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ENGENHARIA AMBIENTAL
Estudo do tratamento biológico para a fração orgânica de resíduos sólidos urbanos e suas
perspectivas para o Brasil
São Carlos
2014
BRUNO AUGUSTO ALVARES
Estudo do tratamento biológico para a fração orgânica de resíduos sólidos urbanos e suas
perspectivas para o Brasil
Orientador:
Prof. Dr. Valdir Schalch
São Carlos
2014
AGRADECIMENTOS
À toda minha família que sempre me apoiou em todas as fases da minha vida e em todas
as minhas decisões, em especial a meus pais e irmã que sempre estiveram presentes em todos
os momentos.
Aos amigos da república Boi Soberano e Disfarça, que sempre fizeram de suas casas um
lugar de alegria e por serem companheiros a todo momento. Aos amigos da ambiental 09, que
estiveram presentes em quase todos os melhores momentos que eu consigo lembrar na minha
vida e que tenho certeza que vão estar em próximos.
Aos amigos de Coimbra, de toda parte do mundo, que foram bons companheiros e me
faziam esquecer das saudades que tinha do Brasil.
À todos que de certa forma passaram na minha vida em algum momento e me fizeram
evoluir para melhor pessoalmente e profissionalmente.
“Não importa o quão frio seja o inverno, há uma primavera adiante”
Eddie Vedder
RESUMO
ALVARES, B. A. Estudo do tratamento biológico para a fração orgânica de resíduos
sólidos urbanos e suas perspectivas para o Brasil. 2014. 86f. Monografia de Trabalho de
Graduação. Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2014.
A geração de resíduos sólidos está atrelada a quase todas as atividades humanas diárias. Com
o crescimento populacional constante e o consumismo exagerado, a quantidade de resíduos
sólidos gerados aumenta. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída em 2010, e seu
decreto regulamentador, define os aterros sanitários como locais sujeitos à disposição apenas
de rejeitos. Dessa maneira, qualquer material com algum potencial de reutilização que é
encaminhado para aterros sanitários diminui sua vida útil e provoca danos ao meio ambiente.
É o caso da fração orgânica de resíduos sólidos urbanos, que é a maior fração da gravimetria
dos resíduos na maior parte dos municípios. A matéria orgânica pode ser degradada
aerobicamente ou anaerobicamente, na primeira o processo que pode ser utilizado para essa
degradação é a compostagem e a vermicompostagem que tem como produto final compostos
orgânicos e podem ser utilizados como fertilizantes de solo para cultivos agrícolas, na
segunda a matéria pode ser degradada por um processo que vem sendo chamado de
biometanização e tem como produtos finais, além do composto orgânico, o biogás, um gás
que tem sua maior parte composta de metano e é capaz de produzir energia térmica e/ou
elétrica que pode ser um grande incremento na porção de energias renováveis e práticas
sustentáveis brasileiras. O Brasil ultrapassou o prazo definido pela Política Nacional de
Resíduos Sólidos de erradicar totalmente os lixões existentes, para isso, as tecnologias de
tratamento biológico para a fração orgânica de resíduos sólidos urbanos são uma importante
ferramenta para lidar com a problemática da destinação ambientalmente inadequada de
resíduos, que apesar de ser proibida atualmente, ainda é realidade.
The solid waste generation is linked to almost all daily human activities. With steady
population growth and over-consumption, the amount of solid waste generated increases. The
National Solid Waste Policy, established in 2010, and its regulatory decree, the landfills is
subject to destinate only tailings. Thus, any material that has some potential to be used again
and is sent to the landfill shorten its life and causes environmental damage. This is the case of
the organic fraction of municipal waste, which is the largest fraction of the quantum of the
waste in most municipalities. The organic material can be degraded aerobically or
anaerobically, in the first one the process that can be used for this degradation is the
composting and vermicomposting whose final product organic compounds that can be used as
fertilizers for agricultural soil cultivation, in the second one the organic matter can be
degraded by a process which has been called biomethanation and the final products are,
besides the organic compounds, the biogas, a gas wichi is consisting mostly of methane and is
able to produce thermal energy and / or electric that can be a large increase in the portion of
renewable energy and sustainable practices in Brazil. Brazil has overtaken the deadline set by
the National Solid Waste Policy that forced the total eradication for existing dumps, for this,
the technologies of biological treatment of the organic fraction of solid waste is an important
tool to deal with the problem of improper disposal of waste, that although being banned
nowadays, is still a reality.
Key words: urban solid waste, biomethanization, composting, biogas, renewable energy.
LISTA DE TABELAS
CH4 Metano
cm Centímetro
DA Digestão Anaeróbia
H2 Hidrogênio
H2O Água
kW Quilo Watts
L Litro
m³ Metro cúbico
MO Matéria Orgânica
MW Mega Watts
ST Sólidos totais
ºC Grau Celsius
% Porcentagem
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................................... 7
ABSTRACT .............................................................................................................................. 8
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 18
2 OBJETIVOS ................................................................................................................... 20
4 METODOLOGIA........................................................................................................... 53
6 CONCLUSÃO................................................................................................................. 77
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 78
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1 INTRODUÇÃO
A geração de resíduos sólidos é uma prática diária de qualquer ser humano que está
atrelada em quase todas as suas atividades, portanto, se fazem necessárias uma boa gestão e
disposição desses resíduos a fim de que se minimizem seus impactos ao meio ambiente.
No Brasil uma pequena parcela dos resíduos sólidos urbanos é efetivamente reciclada, a
maior parcela é destinada a aterros, lixões ou dispostas ao ar livre, incluindo a fração
orgânica, correspondente a 60% (SILVA, 2008). O ambiente de degradação da matéria
orgânica (MO) em aterros é basicamente anaeróbio, isso acarreta a geração de produtos
desagradáveis, tais como o gás metano e o líquido percolado, ambos com alto potencial de
contaminação (MASSUKADO, 2008).
A destinação final dos resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários tem sido cada vez
mais reservada à parcela de resíduos que já passaram por algum tipo de tratamento ou que não
tenham uma maneira de serem reutilizados. O desenvolvimento de tecnologias de tratamento
desses resíduos, para que eles possam ser aterrados sem impactos relevantes, vem sendo
implantadas e incentivadas por políticas, normas ou diretivas (REICHERT, 2005). Assim é o
caso da PNRS, que veda a disposição final de resíduos em aterro sanitário que apresentem a
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possibilidade de outra destinação, como tratamento ou reutilização que viabilize algum uso
posterior, intensificando a meta de dispor apenas rejeitos.
A compostagem vem sendo uma das alternativas para o tratamento da MO e seu produto
pode atuar como condicionantes de solo e fertilizantes. No Brasil não há muitas estações de
compostagem em funcionamento e a maioria delas oferecem produtos finais de má qualidade
pelo ponto de vista agrícola por manter a presença de materiais indesejáveis e metais pesados
(MASSUKADO, 2008). Ainda como alternativa à estabilização da MO, existe a
vermicompostagem que é realizada pelos microrganismos presentes no trato digestivo da
minhoca.
Pretende-se com essa pesquisa abrir espaço para uma discussão do uso das tecnologias de
tratamento biológico como algo em potencial a ser implantado no Brasil e incentivar
posteriores estudos nessa área, principalmente em tratamentos anaeróbios, tecnologia sem
nenhum uso em escala industrial no Brasil.
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2 OBJETIVOS
i) Analisar a Política Nacional dos Resíduos Sólidos e seu instrumento (Plano Nacional
de Resíduos Sólidos) ao que se refere ao tratamento de resíduos sólidos urbanos;
ii) Comparar os processos de compostagem e vermicompostagem, as tecnologias
existentes nesse setor e suas utilizações no Brasil e no mundo;
iii) Comparar os processos de digestão anaeróbia, as tecnologias existentes neste setor e
suas utilizações no Brasil e no mundo;
iv) Discutir as perspectivas para o Brasil com uso do tratamento biológico para o
tratamento da fração orgânica de resíduos sólidos urbanos.
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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para efeito dessa Lei, classificam-se em seu Artigo 13º, os resíduos sólidos:
I - quanto à origem:
a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em
residências urbanas;
b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de
logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;
c) resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas “a” e “b”;
d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os
gerados nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas “b”, “e”, “g”,
“h” e “j”;
e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados nessas
atividades, excetuados os referidos na alínea “c”;
f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações
industriais;
g) resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde, conforme
definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos órgãos do
Sisnama e do SNVS;
h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas,
reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da
preparação e escavação de terrenos para obras civis;
i) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e
silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas
atividades;
j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos,
terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;
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Em seu Artigo 15º, a PNRS determina algumas metas a serem alcançadas, incluindo a de
redução, reutilização e reciclagem com o propósito de reduzir a quantidade de resíduos e
rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada. Reforçando essa meta
em seus objetivos no Artigo 7º, incluindo a adoção, desenvolvimento e aprimoramento de
tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais, além disso, no mesmo
Artigo se destaca a proteção da saúde pública, o estímulo à adoção de padrões sustentáveis de
produção e consumo de bens e serviços e a gestão integrada de resíduos sólidos, além de
outros.
Essa prioridade faz parte da gestão e gerenciamento de resíduos sólidos e ambos são
diferenciados no Artigo 3º da PNRS. O gerenciamento de resíduos sólidos contempla o
conjunto de ações exercidas nas etapas desde a coleta até a destinação final ambientalmente
adequada dos resíduos sólidos e dos rejeitos, em contrapartida a gestão integrada contempla o
conjunto de ações voltadas que consideram os fatores políticos, ambientais, econômicos e
sociais para a busca de soluções para os resíduos sólidos sob a premissa de um
desenvolvimento sustentável.
Contudo, o plano faz uma estimativa da composição gravimétrica dos Resíduos Sólidos
Urbanos coletados em 2008 (Tabela 1) a partir de uma composição de dados coletados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano de 2010, entre outros.
Destacando uma coleta regular dos mesmos e informando que em 2009 a cobertura de coleta
em domicílios atingiu 90%, sendo que na área urbana a coleta supera o índice de 98%, mas
em contrapartida apenas 33% dos domicílios em área rural tem coleta regular.
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Tabela 1 - Composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos segundo estimativa do Plano Nacional de
Resíduos Sólidos
O plano nacional também faz uma estimativa da destinação final dos resíduos sólidos que
será detalhada em outro tópico deste trabalho.
Isso incentiva que no setor produtivo apareçam estudos de novas técnicas de produção
que visem um desenvolvimento sustentável, diminuindo a geração de resíduos sem alterar a
qualidade do produto final.
Não restando mais métodos de se evitar a não geração de resíduos, resta apenas a redução
máxima de geração dos mesmos. Esse objetivo também está inteiramente ligado ao processo
de inovação tecnológica no setor de produção e tem segunda prioridade no gerenciamento de
resíduos pela PNRS.
3.3.2 Reutilização
No Artigo 3º da PNRS a reutilização de resíduos é definida como
processo de aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação
biológica, física ou físico-química, observadas as condições e os padrões
estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e
do Suasa.
3.3.3 Reciclagem
No Artigo 3º da PNRS a reciclagem de resíduos é definida como
processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de
suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à
transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os
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Quantidade Participação da
Quantidade de
recuperada por coleta seletiva
Resíduos resíduos Reciclados
programas de coleta formal na
no País (mil t/ano)
seletiva (mil t/ano) reciclagem total (%)
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos elenca algumas ações a serem realizadas quanto a
coleta seletiva, dentre elas ele sugere o desenvolvimento e consolidamento de programas de
estímulo a coletas nos municípios.
3.3.4 Tratamento
Como dito anteriormente, a quantidade de matéria orgânica em resíduos sólidos urbanos
(RSU) é bastante alta comparada a outros resíduos, contudo, é necessário que a mesma tenha
uma atenção maior no tratamento de resíduos. Este trabalho tem o intuito de descrever as
principais tecnologias no tratamento de matéria orgânica, portanto este tipo de tratamento terá
um foco maior neste tópico.
3.3.4.1 Compostagem
A compostagem é uma técnica que pode ser realizada de diversas formas, em pequenas e
grandes escalas, como em domicílios, escolas ou indústrias. Assim, o processo varia de
soluções operacionais das mais simples e mais econômicas até das mais complexas, com
tecnologia avançada e custos mais altos (MASSUKADO, 2008).
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos afirma que apenas 1,6% do total de resíduos
orgânicos coletados são encaminhados para tratamento via compostagem e ainda assim em
termos absolutos o Brasil possue uma quantidade de 211 municípios com unidades de
compostagem sendo que suas maiores concentrações estão no estado de Minas Gerais e Rio
Grande do Sul.
Vale ressaltar que o controle do processo deve ser garantido, analisando alguns
parâmetros essenciais, como de temperatura, aeração, relação C/N (carbono/nitrogênio), pH,
granulometria e disponibilidade de microrganismos para que a compostagem não produza
maus odores e nem escoamento do líquido percolado.
A compostagem vem então, como uma alternativa para o aumento de vida útil de um
aterro sanitário, contribuindo indiretamente para que o mesmo não necessite de sistemas de
tratamento do líquido percolado e se reduza a produção de gás metano em sua área
(MASSUKADO, 2008).
i) Temperatura
ii) Aeração
iii) Umidade
O déficit de água numa pilha de compostagem pode ser facilmente contornado com
irrigação, preferencialmente no momento do revolvimento, para que a água se distribua
uniformemente. Já o excesso, facilmente notado por maus odores, pode ser ajustado por
adição de matérias secos, injeção de ar ou revolvimentos (MASSUKADO, 2008).
iv) Nutrientes
Entre 25/1 e
Nenhuma Tempo de maturação ideal
35/1
Considerando que a relação C/N é um parâmetro que só pode ser obtido por análises
laboratoriais, essa prática se torna menos viável a pequenas unidades de compostagem que
não possuem laboratório. Como prática alternativa essa relação pode ser determinada, com
menos exatidão, pela diferenciação de cores presentes na pilha de compostagem, cores mais
verdes determinam materiais ricos em nitrogênio e mais castanhas determinam produtos ricos
em nitrogênio. Dependendo do resultado visual, ajustes podem ser efetuados tendo em vista
uma melhoria da relação entre carbono e nitrogênio (ROTHENBERGER et al, 2006).
v) Granulometria
Nota-se que alguns dos resíduos orgânicos presentes em RSU ultrapassam o limite de
7,5cm recomendado, sendo assim é necessário uma trituração prévia desses elementos para
que atinjam o tamanho ideal. Algumas vezes essa trituração é dificultada pelo teor de umidade
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vi) pH
Segundo Azevedo (1997), vários autores indicam que a faixa de pH inicial deve estar
presente na faixa entre 3 e 11, porém alguns autores indicam que essa faixa deve estar em
uma faixa de 5,5 a 8,5. Os fungos necessitam de um pH mais ácido para se desenvolver.
vii) Microrganismos
Pelo fato da compostagem ser uma atividade aeróbia, a maioria dos microrganismos que
fazem parte desse processo são aeróbios. Grande parte deles são bactérias, fungos e
actinomicetos (HERBETS et al., 2005).
Esse sistema é o mais utilizado dentre os métodos de compostagem de RSU por ter um
baixo custo de manutenção, baixo investimento e não necessitar de tecnologias de grande
porte (MASSUKADO, 2008). Porém para que não haja maiores impactos na utilização desse
método é muito importante que se verifique as condições do solo e do clima da região em que
se emprega esse tipo de tratamento.
O método das leiras estáticas consiste em um método onde não há revolvimento das
leiras, em substistituição a isso para a aeração é injetado ou aspirado ar no interior da leira.
Esse sistema não é recomendado para qualquer tipo de resíduo sólido, o material a ser
compostado deve ser bastante homogêneo e possuir uma granulometria suficiente para
garantir uma boa permeabilidade do ar a ser insuflado (REIS, 2005).
Nesse método as leiras são dispostas em uma tubulação perfurada de 10cm de diâmetro
acoplada a um exaustor. Sobre essa tubulação é colocada uma camada de 15 a 20cm de
espessura de madeira ou galhos, que serve como uma estrutura para facilitar a passagem de ar
para o interior dos resíduos a serem compostados (REIS, 2005).
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Segundo Massukado (2008), o composto gerado pelo método das leiras estáticas aeradas
é de melhor qualidade comparado ao método de leiras revolvidas e é produzindo em um
período de tempo mais curto.
A aeração nesse sistema é facilmente controlada e é feita sob pressão com uma frequente
verificação do balanço de massa entre entrada e saída do oxigênio. Dentre as tecnologias
existentes nessa área, os reatores podem ser diferenciados nas seguintes categorias: reatores
de fluxo vertical, reatores de fluxo horizontal e reatores em batelada (REIS, 2005).
Das tecnologias citadas a mais usual é o sistema horizontal (sistema DANO), cilindros
rotativos são dispostos de forma a girar em uma velocidade baixa de rotação com o intuito de
homogeneizar os resíduos em seu interior. Dentro desses cilindros estão dispostos obstáculos
para promover um maior revolvimento da massa. O tempo de detenção da matéria orgânica é
dependente da velocidade de rotação e da inclinação do reator e logo após esse período de
detenção o material é retirado do reator e disposto em outro local para que ocorra a maturação
ideal (MASSUKADO, 2008).
Tecnologias de compostagem
Método Vantagens Desvantagens
-Baixo revestimento inicial
-Flexibilidade de processar -Maior necessidade de área
volumes variáveis de resíduos -Odores dificilmente
-Simplicidade de operação controlados
Leiras revolvidas
-Uso de equipamentos simples -Dependente do clima
-Produção de composto -Monitoramento de aeração
homogêneo e de boa qualidade mais cuidadoso
3.3.4.2 Vermicompostagem
A vermicompostagem é um método de compostagem em que se utilizam minhocas para
degradação da matéria orgânica. Tem como finalidade a tentativa de melhoria no composto
gerado, através do processo de humificação, que pode ser chamado de vermicomposto ou
húmus de minhoca (SUSZEK, 2007).
3.3.4.3 Biometanização
A biometanização pode ser descrita como um processo de digestão anaeróbia controlada,
seus usos com a fração orgânica de RSU são relativamente recentes. O fato das novas
tecnologias de digestão anaeróbia para o tratamento de RSU terem se desenvolvido a partir de
estudos utilizados no tratamento de efluentes líquidos tem trazido muitas dificuldades de
operação nesse tipo de tratamento recente. Devido ao RSU ser um material bastante
heterogêneo, as dificuldades operacionais aumentam, a dificuldade na mistura e
homogeinização do material e acúmulo de pedras e plásticos nos processos são alguns
exemplos que podem ser citados (GOMES, 2010).
Sendo assim, esforços devem ser feitos para que os processos sejam facilitados. Segundo
Reichert (2005) a biometanização pode ser dividida em quatro etapas: pré-tratamento,
digestão de resíduos, tratamento do biogás e tratamento dos resíduos. A etapa de pré-
tratamento é necessária para que os resíduos sejam homogeneizados com a utilização da
separação ou triagem dos materiais não orgânicos e trituração da parcela orgânica. Na
digestão anaeróbia dos resíduos deve-se incluir líquidos para diluir a massa dentro do reator
que podem ser água, lodo de esgoto, esgoto doméstico ou o efluente do próprio reator com
recirculação. As fases de tratamento se dividem no tratamento do biogás, com o intuito de
deixá-lo mais puro para o aproveitamento energético, retirando a umidade e gases impróprios,
no tratamento do líquido gerado pelo reator que pode ser encaminhado para um tratamento
posterior ou recirculado no reator e no tratamento dos biossólidos, que podem ser
encaminhados para unidades de compostagem para a obtenção de um composto de mais
qualidade e maior valor econômico.
i) Hidrólise
ii) Acidogênese
iii) Acetogênese
iv) Metanogênese
Nessa etapa final do processo anaeróbio ocorre a produção do gás metano por dois grupos
de microrganismos acetogênicos: acetotróficos e hidrogenotróficos. As bactérias
acetotróficas, são heterótrofas e produzem o metano a partir da redução do acetato e as
bactérias hidrogenotróficas são autótrofas e produzem metano a partir da redução do CO2
usando hidrogênio como doador de elétrons, liberando H2O (GOMES, 2010).
matéria orgânica preferencialmente em gás sulfídrico. A presença desse material pode causar
mal odor, além de ser tóxico para as bactérias metanogênicas (REIS, 2012).
i) Temperatura
ii) pH
Para uma atividade garantida de produção de metano o pH pode se estender a uma faixa
entre 6 e 8, porém a faixa ótima de pH para o desenvolvimento das bactérias metanogênicas
fica restringido a uma faixa menos ampla entre 6,5 e 7,5 (RIUJI, 2009).
iii) Umidade
O teor de água é um fator determinante na digestão anaeróbia, sendo que a água serve
como substrato na digestão e fornece os nutrientes para os microrganismos se desenvolverem
e também atua como condutor de enzimas (REIS, 2012).
iv) Nutrientes
Uma unidade de digestão anaeróbia deve se ater aos cuidados necessários para que esses
produtos gerados não sejam despejados no meio ambiente de maneira inadequada. O biogás
deve ser armazenado para que não caia na atmosfera e como dito anteriormente, os efluentes
líquidos podem ser encaminhados para sistemas de tratamento ou recirculados no processo de
digestão anaeróbia e os resíduos sólidos podem ser encaminhados para unidades de
compostagem.
3.3.4.3.4 Biogás
O biogás é um composto de gases gerados pela digestão anaeróbia, como o gás metano,
entre 55 a 70% e dióxido de carbono, entre 30 a 45%. Devido ao alto teor de metano presente,
o biogás pode ser considerado um biocombustível (GOMES, 2010). As condições de
funcionamento do processo de digestão anaeróbia e a qualidade do substrato utilizado são
fatores que determinam a qualidade do biogás gerado (CARNEIRO, 2009).
O interesse econômico do biogás como recurso energético vêm do fato dele obter um alto
teor de metano que em sua forma pura e em condições normais de temperatura e pressão tem
um poder calorífico de 9,9kWh/m³ (CARNEIRO, 2009). Sendo assim, um biogás com um
teor de metano entre 55 e 70% pode ter um poder calorífico entre 5,45 e 6,93kWh/m³.
Contudo, o biogás pode ter diversos usos: geração de energia elétrica, iluminação, uso em
veículos (menos comum) e geração de energia térmica.
Sendo assim, diferentes aplicações podem ser utilizadas para diferentes tipos de
situações, lembrando que cada uma delas possui limitações, vantagens e desvantagens. Para
uma boa aplicação devem ser consideradas as características do resíduo utilizado, a área
disponível e os custos financeiros.
i) Introdução/extração
Os digestores de fluxo contínuo são aqueles em que ocorrem a introdução dos resíduos e
extração do material digerido de forma contínua e podem ser operados tanto em via seca
quanto em via úmida. Com isso, o fluxo de produção do biogás é mais constante,
possibilitando mais oportunidades a sistemas de geração de energia (AUSTERMANN et al.,
2007).
Segundo Vandevivere et al. (2002), apesar dos reatores em batelada serem mais simples e
baratos sua implantação exige uma maior área. Algumas das dificuldades de operação de um
reator em batelada são a possível colmatação na base do digestor que pode dificultar a
recirculação do lixiviado no substrato e a possibilidade de formação de zonas mortas em
virtude da criação de caminhos preferenciais do lixiviado no substrato. Em contrapartida as
vantagens de um reator em batelada são o fato de serem esvaziados ao final do processo,
eliminando o acúmulo de inertes no interior do digestor (um dos maiores problemas de
biometanização de RSU) e possuírem facilidade operacional (GOMES, 2010).
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Os processos que possuem um teor de sólidos totais (ST) de no máximo 15% são
chamados de processo via úmida, embora na maioria dos casos esses processos trabalhem
com teores de ST entre 3 a 7%. Os processos via seca trabalham com teores de ST acima de
15%. Essa diferenciação torna possível uma indicação de como será o pré-tratamento do
resíduo utilizado para adequação ao sistema de biometanização requerido, bem como o
modelo do reator (AUSTERMANN et al., 2007).
Os processos de via seca têm uma capacidade de armazenar uma maior carga orgânica
comparada aos de via úmida, portanto requerem um menor volume, porém devido a densidade
do material a ser digerido, o processo requer equipamentos mais potentes e robustos
(VANDEVIVERE et al., 2002). Além disso, os processos de via seca costumam gerar menos
efluentes líquidos e consequentemente necessitam de uma área menor para a disposição e
tratamento desses tipos de efluentes, porém um digestor de via seca de fluxo contínuo
geralmente necessita de um pré-tratamento do resíduo a ser utilizado, adicionando umidade
para a sua inoculação e homogeneização antes de ser utilizada no reator (AUSTERMANN et
al., 2007).
Os processos de via úmida são geralmente utilizados com reatores de mistura completa,
onde sua mistura é feita por agitadores mecânicos internos, recirculação do material ou
ingestão do biogás comprimido. Uma de suas vantagens é exigir um volume menor em seus
reatores e gerar uma menor quantidade de resíduos para disposição final. Dentre as
desvantagens desse processo está a capacidade de formar escumas que pode ser composta por
plásticos e materiais de baixa densidade, essa escuma pode danificar os agitadores e
interromper a passagem do biogás (GOMES, 2010). Outra desvantagem desse processo é a
sedimentação de materiais inorgânicos em seu interior, com a deposição dos mesmos no
fundo do reator e consequentemente perda do volume útil (AUSTERMANN et al., 2007).
Os sistemas via úmida, por serem mais complexos e possuírem uma maior quantidade de
componentes utilizados em relação ao sistema de via seca, possuem uma maior demanda
interna de energia elétrica (GOMES, 2010).
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Os digestores de fluxo pistão também são operados em fluxo contínuo, porém a mesma
quantidade de resíduos que entra é a mesma quantidade de material digerido que sai, isso faz
com que o fluxo seja similar a um êmbolo e se evite misturas longitudinais. Esses digestores
costumam ser longos, com uma elevada relação comprimento-largura, para que se evite essa
dispersão longitudinal (VON SPERLING, 1996). Como o fluxo interior de um reator pistão é
direcional e vai da entrada para saída, isso permite que as fases de digestão anaeróbia se
separem, no início do reator ocorre a acidogênese, no meio a acetogênese e no final a
metanogênese. Isso diminui a inibição da metanogênese pelo excesso de ácido e provoca uma
maior geração de biogás (GOMES, 2010).
iv) Temperatura
As bactérias termofílicas se desenvolvem mais rápido e isso faz com que o tempo de
detenção hidráulica no reator (TDH) seja menor, consequentemente possibilitando que os
reatores termofílicos sejam de menor dimensão e ainda assim tenham uma produção mais
elevada de biogás. Porém, o fato de manter as faixas de temperatura elevadas requerem uma
maior dificuldade de operação e um maior gasto de energia elétrica (AUSTERMANN et al.,
2007).
A adoção mais prática tem sido a de reatores mesofílicos, pelo fato dessa faixa de
temperatura sofrer menos consequências na produção de biogás com variações de temperatura
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e também por necessitar de menos energia para gerar calor ao reator (CARNEIRO, 2009).
Segundo Gunnerson e Stuckey (1986), mudanças de 2ºC podem afetar a digestão mesofílica
em diversas maneiras e mudanças de 0,5ºC afetam drasticamente a digestão termofílica.
v) Número de estágios
A digestão anaeróbia pode ocorrer em sistemas que utilizam um só reator, onde acontece
todas as reações e etapas dos processos de digestão, ou em mais reatores com a finalidade de
separar essas etapas.
Algumas bactérias tem diferentes taxa de crescimento, como por exemplo, as bactérias
acidogênicas possuem uma taxa de crescimento maior que as bactérias metanogênicas (que
são sensíveis ao meio), com isso pode ocorrer uma elevada produção de ácido dentro do
reator e uma possível inibição do substrato. Como o intuito é otimizar a metanogênese para a
produção de biogás ser favorecida, foram desenvolvidas técnicas de multiestágio
(AUSTERMANN et al., 2007).
Além dos sistemas de multiestágio serem de difícil operação eles ocupam uma área maior
e tem um maior custo comparado a sistemas de estágio único. Sistemas de estágio único são
mais utilizados que sistemas de multiestágio, e segundo Vandevivere et al. (2002), isso
acontece pelo fato dos sistemas de estágio único serem mais simples e terem menores custos
de investimento.
Sistemas multiestágio
Critério Vantagens Desvantagens
Técnico -Flexibilidade de Projeto -Complexos
-Mais viável para resíduos com baixo teor
-Menor produção de
Biológico de celulose
biogás
-Única tecnologia viável para C/N < 20
-Sensibilidade a cargas
de choque e inibição
-Diluição de substâncias inibidoras
Biológico -Perda de sólidos
com água fresca
voláteis com os plásticos
e inertes
Tabela 3 - Quantidade diária de resíduos sólidos encaminhados para diferentes formas de destinação final,
comparação entre os anos 2000 e 2008
2000 2008
Destino Final
Quantidade (t/dia) % Quantidade (t/dia) %
Aterro Sanitário 49.614,50 35,4 110.044,40 58,3
Aterro
33.854,30 24,2 36.673,20 19,4
Controlado
Vazadouros a céu
45.484,70 32,5 37.360,80 19,8
aberto (Lixão)
Unidade de
6.364,50 4,5 1.519,50 0,8
Compostagem
Unidade de
triagem para 2.158,10 1,5 2.592,00 1,4
reciclagem
Unidade de
483,10 0,3 64,80 <0,1
incineração
Vazadouros em
228,10 0,2 35,00 <0,1
áreas alagáveis
Hoje em dia, a maioria dos resíduos produzidos no Brasil são encaminhados diretamente
para os aterros sanitários, aterros controlados ou lixões sem nenhum, ou quase nenhum tipo de
tratamento prévio. Isso conduz a uma diminuição na vida útil dos aterros e faz com que
resíduos que possam ter algum uso, como matéria orgânica, plásticos, papéis, metais entre
outros, acabem sendo dispostos nos aterros de maneira inadequada (BARCELOS, 2009).
A PNRS, em seu Art. 54, define que até 2014 a disposição dos rejeitos ambientalmente
adequada deverá ser implantada pelos seus gestores (BRASIL, 2012). Para que isso ocorra da
maneira correta, além de se eliminar todos os lixões existentes deve-se prevenir que apenas
rejeitos sejam encaminhados para os aterros e os demais resíduos devidamente encaminhados
para um tratamento prévio.
Como visto anteriormente, a quantidade de matéria orgânica é uma das maiores entre os
resíduos gerados pela população urbana e agora notamos que a maior quantidade dos resíduos
acabam tendo como destino os aterros ou lixões. É importante então que se note a quantidade
de matéria que está sendo desperdiçada, grande parte dela poderia ter como destinos os
tratamentos bioquímicos, a produção de biogás e de compostos de uso em solos.
4 METODOLOGIA
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Ásia alguns países vem adotando outro contexto de compostagem, onde ao invés de
grandes unidades de compostagem serem construídas, o tratamento de resíduos orgânicos
acontece em escalas menores e próximos ao local de geração. Isso contribui para a melhoria
da gestão de resíduos nesses países e também uma melhoria na qualidade de saúde pública da
população. Porém esses processos não obtiveram continuidade devido ao fato da falta de
parceria com governos e deficiência de recursos humanos qualificados para a garantia da
qualidade do processo (MASSUKADO, 2008).
No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico revelou que em 2000 haviam 260
usinas de compostagem no Brasil que tratavam cerca de 6.500 t/d, isso seria em torno de 5%
da quantidade gerada e estavam distribuídas entre 45% na região Sul, 45% na região Sudeste,
7,3% na região Nordeste, 2,3% no Centro-Oeste e 0,4% no Norte (IBGE, 2002).
O Diagnóstico dos Resíduos Sólidos Urbanos feito pelo IPEA (Instituto de Pesquisa
Econômica aplicada) revelou que em 2008 aumentou-se o número de municípios com
unidades de compostagem, porém reduziu-se a quantidade de resíduos tratados para 1.520 t/d
no Brasil todo e a região Sudeste foi a que teve a redução mais expressiva, onde eram tratados
5.368,9 t/d de resíduos em 2000 e em 2008 passou a tratar apenas 684,6 t/d em um total de
211 unidades de compostagem espalhadas pelo Brasil. O diagnóstico revela que essa redução
significativa é atribuída ao município de São Paulo que em 2000 contribuía com 4920 t/d de
resíduos para o tratamento via compostagem e em 2008 nada era encaminhado.
Parapuã, Ribeirão Grande, Rianópolis e São José do Rio Preto, todos eles estavam
enquadrados em condições adequadas (CETESB, 2013).
O Estado de Minas Gerais se destaca pela grande quantidade de estudos feitos no tema de
compostagem, e pela implantação, principalmente em cidades de pequeno porte. A tecnologia
empregada é em maior parte de baixo custo, com aeração forçada e controle de vetores
(BARREIRA, 2005).
No estado de São Paulo alguns dos principais municípios possuem os processos que serão
descritos e estudados como exemplos de uso de compostagem no Brasil:
i) DANO
é enviado ao bioestabilizador, um tubo cilíndrico que chega até 3,5 metros de diâmetro e 28
metros de extensão, com função de encaminhar o material de uma extremidade a outra.
Esse processo era aplicado nos municípios de São Paulo (Vila Leopoldina) e São José dos
Campos e tiveram suas unidades desativadas.
ii) GAVAZZI
A peneira separa os materiais orgânicos dos rejeitos e são enviados para os pátios de
compostagem. Depois de terminada a cura no pátio, o composto é peneirado com o intuito de
se retirar o máximo de inertes e diminuir as partículas do composto. Alguns dos municípios
que usam essa estrutura são Adamantina, Garça, Parapapuã, São José do Rio Preto e
Presidente Bernardes.
58
iii) STOLLMEIER
Algumas usinas de compostagem no estado de São Paulo são avaliadas pelo Índice de
Qualidade das Usinas de Compostagem (IQC) que é calculado pela CETESB. A avaliação é
feita por um questionário que abrange principalmente a características locacionais e
estruturais de cada unidade, ficando a cargo do avaliador enquadrar cada item em um valor de
0 a 10, e chegando ao resultado final com a média desses valores.
Segundo Barreira (2005), esse tipo de avaliação não considera a matéria-prima utilizada e
a qualidade do substrato gerado. O autor critica que esse tipo de avaliação encontra-se mais
em uma esfera de licenciamento do que numa avaliação de qualidade propriamente dita.
Na Tabela 4 é possível observar a evolução do IQC nos anos de 2002 e 2013 pelos
munícipios e sua tecnologia empregada. Os valores de 2013 foram retirados do Inventário
Estadual de Resíduos Urbanos de 2013.
539.00
S. J. Campos 500 160 DANO 9,7 -
0
S. J. Rio 360.00
380 380 GAVAZZI 8,3 10
Preto 0
São Paulo
10.000.
(Vila 14.000 800 DANO 8,2 -
000
Leopoldina)
Nota-se que todos os índices que se tem informação no ano de 2013 aumentaram em
relação ao período de 2002, mais expressivamente no município de Adamantina que tinha,
60
segundo a CETESB (2013), condições inadequadas no ano de 2002 e passou para condições
adequadas em 2013.
A maioria dos estudos realizados sobre compostagem tem como foco principal as
tecnologias, manutenção e operação de unidades centralizadas para tratar a fração
compostável dos resíduos sólidos urbanos. Pouco se fala sobre experiências em pequena e
média escala de unidades descentralizadas (MASSUKADO, 2008).
Com isso, a descentralização da compostagem é algo que vem como uma alternativa para
reduzir os problemas das grandes unidades de compostagem centralizadas, diminuindo os
custos com o transporte, mão-de-obra e tecnologias. Resíduos que são tratados com
compostagem no local onde são gerados é um tipo de compostagem descentralizada, portanto
compostagens domésticas ou caseiras podem ser classificadas dessa forma (MASSUKADO,
2008).
compostagem (UDC), que são unidades de tratamento que possuem a característica de tratar
os resíduos provenientes de coletas separadas e tem como objetivo o gerenciamento da fração
orgânica dos resíduos mais próximos de sua localidade de geração, como por exemplo, áreas
institucionais de um bairro, de uma indústria ou de uma escola. A diferença entre uma UDC e
uma compostagem doméstica é que a primeira necessita de uma área maior por tratar de uma
quantidade maior de resíduos, uma maior quantidade mão-de-obra e uma logística para a
coleta e o tratamento desses resíduos (MASSUKADO, 2008).
Gomes (2010), cita em que a primeira planta de biometanização que foi construída para
degradação de RSU surgiu nos EUA em 1939 e operou até 1974. Segundo o mesmo autor as
primeiras plantas da Europa surgiram em 1984 e 1988. Em 1930, em Ruanda, na África foi
implantada a primeira planta de biometanização de resíduos de agricultura, composta por três
digestores que funcionavam em batelada com 20m³ cada e foi importada de uma tecnologia
suíça.
O estudo da biometanização de RSU foi incentivado na Europa devido ao fato aos altos
custos de energia e às restrições ambientais, em especial ao controle da má disposição da
matéria orgânica em aterros sanitários bem como a dificuldade de se expandir as áreas de
aterro existentes e as dificuldades de localização para a implantação de novos aterros. Por
conta disso, um grande número de unidades piloto de biometanização foram implantadas na
Europa. A Espanha é o país que mais vem implantando plantas de biometanização e na
Suécia, 7% da energia do país vem dos resíduos sólidos (REICHERT, 2005).
Linde-
Característica Valorga DRANCO BTA WAASA Kompogas
KCA
Seco e
Umidade Seco Seco Úmido Úmido Seco
Úmido
Teor de
25 a 35 20 a 50 - 10 a 15 23 a 28 15 a 45
sólidos (%)
Único e Único e
Nº de estágios Único Único 2 Único Único 2
estágios estágios
Seco:
Cilindro
Tipo do Vertical bi- horiz.
Vertical Vertical Vertical horizontal
Reator partido Úmido:
com rotação
Vert.
Rec. do
Recirculação Rec. do
Sistema de material Rec. do Rotação do
do biogás biogás -
mistura sólido em líquido cilindro
aquecido pela base
digestão
Produção de
80 a 100 a
biogás (Nm³/t 80 a 160 100 a 200 130 100
120 150
RSU)
Temperatura Meso e Meso e Meso e Meso e
Termofílica -
termo. termo. termofílica termo.
Fonte: Adaptado de Reichert, 2005.
65
Nota-se que a maioria das tecnologias utilizam sistemas secos e reatores de estágio único
em seus sistemas isso provavelmente se dá ao fato de menores custos de implantação e
menores dificuldades de operação.
Tecnologia Valorga
Ano de Capacidade
Planta/Local Tipo de Resíduo
início (t/ano)
1998 RSU
Amiens, França 85.000
1996 RSU
Tilburg, Holanda 1994 Res. orgânico + papel 52.000
Hannover, Alemanha 2002 RSU + lodo de esgoto 100.000 + 25.000
Varennes-Jarcy, França 2001 RSU + res. orgânico 100.000
Cadiz, Espanha 2000 RSU 215.000
RSU + res. orgânico + lodo 44.200 + 8.200 +
Bassano, Itália 2002
de esgoto 3.000
Barcelona (Eco II), Espanha 2003 RSU 120.000
La Coruña, Espanha 2001 RSU 182.500
Tecnologia DRANCO
Ano de Capacidade
Planta/Local Tipo de Resíduo
início (t/ano)
1992 RSU + papel 12.000
Brecht, Bélgica
1998 Res. orgânicos 35.000
Salzburg, Áustria 1993 RSU + lodo de esgoto 13.500
Kaieser-slautern, Alemanha 1998 Res. ôrganicos 20.000
Tecnologia BTA
Ano de Capacidade
Planta/Local Tipo de Resíduo
início (t/ano)
Villacidro, Itália 2002 RSU + lodo de esgoto 45.000
Newmarket, Canadá 2000 RSU + lodo de esgoto 150.000
Toronto, Canadá 2002 RSU 40.000
Munique, Alemanha 1997 Res. orgânicos 20.000
Elsionore, Dinamarca 1991 Res. orgânicos 20.000
Tecnologia WAASA
Ano de Capacidade
Planta/Local Tipo de Resíduo
início (t/ano)
Vagron/Groningen, Holanda 2000 RSU 92.000
Vaasa, Finlândia - RSU 15.000
Fonte: Adaptado de Reichert, 2005.
66
Como vimos anteriormente, o Brasil é um país que está se desenvolvendo com bastante
atraso comparado ao resto do mundo nas questões de tratamento biológico para a parcela
orgânica de RSU. Apesar de algumas unidades de compostagem serem realidade em algumas
partes do Brasil, ainda são enfrentados grandes problemas de operação e manutenção na
maior parte das unidades existentes por dificuldades de segregação do material compostável,
falta de apoios governamentais, baixos investimentos e falta de tecnologias adequadas para
cada processo. É necessário que esse tipo de tratamento seja incentivado a todo custo, sendo
que a quantidade de matéria-prima é vasta e muitos são os benefícios retornados que vão
desde a diminuição de impactos ao meio ambiente até a produção de energia e possibilidade
de lucros.
A seguir serão detalhados alguns aspectos principais que determinam que o tratamento
biológico de RSU no Brasil possui bastante potencial para ser inserido em toda parte.
i) Matéria-prima
0,3% VIDROS
1% 57% TERRA E PEDRA
1% MADEIRA
TRAPOS E PANOS
13%
DIVERSOS
ALUMÍNIO
BORRACHA
PERDAS NO PROCESSO
Gomes (2010) ainda cita que 643 municípios brasileiros (por volta de 11%) possuem
unidades de triagem de materiais recicláveis e, como dito anteriormente, 211 municípios (4%
do total) possuem unidades de compostagem da fração orgânica.
Para que o tratamento biológico de RSU se torne realidade no Brasil, seja ele em
qualquer modalidade: via aeróbia (compostagem e vermicompostagem) ou via anaeróbia
(biometanização), é necessário uma melhor qualidade de coleta do resíduos, pois quanto mais
livre de impurezas a matéria orgânica for, melhores resultados são atingidos.
69
Para cada tipo de tratamento biológico há produtos resultantes que podem se inserir no
mercado, o Quadro 6 mostra os produtos resultantes de cada tipo de tratamento biológico e
sua aplicação no mercado.
Produtos
Biometanização Compostagem Vermicompostagem Aplicação
Resultantes
Biofertilizante X Agricultura
Composto
X Agricultura
Orgânico
Composto
Orgânico X Agricultura
Humificado
Energia
Biogás X térmica e/ou
elétrica
Energia
térmica e/ou
Metano X elétrica,
créditos de
carbono...
Indústria de
bebidas,
Gás Carbônico X química,
créditos de
carbono...
Fonte: Adaptado de PRS, 2014.
biodigestão é alta, a matéria orgânica pode ser quase totalmente degradado em biogás,
restando apenas um substrato rico em sair minerais que pode ser usado como biofertilizante
em solos (PRS, 2014). Porém, segundo Silva (2008), o tempo necessário para bioestabilizar
os resíduos sólidos é bastante longo quando comparado a processos aeróbios como
compostagem. Uma alternativa para contornar esse período longo de bioestabilização é tratar
dos produtos resultantes do reator posteriormente com compostagem, para que acelere e
melhore a qualidade do composto gerado. Essa alternativa é mais indicada à reatores em
batelada, onde todo o produto no interior do gerador é retirado após sua fermentação e o
acúmulo de inertes no reator é reduzido.
O composto orgânico obtido pela compostagem da parcela orgânica de RSU tem sido
testado como condicionador de solo e fontes de nutrientes para diferentes culturas agrícolas.
Os resultados têm sido bastante motivadores, é possível o uso em altas doses (>120 t/ha.ano),
desde que seja um composto de boa qualidade. Sendo assim o valor comercial do composto
depende da concentração de nutrientes a serem disponibilizados para diversos tipos de
culturas. A relação custo-benefício do composto é vantajosa uma vez que as quantidades de
aplicação envolvidas são grandes (REIS , 2005).
O composto orgânico humificado, fertilizante orgânico que tem origem após o processo
de vermicompostagem é outro produto de qualidade a ser aplicado em culturas por ser rico em
nutrientes. Como citado anteriormente, segundo Dores-Silva, Landgraf e Rezende (2012), o
processo de vermicompostagem, além de serem bastante eficazes na estabilização da matéria
orgânica, ainda possibilitam que as minhocas sejam um produto a ser comercializado.
Sendo assim, apesar de muitas criticas feitas sobre o mercado de crédito de carbono, a
maioria delas dizendo que o mercado tem muito mais um caráter econômico do que ambiental
72
Gomes (2010), estimou para o Brasil um potencial energético caso fossem implantadas
usinas de biometanização para atender a toda a matéria orgânica de RSU coletados
diariamente, o mesmo será feito no presente trabalho, porém com dados mais recentes e com a
parcela orgânica gerada, não somente a coletada.
Como foi citado anteriormente, segundo a ABRELPE (2013), o Brasil gera 209.280
toneladas de RSU por dia. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos afirma que a fração
orgânica dos resíduos coletados corresponde a 51,4% (BRASIL, 2010). Considerando que
essa fração orgânica se mantenha para os RSU gerados, estima-se que sejam gerados cerca de
107.570 toneladas de resíduos orgânicos diariamente. Segundo Gomes (2010), por tonelada
de resíduos orgânicos, pode-se produzir 150m³ de biogás a uma concentração de 62,5% de
metano. Sendo assim, pode-se estimar um potencial brasileiro de produção de biogás a partir
do tratamento de RSU em unidades de biometanização de 5,9x109m3 por ano ou 3,7x109m3 de
metano.
Eq. (1)
Eq. (2)
k = Fator de capacidade.
Para os valores de ŋ e k, foram usados os mesmos valores utilizados por Gomes (2010),
44% e 88%, respectivamente. Portanto, com base nas equações 1 e 2, estima-se um potencial
de produção de energia elétrica pela biometanização da parcela orgânica de RSU dos resíduos
gerados diariamente no Brasil de 1630MW que representa uma geração de energia elétrica de
14,3TWh. Segundo o Anuário Estatístico de Energia Elétrica realizado pela EPE (2013), no
ano de 2012 o Brasil gerou 552,5TWh de energia elétrica, portanto a produção de energia
gerada pela biometanização da fração orgânica de RSU representaria 2,6% da geração de
energia elétrica brasileira.
Apesar dos aterros sanitários estarem preparados para a redução desses impactos, isso não
significa que eles estejam livres da produção de lixiviado, da produção de gases e de seu
próprio limite de disposição de resíduos. Alguns dos aterros possuem tecnologias de
aproveitamento energético do biogás produzido pela degradação anaeróbia da matéria
orgânica ou, em alguns casos, os gases produzidos são queimados, impedindo que eles
atinjam a atmosfera. Essas alternativas atenuam os impactos causados pela disposição de
resíduos orgânicos quando se trata da emissão de gases, porém são ineficientes, a eficiência
de produção e de recuperação do biogás não atingem bons resultados e ela não pode se
manter, devido ao fato de que os aterros são locais que devem disponibilizar apenas de
rejeitos.
Nesse cenário, o tratamento biológico da fração orgânica de RSU contribuiria muito para
a diminuição desses impactos presentes na disposição desses resíduos em aterros,
principalmente aumentaria de maneira bastante expressiva a vida útil dos aterros no Brasil. As
tecnologias aeróbias na degradação da matéria orgânica devem ser mais difundidas,
especialmente pelo grande mercado no setor do agronegócio presente no Brasil e sua
facilidade de operação e custos mais baixos comparados as tecnologias de biometanização,
porém as tecnologias anaeróbias também devem ser estudadas e inseridas no tratamento da
fração orgânica de RSU levando em conta cada cenário para a adaptação dessa tecnologia.
porém o Brasil atualmente não se encontra no mesmo nível de quantidade de material tratado
quanto na Europa.
No dia 02 de agosto de 2014, encerrou o prazo para o cumprimento das meta no Artigo
54º da PNRS (Lei 12.305/100) que determinava o encerramento dos lixões, e após essa data o
Brasil ainda conta com cerca de 3500 lixões espalhados por todo o país, cujo o número
representa o descumprimento da lei por 60,7% dos municípios. O Artigo 55º que determinava
o prazo de até agosto de 2012 para que todos os municípios apresentassem seus planos de
gestão integrada de resíduos sólidos também havia sido descumprida, contudo era de se
esperar que o Artigo 54º também seria descumprido. O que pode se prever são os municípios
que não estão de acordo com a lei cumprirem as devidas penas ou o prazo ser prorrogado.
Em 2010, foi criado o fundo Clima que é um dos instrumentos da Política Nacional sobre
Mudança no Clima do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para garantir recursos à projetos
que tenham como foco a mitigação e adaptação das mudanças climáticas. Um de seus
subprogramas é destinado à resíduos com aproveitamento energético que consiste em apoiar
projetos e empreendimentos de racionalização da limpeza urbana destinação de resíduos com
aproveitamento para a geração de energia, e na implementação, modernização e ampliação de
empreendimentos desse tipo (ABRELPE, 2013).
76
A sociedade também deve ter sua participação garantida nas tomadas de decisão de
implantação e planejamentos de novos projetos e empreendimentos que utilizam a parcela
orgânica de RSU para qualquer fim, por meio de audiências e consultas públicas, para que a
sociedade tenha o direito de manifestar suas opiniões, sugestões e críticas na implantação dos
projetos.
77
6 CONCLUSÃO
Vários fatores devem ser considerados para se definir qual tipo de tratamento e tecnologia
deve ser implantada em cada município, entre eles os custos de implantação, facilidade de
operação, clima local e as características do resíduo. Porém, as alternativas são muitas e o
mercado também, que vai desde o setor agrícola, na produção de compostos orgânicos, até a
produção de energia pela geração do biogás. A biometanização leva desvantagem na escolha
da tecnologia, pelo fato de ser pouco difundida no Brasil e de maior custo e dificuldade de
operação, quando comparada a compostagem e a vermicompostagem, porém o Brasil possui
uma série de incentivos políticos e econômicos para que a matriz energética seja ampliada,
principalmente pelo uso de energias renováveis.
A coleta seletiva dos resíduos sólidos é essencial para que toda a matéria-prima seja
utilizada no tratamento biológico, para tal é necessário a implantação de medidas estruturais
efetivas realizadas pelo poder público para que a coleta seja efetiva. O poder público também
deve investir e apoiar programas de educação ambiental que tenham como objetivo a difusão
da importância na gestão de resíduos sólidos para a população e também incentivar a não
geração, redução e reutilização desses resíduos. Apesar da geração dos resíduos proporcionar
a continuidade de matéria-prima ao tratamento biológico da fração orgânica de RSU, é
importante que a sociedade diminua a quantidade de resíduos gerados e tenham atitudes e
práticas sustentáveis diariamente.
78
REFERÊNCIAS
DIAS, G. F. "Educação Ambiental: Princípios e Práticas". 6ª. ed. São Paulo: Gaia,
2000.