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A arte de aproveitar as próprias faltas

 Introdução
As próprias paixões, energias e afetos, quando não estão integradas, devastam,
desgastam e fragilizam a alma. Contudo, se ordenadas, essas “forças interiores” fornecem
o impulso necessário para uma vida autenticamente cristã.
As gerações atuais não foram poupadas de estímulos, elementos culturais e
religiosos que, através de inúmeras formas, ao longo de toda a história da humanidade,
fazem com que as pessoas relativizem tudo ou que sigam um rigorismo moral, ora
prevalecendo uma forma, ora outra, mas sempre coexistindo em formas extremas e em
suas gradações.
Diante desse quadro é fundamental que cada sujeito reconheça suas tendências,
sua postura. Em outras palavras, é preciso que cada um perceba qual é o seu grau de
consciência moral: como em sua interioridade repercute as suas ações? Qual o nível de
cobrança por se tornar uma pessoa melhor? Quais são os efeitos dessas exigências por
aperfeiçoar-se na prática do bem, ou da ausência dessas?
Santa Teresa de Jesus, nas Moradas, diz que é uma grande lástima e uma grande
perda não se conhecer, sendo maior insensatez não buscar tal conhecimento. Ela afirma,
categoricamente, que quem não se conhece, não pode e nem consegue crescer na
amizade com Deus. Um itinerário de conversão e de crescimento na vida interior
identifica-se com o processo de autoconhecimento. Entretanto, essa caminhada conduz
cada sujeito à sua miséria, às suas faltas, aos seus limites. Muitos ao perceberem sua
pequenez imaginam-se incapazes de seguir em frente.
Entretanto, a Santa Doutora, no Livro da Vida, diz que não há estado de oração
tão elevado que torne desnecessário voltar ao princípio com frequência, e, que os
pecados e o conhecimento próprio são o pão devem ser comidos nesse caminho da
oração (pão sem o qual ninguém poderia se sustentar).
Aparentemente é uma grande loucura ou um grande erro o que essa grande
Mestra da Vida Espiritual ensina, assim, o que se pretende apresentar foi expresso pelo
Padre Jose Tissot, em seu clássico livro de espiritualidade, A arte de aproveitar as próprias
faltas.

 A condição humana

O ser humano, se consciente de si, não se conforma com a sua condição. Há um


desejo inato de ser melhor, com isso, quem olha para a sua vida, com sinceridade e
honestidade, não consegue habituar-se à sua miséria. Enquanto se vive, sente-se algo
falta, ninguém será tão santo nesta vida que não possa cometer algum erro ou possui
alguma imperfeição. Assim, por maior que seja o desejo de ser santo, de fazer o bem, de
amar, não há outra solução a não ser ter paciência com a condição humana.
A dificuldade para examinar a consciência surge, não poucas vezes, do medo do
que se vai encontrar. Perceber que as virtudes que se imaginava ter, na verdade não
existem; ver-se o quão iludido acerca de si mesmo o sujeito se encontra; enfim, tudo aquilo
que afronta o amor-próprio afugenta a pessoa do confronto consigo mesmo.
É preciso enxergar as faltas como uma graça, pois, através dela reconhece-se,
humildemente, a fraqueza, a mísera condição humana e, desse modo, com confiança e
tranquilidade pode-se dedicar na grande tarefa de aperfeiçoar-se na prática do bem.
Perturbar-se, desanimar-se, desalentar-se, deprimir-se após cair em pecado é uma atitude
de quem não sabe conhecer-se.
A imperfeição há de acompanhar a todos até a sepultura. Não errar, não pecar,
amar em plenitude é possível apenas no Céu, pois somente lá é que a primeira condição,
como ensina São Paulo, terá passado. A única forma de prender a alma a Deus de modo
que ela nunca se separe dEle é morrendo e salvando-se. É um grande mal cobrar-se no
momento presente por não ter alcançado o estado que é possível apenas no Céu.
Na vida de fé, de luta, de oração, de autoconhecimento, de busca de Deus é
preciso, corajosa e confiantemente, recomeçar a cada dia. Não é a ausência de quedas
que leva a perfeição, mas a perseverança.
Santos não são aqueles que comentem menos faltas, mas aqueles que tem mais
coragem, mais generosidade, fazem maiores esforços sobre si mesmos, não receando
escorregar, cair e até se manchar um pouco, desde que avancem um pouco mais na
ordem da Graça. Em uma guerra, só não se fere quem nunca combate, os mais
empenhados contra o inimigo são os que mais recebem os golpes do embate.
Pecar, mesmo que gravemente, deve ser motivo de espanto apenas no Céu, pois
é somente lá que não há quedas. Não se deve espantar-se com os próprios pecados,
antes de tudo, é preciso levantar-se rapidamente, e, com tranquilidade, reconhecer-se
necessitado da Divina Misericórdia.

 A inquietação, fruto do pecado

A tristeza, considerada pelos Padres do Deserto uma doença espiritual, em geral,


produz naquele que pecou efeitos arrasadores, tais como o medo, a preguiça, a
indignação, a inveja, o ciúme e a impaciência. Tais sentimentos paralisam, desanimam a
qualquer um e tornam estéreis qualquer bom propósito.
Muitas pessoas investem toda força em se livrar de seus defeitos, desassossegam-
se e precipitam-se em quer purificar seus corações. Tal postura é infrutífera. Com o passar
do tempo a pessoa vai se cansando de lutar e não ver progresso algum. Começa a
arrastar-se, fica descontente consigo mesmo e, talvez, até com Deus; paulatinamente vai
perdendo a confiança na oração, na recepção dos sacramentos. Tem alguns momentos
de consolação, mas logo em seguida sente o peso do fardo que impôs a si mesma, dobrar,
triplicar, sobretudo a partir das novas quedas. Por fim, perde toda a força, toda a
capacidade para agir. Abre mão da busca de Deus, desiste da vocação e, assim, desiste
de ser feliz, de realizar-se, de salvar-se.
É preciso sofre com paciência a lentidão com que se aperfeiçoa, mas sem deixar
de fazer todo o possível para progredir. Normalmente a agitação após uma queda leva
a outra, enquanto que a confiança em Deus, em sua Divina Misericórdia, pode devolver
o pecador, com mais força e determinação, ao Caminho. É preciso não se lamentar de
ainda ter feito pouco, mas, a cada dia, deve-se empenhar-se em fazer mais. Tal obrigação
de progredir na vida interior termina só com a morte.
De fato, o pecado desgosta e aflige ao pecador, mas ainda nessa condição é
preciso que haja uma santa alegria e consolação. Não se deve aborrecer, perturba-se,
agitar-se, abalar-se. Domine e tranquilize o seu coração, seus pensamentos, o máximo
possível, tenha paciência consigo mesmo, pois tu és digno da compaixão divina. Tua vida,
tua salvação, tua alegria, foi alcançada pela Cruz de Cristo. Por isso, calma!
Não se assuste por causa de sua fraqueza e de sua inconstância. Jesus é bom e
poderoso. O seu passado Ele o pode reparar em um instante. Deixe-se cativar pela graça.
Ele fara de você a conquista do seu amor. O segredo de encantar o Coração de Jesus e
de tudo obter dEle consiste em jamais duvidar de sua bondade.

 A falsa humildade

Há uma falsa e uma verdadeira humildade. A última, identifica-se com a verdade,


assim, mesmo aflito por ter pecado, o pecador, ao reconhecer-se miserável, não se fecha,
mas, ao contrário, dilata seu coração na esperança de ser atingido pela Divina
Misericórdia.
Por sua vez, a falsa humildade, não tem luz alguma, e, como não bastasse, ela
ainda lança o sujeito em densas trevas, obscurecendo seu entendimento e fazendo que
ele se feche a ação da Graça. Na verdade, a falsa humildade é uma expressão do
orgulho e do amor próprio, pois ela não é fruto do arrependimento de se ter ofendido a
Deus, mas advém na frustração de não se ser tão bom e perfeito como desejava-se ou
imaginava-se ser.
A pessoa que assim se encontra fica ansiosa querendo sabe se está curada, mas
não se empenha em curar-se; não busca reconciliar-se com sua consciência, mas a
considera incorrigível; imerge em tristezas e melancolias oriundas da contemplação de
suas próprias faltas e busca consolação nos homens, ou seja, na verdade deseja ser
lastimada e acariciada.

 O agir do pecador humilde

E, antes de tudo, na vida espiritual, ajamos mais por amor do que por temor. O
amor dilata o coração, exalta as suas energias; o temor o comprime e aperta. O amor
engendra a confiança e a paz; o temor entretém o desassossego e a agitação.
Se olharmos para nós mesmos e para a nossa fraqueza, temor e desalento
invadirão o nosso coração; se, porém, nos voltarmos para Jesus, que é bom e poderoso,
penetrar-nos-á amor e confiança.
Deixemo-nos, pois, atrair por Jesus e não permitamos ao temor e a desconfiança
perturbarem o nosso coração. Repilamos, neste mesmo instante, todo pensamento
depressor, todo sentimento de tristeza ou de desânimo, pois são o fruto da confiança em
nós mesmos.
Na nossa aspiração a perfeição, procedamos com mansidão e calma, e não com
violência.
A violência e uma força destrutiva; ela elimina, quebra, despedaça, destrói, mas
não repara e não edifica.
A violência é uma forca transitória, e não atinge senão a superfície das coisas. A
mansidão, pelo contrário, é durável, penetra até ao centro da nossa alma, até a região
onde nascem os afetos, as emoções e as resoluções.
A mansidão c como um óleo que cura e fortifica. É, por excelência, o antidoto aos
males do coração humano.
O homem se revolta contra a violência e se deixa ganhar pela bondade.
Tenhamos uma vontade sempre enérgica, mas nunca precipitada; um espirito sempre
presente e precavido, mas nunca preocupado; um coração sempre forte e valente, mas
nunca agitado. Apliquemos estes princípios as nossas relações com o próximo; mas
apliquemo-los sobretudo ao nosso próprio coração. Não nos agastemos e irritemos nunca
contra nos mesmos depois de termos dado uns passos em falso. Humilhemo-nos, sim,
diante de Nosso Senhor, pedindo-lhe perdão confiantemente e tornemos a levantar com
redobrada coragem: Jesus está conosco e nos ajudara...
Lembremo-nos ainda de que o único desejo do nosso Salvador, sua única
preocupação de Redentor e perdoar as nossas faltas e conduzir-nos a santidade, a qual
aspiramos por seu amor.

 Não desanimar, não retroceder

Aconteça o que acontecer, não se pode desanimar. A salvação possui dois


inimigos mortais: a presunção na inocência e a desesperação depois da queda. Maior
mal que o pecado cometido e a desconfiança e o agito que a queda provoca na alma.
É preciso armar-se com coragem, perseverança, determinação, pois, a luta contra
si mesmo nunca termina, sempre há algo a fazer e a ser reparado. Desistir e desanimar
desta tarefa é a atitude de quem exagera na própria fraqueza ou desconhece a
Misericórdia de Deus. Nestas pessoas, a consciência da sua fraqueza toma proporções
desmedidas e envolve a alma em um manto de tristeza e confusão que a esmaga; e Deus,
a cuja ofensa ainda agora a presunção dum fácil perdão abria caminho mais livre,
aparece agora como um vingador inexorável. A alma culpada tem medo dEle e de si tem
vergonha.
Ergamo-nos em paz e, tranquilos, reatemos o fio da nossa indiferença e depois
continuemos a nossa obra. Não é forca quebrar as cordas nem abandonar a viola,
quando ela está desafinada: o que e preciso e aplicar o ouvido para saber donde vem o
desarranjo e lentamente retesar a corda ou abranda-la, conforme a arte o requer.
Da perfeição que desejarias ter: bastará que a tenhas quando morreres. Não sejas,
pois, tão receoso. Caminha com segurança nos caminhos de Deus. Armado com as armas
da fé, ninguém te poderá fazer mal”.
"Livrai-nos, Senhor, dizia Davi, da covardia e do desânimo". Nesta guerra, em que
nos empenhamos, seremos sempre vencedores com a feliz condição de querermos
combater”.

 Pecado mortal

O pecado nunca é um obstáculo ao nosso a amor a Deus, nem ao amor de Deus


a nós, quando, entre nós e o nosso pecado, se interpõem o arrependimento e a
confiança.
Com isso, mesmo que se caia alguma vez em pecado mortal, o progresso na
piedade não será afetado, desde que haja a disposição para nele não permanecer. É
verdade que se perde o estado de graça, mas tal estado é logo recuperado através de
um arrependimento verdadeiro e uma boa confissão sacramental.
O fundamental é não desconfiar do Amor e da Misericórdia de Deus. Por maior
que seja a miséria e o pecado humano, estes em nada se aproximam do tamanho do
Amor e da Misericórdia de Deus pelo homem. É esta a fonte da esperança e da
confiança.

 Sobre o aproveitamento das faltas

Tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus. Tudo mesmo! Santo
Agostinho reitera que até mesmo as quedas e pecados ajudam o homem a aproximar-se
de Deus, pois, através delas, pode-se tornar mais humilde, cauto e fervoroso. Como ensina
São Francisco de Sales, “preciosas imperfeições! Fazem-nos conhecer a nossa miséria,
exercitam-nos na humildade, no desapego de nós mesmos, na paciência e na diligência.
Assim, as faltas nos fornecem os elementos necessários para combatê-las, pois
tornam-se em uma potente arma contra o orgulho e assim abre as portas para o cultivo
da “mãe” de todas as virtudes, a humildade.

 Sobre a Humildade

A humildade é a base e fundamento de todas as outras virtudes; ela alimenta


todos os outros bens que o homem possa ter. Por sua vez o orgulho é o princípio de todo
o pecado. O orgulho é um mal tão comum entre os homens, que nunca será demais que
se lhes pegue e inculque a necessidade de perseverar na prática da humildade.
Na pessoa que se reconhece pecadora, o orgulho se enfraquece, e assim a
humildade e as outras virtudes assentam-se em uma boa base, a verdade. “Pensáveis que
éreis mais, e eis que sois menos. ” A multidão dos pecados que um sujeito comete fornece-
lhe toda a força necessária para vencer o orgulho.
Deus prefere, ensina Santo Agostinho, as más ações acompanhadas de
humildade, do que boas obras feitas com orgulho. E, ainda São Gregório de Nissa, “Um
carro cheio de boas obras, conduzido pelo orgulho, leva ao inferno; conduzido pela
humildade, um carro cheio de pecados leva ao paraíso. ”
O orgulho se torna o maior de todos os pecados, pois, se nos outros o homem, por
ignorância ou por fraqueza, desvia-se de Deus; no orgulho o desvio se deve ao fato de
não se submeter à Ele. Enquanto os outros vícios fogem de Deus, o orgulho O encara de
frente, altivo, por isso, como ensina São Tiago, Deus resiste aos soberbos.
A medida que se avança em humildade, Deus fará brilhar a sua luz nas trevas e
verás os teus defeitos. Para reparar os defeitos é preciso conhece-los. Destarte, o orgulhoso
não consegue progredir na ordem da graça, por estar em grande treva e assim incapaz
de ver os seus pecados.
Essa luz é fonte de certo sofrimento nos humildes, pois, ao conhecer suas faltas,
reconhece-se miserável, por isso, deve-se cuidar para não esmorecer, e perseverar, pois,
o Divino Espírito Santo é o guia infalível nessa obra de aperfeiçoamento espiritual.
O humilde, conhece-se bem, por isso sabe que não há pecado que alguém possa
cometer, que ele também não possa cometer.

 Considerações finais

Aqueles que aspiram a ter um amor puro a Deus não tem tanta necessidade da
paciência para com os outros quanto consigo mesmos. Para sermos perfeitos, precisamos
suportar as nossas próprias imperfeições. Eu digo suportar com paciência e não amar nem
acariciar. Deste sentimento é que se alimenta a humildade.
Ora, a humildade é chamada fundamento e alicerce do edifício espiritual, que
Deus, só ao qual pertence edificar como diz o profeta (SI 126), não construirá nunca senão
sobre o grande plaino que lhe tivermos cavado com o verdadeiro reconhecimento de
quem somos.
A humildade em sua essência é verdade; e, ao mesmo tempo que nos desvenda
o nada donde fomos tirados, põe cm relevo o bem, que em nos procede de Deus, como
de sua causa primária. Consideremos, pois, com muita atenção, o que Deus fez por nós e
o que nós fizemos contra Ele. Ao passo que examinamos os nossos pecados um por um,
examinemos também uma por uma as graças que Deus nos concedeu. Que temos nós
de bom que não tenhamos recebido? E, se o havemos recebido, para que nos
orgulharmos disso? (1 Cor 4, 7).
As luzes projetadas pelas nossas faltas, sobre as fraquezas, nos conduzem, pela
humildade, a indulgência para com as fraquezas dos outros. É somente conhecendo-nos
bem que poderemos sentir na nossa a alma do nosso irmão e saber como dar-lhe auxílio.
Quanto mais nos aproximamos de Deus, tanto mais indulgentes somos para com
as misérias de outrem, porque o espírito de Deus, indulgente e compassivo, está acima
das nossas mesquinhas concepções humanas.

 Referências bibliográficas

Santa Teresa de Jesus. Obras completas.

Jose Pissot. A arte de aproveitar as próprias faltas

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