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VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7

CC 04

A Arte Analítica de François Viète

Bruna Moustapha Corrêa


PPGEM/UFRJ; SEEDUC/RJ
bruna_moustaph@yahoo.com

RESUMO

François Viète (1540-1603) um francês que ocupou cargos políticos importantes na corte francesa do final do século XVI,
estudava matemática como forma de lazer. Os trabalhos realizados em seu tempo livre lhe renderam um título entre os
historiadores da matemática: o pai da álgebra moderna. Este título está associado ao desenvolvimento de uma invenção genial que
marcou o início da ciência moderna. Na tentativa de atender aos padrões de exatidão vigentes no final do século XVI, Viète, em
uma de suas obras mais conhecida, Introdução a Arte Analítica (1591), propôs o uso de procedimentos algébricos aliado ao
método analítico para resolver qualquer tipo de problema. Neste trabalho, apresentaremos uma breve contextualização da obra de
Viète, mostrando como A Introdução a Arte Analítica permitia resolver com elegância problemas aritméticos e também
problemas geométricos. Para tanto, destacaremos o fato de Viète ter apresentado o método analítico aliado a procedimentos
algébricos como um novo postulado, ou seja, na forma axiomática dedutiva. Este fato foi decisivo para a aceitação do seu trabalho
no meio matemático. Em seguida, apresentaremos a diferença entre o método sintético e o método analítico. O entendimento
desta diferença é essencial para a compreensão da relevância do trabalho de Viète, visto que até este momento a utilização da
síntese era hegemônica entre os trabalhos matemáticos. Na seqüência, teceremos observações sobre a Introdução a Arte Analítica,
como, por exemplo, a divisão do método analítico em três partes (zetética, porística e exegética); a apresentação de
procedimentos de cálculo simbólico; bem como, o uso de letras para representar tanto quantidades conhecidas como quantidades
desconhecidas. Por fim, apresentaremos um problema estudado por Viète, enfatizando o uso do método analítico na sua solução e
comprovando como a sua proposta evidentemente resolve problemas de maneira elegante. Pretendemos, portanto, dar uma
pequena noção da grande inovação proposta por Viète, que anos mais tarde deu origem à Análise Matemática.

Palavras chave: Viète, história da análise, história da álgebra.

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VIII SEMINÁRIO NACIONAL DE
HISTÓRIA DA MATEMÁTICA
05 a 08 de abril de 2009
Belém – Pará – Brasil
ISBN – 978-85-7691-081-7

A Arte Analítica de François Viète

Bruna Moustapha Corrêa


Pós graduação em Ensino de Matemática – UFRJ;
Professora docente 1 – SEEDUC/RJ;
tutora a distância – Fundação Cecierj
bruna_moustaph@yahoo.com

1. Introdução

François Viète (1540 - 1603) é freqüentemente considerado pelos historiadores da matemática como
o fundador da Álgebra moderna. No entanto, foi na tentativa de resolver problemas geométricos que ele foi
levado a propor uma nova maneira de se fazer matemática. Em sua In Artem analyticem Isagoge
(Introdução à Arte Analítica), obra publicada em 1591, Viète expôs o método que se tornaria fundamental
para o pensamento matemático. O texto de Viète é árduo, pois ele constrói uma teoria realmente nova. Na
Isagoge, ele inventa novos termos e utiliza o vocabulário já existente com um sentido diferente; é preciso,
portanto, saber interpretar o que está escrito. Pretendemos mostrar, neste trabalho, o que Viète propôs de
original.
Podemos destacar, em primeiro lugar, a introdução do uso de letras para representar os parâmetros
de uma equação. Viète usa letras para representar tanto grandezas geométricas, quanto quantidades
aritméticas; tanto quantidades conhecidas, quanto quantidades desconhecidas. Este fato é estreitamente
relacionado ao surgimento da álgebra. Mas a essência de seu trabalho está na proposta de utilização do
método analítico para se fazer matemática.

2. O contexto histórico e a exatidão matemática

Matemáticos e historiadores da Matemática vêm questionando o significado da “exatidão


matemática”. Entretanto, sabemos que a noção de “exatidão” em vigor em determinada época está
relacionada à produção matemática realizada neste momento. Por exemplo, quando a matemática era
essencialmente geométrica, havia uma concepção sobre o que significava um objeto matemático ser
“conhecido”, ou “dado”; sobre o que poderia ser considerado um problema “resolvido” e quando sua

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solução era “encontrada”. Neste contexto, uma solução era considerada “exata” quando poderia ser
construída por régua e compasso, os instrumentos euclidianos.
No século XVI, a álgebra já tinha sido introduzida na Matemática e foi muito desenvolvida pelo
trabalho dos árabes. Neste século, a resolução de equações por métodos algébricos era um dos desafios mais
importantes da matemática e, com a nova publicação da Coleção de Pappus em 1588, assim como a
reedição dos trabalhos de Diofanto, a matemática geométrica grega voltou à tona. Logo, os critérios de
exatidão neste momento eram ainda relacionados à construção geométrica.
Os árabes tinham desenvolvido uma matemática que já podemos chamar de “algébrica”. Mas a
geometria nunca deixou de ser soberana. A álgebra era utilizada apenas como ferramenta para a solução de
problemas concretos, ou de problemas geométricos.
Fica claro, portanto, que as ferramentas algébricas não estavam dentro dos padrões gregos de
exatidão e as soluções obtidas por esta via não podiam ser consideradas “exatas”, já que não eram
construídas. Entretanto, não se podia mais ignorar a sua importância. Dessa forma, a álgebra tornar-se-á
cada vez mais uma ferramenta poderosa, que pode ajudar na solução de problemas cada vez mais
numerosos, além de propor novas questões.
Por esta razão, foi preciso rever os padrões de exatidão da matemática. O novo padrão de exatidão
deveria estabelecer quais seriam os procedimentos aceitáveis dentro da prática de resolução de problemas
geométricos. É importante observar que os problemas para os quais os novos procedimentos iriam servir
ainda eram geométricos. Dessa forma, fica evidente que o método analítico e os procedimentos algébricos
propostos por Viète foram fundados para servir à geometria.
Para torná-los legítimos, era essencial a apresentação de uma boa justificativa, pois, caso contrário, o
procedimento poderia ser ignorado. É justamente neste ponto que se introduz a grande inovação de Viète. A
maneira que ele encontrou para legitimar seus procedimentos foi aceitar o critério de exatidão como estando
ainda associado à construção. A diferença estava no fato de considerar o seu método como um postulado,
propondo com isso novas ferramentas de construção. Uma vez que estes novos postulados levavam-no a
resolver mais problemas geométricos, eles deveriam ser admitidos como princípios da Matemática.
Como já dissemos, ficou claro mais tarde que a importância de seu trabalho não estava relacionada
ao mérito deste postulado, mas sim ao interesse e à produtividade das ferramentas resultantes. Queremos
dizer, para resumir, que Viète fundou um novo ramo da Matemática, a Análise, na busca de novos
procedimentos para servir à Geometria, que até este momento era predominantemente sintética.

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Para entender a relevância das propostas de Viète, é preciso entender a diferença entre análise e
síntese. É o que faremos na seção seguinte.

3. Análise X Síntese

Na primeira página de sua Introdução à Arte Analítica, Viète afirma:


Encontra-se na Matemática uma certa maneira de procurar a verdade, que diz-se ter sido
primeiramente inventada por Platão, que Theon chamou ‘Análise’ e que, para ele, define a
suposição daquilo que procuramos com se estivesse concedido para chegar a uma verdade
procurada, por meio de conseqüências; ao contrário, a ‘Síntese’ é a suposição de uma
coisa concedida para chegar ao conhecimento daquilo que procuramos pelo meio de
conseqüências. (VIÈTE, 1630, tradução nossa)

Sendo assim, podemos considerar a análise como um raciocínio ao inverso, uma decomposição da
verdade que procuramos em termos mais simples; e a síntese, como um raciocínio direto, a recomposição de
termos simples para se chegar à verdade. Um bom exemplo de raciocínio sintético é o da Geometria
Euclidiana, na qual construímos uma solução. Já o raciocínio analítico é o que está presente na Álgebra, que
parte das soluções consideradas conhecidas (incógnitas) e opera com elas como se fossem conhecidas até
chegar a um resultado que determina a solução.

Ponto de partida Ponto final

Suposição de algo que não é dado como Confirmação de uma afirmação


Análise
verdadeiro. sabidamente verdadeira.

Suposição de uma afirmação Confirmação de algo que não era


Síntese
sabidamente verdadeira. verdadeiro.

4. A Arte Analítica

É claro que alguns matemáticos contemporâneos de Viète já utilizavam a álgebra para resolver
problemas geométricos, Viète, entretanto, preocupou-se em utilizá-la como uma ferramenta analítica na

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resolução de qualquer tipo de problema, geométrico ou numérico. Viète fecha o seu texto pragmático
afirmando “Nullum nom problema solvere”. É clara a sua intenção: resolver qualquer tipo de problema.
A análise de Viète era, portanto, um método universal para resolver qualquer tipo de problema. Para
isto, ele dividiu o seu processo analítico em três partes: zetética, porística e exegética. A zetética pode ser
considerada como a arte de traduzir o problema, transformando-o em uma ou mais equações; nesta tradução
o problema era suposto resolvido e uma propriedade característica dele era encontrada (tal propriedade era
chamada de porisma). A porística era a transformação da equação e o estudo da legitimidade da síntese
como procedimento inverso da análise; e isto é muito importante, pois Viète se preocupava em adequar-se
ao padrão grego. Já a exegética era a arte de reconhecer soluções aritméticas ou geométricas das equações
fornecidas pela zetética e transformadas pela porística.
Para entender como Viète traduzia o problema em equações, precisamos falar de sua logística
speciosa. Esta era a ferramenta privilegiada da zetética e, portanto, da tradução do problema em termos de
equações. Na verdade, a logística speciosa foi a maneira axiomática que Viète encontrou para utilizar a
álgebra como ferramenta analítica. Viète apresentou procedimentos de cálculo simbólico, utilizando letras
para representar tanto grandezas geométricas quanto quantidades aritméticas, tanto quantidades conhecidas
quanto quantidades desconhecidas. Isto não é ingênuo, pois na sua nova álgebra, Viète considerava
números, segmentos de reta, figuras; quantidades conhecidas, desconhecidas ou indeterminadas
independentemente da sua natureza. Isso levantou a questão do status e da natureza das grandezas, bem
como das operações realizadas com elas. Na logística speciosa Viète trabalhava com grandezas abstratas
representadas simbolicamente por letras.
Considerando grandezas abstratas, Viète deveria se preocupar em como uma operação era
simbolicamente representada. Contudo, para atender às grandezas abstratas, Viète acabou se inspirando nas
operações geométricas e, por esta razão, ele considerou o aspecto dimensional da multiplicação, por
exemplo, o que evidencia a sua preocupação com o padrão clássico grego. Entretanto, ele considerou
grandezas de dimensão superior a três, o que, de certa forma, o liberta da geometria.
Na sua representação, qualquer grandeza deveria ser acompanhada por uma escala: ao invés de
escrever A³, Viète escrevia “A cubo”, da mesma forma, “A quadrado cubo” indica A5 e assim
sucessivamente. Além dessa denominação, Viète se preocupou em operar apenas com grandezas
homogêneas e esta sua preocupação ficou evidente com o que ele chamou de “lei dos homogêneos” (os
Homogêneos se comparam aos Homogêneos).

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O novo domínio da logística speciosa pode, de fato, ser considerado como a primeira ocorrência na
matemática de um sistema formal abstrato completo com alguma complexidade. A abordagem axiomática
fica evidente no segundo capítulo da sua Isagoge, quando Viète aceita como demonstrados dezesseis
axiomas ou propriedades de igualdade e proporção encontradas nos Elementos de Euclides. Já o quarto
capítulo é dedicado aos preceitos da logística speciosa, ou seja, às regras que governam as quatro operações
elementares.
No quinto capítulo, que Viète denominou Das regras da Zetética, ele introduziu o novo vocabulário
e também as regras de manipulação das equações. Viète apresentou um conjunto de 14 regras, que podem
ser entendidas como os passos que deveriam ser seguidos para a resolução de um problema. Na quinta regra,
ele chamou a atenção para o uso de vogais para grandezas procuradas e consoantes para as grandezas
conhecidas. Este, portanto, deveria ser um padrão em todas as resoluções de problemas.
Observamos que o uso de letras para representar tanto grandezas conhecidas como desconhecidas
propicia uma generalidade que não se conhecia até então e esta é a maior importância do trabalho de Viète.
A partir do momento em que ele representa grandezas conhecidas por letras ele está, na verdade,
representado os coeficientes da equação e isto é uma maneira de enunciar o problema de uma forma geral,
possibilitando que ele seja resolvido também por um método geral. Esta é a grande diferença com relação
aos árabes, pois o procedimento usado na resolução não depende mais da natureza dos dados do problema e,
portanto, pode ser usado para qualquer problema. O fato de Viète usar letras para representar os dados é o
que permite esta generalização. Não importa mais a especificidade do problema e os seus problemas não são
particularizados, mas gerais. Isto permite também uma transformação do enunciado, em que se pode dizer,
por exemplo, como faz Viète, “conhecendo dois lados, então...”, e não “sendo um lado igual a 30 e outro
igual a 70, então...”.
Apesar das grandezas serem simplesmente representadas por letras e as operações realizadas de
maneira abstrata, vale destacar que as equações de Viète eram bem próximas de sentenças. Ou seja, apesar
de ter introduzido uma certa maneira de representar as operações (usando os símbolos +, – e o traço de
fração para indicar a divisão) Viète não representou simbolicamente a equação toda. Na verdade, em toda a
sua Isagoge, Viète explica com palavras, o que hoje explicamos com símbolos. E, como já dissemos, isso
torna a leitura de seus textos bastante árdua.
Um fato interessante de se observar é que Viète utiliza exemplos específicos para justificar uma
afirmação geral. Por exemplo, no quarto capítulo, Das regras e preceitos da Logística Speciosa, para
justificar a propriedade distributiva na segunda regra (Subtrair uma grandeza de uma grandeza) Viète
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afirma que: “Se D está perto de B e se é preciso subtrair B menos D de A o resto será A menos B mais D
subtraindo a grandeza B subtrai-se mais do que era preciso, portanto, é preciso recompensar pela adição
daquela grandeza.” (VIÈTE, 1630, tradução nossa)
Ainda utilizando esta regra, gostaríamos de atentar para uma outra preocupação de Viète: o uso de
apenas grandezas positivas. Isso ficou evidente quando ele observou que “É preciso subtrair a menor da
maior” no início desta regra. Além disso, nessa mesma regra Viète introduziu a utilização do símbolo “==”
para representar o módulo da diferença, mostrando, mais uma vez esta sua preocupação.
Neste mesmo capítulo, mas na regra Multiplicar uma grandeza por uma grandeza, Viète também
chama a atenção para a regra dos sinais e, assim como fez para a propriedade distributiva, ele usa um
exemplo particular para explicar que: “[...] é preciso que o produto pela multiplicação mútua dos nomes
afetados de negação seja positivo.” (VIÈTE, 1630. tradução nossa)
Podemos perceber, neste capítulo, que, com as quatro operações, Viète mostrou a sua preocupação,
por um lado, com o efeito destas operações sobre a dimensão das letras utilizadas, por outro lado, com as
notações e, por último, com as regras de manipulação (como a comutatividade da multiplicação, a
distributividade da multiplicação em relação à soma) e com as regras de manipulação das frações – somar,
subtrair, multiplicar ou dividir aplicações.

5. Os problemas de Viète: as zetéticas

Depois de apresentar de maneira axiomática a sua logística speciosa, Viète apresenta uma seqüência
de problemas que ele chamou de zetéticas, em analogia à primeira fase do seu método analítico. No
Primeiro Livro Das Zetéticas, Viète organizou a resolução dos problemas da seguinte maneira.
Primeiramente ele enunciava a zetética. A primeira frase da resolução, em geral, é a repetição do enunciado
da zetética identificando as grandezas dadas com consoantes. Em seguida ele supõe conhecido o que ele
quer determinar ou uma grandeza desconhecida denotando-o por uma vogal. Enuncia, então, uma relação
que determina a grandeza desconhecida, em geral, ele exibe uma proporção cuja quarta proporcional é a
grandeza desconhecida e todas as outras são conhecidas. Feito isso, ele justifica a veracidade da solução
apresentada utilizando palavras e por fim, ele apresenta um exemplo numérico que satisfaz as condições do
problema e da solução.

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Nas zetéticas do Primeiro Livros das Zetéticas percebemos que Viète não introduz o uso simultâneo
de duas grandezas desconhecidas. Observemos, portanto de que maneira propõe um problema e como ele o
resolve:
ZETÉTICA PRIMEIRA
Dados a diferença entre dois lados e o agregado dos lados, encontrar os lados.

A diferença dada de dois lados sendo B, e o agregado dos lados sendo D, encontrar
os lados.
O menor lado sendo A, portanto, o grande será A+B, e o agregado dos lados 2A+B,
como o agregado é dado, a saber D; é porque 2A+B sendo igual a D; e pela antítese 2A
será igual a D–B. E todas as quantidades se reduzem à metade, A será igual à metade de D
menos a metade de B.
Ou seja, o lado maior sendo E, o menor será E–B, e o agregado dos lados 2E–B,
como o agregado é dado, a saber D; é porque 2E–B sendo igual a D. E pela antítese 2E
sendo igual à D+B, e todas as quantidades estando reduzidas à metade, E será igual à
metade de D [mais] a metade de B.
Portanto, dados a diferença entre dois lados e o agregado dos lados, encontra-se os
lados. Pois
Se nós subtrairmos a metade da diferença da metade do agregado dos lados, o que
resta é igual ao menor lado; E se nós adicionarmos o total, é igual ao maior lado.
E é isso mesmo que a Zetese nos sinaliza.
B sendo 40 D 100 A faz 30 E 70.
(VIÈTE, 1630, tradução nossa)

Nesta zetética, Viète quer determinar dois lados conhecendo a diferença e a soma deles (a soma de
dois lados é chamada por Viète de agregado dos lados). Para tanto, ele primeiro trabalha com o que ele
chamou de menor lado e encontra uma relação que o determina. Em seguida, ele supõe conhecido o outro
lado e determina, então, uma outra relação, independente da primeira. Observe que os valores citados no
final de fato satisfazem a solução apresentada, entretanto a solução apresentada é independente dos valores
da soma e da diferença dos lados, ou seja, esta solução pode ser usada para qualquer valor de soma e
diferença desejado.
Repare ainda que o fato de Viète supor conhecido o menor lado no início da solução evidencia que a
solução proposta se enquadra no método de análise. E aqui está a grande inovação de Viète: resolver
problemas através do método analítico.
Ao resolver a zetética VII (“ZETÉTICA VII: Dado um lado, dividi-lo em duas partes tais que certas
partes e porções limitadas de uma das partes estando somadas a certas partes e porções da outra, sendo iguais à
soma dada.” (VIÈTE, 1630, tradução nossa)), Viète não explicita no fim as partes que ele deseja dividir o lado;
entretanto, ele observa que o que ele encontrou era suficiente para a determinação das partes. Neste sentido,

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poderíamos dizer que Viète esquece a natureza do problema, pois não se preocupou em voltar e determinar
as partes nas quais o lado fora dividido.

6. Conclusões

Pretendemos mostrar aqui como Viète se afastou da visão prática da álgebra centrando sua atenção
na maneira de encontrar uma solução geral para problemas geométricos. Como já dissemos, para encontrar
tal solução, Viète fez uso da arte analítica, cujo objetivo era resolver qualquer problema através da análise
que, por sua vez, tinha a álgebra como ferramenta fundamental. Vale lembrar que Viète não via a álgebra
como uma técnica envolvendo números, mas sim como um método de cálculo simbólico envolvendo
grandezas abstratas.
Sendo assim, a logística speciosa era uma entidade matemática independente, cujos axiomas
reproduziam o comportamento tanto das grandezas geométricas, quanto das grandezas numéricas. A
abordagem de Viète era, portanto, independente da aritmética e da geometria. Mesmo rejeitando o uso de
símbolos, a preocupação de Viète em criar leis gerais acabou dando origem à álgebra simbólica. Dessa
forma, a álgebra adquiriu um poder demonstrativo que nunca tivera antes, tornando-se uma ferramenta
nobre. A álgebra ganhava, assim, um novo estatuto matemático.

7. Referência:

1
Barbin, E. et al. Francois Viète: un mathématicien sous la Renaissance. Paris : Vuibert, 2005.
2
Bos, H. J. M. Redefining Geometrical Exacteness: Descartes’ Transformaion of the Early Modern
Concept of Construction. New York: Springer-Verlag, 2001.
3
Panza, M. What is new and what is old in Viète’s analysis restitute and algebra nova, and where do they
come from? Some reflections on the relations between algebra and analysis before Viète. Paris: 2007,
Disponível em <http://halshs.archives-ouvertes.fr/docs/00/14/64/15/PDF/RHMAlgebra(4).pdf>. Acesso
em 11 abril 2008.
4
Roque, T. A Matemática através da história. Notas de aula do curso de História da Matemática. UFRJ,
2006.
5
Viète, F. L'Algèbre nouvelle de Mr Viète. Tradução de A. Vasset, 1630. Disponível em
<http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k108864f>. Acesso em 28 maio 2007.

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6
______. In Artem Analyticem Isagoge: Seorism excussa ab Opere restitute Mathematica Analyseos, Seu
Algebrâ novâ. 1591. Diponível em <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k108865t/f1>. Acesso em 28
maio 2007.
7
______. The Analytic Art by François Viète. Tradução de T. Richard Witmer. Ohio: Kent State University
Press, 1983.
8
______. Introduction à l’Art Analytique. Traduction française de F. RITTER. Remarques et notes sur la
traduction de F. RITTER, par Anne BOYÉ. Texte latin original. Cahiers François Viète, nº7. Centre François
Viète, 2004.

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