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ÍNDICE
RAÍZES SOCIOCULTURAIS E POLÍTICAS DO TEATRO INDIANO
Ana Beatriz Pestana Gomes, 9
O NASCIMENTO DA JAPONOLOGIA
Edelson Geraldo Gonçalves, 115
3
EDUCANDO UM IMPÉRIO: UMA REFLEXÃO SOBRE O CONTEXTO
HISTÓRICO EDUCACIONAL CHINÊS
Elois Alexandre De Paula, 125
4
O IMPÉRIO ASIÁTICO PORTUGUÊS: UMA PERSPECTIVA
HISTORIOGRÁFICA
Jorge Lúzio, 235
5
OS FESTIVAIS EGÍPCIOS: MITO, MAGIA E RELIGIOSIDADE
Maura Regina Petruski, 355
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O ORIENTALISMO E AS REPRESENTAÇÕES DO
EGITO ANTIGO EM AGE OF MYTHOLOGY
Pepita de Souza Afiune
José Loures
Introdução
A cultura egípcia antiga exerce um fascínio no Ocidente atualmente.
Exposições itinerantes atraem estudantes e curiosos, filmes trazem
entretenimento e ao mesmo tempo invocam um Egito mágico, e
muitas edificações urbanas inspiram-se em formatos piramidais ou
obeliscos. Essa interação com culturas milenares habita o imaginário
de muitas pessoas na contemporaneidade. Propomos estabelecer
uma breve análise das representações do Egito Antigo no jogo
eletrônico Age of Mythology (AoM), considerando suas visualidades
e narrativas, vestuários, figuras míticas, edifícios, cenários e
desenvolvimento da civilização egípcia.
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Dentro do contexto de intriga entre franceses e ingleses está o Egito,
que em pleno século XIX era uma colônia, na verdade entendida
como uma extensão da Europa. Essas e muitas outras
representações que surgem neste período, principalmente na
literatura, marcaram o que Edward Said denomina de Orientalismo
Moderno, uma invenção do Oriente a partir do olhar europeu
colonizador. O Egito foi o protagonista das representações
ocidentais a respeito do Oriente Próximo e suscitou paixões de
muitos aventureiros.
Egiptomania e Orientalismo
De acordo a pesquisadora referência em Egiptomania no panorama
brasileiro, Margaret Bakos (2014), o Egito Antigo promoveu seu
legado na contemporaneidade a partir das apropriações de suas
simbologias que foram readaptadas e ressignificadas em diversos
suportes, como na arquitetura, na mídia e nas novas religiosidades.
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visitando o país, ser o Egito uma terra nova e um presente do Nilo”
(HERÓDOTO, 2006, p. 136);
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aquela coleção de sonhos, imagens e vocabulários
disponíveis para qualquer um que tenha tentado falar sobre
o que está ao Leste da linha divisória” (SAID, 1990, p. 82).
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Age of Mythology (AoM)
In techtudo.com.br
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A narrativa é permeada pela presença dos deuses Isis, Rá, Seth,
Anúbis, Bastet, Ptah, Hathor, Néftis, Sekhmet, Hórus, Osíris e Thot.
As suas cidadelas devem adorar aos deuses para receber bênçãos
importantes para sobrevivência em determinadas fases da
campanha.
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“Esta visão, que assegurava serem “caucasoides” (brancos)
em forma predominante os antigos egípcios, foi fortemente
atacada por historiadores negro-africanos - C. Anta Diop e
T. Obenga -, que com argumentos lingüísticos (semelhança
entre o antigo egípcio e línguas negro-africanas de hoje) e
de outros tipos trataram de provar que os egípcios da
Antigüidade eram negros. [...] Foi lembrado também que o
Egito, situado na confluência da África e da Ásia, nunca
esteve isolado, sendo inaceitável pretender que sua
população foi exclusiva ou predominantemente “branca”,
tanto quanto “negra” já que tudo indica ter sido sempre
muito mesclada, pelo menos desde o Neolítico”
(CARDOSO, 1982, p. 04-05).
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azul, que era utilizada apenas nas ocasiões de guerra, sendo
conveniente ser retratado com ela no jogo.
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“Dessa forma as vestimentas traduziam as funções que o
homem e a mulher ocupavam na sociedade e juntamente
com os seus títulos a roupa era um identificar da situação
social de um egípcio” (BRANCAGLION, 2009, p. 02).
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Maravilha egípcia in game
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Estátua de Isis in game.
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como um alaúde egípcio e conchas marinhas. O processo para criar
som e imagem que remetam a uma era mitológica, é apenas possível
através da imaginação de artistas junto à tecnologia, como os
videogames.
Considerações Finais
Age of Mythology não deixa de ser uma narrativa a partir de olhares
imperialistas, que manteve uma concepção orientalista romântica
nos mínimos detalhes, não esquecendo de enfatizar o caráter mágico
que permeia a mitologia egípcia e imagem de grandeza e poder de
seus deuses. O jogo evoca um egípcio mágico da mesma forma que
muitos filmes hollywoodianos. Sempre retratado lado a lado com as
civilizações da antiguidade europeia, o Egito Antigo é comumente
entendido como parte deste contexto, o que não considera as suas
especificidades.
Mas por outro lado, podemos perceber que Age of Mythology é além
de entretenimento, um dispositivo que possibilita o conhecimento
da mitológica egípcia sem abrir mão da liberdade criativa. A
campanha de Amanra em sua jornada pela busca dos pedaços de
Osíris mostra que durante o desenvolvimento do jogo, houve uma
pesquisa sobre o que se retratar, o que se divagar e o que deixar por
livre interpretação do jogador.
Pode ser uma ferramenta poderosa nas mãos do docente que souber
empregá-la como recurso metodológico, visto que, o jogo é uma
mídia presente na vida de crianças e adolescentes dos dias de hoje.
Assim, muitas discussões ainda podem ser desenvolvidas a este
respeito.
Referências
Pepita de Souza Afiune é doutoranda em História pela Universidade
Federal de Goiás. Mestra em Ciências Sociais e Humanidades
(UEG). Contato: pepita_af@hotmail.com
José Loures é artista multimídia, doutorando e bolsista CAPES no
Programa de Pós-graduação em Arte pela Universidade de Brasília.
Mestre em Arte e Cultura Visual. Contato: jloures-arte@hotmail.com
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deslocamentos. São Leopoldo (RS): UNISINOS, 2007. Disponível
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Alegre: EDIPUCRS, 2014.
BRANCAGLION, Antônio Junior. Os trajes no Egito faraônico: uso,
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http://citrus.uspnet.usp.br/estetica/2011/index.php?option=com_c
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CARDOSO, Ciro Flamarion S. O Egito Antigo. São Paulo,
Brasiliense, 1982. [Tudo é História nº 36].
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http://aom.heavengames.com/gameinfo/interviews/xgr-08-16-
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Traduzido do grego por Pierri Henri Larcher. Volumes XXIII e
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http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/historiaherodoto.pdf.
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RYHOLT, Kim. The political situation in Egypt during the
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DK: Museum Tusculanum Press, 1997.
SAID, Edward. Orientalismo: O Oriente como invenção do
Ocidente. 1ª reimp. Trad. Tomás Rosa Bueno. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990.
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