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Modo de vida e produção dos ribeirinhos do Pantanal do Mato Grosso do Sul. Dados levantados em pesquisa de campo realizada entre janeiro e novembro de 2016 por pesquisadores da empresa CSA Consultoria Socioambiental Ltda.
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As Comunidades Ribeirinhas Do Pantanal Do Mato Grosso Do Sul (José Renato Teixeira da Silva, sociólogo)
Modo de vida e produção dos ribeirinhos do Pantanal do Mato Grosso do Sul. Dados levantados em pesquisa de campo realizada entre janeiro e novembro de 2016 por pesquisadores da empresa CSA Consultoria Socioambiental Ltda.
Modo de vida e produção dos ribeirinhos do Pantanal do Mato Grosso do Sul. Dados levantados em pesquisa de campo realizada entre janeiro e novembro de 2016 por pesquisadores da empresa CSA Consultoria Socioambiental Ltda.
1 As Comunidades ribeirinhas do Pantanal do Mato Grosso do Sul
No presente capítulo são abordadas especificidades das populações
lindeiras aos rios pantaneiros em caráter complementar às análises realizadas por distritos, nos quais se inserem estas comunidades. Basicamente, tais populações estavam estabelecidas à margem dos rios Paraguai, Paraguai Mirim, São Lourenço, Taquari e Negrinho.
Ribeirinho é uma referência ao morador de beira de rio que encontra nos
recursos hídricos, e nos demais elementos naturais circundantes, os meios de vida e produção. Para estas populações, rios são elementos estruturantes dos sistemas culturais, sendo mais do que uma fonte para o provimento dos bens necessários à subsistência humana. Para os ribeirinhos, os rios são ainda, o principal - e às vezes o único - recurso para a mobilidade: o meio que possibilita os deslocamentos sobre o território e o contato entre as comunidades e com o mundo exterior.
Estas interações entre os seres humanos e a natureza determinam a
elaboração, de uma maneira simbólica, de um conjunto de crenças e valores relacionados à ocorrência de fenômenos, tais como: as oscilações entre as cheias e as secas, a morte de grande quantidade de peixes e outros animais em certos períodos, as interações entre as demais criaturas vivas entre si, as representações de saúde e doença, entre outros. Do ponto de vista prático, o modo de viver ribeirinho implica a elaboração de utensílios para a mediação da relação dos seres humanos com o rio, como os aparatos que dão suporte à pesca, à coleta, à navegação e ao uso da água para o consumo humano.
No caso específico das populações residentes às margens dos rios e
outros elementos hídricos no Pantanal do Mato Grosso do Sul, observa-se que uma porção considerável dos mesmos, inclusive entre criadores de gado, reproduz parcialmente estas características reconhecidas, pela literatura especializada, nos ribeirinhos tradicionais. É preciso tratar, portanto, também estes indivíduos e suas famílias como ribeirinhos, ainda que o conceito, neste caso específico, ganhe contornos especiais. Deixar de tratar estas populações como ribeirinhas, poderia impor limitações e dificuldades à compreensão dos seus sistemas sociais. É reconhecível, entre grupos de indivíduos que praticam uma incipiente agricultura e a criação de animais para a própria subsistência, de forma autônoma ou empregados em estabelecimentos pecuários, certos hábitos e costumes típicos aos ribeirinhos - como os deslocamentos exclusivos por via fluvial e a utilização do pescado, obtido de forma direta pela pesca artesanal, como complemento à dieta alimentar. Tais indivíduos, juntamente com suas famílias habitam as margens dos rios Paraguai, São Lourenço, Piquiri, Paraguai- Mirim, Taquari e Nabileque em praticamente todas as regiões banhadas por estes rios e que formam o Pantanal sul-mato-grossense.
As informações coletadas para este estudo permitiram reunir os domicílios
e estabelecimentos agropecuários lindeiros aos rios pantaneiros em grupos de atores sociais definidos pelo tipo de interação sociocultural e socioeconômica com os elementos ambientais presentes nas regiões em que vivem. Em termos objetivos foi organizada a seguinte tipologia: 1) isqueiros e/ou pescadores - ribeirinhos tradicionais, 2) indígenas, 3) habitantes de estabelecimentos pecuários – criadores de gado em margem de rio, 4) habitantes de RPPN em margem de rio, 5) habitantes das comunidades lindeiras ao rio Taquari e 6) habitantes da localidade Porto do Índio e escola Jatobazinho. Figura 1 – Grupos de atores sociais lindeiros aos rios do Pantanal sul-mato-grossense
Fonte: CSE Pantanal, 2016
Como se vê, para os interesses do presente estudo, são tomadas como
ribeirinhas as famílias cujo modo de viver, ou produzir, depende de maneira direta dos cursos d’´agua, como é o caso dos pescadores/coletores, ou indireta como se percebeu entre os produtores rurais que se dedicam à pecuária - extensiva ou de subsistência e às formas incipientes de agricultura, como o cultivo da mandioca, os quais se utilizam das vias aquáticas para os seus deslocamentos e/ou transporte de bens. A alusão aos produtores rurais, que aqui se faz, restringe-se aos trabalhadores de fazendas de criação de gado bovino que habitam os locais de embarque, chamados portos, como Porto Santana, Porto Abath, Porto Sagrado e Porto São Benedito no rio Taquari e Porto do Alegre, no rio São Lourenço e Porto Chané, no rio Paraguai.