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CADERNO DE RESUMOS

II SEMANA DE HISTÓRIA DA UFRJ


Avanço Conservador e o Ensino de História

Novembro de 2017
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

Diretora do Instituto de História - IH


Profª. Drª. Norma Côrtes

Comissão Organizadora
Alessandro Wagner Ribeiro Possati

Ana Beatriz Costa de Souza

Anelise Martins de Barros

Camila Miranda Jesus Tenreiro

João Pedro Doria Rossi Barreira

Julia Alice Santos da Silveira

Letícia Gomes do Nascimento

Letícia da Paz Maia

Lucas Ferreira Pinto de Andrade Alves

Maria Eduarda de Jesus Braga da Fonseca

Paulo Cesar Machado Farias Junior

Renata Dias Pinto Monteiro

Richard da Silva Marques

Rogério Pio de Souza Junior

Simone Almeida Pinto

Caderno de Resumo

Camila Miranda Jesus Tenreiro

Letícia Gomes do Nascimento

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Sumário

Apresentação................................................................................................ 5

Comunicadores............................................................................................. 6

Resumo das comunicações........................................................................... 8

Terça-feira (Contemporânea)............................................................. 8

Quarta-feira (Brasil)......................................................................... 22

Quinta-feira (América/Ensino de História/Moderna)...................... 42

Sexta-feira (Antiga/Teoria).............................................................. 56

Programação completa............................................................................... 62

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Apresentação

A Semana de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (SHUFRJ)


é um evento de porte acadêmico organizado pelo corpo discente do Instituto de História,
através do Centro Acadêmico Manoel Maurício de Albuquerque (CAMMA),
pretendendo constituir-se como um espaço de fomento à divulgação dos trabalhos
desenvolvidos por estudantes da graduação do curso de História.

Nesse sentido, entendemos esse espaço enquanto uma possibilidade de incentivo


à pesquisa e à troca de experiências entre os alunos desta instituição, bem como entre
estes e os graduandos das outras universidades do país. Para além disso, preparamos
atividades que são abertas à comunidade, como uma forma de potencializar a
interlocução entre o conhecimento produzido pela universidade e a sociedade.

A SHUFRJ é composta, além das sessões de comunicações, por minicursos e


mesas de debates. Estes, respectivamente, ministrados e compostos por docentes
especialistas nos eixos temáticos selecionados, pela comissão organizadora, a cada
edição.

Em 2016, na primeira edição da SHUFRJ, o tema escolhido foi o Ensino e


Pesquisa em África: Desafios e Possibilidades, devido o lugar secundário que o
Ensino de África ainda ocupa na universidade e na escola, mesmo com a aprovação da
obrigatoriedade nos currículos de ambos.

Neste ano, a nossa proposta foi trazer à tona questões sobre o Avanço
Conservador e o Ensino de História, abrindo espaço à reflexão crítica e ao debate
mediante aos diversos episódios de intolerância vivenciados no contexto atual,
sobretudo, na educação básica em virtude do projeto Escola sem Partido.

A Comissão Organizadora.

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Comunicadores
Alessandro Wagner Ribeiro Possati - UFRJ

Amanda Prima Borges - UFRJ

Amanda Reis dos Santos - UFRJ

Amanda de Queirós Cruz - UFF

Ana Beatriz Siqueira Bittencourt - UFF

Ananda Cristina dos Santos Lima - UFF

Anelise Martins de Barros - UFRJ

Augusto Cesar Oliveira Matins - UFRJ

Bianca Racca Musy - UFF

Brenda Ramos Maganha - UFF

Bruna Maia Azevedo - UCP

Bárbara Câmara Aragon - UFF

Carolina de Pretes Pegoraro - UFF

Caroline Lardoza Diniz - UFRJ

Clara Marques Souza - UFRJ

Edelson Costa Parnov - UFRJ

Eden Pereira Lopes da Silva - UERJ

Eduardo Artur dos Santos Ramos de Freitas - UFRJ

Emanoel da Cunha Germano - UFRJ

Fernando Henrique de Almeida Lima - UFRJ

Gabriel Henrique Caldas Pinheiro - UFRJ

Hellen Winin Silva Gomes - UFRJ

Jessica Esteves dos Santos - UERJ

Karollen Lima da Silva - UFAM

Keison Mamud Honorato - UFRJ

Larissa Ribeiro Raymundo - UFRJ

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Lays Corrêa da Silva - UFRJ

Letícia Andrade Batista Silva - UFRJ

Letícia Gomes do Nascimento - UFRJ

Lucas do Espirito Santo Lindolpho - UFF

Lucas dos Santos Vasconcellos Machado - UFRJ

Luis Guilherme Eschenazi Lucena - UFRJ

Luiz Gustavo Câmara Nunes - UFRRJ

Marcelle Lopes de Souza - UFRJ

Marcelo Viana Araújo Filho - UFF

Maria Eduarda Ferreira José - UFRJ

Maria Izabel Siciliano de Souza - UNIRIO

Marina Soares Oliveira - UFRRJ

Maíra Santana Marinho da Cunha - UERJ

Mário Bittencourt Miguens de Almeida - UNILASALLE

Nathália de Ornelas Nunes de Lima - UFRRJ

Petrus Lucchesi Moreira - UFJF

Pollyana Gonçalves Nogueira - UCP

Pâmela Dias Mendes Viana Ferreira - UFRJ

Péricles de Morais Cunha - UFRRJ

Rafaela Mano Elisiário - UCP

Rayane Barreto de Araújo - UFRJ

Raíssa Barreto dos Santos - UFF

Tamires Nogueira da Silva - UFRJ

Thamiris Altoé Roque - UFF

Vinícius Henrique Martins Monteiro - UERJ

Vinícius Victor do Prado Pereira - UNB

Ygor Martins da Cruz - UFRJ

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CONTEMPORÂNEA – Representação Histórica 1 (21/11 – 3ªf – 15:00 às 16:30)

Construindo um Imaginário: a perspectiva nazista sobre o Putsch de Munique


(1923-1933)

Augusto Cesar Oliveira Martins – UFRJ

A presente pesquisa pretende realizar uma análise da construção histórica da


memória sobre o Putsch de Munique de 1923 sob a ótica propagada pelos nazistas no
livro de propaganda política Deutschland Erwacht: Werden, Kampf und Sieg der
NSDAP (Alemanha Desperta: desenvolvimento, luta e vitória do NSDAP,1933), escrito
por Wilfried Bade e com fotografias de Heinrich Hoffmann. A tentativa de golpe,
apesar de não ter obtido sucesso na época de sua realização, modificou as estratégias
políticas do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães -
Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (NSDAP). A análise da fonte histórica
selecionada objetiva verificar como o Ministério Nacional para Esclarecimento Público
e Propaganda, dirigido por Joseph Goebbels, procuraram criar um projeto de
monumentalização histórica do fracasso do golpe de Estado perpetrado pelos nazistas
durante a República de Weimar (1919-1933). O Putsch da Cervejaria moldou as
estruturas do Partido, forneceu uma visão de que a vitória só poderia ser alcançada pelas
vias eleitorais, aproveitando-se das fragilidades do sistema político da República de
Weimar. Logo, houve reavaliações internas dentro do próprio Partido Nazista que
visavam a tomada de poder de maneiras alternativas à insurgência armada. Uma dessas
reavaliações concretizadas, foi a própria construção do Putsch de 1923, para que
servisse como um exemplo de luta e sacrifício pelos interesses do povo alemão. Para
auxiliar no aprofundamento das questões que cercam o Putsch de Munique, irei discuti-
lo à luz das obras de: Lionel Richard (A República de Weimar, 1990), Volker Ullrich
(Adolf Hitler: Os anos de ascensão 1889-1939, 2016), Ian Kershaw (Hitler, 2011),
Richard Evans (A Chegada do Terceiro Reich, 2010), Joachim Fest (Hitler: Vol. I 1889-
1933, 2005), Sylvia Lenz de Mello (República de Weimar: Alemanha 1919-1933) e
Guilherme Campos da Silva (Conflitos de Identidade na República de Weimar). No que
tange ao estudo especifico de propaganda nazista, a pesquisa valerá das discussões de
Hannah Arendt (Origens do totalitarismo, 2016), Sergei Tchakhotine (A Violação das
Massas pela Propaganda Política, 2002), Jean-Marie Domenach (A Propaganda Política,

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2001) e Wagner Pinheiro Pereira (O Poder das Imagens: cinema e política nos governos
de Adolf Hitler e de Franklin D. Roosevelt -1933-1945).

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O Poder do Figurino: História, Cinema e Moda em 'Sabrina' (1954)

Caroline Lardoza Diniz – UFRJ

A presente pesquisa pretende realizar um estudo da relação História, Cinema e


Moda através da análise do filme "Sabrina" (dir. Billy Wilder, EUA, 1954), com o
objetivo de observar como essa produção cinematográfica, que contou com a atuação da
figurinista Edith Head na criação do figurino da atriz Audrey Hepburn, a estrela
protagonista da trama, é representativa da forma como a moda é utilizada enquanto um
instrumento vital na configuração de um ideal de estilo e de comportamento feminino
na sociedade americana da década de 1950. Além disso, através da análise da produção
cinematográfica selecionada para a pesquisa, é possível perceber que além da
importância do figurino na composição das características físicas, psicológicas e
comportamentais das personagens, uma bela roupa em um filme pode marcar época,
virar referência e até parar nas vitrines das lojas.

O cinema foi o primeiro meio de propagação de modismos que atingiu o mundo


ocidental, conquistando os corações e as mentes do público espectador que inspirando-
se em seus astros e estrelas favoritos, passou a querer imitá-los. O estilista francês
Hubert de Givenchy ficou mundialmente famoso quando vestiu pela primeira vez
Audrey Hepburn em "Sabrina", filme que recebeu o Oscar de Melhor Figurino - em
produção preto e branco - para Edith Head, considerada a "papisa dos figurinos" nas
décadas de 1950-1970.

Tendo-se em vista que a Moda pode ser considerada um espelho dos grandes
movimentos da humanidade, sendo o cinema a sua grande vitrine para exibir as
transformações históricas de uma determinada sociedade e época, a pesquisa ancora-se
nos trabalhos de Lars Svendsen (Moda: Uma filosofia), Caroline Weber (A Rainha da
Moda), Danieli da Cunha de Lima (“Nas Telas e Passarelas – Cinema e Moda, uma
análise do filme Sabrina (1954)”, Leandro Candido de Souza ("Estética do consumo:
moda, mídia e indústria cultural"), Theodor Adorno ("A Indústria Cultural"), Douglas
Kellner (A Cultura da Mídia), Jean Baudrillard (A Sociedade do Consumo) e Roland

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Barthes (Sistema da Moda), para refletir sobre a forma como o filme "Sabrina" pode ser
utilizado como uma fonte representativa para avaliar como a mulher dessa década
passou a exibir características marcantes de uma mistura ambígua de sensualidade e
ingenuidade abordadas muita das vezes nas personagens principais. Abordando além
disso, a questão da influência no comportamento e na moda no mundo feminino, em
especifico na sociedade norte americana.

Analisar as imagens cinematográfica é entender o tempo histórico que estão


inseridas. Por isso, é fundamental compreendermos a estreita relação do cinema e
história. Os filmes vão além das telas, eles se interligam com as nossas vidas,
modificam nossa forma de pensar o mundo. Eles expõe e ocultam ideias de acordo com
a linguagem utilizada e o contexto social que será apresentado. O filme será analisado à
luz das reflexões teóricas propostas pelos autores Marc Ferro (Cinema e História),
Marcos Napolitano ("Fontes Audiovisuais: a História depois do papel"), MichèleLagny
("O Cinema como Fonte Histórica"), Wagner Pinheiro Pereira (O Poder das Imagens) e
Jean-Claude Carrière (A linguagem secreta do cinema)."

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Representações de mulheres em contextos revolucionários: três perspectivas de


análise.

Larissa Ribeiro Raymundo – UFRJ

Lays Corrêa da Silva – UFRJ

O presente trabalho é produto da avaliação final do curso “Revoluções no século


XX” ministrado pelos professores Fernando Castro e Murilo Sebe, no segundo semestre
de 2016. Buscamos refletir sobre três tipos de representações de mulheres em contextos
revolucionários: um livro, uma imagem e um filme. Cada objeto de estudo selecionado
se refere à uma revolução específica, estudada ao longo da disciplina. Dessa forma, para
tratar da Revolução Russa examinamos o livro “A guerra não tem rosto de mulher” de
Svetlana Aleksiévitch; sobre a Revolução Nicaraguense analisamos fotografias de
mulheres que participaram da Frente Sandinista de Libertação Nacional feitas por
Margaret Randall, e teremos como perspectiva para nossa investigação sobre a
Revolução Iraniana o filme “Persepolis” de MarjaneSatrapi. Assim nossa questão

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central são as diferentes formas de representações de mulheres em contextos
revolucionários e o que podemos apreender desse contexto a partir dessas formas.

Cada uma dessas representações serão trabalhadas com seus específicos aportes
metodológicos: para o livro, utilizamos os debates acerca da especificidade do relato
feminino a partir das considerações de Silvia Salvatici; para a imagem pensamos a
fotografia como foi proposto por Rolland Barthes, fugindo de uma visão meramente
ilustrativa; e para o filme aplicamos a metodologia de análise desenvolvida por Marc
Ferro, trabalhando o conteúdo latente e aparente do filme.

Nossa escolha metodológica foi guiada pela busca da compreensão dessas


diferentes formas de representação como documento/monumento, como foi proposto
por Le Goff. Visto isso, pretendemos tratar essas fontes tanto como um índice, um
registro histórico de uma época e que nos dá informações sobre determinados aspectos
do passado, quanto como um símbolo, aquilo que deveria ser registrado, o que uma
sociedade deixa como legado.

Le Goff também nos indica que a escolha do historiador por um documento


dentro de um universo mais amplo de opções não é neutra e está associada à “sua
própria posição social na sociedade de sua época e da sua organização mental”1. Tendo
isso em mente é importante ressaltar que nossa escolha por esses documentos em
específico e esse tema, partiu de uma percepção que tivemos ao longo da graduação
sobre como a história de mulheres ainda não é tratada nos cursos oferecidos,
tantoobrigatórios, quanto eletivas. E por isso, é significativo que esse tema tenha
chegado até nós não por documentos produzidos pela academia, mas pela via cultural,
através da literatura, imagem e cinema. Conseguimos entender que essa é uma
percepção muito pessoal e que diversos fatores devem ser levados em consideração,
mas achamos importante salientar o porquê de nossa escolha e problematizar se de fato
a academia inclui tais temas em seus debates. Trazer essa questão para a II Semana de
História da UFRJ, cujo tema versa sobre o avanço conservador e o ensino de História,
faz com que possamos refletir sobre a importância do papel da mulher e da luta
feminista na sociedade, em contraponto com a tendência patriarcal perpetuada
mundialmente.

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Nos últimos anos viemos observando o crescimento exponencial da luta das
mulheres. Encaramos isso com muita positividade, já que cada vez mais estamos
buscando nossos espaços e disseminando nossas ideias, que por muito tempo foram
silenciadas. O espaço da sala de aula é um local muito próspero para debates e diálogos
sobre isso, sendo assim, pretendemos conquistar progressivamente, com a nossa
formação, alunos e alunas dispostos a serem inclusos e a conhecer todas as novidades a
respeito das conquistas políticas feministas.

O primeiro tema a ser abordado pelo trabalho tem como plano de fundo a
Revolução Russa, mais especificamente o período do governo Stalinista. O livro “A
guerra não tem rosto de mulher” de Svetlana Aleksiévitch foi resultado de uma série de
entrevistas feitas pela autora com mulheres que serviram no Exército Vermelho durante
a Segunda Guerra Mundial. Essas mulheres em sua maioria eram jovens na época,
algumas tinham 17 anos e, portanto, tinham vivido toda sua vida sob o regime
Stalinista.

O livro foi produzido em 1983, porém, por conter diversas críticas sobre a
história oficial acerca desse período, questionando determinados clichês sobre o
heroísmo soviético, só foi lançado dois anos depois, já no período da Perestroika. Vale
ressaltar que o livro só chegou ao Brasil esse ano, 2016, após a autora ter ganhado o
prêmio Nobel de Literatura por “seus escritos polifônicos, um monumento ao
sofrimento e à coragem nos nossos tempos”.

Para tratar sobre a Revolução Nicaraguense, utilizaremos fotografias de


mulheres que atuaram na Frente Sandinista de Libertação Nacional, feitas por Margaret
Randall. Dessa maneira, iremos adotar a metodologia de análise de fotografias proposta
por Roland Barthes em seu livro “A Câmara Clara”.

Analisamos a imagem não apenas como mera ilustração do acontecimento


histórico, mas, como é proposto por Ana Maria Mauad, interpretar a fotografia “como
resultado de um trabalho social de produção de sentido, pautado sobre os códigos
convencionalizados culturalmente”. Sendo assim, buscamos observar as relações e
efeitos sociais que envolvem essas fotos dentro do contexto da Revolução Nicaraguense
e mais especificamente tratando da participação das mulheres na mesma.

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Para a análise do filme utilizamos a metodologia proposta por Marc Ferro que se
baseia em observar o conteúdo latente, que seria a parte invisível, o entorno do filme, as
questões que levaram à sua produção, sua inserção no contexto histórico, assim como, a
análise da ficha técnica que o produziu; e o conteúdo aparente, isto é, o conteúdo
visível, o filme em si, sua história e suas críticas expostas.

Persepolis é uma animação francesa de 2007, baseada no romance gráfico


autobiográfico homônimo de MarjaneSatrapi. O filme foi escrito e dirigido pela própria
Marjane ao lado de Vicente Paronnaud, um quadrinista francês. O título faz referência à
cidade histórica de Persepolis. Quando o filme estreiou, o governo do Irã mandou uma
carta à embaixada da França em Teerã protestando contra Persepolis, pressionando os
organizadores do Festival de Bangkok a retirá-lo de sua programação; no Líbano, o
filme foi proibido de ser exibido. Indo na contramão disso, é importante ressaltar que a
animação foi a representante francesa ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2008.

A escolha do tema foi motivada por uma percepção de como as mulheres


tiveram suas histórias apagadas e relegadas ao esquecimento durante muito tempo.
Reconhecemos que dentro da academia esforços vem sendo feitos nesse sentido para
combater essa ausência, mas acreditamos que no campo educacional essa ainda é uma
questão que precisa ser superada.

Diante do cenário de efervescência feminista e luta por direitos igualitários,


enxergamos como essencial o debate e a problematização dessas questões em sala de
aula. Reconhecemos que a disciplina sobre História tem um papel essencial em
evidenciar e historicizar essa luta por direitos, além de destacar a presença feminina em
diversos eventos, permitindo uma percepção da questão de gênero que vai além do
debate simplista de que há atualmente uma “ideologia de gênero” trabalhada nos
colégios. Debater gênero nas escolas é debater a luta das mulheres por direitos iguais, é
incluí-las na narrativa historiográfica e entendê-las como sujeitos ativos do processo
histórico.

Visto isso, resolvemos sair do nosso estado de inércia e zona de conforto,


revelando a maneira como as mulheres participaram, interferiram e modificaram os
rumos da História. Através do nosso trabalho, buscamos combater nossas insatisfações e
frustrações, partindo para uma pesquisa que nos possibilitou conhecer melhor a história
dessas mulheres, que não está presente na narrativa tradicional e ultrapassada.

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Consideramos isso como o pontapé inicial para um projeto mais aprofundado e
questionador no que concerne a questão exposta. Diante do cenário atual em que cada
vez mais professores estão sendo limitados em seus espaços de sala de aula e proibidos
de tocar em assuntos tido como “polêmicos”, procuramos reafirmar nosso papel
enquanto futuras historiadoras e professoras que enxergam a necessidade de abordar e
problematizar o papel feminino na sociedade, contribuindo para a formação crítica e
intelectual do cidadão.

O avanço do conservadorismo e a organização da direita é preocupante no


cenário brasileiro, uma vez que assistimos recentemente a um golpe institucional
articulado pelo atual Presidente da República, Michel Temer, e seus aliados. Nesse
sentido, o clima de insegurança que paira no ar afeta todas as esferas, principalmente
aquelas que atendem as necessidades básicas, ou seja, educação e saúde. O programa
intitulado como “Escola sem partido”, por exemplo, demonstra ser um projeto
articulado de maneira estrategicamente pensada e ameaçadora. Debates acerca disso
marcaram o ano de 2015 e 2016 por conta de denúncias realizadas contra professores no
momento em que os mesmos estavam em sala de aula, lecionando suas aulas. Esse tipo
de incidência gera um clima de temor muito grande. Educadores ficam desconfortáveis
em seus espaços de trabalho, pois não sabem em que momento poderão ser gravados e
denunciados, pois com o avanço da era digital, esse tipo de ocorrência tornou-se muito
mais frequente. A classe de professores da área de humanas é, inevitavelmente, a mais
afetada. Como demonstra o professor Fernando Penna2 em suas palestras, professores
de disciplinas como História, Geografia, Filosofia e Sociologia, são recorrentemente
hostilizados por suas possíveis preferências políticas mais à esquerda, sendo chamados
de “doutrinadores comunistas”.

Em suma, compreendemos que falar sobre o tema desse trabalho é um ato


político, bem como lecionar nos dias atuais. Por isso queremos nos posicionar e
defender nossas ideias, buscando cultivar debates e somar conhecimento ao tema. Por
sermos mulheres e historiadoras em formação, reconhecemos nossa função social e
nossos objetivos acadêmicos.

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Os luso-africanos em “De Angola à Contra-costa”: transculturação e imperialismo
na zona de contato (1884-1886)

Fernando Henrique de Almeida Lima – UFRJ

O continente africano, nas últimas décadas do século XIX, tornou-sematéria de


profundo interessenos países da Europa. Neste período, acentuaram-se as tensões e
disputas entre países europeus pelo controle de territórios em África. Impulsionadas
pelos projetos imperialistas, intensificaram-se as viagens de exploração ao interior de
África,sobre o qual os conhecimentos europeus eram bastante limitados. As narrativas
sobre essas viagens foram responsáveis por apresentar a leitores europeusvastas regiões
por eles pouco conhecidas até então, produzindo imagens e representações sobre o
mundo “não-europeu”.

A pesquisa da qual resulta esta apresentação tem por objeto a análise da obra “De
Angola à Contra-Costa”, que se insere neste contexto de produção de literatura de
viagem. Nesta obra, publicada em 1886, os oficiais da Armada Portuguesa
Hermenegildo Carlos de Brito Capelo e Roberto Ivens narram a expedição que cruzoua
África Central, de Angola a Moçambique, entre 1884 e 1885.Nesta comunicação, nosso
objetivo consistirá em analisar anarrativa sobre África e africanos presente na obra
citada,buscando compreender como se constroem as imagens sobre estes sujeitos. Para
isso, consideraremos as relações entre os africanos e os viajantes que subjaz à
construção destas imagens,as funções desempenhadas pelos africanos na expedição e
sua contribuição ativa na construção do relato.

CONTEMPORÂNEA – Representação Histórica 2 (21/11 – 3ªf – 15:00 às 16:30)

Concrete Football: um olhar sobre o futebol de bairro francês.

Marcelo Viana Araújo Filho – UFF

Este trabalho é uma interpretação do futebol como um fator social, e com isso,
com o objetivo de demonstrar como a complexidade social da França pós-colonial afeta
o futebol do País, que se sustentou durante anos no mito do “blanc, noir et beur”
(branco, negro e beur).

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O estudo tem como ponto inicial o Documentário Concrete football, produzido
dentro do modelo da corrente cinema-verdade, dos franceses, que trabalha de forma
direta com a fala dos protagonistas moradores ou ex-moradores da periferia. Os
protagonistas do Documentário, são jogadores de futebol de bairro, atletas profissionais
que obtiveram sucesso na carreira e outros indivíduos que conseguiram o sucesso
profissional nas mais variadas esferas profissionais. No entanto todos têm em comum o
fato de terem sido jogadores de bairros.

Os referenciais teóricos que estão sendo utilizados no trabalho são vinculados


aos estudos da diáspora africana e pós-africanos. Sendo assim, os autores a serem
utilizados são Abu-Lughod, Lutz, Stuart Hall, KwameAppiah e outros. O foco principal
da pesquisa está nos discursos produzidos pelos personagens do Documentário.Busca-se
entender o significado da pratica esportiva do futebol para eles, assim como, o
entendimento do que seria o futebol de bairro e a busca pela identidade de bairro.

Para o maior entendimento acerca da realidade dos personagens, se faz


necessário entender a estreita relação identitária dos franceses, uma vez que, a complexa
rede social está constantemente em crise. Por fim, questiono a famosa visão de autores
como Roberto Da Matta e Simone Guedes de que os Europeus seriam praticantes do
“futebol-força”.

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Gênero: De Beauvoir à Ideologia

Maria Izabel Siciliano de Souza – UNIRIO

A expressão “ideologia de gênero” tem sido largamente utilizada por religiosos,


políticos e organizações conservadoras da sociedade. No Exame Nacional do Ensino
Médio, ENEM, de 2015, uma citação da filósofa francesa Simone de Beauvoir causou
grande repercussão, tanto nas redes sociais quanto em jornais como O Globo e Gazeta
do Povo e até mesmo uma moção de repúdio ao Ministério da Educação foi aprovada
pela Câmara Municipal de Campinas pedindo a anulação da questão por fazer referência
à igualdade de gênero. Na referida questão, Beauvoir faz uma clara distinção entre a
condição de fêmea puramente definida pela Biologia e o chamado papel da mulher na
sociedade. Dessa forma, mais que apenas biologia, ser mulher configura-se, também,
como uma construção social. O presente estudo busca analisar algumas teorias de

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gênero em voga atualmente, pesquisar o uso do termo “ideologia de gênero” em
campanhas que se posicionam radicalmente contra qualquer tipo de discussão que
inclua o assunto e investigar as relações entre gênero e o termo “ideologia de gênero”, o
qual, segundo Furlani (2016), não aparece no contexto das teorias de gênero e dos
estudos de gênero existentes. Muitos autores dedicam-se em apontar que não é possível
definir gênero a partir das simplificações, limitações e padrões impostos apenas pelas
determinações, estritamente, biológicas. Começamos pela análise do trabalho da filósofa
Gayle Rubin (1975) que aborda o sistema sexo/gênero; passando pelo trabalho da
historiadora Joan Scott (1989), no qual a palavra gênero é utilizada para dar um caráter
menos político e mais acadêmico aos estudos sobre as mulheres; e a filósofa Judith
Butler (1991), que propõe uma revolução em seu trabalho, no qual aponta que não é o
gênero uma consequência do sexo, mas sim o contrário. Finalmente, apreciar a
socióloga brasileira Heleieth Saffioti (2001) e sua contribuição para os estudos de
gênero, violência de gênero e feminismo.

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Memórias de uma Enfermeira: A Ritualização do Trauma na Autobiografia de


Vera Brittain
Tamires Nogueira da Silva – UFRJ

Membro do cenário literário inglês, a escritora, jornalista e ativista política Vera


Brittain (1893-1970), publicou, em 1933, sua autobiografia Testament of Youth: an
autobiographical study of the years 1900- 1925, que se tornou em pouco tempo um
best-seller da literatura de língua inglesa. Nesta obra, a autora descreve ao público-leitor
suas experiências durante a Primeira Guerra Mundial, através da sua atuação como
enfermeira voluntária e da exposição dos traumas vividos com a morte de seu noivo,
irmão mais novo e amigos próximos. Entretanto, ao mesmo tempo que pertence a um
cenário literário profundamente marcado pela experiência masculina da guerra, a
autobiografia de Vera Brittain se destaca por colocar em foco as experiências
traumáticas de uma enfermeira voluntária. O protagonismo desta história é feminino. Se
trata de um dos poucos relatos de uma experiência feminina que vivenciou diretamente
a violência do conflito e que foi notadamente reconhecida pela sociedade. Vera Brittain,
como tantos outros contemporâneos seus, produziu um texto que não só expressa o
trauma democrático que a sociedade inglesa experimentou com o conflito, mas a sua

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própria transformação pessoal ao longo do processo. Testament of Youth narra o
processo de transformação de moça jovem e provinciana da classe média inglesa em
uma renomada escritora e ativista política, engajada nas causas feministas e pacifistas
até o fim de sua vida.
Desta forma, o principal objetivo deste trabalho é investigar como a experiência
traumática da guerra é exposta no relato autobiográfico de Vera Brittain, Testament of
Youth: an autobiographical study of the years 1900- 1925, através de uma análise
narrativa e mnêmica da obra. Neste sentido, se faz necessária a apresentação de seus
referenciais teóricos guiados por uma perspectiva analítica que se debruça sobre estudos
relativos a relatos autobiográficos e teoria de memória, especialmente aqueles
vinculados à Primeira Guerra Mundial.

Problemas atuais no estudo sobre a NEP

Eden Pereira Lopes da Silva – UERJ

Este trabalho objetiva reler a NEP discutindo-a dentro da tradição sovietológica


que possui leituras pouco satisfatórias do processo. São trabalhados os princípios da
NEP e seu papel no assentamento não somente das forças produtivas, mas dos
mecanismos de planejamento econômico soviético, fruto das experiências adquiridas no
período do comunismo de guerra e que posteriormente será decisiva para o sucesso da
planificação. Conclui-se que toda essa discussão sobre a predominância do mercado
nesse período tem forte sentido ideológico. Esta confusão é assentada logo após o fim
da Guerra Fria quando, ecoando a vitória do capitalismo neoliberal, diversos
economistas, políticos e sociólogos passaram ao trabalho de imprimir na academia uma
imagem negativa da economia soviética. Necessário é reconhecer que as características
planejamentistas são anteriores a NEP, ou seja já no comunismo de guerra, onde seu fim
não foi pelo fracasso de instituir uma economia centralizada e planejada, mas foi o
reconhecimento de que o período havia demonstrado que apenas contar com o
voluntarismo, ou decretar para construir o socialismo não era suficiente. Nesse sentido
entendia-se ser necessária uma nova estratégia que antes de tudo consistia em primeiro
solidificar as posições do Estado e depois acumular forças a ele para dar continuidade a
construção do socialismo, especialmente no campo. A NEP teve vários resultados
práticos importantes, mas também estabeleceu ferramentas e mecanismos para a
planificação, portanto não era uma política oposta. O estabelecimento dessa base
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política econômica inicial contribuiu decisivamente para o posterior desenvolvimento
da planificação de forma bem sucedida enquanto desdobramento da NEP. A
Planificação passa a ser o alvo direto dos ataques de todos e mais especificamente os
neoliberais durante a Perestroika sob o pano de fundo da NEP exaltada por Gorbachev
em oposição a planificação considerada obsoleta e stalinista, uma falsa polêmica que
inexiste.

CONTEMPORÂNEA – Violência e Direitos (21/11 – 3ªf – 19:30 às 21:00)

Direitos Humanos e a Ku Klux Klan: limites da democracia liberal

Bárbara Câmara Aragon – UFF

A ascensão da extrema-direita no cenário político mundial está sendo percebida


até por aqueles que faziam “vista grossa”. Acontecimentos no mês de agosto, em
Charlottesville, alçaram o problema a um novo patamar. No que vem sendo considerada
a maior manifestação de grupos de ódio das últimas décadas nos Estados Unidos,
milhares de pessoas, entre elas integrantes da Ku Klux Klan e grupos neonazistas,
marcharam pelas ruas da pequena cidade do estado americano da Virgínia, para
protestar contra a remoção, a mando da prefeitura, de uma estátua do general Robert E.
Lee, símbolo dos Confederados. Entoando slogans racistas e xenófobos, os
manifestantes entraram em conflito com grupos que foram à Charlottesville para
protestar contra a marcha racista. O saldo foram três pessoas mortas, sendo dois
policiais e uma ativista. O debate acerca dos direitos humanos é amplo e se cruza com o
debate sobre as conquistas de direitos de um modo geral e é essencial que se entenda
que a conquista por direitos não é um caminho linear, fácil e de caráter acumulativo. É
um processo que demanda uma forte luta entre domínios de interesses, dos quais
dificilmente a classe que detém a maior força, cede. Tendo isso em mente, ao nos
depararmos como cidadãos de uma democracia liberal dos Estados Unidos, surge a
questão central para o meu trabalho: como grupos extremistas como a Ku Klux Klan
ainda sobrevivem e até mesmo se multiplicam colocando em risco o mais básico dos
direitos - o direito à vida -no auge de uma democracia? Dessa forma buscarei
compreender a partir dos debates acerca dos direitos humanos as tendências lineares e

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como elas, e a própria teoria de reconhecimento que atravessa esse tema acabam sendo,
por vezes, limitados em sua análise. Fazendo uma ligação entre esse tema e os crimes de
ódio cometidos especificamente pelo grupo fascista Ku Klux Klan, observando os
limites encontrados na própria democracia liberal que permite que brechas sejam
abertas para os grupos de ódio estarem emergindo novamente.
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A Influência da Historiografia Alemã no Período Meiji

Petrus Lucchesi Moreira – FSB/RJ

O presente trabalho se trata da análise de dois decretos do governo imperial


Meiji; sendo o primeiro de 1869, sobre a fundação do Instituto Historiográfico
(東京大学史料編纂所); e o segundo de 1890, sobre as normas da nova educação de
acordo com as concepções historiográficas do governo japonês após a nova era (時代)
na qual o país se inseria. Ambos os documentos fazem referências à História ensinada e
a pesquisa historiográfica e tem como base os interesses políticos do período; interesses
estes que giram em torno da consolidação de um Estado muito centralizado, diferente de
toda experiência japonesa até então. O maior contato com o ocidente a partir da abertura
dos portos em 1853 trouxe uma visão de que as técnicas europeias poderiam ajudar
durante esta grande transformação que o país vinha sofrendo. No âmbito da
historiografia, foram levados ao país professores alemães para que ensinassem suas
visões historiográficas para que os historiadores nativos fizessem a história oficial a
partir delas, semelhante ao caso do IHGB no Brasil.
Na “restauração” que o governo instituía, com o discurso de retomada dos
valores imperiais pré Kamakura, é de se questionar o caráter da influência alemã.

Durante muito tempo considerou-se que a historiografia germânica foi a


principal base da produção historiográfica japonesa pelo século XIX e meados do século
XX, no entanto, esta visão é um tanto equivocada uma vez que o teor da escrita dos
historiadores do Instituto Historiográfico era muito mais nativa e baseada no
confucionismo. Partindo da hipótese de que o novo governo deveria modificar a
estrutura do país centralizando a administração, e para que isso fosse realizado era

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necessário um movimento semelhante as formações dos Estados nacionais europeus, a
questão a ser feita parte da real influência europeia na historiografia japonesa.

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Entre resistências e crimes: tribunais soviéticos 1943-1953

Luis Guilherme Eschenazi Lucena – UFRJ

Eduardo Artur dos Santos Ramos de Freitas – UFRJ

Os julgamentos de crimes de guerra estiveram presentes nas pautas Aliadas


desde o início da guerra. Com memórias recentes do fracasso dos julgamentos pós
Primeira Guerra em Leipzig e Istambul, o objetivo era a criação de tribunais
internacionais. Da parte dos britânicos e norte-americanos, este objetivo só foi
alcançado em 1945, história totalmente diferente do caso soviético. O primeiro
julgamento por crimes de guerra ocorreu na cidade ucraniana de Krasnodar. Em meio ao
conflito, este tribunal congregou os sentimentos de ódio e vingança da época, tendo a
peculiaridade de não julgar primeiramente soldados nazistas, mas sim onze
colaboradores locais membros de uma divisão da SS, responsável por sete mil mortes.
Julgamento público, este seria apenas o primeiro de um total de 633 julgamentos por
crimes de guerra em território soviético, sendo o último realizado em 1980. Estes, no
princípio, eram formados por cidadãos soviéticos, dividindo-se entre julgamentos
abertos ou fechados, sendo caracterizados de possuírem dupla função: a pedagógica, no
sentido de educar o povo; e a de reafirmação do poder soviético na região. A
historiografia ocidental, sobretudo aquela envolvida nos embates da Guerra Fria e anti-
marxista, entendeu os tribunais como expressões do autoritarismo e violência
característicos do regime soviético, especificamente em seu período stalinista. Nesta
visão, a “violência jurídica”, seria apenas uma parte de algo maior, derivada da natureza
última dos regimes comunistas. Para isso, argumentou sob várias formas depreciativas
aos julgamentos da frente oriental. Nosso trabalho pretende contra-argumentar esta
visão, compreendendo que esta violência não pode ser concebida como algo
característico exclusivamente do Estado soviético, mas como algo imanente à própria
concepção de Estado e ao contexto histórico aqui referido. Uma brutalização
generalizada da época seria a chave para o entendimento não só da violência soviética,
mas aquela também presente nas potências ocidentais.

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Marx, Engels e a Questão do Divórcio na Prússia (1842-1844)

Edelson Costa Parnov – UFRJ

A pesquisa em questão possui como intuito principal apreender as concepções dos


jovens Karl Marx e Frederick Engels a respeito do matrimônio e da família,
especialmente no que se refere à chamada “questão do divórcio”, período em que se
discutiu a aprovação do casamento civil e do divórcio na Prússia, entre 1842 e 1844.
Para isso, mobilizamos como fontes primárias os três primeiros volumes da Collected
Works of Marx e Engels, que abarcam os escritos dos autores referentes ao recorte
temporal supracitado. Em seguida, realizamos a filtragem do material por meio da
palavras-chave “divorce”, de modo a obtermos apenas os textos que fossem úteis aos
objetivos do trabalho. Essa busca nos retornou os seguintes artigos jornalísticos: “The
Divorce Bill. Editorial Note” e “The Divorce Bill”, ambos escritos por Marx em 1842, e
“Frederick William IV, King of Prussia” e “News from Prussia”, redigidos por Engels e
Marx, respectivamente, em 1842 e 1844. Em termos metodológicos, utilizamos a
análise de conteúdo. Como resultados preliminares, observamos que Marx e Engels se
posicionavam favoravelmente ao casamento civil e ao divórcio na Prússia, alterações
legais que eram entendidas pelos autores como fundamentais para a emancipação
humana, uma vez que possibilitariam a liberdade de escolha dos cônjuges tanto no que
diz respeito ao estabelecimento quanto ao término do matrimônio.

BRASIL – Memória e ditadura 1 (22/11 – 4ªf – 13:30 às 15:00)

Memória e Identidade: imaginários sobre a ditadura no processo de guerrilha


urbana no eixo Brasília-Goiânia".

Vinícius Victor do Prado Pereira – UNB

O trabalho tem por objetivo discutir as estruturas ligadas ao processo de


guerrilha urbana em Brasília e Goiânia no período que compreende a ditadura civil-
militar brasileira (1964 a 1988). Nesse trabalho pode-se analisar as questões ligadas à
conjuntura e estrutura político-militar do período e como essas atividades julgadas como

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subversivas atentava contra a ordem político-social estabelecida com a ascensão dos
militares ao poder. Em adendo à pesquisa foi possível discutir o objeto que constitui o
imaginário da ditadura militar sob o viés do processo de guerrilha urbana nas duas
cidades e a construção do conceito de subversão ligado à figura dos guerrilheiros. Esse
trabalho teve como fonte primária documentação acerca de processos penais nos quais
constam características e modo de atuação da guerrilha urbana nessas duas capitais. Os
dois processos aqui estudados são oriundos do projeto “Brasil Nunca Mais” sendo sua
versão online mantida pelo Ministério Público Federal - Procuradoria Regional da
República da 3ª Região. A escolha dos processos, dois entre dezenas, se deve ao fato da
coligação entre o local de apuração e os desdobramentos que dentro dos processos nos
permite relacionar esse eixo de atuação da guerrilha na ligação estabelecida por essas
duas cidades; mais ainda nos será permitido a análise do discurso presente nos
processos sobre os guerrilheiros e como eles eram representados e vistos perante os
órgãos de repressão ligados, nesse caso, ao Judiciário. O corte temporal das fontes está
entre os anos de 1970 e 1972 sendo processos penais abertos contra guerrilheiros, o
primeiro processo foi aberto em 13 de abril de 1970 na 11ª Circunscrição Judiciária
Militar com cerca de 20 réus, tendo como objeto de acusação atividades subversivas por
parte dos réus e encerrado com sentença em 17 de maio de 1971. Quanto ao segundo, a
data da denúncia em 04 de dezembro de 1972, assim como no primeiro processo foi
tramitado na 11ª Circunscrição Judiciária Militar.

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Pequena memória para um tempo sem memória: Um retrato da repressão e a luta


nos tempos da Ditadura Militar Brasileira – 1980.

Jessica Esteves dos Santos – UERJ

O seguinte trabalho foi desenvolvido a partir de minha pesquisa de monografia


que visa analisar nas canções do cantor e compositor Gonzaguinha, gravadas no disco
De Volta ao Começo, o debate em torno dos questionamentos políticos presentes no
Regime Militar Brasileiro. O objetivo principal é ilustrar, através de suas letras, arranjos
e melodias, o cenário brasileiro tão marcado pela repressão da Ditadura e as lutas
travadas contra ela. Desta forma, fazendo um dialogo entre História e Música, pretendo
utilizar a análise da canção popular brasileira a fim de identificar como as músicas de

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Gonzaguinha configuram-se como relatos de um tempo histórico, pois, ainda que não
tenham sido construídas como registro, elas buscam perpetuar uma memória.

Nos duros anos de repressão da ditadura militar brasileira (1964-1985), a Música


Popular Brasileira (MPB) deu voz ao sentimento que permeou a sociedade civil através
de inúmeros músicos que faziam de suas canções instrumento de resistência e veículo
para difundir a luta contra o regime militar também no cenário internacional. Dentre
tantos artistas que se posicionavam contra o regime, podemos destacar Luiz Gonzaga do
Nascimento Jr. que, devido a suas composições engajadas com caráter de denúncia e
alerta, ficou conhecido como “cantor rancor” pela mídia apoiadora do golpe.

O LP: De Volta ao Começo, gravado pela EMI – ODEON em 1980, destacou-se


dentre os demais trabalhos do cantor pelas canções de claro teor crítico ao governo em
vigência. Nelas podemos identificar relatos sobre os desaparecimentos de pessoas,
críticas ao Milagre Econômico, a opinião do artista em relação à Anistia e à Abertura,
dentre outros temas. Gonzanguinha produziu estas canções influenciado pelo
sentimento decorrente dos acontecimentos do ano de 1979 e a instauração da Lei de
Anistia que, embora contraditória e favorecedora de militares e torturadores, concedia o
perdão dos crimes cometidos por militantes de esquerda, presos políticos e exilados pelo
regime.

Nesta comunicação irei apresentar a análise de Achados e Perdidos (Pequena


memória para um tempo sem memória) e através dela demonstrar a atuação de
Gonzaguinha como agente político, observando seu posicionamento perante os
acontecimentos da época e o papel de suas canções na luta contra a repressão.

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Memória, documentação e pesquisa: A UFRJ e a ditadura militar (1964-1985).

Keison Mamud Honorato – UFRJ

Letícia Andrade Batista Silva – UFRJ

Este estudo tem como principal objetivo apresentar a importância do Projeto


Memória, Documentação e Pesquisa da Divisão de Memória Institucional do Sistema de
Bibliotecas e Informação (SiBI) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e as
suas pesquisas referentes à memória e à história institucional. Desde o ano de 2014,

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quando se completou 50 anos do golpe civil-militar no Brasil, as pesquisas
desenvolvidas se destinaram à análise e à disseminação do acervo universitário referente
a esse período da história nacional, em que houve vários expurgos de professores,
discentes e servidores técnico-administrativos da UFRJ, a invasão do campus da Praia
da Vermelha pelas forças armadas e a perseguição de vários estudantes universitários
ligados direta ou indiretamente ao movimento estudantil, além de outros mecanismos
institucionalizados de cerceamento, como a censura às obras bibliográficas e as
assessorias de segurança e informações das universidades; ao mesmo tempo em que
percebemos que foi no período autoritário que as obras do campus da Cidade
Universitária foram concluídas e que vários Programas de Pós-Graduação foram
criados, por tudo isso, tornou-se necessário rememorar e analisar essa conjuntura na
trajetória da UFRJ. A pesquisa foi dividida em algumas etapas, desde o trabalho com a
história oral com os antigos reitores da Universidade, e posteriormente com a coleta de
depoimentos com os docentes que foram expulsos. Na fase atual, após o levantamento
das informações que saiu na grande imprensa brasileira durante o período de 1964 a
1985, sobre a vida universitária, o movimento estudantil, questões educacionais e
político-administrativas da UFRJ e também sobre a gestão dos reitores neste período,
estamos fazendo a transcrição dessas reportagens para a posterior disseminação na
página da Divisão de Memória. A base da pesquisa nos jornais foi realizada na
Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional.

BRASIL – Memória e ditadura 2 (22/11 – 4ªf – 13:30 às 15:00)

O Conservadorismo Político de Edmund Burke e a Redemocratização


Conservadora do Brasil.

Mário Bittencourt Miguens de Almeida – Unilasalle

O presente artigo em sua primeira parte tem o objetivo de analisar um dos


aspectos do conservadorismo político anglo-saxão com o estudo do filósofo inglês
Edmund Burke. Em sua segunda parte, analisa a estrutura político conservadora
brasileira, ou “pemedebismo”, surgida no processo de redemocratização, com o fim do
regime militar no Brasil.

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Entre o Direito à Verdade e a Memória Militar: As Limitações da Justiça de


Transição Brasileira

Lucas do Espírito Santo Lindolpho – UFF

O ano era 1979, o governo ditatorial militar promulgava a lei n° 6.683,


popularmente conhecida como a Lei da Anistia. Ao anistiar todos os presos políticos,
com exceção dos que haviam sido condenados pela prática de crimes de terrorismo,
assalto, sequestro e atentado pessoal como apontava o artigo 2º da lei. O objetivo dos
militares era claro: virar a página sobre Ditadura da história do país e fazer com que os
crimes contra a humanidade que haviam sido cometidos pelos militares fossem
esquecidos a partir de então. Depois de 29 anos da promulgação da lei e 22 anos do fim
da Ditadura Civil-Militar, nota-se que o objetivo proposto pelos militares foi
conquistado com sucesso.
Na memória social ainda é muito forte a ideia de que o regime militar foi o
período dos ‘anos dourados’, marcado pelo desenvolvimento sócio-econômico e pela
segurança pública de qualidade. Para eles não houve nenhuma ditadura no país, mas sim
uma intervenção militar, responsável limpar o país dos comunistas, que supostamente
buscavam acabar com a democracia. Nem as 434 mortes cometidas pelo regime militar,
segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, é capaz de confirmar que
passamos por um regime ditatorial, pois, segundo os mesmos, ‘’como podemos chamar
de ditadura um regime que ‘só’ matou 434 pessoas num período de 21 anos?”.
Os ‘anos de chumbo’ da Ditadura foram quase que apagados da memória
nacional. O direito à verdade que as vítimas e seus familiares deveriam ter foi deixado
de lado pelo Estado brasileiro até o ano de 2012. Ao mesmo tempo, desde o ano de
2014 manifestações a favor do retorno dos militares ao poder vêm se propagando com
cada vez mais força. Haveria alguma explicação para tal fato? Uma hipótese se
concentra no processo de Justiça de Transição brasileira, iniciado pelos militares, que na
maior parte de seu tempo optou pela reconciliação nacional através da ‘cicatrização das
feridas abertas’ do que pelo enfrentamento com o passado de atrocidades aos direitos
humanos durante os anos ditatoriais. É neste ponto que o trabalho se concentra,
identificar quais foram as limitações do processo de Justiça de Transição brasileira que

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fizeram com que em pleno 2017 seja forte tanto o desejo de volta dos militares ao poder
quanto a memória militar sobre o período ditatorial.

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Soletre Mobral e Leia Rural: O Movimento Brasileiro de Alfabetização como


Projeto de Ensino Rural Durante a Ditadura Civil-Militar.

Luiz Gustavo Câmara Nunes – UFRRJ

A presente pesquisa tem como objetivo analisar o Movimento Brasileiro de


Alfabetização (MOBRAL) e seu planejamento e execução junto às populações rurais
no contexto do regime civil-militar a partir dos documentos institucionais formulados
no decorrer da década de 70 para divulgação e balanços do projeto.A pesquisa parte da
premissa do MOBRAL como uma política que nasce voltada para o meio urbano,
entretanto se consolida em meio rural, devido à variáveis conjunturais, ideológicas,
políticas e econômicas, se transformando na maior política de ensino rural do período de
1970 até 1980. Partindo do entendimento do regime civil-militar como uma
contrarrevolução preventiva de um bloco da burguesia financeiro-industrial em busca de
sua hegemonia no interior da classe dominante e no estabelecimento de uma autocracia
burguesa, buscaremos perceber os conflitos internos que se consolidarão durante o
período e que serão responsáveis pelas mudanças de aplicação do MOBRAL. Em nossa
análise, trataremos a Educação como um aparelho ideológico de estado, ou seja, um
espaço de difusão ideológica para consolidarmos uma relação entre as mudanças de
prioridades do MOBRAL com os planos econômicos e as propostas para o campo
formuladas pelo regime civil-militar.

Utilizando fontes primárias, como os documentos formulados pelos executivos e


técnicos envolvidos na elaboração e execução do programa, buscamos apreender as
nuances entre o projeto em sua gênese e sua execução prática nas comunidades. Nessa
etapa da pesquisa nos fica claro queo MOBRAL nasce tendo como prioridade de
público as populações urbanas, entretanto, ao longo dos anos 70, sua ênfase passará às
populações rurais. Sendo assim, a pesquisa caminhou no sentido de entender quais
foram as influências que modificaram esse caminho.

Para além, durante a pesquisa formulamos o entendimento do MOBRAL,


enquanto a política de ensino rural, elaborada pela ditadura civil-militar para

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demonstrarmos a continuidade do histórico de secundarização da educação do campo no
planejamento educacional brasileiro.

BRASIL – Música e cultura popular (22/11 – 4ªf – 15:00 às 16:30)

A UNE e as Escolas de samba do Rio de Janeiro nos Carnavais de Guerra (1943-


1945)

Lucas dos Santos Vasconcellos Machado – UFRJ

A entrada do Brasil na Segunda Guerra, ao lado dos Aliados, e em oposição ao


Eixo, em agosto de 1942,causaria significativos impactos sociais, políticos e culturais
no país. Os horrores da guerra se espalhavam pelos noticiários do Rio Janeiro, criando
um ambiente marcado pelos esforços voltados à Guerra e evidentemente pouco
receptivo a festividades. O carnaval do ano seguinte fora, portanto, encarado como
evento fora de hora e impróprio aos imperativos do delicado momento. De um lado
desse cenário, porém, estavam as escolas de samba, que procuravam galgar seu espaço
na cena do carnaval carioca em circunstâncias, como já vistas, nada favoráveis. Do
outro, a União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade engajada na luta contra o Eixo,
que visava meios de mobilizar a população à causa, valorizando, dentre outros
elementos, o aspecto de propaganda e fortalecimento de uma identidade comum frente
ao inimigo externo. Da confluência dos dois interesses, surgem os chamados “Carnavais
de Guerra”. A UNE, que já promovia uma série de atividades de cunho artístico-cultural
de caráter cívico visando estimular a “consciência de guerra”, decidiu participar
ativamente da organização dos desfiles das escolas naquele ano e nos dois seguintes. As
agremiações de samba, por sua vez, se demonstraram plenamente dispostas a abraçar o
propósito, visando ganhar legitimidade e aceitação enquanto expressão popular do
carnaval. O objetivo deste artigo, portanto, consiste em investigar a relação entre a
referida entidadeestudantil e as escolas de samba durante esse processo, bem como seus
impactos para o fortalecimento desse fenômeno carnavalesco.

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“O tamborzão tá rolando”: Contribuição ao estudo sobre a marginalização do
funk no Rio de Janeiro.

Rafaela Mano Elisiário – UPC

Bruna Maia Azevedo – UPC

Pollyana Gonçalves Nogueira – UPC

O funk carioca é patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro desde 2009,


quando foi aprovada e sancionada a lei n° 5543, aprovada pela Assembleia Legislativa
do Rio de Janeiro (ALERJ), em que o funk passou a ser denominado como Movimento
Cultural e Musical de caráter popular. Entretanto o reconhecimento institucional dessa
manifestação não reduziu a associação desta com a sexualização e com a
criminalidade.Entretanto, é necessário compreender a origem e as demandas do
movimento funk com base na experiência brasileira, ou seja, recorrendo ao processo de
formação histórica do país, para compreender as origens do autoritarismo nacional.

Ao analisar historicamente a ação do Estado brasileiro, em relação a questão


cultural, fica evidente sua tendência antidemocrática. O Estado se apresentava como
produtor da cultura, ao transformar a criação social em cultura oficial. Assim, o Estado
passou a operar no interior da cultura com os padrões de mercado. Dessa forma, o
Estado não deveria operar como produtor de cultura, porém a sociedade brasileira foi
edificada em valores hierárquicos, violentos e autoritários, que durante muito tempo
também foi politicamente e economicamente dominada por uma elite oligárquica, que
como parte da classe dominante estava determinada, por conta de sua origem e
formação histórica e fadada a reproduzir uma cultura elitizada, pois além de possuir o
domínio da vida política e econômica, eram os “donos do poder”, utilizando uma
terminologia de Raymundo Faoro, portanto, ocorreu uma reprodução desapercebida de
uma “cultura senhorial”, forma de expressão do autoritarismo social, presente na
sociedade brasileira. Marilena Chauí, no artigo Cultura e Democracia, afirma que o
Brasil:

“É uma sociedade que conheceu a cidadania através de uma


figura inédita: o senhor (de escravos) -cidadão, e que concebe a
cidadania com privilégio de classe, fazendo-a ser uma concessão
da classe dominante às demais classes sociais, podendo ser-lhes

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retirada quando os dominantes assim o decidirem. É uma
sociedade na qual as diferenças e assimetrias sociais e pessoais
são imediatamente transformadas em desigualdades, e estas, em
relação de hierarquia, mando e obediência. ” (CHAUÍ, 2008, p.
70)

No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro, então capital do país viveu
um momento de muitas transformações, era necessária uma cidade com características
mais modernas, medida alinhada com as tendências europeias, essa nova imagem do
Rio de Janeiro foi projetada pela Reforma Urbanística do prefeito Pereira Passos. A
inspiração para o projeto veio de Paris e propunha uma reorganização do espaço urbano
carioca, com o alargamento das avenidas, proibição da atuação de ambulantes nas
regiões centrais e destruição dos cortiços, habitações populares improvisadas em que
uma parcela da população negra vivia, em um contexto posterior a abolição, porém o
projeto de Pereira Passos de transformar o Rio de Janeiro, numa Paris Tropical passava
pela expulsão desses libertos das regiões próximas ao centro da cidade.Sem nenhuma
perspectiva, essa população liberta foi obrigada a recomeçar suas vidas, nos morros da
cidade, o primeiro e mais notório foi o Morro da Providência.

Devido à esse passado segregador, a sociedade brasileira atual, especialmente a


população residente das grandes cidades,estão divididas entre centro e periferia, o termo
periferia apresenta mais que uma conotação geográfica e espacial, é também social, pois
designa bairros afastados e com a ausência de serviços básicos e essenciais, entretanto
nos bolsões de pobreza dos grandes centros urbanos essa realidade de ausência de
infraestrutura também é sentida, por conta da negligência do Estado e da ausência de
políticas públicas para essas regiões.As classes populares, especialmente das favelas,
carregam o constante estigma da culpa, da suspeita e da incriminação, contribuindo para
o imaginário que considera essas classes em última instância, violentas e criminosas. O
“asfalto” olha para o morro como uma realidade doente e digna de calamidade pública.

Com base na linha de pensamento de Marilena Chauí, a ideologia dominante


busca impor políticas culturais oficiais, entretanto a cultura popular apresenta
mecanismos de resistência à essa tendência homogeneizadora, ao produzir concepções
diferentes para a realidade. Assim, para entender a dimensão da cultura brasileira é
necessário ir muito além das manifestações culturais, é preciso entender o nosso

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processo de formação histórica para que as manifestações culturais sejam entendidas
como resultantes de relações sociais que agrega aspectos políticos, ideológicos e
coercitivos. Ao partir dessa concepção, a articulação entre a cultura e o funk passa pela
compreensão do elemento afro-brasileiro na cultura nacional e nesse sentido
percebemos que a sociedade brasileira, é uma sociedade onde as desigualdades sociais
são transformadas em diferença e em relações de hierarquia, mando e obediência, em
que as leis sempre foram utilizadas como forma de preservar privilégios e garantir a
repressão e opressão, nunca definindo direitos e deveres concretos e reais para todos.

É uma sociedade em que as desigualdades socioeconômicas atingem a proporção


de um genocídio, a população pobre é considerada ignorante, perigosa e inferior, por
isso as classes populares carregam os estigmas de suspeita, de culpa e de incriminação
de forma permanente, por serem consideradas potencialmente violentas e criminosas.
Essa forma de preconceito atinge principalmente os moradores da favela que são
duplamente estigmatizados e ao menor sinal de desordem, a resposta do Estado é a
violenta repressão policial e militar nas favelas, entretantoessa caracterização não é
natural, mas consequente de um processo histórico, logo foram construídas e afirmadas
ao longo do tempo.Assim, entendendo que as manifestações culturais são resultado das
relações sociais, podemos entender o funk como cultura, pois surge como uma
dimensão desse processo social excludente e segregado, citado anteriormente.

O funk é reflexo das relações sociais existentes na favela, é uma forma de


resposta as pressões e estigmas produzidos pela sociedade. O funk carioca é um gênero
que mobiliza grandes parcelas da juventude do Rio de Janeiro, apesar da estigmatização
de outros setores da sociedade. Além de ser um dos maiores fenômenos de massa do
Brasil. Apesar do termo remeter a cultura musical norte-americano, a produção
brasileira sofreu variações em suas batidas, aproximando-se de um gênero americano,
popular na década de 1980, o “Miami Bass”. Com um elemento rítmico eletrônico
marcante, sua adesão nas favelas e subúrbios foi imensa.

No fim dos anos 1980, a violência nos bailes passa a ser noticiada pela
imprensa, o que acaboucontribuindo para aumentar o preconceito contra a música.
Também foi uma época importante para a afirmação de uma identidade própria em
termos musicais, nas mãos de alguns MCs e DJs, que trabalharam em torno de uma
produção nacional para mudar o som importado que era tocado nos bailes e construir

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um ritmo quente e carioca. A importância de DJ Marlboro para a consolidação do
movimento foi imensa e também marcada pelo pioneirismo, pois produziu uma
discografia com suas gravações, levando a dinâmica do baile para toda a cidade.

A historiografia do funk tem como marco inicial a produção pioneira do


antropólogo Hermano Vianna, que em sua dissertação de mestrado produzida na década
de 1980, foi responsável por uma discussão mais aprofundada sobre o movimento funk
no Rio de Janeiro. Segundo Vianna:

“O mundo funk é um mundo paralelo, que se aproveita dos


espaços deixados em branco pela indústria cultural (que não tem
um projeto coerente e monolítico de dominação, sabendo lidar
também com o heterogêneo), se tornando mais uma opção de
agrupamento metropolitano. ”(VIANNA, 1988, p. 143)

Desde quando começou a se desenvolver no Brasil, o funk carioca


constantemente foi e, continua sendo associado à criminalidade. Essa associação
começou a surgir quando em 1992, os meios de comunicação noticiaram um arrastão
realizado na Praia do Arpoador em Ipanema, quando na realidade, segundo a jornalista
Janaina Medeiros, autora do livro, “Funk Carioca: Crime ou Cultura?”tratava-se de
dois grupos funkeiros rivais que estavam praticando rituais de luta de bailes de briga, o
que acabou sendo confundido como um arrastão pela população. A partir disso,
funkeiro passou a ser um termo utilizado para se referir aos supostos bandidos, que após
o ocorrido continuou a ser empregado como um sinônimo de indivíduos envolvidos em
práticas criminosas. Por ter sua origem nas favelas do Rio de Janeiro, espaço onde se
encontra a população mais pobre da cidade, esse estilo musical ficou excluído da
indústria cultural dominante e foi marginalizado pela sociedade em geral.

Atualmente, esse estilo éum fenômeno musical polêmico, pois a figura do


funkeiro permanece vinculada à criminalidade e baderna, evidenciando como o
movimento ainda é demonizado no imaginário brasileiro, principalmente no discurso
midiático. A estética musical permaneceu quase intacta desde os anos 1980, com
exceçãoda revolução trazidapelo tamborzão e a utilização da temática sexual dos
corpos, especialmente da mulher. Apesar de ser um gênero extremamente criticado é
conhecido em todo o Brasil e também em vários países europeus, em que artistas
chegaram a realizar turnês na Europa, divulgando o funk internacionalmente como a

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genuína música eletrônica brasileira. No início de 2017, foi enviado ao Senado um
projeto de lei que tinha como proposta a criminalização do funk, justificando que este
seria um crime contra a criança, os jovens e à família. Porém, o conteúdo tão criticado
das letras de funk, são também uma forma de representação da realidade na qual os
funkeiros estão inseridos. Uma realidade historicamente construída e perpetuada pela
ausência do Estado, que negligência as demandas econômicas e sociais presentes nesses
locais.

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A paisagem sonora do Rio de Janeiro do século XIX e o surgimento do choro - uma


análise histórica.

Péricles de Morais Cunha – UFRRJ

O século XIX foi um período em que ocorreram muitas transformações na


cidade do Rio de Janeiro. Com a chegada da Corte Portuguesa, em 1808, o espaço
sofreu uma reestruturação administrativa e urbana que buscava atender às necessidades
geradas pelo estabelecimento da sede do Governo Português no local. Simultaneamente
a estas mudanças estruturais, ocorreu um enorme impacto cultural causado pela ideia de
tornar a cidade colonial o centro de poder da monarquia lusitana através de um projeto
civilizatório que buscava inserir aspectos da sociedade europeia na, então, nova capital
do Império Português. O nascimento do choro como a primeira música popular urbana
do Brasil, por volta da década de 1870, dá-se devido à combinação entre as danças
europeias e a influência africana aliada aos estilos e sotaques próprios dos músicos
populares do Rio de Janeiro. As várias transformações ocorridas na cidade e a formação
de uma paisagem sonora própria forneceram uma série de elementos, presentes no
ambiente acústicomusical carioca, importantes para a elaboração espontânea de uma
nova forma de tocar do músico popular que atuava durante o período marcado pelo
segundo reinado do Império brasileiro. Inconscientemente, foram incorporadas às
práticas musicais daquele período novas sonoridades provenientes da música estrangeira
vinda da Europa, difundida pelas partituras e tocada ao piano, e do ritmo peculiar da
percussão herdada da África, típico de rituais religiosos e outras festividades, presentes
no espaço urbano. Esta trabalho pretende refletir sobre a formação dessa nova
modalidade de música, e sobre o ambiente histórico-social e musical que a gerou. O
interesse da pesquisa é iniciar uma reflexão acerca do princípio da história dessa

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música, do seu primeiro momento – anterior à formação do gênero musical que
carregou o mesmo título e atravessou o século XIX – e as várias implicações sociais,
culturais e, especialmente, musicais que se projetaram sobre ela e a resultaram.

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A cultura como forma de resistência: Cinco Vezes Favela (1962) e o CPC

Maíra Santana Marinho da Cunha – UERJ

O presente trabalho tem como objetivo pensar a importância dos recursos


audiovisuais como fontes históricas, a partir da análise do filme Cinco vezes favela
(1962). O cinema é um poderoso instrumento de comunicação popular, e por isso é uma
fonte importante para compreender a formação das mentalidades e da hegemonia
cultural.

Viso também explorar o projeto do Centro Popular de Cultura (CPC), o qual


representou durante os anos 1960 parte do engajamento cultural de diversos artistas em
construir uma arte popular brasileira quer servisse ao povo, e principalmente
denunciasse as desigualdades sociais e o sistema capitalista. Procuro mostrar como o
Golpe Militar e a Ditadura tentaram minar as produções críticas e contra hegemônicas.

O protagonismo da favela no referido filme era algo “novo” nas produções


cinematográficas, tendo como marco precursor a produção Rio, 40 graus (Nelson
Pereira dos Santos, 1955). No filme analisado, as favelas representavam o seio das
contradições sociais em meio à modernidade. Nesse sentido, o Cinco Vezes Favela é
uma das sínteses artísticas de produções desse período, marcado pela efervescência da
arte como forma de resistência e, principalmente, como parte de um projeto alternativo
ao capitalismo.

BRASIL – Abolicionismo/Negro no século XIX (22/11 – 4ªf – 18:00 às 19:30)

Protagonismo negro e feminino no pós-abolição: luta política e social das Crioulas


do Quilombo Urbano de São Benedito

Karollen Lima da Silva – UFAM

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A história das Crioulas do Quilombo se entrelaça a tradição-festiva religiosa de
São Benedito que é realizada há mais de um século na comunidade negra. A devoção
começou na cidade de Alcântara no Maranhão sendo trazida para a cidade de Manaus,
estado do Amazonas, em fins do século XIX, através de Maria Severa Nascimento
Fonseca, ex-escrava, que veio acompanhada de seus três filhos: Manoel, Antão e
Raimundo. Progressivamente se formou uma comunidade de migrantes maranhenses
que passou a ser conhecida como colônia dos maranhenses ou reduto dos negros. A
festividade do santo preto somada às lutas políticas e sociais possibilitou o
reconhecimento da comunidade como quilombo urbano em 2014 pela Fundação
Palmares. Com a titulação, houve uma reconfiguração das relações internas e a
reorganização da luta política da comunidade, possibilitando a criação da associação
Crioulas do Quilombo, que visa à promoção de emprego e renda para as mulheres, o
resgate da cultura afro-brasileira através do artesanato, a busca por melhorias no
quilombo e a realização de atividades socioculturais, entre outras pautas. As crioulas
empreenderam a recuperação da história do Quilombo Urbano de São Benedito através
das memórias das mulheres mais antigas da comunidade, que são conhecidas como
“griots”, por relatarem as vivências cotidianas de suas mães, avós, bisavós, tias, entre
outras, que exerciam os ofícios de lavadeiras, passadeiras, quitandeiras e cozinheiras,
além de serem devotas do santo preto. O protagonismo negro e feminino é manifestado
através da religiosidade, da luta pela subsistência no cotidiano, da organização social e
política das mulheres negras na contemporaneidade, questão na linha de frente
mobilizando a comunidade, dando prosseguimento a tradição religiosa trazida por Maria
Severa.

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Crimes cometidos, histórias contadas: o Rio de Janeiro pela ótica dos prisioneiros
da Casa de Correção da Corte nos Oitocentos.

Vinícius Henrique Martins Monteiro – UERJ

O presente trabalho tem por objetivo analisar a cultura urbana do Rio de Janeiro,
a partir das trajetórias de prisioneiros que passaram pela Casa de Correção da Corte –
prisão que pensava a punição a partir do trabalho – sendo catalogados por meio das
fotografias produzidas com uma das primeiras máquinas fotográficas do Brasil. Visto
que a chegada da Família Real, em 1808, desencadeou uma série de transformações na

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capital da colônia portuguesa da América, o Rio de Janeiro do século XIX experimentou
o aumento significativo de habitantes, bem como a mudança e a reorganização física da
cidade. Entretanto, ainda que se propusesse trazer civilização à moda europeia para a
América, o cotidiano da cidade era um obstáculo ao objetivo português. A presença de
escravos no espaço urbano era expressiva, uma vez que na primeira metade do século
XIX a escravidão no Rio de Janeiro vivia o seu auge. Assim sendo, ainda que houvesse
a tentativa de afastar a população pobre do centro, a dinâmica social da cidade impedia
tal sucesso. Assim como os escravos, diversos indivíduos, de diferentes lugares do
mundo, eram peças fundamentais para a rotina do Rio de Janeiro. Com o passar dos
anos e a intensificação da escravidão urbana, determinadas práticas criminais iam
surgindo e/ou intensificando. A cidade, portanto, embasada numa perspectiva de
punição e controle, foi ampliando o seu poder de polícia, construindo novas cadeias,
diagnosticando novas práticas e exigindo novos códigos criminais. Deste modo, é neste
cenário sobre o qual se debruça esta comunicação.

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Imprensa e Emancipação: O abolicionismo pernambucano nas folhas do periódico


“O Homem: realidade constitucional e dissolução social” (1876)

Emanoel da Cunha Germano – UFRJ

O presente trabalho apresentado é resultado de parte de minha pesquisa


monográfica sobre o processo da abolição na província de Pernambuco, que busca
analisar a imprensa como uma ferramenta que contribuiu no arco do ativismo político
para configuração do movimento abolicionista. Na Monografia analiso como jornal O
Homem: realidade constitucional ou dissolução social foi um dos pioneiros por
desenvolver ideias abolicionistas em 1876, doze anos antes da Lei Áurea de 13 de maio
de 1888. Diante dessa empreitada, outros jornais da região e movimentos sociais
enfatizarão com maior ênfase as ideias abolicionistas, a partir das últimas décadas da
abolição no ano de 1880.

O objetivo deste trabalho consiste em analisar o movimento abolicionista


pernambucano, a partir das categorias thompsonianas, tais como experiência histórica e
costumes comuns e o conceito de esfera pública de Jürgen Harbermas. A análise tem
como ponto de partida o estudo da história da imprensa em Pernambuco, em especial,

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com a publicação do jornal O Homem, considerado pelo historiador Leonardo Dantas
como o primeiro jornal abolicionista da província. Com apenas 12 números esse
impresso trouxe a baila críticas ao preconceito racial vigente no país.

E é nas veredas de suas publicações, diálogos com outros impressos


contemporâneos e dos escritores que comporam a sua produção que pretendemos
apresentar a importância desse periódico que faz parte da história da luta empreendida
pela população negra, num momento em que a escravidão era ainda uma realidade
social. Reconhecemos que o impresso advém uma cultura política de jornais que foram
produzidas por intelectuais negros que posteriormente serão conceituados de imprensa
negra, mas essa última categoria veio apenas a ser formulada, apenas na primeira
metade do século XX.

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Festa da raça ou ilusão de liberdade: as representações carnavalescas da Abolição


da Escravatura no ano de 1988.

Gabriel Henrique Caldas pinheiro – UFRJ

O presente trabalho é um estudo das representações da Abolição da Escravatura no


Brasil nos desfiles das escolas de samba Unidos de Vila Isabel e Estação Primeira de
Mangueira, no ano de 1988. O objetivo da pesquisa é analisar estas representações e
investigar suas relações com as reflexões historiográficas sobre o mesmo tema,
destacadamente o debate revisionista da tese da democracia racial que se inicia nos anos
1960. Pretendemos investigar se estes trabalhos elaborados no âmbito acadêmico
reverberam na esfera das agremiações carnavalescas e de que forma eles são por ela
apropriados. Para tanto, articularemos o debate historiográfico sobre a Abolição com as
narrativas destas agremiações, tanto aquelas produzidas no ano de 1988, como sambas
enredos anteriores que também tiveram a Abolição como tema.

A pesquisa pretende somar-se aos estudos historiográficos das representações artísticas


da Abolição. A metodologia de pesquisa abarca a análise visual da composição dos
figurinos e dos carros alegóricos e a análise textual do samba-enredo, dado que a letra
da música e a alegoria contribuem para a constituição destes discursos. A escolha destes
desfiles se justifica pela relevância que os mesmos possuem por terem sido campeão e
vice-campeão do Carnaval carioca em 1988; pela importância do tema do enredo para a

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História do Brasil; e por estarem inseridos no contexto das comemorações do
Centenário da Lei Áurea.

A pesquisa se apoia nas leituras de Marcos Napolitano, Fontes Audiovisuais: a História


depois do papel, e de Pierre Bordieu, Sobre a Televisão, que fornecerão as ferramentas
teórico-metodológicas para análise das fontes audiovisuais. A partir destas leituras,
abordaremos o registro audiovisual do desfile como fonte, objeto de pesquisa e recurso
paradidático no ensino da História. Confrontaremos estas análises com as reflexões
realizadas por Ângela de Castro Gomes sobre as principais transformações do debate
historiográfico sobre a escravidão. Nos interessa analisar como as escolas de samba se
apropriam dos diferentes modelos analíticos presentes na historiografia da escravidão,
como o mito da democracia racial, o escravo-coisa, o escravo-herói e a progressiva
afirmação do escravo como sujeito e ator social a partir dos anos 1980.

BRASIL – Saúde (22/11 – 4ªf – 19:30 às 21:00)

O discurso médico brasileiro sobre as doenças hereditárias no pós II Guerra


Mundial.

Raíssa Barreto dos Santos – UFF

O projeto “O Discurso Médico Brasileiro sobre as Doenças Hereditárias no pós-


II Guerra Mundial” (1940-1950)tem como objetivo perceber como aconteceu a
mudança no discurso médico após a repercussão das atrocidades cometidas pelos
médicos nazistas. Através de uma pesquisa feita na Hemeroteca Digital, na biblioteca de
Ciências Biomédicas de Manguinhos e no Acervo Especial de Obras Raras foi possível
entender como nos jornais estava circulando as notícias sobre as experiências feitas em
humanos nos campos de concentração durante o Nacional Socialismo.

O discurso sobre anemia falciforme mudou por contada pesquisa sobre raça no
Brasil feita pela UNESCO porque até então o Brasil era considerado um exemplo de
democracia racial. Diante da constatação da existência de um preconceito racial, os
artigos médicos científicos passaram a ter maior cautela ao referenciar indivíduos
marcados pelo racismo. Em relação as doenças hereditárias, foi possível perceber que

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tal mudança se deu pela grande repercussão das atrocidades feita por médicos nazistas.
Nas notícias existe a tentativa de desvencilhar a medicina do projeto de Estado, como se
os abusos de autoridade só fossem possíveis graças ao nazismo.

Perpassando por temas como exame pré-nupcial e eugenia, busca-se entender


como medidas de controle tiveram espaço na sociedade brasileira mesmo no pós-II
Guerra Mundial.

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Do Purgatório ao Paraíso: A Caridade como forma de Salvação das Almas na


Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (1683-1822)

Bianca Racca Musy – UFF

Criada no século XVI, com base na confraria de Lisboa, a Santa Casa de


Misericórdia do Rio de Janeiro exerceu um papel de fundamental importância no que
diz respeito a caridade e o auxílio aos pobres até meados do século XIX. Dado que a
colônia possuía uma fragilidade da estrutura eclesiástica e a partir disso, com atuação
reduzida nas obras de assistência, se afastam de uma religiosidade ortodoxa e
caracteriza-se de forma mais generalizada por elementos da cultura popular. Em meados
do século XVII a irmandade concentrava em seus postos de prestígio grandes figuras da
elite açucareira dada a sua proeminência. Apesar de uma confraria leiga, expressa os
ideais católicos de que os ricos só alcançariam o reino dos céus a partir das doações e
esmolas destinadas aos pobres e ainda possuíam privilégios reais e condições que se
mostravam vantajosas para exercer a caridade.
A partir da concepção da ideia do purgatório como expresso nas obras de
Jacques Le Goff, o medo do lugar intermediário entre o céu e o inferno se faz presente
ao longo da documentação, expressando a incorporação da ideia de caridade como
remissão dos pecados. A Santa Casa de Misericórdia foi uma grande administradora dos
legados deixados em prol dos pobres e da celebração de missas para almas de parentes,
amigos e até mesmo de estranhos que poderiam estar no purgatório, o que mobilizou um
grande fluxo de dinheiro e outras doações. A presente comunicação busca tem o
objetivo de entender as especificidades locais em torno da pobreza e da caridade,
mapear questões como a vadiagem, a marginalidade, o controle social e o grande
número de testadores preocupados com o destino de suas almas a partir dos legados pios

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da irmandade, que servem para entender as raízes da pobreza e da devoção no Brasil
colonial, temas que por muito tempo foi deixado de lado pela historiografia.

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Gênero e sexualidade no Hospício Nacional de Alienados (década de 1930)

Ygor Martins Cruz - UFRJ

A pesquisa “Gênero e sexualidade no Hospício Nacional de Alienados (década


de 1930)” integra-se, como subprojeto, à pesquisa “Do Hospício de Pedro II ao Hospital
Nacional de Alienados: cem anos de história (1841 – 1944)”, coordenada pela
professora e pesquisadora Drª. Cristiana Facchinetti (COC/FIOCRUZ). Associa-se
também ao grupo de pesquisa do CNPq “O físico, o mental e o moral na história dos
saberes médicos e psicológicos”.
Nosso problema é entender como as categorias de “gênero” e “sexualidade”
impactaram os diagnósticos oferecidos por psiquiatras e estudantes de psiquiatria aos
pacientes que ingressavam no Hospital Nacional de Alienados, durante as décadas de
1920, 30 e 40. Assim, nosso objetivo é compreender como funciona a relação entre os
comportamentos sociais e sexuais considerados desviantes com os diagnósticos
psiquiátricos a partir das avaliações médicas feitas dos pacientes.
A principal fonte escolhida para a pesquisa – os Livros de Observação Clínica
dos Pacientes do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(IPUB/UFRJ) – tem sua origem vinculada ao Pavilhão de Observação. Esse Pavilhão
era a porta de entrada para os doentes – suspeitos de alienação mental – enviados pelas
autoridades públicas. A documentação analisada são as observações clínicas desta
instituição, portanto, tratam da primeira avaliação oferecida aos pacientes em relação
aos 15 dias, em média, que estiveram internados sob supervisão ali.
Além disso, por meio dos registros disponíveis, propõe-se traçar o panorama
histórico dos indivíduos que ingressaram no Hospício Nacional. Idade, origem sócio-
profissional, estado civil, história da doença e, principalmente, diagnóstico,
encaminhamento, tratamentos e saída são as informações que serão buscadas nos Livros
de Observação.
A década de 1930 foi escolhida como recorte temporal para esta apresentação.
Do ponto de vista político-social, é um período de muitas efervescências e de grande
ebulição no Brasil e no mundo. É o momento em que a “Revolução de 1930” encerra a

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República das Oligarquias e em que é inaugurado o período que entra para a História do
Brasil conhecido como “Era Vargas”. Nessa direção, em 1932, observamos ainda o
movimento das oligarquias paulistas contra o governo Vargas, a Revolução
Constitucionalista. Em 1937, Getúlio Vargas iniciou no país a ditadura do Estado Novo
– marcada, entre outros aspectos, pela centralização de poder, pelo autoritarismo e pela
perseguição aos seus opositores. Levando em conta a arena externa, temos as seguintes
convulsões: a Guerra do Chaco, entre Bolívia e Paraguai (1932), a Guerra Civil
Espanhola (1936), a Segunda Guerra Mundial (1939). Economicamente, no ano anterior
à inauguração da década – 1929 – houve a grande crise econômica que afetou todo o
mundo; em 1933, o presidente Roosevelt lançou o New Deal, plano que se direcionou
como uma tentativa de reestruturar a economia norte-americana. Além disso, por tratar-
se de um período pós (I Guerra Mundial) e pré-guerras (II Guerra Mundial), houve
diversas mudanças nas questões paradigmáticas relacionadas à Psiquiatria que serão
devidamente exploradas ao longo da apresentação deste trabalho, numa tentativa de
relacioná-las à problemática desta pesquisa.
Para os nossos propósitos de construção de conhecimento histórico, o hospício
se apresenta como excelente espaço para a compreensão das dinâmicas sociais. Ali, é
possível analisar os lugares ocupados pelo o que convém-se definir como o masculino e
o feminino e, desta forma, assimilar seus diferentes papeis na sociedade. O hospício
funciona, segundo tipologia criada por Maria Clementina Pereira Cunha, como um
“espelho do mundo”. As narrativas desenvolvidas a partir da pesquisa se enveredam no
sentido de dar visibilidade aos espaços e a indivíduos cujas vivências e subjetividades
de outra forma não seriam conhecidas.
Enfim, a pesquisa aqui resumida pretende ampliar os conhecimentos que se
possui sobre a instituição estudada – o Hospital Nacional de Alienados.
Nesta apresentação, buscaremos, além de apresentar esta pesquisa numa
perspectiva geral, mostrar o estado da arte desse trabalho. Pretendemos, com isso,
salientar as hipóteses parciais a que chegamos a partir do confronto das fontes e das
leituras teórico-historiográficas empreendidas.
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O ideal sanitarista brasileiro: mulheres, conservadorismo e a Liga Brasileira de


Higiene Mental (1946-1964)

Marina Soares Oliveira – UFRRJ

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A presente comunicação visa apresentar os resultados obtidos na monografia
quanto ao papel da Medicina psiquiátrica, através da Liga Brasileira de Higiene Mental
(doravante LBHM), como importante instrumento na representação do papel das
mulheres no Brasil entre 1946 e 1964. Pretende-se demonstrar como o ideário da
LBHM impactou as concepções do Estado em diversos âmbitos, principalmente no que
tange as políticas públicas de saúde para as mulheres, como também a sociedade como
um todo no que diz respeito ao lugar da mulher, de sua vida, de seu comportamento e
seu corpo, tomados como um objeto subserviente aos interesses biológicos reprodutivos
da sociedade e desapropriado de direitos e garantias constitutivos das mulheres como
sujeitos, tal qual são os homens na sociedade patriarcal.

A temática da loucura e seus desdobramentos (prostituição, alcoolismo etc.)


deixam de ser doenças propriamente ditas e figuram como aquilo que é inerente ao
sujeito que resiste à normatização. Neste sentido, ideias comoeugenia e higienização
não estariam ligadas necessariamente a um saber médico-científico, mas à ideologia de
uma época, pois o cunho sanitarista está intimamente respaldado pelo conservadorismo
da sociedade brasileira. Mediante o exposto, objetiva-se demonstrar que a mulher
constituía uma figura central para o ideário vinculado à higiene mental não como um
sujeito de direito – emancipado –, mas apenas considerada em um papel biológico de
reprodução do “novo Brasil”, “superador do atraso”. Os ideais implementados pelos
psiquiatras da LBHM representavam interesses ideológicos dominantes e o discurso
médico apropriou-se dos espaços de poder inerentes à própria prática discursiva para a
consolidação de um determinado programa hegemônico, sob o manto do saber
científico, do discurso universal, mas eram apenas homens de seu tempo, cujo contexto
econômico, político, social e cultural influenciou as teorias psiquiátricas por eles
elaboradas.

AMÉRICA - Historiografia e Memória (23/11 – 5ªf – 10:00 às 11:30)

Jogando Bola com os Astecas: Uma análise do tlachtli

Alessandro Wagner Ribeiro Possati - UFRJ

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Por meio desta pesquisa buscamos fazer um debate sobre a historiografia já
existente sobre o jogo da bola ameríndio na sociedade asteca, traçando principalmente a
influência do jogo nesta última. Utilizando-se de autores da área de América Pré-
Colombiana e Colonial, procuraremos entender aonde o jogo da bola pode ter sido
negligenciado historiograficamente e aonde seu estudo já encontra bases estabelecidas.

Por meio da análise de autores que debatem desde o meio jurídico, como
Capdequí, que traz citações sobre o jogo no novo mundo, até o meio social como
enfoque principal na sociedade asteca. O nosso recorte buscará compreender a
influência e a condição do tlachtli para essa sociedade fazendo uso de cronistas como
Oviedo e Sahágun, e também de comentadores posteriores como Vaillant e Soulstelle,
autores que estudam a sociedade pré-colombiana e se debruçam em algum momento de
seus escritos sobre a questão do jogo.

Com esse trabalho, queremos preencher melhor as mudanças traçadas pela


prática do jogo da bola na sociedade asteca durante a sua existência, desde a fundação
de Tenochtitlán até a chegada de Hernán Cortez e a conquista espanhola, é
compreendendo o jogo como um modificador social que iremos usar do livro Homo
Ludens para traçar melhor o como o tlachtli foi capaz de influenciar e afetar o mundo
asteca.

Em meio a essas mudanças tentaremos entender quem o praticava, qual a sua


função social e política na sociedade asteca em suas diversas temporalidades e
condições, retornando principalmente aos cronistas. Por objetivo final temos por buscar
o saber de como o tlachtli pode ser utilizado como instrumento para estudos da
sociedade asteca em seus diversos aspectos.

Usaremos de textos de autores da área de História da América, escritos de


religiosos que comentavam o chamado novo mundo, legislações espanholas e códices
que trazem uma visão mestiça da prática. Através desses documentos se espera chegar
em um trabalho que contenha uma análise específica sobre o tlachtli asteca e sua
importância para o entendimento desta sociedade.

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Uma educação popular para a América Latina: a obra de Simón Rodriguez sob o
olhar da História Intelectual

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Clara Marques Souza – UFRJ

A pesquisa aqui desenvolvida busca reunir e analisar elementos, dentro da


perspectiva da História Intelectual, sobre a obra de Simón Rodriguez e o contexto que
possibilitou a construção e transmissão das ideias presentes nas obras
SociedadesAmericanas en 1828, de 1828, Luces y VirtudesSociales, de 1834 e Extracto
sucinto de mi obra sobre laEducación Republicana de 1849. Rodriguez, professor
venezuelano mais conhecido por sua atuação como mentor de Simón Bolívar, foi um
personagem marcante por muitos outros feitos além de sua proximidade com uma das
principais figuras da independência venezuelana.

Pouco estudado no Brasil, o educador teceu diversas críticas à estrutura do


sistema educacional oitocentista no continente americano, defendendo o que pode ser
entendido como um projeto de educação popular pioneiro pensado para a porção latina
do continente. Além disso, criticava firmemente a segregação racial nas instituições
educacionais, defendendo uma educação para brancos, negros e indígenas, postura que
pode ser considerada revolucionária para os parâmetros da época. Em síntese, Simón
Rodríguez buscou difundir a importância da educação popular como veículo de
transformação social, na medida em que o autor acreditava que na América do Sul as
Repúblicas apesar de fundadas ainda não estavam estabelecidas.

Assim, nosso objetivo se concentra, essencialmente, no estudo do pensamento


do intelectual, a partir de uma análise que transcenda sua obra em si. Ou seja, que
entenda não apenas seu lugar social, mas permita, ainda, a compreensão dos elementos
constituintes do pano de fundo que, tão fundamentais quanto o autor, foram
importantíssimos para a construção e proliferação de suas ideias. Esta relação entre
texto e contexto é fundamental para pensarmos os escritos de Rodríguez a partir da
lógica da História Intelectual. Neste sentido, nos aproximamos dos pressupostos
metodológicos do Contextualismo Linguístico da Escola de Cambridge.

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A construção da memória sob a perspectiva de Cem Anos de Solidão

Maria Eduarda Ferreira José - UFRJ

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No dia 6 de dezembro de 1928 uma concentração de grevistas colombianos
trabalhadores da United Fruit Company foi metralhada no povoado de Santa Marta,
localizado no Caribe Colombiano. Sob o pretexto de encontrarem o governador para
que pudessem negociar suas reivindicações, cerca de cinco mil camponeses e suas
famílias foram assassinados pelos militares do Exército. Tanto o governo quanto os
militares lidaram com a situação como se nada houvesse acontecido. O primeiro, devido
à pressão de manifestações ocorridas à época, reconheceu treze mortes; o segundo,
reconheceu apenas nove. Até hoje não houve nenhuma punição penal ou política. Em
seu livro “Cem Anos de Solidão”, publicado em 1967, Gabriel Garcia Márquez se
insere no pequeno número de autores que retratam o massacre na literatura. Sob a ótica
do realismo fantástico, o autor descreve o fuzilamento como tendo ocorrido no pequeno
povoado fictício de Macondo, e retrata o personagem José Arcádio Segundo como
sendo um dos líderes da greve e o único sobrevivente do massacre. Apesar de lançar
mão de elementos muitas vezes fantasiosos, a descrição de Márquez não foge muito da
realidade do que ocorreu em 1928, relatando que as causas para a greve foram:
habitações insalubres para os trabalhadores, ausência de assistência médica e de salário;
que as tentativas frustradas dos trabalhadores de furarem a produção e transporte de
bananas quase causaram uma desleal guerra civil entre camponeses e militares, e que,
convidados para negociarem com o governador, todos foram mortos na estação de trem.

O autor ainda relata que na noite do massacre foi lida uma notificação oficial
comunicando que os trabalhadores haviam obedecido às ordens dos solados, o que,
novamente, não se distancia do verossímil, visto que, após o massacre original, o
governo colombiano e os militares assinaram um acordo de trabalho em nome dos
operários. Além disso, a amnésia coletiva que ocorre em Macondo após o massacre
retratada pelo autor, se aproxima muito do que ocorreu na América Latina e no mundo
no que diz respeito ao Massacre de Aracataca. Com a Lei de Defesa Social (“Lei
Heróica”) em vigor, e a censura sobre a mídia, além do silêncio adotado pelo governo e
pelo Exército, a chacina foi esquecida tanto pela população colombiana e latino
americana, quanto pela United Fruit Company e pelo resto do mundo. Sendo assim,
fazendo uma relação entre a Literatura e a História, a partir do conceito de
representação de Roger Chartier e das reflexões de Sandra Pensavento em História e
História Cultural o presente trabalho é parte de uma pesquisa, ainda inicial, que
pretende analisar a construção de uma memória latino-americana a partir da construção

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discursiva de Garcia Márquez, buscando pensar a relação do texto ficcional com o
contexto dos anos 1960 na América Latina. Questões como antiimperialismo, direitos
de greve, democracia, liberdade etc, serão observadas no trabalho.

ENSINO DE HISTÓRIA – (23/11 – 5ªf – 10:00 às 11:30)

“Somos alguém na História”- autoria e protagonismo em sala de aula.

Brenda Ramos Maganha - UFF

Thamiris Altoé Roque - UFF

O projeto “Somos alguém na história – Autoria e protagonismo em sala de aula”


foi elaborado entre os bolsistas do PIBID – História UFF, a professora supervisora
Priscila Arttee os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental e 1º ano do Ensino Médio do
Colégio Estadual Aurelino Leal. Tem como objetivo principal destacar o papel do aluno
como protagonista do processo histórico, usando suas histórias de vida como fonte e
material para o desenvolvimento do projeto. Além disso, através dos seus relatos,
objetivamos conhecê-los melhor afim de aproximarmos nossos conteúdos e discussões
às suas realidades de vida. Temos como uma de nossas bases a abordagem de Freire
(1996), que ressalta a necessidade do respeito, à linguagem, à cultura e à história de vida
dos alunos, de forma que os conteúdos não fujam da realidade dos mesmos. Como
resultado prévio, obtivemos o aumento da frequência e da participação aulas, além do
estreitamento dos laços afetivos entre os sujeitos participantes. Os alunos, além de
demonstrarem grande comprometimento na realização das atividades, já conseguem
relacionar suas vidas com os conteúdos abordados.

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Narrativas de si nas aulas de História: desafios de pesquisa.

Pâmela Dias Mendes Viana Ferreira -UFRJ

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A proposta desta comunicação visa discutir as potencialidades das “Narrativas
de Si” (MONTEIRO e AMORIM, 2015) em aulas de história e seu diálogo com a
construção do aprendizado e do saber histórico escolar. O trabalho se articula com
proposições apresentadas no artigo “Potencialidades das "Narrativas de Si" em
Narrativas da História Escolar” de autoria da Drª Ana Maria Monteiro (FE/UFRJ) e da
Doutoranda Mariana Amorim (FE/UFRJ), dialogando com as ideias e abordagens de
Delory Momberger (2012) sobre as “narrativas de si” na pesquisa biográfica com o
objetivo de analisar de que forma o uso de experiências pessoais produzidas pelos
professores pode ajudar a elucidar as temáticas abordadas em sala de aula e mobilizar
um conhecimento e aprendizado específico na relação aluno professor, autor e aluno.
(MONTEIRO e AMORIM 2015; MONTEIRO, AMORIM e RALEJO 2016).
Os procedimentos metodológicos adotados foram os dados captados durante o
acompanhamento, gravação das aulas e realização de entrevistas de professores
considerados marcantes durante dois meses no ano de 2014 e 2015, resultado da
pesquisa intitulada “Tempo presente no ensino de história: historiografia, cultura e
didática em diferentes contextos curriculares”, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Ana Maria
Monteiro do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino de História (LEPEH/FE).
Ao trazer uma história vivida carregada de uma moral e ética de um determinado tempo
ou espaço, além de uma aproximação e elucidação temática para o aluno, o professor
possibilita e cria um ambiente possível de comparação. Por sua vez, o ouvinte tem a
possibilidade de compreender traços e nuances que constituem a sociedade em suas
épocas e locais e, por consequência irão contribuir para o aprendizado do pensamento
histórico em sala de aula. Podemos concluir que ao se aproximar da realidade do aluno,
há uma ação que passa a dotar os conteúdos de significado. Desta forma, buscarei
explicitar como essa ação se dá e, se é e tem sido de fato captada como uma intervenção
propulsora no fazer didático escolar, possibilitando a compreensão dos fatos em estudo
sem incorrer em anacronismos.

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Cultura Histórica Discente e o Ensino de História Indígena na Educação Básica.

Rayane Barreto de Araújo - UFRJ

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O trabalho é produto de uma proposta pedagógica desenvolvida na 3ª série do
Ensino Médio do Colégio de Aplicação da UFRJ no ano de 2016 a respeito da inserção
da história indígena na disciplina História do Brasil, sobretudo nos séculos XIX e XX,
período em que esses povos aparecem de maneira episódica ou reducionista na narrativa
escolar e na produção de livros didáticos. Em conjunto com a professora Alessandra
Carvalho aplicou-se um questionário a 70 alunos, de três turmas distintas, sobre suas
visões e conhecimentos acerca dos povos indígenas brasileiros, objetivando-se
identificar os elementos principais apresentados nas respostas, relacionando-os com os
debates do campo do ensino de História em relação processo de formação da cultura
histórica. Seguiu-se metodologicamente, a partir das respostas obtidas no instrumento
de pesquisa aplicado, a elaboração de aulas (regidas pela professora e por mim) e
materiais didáticos que tiveram a história dos povos indígenas como objeto específico
no período imperial e na Primeira República no Brasil. A elaboração dessas atividades
baseou-se nas perspectivas defendidas pela historiografia e pesquisas no campo da
educação mais recentes, as quais buscam destacar a agência indígena frente a distintos
contextos históricos e aos processos contínuos de etnogênese como elementos
constituintes da história desses povos, não apenas na relação com não indígenas, mas,
também, na relação com o próprio Estado-nacional brasileiro.

______________________________________________________________________

Narrativas didáticas entre a história e as biografias


Hellen Winin Silva Gomes – UFRJ

O presente trabalho se inscreve nos estudos desenvolvidos no âmbito da


pesquisa Currículo como espaço biográfico: conhecimento, sujeitos e
demandas, (GECCEH/NEC/UFRJ) onde participo como estagiária do PIBIC –
Programa de Iniciação Científica e, cujo objetivo está em analisar como a tensão entre
singular e coletivo se apresenta na constituição dos sujeitos, como é reelaborada na
historiografia escolar, tendo como campo empírico as narrativas nacionais fixadas nos
livros didáticos de História para a educação básica. Essa relação se incorpora ao diálogo
com os debates historiográficos contemporâneos sobre a relação entre biografia e
história com os estudos narrativos. Com o intuito de analisar as narrativas históricas nos
textos curriculares selecionados volto meu olhar para os efeitos dos estudos biográficos
na produção de sujeitos históricos a partir da seleção de textos curriculares da área de

48
Historia – coleção didática escolhida - como acervo empírico da pesquisa. Dessa forma,
indago: quais as narrativas históricas escolares fixadas nos textos curriculares?

O foco desta análise consistiu em interpretar nas narrativas históricas produzidas


envolvendo cada um desses fatos, o entendimento de sujeito histórico privilegiado a
partir da questão: Quais representações narrativas e biográficas atravessam o Rio de
Janeiro nos livros didáticos? Os primeiros resultados apontam para a presença
hegemônica na narrativa escolar de histórias sem sujeitos, ou melhor, sujeitos
despossuídos de vida, explicitando o lugar performativo do currículo desta disciplina no
sentido de funcionar como um dispositivo, entre tantos outros, de reafirmação do
fenômeno de "desertificação do passado" de que nos fala Loriga (2010, p.11).
Em primeira instância respondo as seguintes questões: como a história se passa
na escola, qual o referencial temporal ou a análise categórica do tempo, como é
dimensionada a marca histórica dos acontecimentos, a partir de quem, quais os sujeitos
que modificam a historia, para quem eles agem, por que são narrados? Quando eu trago
essa discussão a que contexto eu me remeto primeiramente? O porquê da escolha desse
material foi mais propriamente devido ao fato de estarem em circulação na rede publica
de ensino básico. Os temas, entretanto foram escolhidos devido ao tratamento que
usualmente ocorrem em suas abordagens, por serem opções constantemente presentes
no currículo de ensino de História na educação básica me proponho aqui ampliar o
debate sobre os mesmos e, assim analisar a forma como os sujeitos são trazidos a tona
em seus contextos.
A escolha dessa obra como inicio dessa reflexão não aconteceu por acaso, mas
sim por estar ligada a minha trajetória. Quando eu era pequena e as palavras ainda não
tinham o peso e o valor simbólico que hoje tem para mim me recordo que minha mãe já
lia poesias, poemas e historias que sem saber estavam relacionadas a meus
antepassados. O que me trouxe a esta apresentação é o fato de eu desde que me lembro
ter buscado um sentido de verdade e identidade das circunstancias ao meu entorno. E
esse espaço para pensar, pesquisar e aprofundar debates de ordem biográfica e teórica
encontro no grupo de pesquisa onde atuo como estagiaria a quase dois anos.

A aposta nos efeitos dessas contribuições teóricas para a reflexão sobre o


currículo de História legitimado como objeto de ensino e aprendizagem da educação
básica evidencia os debates que envolvem a relação entre biografia e história oferecendo
argumentos para a contextualização dessa antiga e conflituosa relação bem como para a
49
compreensão da complexa articulação entre indivíduo e sociedade na concepção dos
sujeitos que povoam os livros didáticos dessa mesma disciplina.

Em relação aos estudos narrativos, interessa explorar o potencial dessa categoria


histórica para a compreensão do processo de produção do conhecimento escolar da
disciplina História. Entendida como a forma de significar a nossa - singular e coletiva -
experiência no e com o tempo, essa categoria permite compreender a função das
temporalidades para a produção deste conhecimento, abrindo pistas instigantes para os
estudos de transposição didática nessa área disciplinar. Trata-se mais particularmente de
analisar a forma como os sujeitos emergem na história nacional narrada em uma coleção
didática, bem avaliada pelo PNLD em circulação nas escolas brasileiras.

Afinal, quem são os protagonistas dessa história? Quem são os silenciados? Ou


ainda, como se articulam no livro didático analisado “o caso individual singular e o
movimento geral da História na construção do sujeito histórico” (Gabriel, Martins,
2016) privilegiado nas narrativas nacionais? Para fins do estudo aqui defendido,
selecionei, em uma coleção didática Conexões com a História, três temáticas históricas
de duração e dimensões diferentes que podem ser consideradas como clássicas da
historiografia escolar, a saber: escravidão, Revolta dos marinheiros e Estado Novo.
Em meio aos termos de distribuição das obras estão circunscritos os seguintes
anos escolares da educação básica:
- 1º e 2º ano: alfabetização lingüística, alfabetização matemática e obras
complementares (ciências da natureza e matemática, ciências humanas, linguagens e
códigos).
- 3º ao 5º ano: língua portuguesa, matemática, história, geografia, ciências, história
regional e geografia regional.
- 6º ao 9º ano, anos finais do ensino fundamental, recebem coleções de ciências,
matemática, língua portuguesa, história, geografia e língua estrangeira moderna (inglês
e espanhol)
- ensino médio: os alunos recebem livros didáticos de língua portuguesa, matemática,
geografia, história, física, química, biologia, sociologia, filosofia e de língua estrangeira
(inglês ou espanhol).
A seleção do material didático para análise nesta pesquisa ocorreu
primeiramente porque este material didático para o ensino médio “Conexões com a
História – volumes 1, 2 e 3, 2010”³ é utilizado nos anos finais da educação básica e, por

50
isso, permite que se avaliem os componentes curriculares a que esses estudantes estão
submetidos nessa fase decisiva de apreensão dos conteúdos definidos como “básicos”.
O ensino médio representa o fechamento de uma etapa e um começo, para aqueles que
cursarem o ensino superior onde posteriormente ocorre o aprofundamento de
conhecimentos os quais se traduzem ambiguamente entre academia e mundo do
trabalho. O segundo motivo está ligado à possibilidade de observação sobre o que se
tem produzido em relação à função polissêmica das identidades narrativas em seus
contextos e temporalidades de forma que afete a individualidade do discente enquanto
também sujeito de uma narrativa particular.

Em um contexto de renovação historiográfica surgia na França a Nova História


Cultural pautada na contestação de discursos que antes legitimavam a superioridade de
uma nação ou cultura sobre a outra. Trazendo essa perspectiva para o ensino de historia
nacional pode-se constatar que a partir do século XIX a historia começou a ser vista
pela perspectiva individual. Olhar para o cotidiano comparando contextos culturais
distintos. Na historia sociocultural a realidade não é dada ou ré-suposta, mas sim uma
contestação da historia e da cultura. Dessa forma as praticas culturais e sociais não são
apenas reflexo da estrutura econômica da sociedade, mas possui uma lógica de um
modo de funcionamento que o historiador tem como tarefa a investigação e a
interpretação de fatos. Essa tendência sócio-cultural da valor a ação dos sujeitos
romperem com as teorias deterministas reconhecendo que não há uma realidade dada
mas a função dos indivíduos constroem social e culturalmente a realidade. A historia
tradicionalmente escrita sempre do ponto de vista dos Estados nacionais visando
grandes sujeitos da História.
No século XIX quando a historia deixou de ser um gênero literário onde a forma
importava mais do que o conteúdo, e a objetividade do conhecimento ocupou um lugar
no qual adquiriu sua cientificidade e se tornou uma disciplina ensinada em escolas e
universidades. Conseqüentemente com a cientificização da disciplina houve a
preocupação de se preservar documentação e material do passado, e a criação de
instituições de preservação da memória. No século XX novas áreas de pesquisa,
métodos e abordagens surgiram modificando a relação entre presente, passado e futuro.
O historiador enquanto intérprete dos vestígios deixados pelo passado se propõe a criar
uma explicação lógica das causas e conseqüências dos acontecimentos por isso sabemos
que em toda interpretação histórica entra a dimensão subjetiva do historiador, expressa

51
sua visão de mundo. chaves explicativas para entender o contexto.multiplicidade de
perspectivas. Entender a historia ou dado momento como processo implica dizer que
não importa o meio, e sim seu fim, isso inferioriza, enfraquece aquele dado momento e
faz com que olhemos para o próximo e essa é uma concepção que consequentemente
nos leva a observar o momento já sabendo seu final assim a agencia dos sujeitos é
retirada. Contexto de renovação historiográfica iniciado na Europa mais particularmente
na França.

Sujeitos históricos são indivíduos ou grupos coletivos responsáveis por


transformações na sociedade. Ate o século XIX personagens considerados de relevância
na política eram os sujeitos da historia considerados heróis. No final do século XIX
outros sujeitos começaram a aparecer nas narrativas históricas como mulheres,
operários, colonizados etc. os grupos menos vistos passaram a construir memória e
exigir seu lugar na historia. O olhar para as pessoas comuns, costumes, modos de vida.
Organização do saber histórico escolar tradicional, convencional. Reconhecimento de
diferentes dimensões temporais.

Este trabalho aposta (pesquisa contínua) nos efeitos das contribuições teóricas
supracitadas para ampliar a reflexão sobre o currículo de História e fazer pensar sobre
quais bases permanecem legitimados os objetos de ensino e aprendizagem da educação
básica nas escolas públicas brasileiras. Os referenciais teóricos epistemológicos que
norteiam essa discussão advêm do movimento intitulado Nova História cultural com
origem em França onde historiadores deram início à Renovação historiográfica a partir
de questionamentos sobre a legitimidade de discursos hegemonizados, como o da
superioridade de uma nação ou cultura sobre as demais. A historia é tradicionalmente
escrita sempre do ponto de vista dos Estados nacionais visando grandes sujeitos da
historia por isso é importante desconstruir a visão Ocidental e questionar outros pontos
de vista além dos que estão prontamente percebidos, nesse sentido a evidencia sem
contestação é algo prejudicial.

A escrita da Historia nacional brasileira passou no século XX a ser vista como


individual, voltou seu olhar para o cotidiano, comparando contextos culturais distintos.
Assim desenvolveu-se a historia sociocultural. O modo como cada individuo age
particularmente passa a influenciar. A realidade passa a ser vista não como algo pré-
determinado mas sim como uma construção social e cultural. Dessa forma as praticas

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culturais e sociais não representam apenas reflexo de uma estrutura econômica da
sociedade mas de uma lógica própria, um modo de funcionamento que o historiador tem
como tarefa a investigação e a interpretação de fatos. Essa tendência sociocultural
valoriza a ação dos sujeitos e rompe com as teorias pré-estabelecidas reconhece,
portanto, que não há uma realidade dada, mas a função dos indivíduos é construir
socialmente a realidade.

O processo de pesquisa iniciado através da análise de material didático dos quais


a coleção de ensino médio foi escolhida o livro “Conexões com a História da editora
Moderna”, a partir de uma consulta anterior ao portal do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação - FNDE, onde acessei as obras aprovadas no Programa
Nacional do Livro Didático – PNLD 2017. A pesquisa e analise da produção de um
quadro demonstrativo com o intuito de pautar inteligivelmente o resultado das
abordagens discursivas e narrativas na pauta pós-fundacional para a compreensão das
dimensões políticas, pedagógicas, epistemológicas e ontológicas da produção e
distribuição do conhecimento disciplinarizado presentes nos livros didáticos analisados
no âmbito dos currículos escolares da educação básica sob o enfoque da lei (10639 e
PNLD) sendo orientada por Carmen Teresa Gabriel.
Observando o componente curricular e didático do livro de História escolhido de
acordo com a aprovação do PNLD – Plano Nacional do Livro Didático, para isso faço
uma comparação do modelo proposto no portal oficial com o livro físico analisado de
acordo com a nova aprovação, as imagens presentes, os temas, enfim, todas as
representações contrapondo-as ao que está proposto para na lei e, de que forma o
mesmo apresenta as personagens protagonistas nesse material de ensino, enquanto o
mesmo é detentor simbólico de uma transmissão de conhecimento, explicadora da
realidade e de fatores sociais, observando ainda se há relações (imagéticas, textuais ou
referenciais) que se estabelecem para possibilitar sentidos democráticos que vão além
do tradicionalismo hegemônico representante de formas de pensar e modos de viver
europeus cujo fim anterior era a legitimação de referenciais estabelecidos como padrão
de uma verdade universal.

MODERNA - Religião, Mulher e Poder (23/11 – 5ªf – 19:30 às 21:00)

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A radicalização luterana da herança escotista e nominalista.

Carolina de Pretes Pegoraro – UFF

O artigo tem como objetivo apresentar algumas teorias escotistas e nominalistas


salutares para a concepção da relação do imanente com o transcendente – homem e
Deus - e analisar de que forma essas teorias foram retomadas e radicalizadas por
Martinho Lutero, que a posteriori serviu de base para a formulação de sua nova
teologia.

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Olympe de Gouges: Entre o Iluminismo e a Guilhotina.

Amanda de Queirós Cruz – UFF

Olympe de Gouges (Montauban, 1748 – Paris, 1793) foi uma mulher de origem
social do chamado “terceiro estado”, que após ficar viúva muito jovem, se mudou para a
capital onde passou a freqüentar os salões literários e se dedicou a escrever peças
teatrais, panfletos revolucionários, entre outros. Seus escritos traziam temas como:
crítica à sociedade, a defesa do abolicionismo, a igualdade entre os sexos, a defesa dos
filhos ilegítimos, a proposta de divórcio, etc. Foi autora de mais de trinta publicações de
cunho político. A obra que a tornou célebre para a contemporaneidade foi a sua
Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã (Déclaration des droits de la femme et
de la citoyenne, no original) publicada em 1791. Em que se encontra uma denúncia das
desigualdades sociais e políticas entre os homens e mulheres na França setecentista.
Olympe de Gouges, era uma mulher ilustrada, freqüentava os salões, discutia
com filósofos, colocava sua pena a serviço de suas idéias e publicava assinando com um
nome de mulher apesar de toda misoginia que existia no Século das Luzes. Foi presa
durante a Era do Terror da Revolução Francesa e foi condenada à morte pela guilhotina
em 1793. Dominique Godineau3 e Michelle Perrot4 apontam que a «Feuille de salut
public» publicou um artigo em 1793 em que criticava Olympe de Gouges que havia
tentado agir como “homem de Estado” e se esquecido do papel do seu sexo.
Ao analisar uma biografia sobre Olympe de Gouges – Trois Femmes de la
Révolution de autoria de Léopold Lacour - e alguns dos escritos deixados por de

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Gouges, especialmente a fonte documental Déclaration des droits de la femme et de la
citoyenne de 1791 - em comparação com a produção historiográfica sobre Ilustração, a
mulher na Europa do Antigo Regime e no século XVIII e também sobre essa
personagem, podemos perceber que além de Gouges ser uma mulher ilustrada, analisá-
la nos ajuda a compreender algumas questões e contradições sobre a situação feminina
no Século das Luzes.
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“Poer em caronica” a história de Portugal: as crônicas régias portuguesas e o


projeto político e cultural da Dinastia de Avis.

Nathália de Ornelas Nunes de Lima – UFRRJ

O trabalho objetiva demonstrar como a cronística tardo-medieval portuguesa


cumpriu um importante papel no projeto político e cultural de afirmação e legitimação
da Dinastia de Avis, especialmente no período que Miriam Coser (2007) considera
como a primeira fase dessa dinastia, isto é, entre os reinados de D. João I e D. Afonso V
(1385-1481).
Diantedas dificuldades enfrentadas por Portugal nos planos político e
diplomático na virada do século XIV para o século XV, quando ocorre a crise dinástica
de 1383-1385, Luís Adão da Fonseca (2003) aponta que, para além de vitórias militares
e conquistas territoriais, a Dinastia de Avis precisou do apoio de uma “construção
teórica” que a legitimasse e projetasse (FONSECA, 2003, p. 55). No desenvolvimento
desse projeto de afirmação de Avis, destacamos o papel das crônicas oficiais do reino.
Ainda que já pudesse ser notada nos últimos reinados da dinastia Afonsina a
preocupação com a produção de uma memória de Portugal, tal objetivo ganha uma nova
dimensão a partir da iniciativa do rei D. Duarte de financiar um cronista oficial do reino,
Fernão Lopes, em 1434(COSER, 2007). Procurando, assim, discutir elementos dessa
nova orientação historiográfica em Portugal, as principais fontes utilizadas napesquisa
sãoos textos de Fernão Lopes, Gomes Eanes de Zurara e Rui de Pina, que foram
cronistas oficiais do reino e ocuparam também o cargo de guarda-mor do Arquivo
Régio da Torre do Tombo.
A partir das noções de “documento” e “monumento” discutidas por Jacques Le
Goff (2003), entendemos que as crônicas oficiais do reino português, além de
documentos, por serem concebidas como registros escritos de fatos históricos, podem

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ser também compreendidas enquanto monumentos, já que nelas é perceptível o “poder
de perpetuação” da memória coletiva daquela sociedade.

ANTIGA – Antiguidade Europeia (24/11 – 6ªf – 13:30 às 15:00)

Uma sujeira na áurea Dinastia Antonina: memória e esquecimento na obra


“Elogio a Roma”, de Élio Aristides

Amanda Reis dos Santos –UFRJ

Pensar na relação entre construção de memória e os discursos legados da


Antiguidadeé altamente profícuo ao historiador. Isto porque, como se sabe, nenhum
escrito, independentemente da época em que foi criado, é isento: é intrínseco a ele todo
um modo de percepção de mundo e de classe daquele que o compôs. Baseando-se
nesses pressupostos, chegou-se à conclusão de que a interpretação da Dinastia Antonina
como uma dinastia áurea, condizente com o melhor momento da História Romana, nada
mais é do que uma construção discursiva de indivíduos provenientes da ordem
senatorial – ou que pactuava com sua ideologia – ou que possuíam algum tipo de status
no Império, não apenas no século II, como também anterior e posteriormente. A
princípio, o encômio pronunciado por Élio Aristides na capital, em 143 d.C, realmente
mostra, através de recursos como a comparação com outros povos do Mediterrâneo e o
resgate de memórias de impérios precedentes que faliram, o esplendor de um que havia
chegado ao seu auge; no entanto, uma leitura mais atenta, privilegiando os
esquecimentos do autor, revela que, tacitamente, o jovem orador de origem mísia
ressente-se com o domínio romano no Oriente. O objetivo da presente comunicação,
portanto, consiste em apresentar algumas considerações sobre o trabalho memorialístico
de Aristides, sobretudo na obra “Elogio a Roma”, levando em conta o gênero textual
deste documento – isto é, laudatório – e o contexto em que foi escrito e pronunciado,
lançando mão, ainda, de Paul Ricoeur como base teórica.

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O Colapso do Sistema Republicano Romano e o Discurso de Preservação das


Instituições: A Busca por Legitimidade dos ‘’Salvadores da República’’

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Amanda Prima Borges – UFRJ

Com as riquezas advindas da expansão territorial após a vitória sobre Cartago,


ao final da Segunda Guerra Púnica (201 a.C), a disputa de poder no interior das
camadas dirigentes de Roma, em especial a elite senatorial, aumentou imensamente.
Assim, a competição pelos aparatos institucionais – principalmente as magistraturas,
que permitiriam certo controle dos bens que, no momento, afluíam a Roma – culminou,
no decorrer dos anos, na perda de um espírito comum que unisse esse grupo, gerando
uma desestabilização na coesão do Senado. Desse modo, aurbes e o imperium foram
mergulhados em uma corrida às honras que resultou em verdadeiros escândalos de
corrupção e, até mesmo, em grandes ondas de violência urbana: a busca por dinheiro e
honrarias tinha transformado a República Romana na sombra do que ela já fora um dia.
Esse cenário caótico permitiu a ascensão de agentes históricos muito específicos: os
grandes generais do século I a.C., que concentravam em torno de si poder bélico o
suficiente para que sobressaíssem enquanto forças agregadoras. Sendo assim, essa
comunicação se ocupará do estudo das estratégias encontradas por esses personagens
para conquistar apoio político. Será dado especial destaque aquelas que, dentro de um
quadro de colapso eminente do sistema em vigor, buscavam a construção da própria
figura do líder militar enquanto “salvador da República”, ou seja, um homem romano
ideal que seria capaz de resolver os problemas da época caso lhe fosse permitido
acumular poder suficiente para tal.
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Enterramentos na Idade do Bronze: O Estudo de Caso do “Amesbury Archer”

Ana Beatriz Siqueira Bittencourt – UFF


Bianca RaccaMusy – UFF

Todas as sociedades ao longo do tempo tem suas maneiras particulares de tratar


a questão da morte, a deposição de diferentes artefatos e dos corpos, levando em conta
suas disposições, são relatos que representam e podem demonstrar diferentes visões de
mundo. Para a arqueologia, os estudos relacionados a esse tema podem levar a acepções
sobre o caráter do status quo, das relações sociais, e a evolução dos sistemas. Em
grande medida a preocupação está voltada para o que o enterramento pode dizer sobre a
organização social de um determinado grupo, já que cada sepultamento representa

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também um conjunto de diretrizes sobre o indivíduo e de elementos contemporâneos da
sociedade e do momento em que foi feito. Pensando no caso mais específico do recorte
proposto como sendo a Idade do Bronze, sabe-se que há uma marca do início de um
desenvolvimento e da complexidade social mais ampla, que é refletida nos rituais
mortuários. Como principais características desse período, vale destacar a valorização
da ancestralidade e a permanência de algumas estruturas do Neolítico. Tal continuidade
pode ser verificada por exemplo, no que diz respeito ao uso dos locais de enterro,
também possuem grande importância nas estruturas sociais de comportamento, com
influência nas tentativas de montar discursos a partir dos objetos e seus detalhes, que
não seriam depositados aleatoriamente junto aos corpos. Outro destaque se dá à
importação de objetos considerados exóticos vindos de outras regiões da Europa, e aos
artefatos de bronze que demandando técnicas especiais de fabricação passam a ser
utilizados como produtos de troca. Sendo assim, a presente comunicação propõe, a
partir das noções básicas acerca dos enterramentos da Idade do Bronze, analisar o caso
do mais rico enterro desse período na região da Grã-Bretanha, conhecido como
Amesbury Archer, o “rei de Stonehenge” se destaca como uma das descobertas
arqueológicas mais importantes da Europa.

TEORIA – Cultura (24/11 – 6ªf – 13:30 às 15:00)

A cultura material enquanto subsídio para o estudo das sociedades africanas

Anelise Martins de Barros - UFRJ

O continente africano foi interpretado por muito tempo como objeto de estudo
dos antropólogos e arqueólogos. Acreditava-se que apenas a etnografia daria conta de
compreender a essas populações devido à ausência de fontes escritas. Sendo assim, os
historiadores do século XIX e de meados do XX entendiam a ausência de fontes escritas
como uma limitação a narração do passado desses povos.

No entanto, cabe ressaltar que essa questão não girava apenas em torno dessa
ausência, mas também fala sobre a cientificidade e o Darwinismo social que via esses
povos enquanto inferiores e incapazes de produzir história. As sociedades ágrafas eram
tidas enquanto sociedades inferiores, pertencentes a uma primeira infância da
humanidade.

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A virada historiográfica permitiu que afirmações como a de Hegel e de Hugh
Trevor-Hoper, sobre a inexistência de uma história dos povos africanos antes da
chegada europeia, fossem desconstruídas e com isso tal história fosse narrada. Alberto
da Costa e Silva, na conclusão do livro Um Rio Chamado Atlântico, aponta justamente
essa questão e essa desconstrução.

Dentre os fatores que influenciaram essa entrada da África na historiografia


temos a luta de diversas sociedades africanas pela descolonização do continente, pois
muitos dos colonizados vão estudar na Europa ou estudam nas escolas criadas no
continente pelos países colonizadores ou pelas missões cristãs, se apropriam desse
conhecimento e começam a utilizá-lo enquanto forma de resistência a presença europeia
e de questionamento as imposições do colonizador.

Dentro desse contexto de busca pela compreensão de África e dos africanos, a


cultura material, assim como a história oral, se mostrou enquanto uma das soluções a
ausência de fontes escritas. Por meio dela, todos os indivíduos do passado tem voz e ,
em decorrência, têm suas histórias transmitidas.

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Apolônio de Carvalho em "Teoria e Prática"

Ananda Cristina dos Santos Lima – UFF

Apolônio de Carvalho foi um militante comunista atuante nos conflitos políticos


do mundo em que viveu, tendo participado da Aliança Nacional Libertadora no Brasil
em 1935, das Brigadas Internacionais na Guerra Civil Espanhola ao lado dos
republicanos e da resistência francesa à ocupação nazista na França. De volta ao Brasil,
foi militante do PCB e, após 1964, organizou o Partido Comunista Brasileiro
Revolucionário junto com Jacob Gorender e Mário Alves. A comunicação apresenta os
resultados parciais da pesquisa sobre o pensamento do militante comunista Apolônio de
Carvalho nos primeiros anos da década de 1960, afinado que estava com a política do
PCB (Partido Comunista Brasileiro). A fonte documental utilizada para pesquisa é o
jornal do partido Novos Rumos, no qual encontra-se a coluna escrita por Apolônio de
Carvalho, “Teoria e Prática”. Nos seus textos, ele explica determinadas categorias
marxistas, muitas vezes, porém, condicionada ao contexto histórico do movimento
comunista alinhado com a União Soviética. Apolônio, seguindo estritamente a linha

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política do PCB, defende a “política de coexistência pacífica” patrocinada pelo líder
soviético Nikita Khrushchov, bem como a estratégia de “transição pacífica ao
socialismo”. Na publicação de uma de suas colunas, respondendo à pergunta de um
leitor sobre o debate em torno do “culto da personalidade”, o militante brasileiro faz
referência a Marx e a Lênin, interpretando ambos à sua maneira, em um esforço para
justificar a conjuntura política internacional vivida pela União Soviética na época de
Khrushchov. A desestalinização promovida por Khrushchov, e a política de coexistência
pacífica, influenciam, assim, o PCB e o pensamento do Apolônio de Carvalho.

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Indumentária e ficção: contribuições da teoria do vestuário para a História da


Moda

Marcelle Lopes de Souza – UFRJ

O artigo propõe uma leitura da obra O pai Goriot, de Honoré Balzac, a partir de
chaves de leituras próprias da teoria da moda apresentadas por Roland Barthes em O
sistema da moda. A partir disso, busco trazer novas formas de se pensar as funções e as
contribuições que o vestuário dos personagens podem oferecer para a literatura de modo
geral, e mais especificamente para a História da Moda e a História dos Costumes que
Balzac buscava construir em sua obra A Comédia Humana. Quando o vestuário é
apresentado na forma de linguagem literária, ele se torna uma imagem na mente do
leitor, possuindo, assim, a função de caracterizar as personagens de um romance. Elas
serão definidas e apresentadas de acordo com a vontade do autor, associando os seus
aspectos indumentários à sua personalidade. Assim, a descrição do vestuário e o seu uso
acaba se tornando uma ferramenta que possibilita a interpretação do caráter, da moral,
dos desejos e expectativas das personagens. Como a noção do leitor, em relação à
percepção física do personagem, é sempre incompleta, pode-se dizer que o
conhecimento que ele possui sobre os personagens será fragmentário. Por isso, é
necessário que o romance tenha uma ligação estruturalizada entre o personagem e o
enredo. Ela é importante para que haja um contexto adequado que assegure o traçado
convincente da personagem. Proporcionando, assim, uma mútua relação de construção,
na qual o enredo só poderá existir por meio das personagens, e essas só poderão ser
ficcionalizadas a partir do enredo. Desta forma, pretendo destrinchar as funções
específicas da linguagem que a categoria de “vestuário escrito”, desenvolvida por

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Roland Barthes, desencadeia no romance de Balzac. Além disso, busco trazer as
contribuições de James Wood acerca do detalhismo, demonstrando que não existem
detalhes irrelevantes para a teoria do vestuário e a História da Moda. Seja uma narrativa
romanesca ou realista, trágica ou cômica, todos os detalhes da indumentária vão ser
necessários para compor a construção ficcional. Trazendo, assim, contribuições para a
História da Moda e dos Costumes, uma vez que a literatura pode ser utilizada como uma
fonte enriquecedora de conhecimento para esses campos da História.

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O Nacional-Popular pela Arte: O Teatro Político de Vianninha


Letícia Gomes do Nascimento – UFRJ

Oduvaldo Vianna Filho foi um dos expoentes mais significativos da cultura


brasileira, sobretudo no âmbito teatral durante a década de 70. Ao lado de nomes como
Augusto Boal e Gianfrancesco Guanieri, Vianninha – como ficou popularmente
conhecido – integrou uma geração de dramaturgos que acreditavam no uso do espaço
cênico como uma possibilidade de expressão política. Nesse sentido, o presente trabalho
tem como proposta a análise da peça ‘’Chapetuba Futebol Clube’’, escrita por Vianna
Filho em 1959, e dirigida por Boal, durante os Seminários de Dramaturgia realizados no
Teatro de Arena em São Paulo, objetivando a identificação de elementos que
corroboram a constituição da obra de Vianninha a partir de seu ideário político. Deste
modo, caracterizando seu trabalho como uma forma artística de engajamento e
resistência, que nesse caso está alicerçado sobre a tônica brasileira, mobilizando uma
das temáticas mais vultosas no cotidiano nacional: o futebol.

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Programação completa

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