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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

ASTOLFO MONTEIRO RAINER

A CONQUISTA ESPIRITURAL ESPANHOLA: ORGANIZAÇÃO E ATUAÇÃO DA


IGREJA NA AMÉRICA COLONIAL

VITÓRIA,ES
2016
ASTOLFO MONTEIRO RAINER

A CONQUISTA ESPIRITURAL ESPANHOLA: ORGANIZAÇÃO E ATUAÇÃO DA


IGREJA NA AMÉRICA COLONIAL

Trabalho apresentado por Astolfo Monteiro


Rainer à Universidade Federal do Espírito Santo,
para a obtenção de nota na disciplina de História
da América Colonial do curso de
Bacharelado/Licenciatura em História.
Orientador: Antonio Carlos Amador Gil

VITÓRIA,ES
2016
SUMÁRIO

1)INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3
2)DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 4
2.1) Contexto ............................................................................................................. 4
2.2) Organização da conquista espiritual .................................................................. 5
2.3) Construção de um novo imaginário .................................................................... 7
2.4) Resultado: transculturação e resistência indígena ............................................. 11
3)Conclusão ............................................................................................................. 13
Referências Bibliográficas ..................................................................................... 14
3

1) INTRODUÇÃO

A Igreja desde a Idade Média teve uma postura que ultrapassou seu âmbito
religioso, chegando muitas vezes a controlar e influenciar a vida política, social e
econômica. Já nos é conhecido que houve uma atuação da mesma nos períodos de
colonização da América. Diante disso, torna-se mister maiores pesquisas a fim de
desvendar a maneira como ela atuou, até que ponto contribuiu no sucesso da
colonização, e ao mesmo tempo na dizimação desse povos nomeados pelos
europeus como índios.
Nesse trabalho, buscarei expor à respeito da atuação da Igreja Católica no
processo de conquista da América pelos europeus, especificamente nesse caso a
conquista espanhola. Primeiramente ressaltarei o contexto que propicia a forte
atuação da Igreja nesse processo, a importância tanto religiosa quanto política, onde
ambas as instituições atuaram. Entendido a relevância do clero nessa nova fase de
política exterior, fica por fim, viável relatar a chegada desses religiosos em terras
coloniais até quais foram os principais grupos de atuação e sua formas de
catequizar e lidar com os povos nativos.
4

2) DESENVOLVIMENTO

2.1) Contexto

A partir do século XV, a Igreja passou por uma gradativa perda de influência,
principalmente política na sociedade. Alguns eventos ocorridos no mundo europeu
contribuíram para a diminuição de sua hegemonia, sendo esses, o Renascimento,
onde houve a maior valorização do homem com o humanismo, individualismo e a
laicização, se intensificando posteriormente com Reforma Protestante, um
movimento que reivindicou contra diversas posturas da Igreja e de seus
representantes.

Ainda que o período mostra um desprendimento dessa visão medieval e muito


próxima do religioso, a sociedade como um todo ainda é muito ligada ao imaginário,
o desprendimento não foi total nem ocorreu de forma rápida e avassaladora. Os
próprios colonizadores, que empreenderam as primeiras viagens enfrentando as
lendas religiosas de monstros marinhos e outros perigos do oceano, eram católicos
e pregavam assim como a Igreja a expansão da fé católica. Assim como pensavam
que sua sociedade era um “modelo” a ser seguido perante as outras, o mesmo
pensavam quanto a sua religião, acreditavam que ela deveria ser o padrão a ser
seguido. Essa ideia de expansão da fé pode ser exemplificada no caso de Colombo,
como afirma Hilário:

“A ambição de Colombo não era totalmente em relação á


obtenção de riquezas, embora fosse com a promessa de ouro
que ele acalmava a sua tripulação e o rei da Espanha, o
financiador da viagem. A expansão do cristianismo era muito
mais importante para Colombo doque o ouro: [...].”1

No ano de 1492, ficou consolidado a reconquista dos territórios ibéricos que


foram tomados pelos muçulmanos e no século XV reconquistados pelos europeus.
Tal processo, além de sua importância política e territorial, serviu para uma maior
aproximação entre o Estado e a Igreja. É um período em que o Estado pode atuar
de maneira mais ativa nos assuntos religiosos, tendo apoio para isso. Segundo
Diego Ricoy:

“O Estado começa a participar mais das decisões eclesiásticas,


tendo certa autoridade para efetuar vetos e nomeações.O

1
HILÁRIO, Janaína Carla S. Vargas. História da América I. Londrina: Editora CDI Unopar, 2008.p.64
5

Padroado Régio centralizava seus interesses evangelizadores


e ao mesmo tempo conferia legitimidade ao Estado diante das
conquistas territoriais, como se fosse uma “troca de favores”,
cada um legitimando as ações do outro.”2

Dessa forma, temos um contexto em que a Instituição Católica precisa recuperar


e aumentar seu poderio e a quantidade de adeptos, e o Estado quer legitimar ainda
mais a sua colonização no “Novo Mundo”. Tais interesses vão atuar como uma
“troca de favores” na América Colonial.

2.2) Organização da conquista espiritual

O Estado espanhol promoveu logo no início da colonização a conquista no


âmbito político e militar, deixou a cargo da Igreja a conversão religiosa, ou seja, a
tentativa de fazer a conquista espiritual. A responsabilização dessa tarefa à Igreja
era vantajoso tanta para ela, que aumentava os adeptos ao catolicismo,
recuperando suas recentes perdas, quanto para o Estado que tratava essa
conquista espiritual com muita importância, pois, além de reforçar seu próprio ideal
religioso, facilitava a submissão e a europeização dos índios. A Igreja irá se
submeter a esses interesses da coroa espanhola, devido há muitos fatores, como
Barnadas disse:

“A falta de meios de que Roma sofria para organizar e financiar


a propagação da fé no Novo Mundo sem o recursoa auxiliares
políticos; o zelo chauvinista de muitos eclesiásticos espanhóis,
que reconheciam ter o rei da Espanha de qualquer forma muito
mais a lhe oferecer que o papa na distante Roma. Sob o
patronato real, o clero desfrutava de um grau surpreendente de
tolerância religiosa, fazendo com que seus membros fossem
ouvidos em todos os processos do governo”3

Para muitos essa evangelização era uma grande oportunidade de combater os


caminhos errados que vinha deteriorando a religião católica, assim, sendo possível
fazer valer o verdadeiro catolicismo, ou “cristianismo puro”.
“Para a Igreja, o sucesso da evangelização do Novo Mundo
seria possível, dentre outros fatores, devido à distância das

2
Ricoy, Diego. América Colonial-Colonização espanhola. Disponível em:
<http://diegoricoy.blogspot.com.br/2009/09/conquista-religiosa-da-america.html> acessado em:
22/06/16
3
BARNADAS, Josep M. A Igreja Católica na América Espanhola Colonial. In: BETHELL, Leslie.
América Latina Colonial, VOL.I. São Paulo: EDUSP, 2004.
6

novas terras em relação à Europa e pelo fato de a América ser


uma terra recém descoberta”.4

A igreja vai estruturar-se de forma própria e complexa no Novo Mundo, .


seguindo a organização adotada na Espanha atuava através de bispados, onde
temos bispos responsáveis por uma unidade territorial episcopal. Esse centro
administrativo também conhecido como diocese, tem uma importância crucial na
sociedade colonial, pois, possui uma função legislativa dentro do sínodo diocesano e
também na instrução dos padres. As paróquias tem um caráter mais local, mas
também tem sua importância.

Com o Concílio de Trento em 1546, houveram modificações na estrutura da


Igreja, que vão influenciar a maneira de atuação da instituição na América. Ainda
que muito conservadorismo da Igreja tenha sido mantido. Podemos sintetizar a
influência do Concílio na fala de Barnades:

“A Igreja do Novo Mundo era, assim,o resultado da confluência


de duas correntes. Uma foi a transladação, das características
da Igreja da Península Ibérica na era dos descobrimentos; a
outra foi a ratificação dessas características pelo Concílio de
Trento”.5

É indispensável ao tratar da estruturação católica na América Espanhola, falar


das quatro maiores ordens que vieram para promover a conversão dos indígenas,
sendo eles: franciscanos, dominicanos, agostinianos e mercedários. Posteriormente,
chegaram também os Jesuítas. Não cabendo nem sendo o objetivo específico desse
trabalho tratar à respeito de todos os grupos, por questão de importância, nos
atentaremos aos franciscanos e dos jesuítas.

Infelizmente, as fontes são escassas quanto as características dos franciscanos


em terras coloniais, sabe-se que eles foram os primeiros a chegar nos territórios da
América Espanhola tendo a temporalização diferente em cada lugar, mas a maioria
acontecendo por volta da década de 1520. Dentre todas as ordens, foram os que
conseguiram o maior número de missionários. Tinham bastante preocupação quanto

4
ALVIM, Márcia. Um franciscano no Novo Mundo: frei Bernadino de Sahagún e sua Historia General
de las cosas de Nueva España. Dísponivel em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoamericana/article/viewFile/1325/1030>
Acessado em: 22/06/16

5
BARNADAS. “A Igreja Católica na América Espanhola”. p.526
7

a instrução de seus noviços, o interesse da ordem também era muito voltado a


catequese.Os homens de destaque dessa ordem foram: o Frei Francisco Jimenez
de Cisneiros, Frei Pedro de Gante e Frei Toríbio de Renavente, conhecido como
Motolinia.

Dividindo o quadro de importância na conquista religiosa, juntamente aos


franciscanos, temos os jesuítas. Essa ordem, fundada por Santo Inácio de Loyola no
ano de 1540, possuía desde sua fundação a intenção da expansão da fé católica,
assim, tinha um caráter reformador e catequisador. Apesar de terem vindo após as
outras ordens, chegando na América por volta de 1572, os jesuítas, no tempo que
atuaram, conseguiram se não ultrapassar, ao menos ficar no mesmo patamar de
importância que os Franciscanos. Segundo Barnadas: “De todas as ordens, os
jesuítas eram os mais independentes da autoridade episcopal, os mais devotados ao
papado, os mais resistentes à burocracia real”.6 Dentre seus grandes feitos, é
imprescindível relatar a criação de escolas(existindo muita discussão em torno da
educação dos jesuítas), e também a criação de universidades, porém, todas
voltadas ao ensino da Teologia ou Filosofia. Apesar dos grandes feitos em relação a
conversão dos indígenas, os jesuítas eram muitas vezes vistos com repúdio pelo
Estado, e isso justamente por esse caráter independente que ameaçava a afirmação
do poder do mesmo em terras coloniais e também pelo caráter utópico que pregava
a valorização do indígena, onde afirmavam que primeiramente devia fazer dos índios
homens, para depois ser cristão. Assim sendo, Carlos III, rei da Espanha, expulsa os
jesuítas de seus domínios no ano de 1767.

Com a expulsão dos jesuítas, o destaque volta a ser dos franciscanos. Vale
ressaltar, que apesar das diferenças entre as duas ordens, podemos dizer que
houve integração de muitos dos hábitos jesuítas pelos franciscanos e vice versa.

“Do mesmo modo que os jesuítas haviam em certa medida


sido inspirados pelos franciscanos na Nova Espanha do século
XVI, os franciscanos do final do século XVII e XVIII adotaram
muitos dos métodos missionários dos jesuítas”. 7

2.3) Construção de um novo imaginário

6
BARNADAS. “A Igreja Católica na América Espanhola”. p.548
7
Ibidem p.546
8

É de vital importância entender que os povos nativos tinham suas próprias


crenças, tinham sua própria fé quanto ao imaginário, valorizavam muito os sonhos e
as cerimônias e cultos, que são frutos de suas religiões. Assim, quebrando com a
visão da historiografia tradicional que acaba diminuindo e não deixando claro o lado
dos “conquistados”, a chegada dos missionários nas terras coloniais espanholas vai
gerar uma confusão, visto esses mundos divergentes que se chocam. Segundo
Serge Gruzinski:

“A realidade colonial transcorria num tempo e num espaço


distintos, baseava-se em outros conceitos de poder e de
sociedade, desenvolvia abordagens específicas da pessoa, do
divino, do sobrenatural e do além. (...) E, no entanto os
evangelizadores queriam que os índios aderissem justamente
ao aspecto mais estranho dessa realidade exótica, sem
referente visível, sem ancoragem local: o sobrenatural cristão”. 8

Nesse ponto, não podemos esquecer da atuação da Inquisição na América


Espanhola, que se instalou na colônia por volta de 1519, funcionando por meio de
tribunais que foram construídos somente anos depois. A atuação da Inquisição em
seu início não era diretamente sobre os indígenas, ela tinha enfoque na parcela de
protestantes, cristãos novos(judeus) e outros grupos menores que atuavam na
clandestinidade, e acabavam muitas vezes confundindo os povos nativos quanto o
catolicismo.

A Igreja, a princípio, por meio de suas ordens vai usar somente do catecismo e
da pregação para promover a conversão. Porém, visto toda a realidade divergente e
complexa, vão perceber a limitação de utilizar tais métodos, uma vez que as
culturas indígenas iam muito além das palavras, valorizava o decifrar dos sonhos,
alucinação e também embriaguez. Dessa forma, era necessário a adoção de
métodos inovadores que alcançassem mais adeptos menos confusão e mal-
entendimento. Podemos elencar esses métodos em três tipos, sendo eles: a
“demonização” dos deuses indígenas, o uso de suportes visuais e a adesão aos
milagres e visões.

No que tange ao primeiro método a “demonização” dos deuses dos nativos, ele
pode soar de maneira simples, mas de certa forma facilitava essa modificação na

8
GRUZINSKI, Serge. (1992). “A guerra das imagens e a ocidentalização da América”, in VAINFAS,
Ronaldo (org.), América em tempo de conquista, RJ: Jorge Zahar, p.271
9

crença indígena. Mais do que convencer a esquecer seus antigos deuses e aderir ao
monoteísmo, que os espanhóis julgavam certo, os evangelizadores, tornaram de
fazer dos vários e diferente rituais nativos rebelações de Satanás.

“Para os evangelizadores, a redução dos cultos indígenas ao


demoníaco implicava, ao mesmo tempo, uma condenação
moral e uma rejeição estética. Os deuses locais só podiam ser
horrendos. O ícone indígena era imediatamente rebaixado à
posição de ídolo proscrito e repugnante”. 9

Quanto a isso, Ronaldo Vainfas também ressalta:

“Utilizando-se quer de métodos violentos, a exemplo da ação


inquisitorial dos bispos, quer de métodos persuasivos, como foi
a catequese jesuítica ou franciscana, a Igreja Colonial
mobilizou o máximo de recursos a seu dispor para erradicar os
cultos diabólicos que julgava existir no mundo indígena”. 10

Outro recurso imediato seria os suportes visuais, podendo ser usado por meio de
pinturas, quadros, esculturas, onde se colocava o que teria de crucial na iconografia
cristã. Na segunda metade do século XVI, esse método já estava bastante difundido,
e por isso, todo esse contato dos índios para com as obras de cunho europeu, gerou
na produção de obras pelos próprios índios retratando o catolicismo. Tal fato, dividiu
opiniões entre os espanhóis, porém, a maioria se pôs contra, relatando a confusão e
deformidade nas obras indígenas. Gruzinski faz uma possível explicação para essa
diferença entre as obras dos povos nativos e dos espanhóis:

“Surge uma grande produção independente, cuja imperfeição,


frequentemente denunciada, deve-se mais à interpretação da
linguagem ocidental do que a alguma falta de habilidade
indígena”.11

A fala dele nos faz voltar a confusão que os índios faziam do imaginário cristão, não
se deve relatar falta de habilidade ou inteligência por parte deles, e sim um choque
de linguagem, crença, entre outros. Para obter sucesso nessa conversão, era
preciso que os povos nativos não somente reproduzissem as imagens, e sim que a
partir dela eles conseguissem uma fração da divindade cristã.

9
GRUZINSKI. “A guerra das imagens e a ocidentalização da América” p.276
10
VAINFAS, Ronaldo. “Idolatrias e milenarismos: a resistência indígena nas Américas”.p.29 Dísponivel em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewFile/2329/1468> acessado em: 22/06/16
11
GRUZINSKI. “A guerra das imagens e a ocidentalização da América” p.275
10

Por fim e não menos importante, a outra forma adotada para conversão foi o
argumento quanto aos milagres e visões. Quanto a isso é relevante ressaltar que
principalmente no início, parte da Igreja e das ordens, limitava e criticava a
materialização do cristianismo por meio de graças divinas. Porém, é possível
perceber tal atitude já no início com os Franciscanos, e a partir da segunda metade
do século XVI, aumentou consideravelmente. Os que adotavam tal recurso ficaram
conhecidos como veneráveis, entre seus supostos feitos, podemos exemplificar
alguns como: Atrair/ afastar chuva, adivinhações, provocar/findar incêndios, entre
outros. Fato é que esse método chamava muito a atenção dos povos nativos, visto
que em algumas crenças das quais eles possuíam havia o curandero, o qual
assimilava muito no que diz respeito ao “dom” com os veneráveis. Fato é que a ideia
de visão/milagre agiu fortemente na penetração no imaginário cristão.

Não questionando se era fictício ou ilusório, os indígenas com o passar dos anos
e maior contato com essa questão da graça divina em meio ao profano, passaram a
ter também visões e aparições divinas. A princípio, as visões indígenas foram tidas
com certo receio pelos evangelizadores. Com o passar do tempo essas visões dos
nativos passaram a ter um cunho mais coletivo do que individual.Gruzinski afirma:
“Mas os índios não exploraram apenas o além cristão. Foram descobrindo, um a um,
Cristo, a virgem, os anjos, os santos, os religiosos falecidos e o diabo em pessoa,
que se manifestaram para vários deles”.12 É a partir desse ponto, que temoss uma
adaptação/sincretismo do catolicismo na sociedade nativa, podendo exemplificar
isso no caso da Virgem de Guadalupe.

A Virgem de Guadalupe hoje é considerada a protetora das Américas. Sua


aparição é intrigante e gera ainda discussões nos meios científicos. Não cabendo
aqui tratar à respeito da história de sua suposta aparição, fato é que na segunda
metade do século XVI, a devoção dos povos nativos para a virgem cresceu
surpreendemente. Isso devido a relatos que eram espalhados e passados também
de pais para filhos. Assim, muitas vão ser as histórias contando sobre uma ou várias
aparições dessa virgem.

“ A partir de então, os escritos, sermões, os sonetos e os


poemas consagrados a Guadalupe alimentam o embrião de um
nacionalismo crioulo(...) A devoção à Virgem de Guadalupe

12
GRUZINSKI. “A guerra das imagens e a ocidentalização da América” p.280
11

expandiu-se gradativamente em torno de uma imagem, contra


a vontade de parte da Igreja mexicana, indo ao encontro da
piedade espanhola e da perpetuação do culto autóctone”.13

2.4) Resultado: transculturação e resistência indígena

Não podemos pensar que os povos nativos, depois de toda a organização dos
missionários aderiu ao catolicismo sem resistência ou abrindo mão facilmente de
suas crenças. Por muito tempo, vários historiadores usaram o termo aculturação,
que dá a entender a imposição de uma cultura sobre a outra. Porém, uma reflexão
mais aprofundada nos permite perceber que não é bem assim, o termo que
representa melhor esse processo de conversão dos indígenas é o de
transculturação, o qual quer dizer que houve influência tanto dos espanhóis para os
povos nativos, quanto vice versa, ainda que em proporções diferentes. Dessa forma,
assim se explica muito do sincretismo que ocorreu entre a doutrina católica e todas
as outras que ela se deparou em terras coloniais. Uma das principais formas de
resistência a conversão religiosa foi a idolatria, seguindo a argumentação de
Ronaldo Vainfas, separaremos a idolatria em dois tipos, sendo elas: idolatrias
ajustadas e idolatrias insurgentes.

A idolatria ajustada, está ligada a um apego do nativo com suas antigas crenças,
porém, sem confrontar o catolicismo. Baseava-se em uma resistência escondida,
feita à margem, quando não era possível o colonizador perceber, como por exemplo
manter a tradição quanto as cerimônias de casamento, nomeação aos recém
nascidos. Era uma forma de manter suas tradições e não confrontar com a
imposição do catolicismo a qual eram submetidos.

Já a idolatria insurgente, diferentemente da primeira conta com uma hostilidade


frente ao espanhol, revoltas armadas, principalmente no que tange à exploração
colonial e ao cristianismo. Foram empreendidas diversas formas de resistência, as
quais não sendo cabíveis de maior explicação nesse trabalho, assim ressalto duas
que tiveram importância considerável, sendo elas: A insurreição liderada por
Tenamaxtle na Nova Galícia(norte do México), iniciada no ano de 1541, ficou
conhecida como “guerra do Mixtón”, onde os espanhóis venceram a resistência
indígena por meio de uma luta bastante sangrenta. Ronaldo Vainfas sintetiza bem
outras resistências:

13
Ibidem p.282
12

“Diversas revoltas dos índios tupi-guarani ocorridas no


Paraguai e no litoral da América Portuguesa evidenciam, ainda,
a referida combinação entre a pregação de xamanes e a guerra
contra o colonizador. No Paraguai seiscentista, conta-nos
Maxime Haubert, alguns xamanes fundaram verdadeiras
igrejas, e dali moveram ataques contra as missões jesuíticas,
matando padres e até ameríndios que se recusassem a largar
O cristianismo em favor das tradições ancestrais.”14

14
VAINFAS, Ronaldo. “Idolatrias e milenarismos: a resistência indígena nas Américas”.p.32
13

3) CONCLUSÃO

O estudo sobre a atuação da Igreja na América Colonial Espanhola é de muita


relevância por ser crucial nas consequências dessa colonização. Sua reflexão não
deve se limitar apenas a questão de conversão dos povos nativos, deve se adentrar
na sua organização e formas de atuação dentro do contexto da época e tentar por
esse caminho colher as consequências que houveram desse “choque de
civilizações” tão diferentes. É importante ter em mente que a atuação do clero tanto
nesse caso como em outros, gera uma modificação que vai muito além do âmbito
religioso, gerando vastas consequências no meio social, político e econòmico.

Nesse trabalho, houve a tentativa de explanar melhor esse fato histórico o qual é
muitas relatado de maneira leviana, como na historiografia tradicional. Dessa forma,
espera-se que a ideia de uma transculturação em detrimento de aculturação, e
também do conceito de sincretismo no lugar de uma imposição religiosa.
14

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVIM, Márcia. Um franciscano no Novo Mundo: frei Bernadino de Sahagún e sua


Historia General de las cosas de Nueva España. Dísponivel em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoamericana/article/viewFile/132
5/1030> Acesso em: 22 de julho de 2016

BARNADAS, Josep M. A Igreja Católica na América Espanhola Colonial. In:


BETHELL, Leslie. América Latina Colonial, VOL.I. São Paulo: EDUSP, 2004.

GRUZINSKI, Serge. (1992). “A guerra das imagens e a ocidentalização da América”,


in VAINFAS, Ronaldo (org.), América em tempo de conquista, RJ: Jorge Zahar

RICOY, Diego. “América Colonial - Colonização Espanhola - Igreja Católica -


Catolicismo - Colonização da América” 2009. Disponível
em:http://diegoricoy.blogspot.com.br/2009/09/conquista-religiosa-da-america.html>
acesso em: 22 de junho de 2016.

VAINFAS, Ronaldo. “Idolatrias e milenarismos: a resistência indígena nas


Américas”.Dísponivel em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewFile/2329/1468> acesso
em: 22 de junho de 2016

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