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Por Jo Klanovicz
1 Introdução
Neste capítulo, aproximo História Ambiental e História do Tempo Presente a partir do que
julgo ser um dos principais pontos de encontro entre essas duas formas de fazer historiográfico, que
é a proposição de novas discussões e usos do tempo, de periodizações (e sobre o próprio papel da
narrativa na história). Juntas, História Ambiental e História do Tempo Presente carregam uma marca:
a contemporaneidade dos temas e dos problemas que trabalham, bem como das abordagens que
utilizam. Isso faz delas campos oportunos, relevantes e capazes de dialogar e contribuiir com diversas
comunidades para além do mundo da História.1
Apesar de partirem da contemporaneidade, a História Ambiental e a História do Tempo
Presente, para autores como Sverker Sörlin, não tem intercambiado experiências significativas. A
primeira tem escapado das periodizações da cultura política e da memória, comuns à História do
Tempo Presente, por um lado, enquanto que a última não tem buscando mesclar esses tempos com
outros mais profundos. Enquanto o diálogo não é estabelecido, a corrente dos acontecimentos
políticos globais tem recebido cada vez mais sedimentos da ecologização da política e da politização
das questões ambientais. E tem mais: as críticas à História Ambiental se acumulam dizendo que ela
teria se distanciado do mundo político e social, que é presentista e inacabada. Por outro lado, o
presentismo e o caráter provisório e inacabado da história também é elemento de crítica com relação
à História do Tempo Presente.
Minha perspectiva, então, é dizer que mais do que se fazer História Ambiental de um lado e
História do Tempo Presente de outro, poderíamos começar a construir alguns pilares do que chamarei
de História Ambiental do Tempo Presente e creio que o primeiro passo para isso é pensar o trato do
tempo e de uma periodização que possa ser de apropriação comum a ambos os campos. Acredito que
uma das maneiras de criar essa arena é discutir, ainda que de maneira incipiente, a contemporaneidade
da periodização histórica do Antropoceno e de outras que vem sendo propostas de fora para dentro
da História.
Discutir os desafios de delimitação espacial e temporal na História é uma responsabilidade
intelectual da qual não podemos fugir. Se, como observa Yi-Fu Tuan, tudo que acontece acontece
num lugar,2 tudo o que acontece – e para a História isso é crucal – acontece num tempo (que se
metamorfoseia constantemente). A periodização, nesse sentido, implica a reconceituação de nós
mesmos e de quem pode ser agente da história.
As implicações do tempo talvez sejam mais ainda desafiadoras para a História Ambiental em
função de que a “modernidade da questão ambiental”, como observa José Augusto Pádua, “não está
relacionada apenas com as consequências da grande transformação urbano-industrial que ganhou
escala sem precedentes a partir dos séculos XIX e XX, mas também com uma série de outros
processos macro-históricos que lhe são anteriores e que com ela se relacionam (dentro do jogo de
continuidades e descontinuidades que caracteriza os processos históricos).”3
A História do Tempo Presente, de maneira similar, também carrega como desafio um dilema temporal
ou de periodização, qual seja o da demarcação de processos contemporâneos, do que se pode
considerar presente em meio às pressões intra e extrahistóricas sobre o que delimitar como fato,
evento, passado e presente, continuidade e ruptura, memória e história.
Ambos os campos vieram a constituir, desde sua institucionalização, espacialidades e periodizações
alternativas àquelas pautadas nos estados nacionais e no que Sebastian Conrad denomina de
nacionalismos teórico-metodológicos4 ou ainda no que Donna Haraway chama de individualismo
metodológico da História.5 Ao abraçarem temas contemporâneos, tais como processos e eventos,
naturais, sociais, econômicos e políticos, observando consequências que afetam sociedades humanas
hoje e no futuro, vieram a se acomodar no trato com processos “inacabados”, “em curso”, residindo
aí sua principal força.6
Dessa maneira, tanto História Ambiental como História do Tempo Presente solaparam as
delimitações temporais tradicionais da História, apropriando-se por vezes delas, porém com novo
sentido, tais como o quadripartismo ou ainda as delimitações expressamente políticas como as eras
propostas por Eric Hobsbawm (Revoluções, Capital, Impérios, Extremos),7 Joseph Fontana8 ou
Samuel Huntington.9 A História Ambiental tem apresentado, por exemplo, outras periodizações
apropriadas de campos como a Biologia, a Economia, a Geologia, tais como a Era da Ecologia, o
Holoceno e, mais recentemente, periodizações provocativas e polêmicas como o Antropoceno, o
Capitaloceno, o Ocidentaloceno, o Plantationoceno e o Chlutuceno.
Ao trabalhar a contemporaneidade e as novas periodizações que podem transitar entre História
Ambiental e História do Tempo Presente, é preciso considerar a história como estrutura ou melhor,
como fluxo de eventos e curso do tempo, o que permite uma reflexão sobre termos como agora,
processo, ruptura, mudança e continuidade, com suas nuances e problemas, bem como a
possibilidade de novas periodizações nesses dois campos.10
O autor continuava o raciocínio observando que uma história do presente começa quando os
problemas do mundo de hoje ganham forma visível e, nesse sentido, não se trata de uma história que
possa ser rotulada de antemão, pois é sempre provisória, ambígua, mas também colorida. 19 A
contemporaneidade, nesse sentido, veio a ser contemplada conceitualmente como a “junção com o
tempo”, não apenas no que diz respeito à sequência temporal, mas no que se apropria de e nele,
articulando na estrutura-história dos eventos e seus tempos, o ser presente.20
Dean Komel observa, então, que a definição da contemporaneidade está diretamente ligada
ao entendimento da condição contemporânea como sendo com-temporaneidade. Em outros termos,
ela traz de maneira unificada a multidão de diferentes temporalidades que coexistem num mesmo
momento histórico, na forma de uma interconexão de diferentes tempos e experiências do tempo, de
intensidade planetária.21 A contemporaneidade refere-se a uma complexidade temporal, apresentando
interconexões, num mesmo espaço cultural, de culturas heterogêneas geradas em diferentes
trajetórias, em diferentes escalas, localidades, que vem a afetar a experiência-tempo de indivíduos e
de grupos.22
Essa leitura do papel da temporalidade na História como cursus temporum é a que me permite
pensar as contribuições da periodização Antropoceno como passível de uso comum entre História
Ambiental e História do Tempo Presente. Mas como é que o Antropoceno adentra o caminho das
periodizações provocativas no campo da História? Para entendermos essa emergência, faz-se
necessário falar um pouco da História Ambiental como campo de conhecimento.
4 Holoceno e antropoceno
Donald Hughes pontua que interpretar a relação entre cultura e natureza na história significa
observar as conexões de terras e águas, cidades e regiões rurais, e que devemos pensar a história
ambiental em relação a uma geologia ativa. Ademais, essa geologia ativa permite problematizar a
relação entre determinismo ambiental e causação antropogênica, a apropriação de narrativas
declensionistas, a extensão de nossa percepção sobre natureza não apenas como construção social.
Implica, também, considerar nossas noções de tempo e a relação que a história ambiental veio a tecer
com áreas que construíram o ‘tempo profundo’, como é o caso da Geologia.
Na história da ciência, no curso de várias "revoluções científicas", uma das menos apontadas
aconteceu com a descoberta do tempo profundo por meio da metáfora do relógio geológico, ao longo
do século XIX. No processo de fragmentação e especialização dos campos de conhecimento, a
Geologia emergiu como um conhecimento prático e com várias limitações teóricas e os problemas
como incompletude dos registros estratigráficos e fósseis nos primeiros momentos dessa ciência
trouxeram uma relativa invisibilidade de seus fundamentos e da discussão em torno da natureza do
tempo em si, devido aos obstáculos à observação direta do tempo. Alguns autores, contudo, observam
que o principal fator de invisibilidade da Geologia foi o entendimento, no âmbito da história da
ciência, de que ela seria uma ciência derivada da Física (uma vez que a própria história da ciência na
primeira metade do século XX também construiu a Física como o ideal científico contemporâneo).50
Na metade do século XIX, a Geologia conseguiu classificar e ordenar muitos dos estratos
fossilizados os quais, combinados, permitiram a criação de uma escala de tempo primitivo. A
magnitude dessa escala produziu impactos especialmente sobre o tempo, para além da história
humana.51 Na segunda metade do século XIX, por exemplo, a geologia entra no debate acirrado entre
Kelvin e Darwin em torno da datação do planeta, ambos ora se aproximando ou se distanciando da
geologia, buscando subordina-la a seus interesses. Kelvin volta-se contra Darwin, buscando
estabelecer com precisão a idade do planeta em 400 milhões de anos, negando, em certa medida, a
ideia de tempo profundo proposto pelos geólogos da época.
A teoria de Kelvin cai por terra em 1901, quando cientistas descobriram materiais radioativos
que ocorriam naturalmente no manto terrestre, e que emitiam calor. Esse fenômeno acabou
"libertando" a geologia da Física. Contudo, é importante dizer que, nos 50 anos anteriores, os cálculos
geológicos de tempo não conseguiram escapar da Física e o "tempo profundo" permaneceu muito
restrito até que os físicos Rutherford e Boltwood conseguissem desenvolver métodos de datação
radiométrica que demonstraram, conclusivamente, que a Terra tinha bilhões de anos.
Desenvolvendo-se ininterruptamente a partir do início do século XX, especialmente no que
diz respeito à própria exploração de recursos naturais para fins civis e militares, mas também como
parte dos esforços dos estados nacionais em domesticar seus ambientes, a Geologia acabou por conter
um grau significativo de abstração e sua compreensão só pode ser alcançada se for pensada, também,
como uma ciência histórica, tanto em ambientes formais e informais. Na metade do século XX, era
sabido que muitos espaços "clássicos" da Geologia europeia foram revisitados milhares de vezes por
sucessivas gerações de naturalistas e de geólogos ou biólogos desde sua localização e formalização
como área de interesse científico entre os séculos XVIII e XIX.
Os materiais geológicos e contextos já haviam sido plenamente descritos e amostras estavam
acomodadas em diversos museus ao redor do mundo, parte delas constituindo-se como coleções de
referência, o que demonstrava, por um lado, a relação direta entre a importância dos contextos
clássicos para a geologia, bem como sua contribuição histórica para o desenvolvimento tanto da
epistemologia das ciências da terra, como também para a conformidade da ideia de um tempo
profundo.
Não tardaria para que a História Ambiental e a Geologia viessem a se encontrar no campo da
formulação de conhecimentos das relações historicamente constituídas entre humanos e não humanos
no tempo. O Holoceno seria o espaço-tempo geológico sob o qual as pesquisas de história ambiental
começariam a ser desenvolvidas, saturando essa relação com a Geologia.
Ainda nos anos 1980, quando os debates de História Ambiental se alastravam e adquiriam
mais profundidade na medida em que o campo tinha de debater alternativas espaço-temporais de
delimitação de eventos ambientais, Neil Roberts lançou a obra The Holocene: an environmental
history.52 Roberts adentrava, dessa forma, na proposição de que a História Ambiental escapava às
periodizações tradicionais da História como campo do conhecimento, dada aos limites dos estados
nacionais ou ainda aos sistemas convencionais de datação que prendiam a história à necessária
presença de registros escritos.
Roberts foi posicionando a História em meio a um período “no qual grande parte das
mudanças ambientais, entremeadas com as culturais tiveram lugar”, um período pós-glacial.
A fase final do Pleistoceno (15000-11700 anos AP) foi um período de oscilações,
especialmente detectadas por meio de fósseis e invertebrados, que demonstraram que a temperatura
média teve muitas variações no período. Enquanto invertebrados puderam responder rapidamente ao
incremento da temperatura global no período, árvores foram mais lentas, e as plantas passaram a
requerer condições mais adequadas de solo do que antes de 15,000 anos. Os beneficiários iniciais do
aquecimento foram espécies mais abertas a habitats e que tinham baixa capacidade competitiva, como
gramas.
Por volta dos 13 mil anos, as temperaturas começaram a declinar e as condições árticas
retornaram no norte da Europa. Sobre a Escócia, por exemplo, que havia praticamente de deglaciado,
a neve e o gelo acumularam novamente, e por volta dos 12 mil anos acumulava-se por centenas de
metros nas Highlands, o que foi possível de observar pelas formas de terra preservadas na região de
Loch Lomond.
No norte da região andina, o fenômeno verificado nesse período é o da transição irregular de
paisagens entre gramíneas e florestas, no balanço de água nos lagos tropicais e subtropicais. na África,
as flutuações dos níveis de lagos representam forte evidência do período de instabilidade climática
do final do Pleistoceno. Roberts observa, cuidadosamente, que o período de instabilidade não é
sincrônico para todas as regiões e, a partir de dados da Antártica, mostra que, enquanto diversas áreas
estão esfriando, a região do Atlântico Norte está aquecendo.
A presença humana durante o Pleistoceno foi se desenvolvendo a partir de grupos pioneiros e
pré-existentes que ainda são estudados a partir de evidência arqueológica muito fragmentada, e
promoveram sua expansão a partir de corredores proporcionados justamente pelo resfriamento das
glaciações.
A terceira fase do estágio final de colonização humana da Terra tomou justamente lugar no
Holoneco e envolveu terras inóspitas para além das áreas já ocupadas. Esta colonização foi realizada
com economias de subsistência inteiramente baseadas na caça de animais selvagens, na pesquisa e na
coleta de plantas, demonstrando que as pessoas que caçavam precisavam ter um bom conhecimento
de seus ambientes, dos espaços de pesca, das plantas. roberts observa que estudos etnográficos de
grupos de caçadores-coletores modernos sugerem que as plantas são normalmente o constituinte mais
importante das dietas. É no final do pleistoceno que acontece uma onda devastadora de extinção de
animais, especialmente de mamíferos cujos corpos tinham mais de 44kg, como o mastodonte
(Mammut americanum), o rinoceronte-lanudo (Coelodonta antiquitatis), o alce-gigante
(Megaloceros), o cavalo nativo americano (Equus occidentalis).
Essa primeira edição do livro de Roberts inaugurou, portanto, um campo de pesquisa ligando
história ambiental e pesquisas sobre novas temporalidades e periodizações na história. Foi a discussão
em torno do holoceno que trouxe à tona o próprio desenvolvimento do conceito de Antropoceno,
proporcionando o contexto vital, também para a discussão das mudanças climáticas.
6 Para uma História Ambiental do Tempo Presente 2: o debate proposto por Donna Haraway
e o Chtuluceno
"O que acontece quando o excepcionalismo humano e o individualismo metodológico, as
velhas certezas da filosofia ocidental e da economia política, tornam-se impensáveis nas melhores
ciências, naturais ou sociais?", "O que acontece quando as melhores biologias do século XXI não
podem trabalhar com indivíduos separados de contextos, quando organismos mais ambientes ou
genes mais qualquer coisa que eles necessitam, não conseguem sustentar explicações científicas sobre
si?", "O que acontece quando organismos mais ambientes podem ser invocados pelas mesmas razões
para discutir histórias não humanas em sociedades humanas?".
Essas são questões fundamentais levantadas pela historiadora Donna Haraway para
argumentar que não é possível falar de Antropoceno para dar as respostas adequadas. A autora
estabelece uma nova dimensão para o espaço-tempo do Antropoceno na História, propondo um novo
lugar: o Chtuluceno.
Frente ao universo da interdisciplinaridade da História Ambiental clássica do século XX,
alicerçada no conhecimento colaborativo característico dessas abordagens, Haraway tem proposto
um novo caminho, que ela tem chamado de conhecimento tentacular, metaforizado, ao mesmo tempo
que materializado, pela aranha Pimoa cthulu, descoberta na década de 1990 nos EUA, aracnídeo de
oito patas finas e longas.
Conhecimento tentacular significa conhecimento incerto, tátil, tentativo e que alcança vários
espaços, formas, sentidos, de maneira simultânea. Para isso, é necessário uma nova forma de se pensar
a História Ambiental, ou melhor, uma forma nova de pensar, contar e escrever História.
Bruno Latour, por exemplo, afirma que no tempo chamado Antropoceno, os fundamentos
geopoliticos desaparecem e nenhuma das partes em crise podem chamar a Providência, a História, a
Ciência, o Progresso ou qualquer outro sujeito para resolver os problemas dados pela crise
ambiental.67
"O que foi considerado natureza tornou-se diluído nos assuntos humanos ordinários e vice-
versa, de tal modo que a sua permanência não é mais possível da maneira como era imaginada."68
Falaríamos de Histórias-Gaia, o que implica abandonar leis da história, conceitos como
modernidade, estado, deuses, progresso, razão, decadência, natureza, tecnologia ou ciência, bem
como a crença de que há respostas.
Latour não está negando as histórias, mas sim, a História, não as ciências, mas sim a Ciência,
fazendo emergirem daí as controvérsias que estão presentes nos debates em torno da crise ambiental
global contemporânea.
Haraway observa que as histórias a serem contadas, que ligam metabolismos, articulações ou
coproduções de economias e ecologias, a história das relações entre humanos e não humanos,
precisam ser sempre oportunistas e contingentes; precisam ser relacionais, simpoéticas e
consequentes, terrenas e não cósmicas.
Nesse sentido, a autora critica o conceito de Antropoceno como um conceito gerencial,
tecnocrático, modernizante e humanista, comprometido com a contemporaneidade e que mina nossa
capacidade de imaginar e cuidar de outros mundos, aqueles que existem de maneira precária hoje e
que poderiam estar aliados ao mundo humano. É necessário pensar a simpoética, a simbiose, a
simbiogênese, o desenvolvimento, as teias ecológicas, os micróbios e a cultura simultaneamente.
A autora cria, nesse sentido, um novo lugar para o planeta Terra: a Terrápolis, lugar onde
humanos e pós-humanos emigraram. Na metrópole Terra, há novos embates que, pelo menos, as artes
estão tentando travar, como é o caso do ativismo artístico pós-humanista de Marley Jarvis, Laurel
Hibert e Kira Treibergs, em 2011, no qual Wall Street torna-se Octopi Wall Street, e onde os
invertebrados, que representam 97% da diversidade animal, protestam com as seguintes placas:
"Justiça Filogenética!", "Pelo fim do credo taxonomista", "Sem espinha, mas com coração",
"Invertebrados pela paz".69
Haraway, nesse sentido, defende que precisamos uma outra figura, mil nomes para as coisas
que existem, para que possamos escapar do Antropoceno para outra história maior.
E finaliza com o seguinte: "Os feitos humanos importam porque são situados. Importam
porque vivem e morrem como as coisas que vivem e morrem nos outros. Importam não só para os
seres humanos, mas para as criaturas entre as diferentes taxa que subjugamos a extermínios,
extinções, genocídios ou à impossibilidade de futuro."70
A autora lembra que os corais nos ajudaram a pensar e tomar consciência do Antropoceno
num primeiro momento. Seus usos também enfatizaram a indução humana das mudanças climáticas
e da acidificação dos oceanos. Eles também permitiram que possamos pensar os diferentes tecidos do
Chtuluceno.
É nesse sentido que Haraway recompõe o conceito de natucultura, presente no seu The
Companion Species Manifesto, lançado em 2003, no sentido de escrever um necessário
emaranhamento do natural e do cultural, do corporificado e do mental, do material e do semiótico.
Dessa forma, quando pensamos em narrativas históricas do Chtuluceno, podemos pensar que as
natuculturas oferecem importante rota para reescrever as oposições modernas capazes de representar
partes do mundo não por suas definições precisas mas por sua realidade constantemente mutante.
1
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2
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3
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4
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5
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6
SÖRLIN, S. The contemporaneity of environmental history: negotiating scholarship, useful history, and the new
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7
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8
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9
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10
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12
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1999.
13
Id., ibid.
14
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15
Id., ibid.
16
Id., ibid., p.19.
17
Id., ibid.
18
BARRACLOUGH, G. An introduction to Contemporary History. Middlesex: Penguin Books, 1969. p.17-18.
19
Id., ibid., p.18.
20
KOMEL, D. Gadamer and Kierkegaard: On contemporaneity. Filozofia. Praha, v. 69, n. 5, p.434-442, 2014.
21
Id., ibid.
22
SMITH, T. Defining Contemporaneity: Imagining Planetarity. The Nordic Journal of Aesthetics. Aarhus, v. 24, n. 49-
50, p. 156-174, 2016.
23
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<http://www.ub.edu/prometheus21/articulos/obsprometheus/BOULDING.pdf> Acesso em: 12 set. 2018.
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Id., ibid.
32
Id., ibid.
33
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34
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45
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46
Id., ibid.
47
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49
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50
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51
Id., ibid.
52
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53
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54
Id., p.31.
55
Id., ibid.
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57
Id., ibid.
58
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59
Id., ibid.
60
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2014.
61
MOORE, J. W. op. cit., p. 1-13.
62
MOORE, J. Op. cit., p. 619.
63
Id., ibid.
64
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65
CHAKRABARTY, D. O correio da Unesco. Nova Iorque, abril-junho de 2018, n. 2. Bem vindo ao antropoceno!
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66
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67
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68
Id., ibid.
69
Id., ibid.
70
Id., ibid.