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Sociologia da Mística: Uma Revisão da Literatura

Carlos Eduardo Sell

O misticismo é apontado por diversos term o grego que denom ina “mistério” - mus-
autores (C ham pion, 1989; Hérvieu-Léger e tikós. É com este significado que ele adentra
C ham pion, 1989) como um dos principais na reflexão filosófica grega e, a partir de D io-
traços da religiosidade contem porânea. Ele nísio Pseudo-Areopagita, na reflexão teoló­
não só está presente nos chamados “novos gica cristã.1 Vaz (1994) m ostra que no mis­
m ovim entos religiosos’, mas tam bém pode ticism o existem três âm bitos diferentes: a
ser identificado com o um a tendência im ­ experiência mística, o pensam ento místico
portante no interior das próprias religiões tra­ e o mistério místico. A experiência mística2 e
dicionais. Mesmo no Brasil, diversos autores o mistério místico, segundo seus proponen­
(Siqueira e Lima, 2003) vêm cham ando a tes, não podem ser traduzidos por palavras.
atenção para os traços místicos de determ i­ Nosso ponto de partida, portanto, terá que
nadas igrejas e grupos religiosos. ser o “pensamento místico”, um a vez que está
Todavia, a mera constatação empírica dos situado no plano do discurso e é úm registro
traços místicos na religiosidade brasileira não empírico desta experiência religiosa. Trata-
tem sido acompanhada, da mesma forma, por se, como sabemos, de um discurso m uito pe­
um a reflexão conceituai aprofundada sobre culiar, que tenta traduzir de forma racional
o “conceito” de mística (ou misticismo) no algo situado no plano do irracional.
âm bito da sociologia. Visando a contribuir
Com o definir, então, a mística com o dis­
na superação desta lacuna, o objetivo deste
curso? Um a das definições mais famosas é a
texto é realizar um a revisão da literatura so­
de Lalande (1996), que apresenta quatro
bre o tem a da mística entre autores clássicos
grandes sentidos para o uso do term o m isti­
e contem porâneos do pensam ento sociológi­
cismo: como crença religiosa; como experiên­
co. Depois de apresentar um a definição ope­
cia psicológica; com o sistema filosófico; e
racional do term o, analisa-se a posição das
como falsa visão da realidade. Por outro lado,
principais escolas da sociologia clássica (mar­
Kolakowski (1965) questiona especialmente
xismo, sociologia francesa e sociologia com ­
três aspectos das definições tradicionais de
preensiva) e da sociologia contem porânea
mística: (1) a idéia de que a união mística
sobre o problem a da mística. Em seguida,
som ente é possível com divindades. Se parti­
m ostra-se com o o tem a da mística tam bém
está presente nos estudos sociológicos so­ mos desse pressuposto, segundo o autor, fi­
bre a religião no Brasil. Por fim, realiza-se cariam excluídas da definição as religiões pan-
um “balanço” global sobre o tema. teístas, às formas não religiosas de experiência
mística e, inclusive, as formas de materialis­
mo; (2) a falta de um a definição mais precisa
O que é Mística? das condições que tornam possível a com u­
nicação direta com Deus (por exemplo, se
Conform e nos inform am os estudiosos todos são capazes disto ou apenas alguns elei­
(Davy, 1996), “mística” possui sua raiz no tos, seria resultado de um esforço pessoal ou

BIB, São Paulo, n° 59, I o semestre de 2005, pp. 109-127. 109


seria um a graça divina); e (3) a idéia de que a controvérsias e seus pontos de vista conver­
com unicação direta com Deus seria de cará­ gentes” (Idem, p. 37).
ter racional e discursivo, pois o misticismo é O principal traço que desejamos enfati­
a tentativa de racionalizar um a experiência zar na experiência e no pensam ento místico
intraduzível conceitualmente e não uma dou­ é a tensão interna entre os elementos racio­
trina como tal. Visando a superar esses proble­ nal e irracional desse discurso. E justam ente
mas, o autor apresenta a seguinte definição: essa peculiaridade que tem levado alguns
estudiosos contem porâneos a destacar o ca­
Doutrina segundo a qual é possível, dentro ráter crítico da m ística em relação ao que
de certas condições, que a alma humana - pode ser considerado um dos fundam entos
um a realidade diferente do corpo hum a­ da sociedade moderna: o racionalismo. Para
no - se comunique por meio de uma expe­ W ittgenstein, ainda que o pensam ento se li­
riência (não sensível, mas análoga por suas m ite ao m undo dos fatos, “sentim os que,
características diretas àquela que se produz mesmo que todas as possíveis questões cien­
no contato do sentido humano com os tíficas fossem respondidas, nossos problem as
objetos) com a realidade superior que con­ vitais não teriam sido tocados. Sem dúvida,
serva a primazia (no tempo ou na criação) não cabe mais pergunta alguma, e esta é pre­
cisam ente a resposta” (1968, p. 128). A mes­
em relação a toda outra realidade; admite-
ma idéia está presente em Bergson, quando
se ao mesmo tempo que esta comunica­
analisa a concepção do misticismo como con­
ção, ligada a uma intensa afeição de amor,
traponto do “m aquinism o” (sociedade indus­
e também livre de toda participação das
trial), e em Heidegger (1999), em sua aber­
faculdades físicas do homem, constitui um
tura para o sentido e a verdade do “Ser”.3 Fi­
bem particularmente desejado e que é, ao
nalmente, de acordo com Rudolf O tto (1996),
menos nas suas formas mais intensas, o
a partir da sua distinção entre a face num i-
bem supremo que o homem pode conquis­
nosa e a face racional do sagrado, o misticis­
tar na sua vida terrestre (Idem, p. 35).
mo “é sempre, na sua essência, a exaltação
levada ao extremo dos limites não racionais
Essa Conceituação, como atesta o próprio
da religião-; assim definida, torna-se com ­
autor, perm ite englobar um a variedade imen­ preensível” (1992, p. 42).
sa de fenôm enos:'diferentes religiões (mono- Mas de que m odo a sociologia (clássica
teístas, panteístas ou mesmo religiões sem e contemporânea) procurou lidar com o estu­
deus) e diferentes formas de união com Deus do da experiência e do pensam ento místicos?
(total ou parcial, ativa ou passiva), sejam elas
extraordinárias, sejam habituais, ligadas ou
não a estados físicos alterados. Tam bém ad­ Sociologia Clássica
m ite toda a variedade de condições conside­
radas necessárias para que se realize a união Podemos identificar reflexões sobre o
mística, tal com o a m anutenção ou mesmo a tem a da mística nas três principais escolas da
aniquilação da alma hum ana. C om porta ain­ sociologia clássica: a marxista, a francesa e a
da diversas concepções da alma e do absolu­ compreensiva. N a primeira, o tem a da m ísti­
to, e mesmo toda a diversidade de doutrinas ca aparece apenas de forma indireta, geral­
religiosas. Segundo o autor, “sobre a base de m ente, com o sinônim o de falsa visão da rea­
um a tal definição, pode-se, estimo, exami­ lidade. Contudo, em diversas ocasiões, há um
nar os diversos tipos de m isticism o, suas discurso místico implícito no próprio seio do

no
marxismo, com o se pode constatar nas refle­ mo reside na busca de um a form a de expe­
xões de Bloch (princípio esperança) ou de riência religiosa pura, o mais longe possível
Walter Benjamin (mística judaica), por exem­ das tradições históricas, culturais e sociais:
plo. Até o próprio Marx, com sua visão teleo- “sua essência é este m ovim ento de negação.
lógica da história, deixa transparecer a filo­ Por conseqüência, para bem com preendê-la,
sofia judaico-cristã do m undo. Há, portanto, no que lhe é absolutamente próprio, é preciso
1 um a “mística do ainda não”, que nos remete virar as costas para a explicação sociológica”
diretam ente à idéia de utopia presente no (1996, p. 205). Em suma, na vertente fran­
marxismo. Mas, com o reflexão direta e siste­ cesa da sociologia do sagrado, a-reflexão sobre
m ática sobre o tema, não se pode delinear a mística não é desenvolvida. Apesar das m en­
um a sociologia do misticismo nessa vertente ções ao tema, não há um tratam ento am plo,
teórica. sistemático e exaustivo sobre o assunto.
. N a França, o tema está pouco presente Diferente é o quadro da sociologia ale­
entre os fundadores do pensam ento socio­ mã, em que o tem a das relações entre reli­
lógico francês. Em D urkheim e Mauss, por gião e m odernidade sempre foi fundam en­
exemplo, o term o mística aparece raras ve­ tal. Em Max Weber, por exemplo, o tem a
zes, sempre de forma ocasional.! N o en tan­ atravessa praticam ente toda a sua obra socio-
to, há dois pensadores que desenvolveram essa religiosa.5 Do ponto de vista teórico, W eber
questão. M aürice Halbwachs (1952) trata do apresenta os tipos ideais de ascetismo e mis­
assunto na sua reflexão sobre a m emória co­ ticismo. N o obra Economia e sociedade (1994,
letiva religiosa. Para ele, existe sempre uma p. 362), em que o tem a é apresentado de for­
relação de tensão entre a mística e a dogm á­ ma mais sistemática, o asceta é considerado
tica: o misticismo critica a rigidez e a secura um “instrum ento de D eus” {Wekzeug Gottes)
do pensam ento teológico oficial; o dogma - no m undo. Q uanto ao elemento místico, sua
com o evolução e cristalização da memória marca característica é ser um “receptáculo do
coletiva religiosa —precisa, por seu turno, sis­ divino” (Gefiissdes Góttilicheri). Portanto, se­
tem atizar e desenvolver um a filosofia social gundo Weber, enquanto o prim eiro tipo de
que adapte o ideário cristão às exigências conduta religiosa é essencialmente ativo, o
seculares é políticas. Por isso, afirma H alb­ segundo é basicamente passivo. Todavia, na
wachs, “os místicos reprovarão a Igreja por fase final de sua obra, W eber atenua essa d i­
se deixar penetrar demais pelo espírito do sé­ ferenciação rígida entre ascetismo e misticis­
culo e a acusarão de infidelidade ao espíri­ mo, abrindo espaço para a possibilidade de
to de Cristo” (.Idem, p. 207). Roger Bastide “com binar”, na realidade empírica, os tipos
(1928, 1996), por sua vez, apresenta um rico ideais. Vejamos como o autor constrói sua
estudo sobre as “características” da vida mís­ tipologia no texto “Rejeições religiosas do
tica e suas principais “teorias explicativas”. m undo e suas direções”.6 Em prim eiro lugar,
Bastide explica detalhadam ente as técnicas Weber, ao rever seus trabalhos anteriores,
místicas, o estado místico, as etapas da vida afirma: “tivemòs de usar repetidam ente as
mística, as graças-místicas, as provas místicas palavras “ascetism o” e “m isticism o” cóm o
e o estado teopático. Todavia, ao tentar ex- conceitos polares” (1982, p. 373). Em segui­
' plicar as razões sociológicas que explicam tais da, relativiza essa distinção, ao dizer que
elementos, o autor afirma surpreendentem en­
te que a sociologia tem pouco a dizer sobre o O contraste diminui, porém, se o ascetis­
assunto. Segundo ele, a essência do misticis­ mo ativo limita-se a controlar e superar a

m
malignidade da criatura na própria natu­ com binam ou até mesmo podem desapare­
reza do agente. Nesse caso, ele fortalecerá cer. N o entanto, ele adverte:
a concentração sobre as realizações ativas e
redentoras, firmemente estabelecidas e de­ Em ambos os casos, o contraste pode de­
sejadas por Deus, a ponto de evitar qual­ saparecer realmente na prática, e pode
quer ação nas ordens do mundo (fuga as­ ocorrer uma certa combinação de ambas
as formas de busca de salvação. O contras­
cética do mundo). Com isso, o ascetismo
te pode, porém, continuar até sob o dis­
ativo, em sua experiência externa, se apro­
farce de uma aparente semelhança externa
xima da fuga contemplativa do mundo
{Idem, ibidem).
(.Idem, p. 374).
A seguir, resumimos esquem aticam ente
D ando seguimento a essa passagem, uma a revisão feita por W eber de sua tipologia,
seg u n d a p o ssib ilid a d e é ex am inad a por com suas respectivas definições:
Weber:
■ Ascetismo intramundano : trabalho em
O contraste entre ascetismo e misticismo um a vocação.
também é reduzido se o místico' contem­ ■ Ascetismo extramundano\ o crente deve
plativo não chega à conclusão de que deve lim itar a com bater no mal que está den­
fugir do mundo, mas, como ascético vol­ tro de si mesmo, por isso ele evita qual­
tado para o mundo, permanece nas ordens quer ação no m undo.
do m undo (misticismo voltado para o ■ Misticismo extramundano: possessão con­
mundo) (Idem, ibidem). templativa do sagrado.
■ Misticismo intramundano-, o místico con­
Finalm ente, W eber apresenta ainda uma tem plativo não foge do m u n d o , mas
outra hipótese, qual seja, a de que os con­ como ascético voltado para o m undo,
trastes não só se relativizam, mas tam bém se permanece nas ordens do m undo.

Quadro 1
Max Weber: Ascetismo e Misticismo

A SC ETISM O M IS T IC IS M O

Tipo puro Ascetismo do m undo Fuga contem plativa do m undo


Tipo combinado Fuga ascética do m undo Misticismo orientado para o m undo

D o ponto.de vista empírico, nota-se que estética, erótica e intelectual. Em suas pala­
W eber sempre ressaltou a tensão existente vras:
entre a mística e o m undo m oderno. O autor
contrasta o misticismo (e tam bém o asce­ [...] a unidade da imagem primitiva do
tismo) com as esferas econômica, política, mundo, em que tudo era mágica concreta,

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cendeu a dividir-se em conhecimento ra­ cas, o dogm a e a moral) e filosóficas (a teodi-
cional e domínio da natureza, de um lado, céia mística, as técnicas místicas e a concep­
e experiências “místicas” do outro. O con­ ção da semente divina), passando ainda por
teúdo inexprimível dessas experiências' uma revisão histórica da mística protestan­
continua sendo o único “além” possível, te. Do ponto de vista sociológico, a religião
acrescido ao mecanismo de um mundo sem espiritual traduz-se na idéia de um a “igreja
deuses (Idem, p. 325). invisível”, definida por Troeltsch da seguin­
te maneira: “com unidade puram ente espi­
O utro autor fundam ental para a discus­ ritual, conhecida apenas por Deus, sobre a
são sociológica sobre a mística é o teólogo qual o hom em não precisa se preocupar, mas
protestante Ernst Troeltsch. Em sua princi­ que, invisível, governa todos os seguidores,
pal obra, Die Soziallehren der Christlichen und sem sinais externos ou outros instrum entos
Kirchen Gruppen (A doutrina social das .igre­ hum anos” {Idem, p. 745). Portanto, trata-se
jas e dos grupos cristãos), de 1912, Troeltsch, da concepção de um a com unidade puram en­
além de realizar um a das mais primorosas te espiritual, unificada apenas pelo poder
análises da evolução histórico-social do cris­ do espírito e na qual o indivíduo é liberado,
tianismo, oferece um conceito de mística bas­ conseqüentem ente, de toda a obrigação de
tante original e rico em virtualidades teóri­ evangelizar e de organizar in stitu c io n al-
cas. Sua análise sobré as diversas etapas his- mente (como seita ou igreja) a religiosidade.
tórico-sociais do cristianism o m ostra as três Graças à idéia da semente divina, Cristo está
formas de esta religião se inserir na esfera presente em toda parte, entre todos os cren­
secular: trata-se dos tipos institucionais de tes e, inclusive, entre os não-cristãos. Por isso,
“igreja”, “seita” e “mística”. De acordo com o cristão deve ser tolerante e deve exercitar a
sua definição, o misticismo é essencialmente vida cristã na prática, independentem ente
um a experiência religiosa direta que surge de das instituições, ou organizações. De qual­
um a reação contra a excessiva objetivação da quer forma, a igreja invisível não significa
vida religiosa em práticas institucionalizadas. necessariamente a ausência de qualquer laço
Nas palavras do autor: social entre os indivíduos. O místico tam bém
é hum ano e sente a necessidade de contato
No sentido amplo da palavra, misticismo com outras pessoas. Por esta razão, explica o
é simplesmente a insistência em uma ex­ autor:
periência religiosa direta, interior e presen­
te. Não valoriza as formas objetivas da vida Entretanto, onde os místicos formam gru­
religiosa na adoração, no ritual, no mito e pos, eles não têm a intenção de tomar o
no dogma, pois é uma reação contra estas lugar da grande “igreja invisível” (como
práticas objetivas, aos quais ele tenta dar uma seita tenderia a fazer), ou de interferir
vida nova, ou ainda, é o suplemento para no trabalho de Deus de difundir a influen­
formas tradicionais de adoração mediante cia do espírito; o objetivo desses grupos e
o estímulo pessoal e vivencial (1931, p. puramente pessoal, são círculos íntimos
730). para a edificação (Idem, p. 746).

A reflexão que Troeltsch desenvolve so­ O u tra preocupação de Troeltsch é m os­


bre o tem a é bastante assistemática. Ele abor­ trar os impactos sociais da mística, ou seja,
da desde questões teológicas (as raízes bíbli­ seus efeitos sociológicos. Assim, ele mostra

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que o misticismo é o tipo de religião que mais reforçam o desejo de um a união direta, inte­
convém às necessidades religiosas das classes rior e presente, ou seja, a tendência mística.
letradas. Em bora algumas camadas sociais Retom ando a perspectiva de Troeltsch, Ar­
prefiram as seitas, em virtude do sentim ento naldo Nesti (2002) destaca tam bém que a
de segurança organizacional, e outras, as igre­ religiosidade mística é a que m elhor se adap­
jas, uma vez que estas podem ser usadas como ta ao caráter pluralista das opções religiosas
um instrum ento de controle das massas, é contem porâneas, abertas às escolhas indivi­
ju stam ente pelo fato de o individualism o duais. Para Collin Campbell (1978), enquan­
m ístico estar co ad u n ad o ao in d iv id u alis­ to as igrejas e as seitas estão em declínio, é a
mo da sociedade m oderna que as camadas religiosidade individual e subjetiva que se
mais cultas tendem a adotar esta forma de encontra em ascensão. Campbell (1997) ain­
religiosidade/ da dem onstra que a absorção de um a teodi-
céià oriental, mais voltada para a mística, é
possível tendo em vista sua com patibilidade
Sociologia Contemporânea com a corrente mística já presente no pró­
prio cristianismo.
Em bora não tenhamos a pretensão de ser Todavia, para além das semelhanças nes­
exaustivos, podem os dividir a literatura con­ sa estratégia de resgate conceituai dos clássi­
tem porânea que trata dos fenômenos místi­ cos, existe um a sensível diferença na maneira
cos em dois blocos: a literatura de língua in­ com o cada um a das visões apresentadas se
glesa e a de língua francesa. apropria dos conceitos tradicionais em sua ta­
N a primeira,, o que predom ina é a tenta­ refa teórica. Com o vimos, W eber e Troeltsch
tiva de retom ar os conceitos clássicos de We- tinham posições diferentes sobre a relação en­
ber e Troeltsch. Do lado weberiano, Roland tre a mística e a m odernidade. Se para Weber
Robertson (1975), por exemplo, defende a havia um a tensão, em Troeltsch, a mística
tese de que a tendência intram undana se in­ estaria adaptada às condições do individua­
clina para o ascetismo, enquanto a extramun-- lismo contem porâneo. Curiosam ente, os es­
dana aproxima-se do misticismo. Mas, vale tudiosos desses autores acabaram tom ando
dizer, ambas podem ser mitigadas, pelo mis­ direções diferentes de seus mestres. E nquan­
ticismo, no caso da primeira, e pelo ascetis­ to a literatura "neo-weberiana” busca eviden­
mo, no caso da segunda. Assim, o atual mis­ ciar que o misticismo intram undano é uma
ticismo intram undano seria um a forma de forma de adaptação ao m undo secularizado,
adaptação dos indivíduos no interior da so­ a corrente “neo-troeltschiana" aposta na idéia
ciedade burocratizada e diferenciada da m o­ de crise da secularização. O u seja, a litera­
dernidade. Tese similar é a de D onald Stone tura w eberiana destaca a com patibilidade
(1978), para quem o misticismo também é entre misticismo (em sua versão in tram u n ­
com patível com a vida burocrática m oder­ dana) e m undo m oderno secularizado, e a
na, tendo em vista a centralidade que esta con­ troeltschiana aponta para a incom patibili­
fere ao indivíduo. Já para W illiam Swatos dade, na m edida em que o misticismo seria
(1981), é preciso revisar os conceitos tradicio­ a forma de religiosidade da sociedade pós-
nais na literatura, apontando para uma nova moderna.
tipologia, a saber, os cultos e as seitas. Estas N a perspectiva sociológica francesa, al- *
tendem, a estimular a vida ascética, aqueles guns autores, para entender a mística, con-

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tem porânea, preferem um tratam ento mais A Sociologia da Mística no Brasil
sócio-histórico, outros buscam inovações con­
ceituais. O prim eiro grupo concentra-se na N a sociologia brasileira, o tem a da mís­
análise de tendências místicas da história fran­ tica recebeu um tratam ento essencialmente
cesa, para encontrar ali algumas variantes empírico. Os trabalhos podem ser divididos
sociológicas que expliquem - em um a pers­ em dois grupos. N o prim eiro destacam-se
pectiva que poderíam os cham ar de nom oló- pesquisas que buscam explicar os traços ou
gica —o fenôm eno místico.9 O segundo de­ os aspectos místicos de um a determ inada re­
tém-se na religiosidade contem porânea, no ligião no Brasil. Assim, as mais im portantes
sentido de verificar em que m edida a vida tradições religiosas brasileiras são apontadas
religiosa atual possui traços místicos. Neste e analisadas: protestantism o, religiões afro-
g ru p o , d estaca-se a socióloga F rançoise brasileiras, catolicismo e tam bém os novos
C ham pion, que criou o conceito de “nebu­ movim entos religiosos No segundo, os estu­
losa místico-esotérica”: dos são mais abrangentes, isto é, procuram
utilizar-se do conceito de mística para en ten­
Ela é composta de grupos e redes diversos,
der aspectos do cam po religioso brasileiro
podendo vincular-se às grandes religiões
como um todo.
orientais, corresponder a sincretismos eso­
Sobre o pentecostalismo, o trabalho pio­
téricos mais ou menos antigos ou a novos
neiro é de Rubem Alves que já em 1984 re- ,
sincretismos psico-religiosos, ou, ainda,
feria-se ao “misticismo como emigração dos
reagrupar pessoas em torno de diferentes
sem p o d e r'. O autor sustenta que a realida­
práticas adivinhatórias (1990,. p. 17).
de m oderna vive a contradição entre possuir
aspirações e, ao mesmo tem po, ter consciên­
C h am p io n (1991, 1993) investiga as
cia de não poder realizá-las. É neste sentido
relações dos grupos místico-esotéricos com o
que o misticismo pode ser interpretado como
pensam ento holista e a visão que estes gru­
“emigração dos sem poder”. N esta mesma li­
pos possuem do conhecim ento científico
(1991). Assim, no contexto de um a recom­ nha de raciocínio, Prócoro Velasques Filho
posição do fenôm eno religioso, a “nebulosa (1988) entende que o misticismo vem sendo
místico-esotérica” parece situar-se no ponto recuperado pelas “religiões do espírito” (ou
de intersecção de três tendências da m oder­ seja, as igrejas pentecostais), que estariam
nidade. D e um lado, a transform ação da ocupando o lugar do protestantism o e do ca­
m entalidade, que implica na valorização ex­ tolicismo, um a vez que estes não mais satis­
trem a do indivíduo, isto é, de sua autentici­ fazem as necessidades religiosas dos fiéis.
dade, vontade e independência. De outro, o Tam bém para A ntonio G ouvêa M endonça
pirotesto social que acom panha o próprio (1988) o misticismo é essencialmente um a
desenvolvimento da m odernidade e que se reação antiintelectualista no âm bito da reli­
insurge contra o materialismo e o racionalis- gião. Partindo de Roger Bastide, o autor en­
mo típicos de nossa era. Por fim, em se tra­ tende o misticismo como um a reação aos pro­
tando de sensibilidade religiosa, o.s grupos cessos de institucionalização e elaboração
místico esotéricos parecem revelar um a for­ discursiva ocorridos ao longo da evolução
ma de otim ism o religioso (a noção é inspira­ religiosa. Em suma, trata-se sempre de um
da em W illiam James), ou seja, um a religião retorno ao “sagrado selvagem”, fonte de toda
do coração, mística e otimista. vida religiosa.

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N o cam po de estudo das religiões afro- movim entos religiosos” ou a cham ada “nova
brasileiras, o pioneiro na identificação dos era”. A semelhança entre o caráter subjetivo
traços místicos desse segm ento religioso é desses modos de religiosidade e a religiosida­
Roger Bastide. N o texto “Castelo interior do de mística vem sendo fortem ente enfatizada
hom em negro”, ele analisa as semelhanças pelos pesquisadores. Leila Amaral, por exem­
entre o “transe místico” e o “êxtase místico”, plo, na tentativa de entender “os errantes da
isto é, entre o misticismo na sua versão cristã Nova Era”, afirma:
e o misticismo na sua versão afro-brasileira:
[...] interessa-me particularmente compre­
Que ninguém se espante com as compara­ ender o fenômeno do “nomadismo espiri­
ções que por vezes nós tentaremos fazer tual” como constituinte de novas versões
entre o misticismo cristão e o misticismo místicas no mundo contemporâneo, num
politeísta. Não se trata, evidentemente, de
movimento em que se entrecruzam as mais
identificar duas formas de misticismo opos­
diferentes tradições religiosas e não reli­
tas - ascensão da alma até Deus e descida
giosas com suas combinações excêntricas
dos desuses sobre os “cabelos” —, mas so­
(1993, p. 19).
mente de ajudar o leitor a melhor sentir a
riqueza do transe místico africano, me­
José Guilherm e M agnani, em texto in ­
diante certos sistemas de semelhanças
trodutório e didático, no qual descreve “o
(Bastide, 1972, p. 59).
Brasil da nova era”, indica sua preferência pelo
conceito de neo-esoterismo para explicar esta
O s autores que buscam apontar os ele­
tendência religiosa, mas, segundo o autor, “há
m entos místicos do m undo religioso afro-
quem prefira complexo alternativo, oü novo
brasileiro seguem, basicamente, o caminho
traçado por Bastide. Para N eusa Costa, por misticismo, holismo [...]” (2000, p. 2 6 ).10
exemplo, o conceito central do misticismo O utro exemplo nesse campo de pesquisa é o
afro-brasileiro é a noção de transe místico: projeto “Práticas místicas e esotéricas do D is­
“durante o transe místico não há, pois, a in ­ trito Federal”, realizado na Universidade de
corporação de um a entidade estranha àquele Brasília entre 1994 e 2001. Ademais, a pu­
ser material que é o do filho de santo, o íyàwo, blicação de trabalhos sob a coordenação de
mas a transm utação do íyàwo na sua dim en­ Siqueira e Lima (2003) revela que a catego­
são divina ou, melhor dizendo, na sua por­ ria mais explorada nesta área foi a já citada
ção divina” (Costa, 1984, p. 96). José Jorge noção de “nebulosa místico-esotérica”. N o
Carvalho (1997) tam bém segue a via analí­ entanto, nesses estudos o espaço para um a
tica de Bastide. M ostra como os poemas dos discussão teórica deste conceito ou mesmo
cultos afro-brasileiros são textos literários que de outros conceitos sociológicos sobre a mís­
podem ser equiparados à grande tradição mís­ tica é bastante restrito. Apenas A driana Val-
tica ocidental. N um a análise comparada, o au­ le-H õllinger (2003, pp. 235-266) recorre ex­
tor identifica as semelhanças existentes entre plicitamente a autores como Weber e Troeitsch
os cantos aparentem ente simples da jurem a, para discutir a influência de tendências mís­
da m acum ba e da pajelança e as concepções ticas em escolas de Brasília. H ig u et apare­
de outras tradições místicas, form ulando, as­ ce tam bém com um im portante texto que
sim, um quadro de referência mais amplo. identifica um a “nova consciência religiosa”,
O conceito de mística tam bém começa na qual o misticismo ecológico é um traço
a ser explorado em análises sobre os “novos fundam ental:

116
Troeltsch. N a m inha tese de doutorado (Sell,
[...] está nascendo um “misticismo ecoló­ 2004)detive-m e tam bém sobre esse tem a,
gico” dotado de uma cosmologia alter­ mostrando que o discurso místico da teolo­
nativa, visão do m undo - amplamente gia da libertação representa um a recom posi­
compartilhada - em que se destacam os ção deste segmento do catolicismo tanto no
cuidados com a “espiritualidade”, com a campo religioso como no social.
“natureza”, a “harmonia” entre os homens A inda sobre o catolicismo, existem tra­
e a recuperação de um equilíbrio corpó­ balhos que buscam investigar a questão da
reo, psíquico e cósmico perdido” (Higuet, mística no interior do m ovim ento carismá­
2001 p 139). tico. Carlos Alberto Steil (2003), por exem­
plo, partindo da análise em pírica de grupos
E ntre os m ovim entos analisados por carismáticos na cidade de Porto Alegre/RS,
H iguet estão o Santo D aim e e a União do mostra com o esses grupos constituem formas
V egetal;'1 o autor discute ainda os trabalhos pelas quais penetram no catolicismo elem en­
de Leonardo Boff e Ivone Gebara no campo tos de compreensão e de com portam ento re­
da teologia da libertação. ligioso aparentem ente estranhos ao m undo
Sobre o catolicismo, podem os identifi­ católico tradicional.
car pesquisas que apontam elementos m ísti­ N o segundo conjunto de estudos de que
cos em cada um a das principais tendências falamos algumas pesquisas têm avançado no
internas dessa religião no Brasil. Um dos tra­ sentido de buscar um a avaliação global do
balhos mais abrangentes nesse sentido é o fenômeno do misticismo e seus impactos no
texto de Etienne H iguet (1984). De acordo campo religioso brasileiro com o um todo.
com este autor, a mística estaria presente, em José Jorge de Carvalho, por exemplo,
primeiro lugar, no “catolicismo popular”, pois procura alinhavar um a teoria a respeito dos
o povo possui um a mística da natureza, na estilos de espiritualidade, já que os conceitos
qual o cosmos é visto com o manifestação da tradicionais de m ística, a seu ver, seriam
presença do sagrado. A relação entre catoli­ m uito restritivos e intelectualistas no sentido
cismo popular e misticismo tam bém é apro­ de fechar o cam inho para o reconhecim ento
fundada por Eduardo H oornaert (1998) em da experiência mística em outras tradições
seu estudo sobre o movim ento de Canudos. religiosas:
N esta obra, adotando com o referência a teo­
ria de Ernst Troeltsch, o autor busca caracte­ [...] estou consciente de que uma resposta
rizar a religiosidade popular a partir da cate­ afirmativa para esta questão causaria uma
goria de “catolicismo devocional, místico ou verdadeira revolução nos estudos da mís­
beato”. tica tal como têm sido realizados até o mo­
Q uanto à teologia da libertação, M arce­ mento, pois os estudiosos teriam que acei­
lo Ayres Cam urça (2000) discute o que cha­ tar, pela primeira vez, a possibilidade de
ma de influência “new age” na Igreja C ató­ experiências espirituais qualitativamente
lica, analisando o “holism o” das idéias de ricas com expressões lingüísticas simples ou
Leonardo Boff e Frei Betto. Im portantes con­ pobres” (1994, p. 86).
tribuições nesse sentido tam bém são forne­
cidas por Carlos A lberto Steil (1999), que vê Carvalho propõe, então, quatro grupos
na teologia da libertação um a aproximação que encerram diferentes estilos de espiritua­
com a mística, apresentada na obra de Ernst lidade: 1) a grande mística letrada; 2) a espi­

117
ritualidade da possessão ritualizada; 3) o es­ Franz Josef Brüseke (2005) analisa o
piritism o; e 4) o meditativo oriental. tem a em pauta a partir de um conceito cons­
O ensaio de Cardoso (1999) tom a por truído por ele, denom inado m odernidade
base a teoria weberiana (ascetis;mo e m isti­ técnica.13 Em bora Brüseke não investigue o
cismo) para entender o que denom ina "mis­ tem a em piricam ente nas religiões do Brasil,
ticismo contem porâneo”. Para esta categoria, sua obra se destaca pelo tratam ento teórico
ele busca estabelecer um novo conceito que, amplo e sistemático conferido ao conceito de
de um lado, abarque experiências não estri­ mística, de um lado, e, de outro, por sua preo­
tam ente religiosas e, de outro, apreenda vi­ cupação de relacionar o tem a à questão da
vências outras, que não as grandes experiên­ m odernidade. Do p onto de vista teórico,
cias místicas, mas suas formas mitigadas. Brüseke ressalta um a diferença fundam ental
Em am bos os autores podem os perceber entre a experiência mística e o pensam ento
um esforço no sentido de ampliar*a discus­ místico. A primeira, segundo o autor, seria
são sobre a questão da mística para um u ni­ com posta por seis elementos - unidade, pre­
verso que não se restrinja a um a religião em sença, felicidade, m orte, am or e tem po - ; o
particular. Carvalho busca incluir entre as segundo buscaria um a aproximação do tema
expressões da mística suas versões menos le­ pela via da razão, daquele ‘algo” situado para
tradas e Cardoso deseja dar conta de todo o além de qualquer definição. Ademais, Brü­
cam po religioso. C ontudo, apesar dos indí­ seke propõe um a relação do misticismo com
cios, não há em seus estudos um a discussão o tem a da moral. Se à prim eira vista a m ísti­
sistemática, crítica e abrangente sobre a mís­ ca poderia representar um perigo para a m o­
tica como conceito teórico. Até mesmo o tra­ ral social, o autor lembra que não há oposi­
balho de Cardoso, diríamos, faz apenas uma ção entre a mística e a sociedade e que não se
adaptação dos conceitos de Weber para fins de deve reduzir a ética a um a moral social. N as­
pesquisa empírica, aliás bastante discutível. ce daí o que ele cham ou de “mística da resis­
Vale a pena destacar ainda alguns traba­ tência”, m uito mais am pla do que se entende
lhos que, em bora não sejam estritam ente “so­ Dor '“ética da resistência”.
ciológicos” do po n to de vista disciplinar,
m ostram a preocupação de pesquisadores
brasileiros em relação ao tema da mística. A Considerações Finais
revista Rever do curso de pós-graduação em
ciências da religião da Pontifícia Universida­ N a primeira vertente teórica que abor­
de Católica de São Paulo traz bons exemplos. damos, constatamos que o tem a da mística
N o campo da análise com parada, podemos não é tratado de forma explícita. N o marxis­
citar os trabalhados de Crom berg (2003) e mo, não existe propriam ente um a teoria so­
Teixeira (2003) sobre a mística islâmica. Os ciológica da mística. O conceito aparece de
artigos de Leone (2003), Shoji (2003) e Pon- m odo difuso e sempre cunhando de forma
dé (2003),12 por sua vez, discutem a experiên­ negativa, como ocultação dos fundam entos
cia mística propriam ente dita. Mas pouca reais da sociedade. Assim, nesse paradigm a a
atenção é dada ao estudo do misticismo nas m ística reduz-se à mistificação. C o n tu d o ,
religiões brasileiras; apenas Shoji se pergunta constatam os que, de form a im plícita, há
textualm ente ‘se não existe um a mística bra­ um a presença recorrente do tem a nas idéias
sileira que não seja contem plada nos m ode­ de pensadores com o H orkheim er, Bloch,
los internacionais mais gerais (2003, p. 72). Lukács, Benjamim e até mesmo do próprio

118
Marx, o que deixa evidenre que o racionalis- que diz respeito ao protestantism o. D o p o n ­
mo marxista acaba se .defrontando com os to de vista metodológico, o enfoque de W e­
aspectos “irracionais’ (místicos), ocultos em ber, como não poderia deixar de ser, centra-
seus fundam entos, por interm édio de pensa­ se sobre ação social. Ascetismo e misticismo
dores que buscaram justam ente acentuar tal representam condutas religiosas diversas que
aspecto em Marx. Embora isso corrobore para implicam em diferentes formas de inserção
a im portância das questões levantadas pela no m undo. O enfoque de Troeltsch, por seu
experiência e pelo discurso místicos, com efei­ turno, é. mais institucional. Igreja, seita e
to a teoria marxista não nos oferece um a con­ mística constituem não só diferentes m anei­
tribuição relevante para pensar - de forma ras de organização coletiva, fruto de visões
sociológica - a realidade do misticismo. diversas da religião cristã, mas tam bém , e
N a corrente francesa, esse fenôm eno foi principalm ente, três formas de vínculo com
analisado, a partir da categoria do sagrado, o m undo social (aceitação, negação e indife­
no âm bito da sociologia da religião. Segun­ rença). Interessante tam bém é perceber como
do D urkheim , a mística pode ser entendida cada um desses autores analisa a mística no
com o todas as formas de com portam ento re­ âm bito da m odernidade. O nde W eber enxer­
ligioso pelas quais o hom em abandona suas ga tensão, todo o esforço de Troeltsch quer
ligações com o m undo profano e dedica-se m ostrar a religião espiritual como o tipo de
exclusivamente ao m undo sagrado. Mas a tra­ espiritualidade que mais se adapta ao indi­
dição “im anentista” de D urkheim , que ex­ vidualismo e ao subjetivismo das condições
plica o social pelo social, e a religião como contem porâneas. Assim, se para W eber. a
expressão da superioridade do social sobre o m ística é apenas um a força de resistência
individual, sempre relegou o tema da mística m inoritária num m undo desencantado, para
a um segundo plano. Isso nos leva a concluir Troeltsch o m isticism o significa um a das
que, se no marxismo o tem a da mística está possibilidades de sobrevivência da religião no
praticam ente ausente (a não ser sob um a for­ contexto da modernidade.
ma negativa ou implícita), na vertente fran­ A sociologia contem porânea avançou no
cesa da sociologia do sagrado, a reflexão so­ sentido de acom panhar e descrever as muta-r
bre a m ística não teve continuid ade. N a ções e a diluição do misticismo nas formas
realidade, a sociologia racionalista e laicizan- de com portam ento do indivíduo contem po­
te de D urkheim e de seus herdeiros da socio­ râneo. Avançou, portanto, em termos de acui­
logia do sagrado não estava aparelhada para dade pára detectar as transformações na esfera
pensar o lado irracional do misticismo. do com portam ento religioso, mas tal ganho
D e fato, é no âm bito da sociologia ale­ fez-se às custas da perda da capacidade da
mã que o tem a da mística receberá um desen­ própria sociologia de pensar, a partir da mís­
volvim ento teórico mais consistente. C om ­ tica, os fundam entos da m odernidade. Em
parando às teorias de Weber e de Troeltsch outras palavras: na sociologia clássica, a mís­
sobre o tema, pudem os perceber alguns con­ tica ainda era um tem apelo qual alguns pen­
trastes interessantes tanto da perspectiva de sadores (particularm ente.W eber e Troeltsch)
investigação como da m etodologia.14 Weber podiam discutir os aspectos “racionais” e “se­
busca entender a mística em fontes não oci­ culares” da sociedade m oderna; na sociolo­
dentais, especialmente nas religiões da C hi­ gia contem porânea, a discussão está restrita
na e da índia; Troeltsch, ao contrário, mer­ a seus efeitos no próprio campo religioso. O u
gulha nas raízes do O cidente, sobretudo no seja, o debate ganhou em term os de especia­

119
lização temática, acom panhando, portanto, A reflexão sobre a “magia” nas religiões
a própria evolução da sociologia da religião brasileiras proporcionou, sem dúvida, exce­
com o campo específico da sociologia, con­ lentes resultados teóricos, mas pouca aten­
tudo tal especialização abafou a dimensão ção foi dada até o m om ento a um elemento
“crítica” do tem a da mística como um locus central da religiosidade contem porânea, qual
privilegiado para pensar a “condição” e as seja, a mística. O s pesquisadores têm se lim i­
“contradições” da m odernidade racionali­ tado apenas a constatar a presença de elemen­
zada dos tem pos atuais. tos místicos em um a determ inada esfera da
H á m uito que se fala da “magia” (Pie- vida religiosa no Brasil. Q uando observamos
rucci, 2001) no campo religioso brasileiro. a reflexão sobre a mística no âm bito da lite­
O s milagres no pentecostalismo, as curas no ratura internacional, percebemos o quanto
catolicismo carismático, os favores concedi­ este conceito perm ite aos teóricos ingleses e
dos pelos orixás nas religiões afro-brasileiras; franceses pensar, de forma global, as trans­
tudo isso indica que a magia, com o forma de formações que afetam a dinâm ica da vida
com portam ento religioso, está em toda a par­ religiosa contem porânea. C ertam ente traba­
te. Em bora haja consenso sobre esse fato en­ lhar com este conceito nos auxiliaria a pen­
tre os estudiosos, as interpretações são diver­ sar o campo religioso com a mesma profun­
sas. M esmo dentro da linha weberiana, que didade que o conceito de magia - em chave
tem no recuo da magia o elem ento central weberiana —nos perm itiu analisar nossa rea­
para entender o desencantam ento do m undo lidade religiosa. U m a razão a mais para vol­
(Pierucci, 2003), para alguns autores, a for­ tarmos a visitar e a desenvolver nossa refle­
ça da magia representa a “volta do sagrado” xão sobre o fenômeno místico, retom ando
(Alves, 1984); para outros, não há contradi­ suas formulações clássicas e reform ulando-as
ção entre esta reaparição da magia e a efetiva para pensar a religião na realidade brasileira
“secularização” da sociedade brasileira (Pie­ e, inclusive, a própria m odernidade, como,
rucci e Prandi, 1996; Pierucci, 1997, 1998). aliás, já faziam os clássicos da sociologia.

Notas

Todavia, como fenômeno religioso, o misticismo está presente em praticam ente todas as
grandes religiões universais. Para um a visão histórica, ver G raef (1972), Bernard (1994),
Albert (1996), Keller (1996), Borchert (1997), Sõlle (1999) e M aisonneuve (2000). Ver
tam bém o clássico de Gershom Scholem sobre a “mística judaica” (1972).
H á um a vasta literatura, tanto no campo da psicologia como no da “mística com parada”,
que trata dos elementos que com põem a experiência religiosa mística. N a psicolpgia, ver
especialmente James (1991); na “mística com parada”, ver Underhill (1952) e Zaehner
(1973).
3. Para analisar as conexões entre o tem a da mística e o pensam ento filosófico, ver Brüseke
(2004).
4. As poucas menções desses autores sobre o tem a aparecem na coletânea que Karaky elabo­
rou sobre os “Textes” de D urkheim (1975, pp. 137-141) e nas “Oeuvres” de Mauss (1968).
Todavia, essa questão permanece ainda pouco explorada pelos estudiosos de Weber. Entre

120
os textos que discutem o assunto, ver sobretudo os trabalhos de A dair-Totteff (2002),
N elson (1975) e Eister (1975).
6. N o original alemão o texto chama-se “Z w ischenbetrachtung” (Consideração interm ediá­
ria).
7. Tirando-se o uso da famosa dicotom ia “igreja e seita”, o conjunto da obra de Troeltsch
ainda é pouco estudado no Brasil. Para um a visão global do pensam ento do autor, ver
Séguy (1980), D rehsen (1987), Vermeil (1990), Disselkamp (1991), Gisel (1995) e Froi-
devaux (1999). Sobre o tem a da mística em particular, ver Steeman (1975), G arret (1975),
Gustafson (1975) e D aiber (2002).
8. O utro autor alemão que percebe o vínculo entre mística e classes letradas é G eorg Simmel.
Apesar de não nos apresentar um estudo am plo e sistemático sobre a mística, no texto
intitulado “O conflito da cultura m oderna”, este pensador insere sua reflexão sobre a mís­
tica no quadro de sua sociologia das formas. De acordo com o argum ento de Simmel, a
mística preserva o conteúdo da religiosidade, mas rom pe com suas formas sociais. Para
maiores detalhes sobre a questão, ver W attier (1996, pp. 23-50). •
9. D ada a brevidade deste texto, não podem os aprofundar o assunto. Mas, o leitor deverá
consultar principalm ente C ertau (1982), Poulat (1992) e Vidal (1998, 2001).
10. A respeito do neo-esoterismo, pode-se consultar ainda Amaral et al. (1994), D ’A ndrea
(1998) e M agnani (1999).
11. Sobre o Santo Daim e, conferir o trabalho de Soares (1990). Este autor tam bém discute a
relação entre novos movim entos religiosos e misticismo ecológico (Soares, 1989).
12. O tem a da experiência mística tam bém é analisado por L uduena (2003, pp. 34-56) na
revista Númen.
1 3 . 0 conceito de m odernidade técnica é construído por Brüseke incorporando a reflexão de
Heidegger sobre a “a questão da técnica”. Para maiores detalhes sobre este conceito, ver
Brüseke (1999, 2001, 2002a, 2002b e 2003).
14. Para um a análise comparativa, ver Seguy (1991, 1992) e M erz-Benz (2004).

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Resumo

Sociologia da mística: uma revisão da literatura

O objetivo deste artigo é examinar a trajetória da reflexão sobre o tem a da mística no pensa­
m ento sociológico. A prim eira parte analisa as concepções das sociologias marxista, francesa e
compreensiva sobre o tema. A segunda parte analisa essa discussão no âm bito da literatura de

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língua inglesa e francesa. N a terceira, são examinadas as produções no Brasil, particularm ente
as que tratam dos elementos místicos presentes nas religiões do país. Ao final, apontam -se para
algumas possibilidades que o tem a da mística levanta para pensar aspectos do campo religioso
brasileiro, bem como da própria modernidade.

Palavras-chave: Sociologia; Mística; Misticismo; Cam po religioso brasileiro; M odernidade.

Abstract

Sociology o f Mystic: a literature review

T he article aims to examine the trajectory o f the reflection about mysticism w ithin the socio­
logical thought. T h e first part analyses the conceptions presented by the M arxist Sociology, the
French Sociology, and the Comprehensive Sociology about the theme. T he second part exami­
nes the discussion w ithin the scope o f the literature in English and French. In the third part,
the production on the them e in Brazil is examined, especially those that deal w ith mystical
elements found in Brazilian religions. Finally, some possibilities raised by the discussion on
mysticism are pointed as a way o f thinking aspects o f the Brazilian religious field, as well as
m odernity itself.

Keywords: Sociology; Mysticism; Brazilian religious field; M odernity.

Résumé

Sociologie de la mystique: une révision de la littérature

L’objectif de cet article est d ’examiner la trajectoire de la réflexion sur le thèm e de la mystique
dans la pensée sociologique. La première partie analyse les concepts de la sociologie marxiste,
de la sociologie française et de la sociologie compréhensive liés à ce sujet. La seconde partie
aborde cette discussion dans le cadre de la littérature de langue anglaise et française. D ans la
troisième partie, sont examinées les productions existantes au Brésil, particulièrem ent celles
dont le traitement s’applique aux éléments mystiques présents dans les religions du pays. En conclu­
sion, sont indiquées quelques possibilités apportées par le thèm e de la mystique pour repenser
certains aspects du dom aine religieux brésilien, et de la propre m odernité en tan t que telle.

M ots-clés: Sociologie; Mystique; Mysticisme; D om aine religieux brésilien; M odernité.

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