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Coletivos
Introdução
Noções Gerais
Certos direitos existem que não são atinentes a um indivíduo especificamente considerado, mas sim à uma
coletividade em geral. Esses direitos são chamados de difusos ou coletivos.
São assim chamados porque não são peculiares a um titular definido, mas abrangem uma coletividade. São
interesses que ultrapassam a individualidade do ser humano, constituindo-se em verdadeiros interesses de
grupos, de uma coletividade, isto é, sem um titular individualizado. Esses interesses, chamados difusos,
coletivos, supra ou metaindividuais, dizem respeito a anseios ou mesmo necessidades da coletividade ou grupo
de pessoas, relativamente à qualidade de vida, como, por exemplo, o direito à saúde, à qualidade dos
alimentos, à informação correta e atual, à preservação do meio ambiente, etc.
Desta forma, quando uma fábrica polui um rio, não se pode identificar isoladamente que foi prejudicado pelo
fato, mas zela-se pelo interesse geral da preservação do ambiente para que todos possam dele usufruir.
Histórico
Em virtude da herança nitidamente individualista que norteou o ordenamento jurídico brasileiro a partir da
proclamação da república, fruto do sistema jurídico adotado na Europa, mormente na França com o
denominado Código Civil napoleônico, a implantação da tutela dos interesses difusos e coletivos constituiu um
marco no Direito brasileiro.
A defesa de direitos coletivos e a tutela coletiva de direitos não é recente no mundo jurídico, como possa
aparentar a princípio.
No Direito Romano encontramos a origem das denominadas ações coletivas no “populos”, conhecido como um
conjunto de indivíduos para a consecução de um fim coletivo.
A defesa dos interesses coletivos da sociedade remontam, igualmente, ao Direito Romano, com as
denominadas “actiones populares”. Estas tinham por finalidade a defesa do direito do próprio povo. Todavia,
essas ações eram de natureza privada, cuja legitimidade pertencia a qualquer cidadão romano, defendendo
seu próprio interesse e extraordinariamente o interesse público.
Por outro lado, a legitimação de pessoas ou entes próprios para a defesa dos direitos da sociedade civil surgiu
no Direito Escandinavo, criando a figura do Ombudsman.
No Direito Brasileiro, a Lei da Ação Popular, em face da alteração proporcionada pela Lei n.º 6.513, de
20.12.77, foi o primeiro diploma a proporcionar instrumento processual para a tutela jurisdicional de direitos
difusos em nosso país. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), também proporcionou a defesa coletiva
nos conflitos coletivos trabalhistas, mas de forma incipiente e sem a visão de transindividualidade de direitos.
Em 24.07.85, fruto de trabalho de juristas paulistas de vanguarda e do Ministério Público do Estado de São
Paulo, foi sancionado a Lei n.º 7.347, denominada Lei da Ação Civil Pública, que, de forma sistematizada, deu
origem à defesa em juízo dos direitos difusos e coletivos relativos ao meio ambiente e ao consumidor.
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Finalmente, em 05.10.88 foi promulgada nossa atual Carta Magna, a qual positivou os denominados direitos
fundamentais de terceira geração - direitos difusos e coletivos.
Noções Gerais
Legislação:
a) Lei 7.347/85: caráter geral;
b) Lei 7.853/89: defesa das pessoas portadoras de deficiência;
c) Lei 7.913/89: danos causados aos investidores no mercado de valores mobiliários;
d) Lei 8.069/90: criança e adolescente;
e) Lei 8.078/90: consumidor (no CDC, a ação civil pública recebeu o nome de ação coletiva);
f) Lei 8.884/94: infrações contra a ordem econômica;
g) art. 129, III da Constituição Federal: previsão da defesa do patrimônio.
Conceito:
É o instrumento processual adequado para reprimir ou impedir danos ao meio ambiente, ao consumidor, a bens
e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, protegendo assim os interesses difusos
da sociedade.
Art. 1.º - Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I - ao meio ambiente;
II - ao consumidor;
III - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
V - por infração da ordem econômica.
Responsabilidade do Réu:
O réu, na ação civil pública, têm responsabilidade objetiva pelos danos causados ao meio ambiente, por isso
mesmo o autor não precisa demonstrar culpa ou dolo na sua conduta. Basta evidenciar o nexo de causalidade
entre a ação ou omissão lesiva ao bem protegido no processo.
Competência:
É competente o foro do local do dano. Trata-se de competência de caráter absoluto, já que funcional. Nas
ações do Estatuto da Criança e do Adolescente a competência será do local da ação ou omissão. Caso o dano
ocorra em duas ou mais comarcas, a ação poderá ser proposta em qualquer uma delas, resolvendo-se a
questão pela prevenção.
Se, porém, a União, suas autarquias e empresas públicas forem interessadas na condição de autoras, rés,
assistentes ou opoentes, a causa correrá perante os Juízes Federais e o foro será o do Distrito Federal ou o da
Capital do Estado, como determina a Constituição da República (art. 109, I). Sendo o Estado, suas autarquias
ou entidades paraestatais interessadas na causa, mesmo que a lei estadual lhes dê vara ou juízo privativo na
Capital, ainda assim prevalece o foro do local do dano, pois a legislação estadual de organização judiciária não
se sobrepõe à norma processual federal que indicou o foro para a ação civil pública.
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Art. 2.º - As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano,
cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Objeto:
Art. 3.º - A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.
Ação Cautelar:
Art. 4.º - Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive, evitar
o dano ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico (vetado).
Além do Ministério Público, a ação pode ser proposta pela União, pelos Estados e Municípios, e também por
entidades públicas ou privadas, constituídas há pelo menos um ano, que tenham por finalidade a proteção
desses bens.
Art. 5.º - A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela
União, pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia, empresa
pública, fundação, sociedade de economia mista ou por associação que:
I - esteja constituída há pelo menos um ano, nos termos da lei civil;
II - inclua entre suas finalidades institucionais a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à
ordem econômica, à livre concorrência, ou ao patrimônio artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico;
§ 1.º - O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente
como fiscal da lei.
§ 2.º - Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste
artigo habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.
§ 4.º - O requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando haja manifesto
interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do
bem jurídico a ser protegido.
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Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá representar ao Ministério Público, provocando sua
iniciativa. Já, os juízes e tribunais deverão enviar-lhe peças sempre que, no exercício de suas funções tomarem
conhecimento de fato ensejador da ação civil pública.
Art. 6.º - Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do
Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação
civil e indicando-lhe os elementos de convicção.
Art. 7.º - Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos
que possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para
as providências cabíveis.
Art. 8.º - Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as
certidões e informações que julgar necessárias, a serem fornecidas no prazo de 15 (quinze)
dias.
Inquérito Civil:
A ação civil pública pode ser precedida por um inquérito civil.
O inquérito civil é um procedimento administrativo, instaurado e presidido pelo Ministério Público, tendo por
objeto a apuração de danos causados a interesses coletivos ou difusos.
Não existe o contraditório no inquérito civil.
§ 1.º - O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar,
de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no
prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.
§ 2.º - Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou
informação, hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada daqueles
documentos, cabendo ao juiz requisitá-los.
Arquivamento:
§ 1.º - Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos,
sob pena de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do
Ministério Público.
§ 2.º - Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada ou
rejeitada a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar
razões escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às
peças de informação.
Exame de Arquivamento:
Obrigatoriedade de Informação:
Art. 10 - Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa
de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações do Tesouro Nacional - OTN, a recusa, o retardamento ou a
omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados
pelo Ministério Público.
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O Processo
O processo da ação civil pública é o ordinário, comum, do Código de Processo Civil, com a peculiaridade de
admitir medida liminar suspensiva da atividade do réu, quando pedida na inicial, desde que ocorram o “fumus
boni iuris” e o “periculum in mora”.
Art. 11 - Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o
juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade
nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for
suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.
Liminar:
Art. 12 - Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão
sujeita a agravo.
§ 1.º - A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave
lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do Tribunal a
que competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da liminar, em
decisão fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas julgadoras, no prazo de 5
(cinco) dias a partir da publicação do ato.
§ 2.º - A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da
decisão favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o
descumprimento.
Condenação em Dinheiro:
Especialmente em matéria de danos ambientais, a delimitação do “quantum” que se vai pedir como reparação é
matéria de difícil solução (ex.: qual o valor dos animais e mortos e árvores destruídas em uma queimada?).
Até a pouco tempo atrás o patrimônio ambiental era tido como “res nullius”, mas o fato é que estes bens vem
ganhando valor a cada dia. Nélson Nery Jr. Recomenda também o critério do arbitramento e o de fixação da
indenização com base no lucro obtido pelo causador do dano.
Parágrafo único - Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em
estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária.
Art. 14 - O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à
parte.
Art. 16 - A sentença civil fará coisa julgada "erga omnes", nos limites da competência
territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de
provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com idêntico
fundamento, valendo-se de nova prova.
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* O caput do art. 17 foi suprimido passando o parágrafo único a constituir o "caput", de
acordo com a Lei número 8.078, de 11 de setembro de 1990.
Este texto parece-nos truncado. Não saiu, até então, qualquer retificação da lei. Consta do
Projeto, que acreditamos correto, o seguinte texto: "Em caso de litigância de má-fé, a
associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão solidariamente
condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas sem prejuízo da
responsabilidade por perdas e danos".
Art. 18 - Nas ações de que trata esta Lei, não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora,
salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
Disposições Finais
Art. 19 - Aplica-se à ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de Processo Civil,
aprovado pela Lei número 5.869, de 11 de janeiro de 1973, naquilo em que não contrarie suas
disposições.
Art. 20 - O fundo de que trata o art. 13 desta Lei será regulamentado pelo Poder Executivo no
prazo de 90 (noventa) dias.
Art. 21 - Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que
for cabível, os dispositivos do Título III da Lei número 8.078, de 11 de setembro de 1990, que
instituiu o Código de Defesa do Consumidor.
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