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Reflexões sobre os Direitos Humanos

Por Oswaldo de Oliveira Santos Junior

Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis interdependentes e


inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos
humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a
mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devam ser
levadas em consideração, assim como diversos contextos históricos, culturais e
religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os direitos humanos
e liberdades fundamentais, sejam quais forme seus sistemas políticos,
econômicos e culturais.
(Declaração e Programa de Ação II Conferência Mundial de Direitos Humanos, Viena, 1993).

Objetivos

Oferecer uma visão preliminar da temática dos Direitos Humanos, bem como do
debate atual em andamento no Brasil, de forma interdisciplinar, para que o/a
estudante possa familiarizar-se com aspectos básicos da área e compreender o que é,
especificamente Direitos Humanos.

A reflexão sobre os direitos humanos é cheia de questões polêmicas e complexas, à


primeira vista não deveria ser assim, afinal estamos tratando dos direitos de todas as pessoas,
direitos fundamentais que regulam a vida em sociedade e possibilitam o desenvolvimento da
comunidade humana e a defesa do maior valor humano, que é a vida.

Contudo, quando observamos a questão mais de perto vemos que este é um tema que
está longe de ser um consenso entre os seres humanos, e que a ideia de direitos que sejam
universais, ou seja, comuns a toda a humanidade não é compartilhada por todos, mais distante
ainda está uma prática política geradora de igualdade real entre os seres humanos, a maior
prova disso é que testemunhamos violações de direitos e a injustiça sendo praticada
cotidianamente, muitas vezes em nome de interesses econômicos e da manutenção do poder.

Outro aspecto que chama a atenção sobre os direitos humanos é o fato de haver um
enorme desconhecimento sobre suas implicações e seus objetivos na vida prática das pessoas,
tanto é assim que muitas pessoas, aproximadamente 39,5%, associam as ações em defesa dos
direitos humanos como representação dos “direitos de bandidos”, e ainda que para 37,7%
como “Direitos que impedem ou prejudicam o trabalho da polícia”, isto segundo dados de
estudos realizados pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo em seu
5º Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil (CARDIA, 2010, p. 47).

O “Disque 100 1”, número de telefone que acolhe denúncias sobre violações de direitos
humanos no Brasil, acumulou entre 2011 a 2012 exatamente 111.837 denúncias de violações
de direitos humanos, destas denúncias 2:

• 84,4% envolviam crianças e adolescentes,


• 8,9% envolviam idosos,
• 3,4% envolviam pessoas com deficiência,
• 1,3% envolviam a população LGBT
• 0,4% envolviam a população em situação de rua e
• 1,6% estavam relacionadas a outros Grupos Sociais Vulneráveis.

Os dados destas pesquisas apontam para um grau elevado de desconhecimento sobre


o tema e a dimensão de sua gravidade, visto que a luta em defesa dos direitos humanos está
diretamente associada à defesa da vida humana, e implica em direitos fundamentais tais como
o direito à saúde, trabalho, moradia, educação e segurança para todas as pessoas. Ao
tratarmos dos direitos humanos, portanto, tratamos de um tema que diz respeito a totalidade
dos seres humanos e suas atividades cotidianas e as condições de manutenção da vida com
qualidade.

O 5º Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil, revela um dado


alarmante sobre a percepção dos direitos humanos, e em especial sobre a aceitação da prática
da tortura. Nesta pesquisa, as pessoas são questionadas sobre se “Os tribunais podem aceitar
provas obtidas através de tortura”, para 47,5% dos pesquisados a resposta foi positiva, que
sim, a prática é aceitável, o dado torna-se ainda mais preocupante quando comparado com os
resultados da mesma pesquisa realizada em 1999, quando o número dos que aceitavam a
tortura como método era de muito menor, o que indica um aumento de brasileiros favoráveis
à prática da tortura (CARDIA, 2010, p. 47).

1
“O Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos tem a competência de receber,
examinar e encaminhar denúncias e reclamações, atuar na resolução de tensões e conflitos sociais que
envolvam violações de direitos humanos”. (SDH)
2
Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República. (SDH).
http://www.sdh.gov.br/assuntos/combates-as-violacoes/dados-estatisticos/violencia-sexual
Ao avaliar estas questões Nancy Cardia afirma que:

Os resultados indicam ainda que 23 anos após a promulgação da


Constituição Cidadã, direitos e garantias constitucionais ainda não se
tornaram direitos percebidos como inalienáveis, pétreos, intocáveis
em quaisquer que sejam as circunstâncias. Isto sugere que temos
uma cidadania ainda fraca no que se refere à valorização dos direitos
civis e políticos. Esta é uma lacuna que fragiliza a democracia. (Idem,
p. 48)

Como se observa, não existe consenso quando o tema são os direitos humanos, é o
que nos revela o Relatório Nacional sobre Direitos Humanos no Brasil. As opiniões estão
divididas mesmo quando tratamos de uma questão como a tortura, que é considerada uma
prática que afronta a toda a humanidade e um crime contra a ordem internacional, conforme
a Convenção Internacional contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis,
Desumanos e Degradantes de 1984, que foi ratificada pelo Brasil em 1991 3, e que compreende
a tortura como:

...qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou


mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de
obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de
castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou
seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou
outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação
de qualquer natureza, quando tais dores ou sofrimentos são
infligidos por um funcionários público ou outra pessoa no exercício
de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu
consentimento ou aquiescência (ONU, art.1, alínea 1, 1984)

No caso do Brasil, há dados muito contundentes sobre a prática da tortura, que


apontam que os agentes públicos estão envolvidos em 61% dos casos, seguidos de agentes
privados com 37%”dos responsáveis por torturas cometidas no Brasil, e que este tipo de
atentado contra os direitos humanos é cometido principalmente nas casas (33%) e em locais
de detenção (31%) e em vias públicas (16%). (JESUS e CALDERONI, 2015).

O relatório “Julgando a Tortura” (2015, p. 11), reafirma os dados apresentados por


Cardia (2012), quando afirma que:

A análise dos 455 acórdãos ainda é capaz de revelar a motivação da


tortura: quando perpetrada por agente público, é especialmente
utilizada como meio de obtenção de confissão ou informação;

3
Transformou-se em lei em 7 de abril de 1997 (Lei nº.9.455/97), que define e pune o crime de tortura
quando perpetrada por agente privado, é especialmente utilizada
como forma de castigo.

Como se constata, pela análise dos acórdãos 4, a tortura é uma prática para obtenção
de confissão ou algum tipo de informação, contudo sua prática é condenada no direito
internacional e pelas leis brasileiras, por afrontar os direitos fundamentais dos seres humanos.
De acordo com a Lei 9.455/97, o crime de tortura se configura deste modo:

I - Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,


causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima
ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com
emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico
ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de
caráter preventivo.

De acordo com JESUS e CALDERONI (2015, p. 38) “a tortura tem sido descrita, por
alguns estudos, como método de investigação policial que, apesar de ilegal, encontra-se
incorporado à cultura dessa corporação”. Neste caso é necessário reafirmar que a prática é
grave violação dos direitos humanos.

Contudo o relatório “Julgando a Tortura” (2015, p. 43), faz uma importante


constatação, dos processos movidos contra torturadores a grande maioria levou à condenação
em primeira instância (78% dos casos) e 17% foram absolvidos, sendo que a condenação foi
mantida em 61% dos casos na segunda instância, sendo que o principal argumento para a
manutenção da condenação foi “As provas contidas nos autos comprovam a tortura”.

Fato é que a tortura irá se constituir como grave violação dos direitos humanos, por
impor ao indivíduo a impossibilidade de defesa e ferir sua liberdade de consciência,
compreende-se assim, que sob nenhuma circunstância tal ato se justifica ou pode ser aceito.

Reflexão histórica sobre os direitos humanos

Após esta abordagem inicial sobre os direitos humanos, em que fizemos um recorde
sobre a temática da tortura, vamos agora pensar como a discussão se desenvolveu ao longo da
história. Sem dúvida há uma história dos direitos humanos, e mesmo nos tempos e lugares

4
Trata-se de uma decisão final ou sentença. O acórdão é o acordo entre vários julgadores para chegar à
um resultado final e decisivo, é diferente de uma sentença dada somente por um juiz.
mais remotos iremos encontrar práticas e ideias que nos permitirão observar trações do que
podemos chamar de “direitos humanos”.

Há registros muito antigos de leis e códigos que tiveram por finalidade regular a vida
em sociedade e estabelecer direitos para os indivíduos. Um destes códigos antigos é
encontrado no denominado “Cilindro de Ciro” 5, datado de 539 a.C., que é considerado o mais
antigo documento sobre direitos humanos. É possível observar também nos Profetas bíblicos
diversos ensinamentos e preceitos que buscam a garantia de direitos e defesa dos mais
vulneráveis na sociedade.

Contudo, ao tratarmos sobre Direitos Humanos hoje, temos dois marcos históricos
importantes, são eles: 1. A Revolução Francesa de 1789 (contexto do Iluminismo) e 2. A
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 (pós Segunda Guerra Mundial).

O pensamento iluminista, ao trazer à tona a perspectiva da igualdade entre os seres


humanos, acendeu uma centelha revolucionária, que abalou os alicerces das monarquias
absolutistas europeias, culminando na Revolução Francesa de 1789 e seus ideais de
“Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, cuja o resultado foi uma mudança substancial na forma
de organizar a sociedade e o surgimento da ideia de “cidadão” e na noção de igualdade
perante a lei e o direito de propriedade, são as lutas pelos direitos do indivíduo. Estes
elementos foram expressos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que
apresenta seu primeiro artigo deste modo “Os homens nascem e são livres e iguais em
direitos. As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum”. Aqui se
apresenta o “cidadão”, um indivíduo “livre” e Igual em direito”.

O que se seguiu à Revolução Francesa, foram inúmeras lutas sociais que buscaram
sempre a ampliação dos direitos frente às inúmeras situações que impediam o pleno
desenvolvimento humano, como por exemplo as lutas dos trabalhadores nos séculos XVIII e
XIX, que se inserem no contexto das lutas pelos direitos coletivos.

Será neste momento que Karl Marx (2002, p. 32-34) irá apontar as características
liberais e burguesa dos direitos humanos, ao mesmo tempo que afirma que “ os direitos
humanos não são, por conseguinte, uma dádiva da natureza, um presente da história, mas
fruto da luta contra o acaso do nascimento, contra privilégios que a história vinha transmitindo
de geração em geração. São resultado da cultura”. Aqui se evidencia a concepção histórico-

5
Ciro foi o rei da Pérsia (antigo Irã)
estrutural dos direitos humanos e oposição à uma concepção idealista ou mesmo jurídico-
positivista (DORNELLES, 2006).

Com Karl Marx, no século XIX, surge uma nova linguagem de emancipação social, a
emancipação humana, que compreende a superação das mediações entre o mundo e o ser
humano, a superação da sociedade de classes, e que a efetivação dos direitos dependerá das
lutas sociais. (SANTOS, 2013, p. 19)

O segundo momento que marca as lutas por direitos humanos se dá após a Segunda
Guerra Mundial. O horror que a guerra produziu, levou a uma profunda reflexão sobre o que a
capacidade humana de autodestruição. Deste modo a Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948 é resultado deste momento histórico, que exigia uma resposta para as
atrocidades da Segunda Guerra Mundial.

É necessário destacar que a ideia de “universal” da Declaração Universal dos Direitos


Humanos (DUDH), não é um dado objetivo, ou seja, concreto e válido para toda a humanidade.
Este “universalismo” é de fato subjetivo, sendo, portanto, uma conquista muito lenta da
humanidade (BOBBIO, 2004, p. 28).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é composta por 30 artigos, que
estão longe de sintetizar as questões que afligem a dignidade e os direitos humanos, contudo
foi o consenso possível naquele momento. Assim, “eles não são os únicos e possíveis direitos
do homem: são os direitos do homem histórico, tal como este se configurava na mente dos
redatores da Declaração após a tragédia da Segunda Guerra Mundial” (BOBBIO, 2004, p. 33).

A questão dos direitos humanos continuou a ser refletida e debatida entre os países,
tanto que se seguiram inúmeros instrumentos e convenções que buscaram ampliar os direitos,
dentre eles podemos destacar alguns:

• Convenção contra o Genocídio - 1949


• Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados - 1951
• Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados - 1966
• Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos - 1966
• Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - 1966
• Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial - 1968
• Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a
Mulher - 1984
• Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes 1984
• Convenção sobre os Direitos da Criança - 1989
• Declaração e Programa de Ação de Viena -1993

A observação cuidadosa de cada um destes instrumentos revela a abrangência e


complexidade dos direitos humanos, contudo como aponta a Declaração de Viena, de 1993, é
preciso compreender que os direitos humanos precisam ser vistos como universais, indivisíveis
interdependentes e inter-relacionados, ou seja, a violação de um direito implica no
comprometimento da totalidade dos direitos humanos.

Norberto Bobbio (2004, p. 62) chama a atenção para o fato de existir uma desconexão
entre a teoria e a prática nas ações envolvendo os direitos humanos, uma sua análise a “teoria
e prática percorrem duas estradas diversas e a velocidades muito desiguais”, o que
transformou a linguagem sobre Direitos Humanos um anseio nobre e justo, contudo com uma
prática distante do discurso.

Um aspecto que devemos considerar, é que os direitos humanos continuam a ser


construídos, pois à medida que as sociedades se desenvolvem, novas demandas e
necessidades surgem, ao mesmo tempo são negadas, trazendo a necessidade dos grupos
organizados lutarem por seus direitos e reelaborarem as teorias que sustentam suas práticas.
Referências

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

CARDIA, Nancy. Percepções sobre direitos humanos no Brasil. In: ADORNO, Sérgio e CARDIA,
Nancy. 5º Relatório Nacional sobre os Direitos Humanos no Brasil. São Paulo: Núcleo de
Estudos da Violência da USP. (pp. 39-50), 2012.

DORNELLES, João Ricardo W. O que são direitos humanos. São Paulo: Brasiliense, 2006.

JESUS, Maria Gorete Marques de e CALDERONI, Vivian (Coord. da Pesquisa). Julgando a


tortura: Análise de jurisprudência nos tribunais de justiça do Brasil (2005-2010). São Paulo:
Ação dos Cristãos para a Abolição da Tortura (ACAT), Conectas Direitos Humanos, Núcleo de
Pesquisas do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), Núcleo de Estudos da
Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e Pastoral Carcerária. 2015.

MARX, Karl, A Questão Judaica. São Paulo, Centauro Editora. 2000.

ONU. Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou


Degradantes. Assembleia Geral das Nações Unidas, de 10 de dezembro de 1984.

ONU. Declaração e Programa de Ação II Conferência Mundial de Direitos Humanos, Viena,


1993.

SANTOS, Boaventura Souza. Se Deus fosse um ativista dos direitos humanos. São Paulo:
Cortez, 2013

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