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O misticismo é apontado por diversos term o grego que denom ina “mistério” - mus-
autores (C ham pion, 1989; Hérvieu-Léger e tikós. É com este significado que ele adentra
C ham pion, 1989) como um dos principais na reflexão filosófica grega e, a partir de D io-
traços da religiosidade contem porânea. Ele nísio Pseudo-Areopagita, na reflexão teoló
não só está presente nos chamados “novos gica cristã.1 Vaz (1994) m ostra que no mis
m ovim entos religiosos’, mas tam bém pode ticism o existem três âm bitos diferentes: a
ser identificado com o um a tendência im experiência mística, o pensam ento místico
portante no interior das próprias religiões tra e o mistério místico. A experiência mística2 e
dicionais. Mesmo no Brasil, diversos autores o mistério místico, segundo seus proponen
(Siqueira e Lima, 2003) vêm cham ando a tes, não podem ser traduzidos por palavras.
atenção para os traços místicos de determ i Nosso ponto de partida, portanto, terá que
nadas igrejas e grupos religiosos. ser o “pensamento místico”, um a vez que está
Todavia, a mera constatação empírica dos situado no plano do discurso e é úm registro
traços místicos na religiosidade brasileira não empírico desta experiência religiosa. Trata-
tem sido acompanhada, da mesma forma, por se, como sabemos, de um discurso m uito pe
um a reflexão conceituai aprofundada sobre culiar, que tenta traduzir de forma racional
o “conceito” de mística (ou misticismo) no algo situado no plano do irracional.
âm bito da sociologia. Visando a contribuir
Com o definir, então, a mística com o dis
na superação desta lacuna, o objetivo deste
curso? Um a das definições mais famosas é a
texto é realizar um a revisão da literatura so
de Lalande (1996), que apresenta quatro
bre o tem a da mística entre autores clássicos
grandes sentidos para o uso do term o m isti
e contem porâneos do pensam ento sociológi
cismo: como crença religiosa; como experiên
co. Depois de apresentar um a definição ope
cia psicológica; com o sistema filosófico; e
racional do term o, analisa-se a posição das
como falsa visão da realidade. Por outro lado,
principais escolas da sociologia clássica (mar
Kolakowski (1965) questiona especialmente
xismo, sociologia francesa e sociologia com
três aspectos das definições tradicionais de
preensiva) e da sociologia contem porânea
mística: (1) a idéia de que a união mística
sobre o problem a da mística. Em seguida,
som ente é possível com divindades. Se parti
m ostra-se com o o tem a da mística tam bém
está presente nos estudos sociológicos so mos desse pressuposto, segundo o autor, fi
bre a religião no Brasil. Por fim, realiza-se cariam excluídas da definição as religiões pan-
um “balanço” global sobre o tema. teístas, às formas não religiosas de experiência
mística e, inclusive, as formas de materialis
mo; (2) a falta de um a definição mais precisa
O que é Mística? das condições que tornam possível a com u
nicação direta com Deus (por exemplo, se
Conform e nos inform am os estudiosos todos são capazes disto ou apenas alguns elei
(Davy, 1996), “mística” possui sua raiz no tos, seria resultado de um esforço pessoal ou
no
marxismo, com o se pode constatar nas refle mo reside na busca de um a form a de expe
xões de Bloch (princípio esperança) ou de riência religiosa pura, o mais longe possível
Walter Benjamin (mística judaica), por exem das tradições históricas, culturais e sociais:
plo. Até o próprio Marx, com sua visão teleo- “sua essência é este m ovim ento de negação.
lógica da história, deixa transparecer a filo Por conseqüência, para bem com preendê-la,
sofia judaico-cristã do m undo. Há, portanto, no que lhe é absolutamente próprio, é preciso
1 um a “mística do ainda não”, que nos remete virar as costas para a explicação sociológica”
diretam ente à idéia de utopia presente no (1996, p. 205). Em suma, na vertente fran
marxismo. Mas, com o reflexão direta e siste cesa da sociologia do sagrado, a-reflexão sobre
m ática sobre o tema, não se pode delinear a mística não é desenvolvida. Apesar das m en
um a sociologia do misticismo nessa vertente ções ao tema, não há um tratam ento am plo,
teórica. sistemático e exaustivo sobre o assunto.
. N a França, o tema está pouco presente Diferente é o quadro da sociologia ale
entre os fundadores do pensam ento socio mã, em que o tem a das relações entre reli
lógico francês. Em D urkheim e Mauss, por gião e m odernidade sempre foi fundam en
exemplo, o term o mística aparece raras ve tal. Em Max Weber, por exemplo, o tem a
zes, sempre de forma ocasional.! N o en tan atravessa praticam ente toda a sua obra socio-
to, há dois pensadores que desenvolveram essa religiosa.5 Do ponto de vista teórico, W eber
questão. M aürice Halbwachs (1952) trata do apresenta os tipos ideais de ascetismo e mis
assunto na sua reflexão sobre a m emória co ticismo. N o obra Economia e sociedade (1994,
letiva religiosa. Para ele, existe sempre uma p. 362), em que o tem a é apresentado de for
relação de tensão entre a mística e a dogm á ma mais sistemática, o asceta é considerado
tica: o misticismo critica a rigidez e a secura um “instrum ento de D eus” {Wekzeug Gottes)
do pensam ento teológico oficial; o dogma - no m undo. Q uanto ao elemento místico, sua
com o evolução e cristalização da memória marca característica é ser um “receptáculo do
coletiva religiosa —precisa, por seu turno, sis divino” (Gefiissdes Góttilicheri). Portanto, se
tem atizar e desenvolver um a filosofia social gundo Weber, enquanto o prim eiro tipo de
que adapte o ideário cristão às exigências conduta religiosa é essencialmente ativo, o
seculares é políticas. Por isso, afirma H alb segundo é basicamente passivo. Todavia, na
wachs, “os místicos reprovarão a Igreja por fase final de sua obra, W eber atenua essa d i
se deixar penetrar demais pelo espírito do sé ferenciação rígida entre ascetismo e misticis
culo e a acusarão de infidelidade ao espíri mo, abrindo espaço para a possibilidade de
to de Cristo” (.Idem, p. 207). Roger Bastide “com binar”, na realidade empírica, os tipos
(1928, 1996), por sua vez, apresenta um rico ideais. Vejamos como o autor constrói sua
estudo sobre as “características” da vida mís tipologia no texto “Rejeições religiosas do
tica e suas principais “teorias explicativas”. m undo e suas direções”.6 Em prim eiro lugar,
Bastide explica detalhadam ente as técnicas Weber, ao rever seus trabalhos anteriores,
místicas, o estado místico, as etapas da vida afirma: “tivemòs de usar repetidam ente as
mística, as graças-místicas, as provas místicas palavras “ascetism o” e “m isticism o” cóm o
e o estado teopático. Todavia, ao tentar ex- conceitos polares” (1982, p. 373). Em segui
' plicar as razões sociológicas que explicam tais da, relativiza essa distinção, ao dizer que
elementos, o autor afirma surpreendentem en
te que a sociologia tem pouco a dizer sobre o O contraste diminui, porém, se o ascetis
assunto. Segundo ele, a essência do misticis mo ativo limita-se a controlar e superar a
m
malignidade da criatura na própria natu com binam ou até mesmo podem desapare
reza do agente. Nesse caso, ele fortalecerá cer. N o entanto, ele adverte:
a concentração sobre as realizações ativas e
redentoras, firmemente estabelecidas e de Em ambos os casos, o contraste pode de
sejadas por Deus, a ponto de evitar qual saparecer realmente na prática, e pode
quer ação nas ordens do mundo (fuga as ocorrer uma certa combinação de ambas
as formas de busca de salvação. O contras
cética do mundo). Com isso, o ascetismo
te pode, porém, continuar até sob o dis
ativo, em sua experiência externa, se apro
farce de uma aparente semelhança externa
xima da fuga contemplativa do mundo
{Idem, ibidem).
(.Idem, p. 374).
A seguir, resumimos esquem aticam ente
D ando seguimento a essa passagem, uma a revisão feita por W eber de sua tipologia,
seg u n d a p o ssib ilid a d e é ex am inad a por com suas respectivas definições:
Weber:
■ Ascetismo intramundano : trabalho em
O contraste entre ascetismo e misticismo um a vocação.
também é reduzido se o místico' contem ■ Ascetismo extramundano\ o crente deve
plativo não chega à conclusão de que deve lim itar a com bater no mal que está den
fugir do mundo, mas, como ascético vol tro de si mesmo, por isso ele evita qual
tado para o mundo, permanece nas ordens quer ação no m undo.
do m undo (misticismo voltado para o ■ Misticismo extramundano: possessão con
mundo) (Idem, ibidem). templativa do sagrado.
■ Misticismo intramundano-, o místico con
Finalm ente, W eber apresenta ainda uma tem plativo não foge do m u n d o , mas
outra hipótese, qual seja, a de que os con como ascético voltado para o m undo,
trastes não só se relativizam, mas tam bém se permanece nas ordens do m undo.
Quadro 1
Max Weber: Ascetismo e Misticismo
A SC ETISM O M IS T IC IS M O
D o ponto.de vista empírico, nota-se que estética, erótica e intelectual. Em suas pala
W eber sempre ressaltou a tensão existente vras:
entre a mística e o m undo m oderno. O autor
contrasta o misticismo (e tam bém o asce [...] a unidade da imagem primitiva do
tismo) com as esferas econômica, política, mundo, em que tudo era mágica concreta,
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cendeu a dividir-se em conhecimento ra cas, o dogm a e a moral) e filosóficas (a teodi-
cional e domínio da natureza, de um lado, céia mística, as técnicas místicas e a concep
e experiências “místicas” do outro. O con ção da semente divina), passando ainda por
teúdo inexprimível dessas experiências' uma revisão histórica da mística protestan
continua sendo o único “além” possível, te. Do ponto de vista sociológico, a religião
acrescido ao mecanismo de um mundo sem espiritual traduz-se na idéia de um a “igreja
deuses (Idem, p. 325). invisível”, definida por Troeltsch da seguin
te maneira: “com unidade puram ente espi
O utro autor fundam ental para a discus ritual, conhecida apenas por Deus, sobre a
são sociológica sobre a mística é o teólogo qual o hom em não precisa se preocupar, mas
protestante Ernst Troeltsch. Em sua princi que, invisível, governa todos os seguidores,
pal obra, Die Soziallehren der Christlichen und sem sinais externos ou outros instrum entos
Kirchen Gruppen (A doutrina social das .igre hum anos” {Idem, p. 745). Portanto, trata-se
jas e dos grupos cristãos), de 1912, Troeltsch, da concepção de um a com unidade puram en
além de realizar um a das mais primorosas te espiritual, unificada apenas pelo poder
análises da evolução histórico-social do cris do espírito e na qual o indivíduo é liberado,
tianismo, oferece um conceito de mística bas conseqüentem ente, de toda a obrigação de
tante original e rico em virtualidades teóri evangelizar e de organizar in stitu c io n al-
cas. Sua análise sobré as diversas etapas his- mente (como seita ou igreja) a religiosidade.
tórico-sociais do cristianism o m ostra as três Graças à idéia da semente divina, Cristo está
formas de esta religião se inserir na esfera presente em toda parte, entre todos os cren
secular: trata-se dos tipos institucionais de tes e, inclusive, entre os não-cristãos. Por isso,
“igreja”, “seita” e “mística”. De acordo com o cristão deve ser tolerante e deve exercitar a
sua definição, o misticismo é essencialmente vida cristã na prática, independentem ente
um a experiência religiosa direta que surge de das instituições, ou organizações. De qual
um a reação contra a excessiva objetivação da quer forma, a igreja invisível não significa
vida religiosa em práticas institucionalizadas. necessariamente a ausência de qualquer laço
Nas palavras do autor: social entre os indivíduos. O místico tam bém
é hum ano e sente a necessidade de contato
No sentido amplo da palavra, misticismo com outras pessoas. Por esta razão, explica o
é simplesmente a insistência em uma ex autor:
periência religiosa direta, interior e presen
te. Não valoriza as formas objetivas da vida Entretanto, onde os místicos formam gru
religiosa na adoração, no ritual, no mito e pos, eles não têm a intenção de tomar o
no dogma, pois é uma reação contra estas lugar da grande “igreja invisível” (como
práticas objetivas, aos quais ele tenta dar uma seita tenderia a fazer), ou de interferir
vida nova, ou ainda, é o suplemento para no trabalho de Deus de difundir a influen
formas tradicionais de adoração mediante cia do espírito; o objetivo desses grupos e
o estímulo pessoal e vivencial (1931, p. puramente pessoal, são círculos íntimos
730). para a edificação (Idem, p. 746).
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que o misticismo é o tipo de religião que mais reforçam o desejo de um a união direta, inte
convém às necessidades religiosas das classes rior e presente, ou seja, a tendência mística.
letradas. Em bora algumas camadas sociais Retom ando a perspectiva de Troeltsch, Ar
prefiram as seitas, em virtude do sentim ento naldo Nesti (2002) destaca tam bém que a
de segurança organizacional, e outras, as igre religiosidade mística é a que m elhor se adap
jas, uma vez que estas podem ser usadas como ta ao caráter pluralista das opções religiosas
um instrum ento de controle das massas, é contem porâneas, abertas às escolhas indivi
ju stam ente pelo fato de o individualism o duais. Para Collin Campbell (1978), enquan
m ístico estar co ad u n ad o ao in d iv id u alis to as igrejas e as seitas estão em declínio, é a
mo da sociedade m oderna que as camadas religiosidade individual e subjetiva que se
mais cultas tendem a adotar esta forma de encontra em ascensão. Campbell (1997) ain
religiosidade/ da dem onstra que a absorção de um a teodi-
céià oriental, mais voltada para a mística, é
possível tendo em vista sua com patibilidade
Sociologia Contemporânea com a corrente mística já presente no pró
prio cristianismo.
Em bora não tenhamos a pretensão de ser Todavia, para além das semelhanças nes
exaustivos, podem os dividir a literatura con sa estratégia de resgate conceituai dos clássi
tem porânea que trata dos fenômenos místi cos, existe um a sensível diferença na maneira
cos em dois blocos: a literatura de língua in com o cada um a das visões apresentadas se
glesa e a de língua francesa. apropria dos conceitos tradicionais em sua ta
N a primeira,, o que predom ina é a tenta refa teórica. Com o vimos, W eber e Troeltsch
tiva de retom ar os conceitos clássicos de We- tinham posições diferentes sobre a relação en
ber e Troeltsch. Do lado weberiano, Roland tre a mística e a m odernidade. Se para Weber
Robertson (1975), por exemplo, defende a havia um a tensão, em Troeltsch, a mística
tese de que a tendência intram undana se in estaria adaptada às condições do individua
clina para o ascetismo, enquanto a extramun-- lismo contem porâneo. Curiosam ente, os es
dana aproxima-se do misticismo. Mas, vale tudiosos desses autores acabaram tom ando
dizer, ambas podem ser mitigadas, pelo mis direções diferentes de seus mestres. E nquan
ticismo, no caso da primeira, e pelo ascetis to a literatura "neo-weberiana” busca eviden
mo, no caso da segunda. Assim, o atual mis ciar que o misticismo intram undano é uma
ticismo intram undano seria um a forma de forma de adaptação ao m undo secularizado,
adaptação dos indivíduos no interior da so a corrente “neo-troeltschiana" aposta na idéia
ciedade burocratizada e diferenciada da m o de crise da secularização. O u seja, a litera
dernidade. Tese similar é a de D onald Stone tura w eberiana destaca a com patibilidade
(1978), para quem o misticismo também é entre misticismo (em sua versão in tram u n
com patível com a vida burocrática m oder dana) e m undo m oderno secularizado, e a
na, tendo em vista a centralidade que esta con troeltschiana aponta para a incom patibili
fere ao indivíduo. Já para W illiam Swatos dade, na m edida em que o misticismo seria
(1981), é preciso revisar os conceitos tradicio a forma de religiosidade da sociedade pós-
nais na literatura, apontando para uma nova moderna.
tipologia, a saber, os cultos e as seitas. Estas N a perspectiva sociológica francesa, al- *
tendem, a estimular a vida ascética, aqueles guns autores, para entender a mística, con-
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tem porânea, preferem um tratam ento mais A Sociologia da Mística no Brasil
sócio-histórico, outros buscam inovações con
ceituais. O prim eiro grupo concentra-se na N a sociologia brasileira, o tem a da mís
análise de tendências místicas da história fran tica recebeu um tratam ento essencialmente
cesa, para encontrar ali algumas variantes empírico. Os trabalhos podem ser divididos
sociológicas que expliquem - em um a pers em dois grupos. N o prim eiro destacam-se
pectiva que poderíam os cham ar de nom oló- pesquisas que buscam explicar os traços ou
gica —o fenôm eno místico.9 O segundo de os aspectos místicos de um a determ inada re
tém-se na religiosidade contem porânea, no ligião no Brasil. Assim, as mais im portantes
sentido de verificar em que m edida a vida tradições religiosas brasileiras são apontadas
religiosa atual possui traços místicos. Neste e analisadas: protestantism o, religiões afro-
g ru p o , d estaca-se a socióloga F rançoise brasileiras, catolicismo e tam bém os novos
C ham pion, que criou o conceito de “nebu movim entos religiosos No segundo, os estu
losa místico-esotérica”: dos são mais abrangentes, isto é, procuram
utilizar-se do conceito de mística para en ten
Ela é composta de grupos e redes diversos,
der aspectos do cam po religioso brasileiro
podendo vincular-se às grandes religiões
como um todo.
orientais, corresponder a sincretismos eso
Sobre o pentecostalismo, o trabalho pio
téricos mais ou menos antigos ou a novos
neiro é de Rubem Alves que já em 1984 re- ,
sincretismos psico-religiosos, ou, ainda,
feria-se ao “misticismo como emigração dos
reagrupar pessoas em torno de diferentes
sem p o d e r'. O autor sustenta que a realida
práticas adivinhatórias (1990,. p. 17).
de m oderna vive a contradição entre possuir
aspirações e, ao mesmo tem po, ter consciên
C h am p io n (1991, 1993) investiga as
cia de não poder realizá-las. É neste sentido
relações dos grupos místico-esotéricos com o
que o misticismo pode ser interpretado como
pensam ento holista e a visão que estes gru
“emigração dos sem poder”. N esta mesma li
pos possuem do conhecim ento científico
(1991). Assim, no contexto de um a recom nha de raciocínio, Prócoro Velasques Filho
posição do fenôm eno religioso, a “nebulosa (1988) entende que o misticismo vem sendo
místico-esotérica” parece situar-se no ponto recuperado pelas “religiões do espírito” (ou
de intersecção de três tendências da m oder seja, as igrejas pentecostais), que estariam
nidade. D e um lado, a transform ação da ocupando o lugar do protestantism o e do ca
m entalidade, que implica na valorização ex tolicismo, um a vez que estes não mais satis
trem a do indivíduo, isto é, de sua autentici fazem as necessidades religiosas dos fiéis.
dade, vontade e independência. De outro, o Tam bém para A ntonio G ouvêa M endonça
pirotesto social que acom panha o próprio (1988) o misticismo é essencialmente um a
desenvolvimento da m odernidade e que se reação antiintelectualista no âm bito da reli
insurge contra o materialismo e o racionalis- gião. Partindo de Roger Bastide, o autor en
mo típicos de nossa era. Por fim, em se tra tende o misticismo como um a reação aos pro
tando de sensibilidade religiosa, o.s grupos cessos de institucionalização e elaboração
místico esotéricos parecem revelar um a for discursiva ocorridos ao longo da evolução
ma de otim ism o religioso (a noção é inspira religiosa. Em suma, trata-se sempre de um
da em W illiam James), ou seja, um a religião retorno ao “sagrado selvagem”, fonte de toda
do coração, mística e otimista. vida religiosa.
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N o cam po de estudo das religiões afro- movim entos religiosos” ou a cham ada “nova
brasileiras, o pioneiro na identificação dos era”. A semelhança entre o caráter subjetivo
traços místicos desse segm ento religioso é desses modos de religiosidade e a religiosida
Roger Bastide. N o texto “Castelo interior do de mística vem sendo fortem ente enfatizada
hom em negro”, ele analisa as semelhanças pelos pesquisadores. Leila Amaral, por exem
entre o “transe místico” e o “êxtase místico”, plo, na tentativa de entender “os errantes da
isto é, entre o misticismo na sua versão cristã Nova Era”, afirma:
e o misticismo na sua versão afro-brasileira:
[...] interessa-me particularmente compre
Que ninguém se espante com as compara ender o fenômeno do “nomadismo espiri
ções que por vezes nós tentaremos fazer tual” como constituinte de novas versões
entre o misticismo cristão e o misticismo místicas no mundo contemporâneo, num
politeísta. Não se trata, evidentemente, de
movimento em que se entrecruzam as mais
identificar duas formas de misticismo opos
diferentes tradições religiosas e não reli
tas - ascensão da alma até Deus e descida
giosas com suas combinações excêntricas
dos desuses sobre os “cabelos” —, mas so
(1993, p. 19).
mente de ajudar o leitor a melhor sentir a
riqueza do transe místico africano, me
José Guilherm e M agnani, em texto in
diante certos sistemas de semelhanças
trodutório e didático, no qual descreve “o
(Bastide, 1972, p. 59).
Brasil da nova era”, indica sua preferência pelo
conceito de neo-esoterismo para explicar esta
O s autores que buscam apontar os ele
tendência religiosa, mas, segundo o autor, “há
m entos místicos do m undo religioso afro-
quem prefira complexo alternativo, oü novo
brasileiro seguem, basicamente, o caminho
traçado por Bastide. Para N eusa Costa, por misticismo, holismo [...]” (2000, p. 2 6 ).10
exemplo, o conceito central do misticismo O utro exemplo nesse campo de pesquisa é o
afro-brasileiro é a noção de transe místico: projeto “Práticas místicas e esotéricas do D is
“durante o transe místico não há, pois, a in trito Federal”, realizado na Universidade de
corporação de um a entidade estranha àquele Brasília entre 1994 e 2001. Ademais, a pu
ser material que é o do filho de santo, o íyàwo, blicação de trabalhos sob a coordenação de
mas a transm utação do íyàwo na sua dim en Siqueira e Lima (2003) revela que a catego
são divina ou, melhor dizendo, na sua por ria mais explorada nesta área foi a já citada
ção divina” (Costa, 1984, p. 96). José Jorge noção de “nebulosa místico-esotérica”. N o
Carvalho (1997) tam bém segue a via analí entanto, nesses estudos o espaço para um a
tica de Bastide. M ostra como os poemas dos discussão teórica deste conceito ou mesmo
cultos afro-brasileiros são textos literários que de outros conceitos sociológicos sobre a mís
podem ser equiparados à grande tradição mís tica é bastante restrito. Apenas A driana Val-
tica ocidental. N um a análise comparada, o au le-H õllinger (2003, pp. 235-266) recorre ex
tor identifica as semelhanças existentes entre plicitamente a autores como Weber e Troeitsch
os cantos aparentem ente simples da jurem a, para discutir a influência de tendências mís
da m acum ba e da pajelança e as concepções ticas em escolas de Brasília. H ig u et apare
de outras tradições místicas, form ulando, as ce tam bém com um im portante texto que
sim, um quadro de referência mais amplo. identifica um a “nova consciência religiosa”,
O conceito de mística tam bém começa na qual o misticismo ecológico é um traço
a ser explorado em análises sobre os “novos fundam ental:
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Troeltsch. N a m inha tese de doutorado (Sell,
[...] está nascendo um “misticismo ecoló 2004)detive-m e tam bém sobre esse tem a,
gico” dotado de uma cosmologia alter mostrando que o discurso místico da teolo
nativa, visão do m undo - amplamente gia da libertação representa um a recom posi
compartilhada - em que se destacam os ção deste segmento do catolicismo tanto no
cuidados com a “espiritualidade”, com a campo religioso como no social.
“natureza”, a “harmonia” entre os homens A inda sobre o catolicismo, existem tra
e a recuperação de um equilíbrio corpó balhos que buscam investigar a questão da
reo, psíquico e cósmico perdido” (Higuet, mística no interior do m ovim ento carismá
2001 p 139). tico. Carlos Alberto Steil (2003), por exem
plo, partindo da análise em pírica de grupos
E ntre os m ovim entos analisados por carismáticos na cidade de Porto Alegre/RS,
H iguet estão o Santo D aim e e a União do mostra com o esses grupos constituem formas
V egetal;'1 o autor discute ainda os trabalhos pelas quais penetram no catolicismo elem en
de Leonardo Boff e Ivone Gebara no campo tos de compreensão e de com portam ento re
da teologia da libertação. ligioso aparentem ente estranhos ao m undo
Sobre o catolicismo, podem os identifi católico tradicional.
car pesquisas que apontam elementos m ísti N o segundo conjunto de estudos de que
cos em cada um a das principais tendências falamos algumas pesquisas têm avançado no
internas dessa religião no Brasil. Um dos tra sentido de buscar um a avaliação global do
balhos mais abrangentes nesse sentido é o fenômeno do misticismo e seus impactos no
texto de Etienne H iguet (1984). De acordo campo religioso brasileiro com o um todo.
com este autor, a mística estaria presente, em José Jorge de Carvalho, por exemplo,
primeiro lugar, no “catolicismo popular”, pois procura alinhavar um a teoria a respeito dos
o povo possui um a mística da natureza, na estilos de espiritualidade, já que os conceitos
qual o cosmos é visto com o manifestação da tradicionais de m ística, a seu ver, seriam
presença do sagrado. A relação entre catoli m uito restritivos e intelectualistas no sentido
cismo popular e misticismo tam bém é apro de fechar o cam inho para o reconhecim ento
fundada por Eduardo H oornaert (1998) em da experiência mística em outras tradições
seu estudo sobre o movim ento de Canudos. religiosas:
N esta obra, adotando com o referência a teo
ria de Ernst Troeltsch, o autor busca caracte [...] estou consciente de que uma resposta
rizar a religiosidade popular a partir da cate afirmativa para esta questão causaria uma
goria de “catolicismo devocional, místico ou verdadeira revolução nos estudos da mís
beato”. tica tal como têm sido realizados até o mo
Q uanto à teologia da libertação, M arce mento, pois os estudiosos teriam que acei
lo Ayres Cam urça (2000) discute o que cha tar, pela primeira vez, a possibilidade de
ma de influência “new age” na Igreja C ató experiências espirituais qualitativamente
lica, analisando o “holism o” das idéias de ricas com expressões lingüísticas simples ou
Leonardo Boff e Frei Betto. Im portantes con pobres” (1994, p. 86).
tribuições nesse sentido tam bém são forne
cidas por Carlos A lberto Steil (1999), que vê Carvalho propõe, então, quatro grupos
na teologia da libertação um a aproximação que encerram diferentes estilos de espiritua
com a mística, apresentada na obra de Ernst lidade: 1) a grande mística letrada; 2) a espi
117
ritualidade da possessão ritualizada; 3) o es Franz Josef Brüseke (2005) analisa o
piritism o; e 4) o meditativo oriental. tem a em pauta a partir de um conceito cons
O ensaio de Cardoso (1999) tom a por truído por ele, denom inado m odernidade
base a teoria weberiana (ascetis;mo e m isti técnica.13 Em bora Brüseke não investigue o
cismo) para entender o que denom ina "mis tem a em piricam ente nas religiões do Brasil,
ticismo contem porâneo”. Para esta categoria, sua obra se destaca pelo tratam ento teórico
ele busca estabelecer um novo conceito que, amplo e sistemático conferido ao conceito de
de um lado, abarque experiências não estri mística, de um lado, e, de outro, por sua preo
tam ente religiosas e, de outro, apreenda vi cupação de relacionar o tem a à questão da
vências outras, que não as grandes experiên m odernidade. Do p onto de vista teórico,
cias místicas, mas suas formas mitigadas. Brüseke ressalta um a diferença fundam ental
Em am bos os autores podem os perceber entre a experiência mística e o pensam ento
um esforço no sentido de ampliar*a discus místico. A primeira, segundo o autor, seria
são sobre a questão da mística para um u ni com posta por seis elementos - unidade, pre
verso que não se restrinja a um a religião em sença, felicidade, m orte, am or e tem po - ; o
particular. Carvalho busca incluir entre as segundo buscaria um a aproximação do tema
expressões da mística suas versões menos le pela via da razão, daquele ‘algo” situado para
tradas e Cardoso deseja dar conta de todo o além de qualquer definição. Ademais, Brü
cam po religioso. C ontudo, apesar dos indí seke propõe um a relação do misticismo com
cios, não há em seus estudos um a discussão o tem a da moral. Se à prim eira vista a m ísti
sistemática, crítica e abrangente sobre a mís ca poderia representar um perigo para a m o
tica como conceito teórico. Até mesmo o tra ral social, o autor lembra que não há oposi
balho de Cardoso, diríamos, faz apenas uma ção entre a mística e a sociedade e que não se
adaptação dos conceitos de Weber para fins de deve reduzir a ética a um a moral social. N as
pesquisa empírica, aliás bastante discutível. ce daí o que ele cham ou de “mística da resis
Vale a pena destacar ainda alguns traba tência”, m uito mais am pla do que se entende
lhos que, em bora não sejam estritam ente “so Dor '“ética da resistência”.
ciológicos” do po n to de vista disciplinar,
m ostram a preocupação de pesquisadores
brasileiros em relação ao tema da mística. A Considerações Finais
revista Rever do curso de pós-graduação em
ciências da religião da Pontifícia Universida N a primeira vertente teórica que abor
de Católica de São Paulo traz bons exemplos. damos, constatamos que o tem a da mística
N o campo da análise com parada, podemos não é tratado de forma explícita. N o marxis
citar os trabalhados de Crom berg (2003) e mo, não existe propriam ente um a teoria so
Teixeira (2003) sobre a mística islâmica. Os ciológica da mística. O conceito aparece de
artigos de Leone (2003), Shoji (2003) e Pon- m odo difuso e sempre cunhando de forma
dé (2003),12 por sua vez, discutem a experiên negativa, como ocultação dos fundam entos
cia mística propriam ente dita. Mas pouca reais da sociedade. Assim, nesse paradigm a a
atenção é dada ao estudo do misticismo nas m ística reduz-se à mistificação. C o n tu d o ,
religiões brasileiras; apenas Shoji se pergunta constatam os que, de form a im plícita, há
textualm ente ‘se não existe um a mística bra um a presença recorrente do tem a nas idéias
sileira que não seja contem plada nos m ode de pensadores com o H orkheim er, Bloch,
los internacionais mais gerais (2003, p. 72). Lukács, Benjamim e até mesmo do próprio
118
Marx, o que deixa evidenre que o racionalis- que diz respeito ao protestantism o. D o p o n
mo marxista acaba se .defrontando com os to de vista metodológico, o enfoque de W e
aspectos “irracionais’ (místicos), ocultos em ber, como não poderia deixar de ser, centra-
seus fundam entos, por interm édio de pensa se sobre ação social. Ascetismo e misticismo
dores que buscaram justam ente acentuar tal representam condutas religiosas diversas que
aspecto em Marx. Embora isso corrobore para implicam em diferentes formas de inserção
a im portância das questões levantadas pela no m undo. O enfoque de Troeltsch, por seu
experiência e pelo discurso místicos, com efei turno, é. mais institucional. Igreja, seita e
to a teoria marxista não nos oferece um a con mística constituem não só diferentes m anei
tribuição relevante para pensar - de forma ras de organização coletiva, fruto de visões
sociológica - a realidade do misticismo. diversas da religião cristã, mas tam bém , e
N a corrente francesa, esse fenôm eno foi principalm ente, três formas de vínculo com
analisado, a partir da categoria do sagrado, o m undo social (aceitação, negação e indife
no âm bito da sociologia da religião. Segun rença). Interessante tam bém é perceber como
do D urkheim , a mística pode ser entendida cada um desses autores analisa a mística no
com o todas as formas de com portam ento re âm bito da m odernidade. O nde W eber enxer
ligioso pelas quais o hom em abandona suas ga tensão, todo o esforço de Troeltsch quer
ligações com o m undo profano e dedica-se m ostrar a religião espiritual como o tipo de
exclusivamente ao m undo sagrado. Mas a tra espiritualidade que mais se adapta ao indi
dição “im anentista” de D urkheim , que ex vidualismo e ao subjetivismo das condições
plica o social pelo social, e a religião como contem porâneas. Assim, se para W eber. a
expressão da superioridade do social sobre o m ística é apenas um a força de resistência
individual, sempre relegou o tema da mística m inoritária num m undo desencantado, para
a um segundo plano. Isso nos leva a concluir Troeltsch o m isticism o significa um a das
que, se no marxismo o tem a da mística está possibilidades de sobrevivência da religião no
praticam ente ausente (a não ser sob um a for contexto da modernidade.
ma negativa ou implícita), na vertente fran A sociologia contem porânea avançou no
cesa da sociologia do sagrado, a reflexão so sentido de acom panhar e descrever as muta-r
bre a m ística não teve continuid ade. N a ções e a diluição do misticismo nas formas
realidade, a sociologia racionalista e laicizan- de com portam ento do indivíduo contem po
te de D urkheim e de seus herdeiros da socio râneo. Avançou, portanto, em termos de acui
logia do sagrado não estava aparelhada para dade pára detectar as transformações na esfera
pensar o lado irracional do misticismo. do com portam ento religioso, mas tal ganho
D e fato, é no âm bito da sociologia ale fez-se às custas da perda da capacidade da
mã que o tem a da mística receberá um desen própria sociologia de pensar, a partir da mís
volvim ento teórico mais consistente. C om tica, os fundam entos da m odernidade. Em
parando às teorias de Weber e de Troeltsch outras palavras: na sociologia clássica, a mís
sobre o tema, pudem os perceber alguns con tica ainda era um tem apelo qual alguns pen
trastes interessantes tanto da perspectiva de sadores (particularm ente.W eber e Troeltsch)
investigação como da m etodologia.14 Weber podiam discutir os aspectos “racionais” e “se
busca entender a mística em fontes não oci culares” da sociedade m oderna; na sociolo
dentais, especialmente nas religiões da C hi gia contem porânea, a discussão está restrita
na e da índia; Troeltsch, ao contrário, mer a seus efeitos no próprio campo religioso. O u
gulha nas raízes do O cidente, sobretudo no seja, o debate ganhou em term os de especia
119
lização temática, acom panhando, portanto, A reflexão sobre a “magia” nas religiões
a própria evolução da sociologia da religião brasileiras proporcionou, sem dúvida, exce
com o campo específico da sociologia, con lentes resultados teóricos, mas pouca aten
tudo tal especialização abafou a dimensão ção foi dada até o m om ento a um elemento
“crítica” do tem a da mística como um locus central da religiosidade contem porânea, qual
privilegiado para pensar a “condição” e as seja, a mística. O s pesquisadores têm se lim i
“contradições” da m odernidade racionali tado apenas a constatar a presença de elemen
zada dos tem pos atuais. tos místicos em um a determ inada esfera da
H á m uito que se fala da “magia” (Pie- vida religiosa no Brasil. Q uando observamos
rucci, 2001) no campo religioso brasileiro. a reflexão sobre a mística no âm bito da lite
O s milagres no pentecostalismo, as curas no ratura internacional, percebemos o quanto
catolicismo carismático, os favores concedi este conceito perm ite aos teóricos ingleses e
dos pelos orixás nas religiões afro-brasileiras; franceses pensar, de forma global, as trans
tudo isso indica que a magia, com o forma de formações que afetam a dinâm ica da vida
com portam ento religioso, está em toda a par religiosa contem porânea. C ertam ente traba
te. Em bora haja consenso sobre esse fato en lhar com este conceito nos auxiliaria a pen
tre os estudiosos, as interpretações são diver sar o campo religioso com a mesma profun
sas. M esmo dentro da linha weberiana, que didade que o conceito de magia - em chave
tem no recuo da magia o elem ento central weberiana —nos perm itiu analisar nossa rea
para entender o desencantam ento do m undo lidade religiosa. U m a razão a mais para vol
(Pierucci, 2003), para alguns autores, a for tarmos a visitar e a desenvolver nossa refle
ça da magia representa a “volta do sagrado” xão sobre o fenômeno místico, retom ando
(Alves, 1984); para outros, não há contradi suas formulações clássicas e reform ulando-as
ção entre esta reaparição da magia e a efetiva para pensar a religião na realidade brasileira
“secularização” da sociedade brasileira (Pie e, inclusive, a própria m odernidade, como,
rucci e Prandi, 1996; Pierucci, 1997, 1998). aliás, já faziam os clássicos da sociologia.
Notas
Todavia, como fenômeno religioso, o misticismo está presente em praticam ente todas as
grandes religiões universais. Para um a visão histórica, ver G raef (1972), Bernard (1994),
Albert (1996), Keller (1996), Borchert (1997), Sõlle (1999) e M aisonneuve (2000). Ver
tam bém o clássico de Gershom Scholem sobre a “mística judaica” (1972).
H á um a vasta literatura, tanto no campo da psicologia como no da “mística com parada”,
que trata dos elementos que com põem a experiência religiosa mística. N a psicolpgia, ver
especialmente James (1991); na “mística com parada”, ver Underhill (1952) e Zaehner
(1973).
3. Para analisar as conexões entre o tem a da mística e o pensam ento filosófico, ver Brüseke
(2004).
4. As poucas menções desses autores sobre o tem a aparecem na coletânea que Karaky elabo
rou sobre os “Textes” de D urkheim (1975, pp. 137-141) e nas “Oeuvres” de Mauss (1968).
Todavia, essa questão permanece ainda pouco explorada pelos estudiosos de Weber. Entre
120
os textos que discutem o assunto, ver sobretudo os trabalhos de A dair-Totteff (2002),
N elson (1975) e Eister (1975).
6. N o original alemão o texto chama-se “Z w ischenbetrachtung” (Consideração interm ediá
ria).
7. Tirando-se o uso da famosa dicotom ia “igreja e seita”, o conjunto da obra de Troeltsch
ainda é pouco estudado no Brasil. Para um a visão global do pensam ento do autor, ver
Séguy (1980), D rehsen (1987), Vermeil (1990), Disselkamp (1991), Gisel (1995) e Froi-
devaux (1999). Sobre o tem a da mística em particular, ver Steeman (1975), G arret (1975),
Gustafson (1975) e D aiber (2002).
8. O utro autor alemão que percebe o vínculo entre mística e classes letradas é G eorg Simmel.
Apesar de não nos apresentar um estudo am plo e sistemático sobre a mística, no texto
intitulado “O conflito da cultura m oderna”, este pensador insere sua reflexão sobre a mís
tica no quadro de sua sociologia das formas. De acordo com o argum ento de Simmel, a
mística preserva o conteúdo da religiosidade, mas rom pe com suas formas sociais. Para
maiores detalhes sobre a questão, ver W attier (1996, pp. 23-50). •
9. D ada a brevidade deste texto, não podem os aprofundar o assunto. Mas, o leitor deverá
consultar principalm ente C ertau (1982), Poulat (1992) e Vidal (1998, 2001).
10. A respeito do neo-esoterismo, pode-se consultar ainda Amaral et al. (1994), D ’A ndrea
(1998) e M agnani (1999).
11. Sobre o Santo Daim e, conferir o trabalho de Soares (1990). Este autor tam bém discute a
relação entre novos movim entos religiosos e misticismo ecológico (Soares, 1989).
12. O tem a da experiência mística tam bém é analisado por L uduena (2003, pp. 34-56) na
revista Númen.
1 3 . 0 conceito de m odernidade técnica é construído por Brüseke incorporando a reflexão de
Heidegger sobre a “a questão da técnica”. Para maiores detalhes sobre este conceito, ver
Brüseke (1999, 2001, 2002a, 2002b e 2003).
14. Para um a análise comparativa, ver Seguy (1991, 1992) e M erz-Benz (2004).
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Resumo
O objetivo deste artigo é examinar a trajetória da reflexão sobre o tem a da mística no pensa
m ento sociológico. A prim eira parte analisa as concepções das sociologias marxista, francesa e
compreensiva sobre o tema. A segunda parte analisa essa discussão no âm bito da literatura de
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língua inglesa e francesa. N a terceira, são examinadas as produções no Brasil, particularm ente
as que tratam dos elementos místicos presentes nas religiões do país. Ao final, apontam -se para
algumas possibilidades que o tem a da mística levanta para pensar aspectos do campo religioso
brasileiro, bem como da própria modernidade.
Abstract
T he article aims to examine the trajectory o f the reflection about mysticism w ithin the socio
logical thought. T h e first part analyses the conceptions presented by the M arxist Sociology, the
French Sociology, and the Comprehensive Sociology about the theme. T he second part exami
nes the discussion w ithin the scope o f the literature in English and French. In the third part,
the production on the them e in Brazil is examined, especially those that deal w ith mystical
elements found in Brazilian religions. Finally, some possibilities raised by the discussion on
mysticism are pointed as a way o f thinking aspects o f the Brazilian religious field, as well as
m odernity itself.
Résumé
L’objectif de cet article est d ’examiner la trajectoire de la réflexion sur le thèm e de la mystique
dans la pensée sociologique. La première partie analyse les concepts de la sociologie marxiste,
de la sociologie française et de la sociologie compréhensive liés à ce sujet. La seconde partie
aborde cette discussion dans le cadre de la littérature de langue anglaise et française. D ans la
troisième partie, sont examinées les productions existantes au Brésil, particulièrem ent celles
dont le traitement s’applique aux éléments mystiques présents dans les religions du pays. En conclu
sion, sont indiquées quelques possibilités apportées par le thèm e de la mystique pour repenser
certains aspects du dom aine religieux brésilien, et de la propre m odernité en tan t que telle.
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