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Cultura, Política e Identidade: Trajetória Política de uma liderança em

Custodópolis. Campos dos Goytacazes (RJ)1

Daniela Velásquez Peláez (PPGA/UFF)

Resumo:

A partir da segunda metade do século XX há uma mudança nas formas em que as


reivindicações são construídas. No Brasil, este processo é evidenciado através da
integração de dispositivos legais e jurídicos na Constituição de 1988. Tal mudança está
relacionada com um processo que coloco como a politização da cultura, caracterizado
pela integração da construção identitária dentro das reivindicações políticas. Desta
forma, através da trajetória política de uma liderança na periferia urbana da cidade de
Campos dos Goytacazes - no interior do estado de Rio de Janeiro - busco entender tal
processo focalizando no papel da construção da identidade como forma de justificação
ao longo dos diferentes movimentos que fazem parte da trajetória. Com isto, procuro
evidenciar o processo descrito num contexto específico que permite entender como a
integração da construção identitária dentro da esfera politica brasileira está pautada pela
multiplicidade e particularidade dos processos que a representam, além de ressaltar o
caráter contextual da identidade.
Palavras-Chave: Politização da Cultura; Identidade; Direitos Diferenciados.

Introdução: Perspectivas teóricas

O século XX trouxe consigo diversas mudanças, entre elas há uma repercussão


na forma em que as reivindicações políticas são colocadas. Esta mudança, da maneira a
ser tratada aqui, diz respeito à integração de uma política de reconhecimento pela
exigência feita em nome dos ditos grupos minoritários ou “subalternos”, a qual está
pautada pela relação entre reconhecimento e identidade (TAYLOR, 2000; LASKE,
2000). Sendo assim, a construção identitária toma um lugar central dentro da discussão
da política do reconhecimento, fazendo parte das reivindicações que visam a obtenção
de visibilidade e à sua vez, direitos diferenciados (MOTA, 2009).

1
Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de
agosto de 2014, Natal/RN
As mudanças, contudo, não se dão apenas pelo motivo da integração da
identidade na política, mas também estão fundamentadas numa transformação na
construção da identidade na modernidade, onde, aliada à noção de dignidade, torna-se
um processo individual, no qual, através da interação e a autorreflexão é possível
constituir uma identidade própria através de uma relação dialógica com um outro
generalizado, isto é, com o grupo ou a comunidade que proporcionam a individualidade
das pessoas (MEAD, 1999: p. 184; Grifo meu), que tem como resultado o
desenvolvimento de uma opinião e perspectiva próprias, sendo estes requisitos que
formulam a exigência de respeito, e, consequentemente, de reconhecimento (TAYLOR,
2000).
Este processo reflexivo da construção da identidade, ao estar intimamente ligado
à interação se mostra importante, pois a cultura esta inserida num contexto fluído e
transnacional, o qual é propiciado pela globalização, que instiga à criação de novas
culturas a partir da autorreflexão que, incentivada pelo caráter dialógico deste contexto,
tem como consequência a reinvenção da cultura (HANNERZ, 1997).
Esta é colocada por autores como Sahlins (1997), que trata deste processo
relacionando-o com a indigenização, que consiste na incorporação de valores modernos
dentro de logicas e práticas tradicionais, fazendo parte de uma objetivação da cultura,
ou seja, uma incorporação da própria cultura dada através da autoconsciência; e Bhabha
(1998), que chama a atenção para o processo de reinscrição da cultura, isto é, a
adaptação das tradições ao mundo moderno, onde é possível ratificar um
reconhecimento parcial com a tradição enquanto meio de identificação, mas ao mesmo
tempo é possível considerar as formas temporais que fazem parte da reinvenção da
tradição.
Partindo da análise deste processo, afirmo que a reinvenção da identidade é
firmada no mundo moderno como uma forma de posicionamento dos indivíduos, como
uma forma de aquisição de dignidade e visibilidade, por tal motivo, é possível alocar
este processo dentro das reivindicações políticas, já que é a partir da afirmação
identitária que são construídas as demandas por visibilidade no espaço público.
A importância de chamar a atenção a estes processos radica, em parte, da
necessidade de pensar nos agentes que fazem parte dos processos de construção
identitária como sujeitos que possuem uma capacidade reflexiva, que repercute na
forma de construir os seus envolvimentos e ações, possibilitando o uso da cultura como
um meio de justificação (BOLTANSKI; THEVENÓT, 2007).
É partindo desta construção da relevância da identidade e da cultura nas
reivindicações políticas modernas, que se constitui o processo de politização da cultura,
onde a justificação por meio desta possibilita o acionamento de diversos regimes de
envolvimento que denunciam a multiplicidade de pertencimentos dos agentes.
O foco deste trabalho é analisar a forma em que uma liderança política na
periferia urbana da cidade de Campos dos Goytacazes aciona tais pertencimentos nos
diversos movimentos que compõem a sua trajetória política. A necessidade de pensar
num caso tão particular quanto este é colocada já que, embora se trate de um fenômeno
de caráter internacional, está pautado por gramaticas e cosmologias locais (MOTA,
2009).

O estudo de caso

Custodópolis, o local onde foi desenvolvida a pesquisa, é um lugar localizado na


periferia da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), no sub- distrito de Guarus, ao norte
do rio Paraíba do sul, composto por diversos bairros delimitados pela divisão politico
administrativa da cidade.
Este lugar é construído a partir do mito da sua formação, cuja história relata que
era um ponto onde os trabalhadores se reuniam para dirigir-se ao trabalho do corte da
cana. Na época, as terras pertenciam ao Doutor Custodio Siqueira, quem as parcelou e
vendeu a preços acessíveis a estas pessoas, que foram se instalando construindo casas
feitas de palha, o que lhe rendeu o apelido de “Cidade de Palha”. Estas construções
foram mantidas até a década de 1970, momento aproximado da chegada da luz elétrica
no local.
As condições de vida atuais em Custodópolis são precárias, é um local
mistificado pela incidência do tráfico de drogas e pela concentração de pessoas de
classe media-baixa. Também possui problemáticas significativas relacionadas à
violência e ao fato de ter um alto índice de famílias chefiadas por mulheres, decorrente
do alto número de presidiários oriundos deste lugar.
No ano de 2008, alguns moradores, motivados pela vontade de melhorar as
condições de vida do local através da obtenção de visibilidade, engajaram-se na
titulação do território como comunidade Quilombola2. Uma das pessoas envolvidas
neste movimento foi a Dona Antônia, quem liderou o processo.
Motivada por entender a forma em que este processo tomou forma procurei
Dona Antônia no ano de 2010, pela sua ação como liderança do mesmo. Nesse então o
movimento tinha sofrido rupturas que causaram o seu adormecimento. O acordo que
conectava as pessoas envolvidas no processo tinha sido dissolvido, causando rivalidades
políticas, que refletiam desavenças da política municipal, que interromperam a
possibilidade de concluir a titulação. Tais conflitos, posteriormente, foram um
empecilho para o desenvolvimento da pesquisa sobre o assunto, por tal motivo, focalizei
na história de vida de Dona Antônia para compreender a forma na qual esta constituía
sua identidade. Tarefa que foi sendo encaminhada para acompanhar a sua trajetória
política, possibilitando o desenvolvimento do objeto da análise aqui proposta.
O primeiro movimento dentro da trajetória política de Dona Antônia no qual
detive a minha atenção foi no processo de reivindicação de Custodópolis como
comunidade Quilombola. Num segundo momento, tive a oportunidade de acompanhar a
sua candidatura política, quando, no ano de 2012, esta se lançou como candidata ao
cargo de vereadora da cidade. Dentro deste contexto, partindo da sua história de vida,
coletei dados relativos aos seus envolvimentos em diferentes movimentos políticos com
os quais procurava dar visibilidade a Custodópolis.
A partir destes dados colhidos no trabalho de campo, por meio da observação
participante e da elaboração de entrevistas semi- estruturadas, procurei analisar o papel
da identidade e da cultura dentro das reivindicações feitas. Desta forma, apresento aqui
a análise feita a partir do trabalho etnográfico.
A partir disto esclareço que graças ao fato de que envolvimentos e as relações
construídas por Dona Antônia não só na construção da identidade da qual esta lança
mão durante a reivindicação de Custodópolis como comunidade Quilombola; como
também em outras ocasiões da sua trajetória política, fazem parte de diferentes esferas,
as quais estão pautadas por diferentes tipos de relação com o mundo, desta maneira,
para melhor elucida-las lançarei mão do conceito de Mundos proposto por Boltanski e
Thevenót (2007).

2
Elucidarei esta questão de forma mais aprofundada mais adiante.
Processo de Reconhecimento Quilombola em Custodópolis
Os processos de reconhecimento de comunidades Quilombolas no Brasil foi
viabilizado a partir de lutas travadas pelos movimentos negros do país, sendo
concretizado na Constituição Brasileira de 1988, a partir da inserção do Artigo 68 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) (MOTA, 2009). Este
dispositivo jurídico tem como objetivo reconhecer a propriedade definitiva das terras
habitadas por comunidades Quilombolas.
A inserção deste gerou diversos debates em torno da ressignificação do termo
“Quilombola” já que se tratava de um conceito histórico que se referia a grupos
formados por escravos fugidios (ALMEIDA, 2002). Tal ressignificação diz respeito à
necessidade de definição das pessoas às quais está dirigido o Artigo 68, o qual, por estar
incluído na Constituição Brasileira tinha como objetivo abranger grupos encontrados
presente, que não estivessem necessariamente ligados a uma origem histórica associada
à definição do conceito, mas definidos por uma orientação pela memória do grupo, a ser
complementada pelas relações alocadas num mesmo universo social (O´DWYER, 2002:
p.14; grifo meu).
A ressignificação do conceito de Quilombo está associada assim à reinvenção da
identidade, já que se trata de grupos constituídos por pessoas que reinscrevem
(BHABHA, 1998) as suas tradições para lançar mão de uma identidade comum,
relacionada em parte, a uma mesma origem histórica que se desenvolveu de diferentes
maneiras ao longo do tempo, repercutindo nas particularidades encontradas em cada
caso de reivindicação de um local como comunidade Quilombola no Brasil.
O caso de Custodópolis faz parte desta multiplicidade. A demanda feita pelo
movimento de reivindicação no local não tinha a necessidade de uma demarcação ligada
à questão da propriedade da terra, tal e como é colocado pelo dispositivo jurídico
direcionado a estas comunidades, mas é uma tentativa de obtenção de reconhecimento
através da justificativa de uma necessidade de “resgate cultural” que consta da
reinvenção de algumas tradições que fazem parte das soluções propostas para
problemáticas sociais que requerem visibilidade do estado.
Tal conceito de “resgate cultural” é colocado por Dona Antônia para explicar de
uma melhor forma o seu envolvimento neste processo, além de permear os mecanismos
de afirmação identitária dos quais esta lança mão para justificar o seu envolvimento e
sua postura de liderança nesta demanda por reconhecimento. Estes mecanismos estão
ligados de forma intima à história de vida de Dona Antônia já que, pelas suas relações
familiares esta desenvolveu a sua relação com a tradição.
Os mecanismos de afirmação identitária encontrados na conformação da
identidade de Dona Antônia em relação ao movimento de reivindicação de Custodópolis
como comunidade quilombola, que podem também ser entendidos como sinais
diacríticos (BARTH, 2000), são colocados na análise a partir dos mundos aos quais
estes estão relacionados.
O Mundo da Espiritualidade
A partir da relação estreita com a sua mãe e sua avó, Dona Antônia constrói um
dos pilares que conformam a sua identidade, a sua espiritualidade. Por um lado, Dona
Antônia teve uma grande influência da sua avó materna, a partir da qual desenvolveu o
seu interesse por manter as tradições ligadas à religião Católica. Por outro lado, graças à
sua natureza curiosa e perspicaz, além da sua inata sensibilidade, esta desenvolveu uma
relação estreita com a religião de matriz afro-brasileira da Umbanda.
A importância destas ligações religiosas aparece no momento em que Dona
Antônia preocupa-se pela manutenção das tradições ligadas a estes pertencimentos
religiosos, já que o advento de religiões evangélicas no local está causando uma
desaparição dos costumes e práticas ligados a tanto ao Catolicismo quanto à Umbanda,
dado o fato de que as religiões evangélicas as condenam, fazendo com que as antigas
tradições que faziam parte da sociabilidade de Custodópolis fossem sendo apagadas
paulatinamente, não só pela morte dos detentores do saber tradicional, como também
pela negação dos seus descendentes a manter estas praticas.
A relação de Dona Antônia com a sua espiritualidade está conectada com a sua
visão a respeito da religião, onde esta é orientada pelas intenções pessoais, chegando a
afirmar que em qualquer religião é provável fazer tanto o bem quanto o mal. Desta
forma, ela firma a sua posição dentro da Umbanda e do Catolicismo.
Dentro do catolicismo, Dona Antônia defende a manutenção de práticas fora das
igrejas, tomo como exemplo aqui as ladainhas cantadas, que são uma atividade que
consta de uma peregrinação entre as casas dos fieis seguida de uma reunião na casa de
algum participante, na qual se reza o terço de maneira cantada, prosseguido de uma
celebração acompanhada de comidas. Para tal há uma pessoa que retém o conhecimento
do canto do terço, mas esta tradição foi sendo perdida graças aos motivos acima
mencionados.
A construção do pertencimento de Dona Antônia à Umbanda está fincada nas
suas atividades como Mãe de Santo desenvolvida, tais práticas estão relacionadas
principalmente em relação à realização de trabalhos3, capacidade desenvolvida a partir
dos ensinamentos da sua mãe, e através dos quais esta desenvolve a sua sensibilidade
ajudando a pessoas necessitadas. Outra prática relacionada por Dona Antônia à sua
espiritualidade dentro da Umbanda é o aprendizado do jongo4, o qual ela relata ter
apreendido da sua relação com entidades5 no terreiro da sua mãe.
A fixação de Dona Antônia com as tradições repercute na sua decisão de estar
desligada de qualquer terreiro de Umbanda na cidade, dado que esta critica não só as
energias pesadas que podem circular neles, mas também a violação de regras que
ditavam a prática religiosa como conhecida por ela.
A espiritualidade, para ela, permeia todas as esferas da vida, funcionando como
explicação de muitos fenômenos e integrando atividades que servem como afirmação
para o seu pertencimento à cultura negra. Dentro das práticas relacionadas ao
desenvolvimento espiritual e à cultura negra estão a capoeira6, maculelê7 e o jongo.
Nestas atividades, Dona Antônia afirma haver uma carga muito forte de energia
circulando entre os participantes, funcionando, em parte, como uma forma de
desenvolvimento e controle da mediunidade.
Outra atividade de grande relevância para a afirmação da sua cultura onde são
incorporados elementos das religiões de matriz afro-brasileira é o carnaval, onde, se não
se tiver o devido trato com os orixás (como pedir licença ou cultua-los em momentos
específicos) pode haver uma repercussão no andamento dos eventos.

3
Os Trabalhos são uma categoria da Umbanda, dentro da qual há controvérsias. Por tanto, é possível
afirmar que os trabalhos aos quais Dona Antônia se refere são relacionados à entrega, isto é, à oferenda
para os orixás em troca de algum beneficio para a pessoa a quem está dirigido o trabalho.
4
O Jongo, que é uma dança, conhecida por ter sido também outra modalidade de lazer nos quilombos e
senzalas, além de dizerem que é a precursora do samba. Esta dança também requer que os seus
participantes se disponham numa roda, cuja música tem bastante similaridade com alguns pontos
(musicas utilizadas os rituais das religiões de matriz afro-brasileira).
5
As Entidades são outra categoria da Umbanda que diz respeito a forças espirituais presentes nos rituais
que por vezes tomam a forma de personagens com características próprias, os quais estabelecem uma
relação com as pessoas presentes neles.
6
A Capoeira, que é um esporte, ora considerado uma dança, ora considerado uma luta, reconhecida como
uma das modalidades de lazer dentro da senzala. Na mesma os participantes se dispõem numa roda, no
meio da qual duas pessoas se colocam para levar a cabo uma luta, acompanhada de música, geralmente
com um berimbau, pandeiro e atabaque, cantando musicas características do esporte.
7
Maculelê é uma dança/luta que geralmente acompanha a Capoeira, onde são utilizados dois bastões, às
vezes, dependendo do grau de dificuldade, facões, que representam as armas das lutas que aconteciam nas
senzalas, está dança/luta é acompanhada de músicas que vão ditando o ritmo da mesma.
O mundo da espiritualidade é constituído por valores que orientam as ações
dentro dele, dentro das quais a tradição se apresenta como um fator essencial para a sua
composição. A problemática que torna o “resgate cultural”, acionado por Dona Antônia,
um meio de justificação diz respeito à invasão de preceitos morais de “bem” e “mal”,
trazidos pelas religiões evangélicas a Custodópolis, a um mundo da espiritualidade onde
os seus valores são afetados através da “demonização” das práticas tradicionais que
fazem parte dele. É desta forma que ele é incorporado às reivindicações feitas por Dona
Antônia, além de fazer parte dos pilares que constroem a sua identidade no momento de
reivindicação de Custodópolis como comunidade Quilombola.
O Mundo das Festas
As festas apresentam-se como parte essencial das reivindicações construídas por
Dona Antônia por incorporar práticas ligadas ao seu lazer na época da juventude. Estas
festas dizem respeito especificamente às atividades do carnaval na cidade de Campos
dos Goytacazes, tradições que vão se esvaecendo devido a relações e interesses da
esfera política municipal, assim como também, à demonização destas práticas pelo
advento das religiões evangélicas.
O carnaval da cidade de Campos esta dividido em três momentos essenciais, o
primeiro, que acontece durante a semana da quarta feira de cinzas, corresponde às
atividades de blocos e escolas de samba no distrito praiano de Farol de São Tomé. O
segundo momento que compõe o carnaval campista é o “Campos Folia”, que
corresponde ao desfile das escolas de samba na cidade e acontece fora de época, isto é,
entre os meses de abril e maio. A terceira parte componente do mundo das festas são as
atividades dos Bois Pintadinhos, as quais, a partir do ano de 2011, acontecem no mês de
agosto constituindo uma “semana do folclore”.
Os Bois Pintadinhos são uma tradição na cidade de Campos dos Goytacazes,
estes constam de um conjunto de alas compostas de uma bateria, que toca enredos
relacionados ao tema selecionado para a apresentação; um grupo de pessoas que dançam
uma coreografia, com uma fantasia padronizada; um boi que é uma estrutura feita de
ferro coberta com papel e cola feita à base de farinha de trigo e água coberta por um
padrão de tecidos, dentro do qual há uma pessoa que entra para fazer a estrutura dançar
durante a apresentação, que, através de danças conta uma história; pode ser composto
também por uma série de bois menores que dançam em conjunto (de 10 a 15 bois);
outro elemento fundamental nas apresentações dos Bois é um carro que carrega o
emblema característico de cada boi.
Quanto à apresentação, os Bois Pintadinhos acontecem de uma forma muito
similar às escolas de samba, com o diferencial de que esta apresentação gira em torno
do boi e a sua estória. Estes são divididos na apresentação da mesma forma que as
escolas de samba, tendo dois grupos: o grupo especial, que configura as pessoas com
maior poder aquisitivo, tendo assim capacidade de estruturar de forma mais composta a
sua apresentação; e o grupo especial, que consta de pessoas que contam com menos
recursos podendo assim construir uma estrutura mais simples.
Os Bois Pintadinhos configuram uma parte essencial dentro do estudo de caso,
pois Dona Antônia preside o seu boi, que faz parte do grupo de acesso: o Boi Dendê.
Esta tradição foi forjada pela sua história de envolvimento em diferentes bois, tendo
adquirido a experiência necessária para constituir o seu próprio.
As atividades do carnaval da cidade de Campos dos Goytacazes, assim como a
semana do folclore são financiadas inteiramente pela prefeitura da cidade através da
secretaria de cultura, onde são estipulados não só os valores a serem distribuídos como
também os regulamentos que compõem as apresentações, incluindo os elementos que
devem integrá-las, assim como um tema central. Desta maneira os diferentes
participantes recebem uma verba repassada pela prefeitura para integrar o evento, a qual
é distribuída de forma desigual entre o grupo especial e o grupo de acesso.
A criação da semana do folclore pode ser tomada como um momento crítico para
esta tradição. Antes do ano de 2011, as atividades dos Bois Pintadinhos eram
concomitantes ao carnaval fora de época da cidade, foi neste ano que, por decisão da
prefeitura, foi criada a Semana do Folclore, sendo deslocada a apresentação dos Bois
Pintadinhos para o mês de agosto, momento em que seria inaugurado o Centro de
Eventos Populares Osório Peixoto (CEPOP) o qual configura a estrutura de um
sambódromo. Entretanto, o CEPOP não esteve pronto no momento prometido, causando
o adiamento desta atividade, ameaçando a sua continuidade.
Por este motivo, os presidentes dos diferentes Bois fizeram um acordo e criaram
a Associação dos Bois Pintadinhos da cidade de Campos (ABOIPIC), através da qual
buscaram a distribuição dos recursos para o acontecimento do evento. Todavia, a
criação desta associação teve um empecilho, já que a prefeitura tinha decretado que
nenhuma associação com menos de cinco anos de criação poderia ter se beneficiar do
repasse de verba, atrasando a atividade, que acabou acontecendo no inicio de dezembro
de 2011.
Dentro do universo das reivindicações, este processo tem importância, já que ao
incorporar o mundo das festas ao mundo da política, por meio da ABOIPIC,
conseguiram firmar a visibilidade da atividade tradicional dos Bois Pintadinhos, que
hoje em dia faz parte do calendário de atividades da cidade.
O papel do mundo das festas dentro das reivindicações construídas por Dona
Antônia toma importância pela efervescência causada pela preparação do Boi Dendê no
local, deslocando pessoas de vários locais de Custodópolis que se reúnem para ajudar.
“Até crente, que não vai à avenida porque Jesus está vendo, vem ajudar”, afirma Dona
Antônia.
Mas, durante o acompanhamento desta preparação no ano de 2012, tive
oportunidade de acessar a diferentes críticas feitas por Dona Antônia em relação à
logica mercantil que toma conta deste universo, pois, só com os colaboradores que
auxiliam na preparação do Boi Dendê não é possível lhe dar a estrutura necessária para
a sua apresentação, desta forma, a preparação do Boi Dendê também tem de contar com
alguns colaboradores pagos, que dificultam a manutenção da tradição pela sua
participação visando interesses econômicos, vendo o boi como uma empresa.
Embora com estes empecilhos, Dona Antônia reconhece a atividade dos Bois
Pintadinhos como uma tradição essencial para o seu trabalho de manutenção da
tradição, objetivo que a mesma ressalta constantemente.
Projetos Sociais
Os projetos sociais desenvolvidos por Dona Antônia constam de atividades
culturais mediante as quais esta não só tem como objetivo manter as tradições, mas
também atuar como uma força, entre as crianças do bairro, para mantê-las longe do
tráfico de drogas e lhes proporcionar um ambiente de educação que muitas delas não
encontram dentro dos seus lares.
Os projetos sociais tiveram o seu auge entre os anos de 2003 até o ano de 2009,
onde, através da Associação de Moradores do Parque Nova Campos (AMOPANCA)
Dona Antônia realizava oficinas de Maculelê e Capoeira, além de manter um grupo de
Jongo. Além da recreação, Dona Antônia buscava proporcionar às crianças um lugar
seguro para passar o tempo, agindo, em parte, num papel de mãe. Este projeto encontrou
o seu fim no ano de 2009, quando o mestre de capoeira das crianças foi morto, não
podendo ser substituído pelo apreço que as crianças lhe tinham.
Dentro destes projetos, é vista uma forma de reivindicação, dado que os
mesmos, ademais de configurar um local de recreação, consistiam numa forma de apoio
à comunidade. Neste caso, Dona Antônia procura visibilidade no governo municipal,
para este financiar tais oficinas, criando um ciclo, a partir do qual, estas configuram não
só um fim como também um meio de reivindicação.
Dona Antônia no mundo da política8
Esta etapa começa no inicio de 2011, quando Dona Antônia decide filiar-se ao
partido humanista da solidariedade (PHS) com o intuito de mais tarde poder se
candidatar a vereadora. Neste estágio, as relações familiares de Dona Antônia, mais
uma vez, se apresentam de forma essencial, ao motivar o seu envolvimento na política.
Ao entrar em contato com políticos nas festas que sua mãe organizava para ajuda-los à
sua promoção, Dona Antônia sempre refletia, concluindo que este seria o meio para
“fazer alguma coisa” pela sua comunidade.
Este não foi o seu primeiro envolvimento em campanhas políticas, contudo, foi a
sua primeira candidatura. Previamente ela participara da promoção de políticos
indicados por amigos, sempre identificando o seu funcionamento a partir de troca de
favores, que por vezes, acabava por atrair pessoas inadequadas interessadas apenas em
receber favores, descumprindo com sua parte do acordo, o que muitas vezes causava
consequências negativas para quem as indicava para fazer parte das campanhas.
No ano de 2012, Dona Antônia lançou a sua candidatura como vereadora pela
coligação “Campos de Todos Nós”, que apoiava a reeleição da prefeita Rosinha
Garotinho. O fato de estar dentro de esta coligação dividia a suas atividades de
campanha em dois tipos: a campanha que correspondia às atividades da coligação e
aquelas que diziam respeito à sua própria promoção.
A primeira parte da sua campanha constava da participação de comícios9,
caminhadas10 e carreatas11. Nestas ocasiões concentravam-se candidatos dos partidos
da coligação num mesmo local para manifestar o seu apoio à prefeita. Isto era motivado
8
Faço referência aqui a um mundo da política não porque as outras atividades nas quais ela se envolva
não tenham este carácter, mas justifico esta delimitação pela efervescência que é encontrada durante os
momentos de participação política, neste caso, as eleições municipais.
9
Os comícios são atividades nas quais um grupo de votantes se concentra para expressar o seu apoio num
determinado local da cidade para escutar discursos e apresentações de diferentes candidatos. Esta
atividade, pelo fato de chamar a atenção, é também utilizada para divulgação dos candidatos presentes,
que ao mesmo tempo vão distribuindo suas propagandas políticas enquanto o evento acontece.
10
Nas caminhadas, faz se uma trajetória dentro de um bairro, para adquirir visibilidade nos diversos
colégios eleitorais. A forma em que esta se dá é com as lideranças na frente, marcando o caminho, e atrás
deles os seus apoiadores, principalmente os candidatos a vereador pela coligação, tendo uma configuração
na qual algumas pessoas mais próximas à candidata (neste caso a então prefeita), andavam mais perto
dela. Estes trajetos geralmente percorrem distâncias relativamente curtas e são feitos a pé.
11
As carreatas são outro método de campanha, bastante similar às passeatas, diferenciando-se apenas pelo
fato de percorrer longas distâncias e ser feito geralmente em carros (ou outros veículos motorizados como
caminhões e motos).
pela presença de “olheiros”, que eram pessoas encarregadas de registrar a presença dos
candidatos para garantir-lhes benefícios posteriores, quando (e se) a prefeita fosse
reeleita. A maior problemática que se encontrava nesse momento era esta concentração
dos candidatos, já que impossibilitava a autopromoção.
A segunda etapa da campanha, da autopromoção, constava de métodos simples,
limitados pelos baixos recursos com os quais Dona Antônia dispunha para tal, por este
motivo, ela mesma participava das abordagens feitas para atrair os eleitores. A
campanha foi constituída por métodos comuns, como a distribuição de santinhos12 em
locais visíveis, e, num momento mais próximo às eleições, um carro que rodava as
redondezas de Custodópolis entoando o seu jingle13, método que resultava dispendioso,
mas, ao mesmo tempo se apresentava como uma forma básica de campanha, causando
alguns transtornos no inicio da sua promoção, dado o fato de que Dona Antônia não
possuía os recursos necessários para tal. Além disto, ela também organizou reuniões14
em bairros, geralmente distantes de Custodópolis, com o objetivo de ampliar o seu
número de eleitores.
A análise realizada a partir desta forma de reivindicação esta baseada na forma
em que ela se apresentava perante os seus eleitores durante este período e nos distintos
cenários que constituíam o conjunto da sua campanha política (GOFFMAN, 1975).
A primeira atividade que pude acompanhar relacionada à candidatura, foi o
lançamento da coligação “Campos de todos nós” onde os vereadores da coligação
informavam seu nome, número e partido, além de expressar o seu apoio à prefeita e
então candidata Rosinha Garotinho.
O evento ocorreu no automóvel clube de Campos dos Goytacazes, um local
espaçoso organizado para o evento, constando de uma mesa onde os quadros partidários
mais importantes se localizavam e um pequeno palco do lado direito da mesa onde os
candidatos fariam a sua apresentação, frente a um conjunto de cadeiras que abrigariam o
público formado por apoiadores dos candidatos, as suas famílias, amigos e,
eventualmente, pessoas pagas para manifestar-se. Antes de contar com a presença da

12
A propaganda política na forma de pequenos papéis onde se encontra a foto do candidato, no caso dos
candidatos a vereador, geralmente acompanhado do candidato a prefeito da sua coligação, junto com seu
nome e número. Em alguns casos no verso deles há uma pequena biografia do candidato, onde está
incluída a sua proposta num pequeno resumo. Isto é conhecido como Santinho.
13
A palavra Jingle aparece aqui como uma categoria nativa por dizer respeito a um termo utilizado na
política para fazer referência às músicas produzidas pelos candidatos no intuito de promover as suas
candidaturas nas ruas da cidade.
14
As Reuniões são práticas onde o candidato é convidado à casa de uma pessoa para se promover entre os
amigos, vizinhos e conhecidos de esta para assim ampliar a sua rede de contato.
candidata a prefeita da coligação, cada um dos candidatos a vereador dos diversos
partidos foi se apresentando, falando seu nome, número e expressando apoio a Rosinha
Garotinho.
Neste dia, Dona Antônia foi motivo de destaque não só por ser a única mulher
negra do seu partido, como também pelas vestes que denunciavam o seu pertencimento
religioso, pois eram características de uma mãe de santo. A explicação oferecida por ela
para tal era de cunho espiritual, através destas vestes ela estaria protegida e,
simultaneamente, afirmaria a sua fé.
Este ponto é encontrado em outros momentos da sua campanha, como por
exemplo, no seu jingle:
31041, Dona Antônia é raça, é negra de fé, na luta pelo povo essa
força de mulher, junto com o trabalhador e das mães grande
apoiadora, é Dona Antônia, nossa vereadora. (Jingle de Dona Antônia,
escrito por um dos colaboradores da escola de samba União da
Esperança).
Além do momento no qual esta se dirigia para as urnas a efetuar o seu voto, tendo
escolhido estas para obter proteção e sorte. Porém a sua mobilidade dentro das
identidades das quais esta lançava mão durante a campanha é expressa também neste
dia, quando, logo após ter cumprido com o seu dever, esta voltou para a sua casa,
trocando as suas roupas, utilizando uma vestimenta simples, que denunciavam o seu
pertencimento enquanto mulher, negra e trabalhadora, identidades também acionadas no
seu jingle de campanha. Que também funcionava como uma forma de conexão com
seus eleitores, muitas vezes aproveitada para demonstrar a sua singularidade, para se
diferenciar de outros candidatos e para justificar a sua campanha de pequeno impacto e
poucos recursos.
Esta maleabilidade pode ser expressa em outras ocasiões, como numa reunião
num bairro distante de Custodópolis, quanto, ao começar a atividade, esta pede para
Claudia, a pessoa encarregada da sua condução, para realizar uma oração. Este pedido,
embora estranho, tinha uma composição lógica, pois Claudia era evangélica, uma
identidade com maior aceitação em comparação com o pertencimento religioso de Dona
Antônia, pelo estigma que acompanha as religiões de matriz afro-brasileira.
Este estigma também se fez evidente durante as reuniões de campanha do PHS,
dado o fato de que este é um partido cristão, onde Dona Antônia conseguiu estabelecer
desavenças pelo seu pertencimento religioso. Dentro dos casos onde isto é evidenciado
está uma história, relatada pela mesma, onde uma das candidatas do partido estava
alardeando ter recusado apoio de um macumbeiro15, momento no qual Dona Antônia
decidiu rebater, engajando-se num conflito. Contudo, através dos seus pertencimentos e
da sua visão espiritual, Dona Antônia também conseguiu contornar este estigma,
obtendo apoio de muitas pessoas, entre elas o presidente do partido e um pastor, que
alegou ter como “dever divino” encontra-la para abençoa-la no seu caminho.
A magnitude da campanha de Dona Antônia, ao ser pequena, contou também
com o apoio de alguns familiares e amigos, restringindo a sua divulgação a um círculo
de sociabilidade próximo a ela, mantendo as suas ações dentro de um regime de
envolvimento de afetividade. Porém, muitas vezes as relações eram permeadas pelo
entendimento da política como uma troca de favores, como no caso de uma das irmãs de
Dona Antônia, que oferecia seu apoio em troca de uma ajuda no trabalho quando fosse
necessário. Isto causou muitas desilusões em Dona Antônia, que relatava que estas
atitudes eram motivadas pelo ciúme, por Dona Antônia ser a “mais preta da família”
fazendo referência a sua posição de detentora de tradições familiares que se interessara
por aprender e manter.
O resultado das eleições, no final do processo foi um tanto desanimador, Dona
Antônia obteve apenas 64 votos. Todavia, foi tomado por ela como um resultado
notável dadas as suas condições de campanha. A candidatura rendeu-lhe um convite
para integrar a comissão de cultura negra do PHS, além de outras chamadas para
integrar outros movimentos.
Período após a candidatura
Após as eleições, retomei o trabalho de campo para explorar os envolvimentos
de Dona Antônia em outras instâncias da vida política, desta forma pude compreender e
expandir o meu objeto de análise para consolidar a trajetória política de Dona Antônia.
Neste estágio, Dona Antônia relatou os seus envolvimentos em órgãos da
prefeitura tais como o conselho municipal de saúde. Integrado por cidadãos que se
dispõem a aprovar projetos dentro desta área. Entretanto, a mesma decidiu não mais
participar ativamente deste já que nele, as questões colocadas não estavam relacionadas
aos assuntos que deveriam ser tratados ali, causando-lhe desconforto, até que num dado
momento a mesma abandonou o seu lugar.
Outro envolvimento essencial na trajetória política de Dona Antônia foi a sua
participação como coordenadora na Fundação Municipal Zumbi dos palmares em

15
Macumbeiro aqui é uma categoria pejorativa que faz referência a uma pessoa pertencente a uma
religião de matriz afro-brasileira, podendo ser tanto da Umbanda, quanto do Candomblé.
2007/2008, um período casualmente conturbado por ser o ano da “Operação Telhado de
Vidro”16, este caso de corrupção politica no município, acabou com a composição de
integrantes da fundação, repercutindo a saída de Dona Antônia do cargo. A mesma
conta que, na época, havia muitos esquemas de corrupção dentro da fundação e como
ela se recusara a se envolver, os demais integrantes tinham conseguido uma maneira de
contornar a sua função.
Este período foi essencial, por ter-lhe proporcionado a oportunidade de
participação em diferentes eventos ligados à Coordenação Nacional de Comunidades
Quilombolas (CONAQ), que incidiu diretamente na sua liderança do movimento de
reivindicação de Custodópolis, afetado pelas relações traçadas durante os eventos nos
quais se envolveu enquanto coordenadora da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares,
a partir de contatos com personalidades políticas que serviram de inspiração para o
movimento.
Outro envolvimento de Dona Antônia diz respeito a projetos culturais, como o
caso de uma proposta feita pela prefeitura de uma cidade vizinha, Cardoso Moreira, que
tinha como foco a cultura negra e o desenvolvimento de oficinas para incentivar a
criação de blocos e escolas de samba no carnaval. Contudo a integração neste foi
conturbada, pois posteriormente foi deixada de lado no projeto ao convidar um colega
para participar do mesmo.
Dentro das propostas similares ao projeto de Dona Antônia que fez parte da
reivindicação de Custodópolis como comunidade Quilombola, ela afirma ter tentado
firmar este projeto através de outras instituições, não tendo conseguido sucesso. Ao
mesmo tempo também teve que trabalhar em defesa da originalidade da sua criação,
pois afirma que órgãos da cidade tentaram plagiar o seu projeto, copiando-o sem lhe dar
o devido crédito.
Após a candidatura, Dona Antônia manteve principalmente as suas atividades
relacionadas ao carnaval. O processo da candidatura rendeu-lhe um grande desgaste já
que as promessas feitas pelo partido e por outras instituições que a procuraram não
foram cumpridas, causando-lhe desanimo de procurar se engajar em outras atividades
relacionadas à política.

16
Esta operação se deu a partir de uma investigação da polícia federal que diz a respeito à fraude de
licitações de contratação em obras públicas e eventos públicos, dentre os acusados estavam o ex-prefeito,
Alexandre Mocaiber, secretários municipais, empresários e o procurador geral do município, no total
foram presas 14 pessoas. A Fundação Zumbi dos Palmares esteve envolvida neste processo, sofrendo
grande impacto.
Conclusões
Através da apresentação da trajetória política de Dona Antônia, busco apresentar
os ajustamentos que se fazem necessários no envolvimento em reivindicações
relacionadas à visibilidade através da identidade. Tomo esta questão como um fato
contextual que constrói as reivindicações de forma relacional, isto é, dependente das
esferas nas quais as identidades estão sendo mobilizadas.
As questões aqui levantadas dizem respeito à multiplicidade de envolvimentos
encontrados nos âmbitos onde a reivindicação esta fincada na construção identitária,
chamando mais uma vez a atenção ao fato destas estarem sendo construídas de forma
constante através da interação. Sendo estes fatores que corroboram à particularidade que
permeia as demandas por direitos diferenciados.

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