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TARCÍSIO GONÇALVES DE ALMEIDA SOUZA

RESENHA DO LIVRO:

MOZART – SOCIOLOGIA DE UM GÊNIO

Disciplina: Sociologia da Educação I

Profª. Drª. Kimi Tomizaki

São Paulo
2018
O presente texto tem como objetivo, a partir de um estudo sócio biográfico da vida
do artista Wolfgang Amadeus Mozart, analisar as relações entre esse indivíduo e a
sociedade a qual ele viveu na segunda metade do século XVIII. Para tal, serão utilizadas
como base as ideias desenvolvidas nos textos (ELIAS, 1994) e (ELIAS, 1991).

Inicialmente, vamos dos debruçar sobre os anos iniciais da vida de Mozart com
ênfase nas principais situações e pessoas que fizeram parte da sua formação básica.
Mozart nasce em 1756 numa sociedade, basicamente, dividida entre burgueses com
importância em ascensão, mas ainda menos influentes, e a tradicional aristocracia de
corte. Seu pai, Leopold Mozart, era regente substituto na corte de Salzburgo, homem
inteligente, talentoso e disciplinado teve papel fundamental na formação de Mozart.
Leopold ministrava aulas de música para a irmã de Mozart, sessões de música essas que
tinham a participação inevitável de Mozart ainda muito jovem. Com o passar do tempo e
a percepção de Leopold de que Mozart demonstrava interesse e habilidade ímpar com as
notas musicais, as instruções que antes se limitavam à irmã de Mozart, passam a ser
direcionadas também para o jovem garoto em níveis crescentes de dificuldade e
intensidade.

Nesse contexto, reside um ponto fundamental desenvolvido por (ELIAS, 1994),


fatores hereditários tem participação secundária no processo de formação dos indivíduos
se comparados às experiências que essa pessoa é exposta desde a mais tenra idade. Não
se pode, de modo algum, atribuir a “genialidade” de Mozart somente a um fator alheio à
sua existência numa família de músicos que, através de uma dura rotina de estudos,
moldou o talento do jovem artista. Nesse sentido, (ELIAS, 1994, p. 21) cita “Por
nascimento, ele está inserido num complexo funcional de estrutura bem definida; deve
conformar-se a ele, moldar-se de acordo com ele e, talvez, desenvolver-se mais, com base
nele”, esse desenvolvimento adicional citado pelo autor no excerto se ajusta perfeitamente
ao caso de Mozart.

Com o passar do tempo, o menino se desenvolveu e com 4 anos de idade já tocava


peças de nível elevado de dificuldade, aos 6 anos partiu acompanhado, inicialmente, da
irmã e do pai e, posteriormente, somente do pai as turnês ao redor da Europa, onde era
recebido com espanto e admiração pelas mais diversas cortes imperiais e outros públicos.
Leopold, embora bastante atento e adequado às regras que se impunham aos servos que
prestavam serviços nas cortes, e os músicos eram entendidos como tal, via no filho a
magnífica possibilidade de um cargo de músico, para ambos de preferência, numa corte
luxuosa de um grande centro europeu e isso se traduzia numa pressão desproporcional
nos ombros do artista ainda em formação. Mozart era uma criança bastante sensitiva tanto
para a música quanto no lidar diário com os sentimentos provenientes das pessoas que
entravam em contato com sua arte. Desde pequeno foi nutrido de muita afetividade por
parte de seu pai, estarrecido com o talento do garoto e esperançoso com relação ao seu
potencial. Isso, ao longo dos anos gerou um indivíduo, até a idade adulta inclusive,
bastante inseguro e vulnerável.

O brilhantismo artístico aliado a uma necessidade exacerbada de reconhecimento


por parte de seu público foram características fundamentais da formação de Mozart. Até
os 20 anos sempre viajou acompanhado de seu pai, Leopold, que controlava tudo de perto
e deixava ao jovem apenas as funções de ouvir, compor e tocar. Então, Mozart, assim
como fazia desde muito criança, limitava a sua existência social a essas atividades. O
artista não se adequava ao universo de bajulações e aparências típico das cortes as quais
frequentava, era bastante reservado e apenas com pessoas mais próximas se mostrava
mais extrovertido, sendo que muitas vezes tal comportamento era acompanhado de
notável carga de infantilidade, mesmo quando já entrara na idade adulta. Nesse contexto
de entender o ser humano como fruto das relações interpessoais (ELIAS, 1994, p. 39)
escreve “deve-se partir das relações entre os indivíduos para compreender a “psique” da
pessoa singular”.

Se do ponto de vista comportamental Mozart não representava o perfeito aspirante


a integrante de uma grande corte europeia, no que tange a sua música soube, por muitos
anos, adequar seu padrão de criação artística àquilo que era esperado pelos ouvidos dos
círculos da aristocracia. Isso, sem dúvida influenciou o legado deixado pelo artista.
Entretanto, esse sucesso não foi vitalício. Em 1777, aos 21 anos, sentindo-se desanimado
com as atividades e restrições inerentes aos servos da corte de Salzburgo, Mozart pede
demissão para tentar um posto na corte de Munique e depois na corte de Paris. Em 1779,
após a busca por cargos em lugares como Viena, além dos citados, Mozart retorna à sua
cidade natal amargamente desapontado. Em reconhecimento aos seus dotes artísticos
recebe o cargo de regente da orquestra e organista da corte, cargo esse que dois anos
depois abre mão, novamente, partindo para Viena em busca de sua carreira de “artista
autônomo”.
Mozart buscava atuar como artista de uma forma bastante incomum na época.
Enquanto por um lado, os músicos em geral eram funcionários da corte e quase todos os
concertos eram financiados por seus aristocratas, ele acreditava em suas capacidades e
buscava, acima de tudo, poder criar segundo suas inspirações individuais e se
autofinanciar através de aulas de música e concertos por assinaturas, promovidos por ele
mesmo. Mozart tentava vencer as forças sociais que, segundo (ELIAS, 1994), são cadeias
invisíveis e intangíveis que ligam as pessoas gerando uma dependência funcional entre
elas e impondo resistências aos indivíduos que de alguma forma tentam romper com o
padrão pré-estabelecido, tais cadeias são caracterizadas por (ELIAS, 1994, p. 23) da
seguinte forma: “E essa rede de funções que as pessoas desempenham umas em relação
a outras, a ela e nada mais, que chamamos ‘sociedade’”.

A partir daí, Mozart tenta por alguns anos, longe de Salzburgo desenvolver uma
carreira que lhe permita razoável subsistência e, na medida do possível equilibrar criações
alinhadas com o seu conceito interior de música. Apesar de alguns momentos de sucesso
nessa empreitada, ao longo do tempo as oportunidades foram minguando e a
receptividade com relação às criações que fugiam ao padrão musical da época eram
entendidas como: “Notas demais, meu caro Mozart, notas demais”, declaração essa feita
ao compositor pelo Imperador José II ao avaliar uma das criações do artista. Essa busca
por ser algo que não se adequa aos seus valores intrínsecos é bastante comum nas redes
humanas que compõem a sociedade e foi precisamente descrita em “Eles se sentem
constantemente impelidos a violentar a sua ‘verdade interior’” (ELIAS, 1994, p. 33).

Dessa forma, em 1779, Mozart regressa a sua terra natal derrotado pelas forças
invisíveis da sociedade que o forçaram a caminhos que ele não soube percorrer. Carente
do amor de seu público e de sua esposa que, segundo relatos, admirara mais o artista do
que amara o homem, vem a falecer, em 1791, aos 35 anos. Em sua vida Mozart não teve
resiliência para se desprender, da forma lenta que atitudes como essa requerem, das
amarras da sociedade. Após ele surgiram artistas, como Ludwig van Beethoven, que
viveram vidas artísticas autônomas, assim como Mozart almejara. Tal fim, de forma
nenhuma diminui a importância que esse artista teve na história da música, suas
experiências e suas limitações foram insumos vivos da criação desse artista que tem sua
obra propagada ao longo dos séculos. Ele não venceu a sociedade e suas regras, mas
ajudou a moldá-la, assim como observado em (ELIAS, 1994, p. 52) “... o indivíduo é, ao
mesmo tempo, moeda e matriz.”

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