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Mitos em acústica
Caixa de ovo
Parte do inconsciente coletivo, a caixa de ovo desfruta de status não superado por
nenhum outro material. A trivial embalagem tem desempenho quase mítico, conceito
gozado principalmente entre músicos. Absorver, isolar, ‘abafar’ o som, as mais diversas
funções são associadas ao objeto, sempre com performance imbatível. A Figura 1
transcreve trecho de entrevista no “Jornal Hoje”, da Rede Globo, transcrita em seu site:
Uma possível explicação para a associação da caixa de ovos com qualidade acústica
talvez estejaem sua geometria. Como diversos materiais de absorção comercialmente
vendidos têm superfície não plana, que lembra a embalagem, talvez creditem bom
desempenho de absorção à forma em si, e não ao material. O perfil sinuoso, porém, tem
como fim o aumento da área do material, ele sim responsável pela absorção.
A matéria prima da caixa de ovos não é permeável ao fluxo de ar, o que é impeditivo
para um bom desempenho de absorção resistiva.
Isopor
Uma das possíveis razões do isopor ser interpretado como material de isolamento
acústico reside no fato dele ser bom isolante térmico. Como há materiais que são
utilizados como recheio de componentes duplos, tanto para isolamento térmico quanto
acústico, como a lã de vidro, por exemplo, a generalização termina por incluir todos os
materiais e o isopor ganha adjetivo indevido. O item 3.4 discute a classificação de
material ‘termo-acústico’ mais detalhadamente.
Erros conceituais
Isolamento aéreo
Isolamento sonoro e absorção acústica são rotineiramente confundidos entre si, apesar
de envolverem fenômenos distintos e requererem, inclusive, materiais com
características físicas opostas para que tenham um desempenho satisfatório.
Por outro lado, absorção é o mecanismo que converte o som em outra forma de energia
para, ao final do processo, dissipá-la na forma de calor [13] e que, para tal, depende da
permeabilidade ao fluxo de ar do material. É fundamental, então, a presença de canais
de arno interior do material, o que os torna, necessariamente, materiais de baixa
densidade específica e, portanto, inadequados como elementos de isolamento sonoro.
Há casos em que uma proposta acertada tem que concorrer com a falta de
conhecimento. A Figura 10 traz trecho de artigo onde é narrada disputa judicial entre
residentes de determinada região e o DERSA, órgão do governo estadual paulista
responsável pelas rodovias. Vê-se que a barreira acústica, determinada em juízo, é
satiricamente chamada de ‘muralha da China’.
Pior ainda, a empresa resiste a cumprir sua obrigação de dar proteção às residências
contra o ruído do tráfego automotivo, respaldada em estudo de impacto ambiental que
prevê apenas a colocação de árvores. Portanto, técnicos produziram um estudo
específico sobre o problema e a solução indicada foi a vegetação. Foram plantadas
árvore e, conforme o texto não resolveram o problema, como esperado.
Por fim, cabe destacar que a utilização de uma fileira de árvores pode até mesmo ser
indesejável. Estudos demonstram que os ouvintes tendem a superestimar a audibilidade
do ruído quando a visão da fonte sonora é bloqueada, mesmo que por vegetação.
Material “termo-acústico”
Acústica de salas
Ainda em projetos que envolvam fenômenos acústicos trazem alguns deslizes teóricos.
Em matéria intitulada “Lazer em todos os sentidos”, na Revista Projeto, seção
“Cuidados com a acústica”, consta: “… Fulana de tal, arquiteta especializada em
projetos de home theaters, elogia o desempenho das paredes em alvenaria de tijolos,
sem revestimento. “Elas refletem as cias sonoras em várias direções, o que ajuda a
distribuir e absorver o som pela sala”.
Elvira Viveiros
Publicado em http://tratamentoacustico.com.br/artigo/47/