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Analíticos ou continentais

Rossano Pecoraro

Analíticos ou
Continentais
Uma introdução à
filosofia contemporânea
© 2013 Rossano Pecoraro Sumário
Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
de 1990, adotado no Brasil em 2009.

Coordenação editorial
Isadora Travassos

Produção editorial
Cristina Parga
Rodrigo Fontoura
Sofia Soter
Victoria Rabello
Introdução9

A tradição analítica 17

A tradição continental 31

Referências bibliográficas 57

2013
Viveiros de Castro Editora Ltda.
Rua Visconde de Pirajá 580/sl. 320 – Ipanema
Rio de Janeiro | rj | cep 22410-902
Tel. (21) 2540-0076
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A Matteo Santoro, “o capitão”, meu avô.
Introdução
Vários âmbitos temáticos constituem a filosofia contemporânea: da
reconfirmação, da pluralização ou do fim da filosofia à questão do
sujeito; da crise do campo teórico-conceitual à primazia da esfera prá-
tica (a “virada ética”, com as suas ressonâncias no âmbito político e reli-
gioso); do niilismo ao esgotamento da metafísica; da crise da razão e do
relativismo aos avanços da tecnociência; da centralidade da linguagem
aos novos paradigmas cognitivos; da pós-modernidade aos desafios da
era digital; da biopolítica ao domínio da oikonomia... Cada um desses
contextos, decerto traçados aqui um tanto esquematicamente, dilui-se
por sua vez em uma extensa série de subdivisões, distinções, etc., confi-
gurando deste modo um quadro extremamente fragmentado e não rara-
mente confuso e contraditório.
Diante disso, uma tomada de posição se torna necessária na tenta-
tiva de indicar outra(s) possibilidade(s), ou perspectiva(s), para buscar
compreender o nosso tempo, os desafios e as provocações que o limiar
do terceiro milênio injeta no nosso horizonte humano. Entre as várias
maneiras de adentrar nesses territórios – tais como, por exemplo, uti-
lizar um método que privilegie ora a apresentação histórica de obras e
autores, ora a exposição temática ou por escolas e tendências – decidi-
mos recorrer à oposição entre filosofia analítica e filosofia continental1.
*
Este livro é parte de uma pesquisa mais extensa, iniciada no final do meu Investigar a origem da distinção, as questões de fundo que a atraves-
Doutorado na PUC-Rio (2006), que tem como principal objeto a relação
Modernidade-Contemporaneidade, suas rupturas e seus legados. Agradeço à
1 Oposição já explorada de maneira pontual e pioneira, mas com objetivos diversos e em
Capes que tornou viável a sua publicação com os recursos do PNPD vincula-
um outro contexto histórico-filosófico, por Franca D’Agostini no conhecido Analíticos e
dos à minha bolsa de Pós-Doutorado (2010-2013).
Continentais.

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sam, as tentativas de diálogo, as incompreensões mútuas e as possíveis mos esconder a intenção, já expressa pela alternativa que o título deste
aproximações teóricas permite ancorar a nossa reconstrução em um livro evoca, de enfatizar o “fato” de que a radical oposição conceitual
paradigma explicativo sólido e suficientemente discutido, que se revele entre analíticos e continentais, sobretudo no Brasil, perdura – não obs-
capaz de oferecer um instrumento de orientação para explorar as areias tante os diálogos e as ofertas de colaboração, os resultados obtidos (apa-
movediças do nosso tempo. rentes ou marginais, mais do que substanciais) e a paz (armada) estipu-
É ao pensamento filosófico contemporâneo, aos autores e às obras lada em muitos departamentos de filosofia.
mais significativos das últimas quatro décadas, portanto, que este livro é Isso posto, a pergunta inicial não poderia ser outra: quando e em
dedicado. Trata-se, com toda evidência, de um empreendimento arris- que contexto teórico se formaliza de fato a dicotomia (que, como vere-
cado e complexo. No entanto, cremos ser extremamente útil e fecundo mos, tem raízes muito mais antigas) analíticos/continentais? A origem
tentar delinear as principais tendências do nosso horizonte filosófico no da distinção pode ser encontrada no final dos anos 1950 e no começo
qual, reconheça-se ou não, todos estamos situados, pensamos, agimos. dos anos 1960. De 1958 é o Colóquio de Royaumont sobre a filosofia
Para tanto, é preciso fixar uma série de linhas de demarcação e, a um analítica: pela primeira vez expoentes das escolas inglesas e norte-ame-
só tempo, esclarecer a nossa maneira de proceder; em uma expressão: ricanas (Urmson, Williams, Ryle, Strawson, Quine, Beth, Austin, Hare)
expor os critérios e os propósitos que norteiam e fundamentam o ensaio. se encontram com os colegas continentais (Wahl, Alquié, Merleau-
Parece óbvio, mas talvez não seja supérfluo lembrar que um empreendi- Ponty, Van Breda, Goldmann) na tentativa de começar um diálogo entre
mento como esse só poderia ter algum êxito se conseguisse manter certo dois movimentos filosóficos que se ignoram. No prefácio das “Atas” do
equilíbrio entre as exigências da profundidade e as da extensão. Colóquio publicadas em 1962, Leslie Beck refere-se a duas correntes
A base da exposição, pois, é a “literatura filosófica consagrada” das absolutamente contrapostas: por um lado os “continentais”, por outro a
últimas quatro décadas produzida pelas duas grandes tradições de pen- escola de Oxford, definida como “analítica” ao lado de “uma tendência
samento objeto da nossa análise. O que esta expressão, aparentemente diferente” representada pela reflexão norte-americana. Mais preciso é
pretensiosa, pretende significar é que também na época que nos é ime- o organizador do encontro Jean Wahl que, retomando uma distinção
diatamente contemporânea é possível encontrar um cânon suficiente- já formulada pelo historiador da filosofia espanhol José Ferrater Mora,
mente discutido e estável, que sirva como fundamental critério para individua as três tendências que dominam o cenário filosófico mundial:
propor um estudo de cunho introdutório, acessível e documentado. É o materialismo dialético, a filosofia analítica (identificada com o posi-
mediante o recurso a esse corpus de escritos – que inclui tanto as obras tivismo lógico do Círculo de Viena) e a filosofia continental (que com-
fundamentais dos clássicos da nossa contemporaneidade, como os tex- preende fenomenologia, existencialismo e suas respectivas variações).
tos a eles consagrados por comentadores e historiadores da filosofia e De 1961 é o texto de Jürgen Habermas, escrito por ocasião da dis-
os livros que buscam investigar de forma mais ampla e por traços gerais cussão entre Adorno e Popper sobre o método das ciências sociais, no
o cenário atual – que a nossa contribuição foi elaborada. O discurso se qual à epistemologia analítica (ou seja, mais uma vez, o positivismo
articula entre a reconstrução histórica, a exposição de tendências, movi- lógico) é contraposta uma epistemologia de cunho hermenêutico-
mentos, etc., e a apresentação do pensamento dos filósofos contemporâ- -dialético. Quase trinta anos depois, na introdução a uma coletânea de
neos mais importantes e influentes. textos publicada sob o título Pensamento pós-metafísico. Estudos filosó-
É evidente que fomos obrigados a escolher, a selecionar, a decidir; e ficos (1988), Habermas retoma essas questões de maneira mais precisa,
que não estamos isentos de ter cometido arbitrariedades e injustiças das dedicando-se à reconstrução histórico-conceitual do contexto filosófico
quais, inevitavelmente, apesar de qualquer justificação sobre o método, contemporâneo. Ao se perguntar até que ponto a filosofia do século
assumimos plenamente a responsabilidade. Assim como não pretende- XX está ligada à Modernidade, se está se deslocando (e para onde) e se

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há rupturas no seu desenvolvimento ele individua os “quatro grandes bioética ou da psicologia, da filosofia da mente ou da filosofia política, é
movimentos” do nosso tempo, “quatro complexos” (muito diferentes um marco do pensamento analítico da atualidade a convicção de que a
entre eles, com “peso”, importância e desenvolvimentos assimétricos) “elaboração frutuosa e sistemática” de uma teoria depende cada vez mais
que se destacam, a saber, a filosofia analítica, a fenomenologia, o mar- “dos resultados mais recentes alcançados em outros campos da ciência,
xismo ocidental e o estruturalismo. especialmente nos campos das ciências empíricas”.
A primeira adquire, a partir dos anos 1950, a sua “posição impe- A tradição analítica, pois, privilegia a relação com as ciências natu-
rial” que continua se mantendo até hoje através de uma “concentração rais e exatas, o pensamento continental a proximidade com as disciplinas
de forças” que determina a sequência dessa tradição orientada por uma histórico-sociais; uma se expressa em um estilo formalista, descritivo,
“autocrítica” que se “alimenta dos problemas que ela mesmo produz”. sistemático, outro em uma linguagem não formalista, “literária”, inter-
A segunda se estende “horizontalmente de modo antropologizante e pretativa; uma, com a difusão das ideias da philosophical analysis britâ-
se aprofunda de modo ontologizante”, desembocando em uma “atitude nica e do positivismo lógico, enraíza-se nos países anglo-saxões (com
existencialista”. Por outro lado, marxismo e estruturalismo (que “encar- presenças significativas na Polônia, na Escandinávia, na Holanda); outra
nam um tipo bem diferente de pensamento” e que construíram os seus desdobra-se na Europa continental (especialmente França, Alemanha,
percursos “através das disciplinas humanas e sociais”) alcançam a sua Itália). No que diz respeito às grandes tendências filosóficas, a esfera ana-
consumação – através de uma série de simbioses, inspirações, influên- lítica é composta pelo positivismo lógico, pelo pragmatismo, pela epis-
cias, críticas e superações: de Freud a Saussure, de Piaget à Escola de temologia popperiana, pela filosofia analítica da linguagem; o âmbito
Frankfurt, de Foucault a Derrida – ao recompor-se, o primeiro, como continental compreende em si existencialismo, hermenêutica, teoria crí-
“filosofia pura” e ao passar, o segundo, para o “centro do pensamento tica da Escola de Frankfurt, pós-estruturalismo. Outras correntes, como
filosófico”. Para Habermas, naturalmente, não se trata apenas de indivi- a fenomenologia, o estruturalismo, o neopragmatismo, a epistemologia
duar movimentos históricos, mas também de mostrar os quatro grandes pós-positivista e pós-popperiana, tendem a ocupar um lugar intermédio,
motivos (ou tópicos) que atravessam a filosofia contemporânea e mar- sendo consideradas, por causa da sua gênese histórico-filosófica, mais
cam a sua complexa relação com a modernidade, ou seja, pensamento próximas ora da esfera analítica, ora da esfera continental.
pós-metafísico, guinada linguística, modo de situar a razão, inversão do O cenário que terminamos de traçar – com datas, nomes e movi-
primado da teoria frente à prática (superação do logocentrismo). mentos ou tendências – já pertence à história da filosofia no sentido de
Ora, antes de fornecer um quadro da situação atual das duas gran- que encontra a sua gênese no final da década de 1950 e a sua consoli-
des tradições filosóficas do século XX e, em seguida, avançar em direção dação nos anos de 1970 e 1980. E hoje? Qual seria o estado e o status
às duas seções principais do ensaio, é preciso acenar a ponto fundamen- dessas duas grandes tradições no início do século XXI? Qual a sua força
tal: a oposição entre analíticos e continentais pode ser considerada como de pensamento? Quais as suas perspectivas, os seus temas, os seus impas-
a reprodução, no interior da filosofia, da contraposição entre cultura ses? Para tentar esclarecer esses questionamentos úteis, são as páginas
científica e cultura humanista. Como escreve Albert Newen em Filosofia que Roberto Esposito, no primeiro capítulo de Pensiero vivente (2010),
analítica – Uma introdução (2005), esta reivindica a “pretensão de ser a dedica ao horizonte histórico-filosófico da atualidade. O diagnóstico não
única a fornecer os instrumentos metodológicos para fazer filosofia de é dos melhores: as três “mais experimentadas linhas de tendências” que
maneira científica”. Trata-se de um modo de proceder que caracteriza os de fato o constituem – tradição analítica, teoria crítica e hermenêutica,
analíticos desde os seus primórdios históricos até hoje, quando, além da pensamento pós-moderno/pós-estruturalista e desconstrução – mos-
teoria da ciência, essa filosofia se abre cada vez mais a uma troca e a um tram evidentes sinais de “incerteza” e “cansaço”; revelam as marcas de
diálogo constante com outras disciplinas. Que se trate, frisa Newen, da uma crise provocada por duas ordens de fatores: uma circunstancial, de

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esgotamento geracional; outra mais profunda que atinge (e “unifica em
um único horizonte transcendental”) todas essas correntes.
Os traços mais significativos da primeira são: 1) a complexa opera-
ção de “mudança paradigmática” da filosofia analítica devida à “inca-
pacidade” de ampliar o seu discurso e os seus leitores “além do círculo
restrito dos especialistas”; 2) a estagnação do pensamento alemão (teo-
ria crítica e hermenêutica); 3) as dificuldades da escola francesa (her-
deira do pós-estruturalismo e da desconstrução) que após o desapareci-
mento da geração Lyotard-Deleuze-Derrida tende a enclausurar-se em
uma produção textual “repetitiva” e “auto-referencial”. Isso não significa,
obviamente, que todas essas vertentes não possuam mais forças inova-
doras, elementos vitais, temas, autores e léxicos conceituais renovadores. A tradição analítica
Mas para que eles possam ter voz ativa é necessário se interrogar sobre
os motivos mais profundos da crise que, de acordo com a análise de
Esposito, residem no “papel dominante”, em todas as três tradições da
filosofia contemporânea, da “esfera da linguagem”.
Que seja privilegiada ora uma perspectiva conceitual ontológica,
ora epistemológica, ora textual, é evidente que o pressuposto de toda a
filosofia do nosso tempo é a primazia da linguagem. As consequências
desse império são de extrema relevância já que elas indicam e revelam
uma atitude, uma prática discursiva e uma teoria de ensino profunda-
mente “antifilosófica ou ao menos pós-filosófica”. O fato que toda a filoso-
fia contemporânea, escreve Esposito, se coloque na “moldura auto-refu-
tativa do seu fim” tem uma precisa conexão com a sua “subordinação à
esfera da linguagem”. Com efeito, uma vez que essa última se pulveriza
e se fragmenta nos seus jogos, nos seus “dialetos”, nas suas “famílias de
frases”, nos seus contextos, grupos, etc., e se declara, portanto, “parcial”
e estruturalmente “inábil para formular modelos de racionalidade uni-
versais ou ao menos universalizáveis”, à filosofia não resta outro espaço
a não ser o da sua “autonegação ou do seu prosseguimento extenuado”.

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Vimos acima a origem da distinção entre analíticos e continentais, ou
seja, o momento histórico no qual surge e começa a se afirmar esta dico-
tomia. Na realidade a tradição analítica contemporânea possui raízes
mais antigas, que devem ser procuradas na lógica matemática de Gottlob
Frege; na philosophical analysis de conceitos e proposições capaz de resol-
ver todos os problemas filosóficos, da qual Bertrand Russell, George E.
Moore e Ludwig Wittgenstein foram as personalidades mais represen-
tativas e influentes; e no positivismo ou empirismo lógico do Círculo de
Viena (principalmente Carnap, Schlick, Neurath) que se difundiu nos
países de língua inglesa a partir dos anos 1930. Na Inglaterra, através do
contato com outras tendências analíticas menos radicais; nos Estados
Unidos, em virtude da emigração dos principais expoentes do Círculo
por causa das perseguições nazistas. No pós-guerra, positivismo lógico
e philosophical analysis começam a diferenciar-se: enquanto na Grã-
Bretanha a filosofia analítica da linguagem (o último Wittgenstein, Ryle,
Austin e a escola de Oxford) suplanta as teorias do empirismo lógico, nos
EUA, ao contrário, é essa tendência a afirmar-se com força até o final dos
anos 1950, quando o revisionismo interno de Quine, Goodman e Sellars
– os pais da virada (neo)pragmatista – e a difusão da chamada “filosofia
da linguagem ordinária” começam a minar as bases da sua primazia.
Não é, porém, uma perda de poder ou influência: a filosofia analítica,
em suas diversas correntes, continua a predominar nos departamentos
de Filosofia e de Lógica das universidades norte-americanas, enquanto
os autores da tradição filosófica continental (de Hegel a Nietzsche, de
Foucault a Derrida) só conseguem ganhar algum espaço graças às pes-
quisas desenvolvidas nos departamentos de Literatura ou de Ciências

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Humanas. O cenário muda no final dos anos 1970. A redescoberta de por “Coelho” não está realizando uma tradução da língua originária, mas
autores clássicos da tradição pré-analítica (Dewey, James, Emerson), a simplesmente transpondo os próprios esquemas mentais ou conceituais
introdução de temas e autores (Habermas, por exemplo) provenientes (hábitos, expectativas, etc.) para o comportamento do indígena.
da área continental, a influência do trabalho revisionista e o renovado O propósito de Quine não é, obviamente, limitar-se à analise de
vigor do pragmatismo são os principais fatores da crise e do surgimento situações radicais e extremas; ao contrário: ele quer afirmar a validade
de filosofias declaradamente antianalíticas ou pós-analíticas (Rorty, mas da sua “teoria convencionalista” na esfera da linguagem comum, ordiná-
também Taylor e MacIntyre). ria, insistindo em uma concepção de significado como consequência de
Após esses sumários traços históricos, é o momento de examinar usos e comportamentos linguísticos-sociais, que se contrapõe à ideia de
os filósofos mais representativos e influentes da tradição analítica con- significado como resultado de operações linguísticos-conceituais e que,
temporânea, começando por Willard V. O. Quine , cuja revisão do detalhe importante, põe em xeque a concepção de Frege que continuava
positivismo lógico levará à tese da “indeterminação da tradução” e a a operar na vertente lógico-positivista da racionalidade analítica. Essa
conclusões pragmatistas, “holísticas” e de “relativismo ontológico”. Já em decisiva mudança de perspectiva torna evidente o discurso geral e mais
1951, com o famoso ensaio sobre Dois dogmas do empirismo, Quine havia propriamente filosófico de Quine: a realidade que cada um de nós pensa
atacado as posições do positivismo; nove anos mais tarde a sua crítica que existe depende do conjunto de estímulos e de significados que orien-
se condensa no volume Palavra e Objeto, no qual imagina uma situação tam o nosso comportamento individual, linguístico, social. Trata-se de
de “tradução radical” (da qual o filósofo deriva a ideia da “indetermina- um “relativismo ontológico” (como o próprio Quine definiu a sua teo-
ção da tradução”), com um linguista que tenta traduzir de uma língua ria em 1968, durante um ciclo de conferências na Columbia University
absolutamente nova e desconhecida, falada por um povo sem nenhum para comemorar Dewey) e da afirmação de posições “holistas”, em que
contato com a nossa civilização, e cujo trabalho se desenvolve anali- se atesta a necessidade de levar em conta, na análise e na explicação de
sando emissões verbais ligadas a eventos concretos e visíveis. Trata-se do um fenômeno, a totalidade em que nele está situado. Os procedimentos
conhecido exemplo do coelho Gavagai: na grama, diante do linguista e de análise e verificação devem se fundamentar não em átomos isola-
de um indígena, passa correndo um coelho; o indígena diz “Gavagai” e dos de linguagem, mas em inteiras configurações teóricas. Trata-se, em
o linguista registra o enunciado “Coelho”. À primeira vista, tudo parece- suma, de um empirismo holista e sem dogmas, que não deixa espaço
ria simples, a tradução seria “fiel” e “determinada” e os sucessivos expe- para nenhum tipo de ceticismo em relação á ciência, cuja primazia – na
rimentos do linguista confirmariam a tese. Na realidade, as coisas são linhagem do positivismo lógico – não é colocada em questão.
diferentes. Quine pretende mostrar, contra qualquer pretensão de uni- Expoente de uma “maneira forte” de pensar, o filósofo inglês
versalidade e de objetividade, que o linguista opera aplicando os seus Michael Dummett acusa o positivismo lógico, o revisionismo de
esquemas conceituais; ele fará, decerto, outros experimentos para excluir Quine e a “filosofia da linguagem ordinária” de ter traído os propó-
a possibilidade que o termo “Gavagai” signifique “branco”, ou “animal”, sitos originários da filosofia analítica, que devem ser procurados não
etc., mas no final decidirá que “Gavagai” quer dizer mesmo “Coelho”. O em Russell, Moore ou no primeiro Wittgenstein, mas no pensamento
problema, porém, é que não se leva em conta que a noção de significado, de Frege ao qual ele dedica os volumes de 1973 (Frege: filosofia da lin-
e de referência, é relativa à nossa cultura, diz respeito somente aos nos- guagem) e de 1981 (A interpretação da filosofia de Frege). A tese de
sos esquemas conceituais, às nossas estruturas mentais e linguísticas. Em Dummett é que a filosofia analítica só pode ser sistemática e fundacio-
outros termos, o significado não existe como ideia, conceito universal, nal se retomar o discurso fregeano de uma filosofia da linguagem como
objetivo, mas sim, apenas, como um conjunto extremamente variável de “fundamento de toda a filosofia”. Com efeito, escreve em A verdade e
respostas a uma série de estímulos. Quando o linguista traduz “Gavagai” os seus enigmas (1978), foi exatamente Frege quem indicou à filosofia

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o seu “objeto próprio”, ou seja, que: 1) o objetivo da filosofia é a “aná- Exposta no ensaio de 1984 Uma graciosa confusão de epitáfios essa visão
lise da estrutura do pensamento”, 2) o estudo do pensamento não deve “relativista”, que aproxima Davidson da vertente hermenêutica conti-
ser confundido com o estudo do “processo psicológico do pensar”, 3) o nental (Gadamer), foi criticada por Dummett no escrito Uma graciosa
único método adequado à análise do pensamento consiste na análise da confusão de epitáfios. Alguns comentários sobre Davidson e Hacking.
linguagem. A conclusão de Dummett é que é necessário elaborar uma Em várias fases e em diversos âmbitos (lógica e filosofia da mate-
“teoria sistemática do significado” através da qual explicar de maneira mática, ética, filosofia da mente, filosofia da linguagem), a questão do
sistemática o funcionamento da linguagem em que não existe nada de realismo atravessa toda a reflexão de Hilary Putnam. A elaboração de
casual, relativo ou contextual (os alvos de Dummett são principalmente um “realismo interno”, neopragmático e neokantiano, antifundacional e
Quine e o Wittgenstein dos “jogos de linguagem”). pluralista, é o resultado mais significativo alcançado pelo filósofo norte-
A crítica do positivismo lógico, a reafirmação de alguns pressu- -americano, já que lhe permite intervir eficazmente no debate ético-polí-
postos metodológicos da tradição analítica, o interesse pela semântica e tico contemporâneo. Antes de tudo, Putnam questiona a utilidade da
pela pragmática, e certa aproximação com o pensamento continental (a contraposição analíticos/continentais, tentando demonstrar que a frente
hermenêutica, essencialmente) podem ser considerados os traços mais continental não é tão compacta como pareceria, pois é minada por uma
representativos da atividade filosófica do norte-americano Donald diferença, de fato irredutível, entre uma maneira francesa e uma maneira
Davidson . Autor, a partir do final dos anos 1960, de uma longa série alemã de filosofar. O seu “realismo do rosto humano” (título de um livro
de ensaios reunidos em seguida nos volumes publicados em 1980 e 1984, de 1990) se contrapõe a certas tendências cético-niilistas da atualidade,
Davidson intensifica os aspectos semântico-pragmáticos da produção ao relativismo irônico de Rorty e à desconstrução de Derrida, apro-
de Quine e retoma a “teoria da verdade” desenvolvida por Tarski que, ximando-se explicitamente do pensamento de Apel e Habermas, em
porém, transpõe do plano das linguagens formalizadas (as da matemá- virtude da centralidade atribuída aos conceitos (ou ideais) de diálogo
tica, da lógica) para o das linguagens naturais (as línguas faladas, que racional e de igualdade. Nessa perspectiva não deve ser esquecido o tra-
usamos para nos comunicar). Nesse âmbito o significado é caracteri- balho que o alemão Ernst Tugendhat vem desenvolvendo há décadas
zado pela sua verdade; mas essa verdade só pode ser relativa, circuns- na tentativa de integrar análise e hermenêutica, lógica e ontologia base-
tancial, como o filósofo afirma com clareza em Inquiries into Truth and ando-se na “virada linguística” contemporânea. Tudo gira em torno de
Interpretation. É evidente o cunho pragmático e hermenêutico das ideias uma questão clássica de teoria do conhecimento: de que modo nos refe-
de Davidson, que, apesar de reconhecer a importância da problemática rimos aos objetos, aos entes? Para Tugendhat o programa filosófico por
da tradução desenvolvida por Quine, desloca o foco do discurso para excelência consiste na reflexão sobre o ente enquanto ente, ou seja – em
uma “teoria da interpretação radical” na qual são centrais a determinação termos heideggerianos –, nada mais é do que ontologia. Mas essa ontolo-
holista do significado e o “princípio de caridade”, compreendido como gia (tipicamente continental) pode ser desenvolvida apenas mediante a
um “ajustamento racional” aos enunciados linguísticos do(s) outro(s); “semântica formal” de cunho fregeano concretamente operante em toda
uma regra interpretativa mediante a qual buscar soluções que tornem a tradição analítica. É o recurso à linguagem, o abandono da perspectiva
verdadeiras a maior parte das preposições da língua estrangeira. A lin- ontológica metafísica, paralisada pela configuração sujeito-objeto, em
guagem, para Davidson, não é uma totalidade separada das atividades prol de uma visão semântica da ontologia, que caracteriza o esforço de
historicamente situadas dos falantes; algo como um sistema compacto, Tugendhat em direção a uma “ontolinguística” intersubjetiva. Trata-se,
regido por princípios gerais, universais, objetivos. Ao contrário: a dar como ele mesmo afirma em várias ocasiões, de uma “semantização da
forma ao processo comunicativo são ações interpretativas, procedimen- ontologia heideggeriana” marcada por uma crescente preocupação com
tos de adequação recíproca, interseções de expectativas, ajustamentos. os aspectos morais, relacionais e religiosos da reflexão filosófica.

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Nesse contexto, por fim, é útil mencionar a posição do filósofo sófico-especulativa. Servindo-se de uma importante série de referências
inglês Peter F . Strawson , ou melhor, a um aspecto da sua complexa (de Heidegger a Dewey, de Gadamer a Derrida, do último Wittgenstein
reflexão iniciada nos anos 1950 com a formulação de uma noção “des- a Thomas Kuhn (com a sua teoria das épocas “normal” e “revolu-
cricionista” das formas lógico-linguísticas do pensamento baseada na cionária” na ciência exposta no livro de 1962 A estrutura das revoluções
filosofia de Kant. Estamos aludindo à reafirmação da validade e da uti- científicas que não por um mero acaso é utilizada também por alguns
lidade do programa teórico-sistemático da filosofia analítica (e da tradi- expoentes da hermenêutica filosófica, in primis por Vattimo), Rorty
ção metafísica) contra a “iconoclastia” de Wittgenstein, Moore, Austin, individua na tradição analítica e na fenomenologia a filosofia “normal”,
do neopragmatismo (apesar de certas aproximações) e das correntes ou seja, oficial, compartilhada pelos ambientes acadêmicos dominantes,
pós-analíticas. As ideias de Strawson, já delineadas no livro de 1959 à qual é contraposta a filosofia “revolucionária” antecipada por alguns
Individuals, foram confirmadas e precisadas no mais recente Análise e irregulares antiacadêmicos (Nietzsche, James...) e exposta no século XX
Metafísica (1992). por Dewey, Heidegger, Wittgenstein, cuja importância consiste no fato
Três obras marcam o percurso (e o desenvolvimento) filosófico de que souberam superar o seu próprio passado “normal”. Ocupar-nos
do norte-americano Richard Rorty : a introdução à coletânea A com os horizontes histórico-teóricos delineados por Rorty ao longo do
virada linguística, de 1967; A filosofia e o espelho da natureza, de 1979, e livro extrapolaria os limites desse ensaio, sendo suficiente lembrar aqui
Contingência, ironia, solidariedade, de 1989. Formado em um ambiente tão-somente a dicotomia fundamental que atravessa a sua argumenta-
acadêmico dominado pela tradição analítica, o filósofo logo percebe o ção: filosofia fundacional (filosofia normal ou epistemologia) versus filo-
seu esgotamento interno: em A virada linguística, não apenas se escla- sofia anti-fundacional (revolucionária). No século XX são o pensamento
recem as razões da profunda crise dessa tradição, como se indicam os analítico, cuja origem deve ser buscada em Russell, e a fenomenologia de
possíveis caminhos para ultrapassar um paradigma de fato inutilizável Husserl que retomam o projeto de uma filosofia “rigorosa” e “científica”,
rumo a uma filosofia pós-analítica e “pós-filosófica”. Sob acusação é constituindo-se como a filosofia fundacional por excelência do nosso
posta uma ideia clássica da tradição filosófica ocidental, já minada pelo tempo. Mas, escreve Rorty na “Introdução” ao livro de 1979, enquanto
pensamento continental a partir do começo do século XX, ou seja, a con- “tentava fundar isso e criticar aquilo”, ela se isolava cada vez mais, era
vicção de que a realidade (a natureza) se apresenta como algo imedia- rejeitada pela cultura e pelos saberes nos quais pretendia intervir, reve-
tamente dado, sendo assim possível para o Sujeito (espectador) que a lava o quão “absurdas” eram as suas pretensões. Wittgenstein, Heidegger
enfrenta descrevê-la, conhecê-la, dominá-la. É o paradigma que funda e Dewey são os filósofos mais importantes da nossa época porque, após
a primazia filosófica da epistemologia, da doutrina da ciência como foi uma primeira fase em que buscaram encontrar uma “nova maneira de
elaborada por Descartes e Kant, em detrimento de outros usos igual- tornar a filosofia fundadora, um novo modo de formular um contexto
mente legítimos do discurso filosófico (como o interpretativo por exem- último para o pensamento”, compreenderam a “ilusão” subjacente às
plo). Trata-se, nos termos de Rorty, de uma “explicação espectadorial do suas tentativas e consumiram o próprio tempo em alertar-nos sobre as
conhecimento” cujas pretensões estão na base dos impasses da filosofia, tentações fundacionais às quais eles mesmos haviam cedido. Mais do
não só analítica, e que por isso foi o alvo privilegiado dos ataques de que argumentar contra ou criticar, eles abandonaram, deixaram de lado
pensadores tão diferentes como Dewey, Hampshire, Sartre, Heidegger, uma tradição considerada exaurida (Descartes, Locke, Kant, Russel,
Wittgenstein. Husserl), transmitindo-nos uma obra antifundacional, antissistemática,
Essas ideias são aprimoradas, reformuladas e ampliadas em A filoso- “terapêutica” e “edificante” cujo propósito não é fornecer um “novo pro-
fia e o espelho da natureza, em que a uma rigorosa abordagem histórico- grama filosófico”, mas sim fazer com que “reflitamos sobre os motivos
-descritiva dessas questões se associa uma elaboração propriamente filo- que temos para filosofar”.

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Rorty apropria-se desse modelo. A sua obra mostra o esgotamento Derrida, Baudelaire, Proust, Nabokov, Orwell...), Rorty pretende mos-
da epistemologia e da metafísica, tem uma “moral historicista” e finali- trar que não é impossível manter um equilíbrio entre os dois âmbitos. O
dades terapêuticas e edificantes (no sentido do termo alemão Bildung); seu ponto de chegada é a utopia “liberal-ironista”, que não é uma teoria,
pretende oferecer uma alternativa à tradição filosófica ocidental indi- mas uma experiência; algo que se vive e se experimenta concretamente,
cando os caminhos “para sair dela e fazer outra coisa”. Nenhuma pro- que nasce da evidência de que não existem princípios universais e ver-
posta de uma nova filosofia, portanto. Apenas possíveis vias de fuga tra- dades absolutas que governam a natureza humana, a história, a política,
çadas servindo-se das teorias de Kuhn e da hermenêutica de Gadamer, e da constatação da contingência e da historicidade do mundo.
verdadeiro momento “revolucionário” que rompe com a normalidade, a Nesse contexto, é preciso acenar ao trabalho de Richard
oficialidade do pensamento, e nos ajuda a distanciar-nos de uma forma Bernstein . De formação mais pragmatista (Peirce, Dewey) do que
fundacional de fazer filosofia (orientada necessariamente pela busca de analítica (Carnap), principal seguidor e defensor de Habermas nos
alguma verdade). No final do livro aparecem as noções de “sabedoria Estados Unidos, o filósofo sublinha em Além de objetivismo e relativismo
prática” e “conversação” que são utilizadas para descrever a atividade (1983) que a primazia da práxis na filosofia contemporânea dá vida a
do intelectual pós-filosófico. Rorty não esclarece nem explica a natureza um “novo diálogo sobre a racionalidade humana” do qual participam,
destes princípios de ação. Limita-se a considerá-los o contexto natural por exemplo, Gadamer, Habermas, Hannah Arendt e cujo fio condutor
de uma atitude pós-filosófica, insistindo na necessidade de um “enga- é a convicção de que a disputa objetivismo/relativismo pode encontrar
jamento moral” rumo à “continuação da conversação do Ocidente” em algum tipo de solução somente na esfera ético-política. O volume de
que espíritos livres criam hipóteses éticas, linguísticas, cognoscitivas 1991 A nova constelação, é dedicado aos opositores desse diálogo, ou seja,
e as discutem entre eles sem nenhuma pretensão de considerá-las (ou à pós-modernidade e ao pós-estruturalismo. Com efeito, para Bernstein
de torná-las) verdadeiras. A filosofia deixa de ser considerada, pois, o os adversários da racionalidade estariam começando – como sugerem,
único caminho para buscar a verdade e fundamentar as nossas visões de por exemplo, as viradas ético-políticas de pensadores como Lyotard e
mundo, e, despojada de todas as suas pretensões de primazia, torna-se Derrida – a reformular as suas posições abrindo espaço, desse modo,
um discurso, uma prática, um gênero literário entre outros. para a sua participação em uma nova e mais ampla constelação de diá-
Em uma série de ensaios publicados nos anos 1980 (Habermas, logo em torno da razão.
Lyotard e a Pós-modernidade, de 1984; Solidariedade ou Objetividade?, Dominada por séculos pelas doutrinas liberais, principalmente pelo
de 1985) o pensador norte-americano reformula as suas posições. utilitarismo de Hume, Bentham e Mill, a filosofia política anglo-ameri-
Abandona a hermenêutica e a teoria kuhniana, imprime uma decisiva cana se renova profundamente a partir de 1971, ano em que John Rawls
guinada pragmatista e ético-política à sua reflexão, defende em nome publica Uma teoria da justiça. Trata-se de uma obra monumental, com-
de razões puramente experimentais a sociedade liberal-burguesa, assi- plexa, de não fácil leitura, atravessada por uma exigência de fundamen-
mila a sua pós-filosofia à pós-modernidade descrita por Jean-François tação (ou de cientificidade) das teses expostas cuja efetivação é confiada
Lyotard, dialoga com Habermas, propõe uma “utopia” pragmatista crí- a raciocínios minuciosos, que às vezes pecam por falta de clareza, e a
tica, reformista e inovadora. Esses temas confluirão na obra de 1989 uma profusão de argumentos analíticos-formais extraídos da “teoria dos
Contingência, ironia, solidariedade, fruto de dois seminários ministra- jogos”. Contra a tradição utilitarista, o filósofo norte-americano pretende
dos na Inglaterra em 1986 e 1987. Núcleo essencial da obra é o problema defender o liberalismo apresentando uma nova e mais alta concepção de
da relação entre a esfera privada e a esfera pública, ou seja, entre a satis- justiça, retomando, como se lê no começo da sua obra, a teoria do “con-
fação ou perfeição pessoal e a justiça social. Através do diálogo com filó- trato social tal como a encontramos em Locke, Rousseau e Kant” (não
sofos, escritores, poetas (Nietzsche, Wittgenstein, Heidegger, Davidson, em Hobbes, por causa dos problemas que causaria a sua noção do poder

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soberano como poder absoluto). O objetivo é traçar as coordenadas de cípios de justiça aos quais a obra de 1971 é consagrada: o primeiro visa
uma sociedade justa e bem-ordenada, que leve em conta em todas as resguardar as liberdades individuais, que devem ser iguais para cada qual;
suas ações legislativas e constitucionais a totalidade dos seus membros, o segundo diz respeito à distribuição dos recursos cuja referência essen-
especialmente os menos favorecidos por motivos naturais, econômicos cial deve ser a condição dos menos favorecidos. Esse é um dos pontos
ou sociais. Dito de outro modo, o propósito de Rawls é delinear a ima- mais debatidos: as desigualdades, as diferenças econômicas e sociais, são
gem “justificada”, ou seja, fundamentada, de uma sociedade com regras admitidas somente se não prejudicam ninguém e se elas operam pelo
eficazes e compartilhadas capaz de harmonizar de forma equilibrada e maior benefício às classes mais desfavorecidas da sociedade.
aceitável universalmente os dois aspectos-chave de toda sociedade: liber- A teoria da justiça de Rawls provocou uma vasta e polêmica dis-
dade e justiça, vale dizer, os direitos dos indivíduos e a (re)distribuição cussão cuja repercussão está longe de exaurir-se. A alternativa explícita
dos bens no espaço coletivo, social. A liberdade individual constitui uma ao pensamento rawlsiano é representada pelo “libertarista” Robert
espécie de “absoluto” em uma sociedade justa; e uma sociedade é justa Nozick . Ambos criticam o utilitarismo, inspiram-se no liberalismo
se e apenas se garante este “absoluto”, esta prioridade. Todo o trabalho clássico, aceitam a hipótese contratualista; mas se Rawls é movido por
teórico do filósofo norte-americano visa estabelecer a origem, o funda- uma visão ética kantiana que serve como base para idealizar uma socie-
mento e os aspectos essenciais de uma sociedade justa. dade regida por justiça e equidade, o seu rival delineia uma sociedade
Ponto de partida é a ideia clássica de contrato social cujo pressu- fortemente individualista, na qual os direitos individuais são inalie-
posto não é o estado de natureza, mas sim uma hipotética situação inicial náveis e possuem uma tal força e um tal alcance que, como se lê em
definida como “posição originária” e caracterizada por duas condições Anarquia, estado e utopia (1974), levantam a questão de investigar se
decisivas para a estipulação do pacto: “o véu de ignorância” (as partes é possível a existência de uma potência superior capaz de limitá-los.
envolvidas deveriam levar em conta somente interesses gerais e coletivos, Rejeitando as doutrinas anarquistas no sentido estrito do termo e recu-
não sabendo absolutamente nada do próprio destino pessoal depois da perando uma série de indicações provindas de algumas experiências
assinatura do contrato, ou seja, ignorariam o seu lugar na sociedade, a antiestatais e individualistas da tradição política dos Estados Unidos
sua posição de classe, o seu status social, a sua inteligência, a sua força, (a conquista do Oeste, a fundação de comunidades religiosas inde-
etc.) e a “equidade” (que é fruto da primeira condição: situados sob o véu pendentes, etc.), Nozick teoriza um “estado mínimo”, um estado “vigia
da ignorância elas estariam em uma situação de igualdade e equidade noturno” com funções e poderes muito reduzidos, cujas intervenções
capaz de conduzir a um acordo). Produzir-se-ia, pois, um “consenso por seriam justificáveis de um ponto de vista ético apenas quando visassem
coincidência” sobre uma sociedade que combinasse (ou equilibrasse) a a defesa da segurança dos seus membros, a proteção contra todo tipo de
maior liberdade possível com a maior justiça possível, ou, em outros ter- violências e de violações dos contratos. Outras importantes vozes ani-
mos, com a maior igualdade possível de oportunidades. O contrato nada mam a discussão sobre esses temas. Entre elas devem ser mencionadas
mais seria do que um acordo entre indivíduos morais (no sentido kan- as de Richard Mervyn Hare , maior teórico de uma nova versão do
tiano) racionais, livres e iguais, sobre os “princípios de justiça” relativos utilitarismo, inspirada em Kant e contraposta às posições de Rawls e
à estrutura fundamental da sociedade. Rawls individua duas perspecti- Nozick, e as dos “comunitaristas” e “pós-analíticos” Charles Taylor
vas fundamentais: uma requer a igualdade na distribuição de direitos e e Alasdair M ac Int yre , que criticam liberalismo, individualismo,
deveres fundamentais; outra afirma que as desigualdades (a de riqueza e subjetivismo, utilitarismo, priorizam o “bem” (público) sobre os “direi-
de poder, por exemplo) “são justas tão-somente se produzem benefícios tos” e afirmam a centralidade da comunidade, do homem como “animal
compensativos para cada qual, especialmente para os membros menos social”, da polis, mediante um retorno ao pensamento de Hegel (Taylor)
favorecidos da sociedade”. A partir disso é possível formular os dois prin- ou à ética de Aristóteles (MacIntyre).

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A tradição continental
No período histórico objeto do nosso estudo a hermenêutica veio a ter
uma posição central, que já foi ocupada nas décadas de 1950 e 1960 pelo
marxismo e pelo estruturalismo. Não se trata de hegemonia ou superio-
ridade, mas de algo como koiné (clima difuso, idioma comum, sensibi-
lidade geral). Do ponto de vista de uma descrição factual emerge com
bastante clareza que, assim como no passado grande parte das discus-
sões filosóficas, de metodologia das ciências humanas, de crítica lite-
rária, de epistemologia, etc., não podiam deixar de confrontar-se com
o marxismo e com o estruturalismo, hoje é a hermenêutica a configu-
rar-se como teoria central da nossa época no sentido que acabamos de
esclarecer. Filiando-se a uma tradição inteiramente alemã, que do pre-
cursor romântico da interpretação Friedrich Schleiermacher chega até
Heidegger, passando por Wilhelm Dilthey, Husserl, Hegel e Nietzsche,
Hans Georg Gadamer é o fundador da ontologia hermenêutica. Em
Verdade e Método (1960) o filósofo rejeita qualquer tipo de investigação
abstrata ou teórica do problema da verdade, que é enfrentado seguindo
um fio condutor muito concreto, ou seja, as possibilidades que o homem
tem de experimentá-la. Antes de tudo, é necessário destacar que o pro-
grama filosófico gadameriano não visa a fixação de regras técnicas do
processo interpretativo e é irredutível tanto a uma visão setorial ou limi-
tada das modalidades do compreender (o que está em jogo é a existên-
cia na sua totalidade, o “caráter ontológico originário da vida”), como à
ciência e ao seu ideal de um conhecimento exato, objetivo do mundo.
Verdade e Método é dividida em três partes; a primeira e a segunda
tratam respectivamente do problema da verdade em relação à experiên-
cia estética e ao conhecimento histórico, a terceira efetiva a passagem da

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hermenêutica para a ontologia através da linguagem. Recorrendo a uma Essencial é a constatação da radical historicidade do compreender
série de conceitos-chave tais como as noções de “jogo”, “autorrepresenta- humano; nós somos lançados sempre já em um universo de significados
ção”, “transmudação em forma”, Gadamer pretende afirmar a consistên- e valores, em uma realidade, usando as palavras de Heidegger, “constitu-
cia ontológica da experiência estética contra a visão subjetivista clássica ída pelas convenções ordinárias dos homens e do mundo no qual vivem”.
fundada na oposição objeto/sujeito e na convicção de que é o homem a Há uma pré-compreensão do compreender, uma situação circular em
dispor das coisas do mundo. No encontro com a obra de arte nós experi- que aquilo que se deve compreender é já, de algum modo, compreen-
mentamos a verdade e somos por ela transformados. Somos seduzidos, dido. Nos termos de Gadamer (que ressalta o valor ontológico e a função
tomados, desapossados, lançados em um jogo cuja essência é o próprio cognoscitiva do “círculo hermenêutico”): nós compreendemos o mundo
jogar, que transcende cada jogador e que, a um só tempo, é representa- graças a uma série de pressupostos, de expectativas de sentido, de julga-
ção através de alguém e para alguém. Experiência estética como expe- mentos preliminares, em suma mediante “prejuízos” (preconceitos) que
riência de verdade, portanto, da qual nós participamos e que nos trans- testemunham o nosso pertencimento a uma tradição, a um universo
forma. O homem é o “espírito mediador” que faz falar o mundo, mas ao social e cultural que ao mesmo tempo nos transcende e nos sustenta.
mesmo tempo é raptado, atraído, constituído pelo mundo do qual, em Ciente da conotação pejorativa dessas noções, um dos legados mais for-
certo sentido, é instrumento para que ele possa exprimir-se. É evidente tes do Iluminismo, o filósofo se engaja em uma operação de reabilitação
que essa perspectiva põe um problema muito mais vasto: o de como sublinhando que os prejuízos (preconceitos) são a condição necessária e
compreender e interpretar o mundo. Gadamer afirma claramente que imprescindível do nosso conhecer, do nosso experimentar, encontrando-
“a estética deve resolver-se na hermenêutica”, ou seja, que exatamente a -a, a realidade; outrossim eles são inelimináveis e não reconhecer esse
experiência, a fruição da obra de arte conduz inevitavelmente ao con- “fato” significaria permanecer prisioneiros de uma ilusória pretensão de
fronto com a questão da interpretação, vale dizer, da elucidação do sig- neutralidade, ou seja, do preconceito de não ter preconceitos.
nificado próprio do passado e dos seus produtos espirituais. Além dos prejuízos, são recuperadas as noções de “autoridade” e
É a isso que a segunda parte da obra é consagrada. Gadamer acusa o “tradição”, consideradas pelo Iluminismo inimigas da razão, da liberdade
historicismo de não ter conseguido libertar-se do modelo metodológico e da criatividade. A autoridade consiste “em um ato de reconhecimento
das ciências naturais, acabando, portanto, por perseguir a utopia de uma e de conhecimento” da razão humana que reconhece os próprios limites
objetividade absoluta e de um saber impessoal, apesar, e quase para- e de forma motivada e livre aceita a “superioridade” do (pré)juízo alheio.
doxalmente, de ter revelado com êxito a historicidade (a relatividade, Quanto à tradição, é o tecido conectivo que permite o diálogo com o
a contextualidade) do objeto histórico. Em outros termos: o filósofo passado, grande cadeia de relações e mediação histórica entre passado
alemão reconhece a importância das correntes historicistas modernas, e presente. O labor hermenêutico – caracterizado por quatro conceitos
mas as critica por ter deixado de lado a historicidade (a relatividade, a fundamentais, a saber, “distância temporal”, “história dos efeitos”, “cons-
contextualidade) do sujeito e por pretender moldar o processo interpre- ciência da determinação histórica”, “fusão de horizontes” – nada mais é
tativo a um impossível ideal de objetividade científica, adequada para do que um contínuo diálogo com a tradição no qual os nossos prejuízos
todas as épocas e para todos os protagonistas. Contra o historicismo, são submetidos à prova. Interpretar, como se lê no ensaio O problema
Gadamer reivindica um saber que tenha consciência não só da histori- da consciência histórica, significa estabelecer relação – contemporanea-
cidade alheia, como da sua própria historicidade. É a partir desse ponto mente – com a “coisa mesma” (que se manifesta através da tradição) e
que o discurso de Verdade e Método se conecta de maneira decisiva ao com a tradição a partir da qual a própria coisa pode falar-nos.
pensamento de Heidegger, em especial à noção de pré-compreensão Mas, o que é aquilo que a tradição nos transmite? O que são fatos
delineada em Ser e Tempo. históricos, textos, obras de arte? O que é a “coisa mesma”? O que é o

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mundo? Gadamer responde: tudo isso é linguagem (“lugar total”, que Autor de uma produção extensa e complexa, polemista refinado,
dispõe de nós). É enquanto linguagem que o ser se manifesta e é com- protagonista de uma série de controvérsias que marcaram o pensa-
preendido. A existência do homem, considerada como abertura, é defi- mento alemão e europeu a partir do começo dos anos 1960, Jürgen
nida pela sua linguisticidade (“quem tem linguagem tem o mundo”) e, de Habermas é um dos clássicos da filosofia da atualidade (ao lado de
maneira correspondente, tudo aquilo que vem de encontro ao homem é Deleuze, Derrida, Foucault, Rorty, Vattimo). O seu itinerário intelectual
compreensível e interpretável tão-somente enquanto se dá na linguagem – cuja preocupação essencial é a defesa e a reafirmação da razão crítica
e como linguagem (“o ser que pode ser compreendido é linguagem”). As – é constituído por quatro momentos fundamentais: 1) a continuação e
décadas sucessivas a Verdade e Método são caracterizadas por uma inten- a revisão do marxismo (inclusive a Teoria Crítica); 2) o confronto com a
síssima atividade, não só teórica, através da qual Gadamer reformula, ontologia hermenêutica de Gadamer; 3) a construção da “teoria do agir
precisa, atualiza alguns pontos da sua doutrina. Essencialmente o filósofo comunicativo”; 4) a defesa da modernidade, a formulação de uma “ética
enfrenta a questão da universalidade da hermenêutica, força o equilíbrio do discurso”, e as críticas ao “neoconservadorismo” de cunho heidegge-
linguagem/ser acentuando a primazia da primeira, replica as acusações riano-nietzschiano dos pós-modernos. O ponto de partida da reflexão
de conservadorismo, busca esclarecer as relações com o idealismo hege- habermasiana, em meados dos anos 1960, é a teoria da racionalização
liano e a dialética, põe em relevo o sentido ético-prático da interpretação. do sociólogo alemão Max Weber e as respostas do marxismo, julgadas
Entre os maiores filósofos da tradição hermenêutica devem ser insuficientes, aos desafios por ela propostos. Em uma série de importan-
lembrados ao menos o francês Paul Ricoeur (existencialismo e feno- tes contribuições (notadamente Conhecimento e interesse, conferência
menologia são os pressupostos teóricos da sua filosofia hermenêutica proferida em 1965 e publicada em 1968; Técnica e ciência como ideologia,
na qual devem ser destacadas as duas diretrizes mais importantes. Para de 1968) o filósofo ataca tanto o cientificismo neopositivista, como as
Ricoeur a linguagem da religião, da poesia e do mito são a condição de elaborações do marxismo da época (a Teoria Crítica). Ao primeiro cen-
possibilidade e significado último do pensamento; trata-se de reconhe- sura uma atitude objetivista totalmente desprovida de auto-reflexão e
cer, pois, a dimensão simbólica da linguagem que não é considerada de autocrítica, que se torna “ideologia” enquanto deixa de lado, esconde
apenas um meio de comunicação, mas o objeto fundamental da inter- ou suprime a conexão entre conhecimento e interesses, ou seja, o fato
pretação. Paralelamente a esse tema, o filósofo desenvolve um projeto de de que toda atividade de pesquisa é orientada e movida por interesses
reaproximação da hermenêutica com as ciências buscando recuperar as “subjetivos”. Quanto à Teoria Crítica, se contesta a sua posição antiwe-
temáticas mais propriamente epistemológicas e gnoseológicas) e os ita- beriana, na qual o processo de racionalização é identificado pura e sim-
lianos Luigi Pareyson (a uma reflexão de cunho existencialista com plesmente à dominação capitalística e o âmbito da cultura é considerado
a centralidade da ideia de “pessoa”, seguem-se duas fases caracterizadas o território em que se desdobra o controle e a organização do consenso
respectivamente pela prevalência de temas estéticos e ético-religiosos. da classe dominante. A essa visão “negativa” e estática se contrapõe a
O pensamento de Pareyson, atravessado por quatro questões cardeais, ideia de que a esfera social, teórica e cultural é também um lugar “posi-
isto é, existência, ontologia, interpretação e liberdade, influenciou tivo”, de liberdade e emancipação, de reflexão crítica e inovação.
de maneira bastante diferente Umberto Eco, Gianni Vattimo e Sergio Nesse contexto o confronto de Habermas com Gadamer adquire
Givone) e Emilio Betti (considerado um dos fundadores da her- particular importância enquanto lhe permite não só precisar melhor as
menêutica do século XX, o filósofo e jurista se baseia nas reflexões de suas posições, como imprimir uma virada ao seu pensamento abando-
Schleiermacher e Dilthey para reafirmar, contra Gadamer e Pareyson, a nando, como ele próprio reconheceu, o “paradigma subjetivo” da pri-
natureza não filosófica, mas científica, metodológica e objetiva do tra- meira fase em prol de um “paradigma intersubjetivo” sistematizado na
balho hermenêutico). obra de 1981 Teoria do agir comunicativo. Antes de nos determos nisso é

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preciso examinar as observações e os argumentos contra Gadamer. Ao partir daquilo que define como “intuição central” da sua teoria, ou seja,
legitimar e absolver a tradição e os prejuízos a ontologia hermenêutica, a tensão ética, “o telos de entendimento recíproco” subjacente a toda
afirma Habermas, torna impossível uma visão crítica, meta-histórica comunicação linguística. Examinar os argumentos e as modalidades
e meta-interpretativa, capaz de investigar as condições e as razões de dessa investigação extrapola os limites do nosso ensaio. Para os fins
ambos. Reduzir tudo a uma linguagem a ser interpretada significa igno- que nos propusemos será suficiente acenar ao motivo, à preocupação
rar que a linguagem depende das relações sociais, que não é algo neutro, central da teoria habermasiana: uma teoria da sociedade baseada na
um mero depositário e transmissor dos conteúdos da tradição. “A lin- dialética entre sistema e mundo da vida. O primeiro tem relação com
guagem é também um instrumento de domínio e de poder social”, lê-se o agir instrumental; é o estado com o seu aparato de organização eco-
em A pretensão de universalidade da hermenêutica (1971), ela serve para nômica. O segundo é regido pelo agir comunicativo; é o universo de
legitimar “a organização das relações de poder”, portanto é “também valores que cada um de nós, tanto na esfera pública, quanto na esfera
ideológica”. Segundo Habermas, a hermenêutica gadameriana, enclau- privada, vive de maneira imediata e espontânea. O mundo da vida, vale
surada no círculo interpretativo e prisioneira de uma análise que se dizer “aquilo que os participantes da comunicação têm a cada vez atrás
desenvolve exclusivamente em um plano linguístico (ignorando o plano de si”, é formado por três modos principais de relação (entre: um sujeito
objetivo das ações sociais constituído pelo nexo entre “linguagem”, “tra- e “um mundo de acontecimentos e de fatos”; um sujeito e o “mundo da
balho” e “poder”), é incapaz de denunciar o caráter ideológico subjacente socialidade”; um sujeito e outras subjetividades). Por sua vez, o sistema,
às relações sociais mostrando-se impotente e inadequada perante a exis- o aparato econômico-estatal, tornou-se “autônomo”, extremamente efi-
tência de uma “comunicação deformada” e “sistematicamente distor- caz, “manifestamente supercomplexo”; os “imperativos da economia e
cida” ligada a interesses individuais e coletivos de poder e de domínio. É da administração transmitidos pelo dinheiro e pelo poder”, cujas inte-
necessária, pois, uma “hermenêutica do profundo” (Tiefenhermeneutik) rações são “controladas pela mídia”, constituem uma “ameaça de colo-
que, mediante um procedimento de tipo psicanalítico, possa efetivar um nização” para o mundo da vida. Trata-se de questões inéditas, diante
processo de desmascaramento e de crítica das ideologias rumo à realiza- das quais tanto as antigas categorias do marxismo, como as recentes
ção de uma “ação social concretamente transformadora”. teorias pós-modernas, antimodernas e anti-humanistas que rejeitam
Esses elementos são os pressupostos fundamentais da virada lin- “a herança do racionalismo ocidental”, revelam-se inúteis. O conflito
guística e intersubjetiva da Teoria do agir comunicativo, obra extensa, de fundamental do nosso tempo, nas sociedades do capitalismo avançado,
não fácil leitura e de estrutura complexa, na qual a construção de uma não é o conflito de classe, mas sim o conflito entre sistema e mundo da
perspectiva teórica original se alterna com amplas reconstruções histó- vida. É preciso, pois, pensar novas estratégias de defesa contra a invasi-
ricas que constituem verdadeiros diálogos de Habermas com os interlo- vidade e a vontade de domínio do aparato econômico-estatal. Para tanto
cutores para ele mais significativos (Weber, Lucáks e Adorno, Durkheim Habermas não oferece um preciso programa político; antes reivindica a
e Mead, Parson, Marx, expoentes da tradição analítica como Austin e validade do projeto moderno e iluminista, confiando as suas esperanças
Wittgenstein...). O objetivo, mais uma vez, é formular uma teoria da aos movimentos de resistência e de luta próprios da esfera pública e do
sociedade (ou teoria da racionalidade) a um só tempo crítica e recons- agir comunicativo que se opõem ao sistema e visam preservar, manter
trutora cujos fundamentos residem da dialética entre “agir instrumen- autônomo, enriquecer o mundo da vida.
tal” e “agir comunicativo” ou, como se lê no segundo volume do tratado, Nos anos 1980 e 1990, o aumento da repercussão e da influência das
entre “sistemas” e “mundo da vida”. teses dos pós-modernos leva Habermas a um confronto mais cerrado
Habermas reivindica a legitimidade (e a urgência) de uma inves- com as suas posições (principalmente as de Derrida, Lyotard, Foucault).
tigação geral do agir comunicativo e da racionalidade que o orienta a No Discurso filosófico da modernidade (1985) o filósofo indica, com

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Hegel, um “fato” – o marco da modernidade é a autonomia do sujeito qual se contrapõe a exigência pragmática da filosofia anglo-americana.
e da razão – e um “problema” – uma vez libertados da religião e da Torna-se necessário, portanto, conjugar as duas instâncias em nome de
autoridade o sujeito e a razão são incapazes de “regenerar a potência uma terceira via representada exatamente pela transformação semiótica
unificadora” que elas possuíam. A consequência? Uma série de cisões do kantismo. Essa perspectiva permite esclarecer a posição fundacional
cada vez mais profundas e devastadoras e a constituição de um mundo de Apel, vale dizer, a sua “semiótica transcendental” (influenciada pela
intrinsecamente plural, antifundacional, irredutível a uma verdade Teoria dos atos da fala (speech acts) de Austin e Searle): na situação argu-
única, a um fundamento último. Mas tanto Hegel e os seus seguido- mentativa existem verdades que não podem ser questionadas, afirma-
res quanto Nietzsche (definido, pelas características oscilações do seu ções que não podem ser colocadas em dúvidas sob pena de uma auto-
pensamento, como “ponto de inflexão”, “plataforma giratória para os contradição fatal, de uma espécie de suicídio lógico e comunicacional.
pós-modernos”) e os seus herdeiros antimodernos não conseguiram Em outros termos: as condições da argumentação (ou regras de validade
sair de uma filosofia do sujeito (e da própria dialética do iluminismo). da comunicação) “são como tais impossíveis de ser esquivadas, e nisto
A proposta de Habermas é clara: é preciso salvar a razão fundando-a incontestáveis, para qualquer pessoa que argumenta. A sua afirmação
não mais na subjetividade, mas na intersubjetividade comunicativa. O é infalível”, se lê no ensaio de 1987 Limites da ética do discurso? Quem
paradigma subjetocéntrico, claramente exaurido e inadequado, deve ser recusaria a argumentação não poderia argumentar de modo algum; ele
substituído pelo “paradigma do entendimento entre sujeitos capazes de seria, como já dizia Aristóteles, “como uma planta”. Esses princípios não
falar e agir”, por uma ética do discurso na qual se afirma o propósito de permitem apenas a fundamentação racional da razão e da comunicação,
resolver de maneira não individualista os problemas da nossa moder- como transbordam no âmbito da filosofia prática servindo como base
nidade recusando as teorias neoconservadoras ou neoanárquicas dos para a possibilidade da sua fundação. As regras a priori da argumenta-
“pós-modernos”. ção, com efeito, possuem a um só tempo um alcance lógico-linguístico
A busca de uma “fundação última” (Letzbegründung) é o motivo e ético-normativo. O princípio apeliano da comunidade ilimitada da
dominante da reflexão de Karl-Otto Apel , o representante mais comunicação e da igualdade de todos os falantes se transforma, por-
importante e influente, com Habermas, da chamada segunda geração tanto, em um critério regulador, em uma norma ética fundamental
da Escola de Frankfurt. Contra a ideia de que não existiriam evidências capaz de fundamentar racional e universalmente os princípios da ação e
inegáveis e verdades indubitáveis, o filósofo retoma e reafirma o funda- de refutar “o ceticismo e o relativismo ético” dos pós-modernos. A ética
mento constituído pelo a priori kantiano. A diferença consiste no fato de do discurso destarte formulada, com toda a sua carga emancipatória e
que o a priori, a condição de possibilidade do conhecimento, não é uma democrática, integra-se com a “crítica da ideologia”, vale dizer, com o
estrutura profunda da razão (o eu transcendental), mas sim a linguagem. desmascaramento dos interesses que obstaculizam a comunicação, se
Em Transformação da filosofia (1973) Apel propõe uma “transformação opõem ao perfeito entendimento entre indivíduos gerando formas dis-
semiótica do kantismo” mediante o encontro entre as vertentes analítica torcidas de consciência social. Apel desenvolve e aprofunda as suas teses
(de Wittgenstein a Peirce) e continental (existencialismo, hermenêu- ético-políticas em uma série de intervenções ao longo dos anos 1970 e
tica, fenomenologia). Ambas recusam o paradigma subjetivista da filo- 1980 sucessivamente reunidas no importante volume Discurso e respon-
sofia moderna e privilegiam a linguagem, compreendida não só como sabilidade publicado em 1988.
âmbito específico do trabalho filosófico, mas também como novo para- Quanto à terceira geração da escola de Frankfurt se deve mencionar
digma dentro do qual (re)formular as questões essenciais da filosofia. a posição de Axel Honneth . O ponto de partida da sua reflexão é a
Por outro lado, há entre elas diferenças substanciais, principalmente em teoria do agir comunicativo de Habermas (de quem foi assistente nos
relação a uma instância transcendental típica do pensamento europeu à anos 1980), que é criticada e modificada em um dos seus pontos essen-

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ciais, ou seja, a dialética entre agir instrumental e agir comunicativo, sucessivamente em racionalidade instrumental ou vontade de domínio
entre sistema e mundo da vida. Segundo Honneth, a doutrina haber- não representa um simples desvio da sua vocação fundamental, mas sim
masiana, sustentada exatamente por essas “dicotomias”, revela-se dema- o efeito necessário da sua contaminação originária, da sua gênese vio-
siado rígida e formalista diante da complexidade das sociedades con- lenta e espúria.
temporâneas atravessadas por conflitos sociais que devem ser analisados Em As palavras e as coisas, de 1966, a perspectiva historiográfica
em sua concretude e autenticidade. É a isso que Honneth se dedica nos foucaultiana se precisa como uma arqueologia das estruturas epistêmi-
seus trabalhos mais recentes, nos quais afirma, de forma bastante origi- cas do pensamento. Os resultados dessa reconstrução (sensível às posi-
nal, que o que provoca a luta social e o conflito entre indivíduos e gru- ções anti-humanistas do estruturalismo) lançam luz sobre os limites do
pos portadores de interesses contrastantes não são razões de domínio, humanismo, põem sob acusação o paradigma epistemológico do sujeito
de exploração, de posse, etc., mas sim a ausência de reconhecimento, (ou seja, do paradigma cartesiano de um sujeito forte, fundamento de
o desprezo do outro no qual naufraga a afirmação do Eu individual ou si mesmo e do seu discurso), revelando que ele nada mais é do que
coletivo. um mero enunciado, anunciam a morte do homem. No livro de 1969
Existencialismo, Nietzsche-Renaissance, revolta contra o sujeito Arqueologia do saber o filósofo explicita os pressupostos metodológi-
e morte do homem, estruturalismo e o pós-estruturalismo, a trí- cos das suas pesquisas, buscando agora diferenciar-se do estruturalismo
ade Nietzsche, Marx, Freud (os mestres da suspeita, como os definiu mediante o recurso a Nietzsche e aos “mestres da suspeita”. As críticas
Ricoeur em um célebre escrito de 1963) que substitui os três “HH” até à ciência, ao poder e aos seus aparatos, à pretensão de individuar fun-
então dominantes, vale dizer, Hegel, Husserl, Heidegger: são esses os damentos últimos (o conceito de estrutura) marcam essa fase. Mas é
principais momentos nos quais se articula o cenário filosófico francês exatamente essa crítica, esse movimento de dissolução dos valores, que
a partir do começo dos anos 1950. A sua influência entre nós é enorme. leva a um impasse ético-moral tanto Foucault quanto o pós-estrutura-
É um fato: pensadores transdisciplinares e de forte apelo político como lismo em geral. A arqueologia, o desmascaramento, a crítica põem a nu
Foucault e Deleuze estão entre os mais estudados, comentados e discu- os pressupostos míticos e violentos da razão e denunciam a identifica-
tidos no âmbito cultural brasileiro. ção entre saber e poder. Essa estratégia, porém, uma vez alcançados os
A crítica nietzschiana da racionalidade e o positivismo francês seus resultados, se revela impotente diante do “problema do depois” e
(Auguste Comte, Georges Canguilhelm) convergem no pensamento de da apropriação das suas categorias revolucionárias para usos e fins a
Michel Foucault . Positivista é a concepção de história como uma ela absolutamente contrapostos. A última fase da reflexão de Foucault
sucessão de fases ou estádios; nietzschiana é a convicção de que a his- é consagrada à busca de uma via de fuga desse impasse mediante o con-
tória não é o progressivo esclarecimento da razão; ao contrário, assim fronto com o pensamento grego na tentativa de encontrar novas for-
como o desenvolvimento das ciências, ela não produz um aumento da mas de moral e de racionalidade crítica. Deve ser assinalado que para a
liberdade e da emancipação humana, mas tão-somente novas formas de compreensão da filosofia de Foucault na sua inteireza são fundamentais
sujeição. Suspeitar, desmistificar, desmascarar: são esses os “imperati- as intervenções breves (artigos, prefácios, entrevistas) reunidas depois
vos” que orientam o trabalho historiográfico, filosófico, político-social da sua morte nos vários volumes de Ditos e escritos (1994) e os cursos
de Foucault. Em História da loucura (1961) se mostra a dialética interna ministrados no “Collège de France” nos anos 1970 e 1980 que vêm sendo
que mina a razão moderna: o seu nascimento é marcado pela abrupta publicados com base em um laborioso trabalho de edição. Alguns de
segregação da loucura que antes tolerada e elogiada é transformada pelo seus temas ético-políticos influenciaram os trabalhos, em avançado
racionalismo cartesiano em doença, patologia, vício. Trata-se de um estado de consolidação teórica, dos filósofos italianos Antonio Negri,
nexo essencial, pois o fato de que a razão tenha podido transfigurar-se Giorgio Agamben e Roberto Esposito.

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A individuação de três momentos essenciais pode servir como bús- do eterno retorno no qual apenas as forças ativas voltarão enquanto as
sola para elucidar a complexa maquinária de pensamento criada por reativas (as do ressentimento, da negação, do espírito de vingança) desa-
Gilles Deleuze . O primeiro: nietzschiano; anti-dialético; da diferença parecerão. Em Diferença e repetição (1968) e Lógica do sentido (1969)
e da multiplicidade do real. O segundo: colaboração com o psiquiatra e a inspiração nietzschiana confirma-se e aprofunda-se: discutem-se
psicanalista Félix Guattari ; Marx e Freud que se juntam a Nietzsche; conceitos como “simulacro”, “máscara”, “evento”, produzem-se séries e
“pensamento 68”; das máquinas desejantes, do nomadismo, do corpo pluralidades, elabora-se uma “filosofia do acaso”, declara-se a necessária
sem órgãos, do rizoma. O terceiro: ordem no caos; literatura, cinema, contingência do sentido, afirma-se a diferença como a caótica multipli-
filosofia; do recuo. Sem esquecer o Deleuze refinado filósofo e historia- cidade do devir do mundo.
dor da filosofia com os livros sobre Hume (1953), Lucrécio (1961), Kant Em 1969 começa a colaboração de Deleuze com Guattari. A filoso-
(1963), Bergson (1966), Espinosa (1968)... fia da diferença do primeiro, de cunho nietzschiano, enxerta-se nas duas
No começo de Nietzsche e a filosofia, de 1962, Deleuze destaca um vertentes (teóricas e práticas) que marcam a formação do segundo, vale
ponto fundamental da reflexão nietzschiana: “a introdução dos concei- dizer, o marxismo e a psicanálise. O resultado é o Anti-Édipo publicado
tos de sentido e valor na filosofia”. O verdadeiro “problema crítico” con- em 1972. No livro, não imune à atmosfera revolucionária, anárquica e
siste no “valor dos valores”, na avaliação da qual provém o seu valor, libertária da contestação de 1968, as linguagens nietzschiana, marxista e
ou seja, “é o problema da sua criação”. A reconstrução genealógica freudiana-lacanianana são utilizadas de forma bastante heterodoxa para
dos valores, com efeito, revela que eles não são princípios absolutos e plasmar um edifício teórico cujos alicerces são as “oposições” dos mes-
indiscutíveis, mas criações demasiadamente humanas, manifestações, tres da suspeita: vontade de potência/representação (Nietzsche), produ-
produções da vontade de potência. Estamos diante de uma “filosofia ção/ideologia (Marx), desejo inconsciente/consciência (Freud). Deleuze
da vontade”, de um movimento absolutamente antidialético, de um e Guattari as usam, por um lado, para idealizar o conceito de “máquina
querer que não realiza e consome o trabalho do negativo porque não desejante” caracterizada por três pulsões fundamentais, ou seja, von-
age a partir de uma falta de forças às quais pretende remediar, mas sim tade, produção, inconsciente e, por outro, para individuar os fatores que
apoia-se na sua própria afirmatividade. É a potência (a multiplicidade, escondem, dificultam, reprimem o “desejo produtivo”, vale dizer, repre-
o dizer sim) a querer-se através da vontade e não a vontade a querer sentação, ideologia, consciência.
a potência: esta “é aquilo que quer na vontade. A potência é na von- Contra Freud, a sede natural da produção desejante não é a família,
tade o elemento genético e diferencial. Por isso a vontade de potência é mas a sociedade; e é aqui que deve ser procurado o seu fundamento que
essencialmente criadora, escreve Deleuze. Contra o monismo de Hegel, não é individuado no “ego” consciente e nevrótico, mas no “id” incônscio
destaca-se a importância decisiva da teoria nietzschiana das forças e o e esquizofrênico. Não como patologia, mas como consumada afirmação
seu caráter relacional no qual a diferença se emancipa, finalmente, do do multíplice, a esquizofrenia é o “universo das máquinas desejantes
negativo: toda força relaciona-se com outra sem pretender negá-la, mas produtivas e reprodutivas, a universal produção primária”, a “realidade
afirmando apenas a sua diferença. Deleuze opera uma (problemática e essencial do homem e da natureza”. Dessa centralidade deriva a proposta
criticada) distinção: há uma diferença quantitativa, a partir da qual as de substituir a psicanálise pela “esquizoanálise”. Para destacar ainda mais
forças seriam definidas como dominantes ou dominadas, e uma dife- o caráter impessoal e não individualista das “máquinas desejantes” que
rença qualitativa, que determinaria forças ativas ou reativas. Dois polos operam em um mundo caótico e em incessante devir, são cunhados os
estariam presentes na própria vontade de potência; é tudo isso que per- conceitos de “pensamento nômade” e de “corpo sem órgãos”. Em 1980
mite avançar a ideia não só de um eterno retorno não do mesmo, mas é dado à estampa Mil Platôs, no qual uma das contribuições mais inte-
da afirmação absoluta da diferença, assim como do caráter selecionador ressantes, embora não totalmente nova, é a oposição entre pensamento

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sistemático e dogmático (a árvore, nas palavras de Deleuze e Guattari) em O gosto do segredo (1997) quando reconhece que nunca pôde nem
e pensamento líbero e nômade (o rizoma) e a constatação da esmaga- quis renunciar a uma “injunção ao sistema” compreendido como “uma
dora predominância da imagem (ou conceito) da árvore na Civilização espécie de consequência, de coerência, de insistência”. Uma injunção
ocidental. atestada pela “recorrência de motivos, de referências de um texto para
Por fim, o terceiro momento do percurso deleuziano é represen- outro, malgrado a variedade das ocasiões e dos pretextos” e que se torna
tado essencialmente pelo livro O que é a filosofia?, escrito com Guattari ainda mais importante à luz da sua conclusão: “Tudo o que pude escre-
e publicado em 1991. Tom e propósitos são bastante diferentes das obras ver ao longo destes últimos trinta anos foi guiado por uma certa insis-
anteriores. Caos, rizoma, nomadismo, produção desejante... Grande tência que outros poderão achar também muito monótona”.
parte da antiga maquinária de pensamento é repensada na tentativa de Um motivo fundamental, que aparece já nos primeiros trabalhos
estabelecer um mínimo de ordem, uma “fundamentação” imanente. fenomenológicos (meados dos anos 1950) e que nunca se eclipsará, é:
Arte, ciência, filosofia – de modo diverso, mas convergente – são, entre todas as dicotomias, as oposições, as divisões teóricas e terminológicas
todas as atividades humanas, as que buscam construir “um pouco de da nossa tradição metafísica (bem/mal, masculino/feminino, espírito/
ordem para nos proteger do caos”, as que “traçam planos secantes no matéria, homem/animal, racional/irracional, voz/escritura, etc.) escon-
caos” permitindo atravessá-lo sem afundar ou perder-se. Um vislumbre dem um potentíssimo juízo de valor. Às ocultas de toda teoria age uma
de ordem na desordem, pois; um “critério” que nos oriente no mundo, no axiologia. Os nossos discursos e as nossas escolhas não são orientados
caos em que todos nós, máquinas desejantes e esquizofrênicas, vivemos. por regras lógicas, neutrais, mas por hierarquias de valores que operam
Militante do movimento “Socialismo ou barbárie”, autor de uma através da violenta exclusão de um elemento da dicotomia em prol do
série de ensaios influenciados pelas ideias de Nietzsche, Marx e Freud outro que é (im)posto como fundamento, verdade, ideal regulador, etc.
nos quais articulara um programa filosófico-político de emancipação e Derrida mostra que não há origem pura e se consagra, na linhagem de
libertação das pulsões, Jean-François Lyotard deve a sua fama ao Heidegger, à desconstrução da “ontologia da presença” que sustenta a
livro A condição pós-moderna (1979) em que pela primeira vez se define tradição metafísica. Esse trabalho, porém, não visa a outras fundações;
filosoficamente a cultura contemporânea como pós-moderna. Com esse antes e essencialmente retoma o “método” genealógico nietzschiano
termo, Lyotard pretende descrever a condição do nosso tempo na qual para corroer as dicotomias, os valores, as certezas, as teorias, a fim de
se assiste ao fim das grandes narrações ideológicas – iluminismo, idea- fazer vir à luz as suas contradições internas, a sua paradoxalidade, a sua
lismo, marxismo – que sustentavam o projeto filosófico, cultural, social origem espúria, contaminada.
da modernidade e à transição para um paradigma em que dominam A desconstrução – que é um movimento dialético ao mesmo tempo
complexidade, fragmentação, multiplicidade, ecletismo. em que se opõe à dialética concentrando-se no “não dialetizável” – não
Os “quase-conceitos” forjados nas últimas quatro décadas do século só trabalha com a inversão das oposições (gesto clássico da tradição
XX por Jacques Derrida dão forma a um vastíssimo e labiríntico sis- metafísica), como, a um só tempo, evitando a cristalização de um novo
tema de pensamento. A quantidade de estudos sobre ele é imensa e a sua conceito, opera um deslocamento, uma transgressão, uma expropria-
origem vária e disseminada (filosofia, psicanálise, literatura, teologia, ção. “Duplo gesto, dupla estratificação”; um “duplo registro”, uma “dupla
arte, arquitetura, direito, ciências sociais...), assim como as polêmicas, as ciência” que não desacredita, mas insiste no momento da inversão, já
críticas, os modismos, as emulações, as resistências que a sua atividade que em toda oposição, como sabemos, não se dá uma coexistência pací-
sempre provocou. A filosofia de Derrida será exposta aqui mediante o fica, mas sim um conflito, uma violência originária que se revela diante
exame dos motivos fundamentais que atravessam o seu “sistema” de da decisão ou im-posição de uma primazia também axiológica, isto é,
pensamento. Um precioso fio de Ariadne que o próprio filósofo nos doa uma primazia de valores morais. É preciso por um lado intervir na hie-

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rarquia, inverter todo conceito tradicional, e por outro, a um só tempo Ficando posto que para Derrida é impossível sair da metafísica, ten-
“marcar a distância, cuidar para que ele não possa ser – em razão da tar ultrapassar uma época da qual entrevimos o fechamento mas não o
inversão e pelo simples fato da conceitualização – reapropriado” como fim, é possível definir a práxis desconstrucionista como um incessante
se lê em Posições (1972). exercício de desmontagem de textos para fazer vir à luz o removido, os
Alcançamos dois outros motivos essenciais: a escritura e a différance. recalques, os brancos; principalmente o recalque do “rastro” que está na
Derrida afirma a primazia da escritura sobre a voz. Não só, como em origem das contraposições das quais eles se alimentam. Opera-se a par-
Gadamer, o mundo, o ser que pode ser compreendido é linguagem, mas tir dos casos para alcançar as categorias; é uma psicanálise da metafísica
também, e de forma mais radical, contra a tradição moral-metafísica do (e dos textos) em que se revelam as suas doenças, as suas neuroses, os
Ocidente, não existe nenhuma linguagem (a voz, o discurso falado) que recalques que sustentam a sua própria auto-afirmação. É a desconstru-
precede e funda a escritura. Quanto à différance, o termo é uma invenção ção como análise interminável, um duplo movimento de construção e
de Derrida, pois diferença em francês se escreve différence (com e). Os desconstrução em que a atitude psicanalítica interage com os ensina-
dois termos se pronunciam da mesma maneira; e só é possível perceber mentos de Nietzsche sobre a “verdade” (a “Círce dos filósofos”) e com
a diversidade ao escrever. Antes de tudo é preciso assinalar que é através o pensamento de Marx e Freud. A ideia é que a filosofia não deve só
da escritura que a différance opera; é nela e por ela que, ao dar-se e ao desvelar os enganos provindos da realidade externa, como engajar-se
cancelar-se, deixa rastros (e restos) e se transforma na “sessão” genética em uma obra de desmistificação e desmascaramento dos nossos auto-
das diferenças. A différance (que é possível traduzir por diferança) per- -enganos; dos recalques, das pretensões, dos brancos, das auto-ilusões
tence ao mesmo movimento conceitual que produziu a famosa (e muito do “sujeito” (ou do “autor” do texto), antes de tudo a ilusão, a ideia car-
equivocada) fórmula: “não há nada fora do texto” (Gramatologia, 1967). tesiana, metafísica, de um eu forte, auto-fundado, autônomo, sempre
O mundo, a metafísica, a realidade são “textos” porque neles não há pre- presente a si. Desse labor infinito não emergem teses, posições, elemen-
sença, verdade, sentido autêntico, mas apenas “rastros” (que documen- tos simples, mas sim conceitos-limites, isto é, aporias. A partir de 1989,
tam a ausência do algo em si) diferenças e diferimentos; tão-somente após a queda do muro de Berlim, Derrida imprime uma forte virada
uma cadeia de enxertos, contaminações, deslocamentos, envios e re- ético-política ao seu pensamento, na qual todas as soluções unilaterais
-envios. O que se oferece à interpretação (o mundo, a realidade) nada nas quais se fundam as éticas contemporâneas são recusadas e descons-
mais é, portanto, do que texto, escritura. A différance, “singular-plural truídas a fim de mostrar as coimplicações, as aporias, a violência que as
que origem alguma terá precedido”, implica um diferir, um adiar, um atravessa. Derrida, portanto, não renuncia nem remodela os elementos
retardar, (espaçamento temporal), mas também uma diferença espacial. cardeais do seu labor especulativo. Mas, se no plano teórico eles permi-
É um movimento ativo-passivo de produção de diferenças através do tiam, quase obrigavam a não tomar decisão alguma, inverter, deslocar,
diferir, do adiamento, do manter em reserva, é um processo que está insistir nas margens, dialetizar, etc., no plano ético eles obrigam a deci-
sempre já diferindo de si mesmo. Derrida insiste no caráter dinâmico, dir; e a impossibilidade de decidir – a aporia do decidir (sobre o outro, a
histórico, da différance, no sentido que se, por um lado, ela é solidária hospitalidade, o acolhimento, a justiça, a amizade e a inimizade, o dom,
com linguagem e a tradição metafísica, por outro não pode ser reduzida o perdão, etc.) – implica sempre o seu oposto, isto é, a necessidade de
a um fundamento transcendental, a uma essência, a uma abstração filo- decidir. O testemunho de Derrida sobre essas questões, caracterizado
sófica nem a uma experiência concreta, a um acontecimento único. A pelos tons messiânicos do tudo por vir (a democracia, o estado, a justiça,
différance é um “quase-transcendental”, um “quase-conceito”, um “inde- a ética, etc.), é um legado fundamental para o nosso tempo.
cidível” (termo retomado do lógico Kurt Gödel). Nesse contexto, não podemos deixar de acenar à reflexão do pen-
sador que mais influenciou a última fase da filosofia derridiana, ou seja,

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Emmanuel Lévinas . A sua incisiva (re)elaboração de motivos provin- por ele e diante dele: é essa assunção incondicional de responsabilidade,
dos da tradição cultural judaica e de temas como a relação e a alteridade, com efeito, que constitui a identidade, a subjetividade.
já presentes em autores como Franz Rosenzweig e Martin Buber, tem A preocupação ética é essencial no pensamento tardio do filósofo
um papel importante nas atuais discussões de filosofia prática. Nascido alemão naturalizado norte-americano Hans Jonas cujo ponto de par-
na Lituânia e radicado em Paris a partir dos anos 1930, Lévinas é um dos tida, ao contrário de Lévinas, é a ideia de que o fundamento da ética
primeiros a introduzir na academia francesa o pensamento de Husserl deve ser encontrado na ontologia, ou seja, que o dever-ser não pode
e Heidegger. A recusa dos movimentos e das filosofias que dominam o substituir nem pode ser separado de maneira radical de uma doutrina
cenário pós-guerra (existencialismo, comunismo, estruturalismo) deixa do ser. Após os seus singulares estudos, influenciados por Heidegger
Lévinas às margens do debate filosófico francês e europeu: as suas obras e Bultmann, sobre gnosticismo, existencialismo contemporâneo e nii-
só serão reconhecidas a partir do final dos anos 1970. Motivo fundamen- lismo (os dois volumes de Gnosis und spätantiker Geist, 1934 e 1954),
tal da reflexão levinasiana é a questão do Outro que se desenvolve filo- Jonas tenta formular, em Princípio responsabilidade (1979), uma ética
soficamente a partir do tema husserliano da superação da objetividade adequada à idade da técnica, aos seus perigos, aos seus desafios. Nesse
rumo à consciência constituinte, e da distinção heideggeriana entre Ser sentido, é a integridade da própria natureza, os direitos das gerações
e Ente definida como “a coisa mais profunda de Ser e Tempo”. Lévinas, futuras, o meio ambiente que devem ser tutelados em uma ampliação
todavia, logo se afasta da ontologia de Heidegger, acusado tanto de “sub- do horizonte ético (uma “ética planetária”) no qual as relações inter-
meter o humano aos desígnios anônimos do ser”, como de ter abando- -humanas e as problemáticas morais não são mais o único objeto de
nado a fenomenologia para se refugiar em um modo de filosofar pouco investigação. O princípio responsabilidade de Jonas pode ser sintetizado
“verificável” que na fase pós-virada (Kehre) limita-se a uma análise da na sua famosa reformulação do imperativo categórico kantiano: “Aja de
poesia e das etimologias. Nas suas obras mais importantes (Da existên- maneira tal que as consequências da tua ação sejam compatíveis com a
cia ao existente, 1947; Totalidade e infinito, 1961; Humanismo do outro permanência de uma autêntica vida humana na terra”.
homem, 1972; De outro modo que ser ou para além da essência, 1974; Ética Jean -Luc Nancy é o filósofo mais importante da geração pós
e infinito, 1982) Lévinas critica a tradição ontológica do Ocidente com- Foucault-Deleuze-Derrida. O seu pensamento se estrutura mediante
preendida como busca incessante de uma teoria geral do ser regida pelo uma série de conceitos (sentido, localização do ser, estar-com, lei ou
princípio de totalidade. Enquanto negação da alteridade, a totalidade lógica do abandono, liberdade, experiência...) que operam tanto na
é fonte de violência, egoísmo, hegemonia. O filósofo franco-lituano é esfera propriamente ontológica, como no âmbito ético-político. “O ser
peremptório: é necessário substituir o princípio de totalidade pelo prin- abandonado”, título do ensaio que encerra o livro O imperatívo categó-
cípio de alteridade ou, em outras palavras, abandonar a ontologia em rico (1983), é essencial para compreender o percurso filosófico de Nancy.
prol da ética. Com efeito, o Outro só pode ser percebido no interior A reflexão é ontológica; é sobre o sentido do ser, vale dizer, sobre a loca-
de uma relação ética, na qual as diferenças não são negadas e a alteri- lização do ser. Com a desconstrução da metafísica tornou-se evidente
dade é radicalmente, e incondicionalmente, reconhecida e respeitada. A que a nomeação do ser é impossível. O ser (o sentido) não tem nome.
relação ética não apenas rompe a continuidade do Ser e introduz uma Ele existe, localiza-se (Da-sein, estar-aí, ser-aí, être-là; há o ser, il y a,
dimensão de transcendência e infinidade em virtude da qual a ideia de c’è). Como já sustentava Aristóteles, o ser se diz de muitas maneiras; ele
Deus pode readquirir o seu sentido, como abre caminho para uma nova é abandonado à multiplicidade dos seus nomes, das suas definições, e
subjetividade. Segundo Lévinas, o eu, o sujeito, como identidade plena e abandonado pelo nome, pela ideia de ter um nome. O abandono, porém,
forte, deve sim perder-se na sua relação com o Outro, mas tão-somente não deve ser compreendido como uma ideia (ou essência, fundamento,
para sujeitar-se a ele, ou seja, para tornar-se absolutamente responsável etc.) do ser, que o precipitaria novamente nos abismos da tradição

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metafísica. Ao contrário: o ser é abandonado à multiplicidade das suas rão, que elas são no presente, mas que eram nada no passado e serão
ideias, das suas definições entre as quais não é mais possível estabelecer nada no futuro, que as coisas passadas não são mais e que as futuras não
hierarquia alguma. É Ser Singular Plural (título do livro de 1996). No são ainda: a tradição ocidental “é consentimento ao não-ser do ente”,
abandono e na deriva o ser só pode ser localizado a cada vez como um afirmando que o ente não é – consentindo à inexistência do ente – ela
certo ser-aí, um determinado estar aqui: há o ser. Ele se diz abandonado “afirma que o não-nada é nada. O pensamento fundamental da meta-
por todas as categorias, todos os fundamentos, todos os transcendentais. física é que o ente, como tal, é nada”. Niilismo radical, pois, ao qual o
Nancy fala explicitamente de lei, ou lógica (do abandono, assim como da Ocidente tentou remediar em vão ao longo da sua história milenar, não
experiência, da liberdade, do partage, etc.), cuja aplicação a diferentes reconhecendo a contradição e fundando-se nela, de afirmar a nadidade
âmbitos e conceitos – existência e liberdade, por exemplo – caracteriza daquilo que é (do ente). “Nós pensamos e vivemos as coisas como se
grande parte da sua reflexão. fossem um nada”, escreve Severino em Essência do niilismo (1972). Para a
“A existência é a essência de si mesma”: esta simples definição está civilização europeia as coisas são nada, o sentido que “orienta a história
na base de A experiência da liberdade (1998) cujo argumento “consiste do Ocidente, é a nadidade das coisas”; e a essência do Ocidente é o nii-
em deslocar o conceito de ‘liberdade’ da autonormatividade de um lismo, “pois o sentido do niilismo é o de transformar em nada as coisas,
Sujeito infinito para a exposição de um existente finito”. A liberdade é é a persuasão de que o ente seja um nada, e é o agir guiado e estabelecido
a liberdade da existência que, abandonada a si própria e abandonada por esta persuasão”.
por toda determinação e todo Ser, não possui nenhuma essência. Ela é o Considerado um dos maiores filósofos italianos da atualidade, o
princípio, o sentido de si mesma. É a liberdade da existência da essência, mais famoso e o mais estudado, Gianni Vattimo fala pela primeira
uma existência imprevisível, que sempre já surpreende, e sobrevém a si vez em pensiero debole (pensamento fraco) na Universidade de Salerno
mesma. É o cair sobre si do ser. A liberdade não é de forma alguma abs- (Itália) no começo dos anos 1980. Em 1983 a expressão torna-se o título
trata ou teórica, algo que possa ser dissecado, sistematizado, formulado de uma coletânea que irá marcar o debate filosófico continental e cuja
uma vez por todas – em uma expressão: que possa transfigurar-se em origem pode ser encontrada na exigência de confrontar-se com o
ideo-logia. A liberdade, apenas, se experimenta; a existência é a experi- volume editado em 1979 por Aldo Giorgio Gargani, Crise da razão, em
ência da liberdade da existência da essência. E quando essa experiência que se reafirmava a necessidade de uma “outra” razão. O leitmotiv da
se traduz em palavras, o próprio dizer (a nossa liberdade) será também coletânea era a individuação dos traços fundadores de um novo tipo de
uma experiência. Uma experiência do pensamento. racionalidade que pudesse ser contraposta ao vazio deixado pela eclosão
O pensamento do absoluto e a ontologia neoparmenidiana de e radicalização da crise: estava em jogo a tentativa de salvar uma razão
Emanuele Severino representam um dos momentos mais significa- agonizante da ameaça irracionalista. Ao contrário, a reflexão dos teóri-
tivos da filosofia italiana do século XX . Dois, em extrema síntese, são os cos do “pensamento fraco” se caracterizava por uma radical renúncia
pontos centrais da sua reflexão: a tese da eternidade e da necessidade do a qualquer tipo de tentativa que visasse à preservação ou à reconstitui-
devir (e não de um ser divino, como no seu mestre Gustavo Bontadini), ção da racionalidade metafísica. Considerava-se a “morte” da Razão um
e a ideia de que a civilização ocidental, de Platão ao mundo atual da acontecimento positivo, libertador, destruidor dos obstáculos dissemi-
técnica e da ciência, fundamenta-se no niilismo. Para Severino o pen- nados pela concepção do fundamento único.
samento e o agir ocidental tem a sua razão metafísica mais profunda, e A ideia, o pressuposto comum dos ensaios de Il pensiero debole,
ontologicamente originária, na vontade que o ente seja nada, na crença como se lê na introdução assinada por Rovatti e Vattimo, é que tanto
no devir. Em outros termos: pensar que as coisas estejam no tempo, que os discursos italianos sobre a crise da razão (com os seus esforços de
nasçam e morram, significa que elas surgem do nada e a ele retorna- restaurar a mesma coatividade da razão clássica ou com o propósito-

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-nostalgia de reconstruir uma razão global, ou seja, o de uma nova
sociedade “revolucionada”, mais legítima porque capaz de incluir tudo a de uma Verwindung (ultrapassamento; torção e distorção) e de um
aquilo que a razão clássica havia excluído), como muitas versões do cha- rimettersi (remeter-se, restabelecer-se, curar-se de uma doença, estar
mado pós-estruturalismo francês (dos rizomas de Deleuze à microfísica convalescente, e, em um certo sentido, resignar-se). Quanto ao niilismo
de Foucault) tenham ainda “demasiada nostalgia da metafísica” e não (trata-se do niilismo ativo, consumado, perfeito de que fala Nietzsche),
levem até às suas consequências extremas “a experiência do esqueci- ele é “a nossa única chance”, como Vattimo escreve em O fim da moder-
mento do ser ou da ‘morte de Deus’, que principalmente Heidegger e nidade (1985), porque permite desmascarar, acusar e dissolver as pre-
Nietzsche anunciaram à nossa cultura”. Entre as feições de uma possível tensões fortes, absolutas, violentas, silenciadoras da tradição metafísica,
“aventura não metafísica do pensamento” que o livro propôs há 25 anos abrindo dessa forma caminho para uma possível emancipação cujos
devem ser ressaltadas pela sua atualidade e pregnância: 1) a importância aspectos éticos-políticos são delineados nos escritos mais recentes do
decisiva da descoberta nietzschiana e marxista do nexo entre evidência filósofo, principalmente em Nichilismo e emancipazione (2003). Por
metafísica (coatividade do fundamento) e relações de domínio, opres- outro lado, só operando niilisticamente, ou seja, reconhecendo o pró-
são e poder dentro e fora do sujeito; 2) isso não significa, porém, que seja prio estatuto de interpretação, a sua radical historicidade, a sua inserção
necessário, nem útil, precipitar-se na elaboração de filosofias da emanci- em um patrimônio de sentido transmitido e herdado, a hermenêutica
pação, do desmascaramento e da desmistificação; 3) ao contrário: é pre- (legado de Hans-Georg Gadamer e Luigi Pareyson) consegue evitar o
ciso considerar o mundo das aparências, dos procedimentos discursivos perigo de atuar como uma simples, e no fundo vã, “filosofia relativista da
e das formas simbólicas como o “lugar de uma possível experiência do multiplicidade das culturas”. Com efeito, como a hermenêutica niilista
ser”. Um ser que não possui, obviamente, o mesmo valor e a mesma força argumenta para demonstrar a própria “validade”? Oferecendo como
do ontos on metafísico, mas que indica, apenas, uma “direção de pensa- “prova” da própria posição, responde Vattimo em Para além da inter-
mento capaz de se articular (portanto de raciocinar) na meia-luz”; 4) a pretação (1994), uma história, tanto no sentido de res gestae, como no
identificação de ser e linguagem, que a ontologia fraca e a hermenêutica sentido da história rerum gestatorum, e talvez também, realmente, no
retomam da reflexão heideggeriana, não é uma maneira de retornar ao sentido de uma “fábula” ou de um mito, “já que se apresenta como uma
ser original, verdadeiro, esquecido, mas apenas um meio, um caminho interpretação (que pretende validade até apresentar-se uma interpreta-
“para reencontrar novamente o ser como rastro, lembrança, um ser con- ção concorrente que a desminta) e não como uma descrição objetiva de
sumido e enfraquecido (e só por isso digno de atenção)”, um ser do qual fatos”. A hermenêutica apresenta-se (e é esta a sua “verdade”) como a
nada mais há. O ser não é, ele, antes, acontece (accade), é evento, trans- “interpretação filosófica mais persuasiva de uma situação, de uma época
-missão, envio, destino. e, logo, necessariamente de uma proveniência”, de uma história (ves-
Nos anos sucessivos à publicação do “manifesto fraquista” essas tígio, destino-envio, transmissão) que fala também, antes de tudo, do
teses são aprofundadas e refinadas. Niilismo, pós-modernidade e her- sentido do Ser, isto é, do seu enfraquecimento, da sua Verwindung, etc.
menêutica se precisam como os alicerces da reflexão vattimiana que, é Quanto à pós-modernidade filosófica, são Nietzsche e Heidegger
bom deixá-lo claro, não pretende renunciar nem ao rigor argumentativo a permitirem a passagem “de uma descrição puramente crítico-negativa
típico da filosofia nem à possibilidade de formular uma ontologia, de da condição pós-moderna, a uma consideração desta como possibili-
ainda falar do ser e do seu sentido. Não se trata, como é óbvio, de remo- dade e chance positiva”. O niilismo ativo daquele e a crítica do huma-
delar antigos esquemas fortes de pensamento, mas da constatação de nismo e a Verwindung da metafísica deste podem ajudar o pensamento
que a metafísica não é alguma coisa que possa ser deixada simplesmente a se colocar de maneira construtiva na condição pós-moderna (ou “pós-
de lado, abandonada, superada. Diante dela a única atitude possível é -histórica”, para usar um termo do antropólogo Arnold Gehlen); ou seja,

54 55
essencialmente, uma condição na qual “tudo tende a nivelar-se no plano
da contemporaneidade e da simultaneidade” mediante a expansão e o
uso em escala mundial dos novos meios de comunicação (televisão e,
principalmente, internet). Em A sociedade transparente (1989), Vattimo
saudou de uma forma extremamente positiva esse processo; a hipótese
formulada no livro dizia respeito à oportunidade de uma sociedade
tornada plenamente transparente mediante a multiplicação das pos-
sibilidades de comunicação, e na qual todos teriam as condições e os
instrumentos necessários para interpretar a “realidade” e nela intervir.
Os últimos anos, porém, desmentiram essa visão otimista: a multiplica-
ção dos meios e das possibilidades de comunicação não só não tornou
a sociedade mais transparente e mais “hermenêutica”, como revelou o Referências bibliográficas
perigo e a constante ameaça do controle e da manipulação das infor-
mações e das suas fontes. Diante dessa situação, insiste Vattimo, é mais
urgente do que nunca assumir o niilismo como a nossa única chance,
rejeitando a tentação de reagir à profunda crise que abala o nosso tempo
mediante um retorno ao fundamento metafísico, violento e silenciador.

56
Quanto às obras gerais , Cf. entre outras: N. Abbagnano, Storia della
filosofia, (1993); edição do Istituto Geografico De Agostini, Novara, 2006
(especialmente os volumes VII, VIII e IX dedicados ao pensamento con-
temporâneo cuja autoria é respectivamente de G. Fornero; D. Antiseri, F.
Restaino e G. Fornero; F. Restaino e G. Fornero; F. D’Agostini, Analiticos
e Continentais, São Leopoldo, Editora da Unisinos, 2002; R. Bodei,
A filosofia do século XX, São Paulo, Edusc, 2000; C. Delacampagne,
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Derrida, Rio de Janeiro, Zahar, 2004; Il bello del relativismo. Quello che
resta della filosofia nel secolo XXI, Marsilio, Veneza, 2005 (com ensaios,
*
A atualização e a revisão dessa bibliografia são o fruto do trabalho dos meus orientandos
de Iniciação Científica da UFPI (2010-2011) Bruna Rodrigues Soares, Francisco Edson Da
entre outros, de J. Butler, F. D’Agostini, M. Ferraris, M. Nussbaum, R.
Silva Damascena e Pedro Freitas Neto. Rorty, P.A. Rovatti, G. Vattimo); VV.AA., Temas de ética e epistemolo-

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em acreditar, Lisboa, Relógio D’Água, 1998; Para além da interpretação.
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