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Philippe Descola (foto) herdou a cátedra de Lévi-Strauss em
Paris. E conta como a disciplina está evoluindo: "Há muitas
formas de vida. Temos que levar isso em conta". Em alguns
países, a proteção e o respeito pelos recursos vitais foram
incluídos na Constituição. É preciso aprender a coabitar.
Eis a entrevista.
E que não é mais de hoje. A sua análise dos mitos é um virtuosismo acrobático. Obras
como O Pensamento Selvagem e O cru e o cozido são o produto de um talento
pessoal muito próximo ao de um artista. Ele era capaz de se lembrar de um fragmento de
um conto japonês lido 20 anos antes e de conectá-lo aos mitos dos nativos da América
Como eu me informo. ou da Grécia que ele estudava naquele momento. Ou a um acorde da tetralogia de
Artigo de Ladislau Dowbor Wagner.
Artigo de Ladislau Dowbor Wagner.
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Lévi-Strauss fez da antropologia um dos grandes saberes do século XX. Ele
demonstrou que, por trás das diferenças entre as culturas, há analogias
escondidas que permitem remeter a miríade de diversidades a poucas leis
gerais, comuns a todos os seres humanos.
Caso Marielle, uma Ele tratava as diferenças entre as culturas como variações de um mesmo tema musical. E
investigação radioativa para
os Bolsonaro a sua grande lição é que a tarefa da antropologia é ir além das diferenças superficiais,
LER MAIS além da etnografia, para alcançar aquilo que nos torna todos igualmente humanos.
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O fato é que os homens não estão sozinhos no palco da humanidade. E o resto, aquilo
que normalmente se chama de natureza ou meio ambiente, não é propriedade nossa,
nem uma projeção nossa, muito menos um simples recurso à disposição do nosso
desenvolvimento. As outras criaturas, animais, plantas, minerais, também são
coinquilinos do mundo. Não são coisas ou formas de vida, mas sim verdadeiros agentes
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sociais, que têm os mesmos direitos que os seres humanos. E muitas vezes características
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em comum, que não são meramente biológicas, mas até culturais. É por isso que hoje a
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antropologia não pode mais se limitar ao ser humano, mas deve estender o seu olhar a
Dia, inscreva-se na newsletter todos os seres com os quais interagimos e convivemos.
do IHU
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Certamente. Além de tudo isso, essa oposição entre cultura e natureza, entre ser humano
e as outras criaturas, não é nem universal. Muitos povos não a compartilham. Basta
pensar no primeiro capítulo da nova Constituição do Equador, que protege
"
precisamente os direitos da natureza, em que a natureza, diferentemente de nós, aparece
como uma espécie de pessoa viva. Justamente como a Pachamama, a mãe terra das
religiões mesoamericanas.
Não por acaso, o presidente boliviano, Evo Morales, e uma cúpula latino-
MPVM - 1º domingo da
quaresma - Ano C - Escolhas americana reconheceram que os ecossistemas enquanto tais têm direitos.
que dão sentido à vida
Um modo diferente de sistematizar os problemas, que, também à luz de
dramas como o do Chifre da África, deveria começar a influenciar a agenda
política planetária, especialmente em matéria de bens comuns.
Nesse sentido, a antropologia tem uma tarefa importante, que é a de apresentar outros
modelos de humanidade. Mostrar de que modo as outras civilizações enfrentaram e
resolveram problemas análogos aos nossos.
Ecologia, tecnologia e coexistência com as outras civilizações. Três questões que podem
ser resumidas em uma, isto é, como fazer com que todos os ocupantes do planeta
coabitem, sem muitos danos, renúncias e conflitos. E se não se chegar a isso, haverá uma
catástrofe. Ambiental, demográfica e informática.
Porque deveremos ser inundados por uma avalanche de informações cada vez mais
incontroláveis, incongruentes, perigosas.
Infelizmente não. Hoje, eu vejo uma grande pusilanimidade nos políticos e nos vários G7
ou G20. Não possuem coragem e imaginação. Estão sempre atrasados com relação à
realidade. Também porque subestimam o papel da cultura nas elaboração das políticas
sociais e ambientais. E, frequentemente, não se vai muito além de alguns pequenos
pensamentos politicamente corretos sobre a necessidade do diálogo entre as culturas.
Mas não acredito nisso, verdadeiramente.
Sim, cada vez mais pessoas estão conscientes de que o modelo de desenvolvimento que
tem governado o mundo nestes últimos dois séculos está se desfazendo. Eu diria que
esses movimentos são exercícios no futuro, os primeiros passos para uma nova
democracia global.
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