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“Inclusao”, liminaridade e precariedade cientifica (I) eh Paulo Granjo 4de outubro de 2017 1. Inclusao: uma falsa ideia clara “I nelusio” tornou-se uma palavra-fetiche, omnipresente quer no discurso politico vago e bem-intencionado, quer nos cadernos de encargos para o financiamento de pesquisas sociais. Como qualquer palavra que utilizemos, pretendendo que seja mais do que um som, est associada a nogées ¢ ideias, por vezes muito varidveis. Contudo, na sua utilizagSo predominante nos contestos que referi, constitui por um lado uma “falsa ideia clara” (para utilizar uma expresso cara a Mario Murteira) e, por outro, um traigoeiro simplismo. Quando ouvimes “incluso”, de imediato pensamos “exclusio”. Com isso, tendemos a aperoeber ambas as palavras e ideias como um par opositivo, delimitado de forma evidente e com uma carga positiva ou negativa, consoante o prefixo; mas no 6, de todo, esse 0 caso. Ao estabelecermos essa oposicao (fig. 1), nlio estamos, antes de mais, a constatar uma evidéncia empirica, Estamos a enfatizar de forma arbitraria — mas de acordo com critérios valorativos, normalmente dominantes — um conjunto, entre muitos possiveis, de critérios ou caracteristicas que permitam afirmar a semelhanga oua partilha de posse entre quem é “incluido”, ao mesmo tempo que enfatizamos um. outro conjunto de caracteristicas ou critérios de diferenciagdo ou despossessio, que permitam contrastar esse grupo como dos “excluidos”. E s6 em fungao dessa arbitrariedade negociada que a fronteira entre “dentro” e “fora” (e entre quem esta de um e de outro lado) é afirmada e assume um simulacro de evidéncia. 6a Figura 1- Construgéio de fronteiras de incluséo/exclusio Exclusao iI mee mn Vv Vv enftagto de crzetoritese exfaizagdo do caracestca do cu ctetos do semehenrae Geran aerdadllspossessao ee ee ‘em fungao dos criterias enfatizados Fonte: Elaborado por Paulo Granjo Isto quer também dizer, face ao habito de encarar a “incluso” como positiva eo seu oposto como negative, que to pouco o facto de selecionarmos um espago de incluso como sendo desejavel ou relevante constitui uma evidéncia, Valorizarmos aquele, em detrimento de muitos outros possiveis, resulta afinal de uma escolha ética politica que deve ela prépria ser objeto de anélise — uma andlise que se requer tio mais exigente e auto-reflesiva, quanto menos consciencializada seja essa escolha. Este requisito de vigilancia epistemolégica é reforgado por duas outras caracteristicas da relagio entre inclusdo e exelusdo, na verdade mais complexa do que a mera oposigio entre termos: Por um lado, qualquer processo de incluséo implica © pressupée uma prévia situagSo de exelusdo, mas nao chega constata-lo; falta saber precisamente de qué, em que termos e qual o significado dessa exclusdo para aqueles que sio apontados como excluidos. Por outro lado (fig. 2), qualquer processo de inclusdoé simultaneamente um processo de exclusio, pelo menos em termos conjunturais. Como as pessoas ou 562 grupos no sio folhas em branco, vivendo numa abstrata inexisténcia social, a inclusdo num grupo, status, identidade, sistema de praticas, de valores ou de formas de sentir implica a sua exclusdo de formas de incluso anteriores em que se encontrava inserido, fossem elas opostas ou apenas diferentes: Figura 2- Incluir emalgo é excluir de outra coisa f—— Exclusao Fonte: Elaborado por Paulo Granjo Simetricamente, mas pela mesma razSo, um processo de exclusdo no pode projetar para o vazio. Assim (fig. 3), uma exclusdo implica novas inclusées, em grupos ou sistemas de praticas, de representagées e/ou de identidades para os quais os apontados como “excluidos” na perspetiva dominante so empurrados por efeito de exclusdo que sofreram, para os quais so pusados pelos seus novos pares, ou nos quais se procuram integrar e ser aceites. Figura 3- Exclustio implica novas inclusées Exclusao de X Fonte: Elaborado por Paulo Granjo 363

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