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Sobre as Possibilidades de uma Penologia Crítica: Provocações

Criminológicas às Teorias da Pena na Era do Grande Encarceramento1


Sobre las Posibilidades de una Penología Crítica: Provocaciones Criminológicas a
las Teorías de la Pena en la Era del Gran Encarcelamiento
On the Possibilities of a Critical Penology: Criminological Provocations of the
Punishment Theories in the Age of the Great Incarceration

Salo de Carvalho
Professor dos cursos de Graduação e de Pós-Graduação (Mestrado em Direito) do Centro Universitário
La Salle (Professor Permanente) e da Universidade Federal de Santa Maria (Professor Colaborador).
Professor Adjunto do Departamento de Ciências Penais da UFRGS (2010-2011). Professor Titular
do Departamento de Ciências Criminais e do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado)
da PUCRS (1997-2010). Graduado em Direito pela UNISINOS (1993). Mestre em Direito pela
Universidade Federal de Santa Catarina (1996). Doutor em Direito pela Universidade Federal do Paraná
(2000). Pós-Doutor em Criminologia pela Universidad Pompeu Fabra (Barcelona, ES) (2010). Pós-
Doutorando em Criminologia, com bolsa de pesquisa aprovada pelo CNPq, na Universitá di Bologna
(Bologna, ITA) (2013-2014). Presidente do Conselho Penitenciário do Rio Grande do Sul (2001-2002).
E-mail: salo.carvalho@awsc.com.br

Resumo
A partir da percepção do vertiginoso aumento do número de pessoas presas nas últimas décadas,
especialmente no Brasil, a pesquisa procura indagar sobre o papel da teoria do direito penal. O
artigo parte do pressuposto de que a violência da prisionalização produz inevitáveis implicações
éticas, sociais e políticas na dogmática penal. Assim, procura indagar as relações entre as teorias
de justificação da pena e o fenômeno (empírico) do encarceramento em massa. As questões que
movem a reflexão são, portanto, a instrumentalidade das teorias da pena na expansão do po-
testas puniendi e as explicações que os modelos justificacionistas ofereceriam ao problema da
hiperpunitividade. A hipótese central do trabalho é a de que as tradicionais teorias da pena, em
razão de sua fundamentação (jurídica) contratual e de sua perspectiva (social) consensualista,
são incapacitadas de oferecer um modelo efetivamente redutor do punitivismo, situação que
somente pode ser superada com a adoção de critérios de interpretações fundados na ideia de
conflito – condições de possibilidade de uma penologia crítica.
Palavras-Chave: Punição; Teorias da pena; Penologia; Criminologia crítica

Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):143-164 | 143


Carvalho, S.

Resumen
Desde la percepción del vertiginoso incremento en el número de personas presas en las últimas
décadas, especialmente en Brasil, la investigación busca indagar acerca del papel de la teoría
del derecho penal. El presente artículo parte del supuesto de que la violencia de la prisionaliza-
ción produce inevitables implicaciones éticas, sociales y políticas en la dogmática penal. Así,
busca indagar las relaciones entre las teorías de justificación de la pena y el fenómeno empírico
del encarcelamiento masivo. Las cuestiones que mueven la reflexión son, por lo tanto, la instru-
mentalidad de las teorías de la pena en la expansión de la potestas puniendi y las explicaciones
que los modelos justificacionistas brindarían al problema de la hiperpunitividad. La hipótesis
central del trabajo consiste en que las tradicionales teorías de la pena, sobre la base de su fun-
damentación (jurídica) contractual y su perspectiva (social) consensualista, están incapacitadas
para brindar un modelo efectivamente reductor del punitivismo, situación que sólo podrá supe-
rarse con la adopción de criterios de interpretación fundados en la idea de conflicto – condicio-
nes de posibilidad de una penología crítica.
Palabras clave: Punición; Teorías de la pena; Penología; Criminología crítica

Abstract:
Taking into consideration the perception of a great increase in the number of people imprisoned
in the last decade, the research seeks to question the role of criminal law studies. The article
makes the assumption that the violence of incarceration produces inevitable ethical, social and
political implications in criminal sciences. Thus, it seeks to question the relationship between
the theories of punishment and the (empiric) phenomenon of mass incarceration. Therefore,
the issues that move this reflection are the instrumentality of the theories of punishment in the
expansion of potestas puniendi and the explanations that the justify models could offer to the
problem of hyperpunishment. The core hypothesis of this work is that the traditional theories
of punishment, due to its contractual (legal) basis and its consensual (social) perspectives, are
unable to offer a model that reduces punishment effectively, a situation that can be overcome
with the adoption of interpretation criteria based on the idea of conflict – conditions that makes
possible a critical penology.
Keywords: Punishment; Theories of punishment; Penology; Critical criminology

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Sobre as Possibilidades de uma Penologia Crítica: Provocações Criminológicas...

1. Ferrajoli (1998) esclarece que A impossibilidade de diálogo entre


a pergunta por que castigar? pode ser en- os saberes (penal e criminológico) deriva
tendida em dois sentidos diferentes: (a) por da máxima conhecida como Lei de Hume,
que existe a pena? ou por que se pune? e segundo a qual não é possível alcançar logi-
(b) por que deve existir a pena? ou por que camente conclusões prescritivas ou morais
se deve punir? a partir de elementos descritivos ou fáticos.
O primeiro problema (por que existe Esta interdição positivista impediria que
a pena?) seria de ordem científica e admi- fossem derivados valores de fatos objetivos,
tiria somente respostas de caráter empírico determinando que um dever-ser não poderia
formuladas mediante assertivas verificá- resultar de um ser e vice-versa.
veis e refutáveis (verdadeiras ou falsas). A A transposição da Lei de Hume às
segunda questão (por que deve existir a ciências criminais vedaria, p. ex., que a crí-
pena?) revelaria um problema filosófico que tica criminológica, baseada em dados da re-
admitiria apenas respostas de caráter ético- alidade da punição, invalidasse prescrições
político, formuladas mediante proposições normativas ou justificativas dogmáticas da
normativas, nem verdadeiras nem falsas, pena. Assim, a crítica válida seria apenas
mas aceitáveis como justas ou injustas. Fer- aquela que se estabelece em sua própria
rajoli argumenta, pois, que a primeira inda- zona de intervenção: crítica dogmática ao
gação estaria sustentada na existência do direito penal e crítica criminológica à crimi-
fenômeno pena (fato punição) e traduziria nologia.
problemas de ordem histórica ou socioló- Ao investigador caberia eleger um
gica (criminológica, sobretudo). A segunda determinado sistema de compreensão (di-
questão revelaria o dever-ser (jurídico) da reito penal ou criminologia) e, a partir dos
pena, isto é, do direito de punir, que reme- princípios e categorias fundacionais daque-
teria às prescrições normativas (Ferrajoli, le específico campo, pautar o debate sobre
1998:314). a adequação dos fundamentos e a validade
Neste quadro, as ciências criminais, das hipóteses.
forjadas desde a matriz do positivismo cien- 2. A ruptura com a assepsia positi-
tífico, fragmentaram o estudo da pena em vista em sua inconsequente abstenção do
dois campos distintos: (a) criminologia: re- enfrentamento dos fenômenos da vida –
flexão sobre o fenômeno empírico da puni- mormente em um campo de saber marcado
ção; (b) direito penal: investigação sobre o pela radicalidade das violências institucio-
dever jurídico da pena. nais – ocorre com a emergência da teoria

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crítica do direito (penal) e, em especial, da realidade, não é, sem embargo, idílica, mas
criminologia crítica. conflituosa e tem, todavia, muitos pontos de
No campo da punição, a criminolo- contato, onde às vezes entram em claro en-
gia crítica evidenciou a profunda discrepân- frentamento a solução que propõe uma par-
cia entre os discursos oficiais, elaborados te, a normativa, e a que propõe a outra, a
pelas teorias de justificação (dever-ser), e as empírica, não sendo raro que, às vezes, esta
funções efetivamente exercidas pelas agên- seja uma das causas da disfunção e ineficá-
cias de punitividade (experiência fenomêni- cia das normas jurídico-penais na solução
ca). A criminologia crítica operou, portanto, de determinados conflitos ou que o próprio
uma espécie de revogação ou suspensão da saber empírico careça de influência na re-
Lei de Hume, permitindo que o saber empí- gulação jurídica de um determinado proble-
rico sobre o funcionamento do sistema pe- ma” (Hassemer & Muñoz Conde, 2001:06).
nal servisse como instrumento de descons- Vera Batista, apropriando-se das advertên-
trução, de modificação e de transposição do cias de Zaffaroni, sintetiza de forma precisa
saber dogmático. Exatamente nesta linha foi o problema ao direcionar à sanção penal: “a
desenvolvida a perspectiva da criminologia pena não pode ser pensada no ‘dever ser’,
crítica como crítica do direito penal nos paí- mas sim na realidade letal dos nossos sis-
ses ocidentais de linhagem jurídica romano- temas penais concretos” (Batista, 2011:91).
-germânica2, tradição distinta da crimino- Neste aspecto, o presente trabalho
logia desenvolvida nos países da common assume explicitamente aquilo que Ferrajo-
law. li designa como vício ideológico. A opção
Nesta perspectiva crítica, sustentam pela criminologia crítica implica em aban-
Hassemer e Muñoz Conde “a importância donar a devoção à Lei de Hume em nome da
que, para evitar a cegueira frente à realida- preocupação efetiva com a vida das pessoas
de que muitas vezes tem a regulação jurídi- que sofrem nas intermitências criadas entre
ca, o saber normativo, ou seja, o jurídico, as grandes narrativas teóricas de justificação
deva ir sempre acompanhado, apoiado e da pena e a experiência real da aflição puni-
ilustrado pelo saber empírico, isto é, pelo tiva. Não por outra razão Zaffaroni postula
conhecimento da realidade (...)” (Hassemer um sistema de compreensão do direito penal
& Muñoz Conde, 2001:05). No entanto no- construído a partir dos seus dados empíricos
tam os autores que “a relação entre o sa- e configurado com a finalidade exclusiva de
ber normativo e o saber empírico, próprio limitação do poder punitivo.3
de cada uma destas formas de abordar a

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O objetivo do trabalho, portanto, é, punitivo concreto que legitima. Trata-se,


o de, a partir da experiência da prisionaliza- inegavelmente, de uma interpelação: se a
ção das últimas décadas (a consolidação do teoria do direito penal, sobretudo nos dois
grande encarceramento), tensionar a relação últimos séculos, esforçou-se para atribuir
entre as teorias (normativo-filosóficas) de um sentido positivo à pena, parece lícito à
justificação da pena e o fenômeno (empíri- criminologia/penologia indagar como este
co) da punição. Sobretudo porque se parte mesmo corpus teórico justifica as conse-
do pressuposto da necessidade do reconhe- quências do seu ato de legitimação.
cimento da responsabilidade dos sistemas Importante dizer que não se trata
teóricos sobre a realidade na qual operam. apenas de questionar os modelos teóricos
Assim, as questões que se colocam são jus- de justificação e verificar a validade de suas
tificadas pela urgência de que a teoria (dog- propostas desde a lente da criminologia, re-
mática) do direito penal assuma um mínimo produzindo a clássica divisão de tarefas na
de responsabilidade ética e social, ou seja, qual a dogmática permanece em uma evi-
que não se exima do real, não fique alheia dente zona de conforto. Mas, para além dos
aos efeitos genocidas que os seus modelos papéis consolidados, provocar a doutrina
de legitimação produzem. penal para que justifique ou ao menos expli-
Neste confronto entre os discursos que, a partir dos seus sofisticados recursos
de justificação e as consequências da cri- teóricos, qual o impacto (positivo ou nega-
minalização (prisionalização), é possível tivo) dos seus discursos de justificação no
perceber nitidamente o papel que as teorias fenômeno de hiperencarceramento contem-
da pena desempenharam na expansão do porâneo.
potestas puniendi. E a indagação latente, O constante aumento do número de
que percorre o estudo, é a relativa às expli- pessoas presas deve, necessariamente, estar
cações possíveis que as teorias da pena te- na pauta dos modelos dogmáticos e crimi-
riam a oferecer em relação ao problema da nológicos, mesmo que não tenham como
hiperpunitividade e do encarceramento em objetos diretos de investigação as violências
massa. institucionais e as estratégias punitivas de
3. A proposta de um exercício teóri- controle social. Frente à radicalidade desta
co sobre a pena a partir dos dados empíricos experiência de violência institucional, qual-
de prisionalização procura inverter a tradi- quer omissão é antiética.
cional pergunta “por que punir?” e questio- No entanto a ciência ortodoxa do di-
nar como a dogmática justificaria o sistema reito penal, enclausurada nos postulados do

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positivismo, exime-se da responsabilidade, agências de punitividade são (também) de


justificando a sua omissão a partir das pres- responsabilidade da dogmática. Assim se a
crições sintetizadas na Lei de Hume. A dog- teoria penal cria sofisticados instrumentos
mática penal limita-se, pois, à proposição de que habilitam a intervenção punitiva, deve
teses normativas de justificação, impedin- ser interpelada sobre os efeitos que produz,
do, em uma espécie de autismo científico, notadamente se postula como válida sua
que a realidade empírica do sistema sobre o pretensão de universalidade.
qual opera ingresse no seu campo de visão. A segunda indagação diz respeito
Ocorre que a experiência do encarceramen- às alternativas propostas pelo direito penal
to em massa transforma este silêncio em um ao fenômeno do encarceramento massivo,
ruído ensurdecedor. tendo em vista que a estratégia de prisio-
Neste cenário, o problema que este nalização não vem obtendo os resultados
estudo procura apresentar pode ser sinteti- esperados de redução das taxas de crimi-
zado na seguinte questão: o que as teorias nalidade; pelo contrário, o sistema se re-
de justificação da pena (absolutas, relativas troalimenta e reproduz a violência (delito
e polifuncionais) têm a dizer sobre o grande – prisão – reforço da identidade crimi-
encarceramento? nosa – delito – prisão). Neste aspecto, é
A indagação procura convocar as razoável refletir se a saída para a crise da
teorias da pena a uma reflexão ética, sus- pena é seguir apostando no encarceramen-
citando um juízo crítico sobre a sua pró- to, ou seja, mais justificação e mais prisio-
pria funcionalidade (instrumentalidade) e nalização.4
sobre o seu comprometimento e respon- No atual estágio das ciências crimi-
sabilidade sociais. Para além do idealismo nais, sobretudo após a irreversibilidade da
justificacionista, é fundamental questionar desconstrução realizada pela criminologia
(primeira indagação) como o direito penal crítica, parece não ser mais possível um mo-
enfrenta a concretude da prisionalização, delo teórico justificar abstratamente a pena
visto ser o grande encarceramento uma sem se preocupar com o impacto que esta
consequência direta dos discursos funda- legitimação produz na realidade do sistema
mentadores da pena. A atuação do sistema penal. Do contrário, ao optar pela manu-
punitivo é, pois, inegavelmente, um pro- tenção do silêncio, a teoria do direito penal
blema da ciência do direito penal e, des- perde completamente a sua capacidade de
de o ponto de vista da crítica penológica, (auto)crítica e, narcotizada pela vontade de
os resultados concretos produzidos pelas pureza, seguirá como uma ciência escrava

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(Bourdieu)5, uma técnica inocentemente útil Uma hipótese que parece ser bastan-
às demandas e às variáveis políticas. te razoável diz respeito à ausência de um ra-
Pavarini é preciso ao referir que no dical questionamento sobre os fundamentos
divórcio entre filosofia e dogmática penal da punição na consolidação da Modernida-
os fins da pena acabaram não fazendo parte de, solo no qual emerge a forma carcerária
das preocupações da ciência propriamente de punição e os seus discursos legitimado-
penal (Pavarini & Giamberardino, 2012). res. Parte significativa da responsabilidade
Em consequência, sustenta o autor que a por esta ausência decorre de a doutrina do
história dos modelos punitivos não passou direito penal aproximar (e em alguns casos
de uma história ideal, escrita pela metade, simplesmente confundir) dois problemas
em que há uma “(...) certa plausibilidade nitidamente distintos: os fundamentos e as
argumentativa apenas se pressuposto que o justificativas da pena.
penalista dogmático tenha sempre sido um As teorias de justificação (teorias da
‘útil idiota’, ao menos o suficiente para ter pena) operaram historicamente como dis-
acreditado, com boa fé, que as finalidades cursos de racionalização do poder soberano
da pena não fossem apenas retóricas do ar- de coação direta. Se o Estado detém o mo-
bítrio, mas princípios de ‘fundação do di- nopólio da coação legítima (Weber), caberia
reito de punir’” (Pavarini & Giamberardi- à teoria do direito penal justificar (raciona-
no, 2012:30). lizar) esta violência programada, atribuindo
4. Em razão de as indagações acer- determinados fins à sanção penal – retribui-
ca dos déficits criminológicos (sociológicos) ção (pena justa) ou prevenção (pena útil)
que caracterizam as teorias da pena serem (Pavarini, 1983).
direcionadas aos teóricos do justificacionis- No entanto, apesar de distintas em
mo, evidentemente que não cabe à crítica termos de projeção das suas finalidades, é
usurpar o seu direito de resposta. Todavia, possível perceber que as tradicionais teorias
para além das possíveis tentativas de jus- da pena partem de um pressuposto político
tificar a Lei de Hume na complexidade do comum, que é o do consenso acerca da le-
mundo contemporâneo, resta ainda ao crimi- gitimidade da intervenção punitiva estatal.
nólogo crítico procurar explicações sobre as Aliás, Baratta, ao propor as diretrizes car-
blindagens históricas que impediram que a deais que formam o núcleo do pensamento
realidade do sistema punitivo ingressasse no de defesa social – ideologia que “passou a
debate acerca das justificativas da punição. fazer parte da filosofia dominante na ciên-
cia jurídica e das opiniões, não só dos re-

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presentantes do aparato penal-penitenciá- relações com os indivíduos e a sociedade


rio, mas também do homem de rua (ou seja, civil.
every day theories)” (Baratta, 1997:42), A justificativa contratualista (me-
apresenta como postulado primeiro o prin- tafísica) da pena, porém, pressupõe alguns
cípio da legitimidade.6 O consenso acerca consensos como a existência de direitos na-
da legitimidade induz uma natural aproxi- turais do cidadão que são anteriores ao Es-
mação dos fundamentos da punição com as tado, direitos que não apenas legitimariam
finalidades da pena. o poder político mas que limitariam a sua
Mir Puig, p. ex., ao discutir as ba- intervenção. Trata-se, pois, de um limite ex-
ses funcionais do direito penal subjetivo, terno que preexiste à lei formal, fundado em
afirma que “se está justificado castigar um jusnaturalismo antropológico.8
ou impor medidas de segurança é por- No entanto, após a consolidação do
que é necessário realizar os objetivos que Estado liberal e a formação de um modelo
se atribuem à pena ou às medidas de se- político-econômico gerido pela classe social
gurança. Isso significa que o fundamento detentora do capital e dos meios de produ-
do ius puniendi corresponde a sua função ção (burguesia), “(...) o foco metodológico
(...)” (Mir Puig, 2003:98) 7 No segundo para a fundamentação dos institutos jurídi-
momento, quando analisa os fundamentos cos deslocou-se da argumentação metafísi-
políticos do ius puniendi, Mir Puig identifi- ca para a argumentação jurídica. Não eram
ca de forma precisa o local de encontro no mais (ou não tanto) os direitos naturais que
qual são rompidas as fronteiras do debate forneciam o substrato legitimante para, em
entre fundamentos e justificações: o con- específico, o direito estatal de punir, mas o
tratualismo como a sustentação primeira do limites intrínsecos do próprio ordenamento
direito de punir. jurídico” (Schmidt, 2003:88).
A hipótese contratualista de justifi- Trata-se, em termos genéricos, da
cação da pena se estabelece como o mito transmutação do mito fundador da Moder-
fundante do direito penal na Modernidade. nidade (a hipótese metafísica do contra-
Logicamente que a teoria do contrato so- to social) em um rito garantidor da ordem
cial, independente de suas versões (Hobbes, (legalidade formal). Lyra Filho é preciso ao
Locke ou Rousseau), remeterá o debate a demonstrar que “(...) chegando ao poder,
outras questões essenciais no que tange às a burguesia descartou o seu jusnaturalis-
configurações do Estado moderno e as suas mo [antropológico], passando a defender
a tese positivista: já tinha conquistado a

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máquina de fazer leis e por que, então, ape- apesar de terem sido restritos os efeitos nas
lar para um Direito Superior [metafísico]? teorias de fundamentação da pena.9
Bastava a ordem estabelecida”(Lyra Filho, Aliás, é possível ser ainda mais in-
1991:42). cisivo e sustentar que mesmo com a muta-
Assim é forjada a ideia de a punição ção do modelo de Estado liberal em Estado
constituir-se como um direito público sub- social e sua posterior crise – primeiro, com
jetivo do Estado que nasce com a prática do o estabelecimento de novas economias de
delito. Com a violação livre e consciente do intervenção punitiva (correcionalismo);
pacto social, corporificado nas normas de segundo, com as teorias funcionalistas e
condutas positivadas (direito público obje- os modelos de penologia fundamentalista
tivo), é atribuído às instituições do sistema (Pavarini, 2009) –, o pressuposto de ordem
punitivo o direito-dever de punir. Os únicos (mito) que tem orientado as teorias justifi-
limites impostos à atividade punitiva são cacionistas da pena segue sendo a hipótese
aqueles designados pelo próprio Estado. contratualista.
Neste cenário são consolidadas as ideias de É importante perceber, para que
direito de punir e de pretensão punitiva. se possa efetivamente avançar e superar a
5. Embora a doutrina penal tenha re- crise, que as tradicionais teorias da pena
alizado importante crítica ao contratualismo – absolutas (teorias de retribuição ou teo-
(perspectiva metafísica) a partir da tese de a rias da pena justa) ou relativas (teorias de
pena estar amparada em um direito público prevenção ou teorias da pena útil) – foram
subjetivo do Estado, as ideias fundacionais edificadas sobre o mesmo fundamento
representadas nas noções de direito de punir contratual. Sem perceber que os discursos
e de pretensão punitiva se mantiveram vi- oficiais de justificação estão consolidados
gorosas. Inclusive após o giro copernicano em um modelo consensual de sociedade
imposto, após a Segunda Guerra, pela teoria que encontra na teoria do pacto social a
dos direitos fundamentais e pelo novo cons- sua manifestação primeira (sua emergên-
titucionalismo, cujo efeito foi o da substan- cia ou sua invenção), o debate que envol-
cialização da teoria da validade das normas ve as práticas punitivas e os seus discursos
jurídicas – a construção de uma cadeia de legitimadores permanecerá estagnado. No
princípios potencialmente limitadores da máximo será reduzido à revitalização dos
punibilidade provocou significativos refle- seus tipos ideais históricos, como ocorre
xos na relação entre autoridade e indivíduo, atualmente com os distintos vieses do ne-

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orretributivismo e do neoprevencionismo pressuposto de consenso segundo o qual a


(Carvalho, 2013a). sociedade, compreendida como um orga-
Neste quadro, é possível afirmar nismo homogêneo derivado da integração
que o fundamento contratualista definirá a dos seus membros, compartilha determina-
identidade do direito penal na Modernida- dos valores e interesses fundamentais que
de, moldando, conforme a expectativa tem- representam as condições essenciais a sua
poral, as teorias de justificação. Significa, manutenção. Assim, nas lições de Baratta,
em outras palavras, que a mesma hipótese “os interesses protegidos pelo direito penal
contratual configurou os diversos modelos são interesses comuns a todos os cidadãos”
punitivos oficiais, liberais (primeira mo- (princípio do interesse social); “o delito é
dernidade penal), correcionalistas (segunda um dano para a sociedade e o delinquente é
modernidade penal) e funcionalistas (mo- um elemento negativo e disfuncional para o
dernidade tardia ou pós-modernidade). sistema social” (princípio do bem e do mal);
Não por outra razão Foucault des- em outras palavras, “o delito é expressão
carta assinalar qualquer tipo de ruptura de uma atitude interior reprovável, porque
entre os projetos punitivos liberal e corre- contrária aos valores e às normas” (princí-
cionalista. Percebe, na transposição da pri- pio da culpabilidade) e a criminalidade “é o
meira para a segunda Modernidades apenas comportamento de uma minoria desviante”
um continuum, pois identifica, com preci- (princípio da igualdade) (Baratta, 1997:42).
são, uma matriz comum no processo de for- A violação da lei penal, desde os
mação “epistemológico-jurídico” direcio- pressupostos das teorias do consenso, impli-
nada a “colocar a tecnologia do poder no caria, inclusive, na adesão do próprio infra-
princípio tanto da humanização da penali- tor à pena, conforme conclui Foucault: “su-
dade [Escola Clássica] quanto do conheci- põe-se que o cidadão tenha aceito de uma
mento do homem [Escola Positiva]” (Fou- vez por todas, com as leis da sociedade,
cault, 1991:26). A matriz: a teoria geral do também aquela que poderá puni-lo. O cri-
contrato. minoso aparece então como um ser juridi-
A hipótese que orienta a investiga- camente paradoxal. Ele rompeu o pacto, é,
ção, portanto, é a de que as novas economia portanto, inimigo da sociedade inteira, mas
e tecnologia do poder de punir que emer- participa da punição que se exerce sobre
gem na Modernidade e deflagram as gran- ele. O menor crime ataca toda a sociedade;
des reformas penais nos séculos XVIII, XX e toda a sociedade – inclusive o criminoso –
e início do XXI, estão assentadas em um

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está presente na menor punição” (Foucault, bem e mal, a lei não seria mais do que a
1991:82). forma escrita deste acordo; (b) a lei é igual
Assim, a ideia de direito de punir para todos: se as formas legais refletem a
(ius puniendi) é a consequência lógica de vontade coletiva, a lei não favorece e não
um modelo que opera desde uma perspec- representa nenhum interesse particular; (c)
tiva consensualista de sociedade, na qual a violação da lei penal é ato de uma mi-
determinados valores morais seriam natu- noria: se a maioria está de acordo com as
ralmente aceitos pelo corpo social; as nor- definições de bem e de mal, de justo e de
mas representariam legitimamente estes in- injusto, o pequeno grupo que pratica deli-
teresses; o desvio seria a expressão de uma to deve possuir algum elemento em comum
conduta anômala, episódica e disfuncional que o diferencia da maioria que respeita a
que romperia com a ordem e o equilíbrio lei (Pavarini, 1988:95).
(estado normal da sociedade); e as sanções No que diz respeito ao conteúdo do
reestabeleceriam o consenso e a harmonia direito de punir, todos os modelos teóricos
como justa retribuição, coação psicológica, de justificação da pena, desenvolvidos a
reconversão do delinquente, preservação da partir da Ilustração, operam a partir desta
confiança e da fidelidade na ordem jurídica, mesma fundação (teoria do contrato), cujo
reforço das expectativas normativas frustra- pressuposto é um modelo de sociedade con-
das pelo comportamento criminoso, dentre sensual. E apenas neste contexto será lícito
outras finalidades. ou possível referir um direito de punir (jus
Segundo Pavarini, a hipótese con- puniendi) do Estado.
sensual representa a sociedade como rela- 6. Se na primeira modernidade são
tivamente estável e bem integrada e cujo os teóricos do contrato que forjam as pers-
funcionamento se funda no consenso da pectivas jurídicas consensuais, no campo
maioria em relação a certos valores gerais. sociológico sua consolidação acontece a
No que diz respeito às relações entre in- partir das perspectivas funcionalistas na tra-
divíduo e autoridade, lei e sociedade, Pa- dição que se desdobra com Durkheim, Mer-
varini enfatiza que os princípios de fundo ton e Parsons.
deste modelo podem ser sintetizados em Contrapõem-se, porém, às teorias
três perspectivas: (a) a lei reflete a vonta- do consenso as teorias do conflito e o inte-
de coletiva: se os membros da sociedade se racionismo simbólico. Aliás, é importante
encontram de acordo sobre as definições de registrar que estas três distintas tradições

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sociológicas irão impactar diretamente a líbrio permanente entre os grupos sociais,


construção das principais vertentes teóricas inexistindo o igual tratamento e a recipro-
na criminologia no século passado (teorias cidade nas relações sociais” (Sabadell,
liberais-funcionalistas, teoria do etiqueta- 2010:160).
mento e criminologia crítica). No clássico aforismo de Marx e En-
Ao rejeitar a hipótese de que a so- gels, na abertura do “Manifesto do Parti-
ciedade representa uma totalidade orgânica, do Comunista”, o conflito entre as classes
harmônica e consensual, na qual os desvios constitui-se como o fato propulsor da mu-
são fatos ocasionais que permitem, através dança e do desenvolvimento histórico – “a
das sanções, a recomposição da ordem vio- história de toda a sociedade até agora exis-
lada e o reforço dos valores compartilha- tente é a história de luta de classes.” (Marx
dos, as teorias do conflito enfatizam temas & Engels, 1975:59). Os valores sociais for-
relativos a desigualdades sociais, políticas malizados nas leis não seriam, pois, a ra-
e econômicas e a questões concernentes à tificação natural de um pacto ao qual todo
disputa pelo poder e à institucionalização da corpo social adere voluntariamente, mas a
autoridade. consolidação dos valores da classe que con-
Os comportamentos disfuncionais quistou o poder e que, através dos mecanis-
(crimes, desvios), portanto, não seriam pro- mos burocráticos do Estado, procura nele se
blemas isolados, situações episódicas pro- eternizar.10
vocadas por uma minoria de sujeitos ou de No campo da criminologia, no que
grupos sociais que não de adequam às re- tange às questões relativas ao crime, à cri-
gras e aos valores universalmente aceitos. minalidade e ao controle social, a crítica
Os conflitos emergem como disputas de que emerge com as teorias do controle –
classes pelo poder político e econômico na conjuntamente com as teorias do etiqueta-
constituição e na manutenção das socieda- mento fundadas no interacionismo simbó-
des industriais (capitalistas). Nos termos de lico – permite perceber a redução que as
Sabadell, “(...) as teorias do conflito partem teorias funcionalistas realizam ao interpre-
da existência de grupos sociais desiguais tar as questões criminal e penal. Nos mo-
com interesses divergentes e consideram delos consensuais, o delito (a criminali-
o controle social institucionalizado como dade) será percebido como um ato isolado
meio de garantia das relações de poder. de uma minoria disfuncional, explicado a
Tais relações são sempre assimétricas. Em partir de um processo causal (etiológico)
outras palavras, constata-se um desequi- que o vincula aos problemas de socializa-

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Sobre as Possibilidades de uma Penologia Crítica: Provocações Criminológicas...

ção (broken homes theories, p. ex.), às con- estruturais e institucionais de (re)produção


dições de vida em determinadas áreas (hi- da violência (Carvalho, 2013), tensionando
póteses ecológicas, p. ex.), aos elos que se a desigual relação entre autoridade e indi-
estabelecem com outras pessoas ou grupos víduo. O giro paradigmático proporcionado
desviantes (teorias da associação diferen- pela crítica no pensamento criminológico
cial e das subculturas criminais, p. ex.) ou do século passado permite renunciar cate-
às tensões, frustrações ou traumas que são goricamente o fundamento consensual da
gerados na estrutura social (hipóteses anô- punição e, consequentemente abdicar da
micas, p. ex.). Em sentido oposto, os teóri- percepção da sanção penal como um direi-
cos do conflito destacarão os processos de to exercido pelo Estado na representação da
criminalização, ou seja, enfatizarão as rela- sociedade lesada (direito de punir), enfati-
ções de poder que permitem que determi- zando a pena como um ato de poder exer-
nadas condutas sejam consideradas delito, cido pelas agências do sistema penal (poder
as questões relativas ao controle social que punitivo).
facilitam que determinadas classes sejam 7. Mudar o fundamento da punição,
imunizadas da incidência repressiva das assumindo a pena como uma manifestação
agências punitivas e as condições sócio-po- concreta do poder punitivo no marco de
líticas e econômicas que tornam certas pes- sociedades conflitivas e heterogêneas, traz
soas ou grupos sociais vulneráveis à vio- significativas implicações teóricas à peno-
lência do sistema penal. Ademais, a crítica logia. Em primeiro plano, significa rejeitar
às teorias do consenso permite perceber a todos os modelos tradicionais de justifica-
natureza estática do funcionalismo na in- ção – teorias absolutas (retributivas), relati-
terpretação dos fenômenos desviantes, em vas (preventivas) e ecléticas; em segundo,
decorrência de congelar como imagem ou implica em reconhecer que os novos mo-
tipo ideal do delito uma determinada espé- delos de justificação – teoria do justo mere-
cie de crime, mais especificamente os cri- cimento, teoria do cálculo racional, teorias
mes contra o patrimônio privado praticados funcionalistas sistêmicas, teorias neocorre-
pelo lumpemproletariado, a partir da uni- cionalistas e, inclusive, a teoria garantista
versalização de valores de uma respectiva (utilitarismo reformado) (Carvalho, 2013)
classe social.11 – representam apenas a revitalização das
A partir do legado das teorias do eti- grandes narrativas penológicas da Moder-
quetamento e do conflito, a criminologia nidade, em sua integralidade fundadas nos
crítica direcionará seu foco para as formas modelos consensuais. Exatamente por isso,

Rev. Polis e Psique, 2013; 3(3):143-164 | 155


Carvalho, S.

a dogmática penal pouco avança no sentido pectiva, “(...) não constitui fenômeno de
de uma ruptura radical com os sentidos da sobrevivência histórica de vingança retalia-
punição na contemporaneidade. Ruptura ne- tória, nem resquício metafísico de expiação
cessária em razão do dano genocida produ- ou compensação da culpabilidade” (San-
zido pelo punitivismo nas últimas décadas. tos, 2005:19) –, procura demonstrar como
A condição de possibilidade de a pena criminal, sobretudo a partir dos pro-
uma penologia crítica pressupõe, portan- cessos de industrialização, tem correspondi-
to, abdicar das tradicionais teorias da pena do aos fundamentos materiais e ideológicos
e, seguindo a perspectiva da criminologia dos sistemas econômicos fundados na rela-
crítica12, integrar os legados das teorias do ção capital/trabalho assalariado. A respos-
etiquetamento e das teorias do conflito para ta punitiva do Estado, portanto, representa
consolidar um corpo teórico capacitado para uma equivalência jurídica derivada das rela-
(a) compreender e denunciar o fenômeno da ções de produção existentes nas sociedades
punição desde as perspectivas da violência capitalistas contemporâneas.
institucional (atuação das agências do siste- O modelo de retribuição equivalen-
ma penal) e da violência estrutural (simbio- te, proposto por Pasukanis (Teoria Geral do
se entre estrutura política e controle social) Direito e Marxismo, 1926), e desenvolvido
(pauta negativa) e (b) promover ações con- posteriormente por Rusche e Kirchheimer
cretas para a redução dos danos causados (Pena e Estrutura Social, 1939), demonstra
pelo punitivismo e para a superação da lógi- que a pena desempenha uma função central
ca carcerária (pauta positiva). na manutenção dos sistemas de exploração
Neste sentido, duas construções teó- e de exclusão social. Conforme Juarez Ci-
ricas superam os fundamentos consensuais rino dos Santos, se a estrutura material das
da pena e projetam perspectivas penológi- relações econômicas no capitalismo é base-
cas críticas: (a) a teoria da retribuição equi- ada no princípio da retribuição equivalente
valente; e (b) a teoria agnóstica da pena. em todos os níveis da vida (trabalho-salá-
7.1. A teoria da retribuição equiva- rio, mercadoria-preço, p. ex.), “no âmbito
lente, desenvolvida a partir de uma críti- da responsabilidade penal, a retribuição
ca materialista/dialética da pena criminal, equivalente é instituída sob forma da pena
procura revelar a natureza real ou latente privativa de liberdade, como valor de troca
da retribuição nas sociedades capitalistas. do crime medido pelo tempo de liberdade
Centrada em premissas distintas do mode- suprimida” (Santos, 2005:21). Na constru-
lo clássico de retribuição – pois, nesta pers- ção de Pasukanis, “a privação de liberdade

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Sobre as Possibilidades de uma Penologia Crítica: Provocações Criminológicas...

com uma duração determinada através da sante perceber como as questões criminal e
sentença do tribunal é a forma específica penal são atualmente ressignificadas neste
pela qual o Direito Penal moderno, ou seja, desdobramento cultural do sistema econô-
burguês-capitalista, concretiza o princípio mico, que é a sociedade de consumo. A ló-
da reparação equivalente (...). Para que a gica do consumo excessivo de bens, aliada à
ideia da possibilidade de reparar o delito intensa exploração da violência pela grande
através de uma multa pela liberdade tenha mídia (agências de notícia e indústria do en-
podido nascer, foi necessário que todas as tretenimento), criou uma cultura de puniti-
formas concretas da riqueza social tivessem vidade na qual o crime, a pena e a prisão
sido reduzidas à mais abstrata e mais sim- foram transformados em produtos. O crime,
ples das formas, ao trabalho humano medi- a pena e a prisão não serão apenas produtos
do pelo tempo” (Pasukanis, 1988:130).13 (consequências) de uma cultura que goza
A perspectiva da retribuição equi- com a punição; mas representarão, em si
valente permite compreender a instrumen- mesmos, produtos (commodities) para con-
talidade da pena nas conflitivas sociedades sumo, mercadorias comercializadas como
capitalistas industriais, sobretudo o papel bens.14
latente da prisão na regulação do mercado 7.2. A teoria agnóstica (ou nega-
de trabalho através do controle do exceden- tiva) da pena nega qualquer espécie de
te da força de trabalho (Rusche e Kirchhei- justificação jurídica da sanção, conce-
mer) e na disciplinarização da mão de obra bendo a punição como uma manifestação
com a criação de um exército industrial de concreta do poder político. A metáfora da
reserva formado por corpos dóceis (Fou- pena como guerra, no preciso resgate de
cault). A concepção materialista/dialética Tobias Barreto realizado por Zaffaroni
possibilita, inclusive, atualizar os signifi- (1993; 1997), cria uma imagem da sanção
cados da punição nos sistemas capitalistas penal totalmente distinta daquela perspec-
neoliberais, nos quais o encarceramento tiva idílica na qual os cidadãos deliberam
massivo adquire uma função específica de livremente sobre a necessidade de punir
controle das massas dissidentes e/ou exce- para manter íntegro o pacto social. O fun-
dentes através da segregação, da neutraliza- damento da teoria agnóstica, portanto, é
ção e da exclusão. identificado com o mais radical dos con-
Mas para além destas funções espe- flitos, ou seja, com uma situação de guerra
cíficas desempenhadas nas versões do ca- na qual todos os direitos são suspensos e a
pitalismo industrial e neoliberal, é interes-

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Carvalho, S.

violência adquire uma intensidade incon- sentido de redução da potentia punitiva (po-
trolável. testas puniendi).
Ao deslocar o fundamento da pena 8. A dogmática jurídica, conforme
do jurídico (direito de punir) para o político foi possível perceber nos discursos funda-
(poder de punir), o modelo agnóstico evi- mentadores e justificadores da pena, atuou,

dencia a função primeira da punição, que ininterruptamente, como um discurso de ra-

é o exercício do controle social, presentifi- cionalização do poder de punir. Exatamente

cando o Estado através da concretização do por esse motivo, mesmo as teorias da pe-

poder em formas programadas de violência. nas que se autoproclamam liberais ou ga-


rantistas pouco conseguiram em termos de
Trata-se, pois, de um fenômeno incancelá-
efetividade na contração do arquipélago pu-
vel que, nas sociedades atuais, passa a ser
nitivo. A armadilha da fundamentação con-
relegitimado cotidianamente pelas ações
sensualista impede superar a ideia da pena
político-criminais populistas, situação que
como um direito (natural) do Estado contra
aponta para uma densificação dos níveis de
o infrator que, no limite, é transformado em
encarceramento.
um pária ou um inimigo a ser eliminado
Assim, como consequência do re-
com o objetivo de garantir a ‘paz’ e a ‘se-
conhecimento do fundamento político da
gurança’.
pena, da sua função instrumental de contro-
Ao final, a questão que surge da
le e da impossibilidade de o fenômeno puni-
discussão é sobre a capacidade crítica da
tivo ser cancelado, a teoria negativa percebe
dogmática jurídica em transpor este modelo
a sanção criminal “(...) como um fenômeno
e construir novos referenciais para uma atu-
da realidade que necessita ser contido (te-
ação ética voltada para a redução das vio-
leologia redutora) em razão de sua pulsão
lências (públicas e privadas).
violenta (tendência ao excesso)” (Carvalho, Juarez Cirino dos Santos, frente à
2013a:149). realidade letal do sistema punitivo, indaga:
A partir da demonstração empírica “por que fazer dogmática penal?” Ensina
da seletividade do sistema penal e da vulne- que o tipo de ação dependerá, inexoravel-
rabilidade de determinadas pessoas e grupos mente, do critério que informa o trabalho
à criminalização, esta constante tensão entre do ator jurídico: “fazer dogmática penal
Estado de polícia (poder de coação direta) como critério de racionalidade do sistema
e Estado de direito (limitação do poder) in- punitivo significa assumir o ponto de vista
duz que sejam projetadas ações positivas no do poder repressivo do Estado no processo

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Sobre as Possibilidades de uma Penologia Crítica: Provocações Criminológicas...

de criminalização e de marginalização do do Prof. Massimo Pavarini, intitulada


mercado de trabalho e da pobreza social, “Esecuzione delle Pene e dele Misure di
em geral; ao contrário, fazer dogmática Sicurezza nel Diritto Penale Brasiliano”,
penal como sistema de garantias em face financiada pelo Conselho Nacional de
do poder punitivo do Estado, no sentido de Pesquisa (CNPq).
conjunto de conceitos capazes de excluir ou 2
Baratta (1997), ao configurar a
reduzir o poder de intervenção do Estado criminologia crítica como crítica ao direito
na esfera da liberdade individual – e, por- penal, postula a construção da sociologia
tanto, capazes de impedir ou de amenizar do direito penal, cujo objeto corresponde
o sofrimento humano produzido pelas de- a três categorias de comportamentos:
sigualdades e pela seletividade do sistema “a sociologia jurídico penal estudará,
penal – constitui tarefa científica de gran- pois, em primeiro lugar, as ações e
de significado democrático nas sociedades os comportamentos normativos que
contemporâneas” (Santos, 2005:38). consistem na formação e na aplicação
Frente à dura realidade do controle de um sistema penal dado; em segundo
social punitivo contemporâneo e às conse- lugar, estudará os efeitos do sistema penal
quentes dificuldades em propor reais alter- entendido como aspecto ‘institucional’ da
nativas às sanções penais – alternativas que reação ao comportamento desviante e do
não sejam incorporadas pela lógica prisio- correspondente controle social. A terceira
nal e imediatamente transformadas em adi- categoria de ações e comportamentos
tivos –, a perspectiva redutora parece ser abrangidos pela sociologia jurídico-penal
uma estratégia viável para evitar o imobi- compreenderá, ao contrário (a) as reações
lismo e salvar o máximo de vidas possíveis não-institucionais ao comportamento
dentre aquelas sequestradas pela máquina desviante, entendidas como um aspecto
carcerária. integrante do controle social do desvio, em
concorrência com as reações institucionais
estudadas nos dois primeiros aspectos e
Notas (b) em nível de abstração mais elevado,
as conexões entre um sistema penal dado
1
O artigo apresenta os resultados parciais e a correspondente estrutura econômico-
da pesquisa de Pós-Doutorado realizado na social” (Baratta, 1997:23).
Scuola di Giurisprudenza, Università degli
3
“As leis se expressam através de palavras,
Studi di Bologna (ITA), sob a orientação mas o fazem em um mundo onde ocorrem

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Carvalho, S.

fenômenos físicos, sociais, culturais, crime, que era considerado como um dado
econômicos, políticos etc., em permanente social e não criação do próprio poder
mudança, em uma realidade que flui político” (Prado, 2011:26).
continuamente, protagonizada por pessoas 6
“O Estado, como expressão da sociedade,
que interagem e se comportam conforme está legitimado para reprimir a criminalidade,
certos conteúdos psicológicos. Todas estas da qual são responsáveis determinados
coisas são reais e sucedem deste modo e não indivíduos, por meio de instâncias oficiais
de outro, e as leis devem ser interpretadas de controle social (legislação, polícia,
neste mundo e não em outro que não existe. magistratura, instituições penitenciárias).
O impossível é neste mundo, tanto por Estas interpretam a legítima reação da
razões sociais como físicas. Se é impossível sociedade, ou da grande maioria dela,
caminhar sobre a água, igualmente é dirigida à reprovação e condenação do
ressocializar o preso” (Zaffaroni, Alagia & comportamento desviante individual e
Slokar, 2006:77). reafirmação dos valores e das normas
4
Sobre os equívocos da reiteração da punição sociais” (Baratta, 1997:42).
como solução ao problema da violência, 7
Embora em momento imediatamente
importantes as reflexões de Jacinto Coutinho posterior o autor conclua que os conceitos
a partir da posição de Stippel (Coutinho, de fundamento e de função não sejam
2013). coincidentes e que seja necessária a
5
A partir de Bourdieu, Geraldo Prado comprovação da utilidade da pena – “a
sustenta que é necessário escapar às função [retribuição ou prevenção] é, pois,
tentações narcotizantes da “ciência pura” a base do fundamento, mas ambos os
(alheias às necessidades sociais) e da conceitos não coincidem, pois o fundamento
“ciência escrava” (submetida às demandas tem que provar a necessidade da função”
político-econômicas). Exatamente por isso (Mir Puig, 2003:98) – acaba por designar à
procura problematizar os pontos de partida criminologia a verificabilidade empírica dos
não como dados, mas como construções. No objetivos da pena atribuídos pela dogmática
direito penal, um dos principais será o delito penal.
– “as teorias penais surgiram nos séculos Assim, o discurso do direito penal só
XIX e XX para legitimar o funcionamento aparentemente vincula sua construção teóri-
do sistema criminal, conforme o discurso ca com a realidade do sistema punitivo, pois
da modernidade, não problematizando no não apenas delega a análise da vida fenomê-
início um dos seus elementos principais, o nica à criminologia como, na maioria das

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Sobre as Possibilidades de uma Penologia Crítica: Provocações Criminológicas...

vezes, invocando a Lei de Hume, descarta pela ideia de pretensão acusatória. Nas
seus resultados na edificação dos seus siste- palavras do autor, “é equivocado falarmos,
mas. Desta forma, mesmo que de forma não no Estado Democrático de Direito, numa
explícita, o real funcionamento das agências suposta pretensão punitiva do Estado
do sistema penal é inescrupulosamente ex- surgida no momento em que um crime é
cluído das problematizações dogmáticas. praticado. Isso porque, em primeiro lugar, a
8
Ensina Lyra Filho que a contestação da notícia da prática de um caso penal não faz
ordem aristocrático-feudal pela burguesia surgir, desde já, para o Estado, o ‘direito’
ocorreu através da reivindicação de um (subjetivo) ou ‘dever’ de punir o suposto
jusnaturalismo de cunho antropológico, que infrator, mas sim o dever fundamental de
gira em torno do homem, em contraposição movimentar a jurisdição criminal segundo
ao de caráter teológico, voltado a Deus. a estrutura operacional determinada na
A nova classe político-econômica “(...) Constituição e limitada por ela mesma. Por
recorreu, então, à forma de direito natural, enquanto, o máximo que se poderia falar,
que denominamos antropológico, isto é, do nas palavras de Aury Lopes Júnior, é em
homem, que extraía os princípios supremos pretensão acusatória ou persecutória do
de sua própria razão, de sua inteligência. Estado, devidamente resistida pelo direito
Estes princípios, e de novo não por mera de liberdade do acusado assegurado na
coincidência, eram, evidentemente, os que garantia de presunção de inocência. Esta
favoreciam as posições e reivindicações da afirmação é complementada por outra,
classe em ascensão – a burguesia – e das de natureza organizacional: o monopólio
nações em que capitalismo e protestantismo da jurisdição faz recair sobre um órgão
davam as maõs para a conquista do seu do Estado o dever de iniciar a persecução
‘lugar ao sol’” (Lyra Filho, 1991:42). penal (princípio da obrigatoriedade);
9
Neste sentido, importante a revisão a outro órgão, o dever de decidir sobre
realizada por Schmidt, na qual, a partir de a matéria objeto do processo (princípio
Antolisei (na crítica à doutrina clássica do da jurisdicionalidade); e, por fim, a um
direito subjetivo do Estado) e, posteriormente terceiro, a tarefa de defender o acusado
Ferrajoli (na definição dos pressupostos de (princípio da ampla defesa). Nessa etapa
validade das normas jurídicas a partir dos do processo de conhecimento teríamos de
direitos fundamentais), a ideia de pretensão falar (impropriamente, frise-se), então,
punitiva do Estado (e, consequentemente, em ‘pretensão’ acusatória, ‘pretensão’
de jus puniendi) é refutada e substituída

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Carvalho, S.

decisória e ‘pretensão’ defensiva” (Schmidt, comportamentos delitivos como uma via


2003: 94). alternativa para logras tais êxitos” (Larrauri
10
No Manifesto do Partido Comunista e Cid, 2001:145).
(1848), texto seminal para a percepção dos Em relação a relatividade do conceito
conflitos de classe na disputa pelo poder de sociedade competitiva, a ingênua fé nas
político e do papel (revolucionário) da regras do jogo, os limites teóricos das teorias
burguesia na dilaceração do mundo feudal consensuais, a absolutização da ideologia
e na edificação do Estado moderno, Marx e da classe média e o equívoco relativo ao
Engels referem que “o executivo do Estado conceito de subcultura, fundamental a
moderno não é mais do que uma comissão contribuição crítica de Pavarini (1988).
para administrar os negócios comuns de 12
Se a teoria do etiquetamento promoveu a
toda a classe burguesa” (Marx e Engels, superação da categoria criminalidade pela
Manifesto Comunista, p. 62). Mas se toda a ideia de criminalização e o reconhecimento
luta é luta de classe; e se toda a luta de classe é da seletividade do sistema penal a partir da
uma luta política, “as leis, a moral, a religião crítica das estatísticas criminais, as teorias do
são outros tantos preceitos burgueses em conflito desnudaram as relações de poder que
que se acoitam outros tantos preceitos influenciam os processos de criminalização
burgueses. Todas as classes anteriores que e a natureza política do direito penal. Não
se apoderaram do poder procuram proteger por outro motivo, consolidam a base teórica
uma posição social já alcançada, e para tal da criminologia crítica – “a criminologia
submeteram toda a sociedade às condições crítica emerge, portanto, como uma
do seu lucro.” (Marx e Engels, 1975: 72). perspectiva criminológica orientada pelo
11
A redução da percepção do crime como atos materialismo (método) que, ao incorporar
delitivos das classes baixas e a vinculação dos os avanços das teorias rotulacionistas e
valores sociais homogêneos aos interesses da conflituais, refuta os modelos consensuais
burguesia industrial das sociedades capitalistas de sociedade e os pressupostos causais
são nítidas na crítica às teorias da anomia e explicativos da criminalidade de base
das subculturas. Larrauri e Cid demonstra microssociológica (criminologia ortodoxa)
que “(...) a teoria da anomia serve apenas e redireciona o objeto de investigação aos
para explicar um setor da delinquência: a processos de criminalização, à atuação das
delinquência das pessoas de classe baixa que agências do sistema penal e, sobretudo, às
tem bloqueadas ou reduzidas as vias legítimas relações entre estrutura política e controle
para alcanças suas aspirações e que realizam social” (Carvalho, 2013b:286).

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Sobre as Possibilidades de uma Penologia Crítica: Provocações Criminológicas...

vi
Pasukanis (1988) desenvolve, igualmente, Batista, Vera. Introdução Crítica à
importante crítica às tradicionais teorias da Criminologia Brasileira. Rio de
pena e o desdobramento politico da teoria da Janeiro: Revan, 2011.
retribuição equivalente. Carvalho, Salo. Penas e Medidas de
13
É possível notar que a indústria cultural Segurança no Direito Penal
transformou a violência em um rentável Brasileiro. São Paulo: Saraiva,
produto de entretenimento que se encontra 2013a.
presente em uma série incontável de mídias Carvalho, Salo. Criminologia Crítica:
(rádio, cinema, televisão, jornais, games, dimensões, significados e
internet), inclusive em forma de arte perspectivas atuais in Revista
(música, filmes, literatura, artes plásticas, Brasileira de Ciências Criminais, v.
fotografia, quadrinhos, publicidade). Neste 104, 2013b.
sentido, percebem Hayward e Young que “o Christie, Nils. A Indústria do Controle do

crime é embalado e comercializado para os Crime. Rio de Janeiro: Forense,

jovens como um romântico, emocionante, 1998.

cool e fashion símbolo cultural. E neste Coutinho, Jacinto. Punitivismo Desmedido

contexto a transgressão torna-se opção de e Ideológico (a posição de Jorg

consumo desejável” (Hayward & Young, Stippel) in BUSATO, Paulo César

2007:109). (coord.). Questões Atuais do Sistema

Mas se o delito é transformado em um Penal: estudos em homenagem ao

produto de consumo, a resposta ao crime professor Roncaglio. Rio de Janeiro:


Lumen Juris, 2013.
(pena) e as suas instituições igualmente são
Ferrajoli, Luigi. Diritto e Ragione: Teoria
convertidas em mercadorias. Em relação à
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