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PEDAGOGIA DA TERRA

LUZENI FERRAZ DE OLIVEIRA CARVALHO *


MARIA ISABEL ANTUNES ROCHA **

O termo Pedagogia da Terra é uma construção social e, como tal, não tem
autoria individualizada. Gadotti (2000, p. 20) nos diz que "a nossa Pedagogia
da Terra, como o canto do poeta, não pertence àqueles e àquelas que a
escreveram, mas àqueles e àquelas que dela necessitam em sua luta cotidiana
por uma escola melhor, por um mundo melhor...". Nessa perspectiva, o termo
aparece na pauta de luta dos movimentos sociais, sindicais, ambientais,
religiosos e políticos, nas agendas de organizações não-governamentais e
governamentais, nos programas de pesquisa, ensino e extensão das
universidades, entre outros. O que unifica os diferentes usos da expressão é o
compromisso com a superação de uma visão centrada nas questões
ambientais e com a construção de sentidos da terra como habitat humano
global, fonte e lugar da vida, terra de todos, terra como um bem comum, como
um organismo vivo.

Selecionamos dois diferentes tipos de experiências como referências para a


compreensão da construção do sentido do termo no Brasil. A primeira diz
respeito a fontes que não utilizam o termo, mas se constituem como matrizes
de onde brotam as raízes que sustentam o uso da expressão. Escolhemos a
Carta da Terra e as reflexões de Leonardo Boff no livro Saber cuidar – ética do
humano – compaixão pela terra. Essa escolha se fundamenta na compreensão
de que a Pedagogia da Terra está no mesmo campo semântico e político do
uso de termos como Pedagogia do Desenvolvimento Sustentável,
Ecopedagogia e Ecoformação. A segunda é composta por fontes nas quais o
termo aparece de forma mais direta. Nessa perspectiva, selecionamos os
cursos de graduação em Pedagogia da Terra desenvolvidos pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em parceria com universidades e a
proposta de Moacir Gadotti, desenvolvida no livro Pedagogia da Terra.

A Carta da Terra foi elaborada no Fórum Global das Organizações Não-


Governamentais, reunido durante a Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD/UNCED) realizada na cidade do
Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992. A Carta foi concebida como um
código de ética por um desenvolvimento sustentável, apontando para uma
mudança em nossas atitudes, valores e estilos de vida. Propõe uma ética
global para uma sociedade global. Na carta, o desenvolvimento, mais do que
* Professora da Universidade do Estado da Bahia. Coordenadora Regional do Projeto "Pé na Estrada": 1ª
a 4ª séries do Ensino Fundamental/ PRONERA. Mestranda em Educação da Faculdade de Educação da
UFMG. E-mail: lfcarvalho@uneb.br ** Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFMG.
Coordenadora do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Pedagogia da Terra, UFMG. E-mail:
isabelantunes@fae.ufmg.br
um conceito científico, é uma idéia-força, uma idéia mobilizadora, sintetizada
no lema "uma educação sustentável para a sobrevivência do planeta". Essa
educação deveria ser integrada na educação formal e na aprendizagem formal
e ao longo da vida. O planeta é visto como um organismo vivo, em evolução, e
a educação sustentável associa emancipação do ser humano à luta por um
planeta saudável.

A Carta inspirou e sustentou uma discussão que vai além da questão ambiental
no que diz respeito à relação com a terra. Ao reafirmar o conceito de
desenvolvimento sustentável, agregou aspectos políticos, sociais, culturais,
afetivos e religiosos numa perspectiva indicadora da necessidade de profundas
formulações nos processos formativos, com vistas a conceber a terra não
apenas como lugar e meio de produção, mas como espaço de vida e de direito.
Leonardo Boff é, sem dúvida, um dos principais responsáveis pela discussão
que alimenta o paradigma que tem a terra como fundamento. Podemos citar
como referência o livro Saber cuidar – ética do humano – compaixão pela terra,
publicado em 1999. Boff enfatiza que cada ser humano precisa descobrir-se
como parte do ecossistema e desenvolver uma consciência coletiva sobre a
relação com o planeta. Segundo Boff, precisamos passar por uma
alfabetização ecológica e rever nossos hábitos de consumo e, ao mesmo
tempo, desenvolver uma ética do cuidado.

Dessa forma, a missão do ser humano não seria estar sobre as coisas,
dominando-as, mas ficar ao seu lado, cuidando delas, pois ele é parte
responsável da imensa comunidade terrena e cósmica. Para Boff, uma
educação sustentável pode ajudar a criar uma visão global de uma ecologia
libertadora, que abrange o meio ambiente, a mente humana, a sociedade e a
integralidade da criação.

No contexto do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a


designação Pedagogia da Terra emergiu no primeiro curso de magistério, em
1998, na Universidade de Unijuí, no Rio Grande do Sul. Os estudantes do MST
não aceitaram a denominação de "acadêmicos" e utilizaram o termo Pedagogia
da Terra como título de um jornal que informava aos outros estudantes da
universidade quem eram e de onde vinham. O termo ganhou espaço no MST e
foi utilizado para denominar a primeira turma do curso de Pedagogia (ARAÚJO,
2005). Assim, nas negociações das novas turmas, a expressão passou a ser
empregada, ainda que nenhuma universidade tenha, até então, incorporado
seu uso na designação oficial dos cursos.

* Professora da Universidade do Estado da Bahia. Coordenadora Regional do Projeto "Pé na Estrada": 1ª


a 4ª séries do Ensino Fundamental/ PRONERA. Mestranda em Educação da Faculdade de Educação da
UFMG. E-mail: lfcarvalho@uneb.br ** Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFMG.
Coordenadora do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Pedagogia da Terra, UFMG. E-mail:
isabelantunes@fae.ufmg.br
A partir da experiência iniciada no Rio Grande do Sul emergiram outros cursos
de Pedagogia da Terra. Em 1999, na Universidade Federal do Espírito Santo –
UFES e na Universidade Estadual do Mato Grosso – UNEMAT. Em 2001, na
Universidade Federal do Pará – UFPA. Logo em seguida, aconteceram outras
parcerias, com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN,
Universidade Federal de Rondônia – UFRO, Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul – UERGS, Universidade Estadual de Pernambuco – UPE. Em
2004 foi a vez da Universidade do Estado da Bahia – UNEB e, em 2005, da
Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG (ARAÚJO, 2005, p.3). Em
2005, o MST comemorou a criação da 16ª turma de Pedagogia da Terra.

Caldart (2002, p. 83-84), analisando as experiências dos cursos de Pedagogia


da Terra, afirma que "o substantivo terra, associado com a pedagogia, indica o
tipo de materialidade e de movimento histórico que está na base da formação
de seus sujeitos e que precisa ser trabalhada como materialidade do próprio
curso: vida construída pelo trabalho na terra, luta pela terra, resistência para
permanecer na terra". Para ela, quando os estudantes do MST passaram a se
chamar de pedagogos e pedagogas da terra, estavam demarcando e
declarando esse pertencimento: antes de sermos universitários, somos Sem
Terra. Temos a marca da terra e da luta que nos fez chegar até aqui (2002, p.
83-4). Com letras iniciais maiúsculas e sem hífen, demarca a identidade
constituída junto ao MST. Difere de sem-terra, que designa qualquer
trabalhador despossuído de terra. O curso feito em parceria com a Faculdade
de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais tem também como
parceiros a Via Campesina e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária, através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária. É um
curso de licenciatura, isto é, para formação de professores, em nível superior,
funcionando em caráter experimental, com duração de cinco anos. Habilitará os
educandos para atuação como Docente Multidisciplinar no Ensino Fundamental
e Médio em uma das seguintes áreas de formação: Ciências Sociais e
Humanidades; Línguas, Artes e Literatura; Matemática e Ciências da Vida e da
Natureza. No curso, o termo denomina e fundamenta a matriz curricular, isto é,
enraíza o sentido da terra como pedagogia.

Nesse sentido a palavra "terra" apresenta uma significação para além de solo,
constitui lugar aonde os sujeitos do campo vão recriando as suas pertenças,
reconstruindo a sua identidade. A palavra pedagogia indica a presença da
dimensão educativa na relação do ser humano com a terra de cultivo, de luta,
ambiente livre, sem cercas, habitada por muitos. Traz uma concepção que
rompe com a idéia da terra como espaço puramente da produção econômica e
* Professora da Universidade do Estado da Bahia. Coordenadora Regional do Projeto "Pé na Estrada": 1ª
a 4ª séries do Ensino Fundamental/ PRONERA. Mestranda em Educação da Faculdade de Educação da
UFMG. E-mail: lfcarvalho@uneb.br ** Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFMG.
Coordenadora do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Pedagogia da Terra, UFMG. E-mail:
isabelantunes@fae.ufmg.br
alavanca a luta pela existência na terra como um espaço de produção da vida e
de relações vividas, um espaço de invenção do novo.
Pensando no meio ambiente pautado na relação indissociável ser humano-
desenvolvimento sustentável-eticidade e política, Moacir Gadotti, em seu livro
Pedagogia da Terra (2000), afirma que a defesa do meio ambiente não se pode
fundar apenas num compromisso ecológico, centrado no ambientalismo, mas
ético-político, nutrido por uma pedagogia e uma prática social definida. Nesse
sentido, a ecopedagogia, arraigada nesse movimento sociohistórico, formando
sujeitos aptos a escolherem os indicadores de qualidade de seu futuro, se
constitui numa pedagogia absolutamente nova e intensamente democrática.

Inicialmente chamada de "pedagogia do desenvolvimento sustentável". A


ecopedagogia é uma corrente nova de pensamento e de práticas, de ação,
voltada para o cuidado com a natureza na perspectiva de transformação do ser
humano. (GUTIÉRREZ, Francisco; PRADO, Cruz, 2002).

Segundo Gadotti (2000), não há ainda referências teóricas precisas que


fundamentam a Pedagogia da Terra, pois esta é extraída de diversas fontes.
Ele considera Paulo Freire um de seus inspiradores, devido ao seu método de
aprendizagem a partir do cotidiano. Aponta o autor (2000, p.175) que "o
planeta como uma única comunidade e a Terra como mãe, organismo vivo e
em evolução", constituem princípios da Pedagogia da Terra.

Para ele, os problemas atuais, inclusive os ecológicos, são provocados pela


nossa maneira de viver, e a nossa maneira de viver é inculcada pela escola,
pelo que ela seleciona ou não seleciona, pelos valores que transmite, pelos
currículos, pelos livros didáticos. Propõe reorientar a educação a partir do
princípio da sustentabilidade, isto é, uma revisão de currículos e programas,
sistemas educacionais, do papel da escola e dos professores e da organização
do trabalho escolar. Segundo Gadotti, a Pedagogia da Terra só pode ser
alcançada através de uma educação sustentável, isto é, a terra não como
espaço para o nosso sustento, nossas pesquisas, ensaios e, algumas vezes,
de nossa contemplação, mas sim, o espaço de vida, o espaço do aconchego,
do cuidado.

Para concluir, podemos dizer que o termo Pedagogia da Terra se insere em um


contexto que pretende superar a perspectiva da educação ambiental que
enfatiza a proteção da natureza como eixo principal. O termo permite manter a
perspectiva ambientalista, agregando os sentidos político, econômico, religioso,
afetivo e cultural que tecem a sociedade humana. Cria também possibilidades
* Professora da Universidade do Estado da Bahia. Coordenadora Regional do Projeto "Pé na Estrada": 1ª
a 4ª séries do Ensino Fundamental/ PRONERA. Mestranda em Educação da Faculdade de Educação da
UFMG. E-mail: lfcarvalho@uneb.br ** Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFMG.
Coordenadora do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Pedagogia da Terra, UFMG. E-mail:
isabelantunes@fae.ufmg.br
de diálogo interdisciplinar, na medida em que pode orientar diferentes práticas
de pesquisa, de formação e de intervenção.
Na atualidade o termo Educação do Campo tem sido também utilizado no
mesmo sentido, sendo que o termo Pedagogia da Terra vem se constituindo
como uma expressão mais vinculada às práticas de formação do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

• REVISTA PRESENÇA PEDAGÓGICA. v.12 • n.72 • nov./dez. 2006 • pag. 60 a 65

Referências - Sugestões de leituras

ARAÚJO, Maria Nalva Rodrigues de. Formação de educadores e educadoras


do campo: a gênese do curso de Pedagogia da Terra no Campus X da
Universidade do Estado da Bahia, ENEB. Teixeira de Freitas, 2005. (Relatório
Técnico).
ARROYO, Miguel G.; CALDART, Roseli S.; MOLINA, Mônica C.
(Organizadores). Por uma educação do campo. Petrópolis: Vozes, 2004.
BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humanocompaixão pela terra.
Petrópolis: Vozes, 1999.
BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres. São Paulo: Ática,
1996.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. As flores de abril: movimentos sociais e
educação ambiental. São Paulo: Autores Associados, 2005.
CALDART, Roseli Salete. Por uma educação do campo: traços de uma
identidade em construção. In: KOLLING, Edgar Jorge; CERIOLI, Paulo Ricardo;
CALDART, Roseli Salete (Organizadores). Educação do campo: identidade e
políticas públicas. Brasília: Articulação Nacional por uma educação do campo,
2002. Coleção por uma educação do campo, n.4.
CALDART, Rosely. Pedagogia da terra: formação de identidade e identidade
de formação. In: Cadernos do ITERRA. Pedagogia da terra. Veranópolis, RS:
Coletivo de Coordenação do Setor de Educação do MST; ITERRA, ano II, n.6,
dez, 2002.
CARVALHO, Luzeni F. de O., FERREIRA, M. Jucilene L. No cio da terra a
formação de professores em movimento: a Pedagogia da Terra em debate In:
Anais I Encontro internacional de políticas educacionais e formação de
professores da América Latina e do Caribe. Juiz de Fora: Universidade Federal
de Juiz de Fora, 2006.
* Professora da Universidade do Estado da Bahia. Coordenadora Regional do Projeto "Pé na Estrada": 1ª
a 4ª séries do Ensino Fundamental/ PRONERA. Mestranda em Educação da Faculdade de Educação da
UFMG. E-mail: lfcarvalho@uneb.br ** Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFMG.
Coordenadora do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Pedagogia da Terra, UFMG. E-mail:
isabelantunes@fae.ufmg.br
COMISSÃO MUNDIAL SOBRE AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso
futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988.
FACULDADE DE EDUCAÇÃO/UFMG. Diretrizes curriculares do curso de
licenciatura em educação do campo (Pedagogia da Terra). Belo Horizonte,
2005 (disponível na Secretaria do Curso).
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da terra. São Paulo: Peirópolis, 2000.
GUTIÉRREZ, Francisco; PRADO, Cruz. Ecopedagogia e cidadania planetária.
São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002.
MEDINA, Alfredo F. (Org.). A teologia se fez terra. São Leopoldo: Editora
Sinodal, 1991.
http://www.comitepaz.org.br/carta_da_terra.htm

* Professora da Universidade do Estado da Bahia. Coordenadora Regional do Projeto "Pé na Estrada": 1ª


a 4ª séries do Ensino Fundamental/ PRONERA. Mestranda em Educação da Faculdade de Educação da
UFMG. E-mail: lfcarvalho@uneb.br ** Professora adjunta da Faculdade de Educação da UFMG.
Coordenadora do Curso de Licenciatura em Educação do Campo: Pedagogia da Terra, UFMG. E-mail:
isabelantunes@fae.ufmg.br

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