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USABILIDADE E HABITABILIDADE:
MOBILIÁRIO PARA APARTAMENTOS REDUZIDOS
RESUMO
A redução dos apartamentos gerou projetos que se definem entre uma micro arquitetura e um macro
design e devem integrar edificação e mobiliário para garantir condições de habitabilidade e evitar o
impacto negativo da redução do espaço na qualidade de vida dos usuários. Assim, esta pesquisa visou a
sistematizar uma lista de recomendações que auxiliassem os arquitetos, os designers e os projetistas de
lojas de armários modulados a otimizarem a usabilidade de armários modulados em apartamentos
reduzidos. E em continuidade à mesma, as recomendações listadas foram abordadas em três projetos de
mobiliário: um guarda roupa e dois conjuntos para refeições.
ABSTRACT
The apartments reduction led to projects that are defined between a micro architecture and a macro and
design, which should integrate building and furnishings to ensure living conditions and avoid the negative
impact of space reduction in the users’ life quality. Thus, this research aimed to systematize a list of
recommendations that could help architects, designers and employees of modular cabinets’ stores to
optimize the usability of reduced modular cabinets. In continuity, the listed recommendations were
addressed in three furniture projects: one wardrobe and two sets for meals.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta pesquisas realizadas pelos autores nos últimos cinco anos, a respeito das
relações entre a usabilidade de armários e a habitabilidade em apartamentos reduzidos, dada
essa tendência do mercado imobiliário para os centros urbanos. Essas pesquisas incluíram
uma dissertação de mestrado defendida na UFSC e três Trabalhos de Conclusão de Curso
orientados por uma das autoras e defendidos na UNIVILLE, cujos resultados geraram um
conceito projetual com sete atributos para o design de armários adequados a apartamentos
IV Encontro Nacional de Ergonomia do Ambiente Construído
V Seminário Brasileiro de Acessibilidade Integral
01 a 03 de março de 2013 em Florianópolis, SC
Para viabilizar esta pesquisa, foi necessária a limitação a um tipo de unidade habitacional, dois
ambientes e dois móveis. Os apartamentos de dois quartos foram escolhidos, porque abrangem
a maior variedade de grupos domésticos, ou seja, famílias, casais, estudantes, pessoas sós
(CAMARGO, 2003). Quanto aos ambientes, escolheram-se o maior quarto da planta, de uso
preferencial, e a cozinha, pela intensidade de uso. Quanto ao mobiliário, escolheram-se os
armários porque, ao acomodarem objetos e utensílios usados para as atividades em um
ambiente, contribuem para sua funcionalidade. Dentre os armários, foram escolhidos o guarda
roupa no quarto e o conjunto formado pelo balcão e o armário aéreo na cozinha, porque
acumulam maior número e diversidade de funções, objetos e utensílios. Quanto ao público
alvo, determinaram-se mulheres adultas, entendidas culturalmente como principais
responsáveis pelas atividades domésticas e pelas compras para a casa, inclusive de mobiliário.
Outra limitação necessária foi a geográfica: foram escolhidos os bairros adjacentes da
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, que são quatro dos mais populosos bairros
da porção insular de Florianópolis: Carvoeira, Córrego Grande e Pantanal com mais de 4 mil
habitantes cada, e Trindade com mais de 14 mil habitantes, segundo censo do IBGE disponível
no site da Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF, 2008, web). Nessa região, observa-se um
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A ergonomia busca compreender o comportamento e as necessidades do homem em atividade,
para otimizar seu bem estar, bem como o desempenho do sistema. É o estudo da interação das
pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos
para melhorar integralmente a segurança, o conforto, o bem estar e a eficácia das atividades
humanas, sejam de trabalho, lazer ou domésticas (ABERGO, 2012, web; IEA, s/d apud
ABERGO, 2012, web). Nesse sentido, esta pesquisa aplicou os conhecimentos acumulados
pela área da ergonomia do ambiente construído, para identificar atributos de design que
otimizassem a interação entre usuários, mobiliário e ambiente, com condições de saúde e
conforto (VILLAROUCO, 2001; BALTAR et. al., 2002; MONTE e VILLAROUCO, 2006).
A usabilidade é a qualidade de uso, definida ou medida para um contexto em que um sistema é
operado. Também pode ser entendida como a facilidade e a comodidade de uso do produto,
em seu entendimento e operação, e relaciona-se com o conforto e com a eficiência (IIDA,
2005). Suas medidas são a eficácia, a eficiência e a satisfação pessoal. Eficácia é a precisão e
completeza com que o usuário atinge objetivos específicos, gerando o resultado esperado;
eficiência é a precisão e completeza com que o usuário atinge objetivos em relação à
quantidade de recursos gastos e satisfação diz respeito ao conforto e à aceitação do produto
(JORDAN, 1998; CYBIS, 2003).
A eficácia funcional dos armários, estudados nesta pesquisa, está ligada às necessidades de
armazenamento do usuário na sua habitação. Nichos mal dimensionados, mal distribuídos ou
insuficientes para a quantidade de objetos a serem guardados dificultam a realização das
atividades e causam incômodos rotineiros. Quando os objetos não cabem no armário, ou ficam
difíceis de alcançar, o usuário perde tempo, se cansa e se frustra.
A eficiência antropométrica é a medida de usabilidade ligada à interface entre o ambiente, o
objeto e o homem, dadas as características físicas de cada um. As dimensões corporais devem
ser consideradas sempre que houver interface do corpo com componentes físicos no espaço,
para garantir o uso cômodo e seguro, com qualidade de vida. Entretanto, os dados
antropométricos são pouco utilizados como apoio ao projeto arquitetônico, o que pode acarretar
problemas posturais, acidentais, estresse por confinamento, perda de privacidade e
impossibilidade de realizar atividades complementares. Sem esses cuidados, proliferam-se
apartamentos cujos ambientes prejudicam a realização das atividades a que são destinados
(MONTE e VILLAROUCO, 2006; MARTINS e COSTA FILHO, 2006).
A satisfação pessoal é a terceira medida de usabilidade, a ser considerada no projeto de
armários para apartamentos reduzidos. Trata-se do nível de conforto que o usuário sente ao
usar um produto e o quanto esse produto é percebido pelo usuário como um meio de atingir
objetivos. Para esta pesquisa, a satisfação pessoal foi considerada em termos de conforto
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3. PROBLEMATIZAÇÃO ERGONOMIZADORA
Os problemas ergonômicos do uso de armários em apartamentos reduzidos foram levantados
preliminarmente na bibliografia e na observação assistemática. Em seguida, esses problemas
foram classificados de acordo com Moraes e Mont’Alvão (2010). Pode-se perceber a seguir
que, de maneira geral, esses problemas manifestam-se no dimensionamento, na distribuição e
no acabamento dos nichos e puxadores dos armários.
Os problemas instrumentais dizem respeito ao excesso e diversidade de objetos. Essa
situação é corriqueira no uso de armários, mas agrava-se em situações de restrição espacial,
pois há menos espaço de armários para um mesmo número e variedade de objetos, que vão de
utensílios do dia a dia àqueles de uso pessoal ou, simplesmente, objetos de estima. Esses
problemas estão relacionados com a medida de eficácia funcional.
Os problemas acionais ligados às formas, dimensões e posicionamento dos puxadores podem
prejudicar o conforto da pega e a postura do usuário, também levando a frustrações ou mesmo
lesões, temporárias ou permanentes, pela movimentação ou posicionamento inadequado dos
braços, costas e pescoço. Os problemas movimentacionais também podem ocorrer no
desempenho de outras atividades, com manejo de pesos, ou como consequência de problemas
de acessibilidade, em que objetos e equipamentos estão fora do alcance confortável. Os
problemas interfaciais dizem respeito à interface ou relação física do homem com o armário:
manejo de peso ao guardar e apanhar objetos, inadequação postural ao realizar essas
atividades, bem como ao utilizar superfícies de trabalho de balcões ou ao limpar o armário e da
realização de posturas que duram todo o tempo da atividade, sem repouso. Os problemas
securitários dizem respeito a riscos acidentários como tombos, escorregões e tropeços e estão
ligados à configuração inadequada dos ambientes, ao uso de bancos para extensão do alcance
vertical e ao excesso de circulação. Esses problemas estão relacionados com a medida de
eficiência antropométrica.
Os problemas emocionais e cognitivos também estão presentes no uso de armários e se
manifestam em insatisfações pessoais com a estética, com a funcionalidade ou com
inconsistências que dificultam tomadas de decisões. Esses problemas estão relacionados com
a medida de satisfação pessoal.
4. ESTUDO DE CAMPO
O estudo de campo visou a verificar os problemas ergonômicos levantados preliminarmente e
aprofundar o conhecimento a respeito da usabilidade de armários modulados em apartamentos
reduzidos. Para isso, baseou-se em metodologias provenientes das áreas de arquitetura,
design e ergonomia, especialmente nas publicações de Moraes e Mont’Alvão (2010), Preece et.
al. (2005) e Iida (2005). Foram 14 procedimentos, divididos em 4 fases: estudo sobre os
apartamentos, estudo piloto do sistema de uso, estudo sobre os usuários e sobre os armários.
A primeira fase (estudo dos apartamentos) visou a conhecer o mercado imobiliário e as plantas
recentemente lançadas na região de interesse da pesquisa. Dentro deste estudo, foram
realizados 3 procedimentos: estudo exploratório, estudo de plantas e levantamento espacial.
A segunda fase (estudo piloto do sistema de uso) visou a conhecer as modulações de
armários para quartos e cozinhas oferecidas no mercado; e compreender o processo de
trabalho dos projetistas. Dividiu-se em 3 procedimentos: persona, briefing e projeto piloto.
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A terceira fase (estudo dos usuários) visou a conhecer a opinião da amostra de usuários, para
complementar a observação sobre os problemas de usabilidade dos armários modulados de
quarto e cozinha nos apartamentos reduzidos. Dividiu-se em 4 procedimentos: escolha do perfil
da amostra, escolha dos instrumentos de inquirição, questionário online e entrevista.
A quarta fase (estudo dos armários) visou a conhecer as soluções projetuais para nichos e
acessórios oferecidas no mercado de armários modulados e seu desempenho, de acordo com
os critérios estabelecidos a partir da fundamentação teórica e dos demais procedimentos de
pesquisa. Dividiu-se em 4 procedimentos: entrevista semi estruturada com projetistas de lojas
de modulados, estudo funcional dos nichos e acessórios oferecidos em catálogos comerciais,
simulação gráfica das recomendações e entrevistas semi estruturadas com projetistas
experientes de várias lojas de modulados. A seguir, destacam-se os principais resultados.
roupas de cama e banho, as malas e os calçados e os nichos mais mal dimensionados são os
cabideiros e calceiros, insuficientes.
A maioria das respondentes não alcança e não visualiza bem os objetos em todos os nichos do
guarda roupa e, principalmente, do balcão/aéreo, apesar de quase todas estarem acima da
média brasileira de estatura feminina,1,62m – provavelmente devido à realização da pesquisa
na região sul do país. Isso indica um exagero da verticalização, para cima e para baixo – e a
profundidade do móvel pode piorar a situação. A verticalização gera desconforto e risco de
acidentes, pelo uso de bancos e escadas, pela queda de objetos puxados ou pelo risco de
distensões e torções musculares.
Os desconfortos e constrangimentos foram apontados principalmente nas posturas em pé sobre
banco, na ponta dos pés e agachada. Apesar de as respondentes serem jovens, o cansaço e a
insegurança foram queixas de uso recorrentes. Para evitarem-se esses efeitos, os objetos
usados diariamente devem ser guardados nos nichos medianos; os usados frequentemente
devem ficar nos nichos mais baixos; e os de uso eventual, nos mais altos, alcançados com
bancos. Nesse sentido, as respostas indicaram práticas adequadas, o que aponta para
problemas de design e não de mau uso. Na cozinha, o problema se agrava, pois o espaço de
melhor alcance é utilizado como superfície de trabalho, e não guarda de objetos.
Ainda foram queixas recorrentes a inflexibilidade dos nichos, os limites de personalização, a
falta de nichos e acessórios para usos específicos, as dificuldades de limpeza do armário e
organização do uso. Porém, o estudo dos armários modulados revelou diversas soluções
projetuais e acessórios, que indicaram a modularidade para minimizar os problemas de
usabilidade de armários em apartamentos reduzidos, embora, aumentem o custo do armário e
possam reduzir seu espaço interno.
5. RECOMENDAÇÕES
A partir dos procedimentos anteriores, foi sistematizada uma lista de recomendações para
auxiliar arquitetos, designers e projetistas (funcionários das lojas de armários modulados), a
otimizarem a usabilidade de armários modulados em apartamentos reduzidos, conforme
apresenta-se a seguir.
6.1 Projetos
Todos os atributos projetuais foram totalmente atendidos nos projetos apresentados a seguir,
ou seja: todos são modulados, multifuncionais, racionalizados, compactos, seguros, fáceis de
limpar e personalizáveis. O Projeto 1 (Figuras 7, 8, 9 e 10) é um guarda roupa composto por
um corpo com gavetas, em madeira, com acrílico translúcido nas portas, para a visualização
dos objetos armazenados, e dois tipos de módulos, em madeira. O módulo 1 tem formato em E
e o módulo 2, em C. Ambos podem ser usados como divisórias do guarda roupa, em variadas
composições, ou em funções secundárias, como prateleira, mesa de centro ou banco. Os
materiais (madeira laqueada e acrílico) são atóxicos e inquebráveis, com quinas arredondadas
e puxadores embutidose permitem a escolha de cores.
O Projeto 3 (Figuras 14, 15 e 16) é um conjunto para refeições com inspiração na cultura
japonesa, tradicionalmente reconhecida por suas práticas para lidar com o estresse, bem como
com o confinamento dos espaços domésticos reduzidos. É composto por uma cadeira modular
em madeira e uma mesa de tampo dobrável, também modular e também em madeira. A
cadeira possui um topo removível com assento basculante e uma base ou baú. A mesa possui
um tampo e dois cubos, podendo ser usada em duas alturas. É possível configurar um
aparador, uma mesa alta de dois ou quatro lugares e uma mesa baixa de dois ou quatro
lugares. As quinas são arredondadas e os puxadores são embutidos. O material é o MDF, com
verniz em tons claros ou escuros. O possui uma almofada com tecido à escolha.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo apresentou pesquisas realizadas pelos autores nos últimos cinco anos, a respeito
das relações entre a usabilidade de armários e a habitabilidade em apartamentos reduzidos,
dada essa tendência do mercado imobiliário para os centros urbanos. Essas pesquisas
incluíram uma dissertação de mestrado e três Trabalhos de Conclusão de Curso, cujos
resultados geraram um conceito projetual com sete atributos para o design de armários
adequados a apartamentos reduzidos. Segundo o conceito, esses armários devem ser
modulados, multifuncionais, racionalizados, compactos, seguros, fáceis de limpar e
personalizáveis, assim evitando os desconfortos e constrangimentos causados pela falta de
espaço para acomodar e utilizar os objetos no âmbito doméstico.
Nesse sentido, entende-se que os projetos apresentados demonstram como pesquisa e
desenvolvimento em arquitetura e design podem contribuir efetivamente para o problema de
redução das habitações, otimizando a qualidade de vida de seus usuários. Ainda, os atributos
sugeridos agregam valor aos móveis, pelas vantagens de produção e montagem. Entretanto,
aumentam a complexidade do projeto de design, especialmente no que diz respeito à
modularidade (LIDWELL et. al., 2010).
Por fim, sugere-se que estudos futuros estendam os atributos aqui sistematizados aos demais
cômodos e móveis de apartamentos reduzidos ou que gerem parâmetros técnicos de
responsabilidade dos arquitetos e designers a serem exigidos pelos construtores, fabricantes e
usuários, a fim de minimizarem-se os efeitos da redução dimensional mal fundamentada dos
apartamentos e desenvolverem-se soluções criativas para projetos funcionais.
8. AGRADECIMENTOS
Ivan de Medeiros, MSc.,Monique Mauricio, Wagner Mueller, Camila Góes e Gyula Menezes.
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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOUERI, J.; KENCHIAN, A. e BARBOSA, A. Estudo do uso dos espaços das habitações: o caso do
conjunto habitacional de Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo. 7o Ergodesign. Itajaí, 2007.
LIDWELL, W.; HOLDEN, K.; BUTLER, J.Princípios universais do design. 2. ed. Rockport Publishers,
2010.
MORAES, Anamaria; MONT’ALVÃO, Claudia. Ergonomia: conceitos e aplicações. Rio de Janeiro: 2AB,
2010.
MONTE, Rosamaria; VILLAROUCO, Vilma. Confinamento urbano: a redução dimensional das habitações
como problema nacional. 14º ABERGO. Curitiba, 2006.
PREECE, Jennifer; ROGERS, Yvonne; SHARP, Helen. Design de interação: além da interação homem-
computador. Porto Alegre: Bookman, 2005.