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Ministério dos Direitos Humanos

Secretaria Executiva do Ministério dos Direitos Humanos


Departamento de Promoção dos Direitos Humanos
Coordenação Geral de Educação em Direitos Humanos

Criança e Adolescente: módulo básico para Conselhos Tutelares e Conselhos


dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Brasília/Distrito Federal
2018
Criança e Adolescente: módulo básico para Conselhos Tutelares e
Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Apresentação

Este curso foi desenhado para contribuir com uma formação básica em direitos
da criança e do adolescente de Conselhos Tutelares e Conselhos dos Direitos
da Criança e do Adolescente. Os direitos de crianças e adolescentes e o papel
do sistema de garantia de direitos na efetivação de tais direitos são, portanto, o
eixo central dos conteúdos trabalhados.
O curso para Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e Conselhos
Tutelares está dividido em dois módulos. No primeiro será abordado o tema
direitos humanos das crianças e adolescentes, a partir da construção histórica,
documentos internacionais e nacionais. No segundo, serão discutidas as
Políticas de Promoção, Garantia e Defesa dos Direitos Humanos de Crianças e
Adolescentes no Brasil, os novos temas e cenários que impactam no atendimento
individualizado a esse público.
Os módulos foram estruturados com o objetivo de proporcionar familiarização
em temas gerais ligados aos direitos humanos da criança e do adolescente.
Optou-se por trazer os conceitos básicos deste campo e propor o diálogo dos
aspectos teóricos com a prática dos conselhos por meio de infográficos, estudos
de caso, sugestão de vídeos e leituras externas. Ao final de cada aula o aluno
contará com um resumo do conteúdo e os resultados alcançados.
Trata-se, portanto, de um curso introdutório que servirá de linha de base para
o aprofundamento da prática dos conselhos embasada em aspectos teóricos
relevantes. Assim, não tem o objetivo de esgotar o debate, ao contrário, pretende
instrumentalizar a discussão sobre a importância da ação qualificada desses
conselhos e seu papel na garantia dos direitos das crianças e adolescentes no
Brasil e na afirmação da democracia.
Com essa premissa, alguns documentos normativos nacionais e internacionais,
como tratados internacionais, atos normativos, estudos, artigos científicos
e pesquisas serão referenciados durante as apresentações e também nas
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questões avaliativas.
CRIANÇA E ADOLESCENTE: MÓDULO BÁSICO PARA CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Apresentação

Este curso foi desenhado para contribuir com uma formação


Sistema de Garantia de Direitos
básica em direitos da criança e do adolescente de Conselhos
Tutelares e Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescen-
te. Os direitos de crianças e adolescentes e o papel do sistema
de garantia de direitos na efetivação de tais direitos são, portan- Promoção Controle Defesa
to, o eixo central dos conteúdos trabalhados.

Análise da Situação Articulação Defesa


Atendimento e Mobilização e
Objetivo Geral Prevenção Protagonismo Juvenil Responsabilização

Contribuir para o desenvolvimento profissional dos consel-


heiros dos direitos da criança e do adolescente e conselheiros
tutelares, instrumentalizando-os para o exercício de seu papel
de fortalecer a garantia dos direitos infantojuvenis, conforme os Módulo 1. Direitos Humanos da Crianças e do Adoles-
princípios estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adoles- centes.
cente (ECA) e pela Convenção sobre os Direitos da Criança,
frente aos novos desafios da pós-modernidade. Aula 1. O Conceito de Infância e os desafios da pós-moder-
nidade.
Aula 2. Normativas Internacionais e Nacionais.
Objetivos específicos Aula 3. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o
Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adoles-
Desenvolver o material didático-pedagógico, no formato de cente (SDGCA). con
selh

ensino à distância (EaD), para utilização nos processos de


eiro

formação e capacitação dos conselheiros de direitos e conse - Módulo 2. Políticas Públicas de Promoção, Garantia e
lheiros tutelares, na área de direitos humanos da criança e do Defesa dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes.
adolescente.
Capacitar integrantes dos conselhos de direitos e conselhos Aula 4. Educação em Direitos Humanos para Criança e
tutelares para uma atuação embasada em preceitos normativos Adolescente.
nacionais e internacionais, a partir de metodologia interdisci- Aula 5. Direito à Convivência Familiar e Comunitária.
plinar. Aula 6. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducati-
Instrumentalizar conselhos de direitos e conselhos tutelares vo- SINASE.
para a atuação qualificada em prol da garantia dos direitos Aula 7. O Enfrentamento às Violências contra a Criança e
humanos da criança e do adolescente. ao Adolescente.
Aula 8. Atenção Integral à Saúde de Crianças e Adoles-
centes.
METODOLOGIA Aula 9. A Diversidade e Interseccionalidade.

O curso será realizado na modalidade a distância, por meio de


plataforma Moodle, executado na Escola Virtual da Enap, tanto
para apresentação e facilitação do conteúdo quanto para cumpri-
mento das atividades avaliativas.

O conteúdo será formulado a partir de referenciais teóricos e


normativos e terá como linha de base uma pesquisa com conse -
lheiros sobre as maiores lacunas na sua formação que impactam
no cotidiano de sua atuação.

Será disponibilizado conteúdo teórico escrito e apresentação de


vídeos. Para tornar o conteúdo o mais próximo do cotidiano dos
conselheiros dos direitos da criança e conselheiros tutelares, será
utilizada a metodologia de estudo de casos.

Para facilitar a aprendizagem será elaborado um grupo de


questões orientadoras para cada estudo de caso apresentado.
Espera-se assim, facilitar ao público do curso o estabelecimento
de um link do caso com o conteúdo teórico, compondo assim, um 3
acervo de 09 (nove) estudos com vídeos explicativos que estarão
disponíveis para compor uma casoteca sobre o tema.
MÓDULO 1. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Carga Horária: 6h

Aula 1. O Conceito de Infância e os desafios da Pós-modernidade


• Conteúdo Programático:
o Origem e construção do conceito de infância no Brasil.
o Conceito de infância contemporâneo e as novas narrativas.
o Pós-modernidade e os destinos da infância e da adolescência.
• Análise e discussão de estudos de caso.
• Estudo de caso 1.

1.1. Origem e construção do conceito de infância no Brasil

A criança recebe o estatuto de “criança” instituído através de políticas


sociais introduzidas pelo Estado, apenas a partir do século XVIII. Essa infantilização
da criança não é natural nem generalizável a todas as sociedades. Relata-se
que até o início da época moderna, a criança passava a ser independente, cuidar
de si mesma e frequentar o mundo dos adultos como uma igual por volta dos
sete anos.
O processo de infantilização se inicia a partir de um interesse acentuado
pela educação da criança, desenvolvido pelo Estado, com objetivos de assegurar
uma população adulta saudável, adaptada e produtiva. Essa política aguça o
interesse dos eclesiásticos e higienistas, que se apresentavam antes de tudo,
como moralistas. A família deixa de ser capacitada a educar os filhos e estes
passam a ser educados sob a tutela da escola.
Apenas no século XIX a criança foi objeto da primeira norma legal de
proteção que estabelecia o limite mínimo de idade para o trabalho nas minas
de carvão. Com a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em
1919, surge a necessidade de criação de mecanismos jurídicos de proteção da
criança no ambiente de trabalho.
A ideia de proteção à infância surgiu apenas no final do século XIX e
início do século XX, porém como aplicação dos direitos do homem à infância,
somente nos últimos vinte anos do século XX.

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O século XVIII ainda enxergava as crianças como “menores” que
precisariam de alguma proteção do Estado, através de um sistema disciplinador,
até conseguirem alcançar condições para ingressarem no modo de produção
econômica.
Em 1919, com a criação da OIT, sua Carta do Trabalho, do mesmo ano,
documento que regeria a atuação da OIT, explicitamente prevê na alínea “f” a
“abolição do trabalho Infantil.”
Em 1924, A Liga ou Sociedade das Nações, considerada a antecessora da
Organização das Nações Unidas (ONU), publicou a Declaração sobre os Direitos
da Criança, composta por um preâmbulo e cinco princípios. Esse documento
serviu de base para a Declaração Universal dos Direitos da Criança, em 1959.
No pós-Segunda Guerra surge o Fundo de Emergência das Nações
Unidas para as Crianças (UNICEF), criado para auxiliar as crianças dos
países assolados pela guerra. Em 1953 o Fundo foi transformado em agência
permanente e especializada da ONU para a assistência à infância dos países em
desenvolvimento.
Com a criação das Nações Unidas surgiram inúmeros documentos
referenciais atinentes à infância. Declarações, Resoluções e Tratados
internacionais passaram a se ocupar da proteção da criança no âmbito global,
aliados a sistemas regionais de direitos humanos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 marcou
uma nova etapa do sistema de valores no âmbito internacional, transcendendo
a questões ideológicas, culturais ou religiosas, e se apresentou como universal
(direcionada a todos os seres humanos, sem distinção), além de situá-los no
mesmo plano os direitos civis, políticos econômicos, sociais e culturais.
A DUDH tornou-se referência e fundamentação de todas as declarações
e tratados internacionais de Direitos Humanos que lhe seguiram. Em relação
às crianças, a Declaração de 1948 faz expressa menção ao direito a cuidados
especiais para a maternidade e a infância, tema que foi retomado posteriormente
na Declaração dos Direitos da Criança, de 1959, e na Convenção sobre os
Direitos da Criança (CDC), de 1989.

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A partir da Declaração dos Direitos da Criança a realidade da infância
sofre alteração, ainda numa perspectiva simbólica muito mais normativa do
que com reais participações sociais ou políticas. Porém, a alteração da norma
internacional impôs uma evolução hoje bastante sentida, sobretudo no Brasil,
que elaborou uma norma muito avançada do ponto de vista da garantia dos
direitos da criança.
Essa evolução tem imposto novos debates sobre reais práticas de
efetivação dos direitos protagonizados na Convenção sobre os Direitos da
Criança e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

1.2. Conceito de infância contemporâneo e as novas narrativas

Com todos os estudos, debates e práticas realizadas a partir do ECA e após


28 anos de aprendizagem de instituições e da população brasileira, o momento
atual demanda um exercício de repensar o conceito de infância. O paradigma atual
precisa reconhecer a infância e adolescência enquanto população que participa
da vida social, ocupa espaços públicos, altera as dinâmicas das cidades e até
tem influenciado no mercado. Esse contexto impõe a redefinição de conteúdos,
métodos, processos, práticas e resultados que levem em conta a participação
desse público e dos demais atores sociais.
Para esse novo olhar é preciso reduzir as diferenças entre adultos e
crianças, sobretudo de oportunidades. Produzir, portanto, novas narrativas que
deem conta de localizar a criança e o adolescente como sujeitos subjetivos com
sua origem e história influenciando o seu lugar social atual.
Não defende-se aqui uma aproximação do conceito de criança e adulto,
mas de reconhecimento de que essa diferença varia segundo épocas e culturas,
ou seja, a diferença é produzida social e historicamente.
O lugar da infância sofre alteração sobretudo com a eclosão da rede
internacional de computadores. O deslocamento virtual e o acesso à informação
aproximam adultos a crianças e, por outro lado, ressaltam a existência de
diversas infâncias.
Nesse sentido, é inadiável considerar o conceito de infância de forma
dinâmica, em evolução, de acordo com um novo lugar social, com direitos

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positivados e com participação social efetiva, entre pares e com adultos, sem
contudo, perder a lógica da proteção de direitos.
Esse novo olhar permitirá o reconhecimento de uma infância muito mais
conectada com o mundo adulto e com o mundo de outras infâncias. A chamada
“ficção universalizante da infância” precisa ser repensada principalmente pelos
órgãos de atendimento e, no Brasil, pelo Sistema de Garantia dos Direitos.

1.3. Pós-modernidade e os destinos da infância e da adolescência

A criança não se constitui no amanhã: ela é hoje, no seu presente,


um ser que participa da construção da história e da cultura de seu
tempo” (Jobim e Souza, 1994, p.159).

Pensar a criança como um sujeito de direitos em uma perspectiva presente


e não como um promessa para o futuro. Esse olhar implica noutro modo de
conceber a sociedade e a vida humana. A sociedade ocidental tende a inserir
tudo em modelos e a infância não fugiu a tal tendência. Assim, tudo que escapa
aos padrões é considerado desvio, ou ‘um menos’ ou ‘ainda não’ que precisa
se enquadrar ou evoluir até o modelo estabelecido como ideal. As crianças são
concebidas assim, devem se comportar dentro de um padrão. São interpretações
criadas por seres humanos em determinados contextos sócio-históricos e, como
tais, podem e devem ser constantemente questionados e transmutados.
Em contraposição a este pensamento, pode-se ter maior facilidade
para entender a infância na contemporaneidade dentro de um pensamento
processual, em que não existe uma forma pré-fixada, mas uma construção
permanente, admitido novos formatos de relações dos adultos, com a criança
e o adolescente, baseadas sobretudo no respeito aos direitos humanos, iguais
e indivisíveis, reconhecendo a participação igualitária como premissa para um
novo marco civilizatório.

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Estudo de caso:
Ana, 20 anos, está grávida e procura o único hospital de referência do seu
município para fazer o acompanhamento pré-natal. Ao chegar ao hospital não
consegue ser inserida no atendimento. A equipe do hospital responde que não
tem verba para o atendimento integral, e a verba do serviço pré-natal foi deslocada
para a ala infantil que tem prioridade, no caso de Ana ela é adulta. Inconformada
procura o Conselho Tutelar, para solicitar providências. Nesse caso, o que pode
ser feito? Qual o embasamento legal?

O Conselho Tutelar poderá requisitar serviço de atendimento público, com


base no art. 136, inciso III, alínea “a” do ECA que dá poderes administrativos
ao Conselho para requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação,
serviço social, previdência, trabalho e segurança.
Nesse caso, a justificativa da equipe do hospital é completamente ilegal, pois
a criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante
a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.
Enquanto nascituro, conforme o artigo 8º é assegurado à gestante no pré e pós-
parto, pelo sistema único de saúde, atendimento adequado e acompanhamento
médico na fase pré-natal.

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RESUMO AULA1
O Conceito de Infância e os
desafios da pós-modernidade.

CONTEÚDO
Origem e construção do conceito de infância no Brasil.

Conceito de infância contemporâneo e as novas narrativas.

Pós-modernidade e os destinos da infância e da adolescência.

A doutrina sobre a história da humanidade transparece uma invisibilidade da infância no mundo.


A criança recebe o estatuto de “criança” instituído através de políticas sociais introduzidas pelo Estado, apenas a
partir do século XVIII.
Apenas no século XIX a criança foi objeto da primeira norma legal de proteção que estabelecia o limite mínimo de
idade para o trabalho nas minas de carvão.
Com todos os estudos, debates e práticas realizadas a partir do ECA e após 28 anos de aprendizagem de
RESUMO DO instituições e da população brasileira, o momento atual demanda um exercício de repensar o conceito de infância.
CONTEÚDO É inadiável considerar o conceito de infância de forma dinâmica, em evolução de acordo com um novo lugar social,
com direitos positivados e com participação social efetiva, entre pares e com adultos, sem contudo, perder a lógica
da proteção de direitos.

Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948.


Declaração dos Direitos da Criança – 1959.
Convenção sobre os Direitos da Criança – 1989.
DOCUMENTOS Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB/88.
REFERENCIAIS Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei 8.069/1990.

Estudo de caso
Ana, 20 anos, está grávida e procura o único hospital de referência do seu município para fazer o acompanhamento
pré-natal. Ao chegar ao hospital não consegue ser inserida no atendimento. A equipe do hospital responde que não
tem verba para o atendimento integral, e a verba do serviço pré-natal foi deslocada para a ala infantil que tem
prioridade, no caso de Ana ela é adulta. Inconformada procura o Conselho Tutelar, para solicitar providências. Nesse
caso, o que pode ser feito? Qual o embasamento legal?
O Conselho Tutelar poderá requisitar serviço de atendimento público, com base no art. 136, inciso III, alínea “a” do
ECA que dá poderes administrativos ao Conselho para requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação,
NA PRÁTICA serviço social, previdência, trabalho e segurança.
Nesse caso, a justificativa da equipe do hospital é completamente ilegal, pois a criança e o adolescente têm direito
a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Enquanto nascituro, conforme o artigo 8º
é assegurado à gestante no pré e pós-parto, pelo sistema único de saúde, atendimento adequado e
acompanhamento médico na fase pré-natal.

A invenção da Infância - https://www.youtube.com/watch?v=c0L82N1C7AQ


TV Escola - 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente - https://www.youtube.com/watch?v=- tO0q1b7ygb4
QUER ENTENDER
MELHOR?

Adquiriu conhecimentos básicos sobre o conceito da infância no mundo e no Brasil, sua evolução histórica e os
atuais desafios para a garantia dos direitos da criança e do adolescente.
RESULTADO
-

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Aula 2. Normas Internacionais e Nacionais

2.1. Normas Internacionais

No Brasil do final dos anos 80, ao tempo da realização do processo


constituinte brasileiro (1988), se conclui o longo processo de estabelecimento da
Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), tratado de direitos humanos que
reconhece a titularidade da criança como sujeito de direitos humanos gerais e
especiais no sistema internacional de direitos humanos. Nesse período, o Criança
Constituinte e o Criança Prioridade Nacional, dois movimentos da sociedade
civil, pautam o estabelecimento dos princípios da proteção integral dos direitos
da criança e do adolescente com absoluta prioridade no texto constitucional
nascente.
Indiscutivelmente operou-se uma mudança paradigmática. A visão da
“criança-objeto”, da “criança menor”, ou seja, a visão higienista, menorista e
correicional é confrontada, por força criativa da mobilização social, pela visão
da criança como sujeito de direitos. O mais importante neste movimento é a
afirmação da universalidade dos direitos da criança.
Todo esse movimento surge a partir da construção de alguns marcos
normativos internacionais:

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A partir da ratificação pelo Brasil da CDC, esta – tornando-se norma
supralegal (acima das demais legais) e infraconstitucional – passou a ser a
base normativa dos princípios contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) e de todas as demais leis infraconstitucionais na área.
Durante a primeira década do século XXI a comunidade internacional
prosseguiu trabalhando ligada aos direitos humanos. Dentre os diversos

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documentos ligados à questão da infância destacam-se os três protocolos à
CDC:

Destaca-se, ainda, o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas


contra o Crime Organizado Transnacional (Palermo, 2000), relativo à
Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial Mulheres
e Crianças e o recente Terceiro Congresso Mundial de Enfrentamento à
Exploração de crianças e Adolescentes.

2.2. Dispositivos da Constituição Federal

Utilizando-se uma proposta didática desenvolvida pelo professor


Antônio Carlos Gomes da Costa, é possível compreender a dimensão da
promoção de direitos, trabalhando-os a partir de três macro conceitos: o direito
à sobrevivência, o direito ao desenvolvimento e o direito à integridade, que,
traduzidos, refletem, em diferentes momentos, o estabelecido pelo art. 227, da
Constituição, e o art. 4º, do ECA:
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do
Vida, saúde e alimentação são Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
consideradas como direito à jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida,
sobrevivência. à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer,
Educação, cultura, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
profissionalização e lazer são respeito, à liberdade e à convivência familiar e
definidos como direito ao comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
desenvolvimento pessoal e social. forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
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Liberdade, respeito e dignidade se enquadram como direito à integridade
física, psicológica e moral.
Assim, é possível construir todas as possibilidades de reconhecimento
dos direitos da criança e do adolescente relacionados a uma perspectiva de
desenvolvimento humano.

2.3. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

O Brasil foi o primeiro país a promulgar um marco legal, o ECA, em


1990, em consonância com a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989),
decorrido apenas um ano de sua aprovação no âmbito das Nações Unidas.
Estima-se que o ECA tenha inspirado mais de 15 reformas legislativas em outros
países, em especial na América Latina.
Entende-se, portanto, que o arcabouço normativo internacional e
nacional expressam uma opção ético-jurídico-política. Ao reconhecer a cidadania
e a condição humana da criança e do adolescente e a condição de sujeitos de
direitos, assumem todos a responsabilidade pela promoção, controle e garantia
desses direitos. Esse é um devir histórico.
O ECA apresenta inovações que, até hoje, não encontram similaridade
em outros países, a exemplo dos Conselhos dos Direitos, com composição
paritária e caráter formulador, deliberativo e de controle social das políticas
públicas destinadas a crianças e adolescentes, bem como os Conselhos
Tutelares, eleitos na própria comunidade e com independência em relação aos
Três Poderes, com as funções de ouvidoria comunitária e de fiscalização dos
programas de atendimento.
Na sua primeira parte, que vai do art. 1º até o art. 85, o ECA traz uma
síntese de toda a sua essencialidade e riqueza, quando aponta caminhos (as
políticas de garantia de direitos) como deveres da sociedade, do Estado e da
família. Esses dispositivos propõem e detalham os deveres de instituições e
atores em relação ao tratamento a ser dispensado a crianças e adolescentes
no país. É importante destacar que os deveres estão vinculados a uma tríplice
responsabilidade, conforme determina o art. 227, da Constituição Federal.

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Esse conjunto de direitos deriva de bases normativas internacionais,
principalmente da CDC, que a Constituição de 1988, de forma antecipada, cuidou
de incorporar como lições cidadãs.
Toda essa conquista, na verdade, decorre de um processo histórico
cujo desfecho somente foi possível alcançar na década de 1990. Durante
vários anos, sobretudo na década de 1970, a construção da história social
brasileira em relação a esses segmentos foi sendo construída de forma
bastante equivocada, adotando por referência a Doutrina da Situação Irregular,
que permeou todo o conjunto das políticas sociais brasileiras com um caráter
paternalista, assistencialista e tutelar. Essa doutrina considerava que crianças
e adolescentes, hoje reconhecidos como sujeitos ou titulares de direitos, eram
apenas “portadores de necessidades”, cujas vidas ficavam quase sempre
vinculadas ao perfil dos então chamados Juízes de Menores. Essas autoridades
– dentro de uma nova concepção – passam a trabalhar com uma nova visão, não
mais considerando crianças e adolescentes como seres tutelados pela Justiça.
A superação do assistencialismo e do paternalismo ocorre quando se assume
a importância do atendimento das necessidades básicas dessa população não
como um favor ou caridade, mas como direitos assegurados por lei. Com a
vigência do ECA, impõe-se uma outra forma de compreender e agir em relação
a crianças e adolescentes, sustentada pela inovadora concepção da Doutrina
da Proteção Integral. Essa doutrina estabelece um novo paradigma nos campos
jurídico e social, ao criar vínculos normativos que asseguram a efetividade dos
direitos públicos subjetivos dessa população.

2.4. Resoluções do Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente

O Conselho Nacional dos Direitos da Criança (CONANDA) tem, dentre


outras, a competência de elaborar normas gerais da política nacional de
atendimento dos direitos da criança e do adolescente, fiscalizando as ações de
execução, observadas as linhas de ação e as diretrizes estabelecidas nos arts.
87 e 88 do ECA. Por meio de resoluções, o CONANDA tem dado visibilidade aos

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seus atos administrativos, decisões ou recomendações. Todas as resoluções
são publicadas no Diário Oficial da União.

CONHEÇA AS RESOLUÇÕES E DO FUNCIONAMENTO DOS


CONSELHOS DE DIREITOS.
Acesso no link um vídeo de um Conselheiro sobre o tema:
https://drive.enap.gov.br/index.php/s/IEZzZmY11shudXS
Acesse no link abaixo todas as resoluções do CONANDA:
http://www.direitosdacrianca.gov.br/resolucoes/conanda/resolucoes/lista

Estudo de caso:
O Sr. João Andrade, procura o Conselho de Direitos de seu Estado, no dia
02 de fevereiro de 2018, para fazer a doação de um terreno para os projetos
de atendimento a crianças e adolescentes do seu Estado, porém tem algumas
dúvidas: 1. Se ele pode doar um bem imóvel; se essa doação poderá ser
declarada na sua declaração anual de renda para obter desconto no valor a
pagar; como ele poderia formalizar essa doação?
Como Conselheiro como responderia para o Sr. João?

A doação poderá ser realizada para o Fundo dos Direitos da Criança e do


Adolescente do seu Estado(FEDCA) ou do seu Município (FMDCA). O artigo
260-C, do ECA, com redação determinada pela referida Lei nº 12.594/2012,
estabelece que as doações podem ser efetuadas em bens ou espécie, sendo
que aquelas efetuadas em espécie devem ser depositadas em conta específica,
em instituição financeira pública, vinculada aos respectivos fundos de que trata
o art. 260, do mesmo Diploma Legal.
Quanto à dedução, a mesma Lei também estabelecidos novos limites e regras
para dedução no imposto de renda das doações devidamente comprovadas aos
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital, estaduais
ou municipais.
A partir da Lei nº 12.594/2012, as doações aos Fundos dos Direitos da Criança e
do Adolescente, devidamente comprovadas, podem ser integralmente deduzidas
do imposto de renda, obedecidos os limites de: Pessoas Físicas: 6% (seis por
cento) do imposto apurado na Declaração de Ajuste Anual (Modelo Completo),
observando-se que tal limite corresponde ao somatório das deduções relativas
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às doações aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente juntamente
com as deduções relativas a doações aos Fundos do Idoso; investimentos e
patrocínios em obras audiovisuais; doações e patrocínios de projetos culturais
e; doações e patrocínios em projetos desportivos e paradesportivos (artigo 260,
inciso II, da Lei nº 8.069/1990, RIR/99 e Instrução Normativa RFB nº 1.131/2011,
arts. 1º a 8º e 54 a 60);
Embora a lei permita que a pessoa física doe anualmente até 6% do imposto de
renda devido, conforme disposto no artigos 260 e 260-A, da Lei nº 8.069/2012,
os depósitos realizados entre 1º de janeiro a 30 de abril do ano corrente poderão
ser deduzidos do imposto apurado na Declaração de Imposto de Renda/Pessoa
Física deste mesmo período, até o limite de 3%, ou seja, os valores doados
até abril não precisam necessariamente aguardar até a entrega da declaração
do exercício seguinte para serem utilizados como benefício fiscal. As doações
deste período que excederem o limite de 3% poderão ser deduzidas do imposto
apurado na declaração do exercício seguinte, respeitando-se o limite anual de
6%.
No caso do Sr. Andrade, o valor será o valor de mercado do imóvel ou o constante
na Declaração de Bens e Direitos da Declaração de Ajuste Anual do imposto
sobre a renda ou ainda, caso ele tenha comprado o imóvel em 2018 ( mesmo
ano da doação) será considerado o valor pago.

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Aula 3. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Sistema de
Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGD)

3.1. O ECA e o SGD em detalhes

As disposições contidas na Constituição Federal de 1988 e no ECA


estabeleceram uma nova configuração jurídica em relação aos direitos da
infância, da adolescência e da juventude no Brasil. O ECA – mais do que uma lei
– é um projeto de sociedade! As disposições ali contidas devem ser analisadas,
portanto, a partir de uma dimensão ética, de pressupostos sociais, filosóficos e
políticos que orientam toda a sua concepção, considerada paradigmática em
conteúdo e forma.
São, desta forma, previstos os direitos à vida, à saúde, à liberdade, ao
respeito, à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à educação, à cultura,
ao esporte, ao lazer, à profissionalização e à proteção no trabalho.
O ECA divide-se em dois livros. O Livro Primeiro define os direitos
fundamentais - à vida e à saúde (arts. 7º a 14); à liberdade, ao respeito e à
dignidade (arts. 15 a 18); à convivência familiar e comunitária (arts. 19 a 24); à
educação, à cultura, ao esporte e ao lazer (arts. 53 a 59); à profissionalização e
à proteção no trabalho (arts. 60 a 69) - e o dever, definido como sendo de todos,
de prevenção da ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do
adolescente (arts. 70 a 85). A inobservância das normas de prevenção importa
em responsabilidade da pessoa física ou jurídica (art. 73).
O Livro Segundo fixa as diretrizes da Política de Atendimento dos
Direitos da Criança e do Adolescente (arts. 86 a 89); dispõe sobre as entidades
prestadoras de atendimento e sua fiscalização e sobre as formas de atendimento
(arts. 90 a 97); e especifica as medidas de proteção de crianças e adolescentes
em situação de risco (arts. 98 a 102). Define, ainda, a prática de ato infracional
(arts. 103 a 105), os direitos do adolescente autor de infração (arts. 106 a 109),
as garantias processuais (arts. 110 e 111), as medidas socioeducativas (arts. 112
a 125), as atribuições e o funcionamento da Justiça da Infância e da Juventude
(arts. 145 a 151). Dispõe, por fim, sobre os crimes praticados contra a criança
e o adolescente, por ação ou omissão (arts. 225 a 244), bem como sobre as

18
infrações administrativas cometidas em prejuízo dos direitos da criança e do
adolescente (arts. 245 a 258).
Uma das inovações do ECA é a proteção judicial dos interesses individuais,
difusos e coletivos (artigos 208 a 224) assegurados à criança e ao adolescente.
O Estatuto dispõe sobre as ações de responsabilidade e as ações cíveis em caso
de violação desses direitos e seu foco fundamental constitui-se na democracia
participativa da sociedade civil para coordenar e controlar as Políticas Públicas
nos Conselhos dos Direitos .
Embora possam parecer uma reunião de conceitos com fortes
características de natureza subjetiva, a Doutrina da Proteção Integral impõe que
seja afirmada a concepção de responsabilidade ante as violações praticadas
contra crianças e adolescentes.
O ECA reúne todas as respostas possíveis quando se dá conta de que
o Estado, a família e a sociedade não favorecem o espaço necessário para a
garantia dos direitos. O Brasil dispõe de instrumentos jurídicos eficazes para
o exercício de uma avaliação comparativa entre o que determina a lei e o que
demonstra a realidade.
É essa dimensão jurídica que dá legitimidade e sustentação à Doutrina da
Proteção Integral. O ECA reconhece que a criança e o adolescente são sujeitos
de direitos, em desenvolvimento e, por isso, vulneráveis, a demandar a proteção
integral do Estado, da família e da sociedade. É importante observar que, ao
eleger essas três grandes figuras, o ECA impõe a cada uma delas obrigações
e responsabilidades: à família, a obrigação de criar, de educar; à sociedade,
a obrigação de zelar por todas essas crianças e adolescentes; e ao Estado, a
competência de executar e promover políticas públicas capazes de garantir o
atendimento dos direitos assegurados por lei.
Tratar do SGD à luz do ECA significa, portanto, assegurar que direitos
fundamentais relacionados a crianças e adolescentes sejam operacionalizados
por instituições que integram o referido sistema.

¹ art. 88., II, da Lei Federal nº 8.069/1990 – criação de conselhos municipais, estaduais e
nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das
ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária, por meio de organizações
representativas, segundo leis federais, estaduais e municipais.
19
Sistema, aqui, deve ser entendido como um conjunto ordenado de
instituições responsáveis pela garantia dos direitos previstos em lei. A partir do
art. 4º, do ECA, é feita toda uma incursão nesses direitos, definindo-se a quem
cabe a responsabilidade de assegurá-los. Para isso, o legislador, sabiamente,
faz uma descrição a partir da estrutura de um sistema.
Tudo deve funcionar de forma articulada e Art. 4º É dever da família, da
comunidade, da sociedade
integrada. Ao descrever o art. 19, referindo-se ao direito à
em geral e do poder público
convivência familiar e comunitária, o legislador estabelece assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos
um conjunto de situações que precisam ser destacadas.
direitos referentes à vida,
A criança nasce vocacionada para viver em família. É à saúde, à alimentação, à

tão forte esse sentimento em assegurar essa condição educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura,
que se ela não puder ser criada pela família original, são à dignidade, ao respeito, à
definidas opções: adoção, tutela ou guarda. Se ela não liberdade e à convivência
familiar e comunitária.
tiver quem a adote, quem a tutele ou quem a guarde,
Parágrafo único. A garantia de
então cabe ao Estado funcionar como seu guardião, para prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção
garantir a sua vocação natural de viver e conviver com a
e socorro em quaisquer
família. circunstâncias;

Quando o ECA dispõe sobre o direito à educação, b) precedência de atendimento


nos serviços públicos ou de
à saúde, ao lazer, à profissionalização, em cada um relevância pública;
desses artigos determina também a quem cabe fazer o c) preferência na formulação
e na execução das políticas
quê. Ao Estado? Em que condições? Desde a creche?
sociais públicas;
E ao Estado, quanto à saúde? Em que condições? d) destinação privilegiada de
recursos públicos nas áreas
Desde quando está no ventre da mãe, antes de nascer?
relacionadas com a proteção à
Ao lazer? À cultura? Desde que se lhe garanta o direito infância e à juventude.

de brincar, que é o mais universal para todas as crianças do mundo, cabendo


ao Estado prover as condições propícias, como disponibilização de praças e
equipamentos culturais etc., além de estimular que tudo isso esteja realmente ao
alcance dessa população.

3.2. Sistema de Garantia dos Direitos

Todo esse conjunto de direitos está muito bem descrito, e se expressa no


SGD, em que são definidos papéis, limites, responsabilidades e competências, em

20
diferentes níveis e âmbitos: Executivo, Legislativo, Judiciário; federal, estadual,
municipal. Essas definições estão expressas no art. 86 do ECA, que trata da
política de atendimento de crianças e adolescentes. Nesse dispositivo, encontra-
se todo o conjunto de atribuições para cada um dos atores que compõem o
SGD, construído exatamente para que haja uma dinâmica na aplicação dos
instrumentos e uma total interação dos atores.
O SGD dispõe de uma arquitetura muito bem montada. Quando falha um
ator, o outro chega, discute e corrige. Tudo deve ser feito de maneira que esse
segmento não venha a sofrer situações graves de violação dos seus direitos.
Por que falar também de um sistema de proteção especial? Porque no
conjunto da população de crianças e adolescentes, encontram-se determinados
segmentos para os quais nunca foi garantido o acesso aos direitos básicos.
São aquelas situações consideradas as mais graves, como, por exemplo:
crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual; ou submetidos às mais
diferentes formas de tortura; ao trabalho infantil; ou envolvidas em situações
que demandam medidas socioeducativas, por cometimento de atos infracionais;
ou ainda, crianças em situação de alta vulnerabilidade social, pessoal (crianças
portadoras de HIV/aids, ou envolvidas com drogadição etc).
O SGD tem a finalidade específica de promover a exigibilidade do direito,
na hipótese em que o Estado, a sociedade e a família deixarem de cumprir
seus deveres. Nesse sentido, deve ser concebido exatamente para que possam
ser delimitadas as suas responsabilidades pessoais, familiares, profissionais
e institucionais. Discutir essas responsabilidades é também tratar dos direitos
que foram ameaçados ou violados. No eixo de defesa, propõe-se envolver os
atores que foram escolhidos pela sociedade ou pelo poder público, para garantir
a validade, a legitimidade e a eficácia da lei. O SGD também trata da construção
da igualdade da organização política e social por meio dos espaços públicos e
institucionais.
A responsabilidade pela correção do desvio da realidade social, econômica
e política envolve toda a sociedade. O SGD possibilita o exercícioda efetividade,
da eficiência e da eficácia na garantia dos direitos. Muitas vezes o poder público
considera que já está fazendo a sua parte. E acredita que com isso todos os

21
problemas estão resolvidos. Mas é preciso ir além. É o compromisso de fazer e
fazer bem feito. É o compromisso da eficácia com a política pública, garantindo
que os recursos destinados a essa área efetivamente priorizem a população
mais vulnerável. É o SGD que vai garantir a democratização e a transparência
das ações públicas, das políticas, para que elas se tornem mais eficazes. Por
outro lado, deve-se fazer um acompanhamento sistemático de todas as ações
relacionadas aos direitos de crianças e adolescentes.
Nessa perspectiva, deve-se destacar que o SGD só funciona se a
população de fato participar de todo o processo de implementação das políticas
públicas, inclusive na fiscalização da aplicação dos recursos destinados a essa
população.
Assim, toda a base do SGD está orientada para concretizar e operacionalizar
a política de atendimento à criança e ao adolescente. A legislação determina que
o município seja um ator privilegiado nesse processo. É no município que se
constrói e se consolida o direito.
O ECA, portanto, organiza suas ações por meio do SGD, que desenha
a ação de vários órgãos ou instituições de forma integrada. Para desenhar
melhor a atuação desses órgãos ou instituições, o ECA os distribuiu em três
eixos: promoção, defesa e controle.

22
O EIXO PROMOÇÃO OU ATENDIMENTO caracteriza-se pelo
desenvolvimento da “política de atendimento dos direitos da criança e do
adolescente” e subdivide-se em três tipos de programas, serviços e ações
públicas:
I – serviços e programas das políticas públicas, especialmente das políticas
sociais, afetos aos fins da política de atendimento dos direitos de crianças e
adolescentes;
II – serviços e programas de execução de medidas de proteção de direitos
humanos; e
III – serviços e programas de execução de medidas socioeducativas e
assemelhadas.
Assim, de forma mais clara, como é possível reconhecer esse eixo?
É fácil. Pelos serviços, nas seguintes áreas:
• Assistência Social:
O Centro de Referência da Assistência Social (Cras) atua como a principal
porta de entrada do Sistema Único de Assistência Social (Suas), e é responsável
pela organização e oferta de serviços da Proteção Social Básica nas áreas de
vulnerabilidade e risco social, com serviços mais gerais, como prevenção e
aumento do acesso aos direitos de cidadania. O principal serviço ofertado pelo
23
Cras é o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif).
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas)
oferta serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos em situação
de ameaça ou violação de direitos (violência física, psicológica e sexual, tráfico
de pessoas, cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto etc.). A
oferta de atenção especializada e continuada deve ter como foco a família e a
situação vivenciada. É comum que o CRAS e o CREAS funcionem no mesmo
espaço físico.
• Saúde
O Sistema Único de Saúde (SUS) abrange desde o simples atendimento
ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal
e gratuito para toda a população do país. O SUS compõe-se de diferentes
estruturas, destacando-se: Programa Saúde da Família (PSF); Postos de
Saúde; Unidades de Pronto Atendimento ou Pronto-Socorro; Hospitais; Centros
de Atenção Psicossocial (Caps).
• Educação
A educação escolar compõe-se de Educação Básica (Infantil, Fundamental
e Ensino Médio) e Ensino Superior.
A Educação Infantil abrange as creches e pré-escolas (0 a 6 anos de
idade). O Ensino Fundamental vai da 1ª à 9ª série (em 9 anos), e o Ensino Médio
vai do 1º ao 3º ano. Há, ainda, a Educação Profissional Técnica de Nível Médio,
a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Profissional e Tecnológica e o
Ensino Superior.
• Serviços de Atendimento Socioeducativo.
• Serviços de Acolhimento Institucional.
• Disque Denúncia.

O EIXO DE DEFESA dos direitos de crianças e adolescentes caracteriza-


se pela garantia do acesso à Justiça, ou seja, pelo recurso às instâncias públicas
e mecanismos jurídicos de proteção legal dos direitos humanos, gerais e
especiais, da infância e da adolescência.
Compõe-se das seguintes instituições:
• Conselhos Tutelares.

24
• Forças de Segurança (Polícia) destacam-se: Polícia Militar, Polícia
Civil, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.
• Defensoria Pública.
• Sistema de Justiça – especialmente as varas da infância e da
juventude e suas equipes multiprofissionais, as varas criminais especializadas,
os tribunais do júri, as comissões judiciais de adoção, os tribunais de justiça, as
corregedorias gerais de Justiça.
• Ministério Público – especialmente as promotorias de justiça,
os centros de apoio operacional, as procuradorias de justiça, as procuradorias
gerais de justiça, as corregedorias gerais do Ministério Publico.
• Ouvidorias.
• Centros de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.

O EIXO DO CONTROLE das ações públicas de promoção e defesa dos


direitos da criança e do adolescente se dará por meio de espaços de discussão
coletiva, onde estejam presentes órgãos governamentais e entidades sociais.
Várias instâncias fazem parte desse eixo, destacando-se:
• Conselhos dos direitos de crianças e adolescentes – nesse caso,
o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho
Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, que atuam também no eixo
promoção.
• Conselhos setoriais de formulação e controle de políticas públicas
– dentre eles, destacam-se: Conselho Municipal de Assistência Social, Conselho
Municipal de Saúde, Conselho Municipal de Educação, Conselho Municipal de
Juventude etc.

25
Estudo de caso:

Maria é uma criança com 7 anos, sua professora, suspeita que ela seja vítima de
maus tratos e negligência familiar. Chega sempre atrasada, sonolenta e triste. A
escola não conhece muito sobre a história de vida da aluna, pois todas as tentativas
de conversar com a família foram frustradas, ninguém nunca compareceu. A
professora resolve ocultar o caso da direção para evitar problemas.
Qual a orientação correta para a escola?

Ao fazer uma análise do caso com base no ECA, atendo-se principalmente nos
Títulos: II – Dos Direitos Fundamentais ( Cap. I – Art.º 7º e Cap. IV – Art. 56); II –
Das Medidas de Proteção (Cap. I e II) e VII – Das Infrações Administrativas (Cap.
II – Art. 245), verifica-se que de acordo com o ECA, esta criança deveria ser
encaminhada ao Conselho Tutelar para providências junto a sua família, podendo
ser aplicada algumas destas medidas a fim de sanar os problemas existentes
neste grupo familiar: encaminhamento aos pais ou responsável, mediante,
termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários;
matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino
fundamental; inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família,
à criança e ao adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; inclusão em programa oficial
ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
abrigo em entidade; colocação em família substituta.
Além disso, deveria ser tomada também medidas administrativas junto a
professora, pois estar ocultando um caso de maus-tratos dentro de seu âmbito
escolar, pois de acordo com o ECA, ela está sujeita a multa.
A escola e a professora deveria providenciar um relatório dos acontecimentos
da família, juntamente com os sintomas apresentados pela criança e levar ao
Conselho Tutelar da região para que sejam tomadas as devidas providências.

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27
MÓDULO 2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO, GARANTIA E DEFESA
DOS DIREITOS HUMANOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES.

Carga Horária: 14h

Aula 4. Educação em Direitos Humanos para Criança e Adolescente.

• Conteúdo Programático:
o Direitos de crianças e adolescentes no Brasil e a abordagem da mídia.
o Diretrizes de Direitos Humanos para Criança e Adolescente no Brasil.
o Direitos Humanos nas Relações Pedagógicas.
o A Base Nacional Comum Curricular e a Educação em Direitos Humanos
para a Criança e o Adolescente.
• Análise e discussão de estudos de caso.
• Estudo de caso 4:

Os resultados de uma educação de qualidade devem necessariamente


abranger capacidades relativas ao respeito e valorização dos direitos humanos
e à cidadania ativa. De acordo com as diretrizes do ECA e dos documentos
internacionais, o desenvolvimento de condições pessoais e sociais mais
favoráveis ao exercício de todos esses direitos humanos devem expressar a
abertura e a valorização do pluralismo e da diversidade.
Tratar da Educação em Direitos Humanos no Brasil é uma das exigências
e urgências para que possamos ter uma formação mais humanizadora das
pessoas e o fortalecimento dos regimes políticos democráticos na sociedade.
As expectativas sobre a promoção dos direitos humanos por meio da
educação têm implicações diretas no conceito de qualidade e de educação
enquanto um direito.
O debate em torno da importância da educação em direitos humanos se
intensifica a partir da publicação dos Planos Nacionais de Direitos Humanos.
A amplitude do tema demonstrada no documento exemplifica a necessidade
de mudança de cultura para que os direito humanos sejam considerados. Para
tanto um amplo processo educativo será necessário.

28
Algumas iniciativas nesse sentido ganham relevância, seja pelo
aprofundamento teórico do tema, ou pela publicação de diretrizes sobre o
tema quanto pela capilarização do debate, estendido para organizações
governamentais e não governamentais.
Assim, tal como ocorrido em outros países da América Latina, essa
proposta de educação no Brasil se apresenta como prática recente.
É nesse contexto que surgem as primeiras versões do Programa Nacional
de Direitos Humanos (PNDH), produzidos entre os anos de 1996 e 2002. Dentre
os documentos produzidos a respeito desse programa, no que diz respeito ao
tema da Educação em Direitos Humanos, destaca-se o PNDH-3, de 2010, que
apresenta um eixo orientador destinado especificamente para a promoção e
garantia da Educação e Cultura em Direitos Humanos.
Em 2003, Educação em Direitos Humanos ganhará um Plano Nacional
(PNEDH), revisto em 2006, aprofundando questões do Programa Nacional
de Direitos Humanos e incorporando aspectos dos principais documentos
internacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil é signatário.
Esse documento é portanto, a política educacional voltada para os direitos
humanos e educação. O PNEDH está dividido em cinco áreas: educação básica,
educação superior, educação não-formal, mídia e formação de profissionais dos
sistemas de segurança e justiça.
Também define a Educação em Direitos Humanos como um processo
sistemático e multidimensional que orienta a formação do sujeito de
direitos, articulando as seguintes dimensões:
a) apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre
direitos humanos e
a sua relação com os contextos internacional, nacional e local;
b) afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a
cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade;
c) formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente
em níveis cognitivo, social, cultural e político;
d) desenvolvimento de processos metodológicos participativos
e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos
contextualizados;

29
e) fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e
instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos
humanos, bem como da reparação das violações.
O Conselho Nacional de Educação também tem se posicionado a
respeito da relação entre Educação e Direitos Humanos por meio de seus
atos normativos. Como exemplo podem ser citadas as Diretrizes Gerais para a
Educação Básica, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil,
do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos e para o Ensino Médio. Nas Diretrizes
Gerais para a Educação Básica o direito à educação é concebido como direito
inalienável de todos/as os/as cidadãos/ãs e condição primeira para o exercício
pleno dos Direitos Humanos.
O parecer do CNE/CEB nº 7/2010, recomenda que o tema dos Direitos
Humanos deverá ser abordado ao longo do desenvolvimento de componentes
curriculares com os quais guardam intensa ou relativa relação temática, em
função de prescrição definida pelos órgãos do sistema educativo ou pela
comunidade educacional, respeitadas as características próprias da etapa da
Educação Básica que a justifica (BRASIL, 2010, p. 24).
Neste sentido, afirma que uma escola de qualidade social deve considerar
as diversidades, o respeito aos Direitos Humanos, individuais e coletivos, na sua
tarefa de construir uma cultura de Direitos Humanos formando cidadãos plenos.
O parecer do CNE/CEB nº 7/2010, recomenda que o tema dos Direitos
Humanos deverá ser abordado ao longo do desenvolvimento de componentes
curriculares.
O Parecer CNE/CEB nº 5/2011 que fundamenta essas diretrizes reconhece
a educação como parte fundamental dos Direitos Humanos.
Nesse sentido, todos os órgãos do SGD precisam estar atentos à educação
em direitos humanos nos processos de formação de seus agentes. É necessário
implementar processos educacionais que promovam a cidadania, o conhecimento
dos direitos fundamentais, o reconhecimento e a valorização da diversidade
étnica e cultural, de identidade de gênero, de orientação sexual, religiosa, dentre
outras, enquanto formas de combate ao preconceito e à discriminação.
O CNE ainda aborda a temática dos Direitos Humanos na Educação por

30
meio de normativas específicas voltadas para as modalidades da Educação
Escolar Indígena, Educação Para Jovens e Adultos em Situação de Privação de
Liberdade nos Estabelecimentos Penais, Educação Especial, Educação Escolar
Quilombola (em elaboração), Educação Ambiental (em elaboração), Educação
de Jovens e Adultos, dentre outras.
Quanto às escolas, atores que não estão tão integradas ao SGD, mas
que compõem esse sistema, precisam ser agregadas cada vez mais pois nesse
contexto assumem papel decisivo na garantia dos Direitos Humanos.

PRINCIPAIS REFERÊNCIAS NORMATIVAS E POSICIONAMENTOS TÉCNICOS


Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos.
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=
2191-plano-nacional-pdf&Itemid=30192

Decreto Nº 186/08 - Aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas


com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em
30 de março de 2007.
Decreto nº 6.949/09 - Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York,
em 30 de março de 2007.
Decreto Nº 6.214/07 - Regulamenta o benefício de prestação continuada da
assistência social devido à pessoa com deficiência.
Decreto Nº 6.571/08 - Dispõe sobre o atendimento educacional especializado -
AEE.
Decreto nº 5.626/05 - Regulamenta a Lei 10.436 que dispõe sobre a Língua
Brasileira de Sinais - LIBRAS.
Decreto nº 5.296/04 - Regulamenta as Leis n° 10.048 e 10.098 com ênfase na
Promoção de Acessibilidade.
Decreto nº 3.956/01 – (Convenção da Guatemala) Promulga a Convenção
Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
as Pessoas Portadoras de Deficiência.
Parecer do CNE/CEB nº 7/2010
Nota Técnica nº 04 - Orientação quanto a documentos comprobatórios de alunos

31
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/
superdotação no Censo Escolar.
Nota Técnica nº 24 - Orientação aos Sistemas de Ensino para a implementação
da Lei nº 12.764-2012.
Nota Técnica nº 28 - Uso do Sistema de FM na Escolarização de Estudantes
com Deficiência Auditiva.
Nota Técnica nº 29 - Termo de Referência para aquisição de brinquedos e
mobiliários acessíveis.
Nota Técnica nº 35 / 2016 / DPEE / SECADI / MEC - Recomenda a adoção
imediata dos critérios para o funcionamento, avaliação e supervisão das
instituições públicas e privadas comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem
fins lucrativos especializadas em educação especial.

Estudo de caso:

João Carlos, pai de Davi, criança com deficiência física de 7 anos, procura o
Conselho Tutelar para denunciar que tentou matricular seu filho em uma escola
particular e foi impedida porque o diretor alegou que não tem acessibilidade na
estrutura física de escola. Como o Conselho deve agir?

Uma das principais decorrências do estabelecido na Constituição Federal, em


relação à educação, é que a mesma é um direito de todos (CF. Art. 205). Logo,
toda criança ou adolescente tem o direito à educação, pouco importando as suas
características pessoais ou eventuais deficiências.
Como consequência desta regra constitucional, as escolas estaduais, municipais
e particulares devem se preparar para receber o citado aluno, não somente em
relação à eventual acessibilidade, mas também no aspecto pedagógico.
Destarte, ainda que haja resistência das instituições privadas ao oferecimento
de atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, pode-se
afirmar que estas exercem atividade estatal de forma delegada, não podendo
sobrepor os seus interesses particulares aos princípios constitucionais, dentre
os quais, podemos destacar a formação de uma sociedade livre justa e solidária,
em igualdade de condições.

32
Percebe-se, portanto, que por força do dever constitucional constante do artigo
205 da Lei Maior, compete às instituições públicas e privadas providenciar a
adaptação necessária ao efetivo desenvolvimento dos alunos portadores de
deficiência. Isto porque, apenas com a efetivação da educação inclusiva nas
escolas regulares é que os fundamentos e objetivos da República Federativa do
Brasil serão atingidos.
Assim, o Conselho Tutelar deve requisitar a inclusão da criança e caso não seja
atendido deve comunicar ao Ministério Público.

IMPORTANTE. A autoridade, o agente público ou funcionário que rejeitar


a requisição pode ser processado no âmbito criminal por cometer crime de
impedir ou embaraçar a ação de membro do Conselho Tutelar no exercício
de sua função, o que deve ser provado (artigo 236 do ECA), ou na Justiça da
Infância e da Juventude por infração administrativa de descumprir, dolosa ou
culposamente, determinação do Conselho Tutelar, tudo com amplo direito de
defesa aos acusados (artigo 249 do ECA).

33
Aula 5. Direito à Convivência Familiar e Comunitária

A Constituição Federal (CF/88), em seu art. 226, reconhece a família como a


base da sociedade. Relacionando diversas formas de família:
a) Formal – decorrente do casamento;
b) Informal – decorrente da união estável;
c) Monoparental – formada por apenas um dos pais e os filhos.

Já o ECA traz uma classificação trinária de família:


a) natural – de origem biológica;
b) extensa ou ampliada – vai além da unidade pais e filhos ou unidade do casal,
engloba parentes com os quais a criança e/ou adolescente convivem e mantém
vínculos de afinidade e afetividade;
c) substituta – aquela exercida mediante guarda, tutela e adoção.

O rol do art. 226, da CF/88, é exemplificativo, no entendimento do Supremo


Tribunal Federal (STF) e da maioria dos doutrinadores, consagrando o princípio
da pluralidade das famílias. A CF não esgota o tema. Outras formas de famílias
são admitidas no direito brasileiro, a fim de que se acompanhe a evolução da
sociedade.
O STF entendeu que o art. 226 traz implícito o princípio do pluralismo
familiar. A doutrina moderna defende que as famílias não devem estar arroladas
na CF e nem em legislação infraconstitucional, não há como delimitar ou prever
todas as formas de família.
A família deve ser compreendida como parte formadora de cada indivíduo
que a acompanha, sendo certo que todo ser humano nasce sem direção e merece
a oportunidade afetiva de que lhe sejam impostos limites capazes de construir
ideais dignos, possíveis de englobar o indivíduo num meio social harmônico e
coerente.
O direito à convivência familiar e comunitária é um direito fundamental
de toda criança e adolescente, considerados pessoas em estágio peculiar de
desenvolvimento físico, moral e psicológico.
O art. 19, do ECA, com redação dada pela Lei 13.257/2016, diz que:

35
É um direito da criança e adolescente ser criado e educado no seio
de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada
a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu
desenvolvimento integral.

A Lei 12.010/2009, Lei Nacional de Adoção, trouxe várias mudanças ao


ECA, sedimentando a afinidade e a afetividade como elementos consagradores
de novas famílias.
Em regra, a criança e o adolescente devem ser mantidos junto à família
natural.
Em casos excepcionais, tais como falta de alimentação, maus tratos ou
violência, o afastamento temporário da criança ou adolescente de sua família
natural torna-se necessário para garantir sua segurança e integridade física e
psicológica.
Num primeiro momento, o afastamento deve ser temporário, a fim de que
a situação seja solucionada, não podendo o juiz determinar a retirada da família
natural e imediata colocação para adoção.
Há uma sequência que deve ser respeitada após o afastamento da criança
e do adolescente:
1º. Família extensa ou ampliada: avós, tios, irmãos;
2º. Terceiros que convivam e que mantenham vínculos de afinidade e
afetividade com a criança ou adolescente, tais como vizinhos e padrinhos;
3º. Acolhimento familiar: medida de proteção em que a criança ou
adolescente irá conviver com certas pessoas, por um determinado período, não
se confundindo com adoção. Essa medida é utilizada toda vez que a criança ou
adolescente esteja em situação de risco, seja por sua própria conduta, dos pais
ou do Estado;
4º. Acolhimento institucional: crianças e adolescentes afastados do
convívio familiar e que são recebidas em entidades. Esta é a última alternativa,
não se confundindo com as instituições destinadas ao cumprimento de medida
socioeducativa de internação.

Em caso de maus tratos, é possível que o juiz decrete a perda do poder


familiar e a criança ou adolescente seja disponibilizado para adoção. Até 2017,
era preciso uma manifestação formal de não interesse, em audiência, de todas as

36
pessoas da família extensa, aptas a recebê-las. A partir de uma alteração legal,
a omissão dos membros da família extensa, como o seu não comparecimento à
audiência, é suficiente para o juiz decretar a perda do poder familiar.
Essa modalidade de proteção é utilizada também pelo Programa de
Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte - PPCAAM (Instituído
pelo Decreto Presidencial 6.231/2007), casos em que a criança e o adolescente
possuem necessidade de proteção, porém não possuem uma retaguarda familiar
para acompanhá-lo.

O QUE DIZ A LEI?


No máximo a cada três meses, a criança ou adolescente que estiver inserido em
programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada.
A autoridade judiciária competente, baseada em relatório elaborado por equipe
interprofissional ou multidisciplinar, decidirá de forma fundamentada pela
possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em família substituta
(artigo 19, § 1º, do ECA).
A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento
institucional não ultrapassará o prazo máximo de dezoito meses, exceto se
comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, desde que
fundamentada por autoridade judiciária (artigo 19, § 2º, do ECA).

A convivência familiar e comunitária é um direito fundamental da criança e


do adolescente garantido pela CF/88 e pelo ECA. Esse direito é tão importante
quanto o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à liberdade.
A CF/88 diz que a “família é a base da sociedade” (art. 226) e que
compete a ela, ao Estado, à sociedade em geral e às comunidades “assegurar
à criança e ao adolescente o exercício de seus direitos fundamentais” (art.
227).
O art. 226, § 8º, da CF/88, também determina que o Estado deve dar
assistência aos membros da família e impedir a violência dentro dela. O art. 229
diz que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores,
e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade”.

37
Com exceção de situações de emergência, a decisão de afastar a criança
ou o adolescente da sua família de origem deve ser baseada em recomendação
técnica, a partir de um diagnóstico elaborado por equipe qualificada de psicólogo,
assistente social e em articulação com a Justiça da Infância e da Juventude
e o Ministério Público.
O diagnóstico deve incluir uma avaliação dos riscos que a criança ou
adolescente corre, levar em conta sua segurança, seu bem-estar, cuidado
e desenvolvimento a longo prazo e as condições da família para superar as
violações e dar-lhe proteção.
A análise deve incluir todas as pessoas envolvidas, inclusive a criança ou
adolescente, pois a decisão pelo afastamento do convívio familiar é extremamente
séria e terá profundas implicações, tanto para a criança ou adolescente, quanto
para a família. Portanto, deve ser aplicada apenas quando representar o melhor
interesse da criança ou do adolescente e o menor prejuízo ao seu processo de
desenvolvimento.
Antes de se encaminhar a criança ou adolescente para um abrigo, é
preciso verificar se entre os parentes ou na comunidade há pessoas que lhe
tenham afeto e queiram se responsabilizar pelos seus cuidados e proteção. Nos
casos de violência física, abuso sexual ou outras formas de violência intrafamiliar,
a medida prevista no art. 130, do ECA (afastamento do agressor da moradia
comum) deve sempre ser considerada antes de se recorrer ao encaminhamento
para serviço de acolhimento.
Tem-se ainda o Plano Nacional de Proteção, Promoção e Defesa do Direito
da Criança e do Adolescente à Convivência Familiar e Comunitária - PNCFC
(2006) que visa fortalecer, detalhar e aprofundar os conceitos básicos definidos
pelo ECA. Prioriza a família como núcleo do desenvolvimento e reafirma apoio e
proteção para que possa cuidar de seus filhos e protegê-los.
Três áreas temáticas compõem o Direito à Convivência Familiar e
Comunitária:
1º.A primeira diz respeito à importância de preservar os vínculos familiares
e comunitários e do papel das políticas públicas de apoio sociofamiliar;
2º.A segunda aborda a necessidade de intervenção institucional nas
situações de rompimento ou ameaça de rompimento dos vínculos familiares, do

38
reordenamento dos Programas de Acolhimento Institucional e da implementação
dos Programas de Famílias Acolhedoras (observado o caráter de excepcionalidade
destas medidas);
3º.Por último, a adoção.

5.1. Crianças e Adolescentes em Situação de Acolhimento

O relatório do Unicef Pobreza na infância e na adolescência, divulgado em


agosto de 2018, revela que, no Brasil, a pobreza na infância e na adolescência é
complexa e tem múltiplas dimensões, que vão além do dinheiro e da legislação.
Afirma o coordenador da Comissão da Infância e do Juventude do
Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos de São Paulo), Ariel de
Castro Alves: “O Brasil tem uma das legislações mais avançadas do mundo para
proteger crianças e adolescentes, mas também é um dos países onde crianças
e adolescentes estão mais desprotegidos”.
Conforme dados do Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA),
coordenado pela Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil
têm mais de 47 mil crianças e adolescentes em situação de acolhimento, que
vivem atualmente nas quase 4 mil entidades credenciadas junto ao Judiciário
de todo o País,
As famílias acolhedoras se responsabilizam por cuidar da criança ou
adolescente até que este retorne à família de origem ou seja encaminhado para
adoção. Assim, não se comprometem a assumir a criança ou adolescente como
um filho, mas a acolher e prestar cuidados durante o período de acolhimento. A
família se torna, dessa forma, parceira do serviço de acolhimento na preparação
da criança ou adolescente para o retorno à convivência familiar ou para a adoção,
se for o caso.
De acordo com o censo do Sistema Único de Assistência Social (Suas),
de 2016, o serviço de acolhimento está presente em 522 municípios brasileiros
e, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), há 2.341 famílias
cadastradas para acolher 1.837 mil crianças e adolescentes.
Quase sempre o acolhimento ocorre quando o Conselho Tutelar entende
necessário o afastamento do seu convívio familiar e comunica o fato ao Ministério

39
Público, prestando esclarecimento sobre os motivos de tal entendimento e sobre
as providências já tomadas no sentido da orientação, apoio e promoção social
da família.

5.2. Os Desafios dos Espaços de Acolhimento para Crianças e


Adolescentes no Brasil

Diante de relações fragilizadas tanto na família como na escola – o que


comporta fator de risco na vida dos sujeitos em desenvolvimento – surge o grande
desafio das instituições no resgate à proteção da criança e do adolescente em
situação de vulnerabilidade.
Os profissionais que compõem a rede socioassistencial de crianças
e adolescentes precisam estar atentos às questões que aumentam a
vulnerabilidade desse público e ferem as construções familiares e o ambiente
escolar, assim como aos preconceitos e estigmas que geram, pois são estes
espaços de socialização que compõem as primeiras relações das crianças e dos
adolescentes e, quando bem trabalhadas, são importantes redes de apoio ao
seu desenvolvimento saudável.
Sabe-se que a criança e o adolescente que estão sob a medida
protetiva de abrigo (Art. 101, ECA), aguardando retorno à família de origem ou
encaminhamento para família substituta, precisam ter nesses contextos (em
um caso ou em outro) figuras de autoridade, de proteção e cuidado para seu
desenvolvimento saudável.
As famílias devem ser auxiliadas na construção de novas possibilidades
de convivência, apesar da separação vivida. Os serviços socioassistenciais
devem propiciar novas formas de interação da criança e do adolescente com a
família e a escola, buscando uma vinculação de melhor qualidade.
As condições adversas vividas por essas crianças e adolescentes, e suas
famílias, exercem forte influência também sobre as crenças dos profissionais
acerca de suas histórias de vida e do modo como devem se relacionar com elas.
Nesse sentido, os próprios profissionais precisam estar preparados para
receberem a criança ou adolescente sem discriminação e preconceito; precisam
estar atentos às suas crenças que, por vezes, os impedem de olhar para as

40
pessoas que compõem essas redes com legitimidade.
Quando o serviço de atendimento não é de qualidade ou prolonga-se
desnecessariamente, o afastamento do convívio familiar pode ter consequências
negativas sobre o processo de desenvolvimento dos sujeitos. Por isso, a
articulação e bom funcionamento intra e intersetorial da rede institucional é
fundamental na efetividade do seu trabalho que, apesar de transitório, deve ser
reparador.
Com relação à escola, deve-se favorecer a sua articulação com a família
e sensibilizar os educadores para que atuem como agentes facilitadores da
integração da criança e do adolescente em situação de abrigo no contexto
escolar, resgatando a autoridade perdida, incentivando o protagonismo juvenil,
fortalecendo os vínculos sociais e evitando possíveis situações de preconceito e
discriminação.
Tanto para os profissionais que atuam diretamente com esta problemática
como para todos aqueles que lutam pelo cumprimento dos direitos da criança e
do adolescente, o enfoque das ações deve ser no sentido da “prática de redes
sociais”.
Para isso, é preciso primeiramente compreender o que são “redes sociais”,
destacar sua importância na vida das pessoas, para em seguida apresentar uma
forma de se pensar o atendimento à criança e ao adolescente em situação de
abandono ou afastamento do convívio familiar a partir da sua “prática”.

5.3. Guarda Subsidiada, Família Acolhedora e Apadrinhamento Afetivo

A modalidade de famílias acolhedoras, também conhecida como


guarda subsidiada, permite que famílias recebam, em suas casas, crianças e
adolescentes que foram afastados do convívio de sua família biológica.
As famílias acolhedoras não se comprometem a assumir a criança ou
adolescente como um filho, mas a acolher e prestar cuidados durante o período de
acolhimento. A família se torna, dessa forma, parceira do serviço de acolhimento
na preparação da criança para o retorno à convivência familiar ou para a adoção,
se for o caso.
A criança ou o adolescente é encaminhado a um serviço de acolhimento

41
quando se encontra em situação de risco, teve seus direitos violados e foram
esgotadas as possibilidades que permitiriam colocá-lo em segurança.
O apadrinhamento de crianças e adolescentes em situação de acolhimento
ou em famílias acolhedoras pode ser afetivo ou financeiro, sendo este último
caracterizado por uma contribuição financeira à criança ou adolescente
institucionalizada, de acordo com suas necessidades.
Já o apadrinhamento afetivo tem o objetivo de promover vínculos seguros
e duradouros entre eles e pessoas da comunidade que se dispõem a ser
padrinhos e madrinhas. As crianças e adolescentes aptos a serem apadrinhados
têm, quase sempre, mais de dez anos e, portanto, chances remotas de adoção.
A ideia é possibilitar um vínculo afetivo fora da instituição de acolhimento.
O apadrinhamento consiste em proporcionar e estimular que a criança ou
adolescente que estejam em abrigos (acolhimento institucional) ou em acolhimento
familiar possam formar vínculos afetivos com pessoas de fora da instituição ou
da família acolhedora onde vivem e que se dispõem a ser “padrinhos”.

O QUE DIZ A LEI?


O artigo 19-B, caput e § 1º, inseridos pela Lei n. 13.509/2017 do ECA diz:
Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de acolhimento institucional ou
familiar poderão participar de programa de apadrinhamento.
§ 1º. O apadrinhamento consiste em estabelecer e proporcionar à criança e ao
adolescente vínculos externos à instituição para fins de convivência familiar e
comunitária e colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social,
moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro.

42
O programa é voltado para as crianças e adolescentes que vão ficando
anos no abrigo ou na família acolhedora, justamente por isso, o legislador previu
no novo § 4º do art. 19-B do ECA:
Art. 19-B [...]
§ 4º O perfil da criança ou do adolescente a ser apadrinhado será definido
no âmbito de cada programa de apadrinhamento, com prioridade para
crianças ou adolescentes com remota possibilidade de reinserção familiar
ou colocação em família adotiva.

COMO FUNCIONA O APADRINHAMENTO?


O padrinho ou madrinha detém a guarda da criança ou adolescente?
NÃO. O apadrinhamento é diferente de adoção. Assim, o padrinho ou a madrinha
será uma referência afetiva na vida da criança, mas não possui a sua guarda. A
guarda continua sendo da instituição de acolhimento ou da família acolhedora.
Pessoas Jurídicas podem apadrinhar crianças ou adolescentes?
SIM. Pessoas jurídicas também podem apadrinhar criança ou adolescente a fim
de colaborar para o seu desenvolvimento (art. 19-B, § 3º).
Em caso de violação das regras, o que deve ser feito?
Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os responsáveis pelo
programa e pelos serviços de acolhimento deverão imediatamente notificar a
autoridade judiciária competente.

Estudo de caso:

O Conselho Tutelar do Município de Valparaíso de Goiás é procurado por Joana


Maria, mãe de João, de 5 anos de idade, a qual solicita a atuação do órgão para
colocar seu filho na entidade acolhedora (abrigo) municipal situado ao lado de
sua residência, pois precisa trabalhar e não tem com quem deixar o filho durante
o dia.
O Conselho Tutelar, constatando a situação de penúria da genitora, aplica medida
protetiva de acolhimento institucional à criança e comunica o fato imediatamente
ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, que elabora a respectiva guia de
acolhimento.
Neste caso, de acordo com a legislação vigente, é possível este acolhimento
pela entidade? Como Promotor de Justiça da Infância e Juventude, que medidas
devem ser adotadas?
43
O Promotor de Justiça da Infância e Juventude deve ajuizar revisão judicial da
medida protetiva de acolhimento institucional, com fulcro no art. 137 da Lei nº
8.069/90.
Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente poderão ser revistas pela
autoridade judiciária a pedido de quem tenha legítimo interesse.
O caso não é de acolhimento em abrigo, e sim, de inserção da criança, que
não se encontra em situação de risco, em creche, durante o horário em que a
genitora se encontra em seu trabalho.

44
45
Aula 6. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE

O SINASE é instrumento normativo que estabelece as diretrizes para a


execução das medidas socioeducativas no Brasil. A elaboração desse instrumento
procurou além de definir parâmetros consonantes com o ECA, também unificar
os formatos de execução de medidas socioeducativas no Brasil.
Criado pela Lei 12.594/12 após uma série de debates realizados desde
2004, estabelece um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que
envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por
adesão, os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos,
políticas e programas específicos de atendimento a adolescente em conflito com
a lei. As medidas socioeducativas serão aplicadas em caso de prática de ato
infracional (crime ou contravenção), por adolescente.
O Art. 35 da Lei 12.594/12 estabelece os princípios que regem a execução
de medidas socioeducativas.

6.1. O Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo

A partir da necessidade de monitoramento da aplicação do SINASE, foi


instituído o PLANO NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO. A ideia
é envolver diversos atores e dar unidade a aplicação do sistema no Brasil.
O Plano é organizado em quatro eixos:
• Princípios e diretrizes
• Marco situacional geral
• Modelo de gestão
• Metas, prazos e responsáveis
PRINCÍPIOS DO PLANO NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO:

1. Os adolescentes são sujeitos de direitos, entre os quais a presunção da


inocência.
2. Ao adolescente que cumpre medida socioeducativa deve ser dada proteção
integral de seus direitos.
3. Em consonância com os marcos legais para o setor, o atendimento
socioeducativo deve ser territorializado, regionalizado, com participação social
46
e gestão democrática, intersetorialidade e responsabilização, por meio da
integração operacional dos órgãos que compõem esse sistema.

DIRETRIZES DO PLANO NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO:

a) Garantia da qualidade do atendimento socioeducativo de acordo com os


parâmetros do SINASE.
b) Focar a socioeducação por meio da construção de novos projetos pactuados
com os adolescentes e famílias, consubstanciados em Planos Individuais de
Atendimento.
c) Incentivar o protagonismo, participação e autonomia de adolescentes em
cumprimento de medida socioeducativa e de suas famílias.
d) Primazia das medidas socioeducativas em meio aberto.
e) Humanizar as Unidades de Internação, garantindo a incolumidade, integridade
física e mental e segurança do/a adolescente e dos profissionais que trabalham
no interior das unidades socioeducativas.
f) Criar mecanismos que previnam e medeiem situações de conflitos e estabelecer
práticas restaurativas.
g) Garantir o acesso do adolescente à Justiça (Poder Judiciário, Ministério
Público e Defensoria Pública) e o direito de ser ouvido sempre que requerer.
h) Garantir as visitas familiares e íntimas, com ênfase na convivência com os
parceiros/as, filhos/as e genitores, além da participação da família na condução
da política socioeducativa.
i) Garantir o direito à sexualidade e saúde reprodutiva, respeitando a identidade
de gênero e a orientação sexual.
j) Garantir a oferta e acesso à educação de qualidade, à profissionalização,
às atividades esportivas, de lazer e de cultura no centro de internação e na
articulação da rede, em meio aberto e semiliberdade.
k) Garantir o direito à educação para os adolescentes em cumprimento de
medidas socioeducativas e egressos, considerando sua condição singular como
estudantes e reconhecendo a escolarização como elemento estruturante do
sistema socioeducativo.
l) Garantir o acesso à programas de saúde integral .
m) Garantir ao adolescente o direito de reavaliação e progressão da medida
socioeducativa. 47
n) Garantia da unidade na gestão do SINASE, por meio da gestão compartilhada
entre as três esferas de governo, através do mecanismo de co-financiamento.
o) Integração operacional dos órgãos que compõem o sistema (art. 8º, da LF
nº 12.594/2012).
p) Valorizar os profissionais da socioeducação e promover formação continuada.
q) Garantir a autonomia dos Conselhos dos Direitos nas deliberações, controle
social e fiscalização do Plano e do SINASE.
r) Ter regras claras de convivência institucional definidas em regimentos internos
apropriados por toda a comunidade socioeducativa.
o) Garantir ao adolescente de reavaliação e progressão da medida socioeducativa.

O SINASE é fruto de uma construção coletiva que envolveu várias


organizações governamentais e não governamentais, distintas áreas do governo,
representantes de entidades e especialistas no tema, além de uma série de
debates protagonizados por operadores do Sistema de Garantia dos Direitos em
encontros regionais que cobriram todo o País.
A necessidade de intensa articulação dos distintos níveis de governo
e da corresponsabilidade da família, da sociedade e do Estado demandam
a construção de um amplo pacto social em torno deste instituto denominado
SINASE.
Tendo como premissa básica a necessidade de se construir parâmetros mais
objetivos e procedimentos mais justos que evitem ou limitem a discricionariedade,
o SINASE reafirma a diretriz do ECA sobre a natureza pedagógica da medida
socioeducativa. Para tanto, este sistema tem como plataforma inspiradora os
acordos internacionais sobre direitos humanos dos quais o Brasil é signatário,
em especial na área dos direitos da criança e do adolescente.

48
6.2. O SINASE e a Complementaridade de Outros Sistemas

O sucesso de um sistema de atendimento especializado dependerá


certamente do grau de articulação com outros sistemas de políticas públicas.
No caso do SINASE esse desenho de atuação previu atuação conjunta com os
sistemas e políticas de educação, saúde, trabalho, previdência social, assistência
social, cultura, esporte, lazer, segurança pública, entre outros.
Chama-se a atenção para as interfaces abaixo descritas:
• SINASE e SUAS - A política de proteção básica ou a política
de proteção especial têm que ser acionadas em relação ao envolvimento de
adolescentes com a prática de atos infracionais e suas famílias.
• SINASE e SISTEMA DE SEGURANÇA e de JUSTIÇA - O
atendimento inicial ao adolescente em conflito com a lei deve ser integrado e
realizado entre o Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e Segurança
Pública.
• SINASE e SUS - A atenção básica deve ser prestada nos próprios
espaços de atendimento socioeducativo, em especial nas unidades de internação,
além da garantia da referência aos serviços de média e alta complexidade.
• SINASE e Educação - É garantida a inserção e permanência na
escola dos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas.

6.3. Metodologias de Prevenção, Mediação e Resolução de Conflitos

Devem ser usadas as práticas restaurativas como formas de gerenciamento


de conflitos, através das quais um facilitador auxilia as partes direta e indiretamente
envolvidas no conflito, a realizar um processo dialógico visando transformar uma
relação de resistência e de oposição em relação de cooperação.
Diversas são as práticas restaurativas que podem ser utilizadas no
contexto escolar, entre outras, o diálogo e o perguntar restaurativo, a mediação
escolar, a mediação de pares, os encontros restaurativos, os círculos de paz e
de diálogo e os círculos restaurativos.

49
6.4. Risco e Gerenciamento de Crises no Sistema Socioeducativo

Como funciona? A rede de gerenciamento de crise é composta por um


conjunto de instituições, profissionais e pessoas indispensáveis ou extremamente
importantes para a gestão de crise de segurança instalada em unidade de
privação de liberdade.
A rede possui duas dimensões: a dimensão intra-unidade e a extra-
unidade.
A dimensão intra-unidade é composta pelos diferentes setores da unidade
de privação de liberdade – direção, setor de segurança, técnico, administrativo,
logístico, pedagógico e outros. É a equipe responsável pelo controle da crise em
seus primeiros minutos, bem como da convocação dos demais elementos da
rede.
Adimensão extra-unidade é composta pela diretoria da SECJ (Secretária/o,
Coordenação de Socioeducação e Diretoria Geral), Poder Judiciário, Ministério
Público, Conselho Tutelar, Policia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e
Serviços de Saúde de Emergência Móveis.
Essas organizações participarão da resolução do evento crítico a partir de
sua notificação pela direção da unidade ou, preferencialmente, pelo responsável
de informações. As atribuições de cada organismo abaixo elencadas são as
principais medidas e procedimentos que cada uma deverá realizar em seu papel
na rede de gerenciamento. Todavia, a ausência de uma atribuição prevista em lei
nessa relação não prejudicará sua realização no gerenciamento da crise.

50
O QUE DIZ A LEI?
As medidas socioeducativas estão previstas no art. 112 da Lei no 8.069/1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente).
A Resolução 119/2006 do CONANDA dispõe sobre o Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo e á outras providências.
A Lei 12.594/2012, em ser art. 35, determina que a execução das medidas
socioeducativas reger-se-á pelos seguintes princípios:
I - legalidade, não podendo o adolescente receber tratamento mais gravoso
do que o conferido ao adulto;
II - excepcionalidade da intervenção judicial e da imposição de medidas,
favorecendo-se meios de autocomposição de conflitos;
III - prioridade a práticas ou medidas que sejam restaurativas e, sempre
que possível, atendam às necessidades das vítimas;
IV - proporcionalidade em relação à ofensa cometida;
V - brevidade da medida em resposta ao ato cometido, em especial o
respeito ao que dispõe o art. 122 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto
da Criança e do Adolescente);
51
VI - individualização, considerando-se a idade, capacidades e circunstâncias
pessoais do adolescente;
VII - mínima intervenção, restrita ao necessário para a realização dos
objetivos da medida;
VIII - não discriminação do adolescente, notadamente em razão de etnia,
gênero, nacionalidade, classe social, orientação religiosa, política ou sexual, ou
associação ou pertencimento a qualquer minoria ou status; e
IX - fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários no processo
socioeducativo.
Portaria MS/SEDH/SPM 1.426/2004 (Saúde no SINASE)
http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/conanda/portaria_interministerial.htm

Estudo de caso:

Maurício, 15 anos, foi surpreendido pela polícia cometendo furto no comércio


local. Foi levado pela autoridade policial à Delegacia da Criança e Adolescente
– DCA. A autoridade policial deixou de comunicar o fato à família de Maurício e
ainda o privou de sua liberdade. Ao tomar conhecimento do ocorrido, a família
de Maurício procura o Conselho Tutelar para saber que medidas devem ser
adotadas para assegurar os direitos e garantias de Maurício.

Primeiramente, a família de Maurício deveria ter sido informada imediatamente


de sua apreensão, uma vez que a internação é medida excepcional.
Ato infracional não é crime, pois falta a culpabilidade, esta não pode ser atribuída
ao adolescente que não possui idade suficiente (ar 104, ECA).
Maurício não pode ser privado de sua liberdade, conforme prevê o art. 106 e 110,
do ECA.
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante
de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente.
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido
processo legal.

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53
Aula 7. O Enfrentamento das Violências contra a Criança e o Adolescente

• Conteúdo Programático:
o O enfrentamento ao trabalho infantil e a proteção ao trabalho adolescente.
o O enfrentamento da letalidade na adolescência.
o A proteção a crianças e adolescentes ameaçados de morte.
o O enfrentamento da violência sexual.

A literatura sobre o tema assinala uma preocupação em dividir (classificar) a


violência em três modalidades: física, psicológica e sexual. A isso são acrescidas
referências à violência estrutural e à violência institucional. Trata-se de uma
tentativa de se compreender o fenômeno em suas diferentes manifestações.
Porém, quando da análise de situações concretas de violência, verifica-se que as
suas variadas formas não são tão excludentes entre si, como uma classificação
levaria a crer. Por exemplo, a violência física é também uma violência psicológica
que pode ser também institucional e estrutural; a violência sexual é também
violência física e psicológica.
Para melhor entendimento, porém, é importante conceituar as chamadas
expressões da violência, como forma de facilitar a compreensão e o desenho das
diversas metodologias de enfrentamento do fenômeno e dos fatores que propiciam
sua manifestação, assim como da melhor delimitação dos responsáveis em cada
espectro de expressão de violência. Para tanto, apresentam-se os conceitos
de violência utilizados na Cartilha do Disque 100, publicada pelo Programa
Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes
da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR),
em parceria com o Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e
Adolescentes (Cecria), como uma macrocategoria que envolve violência física,
violência psicológica e violência sexual, assim definidas:
•Violência Física – Uso da força física de forma intencional, não-acidental,
por um agente agressor adulto (ou mais velho que a criança ou o adolescente).
Geralmente, esses agentes são os próprios pais ou responsáveis, que muitas
vezes machucam a criança ou adolescente sem a intenção de fazê-lo. A violência
física pode deixar marcas evidentes e, em casos extremos, até causar a morte

54
(Brasil, 2004).
•Violência Psicológica – Conjunto de atitudes, palavras e ações para
envergonhar, censurar e pressionar a criança de modo permanente. Ela ocorre
quando xingamos, rejeitamos, isolamos, aterrorizamos, exigimos demais
das crianças e dos adolescentes, ou, mesmo, os utilizamos para atender a
necessidades dos adultos (Brasil, 2004).
•Violência Sexual – É uma violação dos direitos sexuais, porque abusa
do corpo e da sexualidade, seja pela força ou outra forma de coerção, ao
envolver crianças e adolescentes em atividades sexuais impróprias para a sua
idade cronológica ou para seu desenvolvimento psicossexual. Trata-se de toda
ação na qual uma pessoa, em situação de poder, obriga outra à realização de
práticas sexuais, por meio da força física, da influência psicológica (intimidação,
aliciamento, sedução) ou do uso de arma ou droga (Brasil, 2004).
O Brasil conta com um importante serviço que vem ampliando e sua
atuação, o disque denúncia nacional. Disque 100 é um serviço de discagem direta
e gratuita disponível para todos os estados brasileiros, que recebe denúncias de
transgressões aos direitos humanos, inclusive da criança e do adolescente e
presta orientações sobre os serviços e redes de atendimento e proteção nos
estados e municípios.
O Ministério dos Direitos Humanos disponibiliza três canais de denúncia:
o telefone Disque 100, o aplicativo Proteja Brasil e uma Ouvidoria Online. O
Disque 100 funciona diariamente, 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos
e feriados. A denúncia, após análise, é encaminhada aos órgãos de proteção,
defesa e responsabilização em direitos humanos.

ENTENDA MELHOR SOBRE O FUNCIONAMENTO DO DISQUE 100


VÍDEO EXPLICATIVO: http://www.mdh.gov.br/biblioteca/crianca-e-adolescente/
letalidade-infanto-juvenil-dados-da-violencia-e- politicas-publicas-existentes.pdf
SITE DO MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS: http://www.mdh.gov.br/
informacao-ao-cidadao/disque-100

55
O Disque 100 também serve como fonte de informações para subsidiar
políticas públicas na área de crianças e adolescentes, por meio da análise de
informações contidas na base de dados gerado pelo sistema.

7.1. O Enfrentamento ao Trabalho Infantil e a Proteção ao Trabalho


Adolescente

A realidade do trabalho infantil traduz uma das mais graves violações de


direitos humanos e a negação de princípios fundamentais de ordem constitucional.
No Brasil, identificam-se variadas situações de trabalho infantil, sob as
mais diversas configurações, que podem ser classificadas do seguinte modo:
•Em relação à área, tem-se o trabalho urbano – comércio e indústria – e o
trabalho rural – agricultura e pecuária.
•Quanto ao tempo, pode ser contínuo – extração e venda de pedras,
mineração –, sazonal – plantação e colheita de frutas e outras culturas – e o
trabalho de natureza eventual ou episódica – eventos esportivos ou culturais.
•Quanto à forma, pode ser trabalho subordinado – cerâmicas, carvoarias
e salinas –, trabalho autônomo ou por conta própria – vendedor ambulante,
flanelinha –, trabalho eventual – produção de peças publicitárias veiculadas
nos meios de comunicação –, trabalho terceirizado – tecelagem – e, o trabalho
forçado, degradante ou em condições análogas à de escravo – em fazendas.
•Quanto ao local, observa-se o trabalho em estabelecimentos privados –
galpão, fábrica e loja – e em espaços e vias públicas – lixões, matadouros, feiras,
ruas e avenidas.
•Em face da natureza da atividade, destaca-se o trabalho produtivo –
que visa ao lucro; o trabalho voluntário e assistencial – entidades beneficentes,
igrejas; trabalho doméstico – realizado no âmbito residencial e voltado para a
família, própria ou de terceiros, como acontece nos casos em que um adolescente
labora como babá de uma criança; o trabalho sob o regime de economia familiar
– que ocorre dentro do núcleo familiar, podendo ser doméstico ou não; o trabalho
de subsistência; o trabalho artesanal; o trabalho artístico; o trabalho desportivo;
e, ainda, o trabalho ilícito – tráfico de drogas, exploração sexual.

56
As possibilidades de trabalho infantil são amplas e inesgotáveis e, via de
regra, sua existência sempre poderá descortinar uma realidade de exploração,
abuso, negligência ou violência, perante a qual incidirá a responsabilidade da
própria família, de terceiros beneficiários do labor e também do Poder Público,
podendo alcançar as esferas civil, penal, trabalhista e administrativa.
A legislação brasileira guarda consonância com os preceitos estabelecidos
na Constituição Federal, cujas normas incorporam os postulados de proteção
erigidos pela Convenção dos Direitos da Criança.
A Consolidação das Leis do Trabalho – CLT destacou o Capítulo IV do seu
Título III, para tratar “Da Proteção do Trabalho do Menor”.
No âmbito internacional, o Brasil é signatário das Convenções Internacionais
do Trabalho nº 138 e 182, da OIT, ambas voltadas para a grave questão do
trabalho infantil. Em observância a esse compromisso internacional, foi editado
pelo Poder Executivo o Decreto 6.481/2008, que aprovou, no Brasil, a Lista das
Piores Formas de Trabalho Infantil.

O QUE DIZ A LEI?


O ECA é claro com relação ao trabalho infantil. Em seu art. 60: É proibido qualquer
trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na condição de aprendiz,
a partir de quatorze anos.
É vedado o trabalho noturno (entre 22h e 5h), o trabalho perigoso, insalubre
ou penoso; o trabalho realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu
desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; e aquele realizado em horários
e locais que não permitam a frequência à escola.
A Portaria nº 659/2016 instituiu o Projeto Estratégico Resgate a Infância, com
o objetivo de prevenir e combater o trabalho infantil, conscientizar a sociedade,
fomentar políticas públicas, promover a formação profissional e proteger o
trabalhador adolescente.
A condição de aprendiz, a partir de 14 anos, é peculiar, porque ela pressupõe
que o adolescente esteja frequentando regularmente a escola e que tenha
bom aproveitamento escolar (ou seja, o trabalho não pode impedir o sucesso
escolar), que tenha carteira assinada com contrato de aprendiz (remunerado

57
como tal, com direitos trabalhistas e previdenciários assegurados) e que, na sua
vida de profissional, o aprendizado, o desenvolvimento pessoal e social são mais
importantes que o aspecto produtivo.
Não é qualquer profissão que se enquadra para oferecer um contrato de
aprendizagem. No art. 62, o Estatuto traz o conceito: “Considera-se aprendizagem
a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases
da legislação de educação em vigor.” E essa formação obedece a princípios
estabelecidos no art. 63:
• a garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino regular;
• atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;
• horário especial para o exercício das atividades.
O art. 67 destaca condições em que o trabalho não pode ser realizado pelo
aprendiz.
Tais itens estão em sintonia com a Convenção 182, da OIT, em vigor no Brasil
desde 2000, com a publicação do Decreto 3.597.

O Conselho Tutelar tem o dever institucional de intervir em toda e qualquer


situação em que há suspeita ou confirmação de violação de direitos de crianças
e adolescentes, inclusive em casos de exploração do trabalho infanto-juvenil.
A partir do momento em que o Conselho Tutelar recebe a notícia de que
está havendo exploração do trabalho de criança ou adolescente, deve intervir
para constatar sua efetiva ocorrência ou não, sendo a prestação de informações
aos interessados uma obrigação decorrente, inclusive, do disposto no art. 5º,
incisos XXXIII e XXXIV, da Constituição Federal.
As diligências a cargo do Conselho Tutelar no sentido da proteção às
vítimas de trabalho infantil devem ser realizadas conjuntamente com os órgãos
estatais encarregados da repressão aos autores da exploração no trabalho
(com ênfase para os fiscais do Ministério do Trabalho - que devem sempre ser
acionados e Polícias Civil e Militar - que devem ser acionadas quando houver
indícios da prática de crimes e/ou quando houver resistência quanto ao acesso
ao local da exploração).

58
7.2. O Enfrentamento da Letalidade na Adolescência

A partir da década de 90 ocorreu a drástica mudança na vitimização letal


de adolescentes no Brasil. Os homicídios ultrapassaram os acidentes de trânsito
como principal fator de mortalidade. De modo geral, os dados mostram um
aumento da participação das causas externas, que incluem acidentes, suicídios,
homicídios e outros, na mortalidade de meninos e meninas de 16 e 17 anos, em
detrimento das causas naturais.
As pesquisas e estudos divulgados nos últimos 5 (cinco) anos têm
evidenciado o crescimento expressivo da violência letal de adolescentes e
jovens, especialmente os do sexo masculino, negros e com baixa escolaridade.
O Mapa da Violência: Adolescentes de 16 e 17 anos, divulgado em junho
de 2015 na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de Assassinato de Jovens
no Senado, aponta que o homicídio é atualmente a principal causa de morte de
pessoas nessa faixa etária no país.
De acordo com o levantamento, produzido pelo sociólogo Julio Jacobo
Waiselfisz, 3.749 adolescentes entre 16 e 17 anos foram vítimas de homicídios
em 2013. Os dados indicam que 10,3 adolescentes foram mortos por dia.
Desde 2013, a taxa de homicídios de jovens apenas aumenta. No Nordeste,
por exemplo, o índice saltou de pouco menos de 3 adolescentes mortos por 100
mil habitantes para 7. Estima-se que cerca mais de 6 mil jovens morram por ano
vítimas de violência (de acordo com o UNICEF). Em outras palavras, mais da
metade das mortes de adolescentes no Brasil, decorre da violência.
O enfretamento à violência no país deve ser uma responsabilidade
compartilhada entre os governos federal, estadual e municipal. Com intuito
de coibir o crescimento desses índices, foi elaborado o Plano Nacional de
Enfrentamento à Violência Letal de Crianças e Adolescentes, instituído pela
Portaria nº 104/2015.

59
7.2.1. A Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte

Em 2003 foi criado o Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes


Ameaçados de Morte – PPCAAM. O programa atua diretamente para a redução
dos índices de violência letal contra crianças e adolescentes no país ao prestar
atendimento aos ameaçados e seus familiares.
A metodologia prevê a retirada da criança ou adolescente ameaçado e
inserido em novos espaços de moradia e convivência, com acompanhamento
escolar, inserção em projetos culturais e profissionalizantes, entre outros.
De acordo com o Decreto 6.231/2007, que institui oficialmente o PPCAAM,
a inclusão no programa deve ser solicitada pelo Conselho Tutelar, Ministério
Público e autoridade judicial competente. A proteção será garantida por no
máximo por um ano, mas poderá ser prorrogada se perdurarem os motivos que
autorizaram seu deferimento.
O Programa atua em dois níveis:
1. No atendimento direto aos ameaçados e suas famílias, retirando-os
do local da ameaça e inserindo-os em novos espaços de moradia e convivência.
2. Na prevenção, por meio de estudos e pesquisas, bem como no
apoio a projetos de intervenção com adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Nesse sentido, em julho de 2009, foi lançado o Programa de Redução da


Violência Letal (PRVL) juntamente com Observatório de Favelas, o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Laboratório de Análise da Violência
da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ. O PRVL busca sensibilizar
a sociedade e os poderes públicos para o grave problema da letalidade de
adolescentes e jovens no país, com o intuito de construir uma agenda comum
de enfrentamento.

7.3. Violência Sexual

A Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada no Brasil pelo


Decreto 99.710/1990, foi concebida tendo em vista a necessidade de garantir
a proteção e cuidados especiais à criança e ao adolescente, incluindo proteção

60
jurídica apropriada, levando em consideração que em todos os países do mundo
existem crianças e adolescentes vivendo em condições extremamente adversas
e necessitando de proteção especial. Nos artigos 19 e 34 abordar medidas
voltadas à proteção de crianças contra a violência sexual.

Convenção sobre os Direitos da Criança.


Artigo 19
1. Os Estados Partes adotarão todas as medidas legislativas, administrativas,
sociais e educacionais apropriadas para proteger a criança contra todas as
formas de violência física ou mental, abuso ou tratamento negligente, maus tratos
ou exploração, inclusive abuso sexual, enquanto a criança estiver sob a custódia
dos pais, do representante legal ou de qualquer outra pessoa responsável por
ela.
2. Essas medidas de proteção deveriam incluir, conforme apropriado,
procedimentos eficazes para a elaboração de programas sociais capazes de
proporcionar uma assistência adequada à criança e às pessoas encarregadas de
seu cuidado, bem como para outras formas de prevenção, para a identificação,
notificação, transferência a uma instituição, investigação, tratamento e
acompanhamento posterior dos casos acima mencionados de maus tratos à
criança e, conforme o caso, para a intervenção judiciária.

Artigo 34
Os Estados Partes se comprometem a proteger a criança contra todas as formas
de exploração e abuso sexual (ONU, 1989)

O conceito usado pelo Estudo Proteger e Responsabilizar, publicado


pelo Comitê Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes parece dar conta da importância de afirmar a sexualidade como
um direito, de garantir o exercício desse direito de forma diferente, de acordo
com sua geração. No caso da criança e do adolescente é fundamental garantir a
proteção do desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Confira-se:

[...] a sexualidade é própria e inerente às pessoas, sendo impossível


dissociá-la da existência humana, vinculada a processos biológicos,
psicológicos e sociais intrínsecos aos seres humanos. Nesse sentido,
os direitos sexuais, enquanto Direitos Humanos, dizem respeito
exatamente ao direito da pessoa desenvolver e exercitar de maneira
sadia e segura a sua sexualidade, livre de qualquer discriminação,
coação ou violência (Carvalho, Paiva & Roseno, 2007: p.).

61
O Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças
e Adolescentes, de 2014 , conceitua violência sexual como uma violação de
direitos, que se subdivide em exploração sexual e abuso sexual, os quais serão
a seguir aprofundados.

7.3.1. Abuso Sexual

O abuso sexual se caracteriza pela utilização do corpo de uma criança


ou adolescente para a prática de qualquer ato de natureza sexual. Nesse tipo
de violência não há qualquer intuito de lucro, qualquer relação de compra ou
troca. No abuso sexual, o agressor visa unicamente satisfazer seus desejos com
o emprego da violência. Uma característica que costuma compor a violência
é a relação de confiança entre o agressor e a vítima, ainda que momentânea
e enganosa, e geralmente é praticada por alguém que participa do mesmo
convívio. Isso não necessariamente significa que seja convívio familiar, podendo
ser comunitário.
O abuso sexual pode expressar-se de duas formas: intrafamiliar e
extrafamiliar:
I. abuso sexual intrafamiliar é assim considerado quando a agressão
ocorre dentro da família, ou seja, a vítima e o agressor possuem alguma relação
de parentesco. Aqui é importante considerar o contexto familiar ampliado, já que
a diferença estabelecida sob o aspecto conceitual objetivou apenas diferenciar as
estratégias e metodologias de prevenção, proteção e responsabilização. Assim,
quando o agressor compõe a chamada família ampliada ou possui vínculos
afetivo-familiares, o abuso deve ser caracterizada como intrafamiliar.
II. O abuso sexual extrafamiliar se dá quando não há vínculo de
parentesco entre o agressor e a criança ou adolescente. Nesse caso não significa
dizer que não exista uma relação anterior, ao contrário, á possível a existência de
algum conhecimento ou até vínculo de confiança. Exemplos: vizinhos ou amigos,
educadores, responsáveis por atividades de lazer, profissionais de atendimento
(saúde, assistência, educação), religiosos. O autor da violência também pode

² Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes aprovado


pelo CONANDA em 28 de janeiro de 2014 por meio da resolução número 162.
62
ser uma pessoa desconhecida, como ocorre nos casos de estupros em locais
públicos.

7.3.2. Exploração Sexual

A exploração sexual caracteriza-se pela utilização sexual de crianças


e adolescentes com a intenção do lucro, seja financeiro ou de qualquer outra
espécie. Nesse caso, pode haver a participação de um agente entre a criança
ou adolescente e o usuário ou cliente. É por isso que se diz que a criança ou
adolescente foi explorada, e nunca prostituída, pois ela é vítima de um sistema
de exploração de sua sexualidade.
Do ponto de vista conceitual, utilizando a classificação do Instituto
Interamericano Del Nino, em 2000, passou-se a classificar a exploração sexual
em quatro modalidades: a pornografia, o turismo com fins sexuais, a prostituição
convencional e o tráfico para fim sexual.
Posteriormente, a partir das discussões do III Congresso Mundial de
Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em 2008,
esses conceitos foram atualizados para: exploração sexual no contexto de
prostituição; tráfico para fins de exploração sexual; exploração sexual no contexto
do turismo; e, pornografia infantil:
I. Exploração sexual no contexto de prostituição: É a expressão
mais próxima do contexto do comércio da exploração sexual de crianças e
adolescentes. É muito comum aparecerem adultos como intermediários nessa
forma de exploração sexual, redes de aliciadores, agenciadores, facilitadores,
pessoas que lucram com a exploração sexual. Porém, esse tipo de exploração
sexual pode ocorrer sem intermediários. Os artigos 244-A e 244-B do ECA,
incluídos pelas Leis nº. 9.975, de 23/06/2000, e nº. 12.015, de 07 de agosto de
2009, tratam da exploração sexual com maior especificidade.
II. Tráfico para fins de exploração sexual: É a promoção ou facilitação
da entrada, saída ou deslocamento no território nacional, ou para outro país, de
crianças e adolescentes com o objetivo de exercerem a prostituição ou outra
forma de exploração sexual. Tal crime está previsto no Código Penal Brasileiro

63
(CP). Seu art. 231 assim tipifica o Tráfico internacional de pessoa para fim de
exploração sexual: “Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de
alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração
sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro”. Já o tráfico
interno de pessoa para fim de exploração sexual está tipificado no art. 231-A:
“Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional
para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual”. Outros
tipos penais também caracterizam o crime de tráfico de crianças e adolescentes,
no CP e no ECA, como o art. 245, do CP, que trata da entrega de filho menor
a pessoa inidônea, e os arts. 238 e 239, do ECA, que tratam respectivamente
de “prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga
ou recompensa” e “promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio
de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades
legais ou com o fito de obter lucro”.
III. Exploração sexual no contexto do turismo: É a exploração sexual
de crianças e adolescentes por visitantes de países estrangeiros ou turistas
do próprio país, geralmente com o envolvimento, cumplicidade ou omissão de
estabelecimentos comerciais de diversos tipos.
IV. Pornografia infantil: é a expressão da exploração sexual que se
caracteriza por qualquer representação, por qualquer meio, de uma criança
envolvida em atividades sexuais explícitas reais ou simuladas, ou qualquer
representação dos órgãos sexuais de uma criança para fins primordialmente
sexuais, de acordo com o Decreto nº. 5.007, de 8 de março de 2004, que promulga
o Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criança referente à
venda de crianças, à prostituição infantil e à pornografia infantil. O ECA também
prevê crimes de pornografia infantil em seus artigos 240 a 241-E.

7.3.3. Novas formas de violência sexual

O abuso sexual e a exploração sexual também podem ocorrer via internet.


Várias práticas têm sido caracterizadas como tal, ou muitas vezes iniciam
um processo de abuso ou exploração. Algumas já vêm ocorrendo com maior
frequência, tornando-se, portanto, imperativo conhecê-las.

64
O sexting é a palavra originada da união de duas palavras em inglês:
“sex” (sexo) com “texting” (envio de mensagens), uma expressão de violência
recente, na qual adolescentes, jovens ou adultos usam celulares, e-mail, salas
de bate-papo, comunicadores instantâneos e sites de relacionamento, para
enviar fotos sensuais, mensagens de texto eróticas ou com convites sexuais
para conhecidos. Algumas vezes essa prática, ao cair na rede, pode configurar
abuso ou exploração sexual, a depender da forma como será utilizada. Segundo
o artigo 241-E do ECA, esse tipo de mensagem pode ser considerado pornografia
infantil e, portanto, crime.
O sexcasting consiste na troca de mensagens sexuais em serviços de
conversas instantâneas. O sexcasting tem se caracterizado principalmente pelo
envio de fotos ou vídeos de conteúdo sexual produzidos pelo próprio remetente
através da Internet, telefones celulares ou outras tecnologias de comunicação.
Outro formato comum de transmissão tem sido os de vídeos via webcam.
O sextosión se configura a partir do sexting. É a prática de chantagens
com fotografias ou vídeos da criança ou adolescente sem roupa ou em relações
íntimas que foram compartilhados por sexting com fins de exploração sexual;
O grooming é caracterizado pela ação de um adulto ao se aproximar de
crianças ou adolescentes via internet, por meio de chats ou redes sociais, com o
objetivo de praticar abuso sexual ou exploração sexual.

Estudo de caso:

Maria tem 13 anos e há um ano recebeu uma proposta de uma conhecida, Laura
de 18 anos, para fazer sexo com um homem, Carlos. Caso aceitasse, Mariana
ganharia uma passagem para conhecer Salvador, esse é o seu grande sonho.
Mariana topou. Foi a primeira relação sexual da adolescente. Mariana sabe que
ter vida sexual ativa sem usar preservativo pode contrair DSTs e engravidar, mas
não usou porque Carlos não quis. Diante disso, ela quis desistir do Programa,
mas Carlos a obrigou a ter relação sexual.
O Conselho Tutelar foi procurado por Maria para saber o que diz a lei sobre o
assunto. “Há crime(s) no caso acima narrado? Se engravidar e quiser realizar
um aborto, como o conselho orienta?”

65
Sim, há crime. O conselheiro deve orientar Maria que houve crime sim. Pode
inclusive requisitar o exame de corpo delito junto ao IML ou serviço de perícia
local e deve orientar no sentido de que nesse caso ela tem o direito de realizar
o aborto legal.
IMPORTANTE: Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode
oferecer resistência.

66
Aula 8. Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente

As grandes modificações mundiais, políticas, econômicas, sociais e


culturais, intensificadas no século XX trouxeram mudanças significativas para
a vida em sociedade que influenciaram profundamente nos modos de vida das
populações e repercutiram na saúde.
O processo de saúde-adoecimento está intimamente relacionado a
múltiplos determinantes sociais e a modos de vida envolvidos na gênese, no
desenvolvimento e na perpetuação dos problemas, evidenciando a impossibilidade
do setor sanitário de responder sozinho a essa realidade e ao mesmo tempo
exigindo estratégias que favoreçam a integração com outras políticas setoriais e
tecnologias para a defesa da vida e para a garantia de opções saudáveis para a
população.
O cuidado com as populações mais jovens passou a ser uma preocupação
constante das políticas públicas, visando o desenvolvimento saudável,
assegurando o pleno gozo de todos os direitos humanos, e pra melhorar as
condições de vida de homens, mulheres e, principalmente, de crianças e
adolescentes.
O QUE DIZ A LEI?
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), Leis Orgânicas de Saúde
(Lei nº 8.080/90 e Lei nº 8.142/90), Lei Orgânica de Assistência Social (Lei nº
8.742/93).

Essas diretrizes instrumentalizam legalmente a proteção aos direitos


de crianças e adolescentes ao pleno exercício do direito fundamental à saúde
integral. Subsidia gestores, profissionais de saúde, órgãos e instituições, que
atuam na área de saúde das crianças e adolescentes, com elementos essenciais
para o atendimento nos serviços de saúde, de modo que os direitos de crianças
e adolescentes sejam divulgados, discutidos e respeitados pela sociedade.
Os principais objetivos dessas diretrizes é sensibilizar e mobilizar gestores
e profissionais do Sistema Único de Saúde para integrar nas ações, programas
e políticas do SUS e outras políticas de Governo, estratégias interfederativas
e intersetoriais que convirjam para a atenção integral à saúde de crianças e
adolescentes.

68
8.1. Gênero e Direitos Sexuais e Reprodutivos

Entende-se por direito sexual e reprodutivo o direito de controle e decisão,


de forma livre e responsável, sobre questões relacionadas à sexualidade,
incluindo-se a saúde sexual e reprodutiva, livre de coerção, discriminação e
violência.
Como parte da história e lutas por garantias de direitos, nascem também
as primeiras reivindicações sobre os direitos reprodutivos e direitos sexuais, que
passaram a fazer parte das pautas de luta logo após as mulheres conquistarem
seus direitos à educação e ao voto.
A partir disso, várias conferências e eventos pautaram o tema dos direitos
sexuais e reprodutivos em suas discussões, auxiliando na conquista de muitos
direitos.
O processo reconhecimento dos direitos sexuais de crianças e
adolescentes mantém alguns paralelos com esta trajetória, mesmo que com
certo lapso temporal. O processo de reconhecimento de direitos de cidadania
no Brasil acontece ao mesmo tempo em que, no mundo, avança-se para o
estabelecimento de um novo paradigma sobre a infância: o da proteção integral
dos direitos da criança e do adolescente.

Marcos importantes para consolidação dos Direitos Sexuais e Reprodutivos:


•1945 – Carta de Constituição das Nações Unidas, que oficializou a
possibilidade de nações e pessoas poderem encontrar motivos de acordo;
•1948 – Proclamação dos Direitos Humanos, que não incluem os direitos
sexuais e reprodutivos, mas incluem os direitos básicos e fundamentais de
mulheres e homens;
•1968 – Conferência sobre os Direitos Humanos de Teherán, que defendeu
o direito dos casais de decidir o número de filhos e espaçamento;
•1974 – Conferência de População de Bucareste, que tratou do direito
dos indivíduos/casais para decidir o número de filhos e o dever do estado para
assegurar esse direito;

69
•1975 – Conferência Mundial do Ano Internacional da Mulher. Tratou do
direito à integridade física, decisão sobre o corpo e as diferentes opções sexuais
e aos direitos reprodutivos, maternidade opcional;
•1978 – Conferência de Alma Ata. Defendeu a atenção primária e o enfoque
holístico;
•1979 – Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher (CEDAW);
•1985 – Estratégias de Nairobi, orientada para o Futuro do Avanço da
Mulher;
•1993 – Conferência de Viena sobre os Direitos Humanos;
•1993 – Carta de Brasília - “Nossos direitos para Cairo 1994”;
•1994 – Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento –
Cairo. Definiu o conceito de direitos sexuais e reprodutivos;
•1995 – 4ª Conferência Mundial da Mulher – Beijing. Foi assumido o
compromisso da transformação do mundo usando as experiências das mulheres
como principal força no desenvolvimento de uma nova agenda de atuação.
Embora os direitos sexuais e reprodutivos de crianças e adolescentes
sejam reconhecidos, ainda sim, a temática é complexa e contraditória. A própria
noção de infância e adolescência é uma construção social e cultural que pode
variar grandemente no tempo histórico ou entre as culturas, podendo variar
também a partir de fatores, como classe social.
A sexualidade e o comportamento reprodutivo de adolescentes e jovens
começam a ser vistos, hoje, menos como um problema social e mais como um
tema de direito sexual e reprodutivos.
As questões e discussões atinentes ao exercício da sexualidade e da
reprodução humana atravessaram todo o século XX com marcos internacionais
importantes, entre eles, as três Conferências Internacionais da Mulher (México,
1975, Copenhague, 1980, Nairóbi, 1985).
A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, no Cairo,
1994, pautou os direitos reprodutivos, incluindo os adolescentes e atentando
para o fato de que, enquanto grupo, os adolescentes são particularmente
vulneráveis e ignorados pelos serviços de saúde reprodutiva.

70
Em 1995, a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em Pequim, retomou
a relação entre direitos e sexualidade, porém enquanto as diretrizes do Cairo
enfatizaram o direito à reprodução, foi no evento de Pequim que a sexualidade
assumiu relevância ao propor o respeito as diferentes expressões sexuais
que não seguem ao tradicional binômio normativo masculino/feminino; ou
seja, homossexuais, transexuais, travestis e transgêneros passaram a ter
seus direitos reconhecidos nas diretrizes de Pequim.
Desde o início dos anos 1990, praticamente todas as grandes conferências
da ONU, em diversos temas, realçam a importância dos direitos sexuais e
reprodutivos, em especial no tocante aos adolescentes, o que reforça um
processo global de conscientização em torno do tema e revela sua importância.
Os direitos sexuais e reprodutivos de crianças e adolescentes são
reconhecidos amplamente no cenário internacional e nacional, uma vez que o
Brasil é signatário de documentos resultados dos eventos que asseguram estes
direitos.

PRINCIPAIS MARCOS NORMATIVOS NO BRASIL


a) Lei Federal n. 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA);
b) Lei n. 12.594/2012 - SINASE
c) Resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(Conanda) n. 119/2006;
d) Portaria Interministerial n. 647/2008.

Embora se tenha esse conjunto normativo, há uma carência no ECA de


dispositivos que tratem da sexualidade ou dos direitos sexuais e reprodutivos de
adolescentes além da maternidade e da proteção contra o abuso e a exploração
sexual.

71
Ao tratar do direito à vida, a Lei destaca a prioridade no atendimento, e
assegura à gestante adolescente por meio do SUS (Sistema Único de Saúde)
o pré e perinatal e as demais condições básicas para a mãe e para a criança.
No entanto, a sexualidade como componente da personalidade deve ter seu
desenvolvimento pleno assegurado como condição fundamental do ser humano.

8.2. Protocolo de Atendimento a Crianças e Adolescentes

Para saber como agir nesses casos, é importante reforçar os tipos de


violências que podem ser praticadas contra crianças e adolescentes:
I. Violência física: uso da força física para castigar, punir, disciplinar
ou controlar a criança ou adolescente de forma intencional, não-acidental. É um
abuso de poder e pode deixar marcas como hematomas, arranhões, fraturas,
queimaduras, cortes, entre outros, causando danos ao desenvolvimento
emocional.
II. Violência psicológica: conjunto de atitudes, palavras e ações
que objetivam constranger, envergonhar, censurar e pressionar a criança ou o
adolescente de modo permanente, gerando situações vexatórias que podem
prejudica-lo em vários aspectos de sua saúde e de seu desenvolvimento.
III. Violência institucional: qualquer manifestação de violência
praticada contra crianças e adolescentes por instituições formais ou por seus
representantes, que são responsáveis por sua proteção.
IV. Violência sexual: violação dos direitos sexuais, no sentido de
abusar ou explorar do corpo e da sexualidade de crianças e adolescentes. Pode
ser classificado em abuso sexual (extra ou intrafamiliar) ou exploração sexual.
No abuso extrafamiliar o autor não tem vínculo de pertencimento familiar, e o
intrafamiliar por pessoas que são responsáveis ou familiares da vítima.
O que deve ser feito em casos de violência e exploração sexual de crianças
e adolescentes?

72
o Quando o agressor não for integrante da família:

o Quando o agressor for integrante da família:

8.3. Linha de Cuidado para Atenção Integral à Saúde de Crianças e


Adolescentes

A Linha de Cuidado é uma estratégia para a ação, um caminho para o


alcance da atenção integral ou a integralidade da atenção, um dos princípios

73
do Sistema Único de Saúde (SUS), que proporciona a produção do cuidado
desde a atenção primária até o mais complexo nível de atenção, exigindo ainda
a interação com os demais sistemas de garantia de direitos, proteção e defesa
de crianças e adolescentes.
O cuidado é uma atitude que demonstra preocupação, responsabilização
e solidariedade com a dor e o sofrimento do outro. A Política Nacional de
Humanização (PNH) coloca em evidência a dimensão do cuidado a partir da
compreensão do acolhimento como um ato de aceitação, credibilidade e
aproximação, ou seja, uma forma de fazer com que o outro se sinta pertencido.
Mais que uma atitude de solidariedade, uma atitude de inclusão.
A atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em
situações de violência em linha de cuidado fortalece a responsabilização dos
serviços, o envolvimento do profissional numa cadeia de produção do cuidado
em saúde e de proteção social no território.

Passo a passo para o cuidado de crianças e adolescentes:

74
Estudo de caso:

Mariana, criança de 2 anos não foi levada para vacinar por questões religiosas.
A vizinha ameaçou denunciar a mãe. Maria, a mãe de Mariana, ficou com receio
de ser presa. Como conselheiro tutelar, qual seria sua orientação?

Em que pese ser obrigatória a vacinação das crianças, nos casos recomendados
pelas autoridades sanitárias, o não cumprimento dessa obrigação pelos pais não
configura crime. Então não é o caso de prisão, porém cabe ao Conselho Tutelar
verificar a possibilidade de medida de proteção para o atendimento médico para
que a família conheça a importância da vacina.
“Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica
e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente
afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais,
educadores e alunos.
Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados
pelas autoridades sanitárias .”

No entanto, a efetivação do direito à saúde da criança e do adolescente é um


dos deveres que incumbe à família, conforme artigo 4º do ECA : “Art. 4º É dever
da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar,
com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária .”

75
Aula 9. A Diversidade e a Interseccionalidade

No final da década de 70, os estudos de gênero que contaram com a obra de


Beauvoir como marco são encampados por feministas negras dos Estados
Unidos. Pretendeu-se ali basear-se na emergência de categorias múltiplas de
diferenciação que, articulando-se ao gênero, permeavam o social, (PISCITELLI,
2008) para questionar, de forma contundente, o sentido e possibilidade de
existência de uma mulher “universal”, bem como a presença de um feminismo
predominantemente branco.
O feminismo interseccional incumbiu-se da tarefa complexa, mas necessária,
de identificar as especificidades que ensejam opressões, nas quais estruturas
de classe, raça, gênero e sexualidade não podem ser tratadas como “variáveis
independentes porque a opressão de cada uma está inscrita dentro da outra – é
constituída pela outra e é constitutiva dela” (BRAH, 2006, p. 351).
O conceito de interseccionalidade surge quando se começa a refletir mais
profundamente sobre a temática da multidiscriminação.
Interseccionalidade é uma reflexão teórica em desenvolvimento que reconhece
intercessões e interconexões entre sexo, gênero, raça, etnia, classe social,
orientação sexual, origem, que converte particularmente vulneráveis a diversas
formas de discriminação.

9.1. Crianças e Adolescentes Oriundas de Povos e Comunidades


Tradicionais

A Resolução nº 181, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do


Adolescente – CONANDA, dispõe sobre os parâmetros para interpretação dos
direitos e adequação dos serviços relacionados ao atendimento de Crianças e
Adolescentes pertencentes a povos e comunidades tradicionais no Brasil.

77
Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), as Comunidades Tradicionais constituem aproximadamente 5 milhões
de brasileiros e ocupam um quarto do território nacional. Por seus processos
históricos e suas condições específicas de pobreza e desigualdade, acabaram
vivendo em isolamento geográfico e/ou cultural, tendo pouco acesso às
políticas públicas de cunho universal, o que lhes colocou em situação de maior
vulnerabilidade socioeconômica, além de serem alvos de discriminação racial,
étnica e religiosa.
Crianças e adolescentes pertencentes a povos e comunidades tradicionais
são destinatárias da legislação nacional e de tratados internacionais de direitos
humanos pertinentes à infância e adolescência.
Visando efetivar os direitos e garantias de crianças e adolescentes
provenientes de povos e comunidades tradicionais, o CONANDA, em 2017,
instituiu, por meio da Resolução nº 197, a criação de Grupo Temático com a
finalidade de formular e propor estratégias de articulação de políticas públicas e
serviços para o atendimento e para a promoção, proteção e defesa dos direitos
dessas crianças e adolescentes.

9.2. Crianças e Adolescentes: Gênero e Discriminação

O ECA, em seu art. 3º, determina que todas as crianças e adolescentes


gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem
discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou
cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e
aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia
ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em
que vivem.
O tema da orientação sexual tem sido debatido, especialmente pelo
Ministério da Educação (MEC) por conta dos índices de bullying que crianças e
adolescentes têm sofrido na escola.
Nesse sentido, foi homologada em 17 de janeiro de 2018 uma Resolução
do Ministério da Educação (MEC) que autoriza o uso do nome social de travestis
e transexuais nos registros escolares da educação básica. A norma buscou

78
propagar o respeito e minimizar estatísticas de violência e abandono da escola
em função de bullying, assédio, constrangimento e preconceitos.
A resolução do MEC também orienta no sentido de que as escolas de
educação básica estabeleçam diretrizes e práticas para o combate a quaisquer
formas de discriminação em função de orientação sexual e identidade de gênero.
A educação básica inclui a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino
médio. É importante destacar que a resolução é orientadora, mas não tem força
de Lei.
Outra resolução importante nesse contexto, foi publicada em 24 de
setembro de 2018 pelo Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS que
traz diretrizes para o atendimento da população LGBT no Sistema Único da
Assistência Social – SUAS, a resolução foi aprovada conjuntamente com o
Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – CNCD/LGBT (Resolução
Conjunta CNAS e CNCD/LGBT Nº 01/2018) e pode ser usada como referência.

ESTÁ NA RESOLUÇÃO 01/2018 CNAS/CNCD/LGBT:


Art. 3 A garantia do reconhecimento da identidade de gênero deve ser estendida
também para crianças e adolescentes, em diálogo com os responsáveis.
Art. 10 Os Serviços Socioassistenciais deverão dirigir especial atenção em relação
as crianças e adolescentes LGBT, em particular para a trajetória de construção de
identidade mulheres transexuais/travestis e homens trans, comumente cercada
por incompreensões, falta de informação, violência e violação de direitos no seio
intrafamiliar, que frequentemente ocasionam o rompimento de vínculos familiares
e comunitários destas pessoas.

9.3. Crianças e Adolescentes Indígenas

Para entender a realidade que se aplica às crianças e adolescentes


indígenas, é importante discorrer antes sobre os direitos humanos de modo
mais abrangente na sociedade brasileira e reconhecer sua dimensão histórica,
reconhecer o fato de que eles não foram uma revelação para a humanidade,

79
mas sim uma conquista ao longo da história humana, a partir de evoluções,
das modificações nas realidades social, política, industrial econômica, enfim em
todos os campos da atuação humana.
No que se refere aos índios, a própria Constituição Federal estabelece
proteção especial à cultura indígena para impedir a imposição de regras e
comportamentos estranhos à sua organização social e cultural, ao mesmo tempo
em que cria certas barreiras à elegibilidade e ao direito de votar.
Não há dúvidas de que os indígenas e negros correspondem a uma parcela
da população brasileira em desigualdade e, não poderia ser diferente em relação
aos direitos de crianças e adolescentes indígenas e negros.
Que medidas são asseguradas às crianças e adolescentes indígenas?
O Brasil incorpora a Doutrina da Proteção Integral em seu art. 227 da
CF/88. No entanto, a responsabilidade em garantir a obediência a esses direitos
foi compartilhada solidariamente entre a família, sociedade e Estado. Embora
este artigo tenha sido definidor de direitos fundamentais e de imediata aplicação,
foi papel do ECA arquitetar o sistema de proteção integral.
Agora de acordo com a Doutrina da Proteção Integral, crianças e
adolescentes são sujeitos de direitos, detendo uma proteção especial e
complementar de seus direitos, dirigindo-se a absolutamente todas as crianças
e adolescentes, sejam brancas, negras e indígenas, não dando espaço para
exceções.
A busca por essa igualdade tem mobilizado o poder público a desenvolver
políticas especializadas para essa população a fim de garantir o vínculo com a
sua história e o respeito aos seus direitos de forma a tratá-los com a isonomia
necessária em relação às outras crianças e adolescentes do Brasil.
Recentemente é que esse quadro começou a mudar. Grupos organizados
da sociedade civil passaram a trabalhar junto com comunidades indígenas,
procurando alternativas à submissão desses grupos, como a garantia de seus
territórios e formas menos violentas de relacionamento e convivência entre essas
populações e outros segmentos da sociedade nacional.
O MEC vem desenvolvendo projetos educacionais especializados para
crianças e adolescentes indígenas. A escola entre grupos indígenas ganhou

80
um novo significado e um novo sentido, como meio para assegurar o acesso
a conhecimento gerais sem precisar negar as especificidades culturais e a
identidade daqueles grupos.
Os projetos educacionais foram construídos de acordo com a realidade
sociocultural e histórica de determinados grupos indígenas, praticando a
interculturalidade e o bilinguismo, bem como adequando-se ao projeto de futuro.
O tamanho reduzido da população indígena, sua dispersão e
heterogeneidade tornam difícil a implementação de uma política educacional
adequada. Por esse motivo, reafirma-se a importância da Constituição Federal
ter assegurado o direito das comunidades indígenas a uma educação escolar
diferenciada, específica, cultural e bilíngue, o que vem sendo regulamentado em
vários textos legais.
Uma ação importante foi a transferência da responsabilidade pela educação
indígena da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) para o MEC, representando
não apenas uma mudança do órgão federal gerenciador do processo, mas uma
mudança em termos de execução (se antes as escolas indígenas eram mantidas
pela FUNAI ou secretarias estaduais e municipais de educação, agora cabe aos
Estados assumirem essa tarefa).

Principais referências sobre o tema:


Constituição Federal: assegura às comunidades indígenas a utilização de suas
línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.
Ministério da Educação: responsável pela coordenação das ações escolares
das escolas indígenas.
Estados e Munícipios: responsável pelas execuções das ações.

METAS E OBJETIVOS PARA EDUCAÇÃO INDÍGENA:


1. Atribuir aos Estados a responsabilidade legal pela educação indígena,
quer diretamente, quer através de delegação de responsabilidades aos seus
Municípios, sob a coordenação geral e com o apoio financeiro do Ministério da
Educação.

81
2. Universalizar imediatamente a adoção das diretrizes para a política nacional
de educação escolar indígena e os parâmetros curriculares estabelecidos pelo
Conselho Nacional de Educação e pelo Ministério da Educação.
3. Universalizar, em dez anos, a oferta às comunidades indígenas de programas
educacionais equivalentes às quatro primeiras séries do ensino fundamental,
respeitando seus modos de vida, suas visões de mundo e as situações
sociolinguísticas específicas por elas vivenciadas.
4. Ampliar, gradativamente, a oferta de ensino de 5ª a 8ª série à população
indígena, quer na própria escola indígena, quer integrando os alunos em
classes comuns nas escolas próximas, ao mesmo tempo que se lhes ofereça o
atendimento adicional necessário para sua adaptação, a fim de garantir o acesso
ao ensino fundamental pleno.
5. Fortalecer e garantir a consolidação, o aperfeiçoamento e o reconhecimento
de experiências de construção de uma educação diferenciada e de qualidade
atualmente em curso em áreas indígenas.
6. Criar, dentro de um ano, a categoria oficial de “escola indígena” para que a
especificidade do modelo de educação intercultural e bilíngüe seja assegurada.
7. Proceder, dentro de dois anos, ao reconhecimento oficial e à regularização
legal de todos os estabelecimentos de ensino localizados no interior das terras
indígenas e em outras áreas assim como a constituição de um cadastro nacional
de escolas indígenas.
8. Assegurar a autonomia das escolas indígenas, tanto no que se refere ao projeto
pedagógico quanto ao uso de recursos financeiros públicos para a manutenção
do cotidiano escolar, garantindo a plena participação de cada comunidade
indígena nas decisões relativas ao funcionamento da escola.
9. Estabelecer, dentro de um ano, padrões mínimos mais flexíveis de infraestrutura
escolar para esses estabelecimentos, que garantam a adaptação às condições
climáticas da região e, sempre que possível, as técnicas de edificação próprias
do grupo, de acordo com o uso social e concepções do espaço próprias de cada
comunidade indígena, além de condições sanitárias e de higiene.
10. Estabelecer um programa nacional de colaboração entre a União e os Estados

82
para, dentro de cinco anos, equipar as escolas indígenas com equipamento
didático-pedagógico básico, incluindo bibliotecas, videotecas e outros materiais
de apoio.
11. Adaptar programas do Ministério da Educação de auxílio ao desenvolvimento
da educação, já existentes, como transporte escolar, livro didático, biblioteca
escolar, merenda escolar, TV Escola, de forma a contemplar a especificidade
da educação indígena, quer em termos do contingente escolar, quer quanto aos
seus objetivos e necessidades, assegurando o fornecimento desses benefícios
às escolas.**
12. Fortalecer e ampliar as linhas de financiamento existentes no Ministério da
Educação para implementação de programas de educação escolar indígena,
a serem executados pelas secretarias estaduais ou municipais de educação,
organizações de apoio aos índios, universidades e organizações ou associações
indígenas.
13. Criar, tanto no Ministério da Educação como nos órgãos estaduais de
educação, programas voltados à produção e publicação de materiais didáticos
e pedagógicos específicos para os grupos indígenas, incluindo livros, vídeos,
dicionários e outros, elaborados por professores indígenas juntamente com os
seus alunos e assessores.
14. Implantar, dentro de um ano, as diretrizes curriculares nacionais e os
parâmetros curriculares e universalizar, em cinco anos, a aplicação pelas escolas
indígenas na formulação do seu projeto pedagógico.
15. Instituir e regulamentar, nos sistemas estaduais de ensino, a profissionalização
e reconhecimento público do magistério indígena, com a criação da categoria
de professores indígenas como carreira específica do magistério, com concurso
de provas e títulos adequados às particularidades linguísticas e culturais das
sociedades indígenas, garantindo a esses professores os mesmos direitos
atribuídos aos demais do mesmo sistema de ensino, com níveis de remuneração
correspondentes ao seu nível de qualificação profissional.
16. Estabelecer e assegurar a qualidade de programas contínuos de formação
sistemática do professorado indígena, especialmente no que diz respeito aos

83
conhecimentos relativos aos processos escolares de ensino-aprendizagem, à
alfabetização, à construção coletiva de conhecimentos na escola e à valorização
do patrimônio cultural da população atendida.
17. Formular, em dois anos, um plano para a implementação de programas
especiais para a formação de professores indígenas em nível superior, através
da colaboração das universidades e de instituições de nível equivalente.
18. Criar, estruturar e fortalecer, dentro do prazo máximo de dois anos, nas
secretarias estaduais de educação, setores responsáveis pela educação
indígena, com a incumbência de promovê-la, acompanhá-la e gerenciá-la.
19. Implantar, dentro de um ano, cursos de educação profissional, especialmente
nas regiões agrárias, visando à auto sustentação e ao uso da terra de forma
equilibrada.
20. Promover, com a colaboração entre a União, os Estados e Municípios e em
parceria com as instituições de ensino superior, a produção de programas de
formação de professores de educação a distância de nível fundamental e médio.
21. Promover a correta e ampla informação da população brasileira em geral, sobre
as sociedades e culturas indígenas, como meio de combater o desconhecimento,
a intolerância e o preconceito em relação a essas populações.

A proposta de uma educação indígena diferenciada, de qualidade,


representa um grande avanço no sistema educacional do país e exige das
instituições e órgãos responsáveis a definição de novas dinâmicas, concepções
e mecanismos, para que estas escolas sejam incorporadas e beneficiadas com
sua inclusão no sistema oficial e que sejam respeitadas em suas peculiaridades.

84
9.4. Crianças e Adolescentes com Deficiência

A criança e adolescente com deficiência também têm os mesmos


direitos assegurados pelo ECA, destacando-se a busca por contemplar suas
necessidades, objetivando diminuir a exclusão social e o preconceito.

ONDE ESTÃO ESSES DIREITOS NO ECA?


Direito à vida e à saúde
Art. 11. [...]
§ 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento
especializado.
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem
os medicamentos, próteses e outros recursos relativos a tratamento, habilitação
e reabilitação.
Direito à educação
Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: [...]
III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência
preferencialmente na rede regular de ensino.
Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido.
Medidas Socioeducativas
Art. 112. [...]
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão
tratamento individual especializado, em local adequado às suas condições.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 54 e a Constituição


Federal em seu artigo 208, se referem ao atendimento educacional especializado
aos portadores de deficiências, preferencialmente na rede regular de ensino.
Assim estabelecendo que o dever do Estado com a educação será efetivado
mediante a garantia de atendimento educacional especializado aos portadores
de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.
O Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, regulamentando a Lei
nº 7.853 reforça o preceito constitucional em seu Art. 2º enfatizando que cabe

85
aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar à pessoa portadora de
deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à
educação.
Na Política Nacional de Educação Especial (MEC/SEESP, 1994), o MEC
estabeleceu como diretrizes da Educação Especial apoiar o sistema regular de
ensino para a inserção dos portadores de deficiências, e dar prioridade quando
do financiamento a projetos institucionais que envolvam ações de integração.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96),
o Plano Nacional de Educação, Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, e as
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Resolução
CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001) também dão suporte jurídico para a
inclusão de crianças e adolescentes com deficiência na educação.
Verifica-se que muitos foram os avanços normativos nessa área. Hoje,
nenhuma escola pode se recusar a aceitar qualquer criança com deficiência. Mais
que isso, essas crianças e adolescentes conquistaram o direito de frequentar
a escola e participar plenamente de todos os aspectos da vida escolar. A Lei
Brasileira de Inclusão (LBI), aprovada em 2015, determina que o acesso de
crianças e adolescentes com deficiência à educação não pode mais ser negado,
sob qualquer argumento, tanto na rede pública quanto na privada. A lei proíbe,
ainda, a cobrança de qualquer valor adicional nas mensalidades e anuidades
para esse público.

9.5. Crianças e Adolescentes Migrantes e/ou em Situação de Fronteira

Considera-se migrante toda a pessoa que se transfere de seu lugar


habitual, de sua residência comum, ou de seu local de nascimento, para outro
lugar, região ou país.

“Migrante” é o termo frequentemente usado para definir as migrações em geral,


tanto de entrada quanto de saída de um país, região ou lugar. Há, contudo,
termos específicos para a entrada de migrantes – Imigração – e para a saída
– Emigração. Há, também, “migrações internas”, para referir os migrantes
que se movem dentro do país, e “migrações internacionais”, referindo-se aos
movimentos de migrantes entre países, além de suas fronteiras.

86
Segundo a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), 25,4
milhões de pessoas em 2017 foram forçadas a deixar suas comunidades e países
de origem, sendo consideradas refugiadas. Mais da metade desse contingente
era de crianças. Em contextos de deslocamento forçado ou migração, crianças
e adolescentes podem enfrentar vulnerabilidades específicas, com impactos
negativos de longo prazo para sua saúde física e mental.
Que medidas de atendimento são adotadas para crianças e adolescentes
migrantes?
Além de um atendimento prioritário, da sensibilidade na identificação, da
representação legal para os desacompanhados, a proteção e o referenciamento
especializado são essenciais, e devem estar sempre no melhor interesse da
criança e do adolescente.
Deve-se se assegurar que todos os atores envolvidos tenham
conhecimento das necessidades especiais no atendimento de crianças e
adolescentes, especialmente as medidas protetivas às crianças e adolescentes
migrantes, vítimas de tráfico de pessoas e refugiados, notadamente aquelas não
acompanhadas de responsáveis.
O direito a migrar é conferido pela Declaração Universal de Direitos
Humanos (art. 13.2). A obrigação de acolhida humanitária fixada na Lei de
Migração 13.445/2017 (art. 3º, VI). A necessidade de garantir o princípio da não
devolução aos solicitantes de refúgio está prevista na Convenção Relativa ao
Estatuto dos Refugiados (Decreto 50.215/1961) e na Declaração de Cartagena, de
1984, bem como a proteção internacional complementar ao refúgio estabelecida
na Lei 9.474/1997 (art. 32).
Outras normas ainda dispõem sobre o tema. Dentre elas: a Convenção
nº 169, da OIT, sobre Povos Indígenas e Tribais; a Resolução 01/2017, conjunta
entre CONANDA, Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), Conselho
Nacional de Imigração (CNIg) e Defensoria Pública da União (DPU), que
estabelece procedimentos de identificação preliminar e atenção para crianças e
adolescentes estrangeiros desacompanhados ou separados.
O fluxo migratório crescente em direção ao Brasil, que tem como principal
porta de entrada o estado de Roraima já se mostra presente em outros estados,
o que indica tratar-se de uma questão nacional.

87
RECOMENDAÇÕES NORMATIVAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
1. Ao Sistema de Garantia dos Direitos, em nível estadual e municipal:
1.1. A busca ativa de crianças e adolescentes em situação de migração, bem
como de seus núcleos familiares;
1.2. A matrícula de crianças e adolescentes migrantes em escolas regulares; 1.3.
O desenvolvimento de ações de promoção dos direitos à alimentação saudável,
ao brincar, à convivência familiar e comunitária, à educação, ao lazer, à saúde;
1.4. O desenvolvimento de ações de prevenção de todas as formas de violência
contra crianças e adolescentes, especialmente o tráfico de pessoas, a exploração
sexual e o trabalho infantil;
1.5. Para a implementação das ações devem ser observados e preservados a
identidade cultural, etnia, hábitos e costumes, contemplando o público infanto-
juvenil, com relação a todas as políticas aplicadas e serviços executados.
2. Ao Poder Executivo federal:
2.1. O fortalecimento do Sistema de Garantia dos Direitos de Crianças e
Adolescentes, a nível estadual e municipal, por meio da capacitação de seus
profissionais, especialmente conselheiros tutelares;
2.2. A priorização de crianças e adolescentes em situação de migração, bem
como de seus núcleos familiares, no âmbito das estratégias de interiorização
para estados.

88
Estudo de caso:

Sérgio, conselheiro tutelar, recebeu uma denúncia, na madrugada de sábado, de


que havia uma criança na rua, aparentemente com problemas de saúde.
Sérgio, preocupado com a situação da criança, acionou uma ambulância e o
apoio da Polícia Militar, tendo em vista que a criança se encontrava em local da
cidade considerado violento, e o levou ao pronto socorro mais próximo do local.
A atitude de Sérgio foi correta? Havia necessidade de acionar a Polícia Militar ou
Sérgio poderia ter agido sozinho?
Atender crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade ou de risco é a
função elementar do Conselho Tutelar, independentemente do horário, do local
e do lugar, seja em espaço público, seja em ambiente privado.
Havendo necessidade de atuação do Conselho Tutelar em local tido como
perigoso, em horário noturno, ou em qualquer situação na qual possa haver
risco à integridade física e à segurança do Conselheiro Tutelar, basta que haja
solicitação ou requisição fundamentada de suporte e apoio da Policia Militar.

89
ANEXO I – DOCUMENTOS REFERENCIAIS

MÓDULO 1. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

Aula 1. O Conceito de Infância e os desafios da pós-modernidade

• Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948


• Declaração Universal dos Direitos das Crianças – 1959
• Convenção sobre os Direitos da Criança – 1989
• Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB/88
• Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei
8.069/1990.

Aula 2. Normas Internacionais e Nacionais

• Declaração Universal dos Direitos Humanos.


• Declaração Universal dos Direitos das Crianças.
• Convenção sobre os Direitos da Criança.
• Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
Criança relativo à Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantis.
• Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
Criança relativo ao Envolvimento de Crianças em Conflitos Armados.
• Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da
Criança Relativo a um Procedimento de Comunicações.
• CRFB/88: Princípios fundamentais, arts. 1º, 3º, 4º; Direitos
e garantias fundamentais, Art. 5º; Direitos sociais, arts. 6º, 7º; Saúde,
art. 196; Assistência Social, art. 203; Educação, arts. 205 a 214; Cultura,
art. 215; Desporto, art. 217; Família, da Criança, do Adolescente, do
Jovem e do Idoso – 226 a 229.
• Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei
8.069/1990.
• Estatuto da Juventude – Lei 2.852/2013.

91
Aula 3. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Sistema
de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGD)

• Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei


8.069/1990: Título I Das Disposições Preliminares; Título II Dos Direitos
Fundamentais; Título III Da Prevenção; Parte Especial, Título I Da
Política de Atendimento; Título II Das Medidas de Proteção; Título III Da
Prática de Ato Infracional; Título IV Das Medidas Pertinentes aos Pais
ou Responsável; Título V Do Conselho Tutelar; Título VI Do Acesso
à Justiça; Título VII Dos Crimes e Das Infrações Administrativas;
Disposições Finais e Transitórias.
• Resolução Conanda nº 105/2005: Dispõe sobre os
Parâmetros para Criação e Funcionamento dos Conselhos dos
Direitos da Criança e do Adolescente e dá outras providências.
• Resolução Conanda nº 113/2006: Dispõe sobre os
parâmetros para a institucionalização e fortalecimento do Sistema de
Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.
• Resolução Conanda nº 117/2006: Altera dispositivos
da Resolução n° 113/2006, que dispõe sobre os parâmetros para
a institucionalização e fortalecimento do Sistema de Garantia dos
Direitos da Criança e do Adolescente.
• Resolução Conanda nº 139/2010: Dispõe sobre os
parâmetros para a criação e funcionamento dos Conselhos Tutelares
no Brasil, e dá outras providências.

MÓDULO 2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO, GARANTIA


E DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES

Aula 4. Educação em Direitos Humanos para Criança e


Adolescente

• Resolução Conanda nº 163/2014: Dispõe sobre a


92
abusividade do direcionamento de publicidade e de comunicação
mercadológica à criança e ao adolescente.
• Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e
Adolescentes.
• Plano Nacional dos Direitos Humanos 3 - PNDH 3.

Aula 5. Direito à Convivência Familiar e Comunitária

• Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa


do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e
Comunitária.
• Convenção relativa à Proteção das Crianças e à
Cooperação em matéria de Adoção Internacional.

Aula 6. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo –


SINASE

• Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração


da Justiça da Infância e da Juventude – Regras de Pequim.
• Resolução Conanda nº 160/2013: Aprova o Plano Nacional
de Atendimento Socioeducativo.
• Resolução Conanda nº 210/2018: Dispõe sobre os direitos
de crianças cujas mães, adultas ou adolescentes, estejam em situação
de privação de liberdade.

Aula 7. O Enfrentamento das Violências contra a Criança e ao


Adolescente

• Convenção sobre a Idade Mínima para Admissão em


Emprego – Convenção nº 138-OIT.
• Convenção sobre a Proibição das Piores Formas de
Trabalho Infantil e a Ação Imediata para a sua Eliminação – Convenção
nº 182-OIT.
• Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional de
93
Menores.
• Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional.
• Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra
o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças -
Protocolo de Palermo.
• Convenção sobre a Jurisdição, Lei Aplicável,
Reconhecimento, Execução e Cooperação em Matéria de
Responsabilidade Parental e Medidas de Proteção de Crianças.
• Convenção sobre os Aspectos Civis do Rapto Internacional
de Crianças – 1980.
• Diretrizes dos Congressos mundiais de Enfrentamento da
Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes: Estocolmo (1996),
Yokohama (2001) e Rio de Janeiro (2008).
• Resolução Conanda nº 148/2011: Torna público o Plano
Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção
ao adolescente trabalhador.
• Resolução Conanda nº 162/2014: Aprova o Plano Nacional
de Enfrentamento da Violência Sexual Contra Crianças de Adolescentes.
• Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as
Mulheres.
• Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
• Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
• Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

Aula 8. Atenção Integral à Saúde de Crianças e Adolescentes

• Resolução Conanda nº 169/2014: Dispõe sobre a proteção


dos direitos de crianças e adolescentes em atendimento por órgãos e
entidades do Sistema de Garantia de Direitos, em conformidade com a
política nacional de atendimento da criança e do adolescente prevista
nos arts. 86, 87, incisos I, III, V e VI e 88, da Lei no 8.069, de 13 de julho
de 1990.
94
• Norma Técnica - Prevenção e Tratamento dos Agravos
Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes.
• Portaria Interministerial nº 02/2006 - GTI para elaboração
do Plano de Atenção e Proteção Integral às crianças, aos adolescentes.
• Portaria MS nº 2.048/2009 - Aprova o Regulamento do SUS.
• Portaria MS nº 2.230/2009 – Aplicação da portaria que
aprovou a regulamentação do SUS.
• Portaria MS nº 04/2011 - Define terminologias adotadas no
Regulamento Sanitário Internacional, a relação de doenças, agravos e
eventos em saúde pública de notificação compulsória – 2011.

Aula 9. A Diversidade e Interseccionalidade

• Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos


Humanos de LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais).
• Política para Pessoas com Deficiência.
• Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial.
• Política Nacional para População em Situação de Rua.

95
ANEXO II – REFERÊNCIAS DE FILMES E VÍDEOS

A Visita (2014), Leandro Corinto | Brasil


O curta narra a expectativa do pequeno Matheus em conhecer seu pai
biológico. Criado pelo tio, ele pela primeira vez encontrará o homem de
quem não tem lembranças.

O Contador de Histórias (2009), de Luiz Villaça


O filme narra a relação de amizade que se constrói entre Roberto Carlos
Ramos, um menino falador e imaginativo, que vive em uma entidade
assistencial, e a pedagoga francesa Margheretti Duvas.

6 Cups of Chai – Laila Khan (Índia, 2014, 7′)


O menino Dharavi trabalha como vendedor de chá e mora na favela mais
pobre de Mumbai, na Índia. Ele alimenta um simples desejo: ir à escola
como as outras crianças.

Growing – Tariq Rimawi (Jordânia, 2013, 5′)


Animação sobre uma criança que brinca com arma de brinquedo e cresce
junto com ela.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho – Daniel Ribeiro (Brasil, 2014, 95′)


Leonardo, um adolescente cego, tem de lidar com a mãe superprotetora ao
mesmo tempo em que busca sua independência. Quando Gabriel chega à
cidade, novos sentimentos começam a surgir em Leonardo, fazendo com
que ele descubra mais sobre si mesmo e sua sexualidade.

Meu Amigo Nietzsche – Fáuston da Silva (Brasil, 2013, 15’)


Filmado na periferia de Brasília, traz a história do garoto Lucas, que
encontra no lixão um livro de Nietzsche. A obra faz a vida dele mudar.

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Requília – Renata Diniz (Brasil, 2013, 15’53”)
Um garoto de 7 anos se afeiçoa por um homem em situação de rua. O curta-
metragem traz a história dessa amizade inesperada entre personagens de
diferentes gerações e classes sociais.

Sanã – Marcos Pimentel (Brasil, 2013, 18′)


No interior do estado do Maranhão, as buscas de um menino pela imensidão
da paisagem.

Sophia – Kennel Rógis (Brasil, 2013, 15′)


No intuito de entender melhor o universo de Sophia, Joana, mãe dedicada,
vive uma sucessão de experiências. Uma história de amor cercada de
poesia visual e delicada trilha sonora.

Quando a Casa é a Rua – Thereza Jessouroun (Brasil, 2012, 35’)


O que leva crianças e jovens a viver na rua? O documentário procura
responder a essa pergunta com depoimentos e imagens cotidianas de
jovens que cresceram nas ruas da Cidade do México e do Rio de Janeiro.

Leve-me Pra Sair – Zé Agripino (Coletivo Lumika) (Brasil, 2012, 19’)


Retrata um grupo de adolescentes gays da cidade de São Paulo e suas
visões de mundo.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação / Ação Educativa – São Paulo: Ação Educativa, 2013, 1ª edição A.
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