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VITÓRIA,ES
2016
ASTOLFO MONTEIRO RAINER
VITÓRIA,ES
2016
SUMÁRIO
1)INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 3
2)DESENVOLVIMENTO ........................................................................................... 4
2.1) Contexto ............................................................................................................. 4
2.2) Organização da conquista espiritual .................................................................. 5
2.3) Construção de um novo imaginário .................................................................... 7
2.4) Resultado: transculturação e resistência indígena ............................................. 11
3)Conclusão ............................................................................................................. 13
Referências Bibliográficas ..................................................................................... 14
3
1) INTRODUÇÃO
A Igreja desde a Idade Média teve uma postura que ultrapassou seu âmbito
religioso, chegando muitas vezes a controlar e influenciar a vida política, social e
econômica. Já nos é conhecido que houve uma atuação da mesma nos períodos de
colonização da América. Diante disso, torna-se mister maiores pesquisas a fim de
desvendar a maneira como ela atuou, até que ponto contribuiu no sucesso da
colonização, e ao mesmo tempo na dizimação desse povos nomeados pelos
europeus como índios.
Nesse trabalho, buscarei expor à respeito da atuação da Igreja Católica no
processo de conquista da América pelos europeus, especificamente nesse caso a
conquista espanhola. Primeiramente ressaltarei o contexto que propicia a forte
atuação da Igreja nesse processo, a importância tanto religiosa quanto política, onde
ambas as instituições atuaram. Entendido a relevância do clero nessa nova fase de
política exterior, fica por fim, viável relatar a chegada desses religiosos em terras
coloniais até quais foram os principais grupos de atuação e sua formas de
catequizar e lidar com os povos nativos.
4
2) DESENVOLVIMENTO
2.1) Contexto
A partir do século XV, a Igreja passou por uma gradativa perda de influência,
principalmente política na sociedade. Alguns eventos ocorridos no mundo europeu
contribuíram para a diminuição de sua hegemonia, sendo esses, o Renascimento,
onde houve a maior valorização do homem com o humanismo, individualismo e a
laicização, se intensificando posteriormente com Reforma Protestante, um
movimento que reivindicou contra diversas posturas da Igreja e de seus
representantes.
1
HILÁRIO, Janaína Carla S. Vargas. História da América I. Londrina: Editora CDI Unopar, 2008.p.64
5
2
Ricoy, Diego. América Colonial-Colonização espanhola. Disponível em:
<http://diegoricoy.blogspot.com.br/2009/09/conquista-religiosa-da-america.html> acessado em:
22/06/16
3
BARNADAS, Josep M. A Igreja Católica na América Espanhola Colonial. In: BETHELL, Leslie.
América Latina Colonial, VOL.I. São Paulo: EDUSP, 2004.
6
4
ALVIM, Márcia. Um franciscano no Novo Mundo: frei Bernadino de Sahagún e sua Historia General
de las cosas de Nueva España. Dísponivel em:
<http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoamericana/article/viewFile/1325/1030>
Acessado em: 22/06/16
5
BARNADAS. “A Igreja Católica na América Espanhola”. p.526
7
Com a expulsão dos jesuítas, o destaque volta a ser dos franciscanos. Vale
ressaltar, que apesar das diferenças entre as duas ordens, podemos dizer que
houve integração de muitos dos hábitos jesuítas pelos franciscanos e vice versa.
6
BARNADAS. “A Igreja Católica na América Espanhola”. p.548
7
Ibidem p.546
8
A Igreja, a princípio, por meio de suas ordens vai usar somente do catecismo e
da pregação para promover a conversão. Porém, visto toda a realidade divergente e
complexa, vão perceber a limitação de utilizar tais métodos, uma vez que as
culturas indígenas iam muito além das palavras, valorizava o decifrar dos sonhos,
alucinação e também embriaguez. Dessa forma, era necessário a adoção de
métodos inovadores que alcançassem mais adeptos menos confusão e mal-
entendimento. Podemos elencar esses métodos em três tipos, sendo eles: a
“demonização” dos deuses indígenas, o uso de suportes visuais e a adesão aos
milagres e visões.
No que tange ao primeiro método a “demonização” dos deuses dos nativos, ele
pode soar de maneira simples, mas de certa forma facilitava essa modificação na
8
GRUZINSKI, Serge. (1992). “A guerra das imagens e a ocidentalização da América”, in VAINFAS,
Ronaldo (org.), América em tempo de conquista, RJ: Jorge Zahar, p.271
9
crença indígena. Mais do que convencer a esquecer seus antigos deuses e aderir ao
monoteísmo, que os espanhóis julgavam certo, os evangelizadores, tornaram de
fazer dos vários e diferente rituais nativos rebelações de Satanás.
Outro recurso imediato seria os suportes visuais, podendo ser usado por meio de
pinturas, quadros, esculturas, onde se colocava o que teria de crucial na iconografia
cristã. Na segunda metade do século XVI, esse método já estava bastante difundido,
e por isso, todo esse contato dos índios para com as obras de cunho europeu, gerou
na produção de obras pelos próprios índios retratando o catolicismo. Tal fato, dividiu
opiniões entre os espanhóis, porém, a maioria se pôs contra, relatando a confusão e
deformidade nas obras indígenas. Gruzinski faz uma possível explicação para essa
diferença entre as obras dos povos nativos e dos espanhóis:
A fala dele nos faz voltar a confusão que os índios faziam do imaginário cristão, não
se deve relatar falta de habilidade ou inteligência por parte deles, e sim um choque
de linguagem, crença, entre outros. Para obter sucesso nessa conversão, era
preciso que os povos nativos não somente reproduzissem as imagens, e sim que a
partir dela eles conseguissem uma fração da divindade cristã.
9
GRUZINSKI. “A guerra das imagens e a ocidentalização da América” p.276
10
VAINFAS, Ronaldo. “Idolatrias e milenarismos: a resistência indígena nas Américas”.p.29 Dísponivel em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewFile/2329/1468> acessado em: 22/06/16
11
GRUZINSKI. “A guerra das imagens e a ocidentalização da América” p.275
10
Por fim e não menos importante, a outra forma adotada para conversão foi o
argumento quanto aos milagres e visões. Quanto a isso é relevante ressaltar que
principalmente no início, parte da Igreja e das ordens, limitava e criticava a
materialização do cristianismo por meio de graças divinas. Porém, é possível
perceber tal atitude já no início com os Franciscanos, e a partir da segunda metade
do século XVI, aumentou consideravelmente. Os que adotavam tal recurso ficaram
conhecidos como veneráveis, entre seus supostos feitos, podemos exemplificar
alguns como: Atrair/ afastar chuva, adivinhações, provocar/findar incêndios, entre
outros. Fato é que esse método chamava muito a atenção dos povos nativos, visto
que em algumas crenças das quais eles possuíam havia o curandero, o qual
assimilava muito no que diz respeito ao “dom” com os veneráveis. Fato é que a ideia
de visão/milagre agiu fortemente na penetração no imaginário cristão.
Não questionando se era fictício ou ilusório, os indígenas com o passar dos anos
e maior contato com essa questão da graça divina em meio ao profano, passaram a
ter também visões e aparições divinas. A princípio, as visões indígenas foram tidas
com certo receio pelos evangelizadores. Com o passar do tempo essas visões dos
nativos passaram a ter um cunho mais coletivo do que individual.Gruzinski afirma:
“Mas os índios não exploraram apenas o além cristão. Foram descobrindo, um a um,
Cristo, a virgem, os anjos, os santos, os religiosos falecidos e o diabo em pessoa,
que se manifestaram para vários deles”.12 É a partir desse ponto, que temoss uma
adaptação/sincretismo do catolicismo na sociedade nativa, podendo exemplificar
isso no caso da Virgem de Guadalupe.
12
GRUZINSKI. “A guerra das imagens e a ocidentalização da América” p.280
11
Não podemos pensar que os povos nativos, depois de toda a organização dos
missionários aderiu ao catolicismo sem resistência ou abrindo mão facilmente de
suas crenças. Por muito tempo, vários historiadores usaram o termo aculturação,
que dá a entender a imposição de uma cultura sobre a outra. Porém, uma reflexão
mais aprofundada nos permite perceber que não é bem assim, o termo que
representa melhor esse processo de conversão dos indígenas é o de
transculturação, o qual quer dizer que houve influência tanto dos espanhóis para os
povos nativos, quanto vice versa, ainda que em proporções diferentes. Dessa forma,
assim se explica muito do sincretismo que ocorreu entre a doutrina católica e todas
as outras que ela se deparou em terras coloniais. Uma das principais formas de
resistência a conversão religiosa foi a idolatria, seguindo a argumentação de
Ronaldo Vainfas, separaremos a idolatria em dois tipos, sendo elas: idolatrias
ajustadas e idolatrias insurgentes.
A idolatria ajustada, está ligada a um apego do nativo com suas antigas crenças,
porém, sem confrontar o catolicismo. Baseava-se em uma resistência escondida,
feita à margem, quando não era possível o colonizador perceber, como por exemplo
manter a tradição quanto as cerimônias de casamento, nomeação aos recém
nascidos. Era uma forma de manter suas tradições e não confrontar com a
imposição do catolicismo a qual eram submetidos.
13
Ibidem p.282
12
14
VAINFAS, Ronaldo. “Idolatrias e milenarismos: a resistência indígena nas Américas”.p.32
13
3) CONCLUSÃO
Nesse trabalho, houve a tentativa de explanar melhor esse fato histórico o qual é
muitas relatado de maneira leviana, como na historiografia tradicional. Dessa forma,
espera-se que a ideia de uma transculturação em detrimento de aculturação, e
também do conceito de sincretismo no lugar de uma imposição religiosa.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS