Bibliografia Selecionada.............................................................................130
Introdução (Pag. 9)
Página 10
Este livro é dividido em duas partes. A primeira seção oferece uma introdução
básica aos temas de Hermenêutica e Interpretação Bíblica, e explica como a
interpretação Judaica nos ajuda a compreender melhor o texto do Novo
Testamento. O livro tem capítulos que explicam os princípios exegéticos do
Rabino Hillel, um famoso Rabino do Primeiro Século que era presidente do
Sinédrio.
Ele também explica o conceito de midrash e os quatro níveis Rabínicos de
interpretação. Este volume irá fornecer ao leitor ferramentas úteis para o estudo
pessoal, trabalhos acadêmicos e exegese Bíblica. O leitor encontrará muitos
exemplos de como os autores do Novo Testamento usaram métodos exegéticos
Judaicos tradicionais para construir seus argumentos da Torá, dos Profetas, e dos
Salmos.
A segunda seção contém artigos sobre importantes questões
contemporâneas para discípulos de Yeshua. Alguns desses tópicos incluem
como podemos restaurar uma hermenêutica Messiânica singularmente. Muitos
problemas que afligem os teólogos Cristãos podem encontrar sua solução vendo
o Novo Testamento como um livro Judaico. O problema de equilibrar o
cumprimento dos mandamentos de Deus com a graça que temos em Yeshua o
Messias pode ser resolvido lendo as cartas de Paulo no contexto de sua base
Rabínica Judaica. Finalmente, há um capítulo sobre a importância da educação
contínua na vida Judaica.
O título deste livro vem de Isaías 45:3, que diz, “dar-te-ei os tesouros
escondidos e as riquezas encobertas, para que saibas que eu sou o Senhor, o
Deus de Israel, que te chama pelo teu nome.”
Seja enriquecido e fortalecido ao embarcar nesta viagem de descoberta.
– Os Editores
Página 11
Exposição do Autor
A Bíblia é uma coleção de literatura antiga. Ela foi escrita durante um período de
mil anos por muitos escritores diferentes sob muitas circunstâncias diferentes.
Naturalmente, se um documento tão antigo caísse nas mãos de um leitor
moderno, ele encontraria dificuldade para decifrar,ler ou compreender. Para
4
Página 12
Página 13
O Senhor ponderava como Ele poderia saber qual dos Seus servos O servia
por temor e qual deles O servia por amor. Ele desenvolveu um método que iria
descobrir este conhecimento. Ele construiu um quarto de quatro por quatro, um
5
Página 14
O profeta Miquéias diz que Deus colocará Israel no “aprisco de ovelhas.” Então
“aquele que abrir caminho” “sairá,” e “o seu Rei irá adiante deles; sim, o
SENHOR, à sua frente.” Toda a história da midrash está aqui nas palavras do
profeta Miquéias. Yeshua captura a história, descrevendo a entrada no Reino de
Deus como um ato forçado e violento de sair e entrar no reino onde o rei está,
fora do aprisco. Aquí, portanto, temos um uso Rabínico do texto de Miquéias no
âmbito de uma “parábola” que demonstra as palavras do Profeta em relação ao
Rei e Senhor que sai à frente de toda a multidão.
Este texto da Midrash de Tana Debi Eliyahu é uma boa demonstração de
dois grandes temas: 1) Deus não é legalista. Aqueles que O amam são os que
querem estar com Ele nos espaços abertos muito mais do que estar sob a
proteção legal dos limites dos Mandamentos da Torá. 2) É de maior importância
amar a Deus to que estar delimitado pela Halacha (sistema jurídico) da Torá.
O estudo de “como entender e interpretar as Escrituras” é um desafio
para todo sério estudante das Escrituras. Este livro foi escrito para ajudar o leitor
a compreender e mergulhar no mundo de Yeshua e nos métodos do Primeiro
Século da compreensão dos Oráculos de Deus.
Que Deus possa fortalecer a sua fé, sua compreensão, sua sabedoria e sua
coragem enquanto você se esforça para conhecer ao Senhor de maneira mais
profunda e servi-LO em espírito e em verdade.
-Joseph Shulam
Página 15
6
Primeira Parte:
Página 17
Capítulo 1:
Página 18
cidade há um homem de Deus, e ele é muito estimado; tudo quanto ele diz
sucede; vamo-nos, agora, lá; mostrar-nos-á, porventura, o caminho que
devemos seguir.” Este é um exemplo de pessoas indo ao profeta quando
precisavam de ajuda sobrenatural com seus problemas. O Tanach nunca diz em
lugar algum, “qualquer que quiser conhecer a vontade de Deus deve ler o texto
da Bíblia.”
Os discípulos de Yeshua hoje são influenciados por uma visão de mundo
muito Protestante. Martinho Lutero e a Reforma Protestante mudaram a
maneira que olhamos para a comunicação com Deus. Como os Fariseus do
Primeiro Século AEC e EC (=AD), a Reforma Protestante realmente se concentrou
na comunicação com Deus através do texto da Palavra de Deus. Isto geralmente
não é
Página 19
Página 20
O Método de PARDES
Não importa o que as origens de um texto são, cada um deles tem muitas
opções para a interpretação. Por exemplo, quando a maioria das pessoas lê um
jornal, elas entendem o seu significado simples. O que ele diz é normalmente o
que significa, e a maioria das pessoas não tenta ler as entrelinhas de uma
simples notícia. Por outro lado, qualquer um que conhece os escritores
Página 21
Página 22
Página 23
Página 24
Página 25
Alguns anos atrás eu falei em uma igreja, e depois da palestra, fomos para
a casa do Pastor com todos os anciãos para café e bolo. Fiquei bastante chocado
quando um dos anciãos disse, “estou tão feliz que Israel é a esposa de Deus e
que a Igreja é a esposa de Yeshua.”
Eu não sabia como reagir, então disse: “Essa é uma idéia interessante,
mas isto significa que não podemos ser irmãos! Nós dois cremos em Yeshua,
mas se temos mães e pais diferentes podemos apenas ser primos.”
11
Então ele abriu sua Bíblia e leu um texto do livro de Levítico e disse: “Veja
aqui, havia dois bolos de cevada ungidos com óleo oferecidos no dia de Shabat.
Um é Israel e um é a igreja.”
Eu o perguntei: “Como você tirou isso deste texto? Onde é que diz que um
bolo é Israel, e outro é a Igreja?”
O ancião calmamente respondeu: “Somente as pessoas espirituais podem
compreender as coisas espirituais.”
Este tipo de problema acontece o tempo todo, e as pessoas querem falar
sobre o “sentido espiritual” do texto. Na verdade, usar os níveis de PARDES pode
levar a boas conclusões e interpretações “espirituais,” mas, elas têm que fazer
sentido com o significado textual literal também. Existem quatro tipos de
compreensão, mas eles não podem ser aplicados freneticamente ou sem regras.
Página 26
Inspiração e Escritura
Mais um conceito que tem que ser abordado aqui é um dos mais complicados e
controversos, e esta é a idéia de “inspiração.” 1 Timóteo 3:16 diz sem
hesitação, “Toada escritura é inspirada por Deus...”Claramente o texto é
inspirado, mas então pergunta-se, “O que significa “inspirado”, e como ele foi
inspirado?
A visão fundamentalista tradicional tanto no Judaísmo como no Cristianismo
é que Deus ditou o texto aos escritores. Esta visão de inspiração altamente
conservadora diz que toda palavra na Bíblia vem de Deus.
12
Página 27
Página 28
Página 29
Página 30
as palavras, “Estas são as palavras que Deus falou.” Algumas pessoas diriam
que pode ser que Moisés envelheceu um pouco e esqueceu exatamente o que
Deus disse, enquanto outras diriam que uma pessoa totalmente diferente em um
período bem posterior escreveu Deuteronômio. Uma tradicional solução Judaica
para este problema é dizer que Deus milagrosamente disse “lembre” e “guarde”
exatamente ao mesmo tempo, o que é uma razão para se acender duas velas no
Erev Shabat – uma para “lembrar” e outra para “guardar.”
Se alguém continua a examinar ambos os textos, o mandamento do
Shabat no livro de Deuteronômio é mais longo do que no livro de Êxodo. Além
disso, as razões para guardar o Shabat são diferentes. Deuteronômio diz que a
razão para guardar o Shabat é porque os Israelitas foram escravos no Egito, mas
Êxodo de modo algum diz isto. O que Deus disse realmente?
14
Não importa como se resolve essas perguntas, não se pode negar que
estas são questões muito graves. Nós baseamos nossa vida no que está escrito
na Bíblia. As pessoas querem me matar em Israel por causa do que está escrito
na Bíblia! Tenho sofrido muito porque eu acredito que Yeshua é o Messias por
causa do que está escrito na Bíblia! Muitos dias e horas de nossas vidas são
gastos em estudo, ensino, louvor, canções, e orações por causa disso. Portanto,
nós temos que levar a Bíblia muito a sério.
Esses tipos de problemas provam que a inspiração não é um ditado, mas
sim um registro. Deus não usou os profetas como robôs ou máquinas de
escrever, mas quando Deus falou eles repetiram o que Ele disse dentro do
caráter do profeta individual, de acordo com seus próprios estilos e pontos de
vista. Deus expressou Seus sentimentos, e a Bíblia é a expressão correta de
Seus sentimentos e opiniões. Esta é uma das diferenças entre as definições
Gregas e do Oriente Médio e perspectivas da verdade. Na visão Ocidental ou
Grega, a verdade é apenas os fatos, mas a definição Bíblica e do
Page 31
Página 32
15
Página 33
Página 34
Página 35
Filo de Alexandria disse que eles tiveram uma discussão filosófica, e outros
intérpretes Judeus disseram que eles discutiram sobre a quem pertenciam a
17
terra e o céu. Outra interpretação rabínica diz que Caim e Abel discutiram sobre
qual sacrifício era melhor, o que parece ser a visão que Hebreus traz.
Há por vezes problemas mecânicos com as letras do texto, também, que
parecem saltar para fora e dizer: “Explique isto.” Se há pontos incomuns sobre
as letras ou letras que são impressas maiores do que outras, um bom rabino diz
que não é um erro, mas sim uma parte da inspiração do texto. Deus deu estas
tradições como símbolos para que pudéssemos pensar profundamente sobre o
que Ele realmente está nos dizendo. Estes são o tipo de coisas que fazem uma
midrash acontecer.
Outra anormalidade textual interessante ocorre em Isaías 9:6-7, na
famosa passagem sobre o nascimento do Messias. Ela diz, “Porque um menino
nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu
nome será: ‘Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da
Paz; ’ para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de
David e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a
justiça, desde agora e para sempre. O zelo do SENHOR dos Exércitos fará isto.”
O que é estranho aqui em Isaías 9 é que a palavra “l’marbeh” (para o
aumento) contém um mem final, (o equivalente à letra “m” em Hebraico),
embora o mem ocorra no meio da palavra e não no fim. IV Para descobrir porque
há um mem final ou fechado nesta palavra, os rabinos tentaram examinar o
contexto da passagem, que está claramente falando sobre O Messias e a
redenção.
IV
Uma coisa que é essencial para a compreensão deste conceito é a regra de
que em Hebraico há dois tipos de mems, um que é “aberto” e pode ocorrer no
começo ou no final da palavra, e outro que é “fechado” e ocorre somente no
final das palavras.
Página 36
Famílias Textuais
Página 37
Página 38
19
Por outro lado, o texto em Atos 15:16-18, cita estes versos, e diz: “
‘Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e ,
levantando-0 de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens
busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado
o meu nome, ’ diz o Senhor, que faz todas estas coisas.” *
Página 39
Página 40
ponto fazendo uma midrash de acordo com a sua compreensão de Amós. O seu
raciocínio é o seguinte: visto que os profetas prometeram que a reconstrução do
tabernáculo de Davi incluirá os Gentios (as nações), não vamos forçar os Gentios
agora a tomar sobre si a Lei de Moisés porque isto já foi prometido pelos
profetas. Deus já tomou a responsabilidade de incluí-los em Sua aliança, então
vamos pedir aos Gentios para fazer o mínimo e guardar as quatro leis dadas a
Noé antes da entrega da Torá no Monte Sinai. Estas leis Noéticas dizem para
abster-se da idolatria, imoralidade sexual, derramamento de sangue, e de comer
sangue. Uma vez que Deus ordenou a Noé e seus filhos a respeito destas coisas,
elas se aplicam a toda humanidade porque todos os humanos descendem de
Noé. Tiago obteve seu parecer usando seu raciocínio para interpretar a
passagem em Amós.
Página 41
uma destas tradições tem alguns lugares onde eles lêem melhor do que outros.
A leitura de Amós na Septuaginta é melhor do que a leitura no texto Masorético,
mas o texto Masorético é melhor em alguns lugares como os Salmos 8, 16, e 22.
Qumran é tão novo ainda que a maioria das pessoas não está familiarizada com
qualquer leitura alternada dos Manuscritos do Mar Morto.
Ordens e Exemplos
Hoje nós todos somos parte da revolução Farisaica que diz que podemos
descobrir a vontade de Deus a partir do texto da Bíblia. No entanto, o texto da
Bíblia contém diferentes graus de revelação prática. Por exemplo, “amai uns aos
outros” é uma ordem direta, e não há pergunta alguma sobre se devemos
obedecê-la ou não. Yeshua ordenou a seus discípulos: “Ide por todas as nações
e fazei discípulos, ensinando-os a obedecer tudo que Eu vos tenho ordenado.”
Esta também é uma ordem sobre a qual não pode haver dúvida. Comandos
diretos normalmente não requerem um sod, um remez, ou uma midrash para se
compreender o que eles querem dizer.
Há, no entanto, outras formas que Deus se comunica conosco pela Sua
Palavra. Ás vezes Ele se comunica através de exemplos positivos e negativos.
Lendo sobre o que fizeram os primeiros crentes, nós podemos aprender alguns
princípios importantes para hoje. Ananias e Safira são exemplos negativos em
Atos que nos mostram como não nos comportarmos, enquanto Dorcas é um
exemplo positivo da importância de ajudar o pobre e como Deus recompensa
aqueles que cuidam dos necessitados.
Página 42
Quando as pessoas hoje dão dinheiro para a sua congregação, para quem
ele vai? No Tanach, se alguém tivesse um cordeiro e quisesse dar um presente
ao Senhor, ele o levaria ao sacerdote e o queimaria sobre o altar. O sacerdote
tomava o seu pedaço, e o que sobrava era queimado. Todavia, o cordeiro era
dado ao Senhor. No Novo Testamento, Paulo disse que ele estava coletando
dinheiro para os crentes pobres em Jerusalém.
Página 43
Ele nunca disse que era para ser uma oferta para o Senhor. No entanto, na Torá,
quando as pessoas davam dinheiro para o pobre, isto ainda era considerado um
presente ao Senhor. A Torá ordenou o povo a trazer os sacrifícios e a dar vários
diferentes tipos de dízimos. Eles tinham um dízimo para os sacerdotes e Levitas,
e eles também tinham que deixar algumas de suas colheitas no campo para
alimentar o pobre. Os Israelitas antigos tinham diferentes tipos de doação, mas o
Novo Testamento nunca ordena dar o dízimo. Portanto, para que um pastor hoje
possa pedir o dízimo, ele deve formar halacha de um exemplo, em vez do
próprio mandamento. Lembre-se que halacha significa “andar,” e nós queremos
saber como andar pela nossa fé em nossas vidas diárias.
23
Página 44
Há muitas coisas que tanto a Igreja como o povo Judeu faz, que não foi
ordenado diretamente, mas que foi tirado de um exemplo nas Escrituras. Um
exemplo é a reunião no fim de semana. O Novo Testamento nunca ordena a
igreja a se reunir todo Domingo. Há apenas exemplos de crentes se reunindo aos
Sábados. Em Atos 20:7, vemos que os discípulos se ajuntavam para se
reunirem nas noites de Sábado: “No primeiro dia da semana, estando nós
reunidos com o fim de partir o pão, Paulo, que devia seguir viagem no dia
imediato, exortava-os e prolongou o discurso até à meia-noite.” A partir daí, os
Cristãos desenvolveram uma tradição de se reunirem no primeiro dia da semana
Ocidental, que é Domingo. Hebreus 10:25 nos instrui a não negligenciarmos as
nossas reuniões mas nunca especifica com que freqüência estas reuniões devem
acontecer. Os homens Judeus Ortodoxos se reúnem para orar duas ou três vezes
todo dia baseados no exemplo de haver três ofertas diariamente no Templo. Por
outro lado, os Cristãos, baseiam a idéia de uma reunião semanal aos Domingos
no exemplo desta passagem de Atos 20.
Página 45
Testamento nos diz apenas para cantar e de forma alguma menciona qualquer
coisa sobre instrumentos. A moda de hoje de usar instrumentos é tirada de
exemplos de textos no Antigo Testamento.
Página 46
Midrash Aggada
Vamos agora examinar o conceito de midrash aggada, a midrash que conta uma
história em grande profundidade. Em Hebreus 11, o famoso capítulo da fé que
conta as histórias dos fiéis filhos de Deus, é todo baseado na midrash aggada.
Um exemplo clássico vem dos versículos 8 a 10. “Pela fé, Abraão, quando
25
chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e
partiu sem saber aonde ia. Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em
terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da
mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual
Deus é o arquiteto e edificador.” O que fez o autor de Hebreus achar que Abraão
não quis herdar Jerusalém, Hebrom, e Siquém da maneira que Deus instruiu?
Deus disse a ele, “Vá para a terra que Eu te mostrarei, e Eu te darei a terra!
Aonde você pisar será seu!” Conseqüentemente, é surpreendente quando de
repente, de acordo com Hebreus, Abraão não estava nem mesmo interessado na
terra de Israel de forma alguma. O escritor de Hebreus fez uma midrash que
Abraão estava interessado em outro país totalmente baseado em suas palavras
aos filhos de Hete em Gênesis 23:4, quando ele queria sepultar Sarah em
Hebrom. Ele disse: “Sou estrangeiro e morador entre vós” e deixou claro que ele
não estava interessado em possuir qualquer terra em Israel exceto pela caverna
na qual ele queria sepultar sua esposa. O que o autor de Hebreus diz não está
explicitamente declarado na Torá, mas ele obtém esta idéia de conceitos não
explicados que estão escritos na Torá.
Página 47
Página 48
Capítulo 2:
Não se lê um livro de direito como se leria uma carta pessoal ou uma novela.
Tempo, lugar e circunstâncias afetam a forma com que todos os textos escritos
são lidos e compreendidos.
VII
Hillel foi o presidente do Sinédrio em Jerusalém no último ano do primeiro século AEC e
durante o Ano 16 da EC. Seu parceiro nesta posição foi Shamai. Estes dois grandes homens
argumentaram muito sobre tudo, mas juntos eles deixaram uma marca profunda no mundo de
Yeshua. Na verdade, o que é chamado “A Regra de Ouro” (Mateus 7:12) foi realmente
formulado primeiro por Hillel, que disse: “O que é odioso para você, não faça ao próximo.
Esta é toda a Torá e os mandamentos.” (bShabbat 31 a) Hillel passou seu cargo ao seu filho
Gamaliel que foi o professor do Apóstolo Paulo (Atos 5:34-39; 22:3).
Página 49
1.
Kal Vahomer
Vamos começar com o primeiro princípio hermenêutico, conhecido como kal va-
homer, um argumento descrito em Latim como a fortiori, ou em Inglês como “do
menor para o maior.” Embora à primeira vista, este pode parecer um conceito
confuso, ele se tornará mais claro quando o examinarmos de perto. As Escrituras
estão repletas deste princípio, então cabe a nós compreendê-lo.
Uma conclusão prática que pode ser tirada do uso de kal va-homer em
geral é o fato de que há diferentes níveis de pecado. Este conceito tem sido
muito mal interpretado, mas a Torá ensina a diferença entre pecados “grandes”
e “pequenos”. É claro, Deus em Sua santidade completa não pode fazer vista
grossa a nenhum pecado, mas a Torá ensina quais pecados são mais graves,
baseado no castigo imposto pela sua violação. Se a punição é a morte, então
cometeu-se um pecado muito grave. Cometer um pecado que requer a pena de
morte, obviamente é muito grave do que cometer um para o qual a pena é
simplesmente o sacrifício de dois pombos.
Página 50
Yeshua, na verdade, também ensina que alguns pecados são mais graves
que outros, assim como diz que alguns mandamentos são mais pesados do que
outros. Em Mateus 5:17-20, Yeshua diz: “Não penseis que vim revogar a Lei ou
os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos
digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei,
até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto
que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no
reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado
grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder
em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus.” Esta
passagem prova que existem mandamentos menores e maiores e pecados
menores e maiores. O mesmo princípio aplica-se à compreensão do conceito de
midrash. Aprendemos sobre as coisas grandes com as coisas pequenas.
Página 51
não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a
sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do
campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros,
homens de pequena fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos?
Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que
procuram todas estas coisas, pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de
todas elas. Buscai , pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas
estas coisas vos serão acrescentadas.”
forma como Deus cuida da natureza, Ele certamente cuidará do homem porque
o homem é a coroa da natureza!
Página 52
Página 53
Página 54
2.
G´zerah Shavah
VIII
O Talmude Babilônico: Glossário. Ed. 1. Epstein. Index Volume. London: Socino
Press, 1952, p.734.
Página 55
3.
Página 56
fato de que ambos contêm uma palavra comum como “então” ou “matar” por
exemplo, e a palavra ou frase que conecta a “família” de textos deve ser a
principal idéia em todos aqueles versículos.
Página 57
Página 58
32
4.
“Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei?
[Salmo 2:7] E outra vez: ‘Eu lhe serei por Pai, e ele me será Filho’? [2 Samuel
7:14] E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: ‘E todos os anjos
de Deus O adorem.’ [Salmo 97:7] Ainda quanto aos anjos, diz: ‘Aquele que a
seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo.” [Salmo 104:4] Mas
acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de eqüidade
é o cetro do seu reino. Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso, Deus, o
teu Deus, te ungiu com óleo de alegria como a nenhum dos teus companheiros.’
[Salmo 45:6-7] Ainda: ‘No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e
os céus são obras das Tuas mãos; eles perecerão; Tu, porém, permaneces; sim,
todos eles envelhecerão qual veste; também, qual manto, os enrolarás, e, como
vestes, serão igualmente mudados; Tu, porém, és o mesmo, e os teus anos
jamais terão fim.’ [Salmo 102:25-2]
Página 59
Ora, a qual dos anjos jamais disse: ‘Assenta-te à minha direita, até que eu ponha
os teus inimigos por estrado dos teus pés? [Salmo 110:1] Não são todos eles
espíritos ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a
salvação? ”
5.
K’lal Uf’rat
33
Página 60
Habitarei, e andarei entre eles; serei o seu D-us, e eles serão o meu povo.”
A Torá também usa este método na lista das festas de Israel em Levítico
23:2ss. Nos versículos de 2-6 diz: “Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: ‘As festas
fixas do SENHOR, que proclamareis, serão santas convocações; são estas as
minhas festas. Seis dias trabalhareis, mas o sétimo será o sábado do descanso
solene, santa convocação; nenhuma obra fareis; é sábado do SENHOR em todas
as vossas moradas. São estas as festas fixas do SENHOR, as santas
convocações, que proclamareis no seu tempo determinado: no mês primeiro, aos
catorze do mês, no crepúsculo da tarde, é a Pascoa do SENHOR. E aos quinze
dias deste mês é a Festa dos Pães Asmos do SENHOR; sete dias comereis pães
asmos...’”
6.
Página 61
Explica a aparente contradição entre duas passagens no Tanach que falam sobre
o Messias como “a pedra angular.” Por um lado, Isaías 28:16 parece dizer que
a “pedra angular” será amplamente acreditada e aceita, mas por outro lado, no
Salmo 118:22 diz que a pedra angular será rejeitada. Pedro resolve esta
contradição inserindo outra passagem de Isaías 8:13-15 que menciona os
desobedientes “tropeçando” sobre uma pedra mas os justos servindo a D-us
fielmente.
Página 62
7.
Outro exemple é Romanos 14:14, que diz: “Eu sei e estou persuadido,
no Senhor Yeshua, de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para
aquele que assim a considera; para esse é impura.” Se ignorar-se o contexto
geral da carta de Paulo, pode-se chegar à conclusão de que ele
Página 63
Página 64
36
Deve-se ter em mente que nem toda passagem pode ser interpretada com
todas estas sete regras, e pode até haver algumas passagens que não deveriam
ser interpretadas por qualquer uma delas. Se bem compreendidos e usados, no
entanto, estes princípios ou midot podem se tornar uma grande ferramenta no
Corpo do Messias para interpretar e expor as Escrituras de acordo com o seu
contexto Judaico original. Hermenêutica, ou a forma como compreendemos a
Palavra de D-us, é uma das chaves tanto para a saúde espiritual como para a
unidade do povo de D-us. Se somos capazes de usar as mesmas ferramentas,
deveríamos ter os mesmos resultados e chegarmos a uma compreensão comum
do que D-us planejou para nós aprendermos e sabermos sobre Si mesmo e Seu
povo.
Página 65
Capítulo 3
Hekkesh
X
O Talmude Babilônico: Glossário. Ed. 1. Epstein. Index Volume.
London: Socino Press, 1952, p. 736.
Página 66
hekkesh. Ele combinou dois dos Dez Mandamentos “Não cometerás adultério”
e “Não cobiçarás” de Êxodo 20 e juntou-os para fazer a conclusão de que a
proibição da Torá sobre adultério também inclui pecados mais amplos do que
simplesmente o ato físico de ter relação sexual com a esposa de outro homem.
Aqui está outro exemplo de como Yeshua usou o hekkesh. Mateus 5:38-
42 diz: “Ouvistes o que foi dito, ‘Olho por olho e dente por dente.’ Eu, porém,
vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita,
volta-lhe também a outra; e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica,
deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele
duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe
emprestes.” Para descobrir a base deste parecer de Yeshua, nós precisamos
examinar os textos dos quais Ele fez o hekkesh.
A Torá diz: “Olho por olho e dente por dente...” mas deixa-nos a tarefa de
decidir qual é a implicação desta lei. Normalmente falando, se alguém
deliberadamente arranca o olho de outra pessoa, a vítima estaria inclinada a
matar o agressor. Esta é uma reação humana normal. No entanto, ao contrário
de nossas tendências naturais, a Torá ensina que mesmo a vítima de tão terrível
crime não deve se vingar ou retaliar de uma forma violenta. A vítima tem o
direito de ir ao tribunal e receber a indenização pela perda. A tora não ensina
que é permitido matar a pessoa. Se ele tirou um olho, ele pagará por um olho.
Se ele tirou um dente, ele pagará por um dente. Se ele
38
XI
Allison, Dale C. O Sermão da Montanha. New York: Crossroad Publishing
Company, 1999, p. 72
XII
Keener, Craig S. Comentário do Evangelho de Mateus. Grand Rapids:
Eerdman´s, 1999, p. 187
Página 68
queima alguém, ele pagará pela queima. Este mandamento na Torá significa que
aquele que fez uma vítima perder um olho ou um dente pagará o preço de um
olho, ou o preço de um dente, etc. Se alguém causa danos a um indivíduo,
acidentalmente, a lei é aplicada, e o tribunal determina o valor do olho. Olhos
diferentes têm preços diferentes, dependendo da idade, profissão, etc...da
pessoa.
A razão pela qual sabemos que a Torá literalmente não ensina arrancar o
olho do agressor vem de outro versículo que explica como este princípio deve
ser interpretado. Êxodo 21:22-25 aplica o princípio de “olho por olho” a uma
situação particular e o interpreta para dizer que o agressor deve pagar uma
compensação financeira.” “Se homens brigarem, e ferirem mulher grávida, e
forem causa de que aborte, porém sem maior dano, aquele que feriu será
obrigado a indenizar segundo o que lhe exigir o marido da mulher; e pagará
como os juízes lhe determinarem. Mas, se houver dano grave, então darás vida
por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura
por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe.”
Entretanto, há outro texto na Torá que parece tomar este princípio muito
literalmente. Levítico 24:19 diz: “Se alguém causar defeito em seu próximo,
como ele fez, assim lhe será feito.” Está claramente afirmado neste versículo
que se alguém arranca o dente de seu próximo, ele deveria ter o seu dente
arrancado também. Este é um resultado jurídico completamente diferente.
Yeshua viu que havia uma contradição legal na Torá. Em um lugar, diz que
se deve pagar de acordo com o julgamento determinado pelos tribunais. Em
outro lugar, diz que o olho do homem culpado deve ser arrancado como
recompensa pelo olho perdido da vítima. Para aumentar a complicação,
Página 69
Nós temos aqui uma situação em que três textos inspirados diferentes,
todos dão instruções completamente diferentes. Um diz que se alguém causar a
perda de um olho do seu próximo, então eles deverão ir ao tribunal para
determinar as indenizações, e que será a multa monetária do agressor. O outro
diz que devemos nos vingar na mesma proporção. Se alguém faz alguma coisa a
outra pessoa, exatamente a mesma coisa deveria ser feita ao ofensor. E ainda
outro versículo diz que se alguém bater, deve se virar a outra face! Como podem
todos estes textos ser inspirados pelo mesmo D-us? A única maneira de
39
Para entender porque Yeshua disse para virar a outra face, nós também
precisamos lembrar em qual contexto cultural Ele estava falando. Durante o
tempo em que o Evangelho foi escrito, a Terra de Israel e o povo Judeu, sofreu
sob a ocupação Romana. Yeshua viveu toda a sua vida sob a ocupação Romana
e o governo corrupto de Herodes e sua família. Os Romanos basicamente
fizeram o que quiseram com o povo de Israel. Eles tinham leis que diziam que
qualquer soldado Romanao poderia tomar o casaco, a camisa, o jumento, e o
equipamento de qualquer Israelita a qualquer momento, e até mesmo levá-lo
como um servo por 24 horas! Entretanto, após 24 horas ele tinha que ser
liberado. A lei em Israel ainda é mais ou menos a mesma. Se o militar, precisa de
um carro, eles têm o direito de levá-lo. Se eles precisam de uma casa, eles têm o
direito de tomá-la, assim como era a situação no tempo dos Ramanos.
Página 70
mutilação por acidente. A pessoa que bate deseja humilhar. Yeshua diz que
quando alguém intensionalmente nos fere ou nos envergonha, não devemos
responder o mau com o mau. Permitir aquela pessoa “nos bater na outra face” é
a coisa forte, não a coisa fraca, a fazer. Se alguém pretende nos envergonhar
batendo-nos publicamente na face, não devemos ceder à sua maldade e
responder com a mesma moeda porque isto o mostraria que ele nos afetou. Em
vez disso, devemos prová-lo que ele não pode nos afetar. Devemos mostrá-lo
que somos orgulhosos e fortes o suficiente para suportar outra batida na face.
Yeshua ensina isto tomando os dois versículos da Torá e batendo-os junto com o
versículo de Lamentações.
Página 71
XIII
Ben Isaiah, Abraham and Benjamin Sharfman. The Pentateuch with Rashi´s
Commentary: A Linear Translation into English. Vol. 2. Exoduas. Brooklyn: S.S.
& R. Publishing Company. 1949, p. 394.
Página 73
Segunda Parte:
Página 74
Capítulo 4
A hermenêutica tem sido chamada uma ciência e uma arte. Existem leis e
regras para a compreensão de um texto que devem levar o tempo, o lugar, o
orador, a audiência, e o contexto religioso e cultural em consideração. Os textos
não flutuam no amplo espaço do nada. Eles sempre existem dentro do contexto
de alguma configuração, tempo, e dos eventos históricos que levaram à sua
criação. A tendência do início do século XX era dar um toque existencial à
interpretação da Bíblia. Isto tirou a Palavra de D-us de seu contexto histórico e
cultural e deu-a um sentido filosófico. É minha intenção restaurar o
entendimento das formas em que a Bíblia tem sido historicamente interpretada,
a fim de equipar aqueles que são estudantes sérios a aprofundar na
perplexidade e relevância para nossa vida diária.
Página 75
Página 76
regras para interpretar textos sagrados. É preciso lembrar que esses métodos
hermenêuticos não excluem o p´shat, o significado claro e literário.
43