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1.1.1.

LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS


APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 2
1. INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 3
2. HISTÓRICO ............................................................................................................................. 3
ALTERAÇÕES ADVINDAS COM A LEI Nº 12.683/12 ...................................................... 3
2.1.1. Extinção do rol de infrações antecedentes................................................................. 3
2.1.2. Aprimoramento das medidas assecuratórias ............................................................. 5
2.1.3. Ampliação das pessoas físicas/jurídicas responsáveis pela comunicação de
operações suspeitas (Lei nº 9.613/98, art. 9º) .......................................................................... 5
3. EXPRESSÃO “LAVAGEM DE DINHEIRO” (LAVAGEM DE CAPITAIS) ................................... 6
4. CONCEITO DE LAVAGEM DE CAPITAIS ............................................................................... 6
5. GERAÇÕES DE LEIS DE LAVAGEM DE CAPITAIS ............................................................... 7
LEIS DE 1ª GERAÇÃO ..................................................................................................... 7
LEIS DE 2ª GERAÇÃO ..................................................................................................... 7
LEIS DE 3ª GERAÇÃO ..................................................................................................... 7
6. FASES DA LAVAGEM DE CAPITAIS ...................................................................................... 7
1ª FASE: COLOCAÇÃO (PLACEMENT) .......................................................................... 7
2ª FASE: DISSIMULAÇÃO/MASCARAMENTO (LAYERING – “COLOCAR CAMADAS”) . 8
3ª FASE: INTEGRAÇÃO (INTEGRATION) ....................................................................... 8
7. BEM JURÍDICO TUTELADO ................................................................................................... 8
1ª CORRENTE ................................................................................................................. 8
2ª CORRENTE ................................................................................................................. 9
3ª CORRENTE ................................................................................................................. 9
4ª CORRENTE ................................................................................................................. 9
8. ACESSORIEDADE DA LAVAGEM DE CAPITAIS ................................................................. 10
9. SUJEITOS DO CRIME .......................................................................................................... 12
SUJEITO ATIVO ............................................................................................................. 12
SUJEITO PASSIVO ........................................................................................................ 12
AUTOLAVAGEM (SELFLAUNDERING) ......................................................................... 12
DESNECESSIDADE DE PARTICIPAÇÃO NA INFRAÇÃO ANTECEDENTE ................. 13
ADVOGADO COMO SUJEITO ATIVO DO CRIME DE LAVAGEM DE CAPITAIS .......... 14
10. TIPO OBJETIVO ................................................................................................................ 15
DISTINÇÃO ENTRE O EXAURIMENTO DA INFRAÇÃO ANTECEDENTE E O CRIME DE
LAVAGEM DE CAPITAIS .......................................................................................................... 15
NATUREZA INSTANTÂNEA OU PERMANENTE* ......................................................... 16
11. TIPO SUBJETIVO .............................................................................................................. 16
DOLO EVENTUAL .......................................................................................................... 16
CASO DO BANCO CENTRAL DE FORTALEZA (TEORIA DA CEGUEIRA DELIBERADA)
17
12. OBJETO MATERIAL .......................................................................................................... 18
PRODUTO DIREITO E INDIRETO DA INFRAÇÃO ANTECEDENTE ............................. 18
LAVAGEM DA LAVAGEM (LAVAGEM EM CADEIA)...................................................... 18
13. REGIME ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA (RERCT) ............ 18
14. CAUSA DE AUMENTO DE PENA ...................................................................................... 19
15. COMPETÊNCIA CRIMINAL ............................................................................................... 19
VARAS ESPECIALIZADAS PARA LAVAGEM DE CAPITAIS ......................................... 20

CS – LAVAGEM DE CAPITAIS 2019.1 1


APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Legislação Penal Especial – Lavagem de Capitais possui como base as aulas
do professor Renato Brasileiro, do Curso G7 Jurídico.

Dois livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2016 e b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2017, ambos da Editora
Juspodivm.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito).
Destacamos: é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da
semana para ler no site do Dizer o Direito.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos de lei, mas, ressaltamos, que é


necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos!! Bons estudos!!

Equipe Cadernos Sistematizados.

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1. INTRODUÇÃO

Em meio à legislação criminal especial, está a Lei de Lavagem de Capitais (Lei de nº


9.613/1998) que, vale dizer, é bastante recente, principalmente, porque foi completamente alterada
em 2012 pela Lei nº 12.683/2012.

Trata-se de uma das leis mais importantes da atualidade, conforme contemplado na


Operação Lava-Jato, por exemplo, cujas investigações se iniciaram no ano de 2009 e, se não fosse
a apuração da Lavagem de Capitais, muitos outros crimes não seriam descobertos.

2. HISTÓRICO

A Lei de Lavagem de Capitais (LC) surgiu com um compromisso assumido pelo Brasil na
Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico de Drogas e Substâncias Psicotrópicas (Convenção
de Viena, celebrada no ano de 1988), ratificada pelo Decreto 154/1991. Nela, os países signatários
reconheceram a falência dos mecanismos de combate ao Tráfico de Drogas e concluíram que, ante
a frustração dos meios, até então, utilizados, restava pugnar a movimentação financeira do Tráfico.

Assim, originou-se a ideia de criminalizar o procedimento usado pelas organizações


criminosas para mascarar a origem ilícita dos valores – a chamada “criminalização das lavagens
capitais”.

O projeto de Lei foi coordenado pelo ex Ministro Celso Jobim e contou com a participação
de Vicente Greco Filho, René Ariel Dotti, Francisco de Assis Toledo e Miguel Reale Júnior.

Destaca-se, contudo, que após quatorze anos da edição da Lei Originária, a legislação
brasileira sofreu significativa transformação, verificada através da Lei nº 12.683/12 – que despontou
como consequência do reconhecimento de que a lei anterior (Lei nº 9.613/98) não estava surtindo
os efeitos desejados.

O Grupo de Controle de Atividades Financeiras (GAF) concluiu que a legislação brasileira,


apesar de ter entrado em vigor há poucos anos (1998), estava obsoleta. À época, foram feitas
pesquisas com juízes, onde se detectaram pouquíssimos casos de condenação fundada na
lavagem de capitais.

ALTERAÇÕES ADVINDAS COM A LEI Nº 12.683/12

A referida lei produziu, pelo menos, três mudanças sensíveis, as quais veremos abaixo.

2.1.1. Extinção do rol de infrações antecedentes

Quando a lei brasileira entrou em vigor, em 1998 (redação original), havia um rol taxativo de
infrações antecedentes. Isto é, antigamente, somente se configurava a Lavagem de Capitais se o
crime que produziu aquele dinheiro estivesse listado como infração antecedente no corpo do art. 1º
da Lei nº 9.613/98, vejamos a antiga redação:

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Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente, de crime:
I – de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;
II – de terrorismo e seu financiamento; (Redação dada pela Lei nº 10.701, de
9.7.2003)
III – de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado à
sua produção;
IV – de extorsão mediante sequestro;
V – contra a Administração Pública, inclusive a exigência, para si ou para
outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou
preço para a prática ou omissão de atos administrativos;
VI – contra o sistema financeiro nacional;
VII – praticado por organização criminosa;
VIII – praticado por particular contra a administração pública estrangeira (arts.
337-B, 337-C e 337-D do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal). (Inciso incluído pela Lei nº 10.467, de 11.6.2002)
Pena: reclusão de três a dez anos e multa.

Caso o crime antecedente não constasse no rol taxativo, ainda que ocorresse a ocultação
ou dissimulação de bens, direitos ou valores, não havia que se falar em Lavagem de Capitais.

A partir da alteração trazida pela Lei nº 12.683/12, esse rol perdeu seu caráter taxativo e
adquiriu viés exemplificativo. Observe a nova redação do art. 1º, “caput”, da Lei 9.613/98:

Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,


movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente, de infração penal.
I a VIII – revogados pela Lei nº 12.683, de 2012.

Obs. Perceba que, anteriormente, a redação trazia a expressão “crime”. Agora, o legislador não
apenas revogou todos os incisos do art. 1º, como também substituiu a palavra “crime” por “infração
penal”. Isso significa dizer que, pelo menos, em tese, qualquer infração penal, seja crime ou
contravenção penal, poderá figurar como antecedente da lavagem de capitais.

O Professor Renato Brasileiro salienta que se o examinador questionar a respeito do crime


de Prevaricação, previsto no art. 319 do CP, como antecedente do crime de Lavagem de Capitais,
FIQUE ATENTO! Porque, não obstante à nova previsão do art.1º da Lei nº 9.613/98 prevendo a
expressão “infrações penais”, para que se classifiquem como antecedentes da Lavagem de Capitais
devem revestir-se do que a doutrina denomina “infração penal produtora”, ou seja, a infração
precisa produzir bens, direitos ou valores capazes de sofrer algum tipo de ocultação. Se a
infração penal não produzir nada, obstará a sua inclusão como antecedente de Lavagem de
Capitais.

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou


praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

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2.1.2. Aprimoramento das medidas assecuratórias

Houve necessidade das conscientizações estatal e social acerca da premissa de que a


prisão cautelar de uma pessoa talvez não seja tão importante quanto às medidas cautelares
patrimoniais. O combate eficaz a uma organização criminosa passa, obrigatoriamente, pela
recuperação dos valores ilícitos desviados.

Por isso, a Lei nº 12.683/12 visou fortalecer as medidas assecuratórias.

Exemplo: Alienação Antecipada – diligência por meio da qual são vendidos os bens que
sofreram algum tipo de constrição patrimonial, quando verificado que o decurso do tempo pode
causar seu perecimento ou afetar seu valor (art. 4º da Lei 9.613/98).

Art. 4o O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante


representação do delegado de polícia, ouvido o Ministério Público em 24
(vinte e quatro) horas, havendo indícios suficientes de infração penal, poderá
decretar medidas assecuratórias de bens, direitos ou valores do investigado
ou acusado, ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam
instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das
infrações penais antecedentes. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
§ 1o Proceder-se-á à alienação antecipada para preservação do valor dos
bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou
depreciação, ou quando houver dificuldade para sua manutenção. (Redação
dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

A modificação provocada pela Lei nº 12.683/12 passou a permitir que o juiz decrete medidas
assecuratórias que poderão recair não apenas sobre bens que sejam instrumento, produto ou
proveito dos crimes previstos na Lei de Lavagem de Capitais, mas também das infrações penais
antecedentes. Portanto, o juiz poderá sequestrar carros, iates, helicópteros e tantos outros bens
quanto forem necessários, não apenas nos casos em que se tratar de produto direto ou indireto da
Lavagem, porém também se for produto direto ou indireto da infração antecedente.

Tamanha é a importância da Alienação Antecipada que o próprio CPP passou a prever no


art. 144-A:

Art. 144-A. O juiz determinará a alienação antecipada para preservação do


valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de
deterioração ou depreciação, ou quando houver dificuldade para sua
manutenção

Segundo Renato Brasileiro, a alienação antecipada de bens consiste na expropriação


antecipada de bens móveis ou imóveis, fungíveis, de fácil deterioração e de difícil conservação, que
tenham sido objeto de medidas cautelares patrimoniais, adotada com o objetivo de preservar o valor
dos bens.

2.1.3. Ampliação das pessoas físicas/jurídicas responsáveis pela comunicação de


operações suspeitas (Lei nº 9.613/98, art. 9º)

No sistema financeiro, por muito tempo, convencionou-se dizer que “dinheiro não tem
cheiro”, ou seja, a procedência da moeda era propositalmente ignorada.

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Todavia, a Lei 9.613/98 tentou romper com esse paradigma, mormente porque todos os
países se conscientizaram de que de nada adianta um Estado desejar combater a Lavagem de
Capitais se, para tanto, não contar com a colaboração de alguns agentes financeiros, aquelas
pessoas físicas ou jurídicas que atuam no mercado financeiro.

Assim, integrantes desse setor devem, obrigatoriamente, comunicar operações suspeitas –


os denominados “gatekeepers”.

Hoje, existe uma política de Know Your Costumer (conhecer o seu cliente), onde a empresa
busca criar mecanismos de modo a evitar que a sua operação seja utilizada para prática de
lavagem.

Desta forma, houve uma ampliação do rol de pessoas físicas e jurídicas que passam a ter a
obrigação legal de, eventualmente, comunicar operações suspeitas.

3. EXPRESSÃO “LAVAGEM DE DINHEIRO” (LAVAGEM DE CAPITAIS)

Tem origem no direito norte-americano, a partir da expressão “money laudering”, durante a


década de 1920, na cidade de Chicago, a máfia teria adquirido várias lavanderias, utilizadas como
esquema para lavagem de dinheiro.

ATENÇÃO: Em alguns países da Europa (Espanha e Portugal) é utilizada a terminologia


“branqueamento de capitais”. No Brasil, o termo não foi adotado, porque o legislador evitou sugerir
inferência racista do vocábulo e consequentes discussões estéreis e oportunas.

Note que “lavagem” é uma metáfora que traduz a ideia de que o dinheiro é “sujo”, porquanto
proveniente de infração penal antecedente e quando se lava, dá-se àquela moeda aparência lícita.

4. CONCEITO DE LAVAGEM DE CAPITAIS

É o ato ou a sequência de atos praticados para encobrir a natureza, localização ou


propriedade de bens, direitos ou valores de origem delituosa, com o objetivo de reintroduzi-los à
economia formal com aparência lícita.

Cria-se estratagema para dar ao dinheiro proveniente de infração penal antecedente feição
lícita.

CUIDADO: Apesar de a doutrina trabalhar com vários conceitos e fases da lavagem de capitais, a
jurisprudência do STF entende que não há necessidade de complexidade das operações
financeiras.

O Professor Renato Brasileiro afirma que houve um caso, conhecido como a “Máfia dos
Fiscais em São Paulo”, em que fiscais da prefeitura extorquiam construtoras e afins (concussão,
corrupção passiva) e com esse dinheiro realizavam depósitos na conta de familiares (cunhados). A
discussão deu-se em torno do questionamento se o mero depósito na conta de um cunhado
configuraria Lavagem de Dinheiro. O Supremo entendeu que, embora a doutrina desenvolva vários
mecanismos, a Lavagem de Capitais não demanda grandes articulações. A oportunidade em que

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se deposita dinheiro na conta de um parente para mascarar a origem ilícita é suficiente para
caracterização do delito (STF RHC 80.816).

5. GERAÇÕES DE LEIS DE LAVAGEM DE CAPITAIS

LEIS DE 1ª GERAÇÃO

As primeiras leis que surgiram sobre Lavagem de Capitais traziam como infração penal
antecedente um único delito: o Tráfico de Drogas.

Esse cenário era absolutamente natural, visto que a Lei de Lavagem surgiu na Convenção
das Nações Unidas contra o Tráfico de Drogas de Viena (1998).

Diante da satisfação dos países para com a criminalização da Lavagem é que surgem as
leis de 2ª geração.

LEIS DE 2ª GERAÇÃO

Nessa oportunidade, advém um rol taxativo de crimes antecedentes – Lei nº 9.613/98


(redação original). Ou seja, há uma tímida ampliação das circunstâncias caracterizadoras da
Lavagem de Capitas.

LEIS DE 3ª GERAÇÃO

A partir de 2012 é que se diz que a lei brasileira de Lavagem de Capitais revestiu-se de
caráter de lei de 3ª geração, porque qualquer infração penal (desde que produtora) poderá funcionar
como antecedente da Lavagem de Capitais.

ATENÇÃO: Em alguns casos, na ânsia de combater a Lavagem de Capitais, pode-se incorrer na


vulgarização do presente crime. Tanto é que vários países englobam a referida lei como lei de 3ª
geração, todavia (ao contrário do Brasil) o legislador, inteligentemente, estipula que para que a
infração penal seja considerada antecedente deverá possuir pena de, no mínimo, 04 (quatro) anos.
Trata-se de medida interessante no combate à banalização do crime de Lavagem de Capitais.

6. FASES DA LAVAGEM DE CAPITAIS

Tais fases foram idealizadas pelo Grupo de Ação Financeira sobre Lavagem de Dinheiro
(GAF), formado pelos sete países mais ricos do mundo, que tem como objetivo coordenar
providências de modo a combater a Lavagem de Capitais.

Idealiza-se um modelo de Lavagem composto por três fases – este é o paradigma mais
conhecido, porém não o único.

1ª FASE: COLOCAÇÃO (PLACEMENT)

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Consiste na introdução do dinheiro ilícito no sistema financeiro com o propósito de dificultar
a identificação da origem dos valores e da infração penal antecedente.

Várias são as técnicas utilizadas, tal qual o smurfing, que representa uma tática de colocação
pela qual se pulveriza uma quantidade grande em pequenos depósitos com a finalidade de não
levantar suspeitas.

*MPE-GO (2012 - Promotor de Justiça) questionou no que consistiam as práticas conhecidas como
“pitufeo” e “smurfing” – que são os ingressos de quantidades pequenas de dinheiro em contas
bancárias configura modalidade de reciclagem de dinheiro conhecida como "pitufeo" ou "smurfing".

2ª FASE: DISSIMULAÇÃO/MASCARAMENTO (LAYERING – “COLOCAR


CAMADAS”)

São realizadas diversas operações financeiras com o objetivo de dificultar o rastreamento


da origem ilícita dos valores.

Quanto maior a movimentação, maior a distância dos valores da sua origem ilícita.

3ª FASE: INTEGRAÇÃO (INTEGRATION)

Retorno daqueles bens formalmente incorporados ao sistema financeiro que se dará de duas
formas: no próprio mercado (mobiliário ou imobiliário) ou no refinanciamento de atividade ilícita
originária.

Os Tribunais Superiores e a própria doutrina consolidam que tais fases desenvolvidas pelo
GAF correspondem ao que seria um modelo ideal/completo de Lavagem de Dinheiro.
Consequentemente, a tipificação do delito NÃO está condicionada ao preenchimento das referidas
três fases.

CESPE (2013 – Delegado de Polícia) compreendeu que o crime de Lavagem de Capitais, consoante
entendimento consolidado na doutrina e na jurisprudência, divide-se em três etapas independentes:
colocação (placement), dissimulação (layering) e integração (integration), não se exigindo, para
a consumação do delito, a ocorrência dessas três fases.

7. BEM JURÍDICO TUTELADO

Em relação ao bem jurídico aqui tutelado, não há consenso doutrinário.

Verificam-se, pelo menos, quatro correntes.

1ª CORRENTE

Defende que o crime de Lavagem de Capitais tutela o mesmo bem jurídico protegido pela
infração antecedente.

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Problema enfrentado: se o crime antecedente for o Tráfico de Drogas, a Lavagem de
Capitais tutelará o bem jurídico “saúde pública”. Se, no entanto, a infração antecedente for o Roubo,
o bem jurídico defendido será o “patrimônio” – um mesmo delito não pode tutelar bens jurídicos tão
distintos. Não à toa que o presente posicionamento é absolutamente minoritário.

2ª CORRENTE

Sustentada por Roberto Podval, Rodolfo Tigre Maia, Gustavo Badaró, Pierpaolo Bottini.

Para essa corrente, a Lavagem de Capitais é similar ao Favorecimento Real (art. 349 CP),
porque quando o agente oculta ou dissimula a origem ilícita dos valores, ele visa, em última análise,
os esconder para tornar seguro o proveito do crime. Portanto, se o Favorecimento Real tem como
bem jurídico a administração da Justiça, nada mais lógico do que emprestar idêntico raciocínio à
Lavagem de Capitais.

Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou de receptação,


auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime:
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

3ª CORRENTE

Teoricamente, condiz com a posição majoritária da doutrina brasileira.

Obs. Quando cobrado em prova, costuma ser essa a corrente adotada.

Aqui, o bem jurídico tutelado é a “ordem econômico-financeira”, visto que a Lavagem de


Capitais ocasiona problema no equilíbrio do mercado, nas relações de consumo, na livre
concorrência e no próprio financiamento do sistema financeiro.

4ª CORRENTE

Defendida Alberto Silva Franco, entende que o crime de Lavagem de Capitais viola mais de
um bem jurídico.

Alguns dos defensores afirmam que transgredi tanto a “ordem econômico-financeira” quanto
a “administração da Justiça”, enquanto outros dizem que se tutela, a um só tempo, a “ordem
econômico-financeira” e o mesmo bem jurídico tutelado pela infração antecedente.

Portanto, o crime de Lavagem de Capitais seria pluriofensivo.

Esse posicionamento é minoritário.

Observações:

Considerando que o bem jurídico tutelado é a “ordem econômico-financeira”, entende-se


como perfeitamente possível a aplicação do denominado Princípio da Insignificância.

Hoje, o valor que serve como parâmetro é R$ 20.000,00 – quantia primeiramente adotada
apenas pelo STF, mas que também foi acolhida pelo STJ que, ao revisar sua jurisprudência, passou
a entender que:

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STJ - “incide o Princípio da Insignificância aos crimes tributários federais e
de Descaminho, quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite
de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no artigo 20 da Lei nº
10.522/02, com as mudanças trazidas pelas Portarias 75 e 130 do Ministério
da Fazenda”.

8. ACESSORIEDADE DA LAVAGEM DE CAPITAIS

Inicialmente, destaca-se que a leitura do art. 1º, “caput”, deve ser realizada conjuntamente
com o art. 2º, II e §1º do art. 2º, todos da Lei 9.613/98.

Vejamos:

Art. 1o Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,


movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes,
direta ou indiretamente, de infração penal. (Redação dada pela Lei nº
12.683, de 2012)

Perceba que a palavra “infração penal” está inserida na redação típica do crime de Lavagem
de Capitais, isto é, a infração penal antecedente é uma elementar do crime de Lavagem de Capitais.
Por essa razão é que se diz que à semelhança do que ocorre com o crime de Receptação, a
Lavagem de Capitais é conhecida como “crime acessório/parasitário”, porque sua tipificação está
atrelada a outro crime.

Sem que haja a infração penal antecedente, não há que se falar em Lavagem de Capitais.

Todavia, o art. 2º, II, da Lei nº 9.613/98 estabelece aparente independência do processo da
Lavagem de Capitais:

Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei


(...)
II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes,
ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os
crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e
julgamento; (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

O processo do crime de Lavagem de Capitais independe do processo da infração


antecedente.

Nesse sentido, o §1º do art. 2º:

Art. 2º § 1o A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência


da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta
Lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a
punibilidade da infração penal antecedente. (Redação dada pela Lei nº
12.683, de 2012)

Exemplo: dois processos, sendo que um deles comporta autos relacionados ao Tráfico de
Drogas e o outro a Lavagem de Capitais, no primeiro foram vendidos um milhão de reais em drogas
e, no segundo, abriu-se um curso preparatório para se aplicar esse um milhão de reais.

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Pergunta-se:

Os dois processos precisam tramitar juntos num único processo ou podem tramitar
separadamente? Os processos criminais da Lavagem de Capitais e da infração penal antecedente
NÃO precisam tramitar juntos (art. 2º, II, da Lei nº 9.613/98). Entretanto, não significa que não
possam tramitar em conjunto. Não há regra absoluta. Isto porque, entre os dois crimes praticados
há evidente conexão probatória. No exemplo, a prova da infração antecedente (Tráfico de Drogas)
influi na prova do crime de Lavagem de Capitais (art. 76, III, do CP). Como há conexão probatória,
é possível a reunião, porém esta reunião não é obrigatória.

Se for dito que podem tramitar juntos, quem é que decide sobre a reunião dos feitos:
o juiz da Lavagem ou o juiz do Tráfico de Drogas, já que ao último crime é cominada pena
mais gravosa? De acordo com o CPP, quando há conexão, quem decide, num primeiro momento,
é o juízo com força atrativa (forum attractionis). Existem alguns critérios para identificar o forum
attractionios; o primeiro deles é o juiz ao qual for cominada a pena mais grave. CONTUDO, ESSA
NÃO É A LÓGICA ADOTADA NA LAVAGEM DE CAPITAIS. A segunda parte do art. 2º, II, da Lei
nº 9.613/98 (“cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a
unidade de processo e julgamento”) é uma novidade e tem status de regra especial em relação ao
CPP. Assim, independentemente da gravidade das penas, quem dará a última palavra acerca da
reunião ou separação de processos é o juiz que averigua a Lavagem de Capitais

Se no processo de Tráfico de Drogas os autores forem absolvidos, será possível uma


condenação pelo crime de Lavagem de Capitais? À primeira vista, pode-se pensar que não será
possível uma condenação, visto que a infração penal antecedente é elementar da Lavagem. Não
obstante, conforme André Luís Callegari, adota-se a Teoria da Acessoriedade Limitada e, portanto,
quanto à infração penal antecedente, basta que seja conduta típica e antijurídica/ilícita para que o
crime de Lavagem de Capitais seja punível.

Assim, a absolvição da infração antecedente poderá influir ou não na condenação do crime


de Lavagem de Capitais, dependerá do fundamento da absolvição.

• Se tiver sido absolvido porque reconhecida a atipicidade da infração antecedente,


obrigatoriamente, não poderá haver condenação pela Lavagem.

• Se absolvido por conta de excludente de ilicitude na infração antecedente, também não será
possível sua condenação na Lavagem.

• Se a absolvição se der com base numa excludente da culpabilidade, poderá ocorrer a


condenação, dado que a infração antecedente terá sido conduta típica e antijurídica, logo,
basta para condenação no crime de Lavagem de Capitais – mesmo raciocínio será aplicado
ao deparar-se com causa extintiva da punibilidade, pelo menos, em regra.

O §1º do art. 2º da Lei nº 9.613/98 confirma o que vimos acima, observe:

Art. 2º, § 1o A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência


da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei,
ainda que desconhecido ou isento de pena (presente uma excludente da
culpabilidade) o autor , ou extinta a punibilidade da infração penal
antecedente. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)

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ATENÇÃO: Em regra, se extinta a punibilidade da infração antecedente, os crimes de
Lavagem de Capitais continuam puníveis. Ocorre que a doutrina cita duas exceções, ou seja, duas
causas extintivas da punibilidade que impedem a tipificação da Lavagem de Capitais. São elas:
anistia e abolitio criminis, porque em ambas é como se a infração penal antecedente tivesse deixado
de existir (inexiste elementar).

*STJ: “(...) Não há que se falar em manifesta ausência de tipicidade de


conduta, correspondente ao crime de “lavagem de dinheiro”, ao argumento
de que o agente não foi igualmente condenado pela prática de algum dos
crimes anteriores arrolados no elenco taxativo do artigo 1º, da Lei 9.613/98,
sendo inexigível que o autor do crime acessório tenha concorrido para a
prática do crime principal, desde que tenha conhecimento quanto à origem
criminosa dos bens ou valores. Complexidade da prova e ausência de
manifesta inadequação da conduta ao tipo penal. (...).” (STJ, 6ª Turma, HC
36.837/GP, Rel. Min. Paulo Medina, DJ 06/12/2004, p. 372).

Quer dizer, não se tem como conditio sine qua non da Lavagem de Capitais a condenação
pela infração antecedente, tanto é que a própria lei dispõe que os processos são independentes e
autônomos.

9. SUJEITOS DO CRIME

SUJEITO ATIVO

A Lavagem de Capitais é crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa,
não se exige nenhuma qualidade especial do agente.

A lei brasileira pune, exclusivamente, pessoas físicas pelo crime de Lavagem de Capitais. A
pessoa jurídica pode até responder, mas estará sujeita exclusivamente às punições administrativas
e não às criminais.

Quando internacionalmente questionado a respeito do tema, o Brasil justificou que não


poderia o país ser considerado inadimplente, porque prevê sanções administrativas contra as
pessoas jurídicas, tais como advertências e multas pecuniárias.

SUJEITO PASSIVO

Será a “coletividade”, caso concorde-se que o bem jurídico tutelado seja a “ordem
econômico-financeira”.

Por outro lado, se entender o bem jurídico tutelado como a “administração da Justiça”, o
sujeito passivo será “o próprio Estado no qual está inserido o Poder Judiciário”.

AUTOLAVAGEM (SELFLAUNDERING)

Entende-se por “autolavagem” a hipótese em que o mesmo indivíduo que responde pela
infração penal antecedente também é criminalmente processado pelo delito de Lavagem de
Capitais.

CS – LAVAGEM DE CAPITAIS 2019.1 12


O autor da infração antecedente também responde pelo crime de Lavagem de Capitais? Há
duas correntes:

1ª C (minoritária): A autolavagem não é possível. Esse entendimento é adotado por alguns


países da Europa, como a Itália e a França, sustentam que a Lavagem é semelhante ao
Favorecimento Real e, portanto, não pode o autor responder pelos dois crimes. Nessa perspectiva,
são apontados alguns argumentos, adotados por doutrinadores como Roberto Delmanto, que
entendem que o autor da infração antecedente não responde pelo crime de Lavagem por razões
como:

o O crime de Lavagem deve ser interpretado como semelhante ao Favorecimento


Real;

o Princípio da Consunção: a Lavagem é mero exaurimento da infração antecedente,


ou seja, é de se esperar que o sujeito lave o dinheiro obtido em decorrência do ilícito
anteriormente ocorrido e sua punição pela lavagem configuraria bis in idem;

o Violação ao Princípio do Nemo tenetur se detegere (vedação da autoincriminação):


quem lava dinheiro o faz para que sua autoria em relação ao crime antecedente não
seja revelada. Trata-se de tentativa de evitar a produção de provas contra si mesmo.

2ª C (majoritária) - a autolavagem é possível.

A legislação brasileira não fez semelhante reserva à da Itália e da França, basta comparar
os preceitos do art. 1º da Lei nº 9.613/98 com os do art. 349 do CP.

Não há falar em Princípio da Consunção ou conflito aparente de normas, visto que a infração
penal antecedente independe da Lavagem de Capitais. Quando o indivíduo lava o dinheiro, pratica
infração penal autônoma, violando, portanto, bem jurídico diverso - é incongruente entender a
Lavagem como exaurimento da infração antecedente.

Tampouco há falar em violação do direito ao silêncio. Ninguém é obrigado a produzir prova


contra si mesmo, todavia, tal princípio não serve de justificativa para prática de delitos na tentativa
de encobrir crimes anteriores. Os direitos não podem ser utilizados como escudo protetivo para
atividades ilícitas.

*STJ: “(...) A lavagem de dinheiro pressupõe a ocorrência de delito anterior,


sendo próprio do delito que esteja consubstanciado em atos que garantam
ou levem ao proveito do resultado do crime anterior, mas recebam punição
autônoma. Conforme a opção do legislador brasileiro, pode o autor do crime
(leia-se infração penal) antecedente responder por lavagem de dinheiro, dada
à diversidade dos bens jurídicos atingidos e à autonomia deste delito (...)”.
(STJ, 5ª Turma, Resp 1.234.097/PR, Rel. Min. Gilson Dipp,j. 03/11/2011).

DESNECESSIDADE DE PARTICIPAÇÃO NA INFRAÇÃO ANTECEDENTE

O sujeito ativo da Lavagem de Capitais não necessariamente precisa ter concorrido para a
infração antecedente, desde que tenha consciência da origem ilícita dos valores por ele ocultados.

*CESPE (2013 – Delegado de Polícia) considerou que, no que se refere à legitimidade para o polo
passivo da ação penal por lavagem de capitais, é dispensável a participação do acusado do crime
de lavagem de dinheiro nos delitos a ele antecedentes, sendo suficiente que ele tenha

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conhecimento da ilicitude dos valores, dos bens ou de direitos cuja origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade tenha sido ocultada ou dissimulada.

ADVOGADO COMO SUJEITO ATIVO DO CRIME DE LAVAGEM DE CAPITAIS

É evidente que o advogado (assim como juízes, promotores e outros) pode ser sujeito ativo,
até porque a Lavagem é caracterizada como “crime comum”.

Indaga-se: o advogado tem a obrigação de comunicar operações suspeitas ao COAF, como


os gatekeepers?

Há poucos anos, alguns advogados passaram a defender pessoas acusadas de Lavagem


de Capitais. Em razão disso, foram demonizados, sob argumento de que, ao patrocinarem
lavadores de dinheiro, estariam recebendo dinheiro sujo e, portanto, concorriam com a Lavagem de
Capitais. Na oportunidade, houve a infeliz sugestão de que, a partir dali, nos processos de Lavagem
de Capitais, os denunciados obrigatoriamente teriam que ser defendidos por defensores. Perceba
que se estaria impondo a alguém quem seria seu advogado. Haveria, desta forma, violação ao
princípio da ampla defesa, uma vez que o acusado estaria impedido de constituir advogado de sua
própria confiança.

A indagação feita acima é oriunda das mudanças introduzidas pela Lei nº 12.683/02, entre
elas, a ampliação das pessoas físicas ou jurídicas obrigadas a comunicar operações suspeitas.

Nesse sentido, dispõe o § único, inciso XIV, do art. 9º da Lei nº 9.613/98:

Art. 9o Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas


físicas e jurídicas que tenham, em caráter permanente ou eventual, como
atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não: (Redação dada
pela Lei nº 12.683, de 2012)
Parágrafo único. Sujeitam-se às mesmas obrigações
XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que
eventualmente, serviços de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria,
aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, em
operações: (Incluído pela Lei nº 12.683, de 2012)
a) de compra e venda de imóveis, estabelecimentos comerciais ou industriais
ou participações societárias de qualquer natureza; (Incluída pela Lei nº
12.683, de 2012)
b) de gestão de fundos, valores mobiliários ou outros ativos; (Incluída pela
Lei nº 12.683, de 2012)
c) de abertura ou gestão de contas bancárias, de poupança, investimento ou
de valores mobiliários; (Incluída pela Lei nº 12.683, de 2012)
d) de criação, exploração ou gestão de sociedades de qualquer natureza,
fundações, fundos fiduciários ou estruturas análogas; (Incluída pela Lei nº
12.683, de 2012)
e) financeiras, societárias ou imobiliárias; e (Incluída pela Lei nº 12.683, de
2012)
f) de alienação ou aquisição de direitos sobre contratos relacionados a
atividades desportivas ou artísticas profissionais; (Incluída pela Lei nº 12.683,
de 2012)

Parcela doutrinária (Rodrigo de Grandis) compreende o advogado em duas espécies:

CS – LAVAGEM DE CAPITAIS 2019.1 14


a) Advogados de representação contenciosa

Advogado que atua na defesa de cliente em processo concreto judicial ou administrativo.


Esse advogado não tem a obrigação de comunicar operação suspeita.

b) Advogados de operações

Advogado especializado em consultoria jurídica não processual. Aqui, inexiste situação


jurídica concreta relacionada a processo judicial ou administrativo.

Esse perfil de advogado tem a obrigação de comunicar operações suspeitas, assim como
profissionais de qualquer outra área.

Não é essa a orientação que tem sido adotada pelo próprio COAF (vide Resolução nº 24) e
pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), conforme verificado na provocação do órgão especial
do Conselho Pleno do Conselho Federal, em relação à consulta formalizada pela OAB São Paulo,
processo em que o Conselho Federal decidiu

“Lei nº 12.683/02 alterando Lei nº 9.613/98; Lei especial (Estatuto da OAB)


não pode ser revogada por lei que trata genericamente outras profissões,
advogados e sociedades de advocacia não devem fazer cadastro no COAF,
nem têm o dever de divulgar dados sigilosos de seus clientes que lhes forem
entregues no exercício funcional. Obrigações das Seccionais e Comissões
de prerrogativas nacionais e estaduais de amparar os advogados que
ilegalmente sejam instados a fazê-los”.

Portanto, tanto o COAF quanto a OAB entendem que as alterações produzidas pela Lei nº
12.683/02 não são aplicáveis aos advogados e que a distinção entre advogados de representação
contenciosa e) advogados de operações não tem qualquer validade.

10. TIPO OBJETIVO

Dois são os verbos utilizados no art. 1º, “caput”, da Lei nº 9.613/98:

- Ocultar: esconder alguma coisa.

- Dissimular: encobrir/disfarçar algo.

Tem-se crime de ação múltipla e conteúdo variado, sendo que a incidência de qualquer um
dos verbos (ocultar ou dissimular) é suficiente para caracterização do delito de Lavagem de
Capitais.

DISTINÇÃO ENTRE O EXAURIMENTO DA INFRAÇÃO ANTECEDENTE E O CRIME


DE LAVAGEM DE CAPITAIS

É imperioso saber precisamente a linha tênue que separa a infração penal antecedente, com
todo seu iter criminis (cogitação, preparação, execução e consumação), do momento inicial que
marca o crime de Lavagem de Capitais, principalmente o momento final do antecedente criminal
(compreendido como o “exaurimento”, apesar de, para a maioria dos doutrinadores, não fazer parte
do iter criminis).

CS – LAVAGEM DE CAPITAIS 2019.1 15


Pierpaolo Bottini, Gustavo Badaró e Fausto de Sanctis compreendem que o sujeito somente
ingressará no delito de Lavagem de Capitais quando praticar atos ou uma sequência de atos com
o intuito de atribuir aparência lícita aos valores ilicitamente obtidos.

Note que guardar dinheiro em armários, em embaixo de colchões ou em qualquer outro


esconderijo não caracteriza atos com objetivo de mascarar sua origem ilícita, bem como se o sujeito
adquirir um apartamento com valores ilicitamente obtidos e registrá-lo no seu próprio nome.

NATUREZA INSTANTÂNEA OU PERMANENTE*

1ª corrente: o crime de Lavagem de Capitais é instantâneo.

Segundo esses doutrinadores (Pierpaolo Bottini), o delito se concretiza no exato momento


em que são realizados atos com intuito de mascarar a origem dos valores.

Segundo Bottini: “a manutenção do bem ocultado ou dissimulado é mero desdobramento e


decorrência dos atos iniciais”.

2ª corrente: os verbos “ocultar” e “dissimular”, pela própria redação do tipo penal, sugerem
tratar-se de crime permanente. Ou seja, aquele cuja consumação se prolonga no tempo e, durante
todo esse período, o agente detém o poder de fazer cessar sua execução.

Quando abordado o crime instantâneo, tem-se que a prescrição começa a fluir a partir da
consumação.

Por outro lado, no que tange ao crime permanente, a prescrição começa a fluir a partir da
cessação da permanência do delito.

Dispõe o inciso III do art. 111 do CP:

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa


a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
permanência; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

A 1ª Turma do STF, na Ação Penal 863, condenou Paulo Maluf por Lavagem de Capitais
praticada na década de 90, sob justificativa de que o réu manteve os valores ocultos no exterior,
configurando, portanto, o crime permanente e, como tal, não haveria que se falar em prescrição.

11. TIPO SUBJETIVO

No Brasil, o crime de Lavagem de Capitais é punido, unicamente, a título de dolo, seja ele
direito (resultado pretendido) ou eventual (assumidos riscos de produção do resultado).

Não se admite, portanto, punição a título de culpa.

DOLO EVENTUAL

CS – LAVAGEM DE CAPITAIS 2019.1 16


Para se afirmar que o crime não admite dolo eventual, é preciso verificar a redação do tipo
penal, porque, por vezes, o próprio texto do dispositivo já afasta a possibilidade do dolo eventual.
Cita-se, como exemplo, o art. 339 (denunciação caluniosa) e art. 180 (receptação), ambos do CP.

O mesmo raciocínio deve ser aplicado aos crimes de Lavagem de Capitais. Em regra, os
crimes de Lavagem de Capitais são punidos tanto a título de dolo direito quanto eventual.

Exceções:

- Artigo 1º, §2º, inciso II, da Lei nº 9.613/98, que prevê a punição apenas a título de dolo
direto.

Art. 1o, § 2o Incorre, ainda, na mesma pena quem


II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que
sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes
previstos nesta Lei

CASO DO BANCO CENTRAL DE FORTALEZA (TEORIA DA CEGUEIRA


DELIBERADA)

No Banco Central de Fortaleza foi subtraída a quantia de R$ 164.755.150,00 em espécie.


Para retirar o dinheiro de Fortaleza, os criminosos utilizaram várias estratégicas, destacando-se,
entre elas, a ideia de rechear veículos com notas de R$ 50,00 e R$ 100,00. Onze automóveis
importados foram adquiridos de uma concessionária, num sábado, pela totalidade de R$
980.000,00, pagos em notas de R$ 50,00 transportadas em sacos de nylon. Deixaram os
criminosos, ainda, a quantia de R$ 250.000,00 para futuras compras, já que não havia carros o
suficiente.

Nesse caso, utilizou-se a denominada “Teoria da Cegueira Deliberada” (willful blindness),


posteriormente, aproveitada em outros eventos envolvendo Lavagem de Capitais.

A primeira decisão do Juiz de 1ª Instância condenou os empresários da loja pelo crime de


Lavagem, fundamentada na obrigação dos empresários de comunicar essa operação suspeita. Não
o fazendo, assumiram o risco de produzir o resultado (dolo eventual) – Teoria da Cegueira
Deliberada.

A Teoria da Cegueira Deliberada ou Instruções da Avestruz compreende as hipóteses em


que os operadores do sistema financeiro (que têm, enquanto tais, a obrigação de conhecer seus
clientes e a procedência do dinheiro deles), deliberadamente, evitam a consciência quanto à origem
ilícita dos valores para que, futuramente, não sejam responsabilizados pelo crime de Lavagem de
Capitais.

Não obstante à decisão do magistrado de 1ª Instância, no TRF da 5ª Região, os empresários


foram absolvidos, em razão do entendimento de que o crime do Banco Central somente foi
descoberto na segunda-feira e, como a venda ocorreu no sábado, os lojistas não tinham como saber
da ocorrência do crime. Para mais, à época, o tipo penal pelo qual foram denunciados não admitia
dolo eventual (elemento essencial para a Teoria da Cegueira Deliberada).

O conceito de Teoria da Cegueira Delibera foi questionado no Concurso Público do


Ministério Público do Distrito Federal e Território de 2016, na segunda fase.

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12. OBJETO MATERIAL

Objeto material é a pessoa ou coisa sob a qual recai a conduta delituosa.

O objeto material da Lavagem consiste no produto da infração antecedente, tanto produto


direto quanto indireto.

PRODUTO DIREITO E INDIRETO DA INFRAÇÃO ANTECEDENTE

Produto direto é o resultado imediato da operação delinquencial.

Exemplo: relógio subtraído, dinheiro obtido com a venda da droga, dinheiro obtido como fruto
da corrupção.

Produto indireto ou proveito é o resultado mediato do crime. Ou seja, a substituição ou


utilização econômica do produto direto do delito.

Exemplo: venda de droga que gera R$ 500.000,00 – esse valor é o produto direto. O que o
sujeito for fazer com esses R$ 500.000,00 será o produto indireto. Se comprar um apartamento,
será ele o proveito.

LAVAGEM DA LAVAGEM (LAVAGEM EM CADEIA)

O examinador de uma prova do MP-GO questionou se era possível e o que seria a lavagem
da lavagem ou lavagem em cadeia.

Possibilitada a partir da edição Lei nº 12.683/12, consiste na Lavagem que tem como
infração penal antecedente outra Lavagem. Isto é, a partir do momento em que qualquer infração
penal pode ser considerada antecedente da Lavagem de Capitais, esta infração penal antecedente
poderá ser, inclusive, outra Lavagem de Capitais.

13. REGIME ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA (RERCT)

*Obs. A título de atualização, atentar-se ao Regime Especial de Regularização cambial e


tributária (RERCT) de valores não declarados mantidos no exterior e extinção da punibilidade do
crime de Lavagem de Capitais.

Entendeu-se como alternativa de fonte de rendas, no Brasil, o retorno dos valores remetidos
ao exterior de maneira não declarada.

Buscou-se incentivar as pessoas que o fizeram a se manifestarem declarando a operação,


retomarem a quantia despachada, pagarem uma multa irrisória e assim ter reconhecida, em seu
favor, a extinção de sua punibilidade por eventual Lavagem de Capitais, já que, em tese, nela
incorressem por ofender a ordem econômico-financeira através do crime de Evasão de Divisas –
Lei nº 13.254/16.

CS – LAVAGEM DE CAPITAIS 2019.1 18


Apesar de a referida lei ter sido criada com tempo determinado, vem sofrendo sucessivas
prorrogações a fim de facilitar tal mecanismo.

14. CAUSA DE AUMENTO DE PENA

Lei nº 9.613/98, com redação dada pela


Lei nº 9.613/98 Lei nº 12.683/12

Art. 1º (...) §4º A pena será aumentada de Art. 1º (...) §4º A pena será aumentada de
1 (um) a 2/3 (dois terços), nos casos um a dois terços, se os crimes definidos
previstos nos incisos I a VI do caput deste nesta Lei forem cometidos de forma
artigo, se o crime for cometido de forma reiterada ou por intermédio de
habitual ou por intermédio de organização organização criminosa.
criminosa.

O crime de Lavagem de Capitais não é crime habitual. Tanto não é que, se praticado
reiteradamente, será computada a causa de aumento de pena (exemplo: caso de Marcos Valério –
Ação Penal 470 do STF).

De acordo com Gustavo Badaró: deve-se “interpretar o novo texto como uma dispensa da
comprovação da habitualidade para a causa de aumento, caracterizada como repetição usual da
prática criminosa, que revela um estilo de vida do agente, voltado àquele delito”.

Renato Brasileiro de Lima entende que “a habitualidade não é uma elementar do tipo de
lavagem, como acontece em outros crimes, como o exercício ilegal de medicina, arte dentária ou
farmacêutica (art. 282 do CP). O § 4º (em sua redação antiga) traz a figura da habitualidade
criminosa, a reiteração delituosa, ou do criminoso habitual, conceito este que não se confunde com
crime habitual. Enquanto no crime habitual o delito é único, figurando a habitualidade como
elementar do tipo, na habitualidade criminosa há pluralidade de crimes, sendo a habitualidade uma
característica do agente, e não da infração penal. No crime habitual a prática de um ato isolado não
gera tipicidade, ao passo que, na habitualidade criminosa, tem-se uma sequência de atos típicos
que demonstram um estilo de vida do autor, ou seja, cada um dos crimes anteriores já é suficiente
de per si para a caracterização da lavagem, sendo que o conjunto de delitos autoriza o aumento da
pena”.

15. COMPETÊNCIA CRIMINAL

Em regra, a competência para julgar a Lavagem de Capitais é da Justiça Estadual. Todavia,


a própria lei prevê situações em que essa competência poderá ser da Justiça Federal (art. 2º,III, da
Lei nº 9.613/98):

Art. 2º (...)
III - são da competência da Justiça Federal

CS – LAVAGEM DE CAPITAIS 2019.1 19


a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-
financeira, ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União,
ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas
b) quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça
Federal

Além disso, alguns doutrinadores (Andrey Borges de Mendonça) citam o inciso V do artigo
109 da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar


V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando,
iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro, ou reciprocamente

A Lavagem também será julgada pela Justiça Federal quando a infração penal antecedente
for dotada de internacionalidade territorial do resultado relativamente à conduta delituosa. Nesse
caso, o Brasil também teria assumido a obrigação de combater esse delito.

VARAS ESPECIALIZADAS PARA LAVAGEM DE CAPITAIS

Ao longo dos anos, especialmente, em 2003, com a difusão da especialização de Varas,


surgiram dois problemas:

- É possível se especializar Vara?

- É possível se especializar Vara através de Resoluções e Provimentos?

O STF foi chamado a analisar a questão e pronunciou-se no sentido de que é possível a


espacialização de Varas, visto que está compreendida no poder de auto-organização do Poder
Judiciário. Assim, se o Judiciário entende que a especialização de Varas aperfeiçoará sua prestação
jurisdicional, poderá fazê-la.

Essa especialização, de acordo com o Supremo, não está sujeita ao Princípio da Reserva
Legal em Sentido Estrito e sim ao Princípio da Legalidade em Sentido Amplo. Portanto, pode ocorrer
através de Provimentos, Portarias, sem que seja necessária lei ordinária em sentido estrito.

Houve uma decisão que, à época, entendeu que essa atribuição não seria do Conselho da
Justiça Federal (CJF), porque, de fato, na CF/88, o CJF não tem atribuições jurisdicionais, desta
forma, tal especialização não pode ser feita pelo CJF como determina o artigo 12 da Lei nº 5.010/66
que, por sua vez, deve ser lido à luz da CF/88:

Art. 12. Nas Seções Judiciárias em que houver mais de uma Vara, poderá o
Conselho da Justiça Federal (entende-se TRF) fixar-lhes sede em cidade
diversa da Capital, especializar Varas e atribuir competência por natureza de
feitos a determinados Juízes

Vide inciso II do §único do artigo 105 da CF/88:

Art. 105 (...)


Parágrafo único. Funcionarão junto ao Superior Tribunal de Justiça
II - o Conselho da Justiça Federal, cabendo-lhe exercer, na forma da lei, a
supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e

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segundo graus, como órgão central do sistema e com poderes correicionais,
cujas decisões terão caráter vinculante

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