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A seca na
Bahia
Foto: Acervo SEAGRI
Luiz Miranda1
M ais uma vez a Bahia en-
frenta uma seca. Compre-
ender o fenômeno das secas
pre foi abordado sob viés técnico.
Em alguns casos, são estudados
os aspectos relativos aos seus
é necessário para o uso sus- impactos econômicos e sociais.
tentável dos limitados recursos Neste estudo, contudo, analisa-
hídricos da região semiárida do mos do ponto de vista conceitu-
Estado. Nesse contexto, estu- al, bem como sua variabilidade
dos para a melhoria da previsão espacial e temporal. Além desses
de secas, com base nos dados aspectos, buscamos descobrir,
meteorológicos disponíveis e, com os erros e acertos do pas-
em tempo hábil, de forma que sado, um caminho seguro para
medidas possam ser tomadas, nortear as ações que permitam
no sentido de minorar seus efei- produzir com segurança no Semi-
tos, torna-se crucial. árido nordestino.
1 – Engenheiro Agrônomo, Diretor de Pecuária da Supe-
rintendência de Desenvolvimento Agropecuário – SDA/ Na Região Nordeste do Brasil, o Grande parte de nosso planeta
SEAGRI, Salvador – BA;
e-mail: lmluizmiranda@gmail.com fenômeno das secas nem sem- pertence à denominada área de
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risco à seca. São regiões onde
CARACTERIZAÇÃO
DA REGIÃO
NORDESTE
Além dos estados que compõem
a Região Nordeste, essa região Agreste vai desde o litoral do Ceará e Rio
ainda é subdividida em quatro Grande do Norte (neste último, até
sub-regiões de acordo com ca- É a sub-região de transição entre próximo a cidade de Natal), até a
racterísticas climáticas e de urba- a Zona da Mata, bastante úmida, região sudoeste da Bahia. As chu-
nização (IBGE, 2012): e o Semiárido, região bastante vas são escassas e, por isso, a
seca, acompanhando a faixa da pecuária e agricultura são ativida-
Zona da Mata Zona da Mata do Rio Grande do des bastante difíceis na região. O
Norte ao sul da Bahia. No Agres- único rio perene do sertão é o São
É a sub-região mais populosa e te, predominam os minifúndios Francisco do qual é desviada água
urbanizada. Compreende a faixa dedicados à produção de subsis- para irrigação em alguns locais e
litorânea (aproximadamente 200 tência e a pecuária leiteira, sendo que também é fonte de energia
km de largura) que vai do Estado o excedente comercializado na através de hidrelétricas como a de
do Rio Grande do Norte à Bahia região da Zona da Mata. Sobradinho (BA). A vegetação típi-
(litoral leste da região Nordeste) e ca dessa sub-região é a caatinga.
é caracterizada pelo clima tropical Sertão
úmido, presença de mata atlânti- Meio-Norte
ca, pluviosidade bastante regular, Sub-região de clima semiárido que
principalmente na região sul da compreende o centro da região Esta sub-região já apresenta uma
Bahia, e solo bastante fértil. Nordeste, em uma extensão que pluviosidade maior conforme se
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afasta para oeste, em direção aos ção pluviométrica média anu- Todos esses Estados compreen-
Estados do Norte e compreende al inferior a 800 milímetros; dem uma área de 1.108.434,82
o Estado do Maranhão e grande 2) índice de aridez de até 0,5, calcu- km², o que equivale a 10,5% do
parte do Piauí. Nesta região é co- lado pelo balanço hídrico que rela- território nacional e 53,9% do
mum a presença das “matas de ciona as precipitações e a evapo- território nordestino englobando
cocais”. As principais atividades ração potencial entre 1961 e 1990; 1.348 municípios, distribuídos pe-
praticadas são a criação de gado, 3) risco de seca maior que 60%, los Estados do Piauí (214), Ceará
o cultivo de algodão e arroz. tomando por base o período (180), Rio Grande do Norte (161),
entre 1970 e 1990. Baseado nes- Paraíba (223), Pernambuco (145),
Em 10 de março de 2005, o Mi- ses novos critérios, a área classi- Alagoas (51), Sergipe (32), Bahia
nistério da Integração Nacional ficada como Semiárido brasileiro (256) e Minas Gerais (86), cujas
publicou Portaria que instituiu a aumentou de 892.309,4 km2 para populações totalizam 20.858.264
nova delimitação do Semiárido 969.589,4 km2 (BRASIL, 2005). pessoas, sendo 40% residindo
brasileiro, resultante do traba- na área rural. A Insolação média é
lho que atualizou os critérios de Esta área integra parte de oito es- de 2.800 h/ano, com evaporação
seleção e os municípios que tados nordestinos (Alagoas, Bahia, média de 2.000 mm/ano e umida-
passam a fazer parte dessa Ceará, Minas Gerais, Paraíba, de relativa do ar média em torno
região. A nova delimitação to- Pernambuco, Piauí, Rio Grande de 50% (BRASIL, 2005).
mou por base três critérios do Norte e Sergipe) e parte do
técnicos, a saber: 1) precipita- norte de Minas Gerais (Mapa 1).
O FENÔMENO
Mapa 1 NOVA DELIMITAÇÃO DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO DA SECA
CAUSAS DA SECA
A HISTÓRIA
DAS SECAS
A SECA DE 1897
A SECA DE 1915
Muitos municípios nordestinos A solução proposta foi trazer Construção de açudes e adutoras;
estão enfrentando colapso no camelos do deserto e adaptá-los Transposição de bacias;
abastecimento de água, e cres- ao Nordeste Semiárido. A idéia foi Construção de poços tubulares.
ce o número de comunidades proposta pelo Governo Federal em
nas zonas rurais que recebem 1859, para ser testado no Estado do AÇUDAGEM:
carros-pipa. Por conta da falta Ceará e teria como finalidade suprir
de alimentos e água, muitos a necessidade de um meio de trans- A implantação de açudes teve iní-
animais estão morrendo nos porte, para enviar alimentos e água, cio no período do Império no ano
pastos, assim como produções além de transportar as pessoas do de 1877, ano em que a região foi
inteiras foram perdidas nos úl- interior para as cidades do litoral, assolada por uma grande seca.
timos meses. Segundo a Fede- para atendimento médico; Daquela data até a metade do atu-
ração da Agricultura e Pecuária al século, a política de combate às
do Estado da Bahia (FAEB), a Promover fratura de rochas no secas contemplava, principalmen-
queda da produção chega a cristalino, através de explosão, te, a formação de uma infraestru-
100% em algumas lavouras e a para armazenamento de águas tura hidráulica e a implantação de
60% nos rebanhos. subterrâneas; postos agrícolas como indutores
da irrigação na Região. O período
Foto: Heckel Júnior
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