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PROVA DE EXAME - ENSINO SECUNDÁRIO RECORRENTE

(Portaria 242/2013)
ÉPOCA DE JANEIRO/2019

DISCIPLINA DE PORTUGUÊS | Módulos 4,5 e 6


Duração: 135 minutos

Grupo I

A
Leia, atentamente, o seguinte texto:

Jorge, Madalena

Madalena (falando ao bastidor) – Vai, ouves, Miranda? Vai e deixa-te lá estar até veres chegar o bergantim; e quando
desembarcarem, vem-me dizer para eu ficar descansada. (Vem para a cena) Não há vento, e o dia está lindo. Ao menos não
tenho sustos com a viagem. Mas a volta… quem sabe? O tempo muda tão depressa…

Jorge – Não, hoje não tem perigo.

Madalena – Hoje… hoje! Pois hoje é o dia da minha vida que mais tenho receado… que ainda temo que não acabe sem
muito grande desgraça… É um dia fatal para mim: faz hoje anos que… que casei a primeira vez – faz anos que se perdeu el-
rei D. Sebastião – e faz anos também que… vi pela primeira vez a Manuel de Sousa.

Jorge – Pois contais essa entre as infelicidades da vossa vida?

Madalena – Conto. Este amor – que hoje está santificado e bendito no Céu, porque Manuel de Sousa é meu marido
começou com um crime, porque eu amei-o assim que o vi… e quando o vi, hoje, hoje… foi em tal dia como hoje! – D. João
de Portugal ainda era vivo! O pecado estava-me no coração; a boca não o disse… os olhos não sei o que fizeram; mas
dentro da alma eu já não tinha outra imagem senão a do amante… já não guardava a meu marido, a meu bom… a meu
generoso marido… senão a grosseira fidelidade que uma mulher bem nascida quase que mais deve a si do que ao esposo.
Permitiu Deus… quem sabe se para me tentar?… que naquela funesta batalha de Alcácer, entre tantos, ficasse também D.
João.

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa, Ato II,

Cena X

1. Situe o excerto na estrutura interna da obra.

2. Relacione o estado de espírito de D. Madalena com a referência obsessiva da personagem ao «hoje».

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B
Leia o texto apresentado.

No verão, Pedro partiu para Sintra; Afonso soube que os Monfortes tinham lá alugado uma casa. Dias depois o Vilaça apareceu
em Benfica, muito preocupado: na véspera Pedro visitara-o no cartório, pedira-lhe informações sobre as suas propriedades,
sobre o meio de levantar dinheiro. Ele lá lhe dissera que em setembro, chegando à sua maioridade, tinha a legitima da mamã...
− Mas não gostei d'isto, meu senhor, não gostei d'isto...
− E porquê, Vilaça? O rapaz quererá dinheiro, quererá dar presentes à criatura... O amor é um luxo caro, Vilaça.
− Deus queira que seja isso, meu senhor, Deus o ouça!
E aquela confiança tão nobre de Afonso da Maia no orgulho patrício, nos brios de raça de seu filho, chegava a tranquilizar
Vilaça.
Daí a dias, Afonso da Maia viu enfim Maria Monforte. Tinha jantado na quinta do Sequeira ao pé de Queluz, e tomavam ambos
o seu café no mirante, quando entrou pelo caminho estreito que seguia o muro a caleche azul com os cavalos cobertos de
redes. Maria, abrigada sob uma sombrinha escarlate, trazia um vestido cor-de-rosa cuja roda, toda em folhos, quase cobria os
joelhos de Pedro sentado ao seu lado: as fitas do seu chapéu, apertadas num grande laço que lhe enchia o peito, eram também
cor-de-rosa: e a sua face, grave e pura como um mármore grego, aparecia realmente adorável, iluminada pelos olhos de um
azul sombrio, entre aqueles tons rosados. No assento defronte, quase todo tomado por cartões de modista, encolhia-se o
Monforte, de grande chapéu panamá, calça de ganga, o mantelete da filha no braço, o guarda-sol entre os joelhos. Iam
calados, não viram o mirante; e, no caminho verde e fresco, a caleche passou com balanços lentos, sob os ramos que roçavam
a sombrinha de Maria. O Sequeira ficara com a chávena de café junto aos lábios, de olho esgazeado, murmurando:
− Caramba! É bonita!
Afonso não respondeu: olhava cabisbaixo aquela sombrinha escarlate que agora se inclinava sobre Pedro, quase o escondia,
parecia envolvê-lo todo − como uma larga mancha de sangue alastrando a caleche sob o verde triste das ramas.
Eça de Queirós, Os Maias, Porto: Porto Editora, (cap. II), 2014, p. 70.

3. Explicite o estado de espírito de Afonso da Maia.


4. Indique três indícios do desenlace trágico da paixão de Pedro por Maria Monforte

Leia o seguinte poema.

I
De tarde

Mais morta do que viva, a minha companheira


Nem força teve em si para soltar um grito;
E eu, nesse tempo, um destro e bravo rapazito,
Como um homenzarrão servi-lhe de barreira!

Em meio de arvoredo, azenhas e ruínas,


Pulavam para a fonte as bezerrinhas brancas;
E, tetas a abanar, as mães, de largas ancas,
Desciam mais atrás, malhadas e turinas.

Do seio do lugar - casitas com postigos -


Vem-nos o leite. Mas batizam-no primeiro.
Leva-o, de madrugada, em bilhas, o leiteiro,
Cujo pregão vos tira ao vosso sono, amigos!

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Nós dávamos, os dois, um giro pelo vale:
Várzeas, povoações, pegos, silêncios vastos!
E os fartos animais, ao recolher dos pastos,
Roçavam pelo teu "costume de percale".

Já não receias tu essa vaquita preta,


Que eu seguirei, prendi por um chavelho? Juro
Que estavas a tremer, cosida com o muro,
Ombros em pé, medrosa, e fina, de luneta!

Cesário Verde, Cânticos do Realismo e Outros Poemas, Lisboa: Relógio d’Água, 2006, p.125.

1 ágil. 2 raça de gado bovino. 3 adicionam-lhe água. 4 anúncio publico feito em voz alta. 5 sítios fundos dos rios. 6 fato de algodão. 7
chifre.

5. Resuma o pequeno episódio evocado no poema.

6. Analise a relação que se estabelece no texto entre o presente e o passado .

Grupo II

Louvor de Garrett

Duzentos anos depois do nascimento do escritor, António Mega Ferreira fez, no PÚBLICO, o
elogio da sua obra.

Há coisas que o meio ambiente, o tempo histórico, o local onde estudamos nos dão e que nos marcam
para sempre. Entre as muitas coisas novas e diferentes que então se praticavam no Pedro Nunes, havia um
grupo de teatro. (…)
Aí – ou nas aulas de Português, mas é natural que ambas as experiências, a teatral e a literária, se tenham
complementado – devo ter caído na “poção mágica” do Romeiro de Frei Luís de Sousa. Li o texto pela primeira
vez quando tinha 13 ou 14 anos – e ainda não me refiz do fascínio inicial, aumentado pelas muitas releituras,
não sei quantas representações teatrais, filmes e telefilmes. Aquele Romeiro, aquela “ameaça” à normalidade
feliz do triângulo Maria-Madalena-Manuel de Sousa Coutinho, foi para mim uma fonte de mistério, o sinal de
uma coisa que mais tarde, muito mais tarde, reconheceria como “desassossego” (O Livro do dito, convém que
se recorde, só foi conhecido em 1982). (…)
De forma evidentemente não consciente, o que o “Ninguém” do Romeiro me deixava entrever é que, para
lá do dito, do explícito, havia – há – no texto literário um amplo espaço de indeterminação, o espaço do
mistério, de um segredo que nos cabe adivinhar ou (o que é ainda melhor) simplesmente reconhecer. (…)
Nessa altura, eu não sabia que algum fundo de verdade histórica existia naquele punhado de retratos
apenas esboçados por Garrett. É claro que só muito mais tarde descobri em Manuel de Sousa Coutinho o
soberbo prosador, cuja vida se dividiu entre a aventura e a literatura, a esta tendo legado a magistral Vida de
Dom Frei Bartolomeu dos Mártires.
Quer dizer que, naquela indecisão histórica que a figura do Romeiro vem transformar em autêntica
tragédia, eu pressentia a vibração de uma outra literatura, uma literatura que não se esgotava na aparência
da sua imaginária “perfeição”, porque os textos literários nos eram dados como coisas finais, definitivas. Ora,
o Frei Luís de Sousa foi, para mim, nessa altura, o primeiro texto “aberto” que me era dado ler: o “suspense”,
a emoção, o desconcerto, o excesso emocional, tudo estava lá, ou, pelo menos, tudo eu imaginava lá figurar.
(…)
O espaço de representação de Frei Luís de Sousa é atravessado por um vendaval permanente: ninguém
está bem naquele lugar, ninguém está bem no seu papel e, por isso, Manuel de Sousa acaba por incendiar
aquela casa, como se com isso quisesse exorcizar pelo fogo a causa de toda a inquietude. (…)

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Frei Luís de Sousa é o livro do desassossego português, antes de ser drama histórico, narrativa amorosa
ou tragédia sebastiana. Todas as personagens vivem um mal-estar, cuja causa difusa, corporizada no fantasma
de D. João de Portugal, é, afinal de contas, “ninguém”. E qual de nós pode dizer que nunca se sentiu, ainda
que por instantes, prisioneiro deste desejo de não ser, neste momento em que existe? “Eu só estou bem onde
não estou”, lembram-se? E é preciso ler Frei Luís de Sousa em voz alta, para ouvir o eco que o silêncio entre
as palavras nos envia – ou a música que faria da obra-prima de Garrett a ópera portuguesa por excelência.
Sei hoje – e sei dizê-lo – porque é que o Frei Luís de Sousa foi tão importante para mim: a partir daí, a
literatura passou a ser, aos meus olhos, o terreno onde se desenhava o risco dos limites e a experiência do
indivisível. Com Garrett comecei a aprender o que quer dizer, literariamente, ser moderno.
António Mega Ferreira, Público, 8 de fevereiro de 1999.

1.1. A expressão “poção mágica” (l. 7) significa, neste contexto,


(A) remédio milagroso.
(B) bebida que tem propriedades mágicas ou de cura.
(C) o encantamento pela personagem.
(D) o medo da personagem.

1.2. A famosa resposta do Romeiro pressupõe


(A) o reconhecimento de um segredo.
(B) o desprezo pela vida humana.
(C) a ideia de vingança.
(D) a sua longa ausência.

1.3. Frei Luís de Sousa permitiu a Mega Ferreira


(A) estrear-se no teatro.
(B) dar largas à sua imaginação.
(C) ler uma obra proibida.
(D) ver os retratos da peça.

1.4. Frei Luís de Sousa contribui para


(A) a constante inquietação de Mega Ferreira.
(B) a composição de uma ópera portuguesa.
(C) a opacidade da literatura.
(D) o desenvolvimento da leitura em voz alta.

1.5. O texto de Mega Ferreira


(A) apresenta características de uma apreciação crítica sobre uma obra literária.
(B) tem características de um artigo científico.
(C) tem marcas de um discurso político.
(D) pode ser classificado como um texto de opinião.

1.6. A primeira frase do texto é constituída por


(A) uma única oração.
(B) uma oração subordinante e uma subordinada substantiva completiva.
(C) duas orações coordenadas.
(D) uma oração subordinante e uma subordinada adverbial temporal.

1.7. A palavra sublinha na frase “Sei hoje ‒ e sei dizê-lo ‒ porque é que o Frei Luís de Sousa foi tão
importante (…)” (l. 31) permite um mecanismo de
(A) coesão lexical.
(B) coesão referencial.
(C) coesão frásica.
(D) coesão interfrásica.

2.1. Indique o antecedente do advérbio “Aí” (l. 6).


2.2. Classifique a oração subordinada presente na frase “Nessa altura, eu não sabia que algum fundo
de verdade histórica existia naquele punhado de retratos apenas esboçados por Garrett.” (ll.16-17)

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2.3. Na frase “E é preciso ler Frei Luís de Sousa em voz alta, para ouvir o eco (…)” (ll.28-29), identifique
a função sintática da expressão sublinhada.

Grupo III
Escrita

O ideal de beleza feminino é uma construção social que varia de época para época. Atualmente, as figuras
femininas excessivamente magras que dominam os circuitos da moda poderão funcionar como padrão de
beleza para personalidades menos estruturadas e fomentar comportamentos miméticos que resultem em
situações como a anorexia e a bulimia.

Redija um texto de opinião, de duzentas e cinquenta a trezentas palavras, sobre a influência dos
modelos de beleza que prevalecem atualmente na nossa sociedade.

Para fundamentar o seu ponto de vista, recorra a dois argumentos, ilustrando cada um deles com um
exemplo concreto e significativo.

Observações:

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando
esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.: /2016/).

2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre cento e vinte e cento e cinquenta palavras –, há que atender ao
seguinte:
 um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
 um texto com extensão inferior a oitenta é classificado com zero pontos.

FIM

COTAÇÕES

GrupoI ……………………………………….................................................................................110
pontos
Texto A
1. ……………………………………………………………………..........20 pontos
2. ….….……………………………..……………………………………..20 pontos
Texto B
3. ...................…………………………………………………..………20 pontos
4. ..................................................................................... 20 pontos
Texto C
5. ...................…………………………………………………..………15 pontos
6. ..................................................................................... 15 pontos
GrupoII………………………………….........................................................................................5
0 pontos
1.1. ……….….……….………………………………… 5 pontos
1.2. ……………….…………………………………… ...5 pontos
1.3. ..………………………………………………………5 pontos
1.4. ……..…………………………………………………5 pontos
1.5. ..………………………………………………………5 pontos

1.6….. …………………………………………………….5 pontos


1.7. …………….………………………………………….5 pontos

2.1………………….……………………………………..5 pontos

2.2..………………….……………………………… 5pontos

2.3. ………………….……………………………………5 pontos

Página 5 de 6
Grupo III ………………………………………………………………………………………………………………40 pontos

TOTAL……………………………………………………………………………..………………………………………………………….200 pontos

Página 6 de 6

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