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INTRODUÇÃO
1
Acadêmico do III semestre de Teologia da FAPAS.
2
Acadêmico do III semestre de Teologia da FAPAS.
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Acadêmico do VI semestre de Teologia da FAPAS.
O evangelista Marcos descreve o local no qual irá dar-se o chamado de Jesus aos
discípulos: ao subir a montanha (Mc 3,13). Mateus, no entanto, não descreve local e
relata unicamente que Jesus chamou os doze discípulos, em contrapartida que Marcos
salienta que Ele chamou aqueles a quem queria (Mc 3,13).
Os dois evangelistas atestam que Jesus confere aos discípulos a exusia, isto é, a
autoridade que é designada por um mandato legitimado por Deus (cf. LACOSTE, 2004,
p.220). Dessa forma, eles receberam a exousia para expulsarem demônios, porém
Marcos evidencia o convite de Jesus aos discípulos para que estivessem com Ele e o
envio para proclamar (Mc 3,14) enquanto Mateus acentua a possibilidade de curar toda
doença e toda enfermidade (Mt 10,1).
Na enumeração dos nomes dos discípulos, Marcos apresenta Jesus como o que
“fez” ou constituiu o grupo dos doze (Mc 3,14), ou seja, uma ação de Jesus. Já Mateus
apresenta o nome dos doze apóstolos de forma descritiva: “os nomes dos doze apóstolos
são estes” (Mt 10,2).
Ao enumerar cada nome dos discípulos escolhidos por Jesus, Marcos salienta os
nomes postos a Simão, Pedro, e a Tiago e João, Boanerges, e seqüencia os nomes na
seguinte ordem: Simão, Tiago, João, André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago,
Tadeu, Simão o zelota e Judas Iscariot (Mc 3,16-19). Chama atenção o fato de Marcos
preocupar-se em esclarecer o significado do nome Boanerges dado a João e Tiago.
2.1 Mc 3,13-19
Esta perícope é uma unidade literária. O assunto é completo, mesmo que o tema
seja uma seqüência entre as passagens que antecedem e sucedem o texto de Mt 10,1-4. O
lugar em que ocorrem os respectivos acontecimentos é o mesmo, os envolvidos nas
perícopes é o grupo de discípulos que acompanha Jesus.
A perícope posterior a Mt 10,1-4 se trata do envio dos doze discípulos por Jesus,
texto situado em Mt 10,5-16. Trata-se de uma série de recomendações, em que Jesus
exorta como os discípulos devem se comportar ao enunciar a chegada do reino dos Céus
(Mt 10,7).
Sendo assim, Mt 10,5-16 se mostra como seqüencial à escolha dos discípulos,
pois na medida em que foram descritos os nomes dos doze apóstolos, Jesus com o
mesmo grupo e no mesmo local da perícope anterior, ensina mais especificamente como
deve ser realizada a missão que lhes incumbiu.
discurso do envio para a missão. Isso porque a palavra "apóstolo" significa mensageiro
ou enviado e é muito usada nos escritos apostólicos e no Evangelho de Lucas, porém
utilizada uma única vez nos outros três Evangelhos (cf. LANCELLOTTI, 1980, p.102).
O que chama atenção no trabalho sinótico dos dois textos, tanto o de Marcos
como o de Mateus, é o nome que encabeça as duas listas de apóstolos, sendo que a
ordem dos outros apóstolos descritos, por vezes, se altera. A que se devem as
divergências e coincidências dos dois textos?
Na lista apostólica de Mateus todos os apóstolos aparecem unidos pela conjunção
“e”. Marcos não os descreve em duplas neste texto, sendo que, posteriormente, afirma
que Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois (cf. BAC, 1964, p.230).
Percebe-se aí a influência dos destinatários sobre o texto de Mateus, que escreve para os
judeus, sociedade que alega a importância de haver duas testemunhas para os
acontecimentos relatados.
No começo das duas listas apostólicas figura o nome de Simão Pedro: “os nomes
dos doze apóstolos são estes: primeiro, Simão, chamado Pedro” (Mt 10,2). Neste
versículo chama atenção a expressão “primeiro”, o que “sería absolutamente innecesaria
al principio de uma lista de nombres sin que sigan otros ordinales para los siguientes
componentes” (BAC, 1964, p.230). Assim, este versículo corrobora com a passagem em
que Mateus narra a promessa de Jesus a Pedro como Pontífice máximo da Igreja.
Outro ponto nevrálgico desta perícope é a ênfase que se dá ao número apostólico
dos doze, cujo os nomes foram chamados por Jesus. O número doze é simbolicamente
bíblico e utilizado constantemente na Sagrada Escritura. Alude ao número dos doze
patriarcas e das doze tribos de Israel. Os discípulos são os chefes do novo Israel que
Jesus fundava. É tão sagrado e intencional o uso deste número, que depois da traição e
morte de Judas, Pedro achou por bem completá-lo, recaindo a sorte sobre Matias (cf.
BAC, 1964, p.231).
Trilling descreve o grupo divergente e variado que Jesus chamou:
Apesar de todas as dificuldades que Jesus teve com eles, depois que se tinham
sinceramente convertido, enviou-lhes o Espírito Santo e transformaram-se em
testemunhas dispostos a morrer por suas convicções e em colunas sobre cujo
fundamento se erigiu a Igreja.
Simão é chamado de Pedro. A troca do nome que Jesus lhe deu é reflexo do uso
que se foi fazendo em função da nova dignidade que Pedro teria. A intenção especial
que teria Jesus ao mudar o nome de Simão para Pedro é justificado em função de sua
primazia (cf. BAC, 1964, p.231). Seria, dessa forma, um adiantamento do momento
histórico que vai se dar posteriormente, no qual Jesus faz a promessa do pontificado (Mt
16,18).
Ao listar os apóstolos João e Tiago, Marcos descreve que Jesus colocou-lhes o
nome de Boanerges, que quer dizer filhos do trovão (Mc 3,17). Nesse nome não se nota
a mesma transcendência que possui o nome Pedro. Prova da intenção distinta que Jesus
teve ao alterar o nome de Simão. Revela também uma característica popular e usual em
ambiente palestino: o uso de sobrenomes ou cognomes (cf. BAC, 1964, p.231).
Porém, Marcos, ao escrever direcionando seu evangelho para os cristãos de
origem pagã, precisa elucidar o significado das palavras de uso comum para o mundo
judaico, mas desconhecidas às nações vizinhas. Por isso, Marcos explica, com um
aposto, a palavra "boanerges" como “filhos do trovão”, pois esse sobrenome trata de
caracterizar o comportamento ardente de ambos os apóstolos.
Outros apostos explicam algo sobre os apóstolos Mateus, Simão e Judas. Mateus
é chamado de publicano (Mt 10,4), explicação contida unicamente na lista apostólica de
Mateus, que quer designar sua profissão de cobrador de impostos, se referindo à
Sendo assim, Moisés foi ao monte buscar as tábuas da lei, pois lá existe uma
realidade suprema e perfeita, cujo povo imperfeito e mortal deve manter-se afastado. No
entanto, Jesus ao chamar “a si os que ele queria” (Mc 3,13) anuncia a Boa-Nova que
contém uma nova visão, uma pedagogia que inclui e dignifica. Ele sobe ao monte com
seu grupo e lhe confere “exusia de expulsar os demônios” (Mc 3,15). Ou seja, a
autoridade é dada no monte, lugar mais próximo de Deus, onde Jesus, conhecedor desse
significado, modifica a Lei antiga e instaura a possibilidade do Reino de Deus, que
possui novas coordenadas para o intento missionário e uma inovação no relacionamento
com o Pai e com os irmãos.
Destarte, a novidade do Reino é explicita na forma como Jesus convoca os doze,
pois “Ele não era como um rabino tradicional. Estava ali como alguém muito maior, pois
ensinava com autoridade (...) Jesus mostra-se superior, um sábio diferente”
(MAZZAROLO, 2003, p.832).
De fato, quando Jesus “chama a si os que ele queria” (Mc 3,13), o significado de
chamar a si, não tem unicamente o sentido de expressar uma convocação, mas representa
uma interdependência entre as pessoas convocadas e aquele que as convoca. Como situa
Mazzarolo, o “uso do verbo proskaleomai torna-se uma marca distinta no estilo de
Marcos e revela uma das faces importantes da sua obra, ao traduzir a relação entre Jesus
e os seus discípulos ou entre a soberania de Jesus e de todas as multidões”
(MAZZAROLO, 2003, p.832). Dessa forma, os convocados passam a estar ao redor de
Jesus, direcionando para ele suas atenções, havendo uma dinâmica do falar e escutar,
ensinar e praticar, de dar e receber orientações. Está estabelecida uma relação de
proximidade, convivência e conhecimento.
Jesus chama os convocados para constituir um vínculo especial com ele,
colocando-os numa posição privilegiada por terem sido desejados a fazer parte do grupo
dos eleitos. Jesus chama aqueles “que ele queria” (Mc 3,13), pois não dependia do
sistema judaico para convocar o seu grupo, não estava atrelado às normas do judaísmo.
O chamado “se dá na Galiléia, em uma montanha, e expressa numericamente o
simbolismo do novo Israel, cuja libertação e salvação se daria não a partir de Jerusalém,
mas da Galiléia (...) caminho construído juntamente com pessoas impuras e pecadoras”
(ZABATIERO, 2006, p.79). Dessa forma, se Jesus tivesse seguido as leis judaicas,
muitos amigos não teriam convivido com ele.
Além disso, ao chamar “os que ele queria” (Mc 3,13), Jesus confirma a plena
autoridade que ele irá exercer sobre os discípulos, delegando-lhes uma missão a ser
cumprida de maneira livre e responsável por cada um deles. A narração de Marcos é
expressa de forma resumida, o que poderia transparecer uma ação pouco refletida de
Jesus ao convocar os doze. No entanto, percebe-se a profundidade dos termos que usa
para expressar esse chamado.
Quando o evangelista cita que “Ele fez os doze” (Mc 3,14), o valor simbólico
desta constatação leva a entender que, depois de escolhidos, os discípulos formaram uma
comunidade de seguidores do Mestre Jesus. Segundo Mazzarolo,
1980, p.102), Jesus não troca o nome pessoal deles, mas lhe incumbe uma função. A
função que cada um exercia na família e na sociedade agora mudou: de seguidores eles
passaram a ser arautos do Evangelho de Cristo.
A finalidade da convocação de Jesus é “para que estivessem com ele” (Mc 3,14).
Esta é uma forte exigência feita para aqueles que se tornariam apóstolos de Jesus: estar
com Jesus para conhecer seus projetos e aspirações de um novo Reino. Antes de tudo, o
estar com alguém, reflete uma necessidade do ser humano de viver junto com os outros,
conviver estabelecendo aprendizados mútuos. Sendo assim,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O chamado que Jesus fez aos doze apóstolos nos textos sinóticos analisados neste
trabalho, continua sendo feito a cada um dos seguidores que aderem à fé em Cristo. Ele
convida aos vocacionados para subirem o monte, deixando de lado as “baixadas”
contrárias à construção do Reino de Deus, e a manter um relacionamento íntimo com sua
pessoa, ouvindo e respondendo fielmente à missão a que Ele confia.
A escolha dos doze é um sinal profético de que Jesus está disposto a formar uma
comunidade que representa o novo Povo de Deus, a qual Jesus quer reunir e aperfeiçoá-
los para a missão. Jesus não escolhe os fariseus ou mestres da lei, mas um grupo
diversificado, de excluídos, explorados socialmente e pecadores públicos, que se
converteram ao serem chamados por Jesus.
Os apóstolos deixaram seus barcos, seus futuros, suas expectativas para seguir
Jesus. Receberam novos nomes e com esses uma missão a que foram incumbidos de
realizar. Entre as incumbências que Jesus delega aos apóstolos não está a de governar e
dominar, tendo em vista que a missão dada por Ele é ampla e confiada também a todos
os futuros seguidores que o servirão. Assim, discípulo é todo aquele que assume a
missão que Jesus revela, fruto de uma convivência íntima com o Senhor e de uma
formação conjunta com os outros seguidores, que estão a serviço e comprometidos com
a construção do Reino de Deus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS