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de Professores:
Uma ênfase cultural
PAULO FREIRE
PEDAGOGIA DO OPRIMIDO
Apresentação
v Público Alvo
v Objetivos do Programa
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A Coordenação do Programa está sob responsabilidade de:
§ Profa. Dra. Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira
§ Profa. Dra. Joyce Wassem
§ Doutorando Cássio Ricardo Fares Riedo
§ Doutorando Fabrízio Marchese
§ Doutorando Gilberto Oliani
§ Doutoranda Marta Fernandes Garcia
v Informes Gerais
- O que é MOOC?
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Cada participante poderá estudar um ou mais autores apresentados no
Programa e receber o Certificado referente ao autor estudado.
Em cada MOOC serão desenvolvidas atividades de diferentes naturezas.
Cada uma delas tem a finalidade de conduzir o participante a compreender
conceitos e ideias principais do autor, bem como favorecer espaço de diálogo com
colegas por meio de Fóruns, promovendo reflexões sobre sua prática e a realidade
educacional em que atuam.
Para cada MOOC há uma estimativa de tempo de estudo de 2 a 4 horas para
o desenvolvimento das atividades por vídeoaula, embora esse tempo dependa de
cada participante.
Nos textos elaborados pela Coordenação do Programa estão trabalhadas:
§ as ênfases dos conceitos teóricos presentes nas obras;
§ as principais ideias concernentes às questões da educação;
§ o contexto social, cultural, político, educacional em que a obra foi escrita.
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Espera-se que cada participante saia mais rico do processo circular: -
Reflexão individual → reflexão coletiva → reestruturação da reflexão individual -
com mais conhecimentos e melhores condições de explorar novas práticas no
cotidiano educacional.
Terá direito ao certificado digital do MOOC, emitido pela Escola de Extensão
da Unicamp – Extecamp, o estudante que tiver aproveitamento de no mínimo 70%,
no processo avaliativo.
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Formação Continuada de Professores: uma ênfase cultural
Embora pareça contraditório, a importância de ler os clássicos está naquilo que eles
têm para contribuir com a educação dos nossos dias.
Gasparin (1997) afirma que um clássico ultrapassa seu tempo e representa fonte
inesgotável de conhecimentos. São leituras que se tornam conhecimentos permanentes e,
mesmo em uma releitura, o leitor descobre novo saberes. Para o autor, “retornando aos
clássicos, progredimos intelectualmente” (GASPARIN, 1997, p. 40).
Ítalo Calvino (1993, p. 10), no seu livro “Por que ler os clássicos” diz que “estes são
conhecimentos formativos que favorecem embasamento para as experiências e que
fornecem escalas de valores, paradigmas de beleza, coisas que continuam a valer
sempre”. A leitura dos clássicos é um importante instrumento para se pensar a educação
na sua complexidade, isto é, na relação que tem com os demais campos do saber, uma
vez que abordam a questão de forma ampla, dando aos educadores melhores condições
de entender as relações da educação com a sociedade, a cultura, as tradições e com as
diferentes áreas de conhecimentos que a compõem.
Essa importância não está em supostas lições imortais ou morais, mas, porque a
profundidade e a diversidade das ideias adquiridas, possibilitam ao professor exercitar a
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reflexão com liberdade de conhecimentos diante das questões do cotidiano. Permitem
também, em cada nova situação, encontrar uma nova resposta.
Perceberam também que esse tipo de leitura produzia uma ação mais benéfica ao
leitor do que leituras de autoajuda. Isto sinaliza que a leitura dos clássicos auxilia o leitor a
refletir e reavaliar suas próprias experiências. Por esse motivo, Philip Davis, responsável
pela pesquisa, acredita que os clássicos seriam mais úteis do que livros de autoajuda.
Cada época, cada cultura, cada área do saber, cada expressão da cultura possui
seus clássicos. Assim temos clássicos nas artes, na música, na filosofia, na matemática,
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nas ciências em geral, no cinema, etc. O que eles têm em comum e o que os faz ser
considerados clássicos é, segundo Gasparin (1997), a quebra de cânones tradicionais, a
busca de novos horizontes frente a determinadas situações sociais, a indicação de
transformação social a partir da crítica e da proposição de uma nova forma de agir, pensar,
refletir, entender, planejar, reconstruir.
No entanto, o clássico não profetiza, não é uma obra desvinculada do seu tempo,
de sua sociedade, de sua história. Por isso, ao estudar um clássico, ou ao ler uma obra
clássica, temos que conhecer a biografia do autor, o contexto social, cultural, econômico e
político em que viveu, pois é nesse cenário que a obra surgiu, que se estruturou e é no
cruzamento desse contexto com as ideias da obra, que se tem um melhor entendimento
das suas proposições. A partir desse referencial não podemos entender um clássico como
uma soma de acontecimentos, de dados ou de fatos lineares. Ele deve ser entendido como
um projeto aberto para novas construções que se faz em cada espaço social e tempo
histórico.
Libâneo (2003) fala que a falta de educação geral é preenchida por uma semicultura
que é uma espécie de cultura feita de vivências que não ultrapassam os limites impostos
por uma falta de formação mais abrangente. De forma geral, os professores têm no nível
superior uma formação mais técnica e menos teórica, defendida por um discurso de que a
formação deve ser prioritariamente prática.
Para Libâneo (2003, p. 38), “Nossos problemas vêm de nossa formação social que
nos legou uma pobreza cultural, nos legou, na verdade, uma semicultura”. Chama a
atenção para o desafio que está presente na formação dos professores quanto a ser capaz
de compensar a precária formação cultural, científica e estética.
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Favorecer uma experiência com o pensamento de alguns desses clássicos é o que
se pretende com estes cursos. Esperamos que o diálogo com eles favoreça um terreno
fértil de questionamento, de apreciação crítica, de posicionamentos sólidos, de
problematizações sobre a educação e sobre questões pertinentes a ela, como a respeito
do homem, do mundo, da sociedade, do conhecimento, da escola, do aluno, do currículo,
do conteúdo, entre outros. O aprendizado sistemático que a leitura e a interpretação das
obras clássicas pode favorecer aos professores, os levará a empreender novas e mais
qualificadas ações no cotidiano escolar.
REFERÊNCIAS
CALVINO, Ítalo. Por que ler os Clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
DAVIS, P. Shakespeare and Wordsworth boost the brain, new research reveals. The
Telegraph, 13/01/2013. Acesso em 16/05/2017.
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Contexto Social e Biografia de Paulo R. N. Freire
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Depois de formado continuou como professor de português no Colégio
Oswaldo Cruz e de Filosofia da Educação na Escola de Belas Artes da
Universidade Federal de Pernambuco. Em 1947 foi nomeado diretor do setor de
Educação e Cultura do Serviço Social da Indústria. Em 1955, junto com outros
educadores fundou, no Recife, o Instituto Capibaribe, uma escola inovadora que
atraiu muitos intelectuais da época, e que continua em atividades até hoje.
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Em 1964, com o Golpe Militar, Paulo Freire e seu processo de alfabetização
foram considerados subversivos e, por isso, Paulo Freire foi preso no Recife, por
75 dias e exilado depois desse período. Como exilado, primeiramente Paulo Freire
esteve na Bolívia, posteriormente foi para o Chile, onde trabalhou por 5 anos,
consolidando sua experiência político-pedagógica. Nessa época também trabalhou
para a “Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação” e para
o Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã do Chile, onde encontrou
espaço político, social e educacional ricos e desafiantes para a consolidação de
seu pensamento pedagógico.
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Trabalhadores (PT). De 1980 a 1986 atuou como supervisor do PT para o programa
de alfabetização de adultos e lecionou na PUC-SP e na Unicamp.
Em 1991 foi fundado o Instituto Paulo Freire na cidade de São Paulo, o qual
realiza inúmeras atividades ligadas às suas ideias para a educação brasileira e
mundial e mantém o grande e fundamental acervo de suas obras. O Instituto tem
projetos em muitos países e também uma sede em Los Angeles, na Universidade
da Califórnia - UCLA-, na Escola de Educação e Estudos de Informação, onde
também são mantidos arquivos de Paulo Freire. Com sua intensa atuação em
vários países, o legado de Paulo Freire não pertence só ao Brasil, mas ao mundo.
Paulo Freire sempre se preocupou com a educação popular. Por meio dela
objetivava não só escolarizar, como formar a consciência política dos indivíduos.
Seus livros retratam sua filosofia e seu posicionamento em favor dos oprimidos.
bancária”, termo que ficou conhecido como característica de sua forte crítica
à educação tradicional.
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De acordo com suas ideias, a alfabetização de adultos deve estar
diretamente relacionada ao cotidiano do trabalhador. Desta forma, o trabalhador
deveria conhecer sua realidade para
poder inserir-se nela de forma crítica e ter
uma atuação voltada para a sua
transformação. Assim sua alfabetização
era uma alfabetização política. Buscava
libertar o educando de chavões alienantes
aproximando o conteúdo da alfabetização
à realidade do trabalhador.
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Depois do Falecimento da Primeira esposa em 1986, Paulo Freire casou-se,
em 1988, com Ana Maria Araújo (conhecida por Nita) pernambucana e sua
orientanda do programa de mestrado da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo.
Contexto Histórico
Logo depois, o mundo viveu a II Grande Guerra, de 1939 a 1945. O fim dessa
guerra alterou a configuração geográfica, política e social do mundo, culminando
na bipolarização ideológica representada pelas duas então potências mundiais: os
Estados Unidos e a União Soviética (hoje não mais existente, dissolvida em 1989).
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Os partidos políticos foram censurados e o políticos se tornaram “biônicos”, isto é,
não eleitos pelo povo, mas designados pelo grupo no poder e, por isso, não tinham
autonomia política. Houve perseguições a intelectuais, a pensadores e a políticos
identificados como esquerdistas. Muitos políticos, intelectuais e pensadores foram
exilados, como o foi Paulo Freire.
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1979: Multinacionais e trabalhadores no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 226
p.
1982: Sobre educação (Diálogos), Vol. 1. Rio de Janeiro: Paz e Terra ( 3 ed.,
1984), 132 p. (Educação e comunicação, 9).
1994 . Paulo Freire e Frei Betto, Essa escola chamada vida . Ed. Ática.
1995. Paulo Freire e Ana Maria Araújo Freire, À sombra desta mangueira,
Olho d'Água.
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1996. Paulo Freire e Ana Maria Araújo Freire. Cartas a Cristina: reflexões
sobre minha vida e minha práxis.
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Formação Continuada de
Professores:
Uma ênfase cultural
Introdução
Tem de ser forjada com ele e não para ele, enquanto homens ou povos,
na luta incessante de recuperação de sua humanidade. Pedagogia que
faça da opressão e de suas causas objeto da reflexão dos oprimidos, de
que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação,
em que esta pedagogia se fará e refará.
Exatamente por ser uma pedagogia com o oprimido, não pode ser realizada
pelo opressor. É o próprio oprimido que terá que realizar o grande esforço de sua
libertação, percebendo e retirando de si o hospedeiro (opressor) que o oprime e
1 Não significa ser mais que o outro, mas se refere ao próprio sujeito que, consciente de ser
inacabado, inconcluso, se insere num movimento constante de busca do “ser mais”, de busca por
humanização. Ver: ASSIS, Jorge. Paulo Freire: Vocação do Ser Mais. Publicado em 6 de setembro
de 2015. 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=DO8O12ByrF8>. Acesso em:
11 jan. 2019.
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impede de enxergar com clareza a realidade e a situação de opressão instalada e
mantida. É Pedagogia do Oprimido porque é conscientização crítica dos oprimidos
para si mesmos e também para os opressores por meio dos oprimidos. É um
movimento de luta por libertação que parte do “ser menos” dos oprimidos e se dirige
ao “ser mais” de todos. “Os oprimidos, lutando por ser, ao retirar-lhes o poder de
oprimir e de esmagar, lhes restauram a humanidade que haviam perdido no uso da
opressão” (FREIRE, 1987, p. 24).
No entanto, há no processo de libertação dos oprimidos uma contradição a
ser superada: muitas vezes, no momento em que tomam consciência da exploração
e de sua condição no mundo, os oprimidos desejam se tornar novos opressores.
Para eles, o ideal de homem livre é ser opressor e isto ocorre porque a sua
consciência ainda não é sua totalmente e, estando aderida ao opressor, possui
valores e concepções da classe opressora. Aspiram ter o padrão de vida do
opressor, em especial, os oprimidos da classe média. É neste ponto que uma
educação libertadora colabora para a superação desta contradição, para a
mudança na estrutura dominadora, para a restauração da humanidade do oprimido
e opressor. No entanto, libertar-se a si e aos outros é tarefa árdua, complexa, um
parto doloroso. Expulsar o opressor que reside dentro de si, requer preencher o
espaço com outro conteúdo: a autonomia, a responsabilidade.
Freire destaca a necessidade de se combater o imobilismo subjetivista o qual
desvia o foco da construção da consciência sobre a situação de opressão, para a
espera paciente do seu desaparecimento natural, como se a liberdade fosse uma
doação e não uma conquista. Esclarece que objetividade e subjetividade não
podem ser dicotomizadas, pois ambas estão presentes no momento de análise da
realidade. Encontra em Marx sua fundamentação para argumentar que a negação
da subjetividade é objetivismo e a negação da objetividade é subjetivismo, bem
como que somente por meio de uma relação dialética subjetividade-objetividade é
possível efetivar a práxis autêntica, ou seja, a ação e reflexão dos homens sobre o
mundo para transformá-lo.
Uma indagação relevante é posta por Paulo Freire na primeira parte do livro:
“se, porém, a prática desta educação implica o poder político e se os oprimidos não
o têm, como então realizar a pedagogia do oprimido antes da revolução?” (FREIRE,
1987, p. 23). Esta discussão é retomada com afinco na última parte, mas a
colocamos aqui para sua reflexão inicial. Ainda, Freire adianta esclarecendo a
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“distinção entre a educação sistemática, a que só pode ser mudada com o poder,
e os trabalhos educativos, que devem ser realizados com os oprimidos, no
processo de sua organização” (FREIRE, 1987, p. 23).
A Pedagogia do Oprimido terá dois momentos: o primeiro, de desvelamento
da situação concreta de opressão pelos oprimidos e seu comprometimento com
sua transformação pela práxis e, o segundo, em que a pedagogia deixa de ser do
oprimido, já que a realidade opressora foi transformada, e passa a ser a pedagogia
dos homens em processo de permanente libertação. Isto porque esta pedagogia
não deseja que os oprimidos tenham novos opressores nem que se transformem
nos que oprimem.
Do ponto de vista dos opressores, tudo que retire o seu direito de oprimir, de
comandar, de dirigir significa opressão a eles. Sentir-se-ão como novos oprimidos,
como violentados se a eles forem feitas restrições em nome do direito de todos.
Para os opressores importa sempre ter cada vez mais, ainda que seja à custa de
muitos que terão cada vez menos. Ser é sinônimo de ter e possuem a crença de
que tudo é possível ser comprado, pois o dinheiro é a medida de tudo e o lucro é o
objetivo maior.
Para Freire (1987), o opressor possui uma visão necrófila do mundo, tem
amor pela morte ao invés da vida. Apropriam-se da ciência e da tecnologia para
utilizá-las de acordo com suas intenções e finalidades, mantendo a ordem
opressora, impedindo aos demais de se apropriarem, de terem voz e vida em
abundância. Consideram-se humanos e, aos demais, coisas. Possuem discurso de
liberdade, de igualdade, de solidariedade, mas não “comungam” com o povo, não
o considera capaz e instaura a cultura do silêncio para que não tenham jamais a
oportunidade de dizer a sua palavra, para que sigam reproduzindo
inconscientemente o discurso opressor.
REFERÊNCIAS
Vídeos:
2
Paulo Freire busca fundamentação teórica em Álvaro Vieira Pinto para discutir a questão do
método. Para saber mais sobre este professor, filósofo e cientista, falecido em 1987, consulte:
<http://www.alvarovieirapinto.org/>. Acesso em: 11 jan. 209.
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MACENA, Chico. Pedagogia do Oprimido - Entrevista com Paulo Freire, do
arquivo pessoal do vereador Chico Macena. Publicado em 18 de maio de 2010.
2010. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=kQvkxJmWpLg>.
Acesso em: 11 jan. 2019.
REFERÊNCIAS
A dialogicidade
3
Lembrando que, não significa ser mais que o outro, mas se refere ao próprio sujeito que, consciente
de ser inacabado, inconcluso, se insere num movimento constante de busca do “ser mais”, de busca
por humanização. Ver: ASSIS, Jorge. Paulo Freire: Vocação do Ser Mais. Publicado em 6 de
setembro de 2015. 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=DO8O12ByrF8>.
Acesso em: 11 jan. 2019.
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homens é, para Paulo Freire, um dado a priori4 do diálogo. Ele adverte que sem
essa fé, o diálogo é uma farsa e se transforma em uma manipulação paternalista.
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a priori : é uma expressão usada para fazer referência a um princípio anterior à experiência. É
usado para indicar “aquilo que vem antes de”.
5
Gnosiológica – vem de gnosiologia, do grego gnosis, 'conhecimento', e logos, 'discurso'. Também
chamada teoria do conhecimento, é o ramo da filosofia que se ocupa do estudo do conhecimento.
É a reflexão em torno da origem, natureza e limites do ato cognitivo.
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adaptação dos homens ao contexto, ou a doutriná-los e dominá-los numa ação
apassivadora. Muito ao contrário, visa a transformação da realidade opressiva.
O conteúdo para ser um meio de educação libertadora, se organiza a partir
da situação presente e concreta dos educandos, refletindo o conjunto de suas
aspirações. Por isso, o conteúdo reflete um contexto específico. O educador auxilia
o indivíduo a problematizar essas questões e a desenvolver um pensar mais crítico
sobre elas, propondo como reflexão as contradições básicas da sua situação
existencial presente e concreta. O papel do educador é provocar respostas aos
desafios encontrados. Respostas tanto no nível intelectual, como no nível da ação,
uma vez que é uma educação política.
O autor adverte que o educador não deve dissertar sobre as questões a
serem trabalhadas, ou trabalhar conteúdos que pouco tenham a ver com as
esperanças do povo, com seus temores de consciência reprimida. Seu papel jamais
será o de falar sobre a sua visão do mundo, mas sim o de dialogar sobre as visões
que o povo tem sobre o vivido, o experimentado, o cotidiano. Enfaticamente Paulo
Freire (1987, p. 49, grifo do original) diz: “A ação educativa e política não pode
prescindir do conhecimento crítico dessa situação, sob pena de se fazer “bancária”
ou de pregar no deserto”. O conjunto dos temas em interação constitui o “universo
temático”, ou o conjunto dos temas geradores. Os temas geradores são sempre
relativos à época e sociedade em que o povo vive. Por isso, os temas são diferentes
e próprios de cada comunidade. Há, no entanto, problemas sociais que são gerais
à toda comunidade oprimida e estes podem ser de toda a humanidade, de um país,
ou de uma região. Estes temas são legítimos de serem trabalhados se forem
trazidos pelos próprios sujeitos.
A metodologia de investigação dos temas geradores se desenvolve também
na dialogicidade. O que o educador investiga é o pensamento-linguagem referido
à realidade e os níveis de percepção dessa realidade. O homem, porque é um corpo
consciente, vive uma relação dialética entre os condicionamentos de sua época e
a sua liberdade. Os condicionantes formam, no dizer de Paulo Freire, as situações-
limites que coisificam o homem. Estas situações, no processo da educação
libertadora, não devem ser tomadas como barreiras, como obstáculos à sua
libertação, mas ser tomadas como situações desafiadoras que precisam ser
transformadas, criando uma ‘nova’ realidade histórica por meio de uma ação
transformadora consciente. O homem quando desprovido do desenvolvimento da
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sua capacidade crítica, tende a “mitificar” essa realidade. Para Freire (1987, p. 52),
“através de sua permanente ação transformadora da realidade objetiva, os homens,
simultaneamente, criam a história e se fazem seres histórico-sociais”.
Assim, os temas geradores são os temas oriundos da vivência, da
experiência da vida concreta daquela época. Seus valores, suas concepções, seus
desafios, tornam-se os “temas geradores epocais”. Por isso, eles são sempre os
encontrados na relação homem-mundo. A investigação dos temas geradores capta
esse “universo temático” que não estão isolados, mas sempre em interação, e
podem ser localizados em círculos concêntricos que partem dos mais gerais, ao
mais particular, como por exemplo: temas universais (a dominação que se encontra
em toda sociedade); temas continentais (como o subdesenvolvimento de muitos
países); temas nacionais (o desemprego); temas regionais (o analfabetismo);
temas locais (a falta de saneamento, de asfalto, de água encanada, de posto de
saúde etc.). No entanto, enquanto os temas não são percebidos pelos sujeitos, não
são refletidos e entendidos, a ação de transformação não tem como ocorrer, o
envolvimento de todos fica prejudicado, a situação limite não é transcendida e a
ação libertadora pela educação não se dá.
Cabe ao educador o esforço de propor aos indivíduos a análise crítica das
dimensões significativas da sua realidade, partindo da totalidade para as partes,
em suas interações e possibilitando, por meio desta análise, uma nova postura
frente a dimensão significativa-existencial. Isso implica na circularidade do todo às
partes e das partes ao todo e a compreensão resultante desse processo ganha
nova significação.
A postura ativa dos educandos tanto na metodologia de investigação dos
temas geradores como no desenvolvimento da educação como prática da
liberdade, difere da postura de objetividade metodológica que separa o sujeito do
objeto. Na postura ativa que possibilita a tomada de consciência, o objeto de análise
não existe fora do homem, por ser a realidade vivida e experimentada. Investigador
e povo são os sujeitos do processo, cuja finalidade é a sua transformação. Como o
objeto de análise da metodologia da investigação dos temas geradores é a situação
vivencial, esta sempre se renova, ampliando a análise e as relações dos temas.
Para a busca dos temas geradores, Paulo Freire (1987) fala que o educador
deve visitar o local de trabalho dos indivíduos, conhecer suas atividades de lazer,
conversar com as pessoas em suas casas, entender a relação marido-mulher, pais-
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filhos, conhecer os valores, a cultura, os costumes. O investigador fará isso com
“mirada” crítica, compreendendo as suas partes e a organização particular que se
forma por meio dessa cultura. O investigador registra as expressões do povo, sua
linguagem, suas palavras, sua sintaxe (o que não é registrar seu problema de
sintaxe, sua pronúncia defeituosa, mas a forma que ele constrói seu pensamento).
O relatório feito após visita será discutido nas assembleias para, com o auxílio do
investigador, descodificar as situações oferecendo possibilidades plurais de
análise.
Para auxiliar no processo de descodificação, Paulo Freire (1987) sugere que
as reuniões contem com dois outros especialistas: um psicólogo e um sociólogo,
os quais auxiliam na observação das reações dos indivíduos, dos sentimentos
expressos por palavras e atos, do clima da reunião. Estas anotações poderão ser
discutidas com todos, favorecendo uma mais acurada análise do conteúdo que se
transformará em conteúdo pedagógico, o que leva para a última etapa da
metodologia de investigação dos temas geradores. Nesta última etapa, educadores
e educandos passarão para o estudo sistemático e interdisciplinar dos resultados
discutidos. É então elaborado um programa, é confeccionado o material didático
como: escolha dos textos, seleção de figuras, slides, fotografia, filmes, cartazes etc.
O processo de conhecimento é também de criação e ação, de
encadeamento dos temas significativos, de problematização, de interpretação
crítica dos problemas e de envolvimento histórico-cultural.
A educação libertadora não tem programa a priori, pois busca a temática
significativa e, nessa investigação, tanto o investigador como os indivíduos são
sujeitos do processo. A investigação da realidade do povo só pode ser feita com
ele, uma vez que os homens são seres em “situação” e se encontram enraizados
em condições tempo-espaciais que os marcam. De forma dialética, os homens
também marcam as situações, na medida em que, desafiados por elas, agem sobre
elas. A conscientização da situação possibilita o desvelamento e este possibilita
uma nova consciência histórica. Paulo Freire (1987, p. 58) é enfático ao dizer:
Conquista
Manipulação
Invasão Cultural
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Nesta parte do capítulo, Paulo Freire trabalha cada uma das características
da teoria da ação dialógica.
Co-laboração
Organização
Síntese Cultural
REFERÊNCIAS
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