Vous êtes sur la page 1sur 2

14 de maio de 2018, Segunda-feira, Rio de Janeiro.

Sou eu novamente, pai.


Eu não lembro quantas vezes tentei me comunicar contigo.
Me sinto idiota por isso, sabe? Seu frio silêncio congela a minha alma de forma
indescritível.
Não sei se eu deveria estar escrevendo para você, deixando de comer para
pagar os custos desta carta, apenas por uma boba esperança de que um dia tu
vais me responder.
Se for o caso, eu vou respeitar a sua decisão em não querer me conhecer,
porém, confesso a ti que dúvidas sempre assombraram a minha vida. Por que
eu? O que eu fiz para minha existência ser tão ignorada? Eu nem sei se as
minhas cartas chegam até você, me encontro perdido diante dessas dúvidas que
mais parecem tormentas incessantes.
Nós não convivemos juntos, mas eu sou sangue do teu sangue, toda a cultura
ocidental foi construída pela relação familiar, eu quero muito poder conversar
com você, saber mais sobre quem é meu pai. Acredito que isso pode me ajudar
a colocar um ponto final em uma lacuna que sempre me angustiou.

Tem algo que preciso te contar, algo muito sério.


Infelizmente, em poucos meses, eu perderei a casa, não tenho como pagar.
Precisei parar de estudar na universidade, e há uma crise econômica e política
aqui no Brasil, não consigo emprego.
Eu não quero seu dinheiro, pai, nunca quis! Sempre vivi com tão pouco, tudo
que eu quero é uma oportunidade, por favor, quebre o silêncio e fale comigo.
Qualquer coisa!
Céus, me encontro aos prantos novamente.
Nunca achei que eu chegaria a esse ponto, “o desespero humano”, mas insisto,
se não se importa comigo como filho, se importe comigo como um ser humano.
Eu quero viver, pai, quero conhecer a Europa, quero poder sorrir, quero poder
estudar as maravilhas do mundo, quero conhecer a cultura francesa que sempre
fez parte de mim, quero poder conhecer mais sobre música, arte, teatro,
cinema, literatura. Eu quero respirar, quero escrever um romance, quero fazer
algo de útil para humanidade.
Eu tenho tantos sonhos, tantas vontades, essa esperança é o que traz brilho aos
meus olhos já cansados pela ignorância das pessoas que me cercam.
Não pertenço a este lugar, pai, sinto que minha alma luta com muita força pra
não se corromper. Eu te imploro, me dê uma oportunidade de viver!
Você sempre foi uma incógnita para mim, mas confesso que no fundo do meu
coração, eu te amo. Eu te amo tanto que não há lugar para te odiar. E eu não
entendo porquê.
Enquanto escrevo esta carta, ouço em algum lugar tocar ‘Eric Clapton – Tears in
Heaven’, você gosta?
♫ “Would you hold my hand, If I saw you in heaven?
Would you help me stand, If I saw you in heaven?”
Dentro de mim, eu sempre achei que eu deveria ser o melhor que eu
conseguisse ser, para que você pudesse se orgulhar de mim e se interessar por
mim, como uma criança desesperada pela atenção do pai.
Os anos foram passando, e por mais que eu me esforçasse, você nunca
apareceu, e eu continuei pensando que eu era o problema, e eu precisava ser
mais forte, talvez por essa minha árdua batalha em merecer ser visto por você,
eu acabei desenvolvendo sensibilidade em perceber a vida de uma forma que as
pessoas ao meu redor não conseguiam, observar beleza em detalhes profundos.

Peço desculpas pelo desabafo. Não sei quanto tempo ainda me resta, sinto que
estou morrendo aos poucos, me preocupando com o que vou comer amanhã,
me preocupando em me manter vivo, estou com medo e cansado, mas ainda
tenho esperanças.

De seu filho, João.

Meu e-mail Sayha_25@hotmail.com ou Graanbr@hotmail.com


Aguardo uma mensagem sua.

Vous aimerez peut-être aussi