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FACULDADE LATINO-AMERICANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO MAESTRÍA ESTADO GOBIERNO Y POLÍTICAS PÚBLICAS - BELÉM

ALBA LÚCIA TORRES ARAÚJO


FRANCISCO DAS CHAGAS NASCIMENTO ARAÚJO
HEBERT DOS SANTOS LIMA
ROSA MARIA BARBOSA FREITAS

ROSA MARIA DAS CHAGAS JESUS

ATIVIDADE DE INVESTIGAÇÕES SOBRE ESTADO E DESENVOLVIMENTO


CAPITALISTA NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

BELÉM- PA
MARÇO/2019
FACULDADE LATINO-AMERICANA DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO MAESTRÍA ESTADO GOBIERNO Y POLÍTICAS PÚBLICAS - BELÉM

RELATÓRIO PARCIAL 2

A QUESTÃO DA (IN)SEGURANÇA PÚBLICA

Relatório Parcial 2 apresentado a disciplina Estado e


Desenvolvimento Capitalista no Brasil, do Curso
Maestría, Gobierno y Políticas Públicas, da Faculdade
Latino-Americana de Ciências Sociais – FLACSO.

BELÉM – PA
MARÇO/2019
Sumário

1. Introdução..............................................................................................................................4
2 O Estado brasileiro e sua relação com a violência..............................................................5
3 A (in) segurança pública no brasil........................................................................................8
4 A problemática da segurança no estado do Amapá...........................................................10
5 A problemática da segurança no estado do Ceará............................................................13
4 A problemática da segurança no estado de Rondônia......................................................18
5 Conclusão..............................................................................................................................20
6. Referências bibliográficas..................................................................................................22
1 Introdução
O presente estudo tem como objetivo principal fazer um relatório parcial da
in(segurança pública) nos Estados do Amapá, Ceará e Roraima, como atividade de
investigação da disciplina Estado e Desenvolvimento Capitalista no Brasil Contemporâneo
através das seguintes etapas:
No primeiro momento desenvolvemos uma metodologia de trabalho que possibilitou
obter maior integração e colaboração de seus membros a partir das competências e
experiências individuais de cada um, fazendo uso das ferramentas disponíveis na internet, tais
como o Whatsapp onde foi criado um grupo de discussão com os cinco integrantes da equipe;
depois a utilização do Skype para os encontros semanais (web reuniões) e o uso da
ferramenta Google Docs, um processador de texto disponibilizado pelo Google que permite
aos membros da equipe editar documentos online de forma colaborativa e em tempo real.
No segundo momento foram realizadas reuniões virtuais, que tiveram início no dia 04
de fevereiro de 2019. Nesta web reunião, após a apresentação inicial, a equipe, buscando o
melhor entendimento da tarefa proposta, fez uma rápida discussão sobre seu conteúdo e como
iria proceder para cumpri-la. Discutiu-se, também, os relatórios parciais individuais e as
dificuldades que cada um(a) tem enfrentado para atender as atividades propostas pelos
mestres e tutores.
Após consenso e relevância da temática no Brasil Contemporâneo, o grupo resolveu
abordar a questão da Segurança Pública que tanto tem impactado a vida de todos os
brasileiros e posto em cheque a capacidade do Estado para resolver esta questão de forma
eficiente. A violência e a segurança pública (ou seria melhor dizer, a insegurança pública?)
está na ordem do dia e o gestor público é testado todo instante a dar resposta a esta
problemática social.
2 O Estado brasileiro e sua relação com a violência

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional


Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade
fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida,
na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias,
promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República
Federativa do Brasil.
(Constituição da República Federativa do Brasil, 1988)

O Estado Brasileiro tal qual o conhecemos hoje foi uma construção longa e tardia, um
processo histórico singular que o diferencia da formação dos demais países que se
constituíram no chamado Novo Mundo ao longo do século XVIII e XIX, especialmente se
compararmos a América Portuguesa e Espanhola.
Essa singularidade manifesta-se na capacidade das elites portuguesas e brasileiras, no
processo de independência, para conseguirem manter a unidade física do vasto território da
colônia portuguesa ante a fragmentação do domínio espanhol, ter adotado a Monarquia como
forma de governo ao passo que seus vizinhos se tornaram Repúblicas. Antes, é importante
ressaltar que a construção do Estado brasileiro foi impactado por um fato inédito do ponto de
vista histórico, social e político que foi a transmigração da Família Real portuguesa para o
Brasil no ano de 1808, rompendo com o pacto colonial e elevando o status do Brasil de
colônia para o de Reino Unido a Portugal e Algarves. Toda estrutura necessária a formação de
um Estado nacional foi transplantado para a colônia portuguesa exceto um elemento
fundamental: o aparato militar, a força de segurança nacional que teve que, em sua maior
parte, ficar em Portugal para fazer a defesa do território.
Ainda sobre o processo de independência, Alencastro (1987, p. 68) analisa em “O
Fardo dos Bacharéis” que os interesses de Portugal e, de certo modo, da Europa, foram
decisivos para a aceitação da independência brasileira ao afirmar que:

“O fim do período colonial no Brasil aparece mais como decorrência de uma luta no
âmbito do poder metropolitano — conflito agudizado pela influência econômica e
política que a Inglaterra exerce então sobre Portugal — do que como resultado de
uma sublevação nacional e popular”.

Ou seja, a criação do estado brasileiro independente deu-se muito mais em função dos
interesses econômicos dos europeus, particularmente da Inglaterra.
As elites brasileiras que dominavam a estrutura agroexportadora da colônia e a
sociedade escravocrata e patriarcal não viam com bons olhos a chegada da família real, pois
temiam a perda não só do seu domínio político, mas também econômico e os privilégios a eles
inerente. Esses coronéis, como eram chamados os grandes proprietários de terras e chefes
políticos locais tinham suas próprias milícias, uma força particular de segurança formada por
jagunços, capangas, capatazes, ex-escravos responsáveis pela ordem local. Uma sociedade
profundamente apartada e desigual que vivia debaixo do chicote e das rédeas desses grandes
latifundiários, onde a violência era a tônica. Neste particular e diante da necessidade da Corte
recém-chegada em constituir uma Força de Segurança, uma aliança será estabelecida entre a
Coroa Portuguesa e os senhores rurais para que esta forneça os homens necessários para a
criação da Guarda Nacional.
Neste contexto, é natural que as questões sociais dos “brasileiros”, dos portugueses
sem posses, dos trabalhadores não-escravos não recebessem a devida atenção por parte da
Corte aqui estabelecida, seguindo sempre em segundo plano. O Resultado disso é o
sofrimento vivenciado pelos brasileiros até os dias atuais, refletindo diretamente nesse flagelo
vivido pela população brasileira que é a questão da criminalidade e da violência do país. Uma
questão que ocupa um lugar central no cotidiano não só das grandes cidades, das metrópoles,
das áreas urbanas, mas que também vem afetando as pequenas e médias cidades e também a
área rural, portanto, uma grande parcela da sociedade nacional.
As causas do aumento da violência no Brasil são complexas e envolvem questões
socioeconômicas, demográficas, culturais e políticas. O certo é que nascemos e nos
constituímos enquanto nação sob o signo da violência desde a invasão portuguesa de nossas
terras, do aprisionamento e escravização dos índios, impondo-lhes uma cultura e uma religião
estranhas, responsáveis pelo extermínio de milhões de indígenas. Em seguida, veio a
escravidão dos negros traficados da África que se naturalizou e se tornou tão corriqueira que
era inadmissível não ter escravos.
Carvalho (2008, p. 19-20) lembra que:
Na época da independência, numa população de cerca de 5 milhões, incluindo uns
800 mil índios, havia mais de 1 milhão de escravos. Embora concentrados nas áreas
de grande agricultura exportadora e de mineração, havia escravos em todas as
atividades, inclusive urbanas. Nas cidades eles exerciam várias tarefas dentro das
casas e na rua. Nas casas, as escravas faziam o serviço doméstico, amamentavam os
filhos das sinhás, satisfaziam a concupiscência dos senhores. Os filhos dos escravos
faziam pequenos trabalhos e serviam de montaria nos brinquedos dos sinhozinhos.
Na rua, trabalhavam para os senhores ou eram por eles alugados. Em muitos casos,
eram a única fonte de renda de viúvas. Trabalhavam de carregadores, vendedores,
artesãos, barbeiros, prostitutas.
Alguns eram alugados para mendigar. Toda pessoa com algum recurso possuía um
ou mais escravos. O Estado, os funcionários públicos, as ordens religiosas, os
padres, todos eram proprietários de escravos. Era tão grande a forma da escravidão
que os próprios libertos, uma vez livres, adquiriam escravos. A escravidão penetrava
em todas as classes, em todos os lugares, em todos os desvãos da sociedade: a
sociedade colonial era escravista de alto a baixo.

A violência também encontrava-se no cerne de todo o processo educacional brasileiro


desde os tempos dos jesuítas que tinham a missão de colaborar com Portugal na colonização
das possessões lusitanas impondo a moral católica e a obediência ao Rei, sendo o uso de
castigos e punições muito comum para garantir a purificação das almas e o bom
comportamento, segundo as diretrizes pedagógicas do Ratio Studiorum. O Estado brasileiro
sempre foi excludente e ineficiente do ponto de vista do atendimento às necessidades da
maioria da sua população, sem programas de políticas públicas de saneamento básico, saúde,
educação e de segurança pública para a população, pois não faziam parte das prioridades das
elites, contribuindo para aumentar a sensação de injustiça e impunidade e, consequentemente,
mais violência. É esse modelo de gestão pública que sempre privilegiou os mais abastados e
atravessa governos e gerações é que está na raiz da problemática da violência no Brasil, seja
ela institucionalizada ou não.
3 A (in)segurança pública no Brasil

Dentre os inúmeros problemas enfrentados pela população brasileira, a questão da


segurança pública tem se destacado, pois a violência tem crescido ano após ano. Segundo o
Fórum Brasileiro de Segurança Pública, na introdução à 6ª edição do Anuário Brasileiro de
Segurança Pública (2012), “a violência urbana persiste como um dos mais graves problemas
sociais no Brasil, totalizando mais de 800 mil vítimas fatais nos últimos 15 anos”. De norte a
sul do país o tema tem tirado o sono dos governantes, que, apesar dos esforços empreendidos
no combate ao crime, não conseguem desenvolver uma política eficaz de enfrentamento do
problema. Em alguns estados a questão beira a calamidade.
Pesquisas de opinião do Instituto Datafolha (Tabela 1), numa série histórica que vai de
2003 a 2018, sempre apontou a problemática da violência e segurança como uma das
principais preocupações do brasileiro. Isso porque chegou-se a uma situação tal, de uma
violência generalizada, a manifestar-se de múltiplas formas, sendo a mais cruel a de não ter o
que comer1 (violência da fome), a violência do desemprego, contra mulheres, negros, índios,
pobres, gays, lésbicas, transgêneros etc. Também a violência clássica, aquelas em que o
Estado reconhece como crimes letais contra a vida e os não letais contra o patrimônio que está
todos os dias sendo estampada nos jornais, nos programas policiais, gerando medo,
insegurança e uma espécie de banalização que a todos paralisa.

Tabela 1

ANO PRINCIPAL PROBLEMA DO PAÍS SEGUNDO GRAU DE PRIORIDADE

1º 2º 3º 4º

2003 Desemprego Fome/Miséria (15%) Violência/Seguran Saúde (8%)


(41%) ça (13%)

2004 Desemprego Fome/Miséria (15%) Violência/Seguran Saúde (10%)


(36%) ça (14%)

2006 Desemprego Saúde (17%) Violência/Seguran Educação (9%)


(27%) ça (16%)

2007 Saúde (21%) Desemprego (18%) Educação (10%) Corrupção (7%)

1 Os governos Lula e Dilma, através de suas políticas públicas promoveram um duro combate à fome, com
resultados reconhecidos mundialmente com a saída oficial do Brasil do Mapa da Fome em 2014, segundo
relatório global da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgado naquele
ano.
Violência/Segura
nça (21%)

2008 Saúde (25%) Desemprego (18%) Violência/Seguran Educação (9%)


ça (16%)

2009 Saúde (27%) Violência/Segurança Desemprego Educação (9%)


(16%) (14%)

2010 Saúde (23%) Violência/Segurança Educação (7%) Corrupção (6%)


(19%)

2011 Saúde (31%) Violência/Segurança Educação (12%) Desemprego


(16%) (11%)

2012 Saúde (40%) Violência/Segurança Educação (11%) Desemprego (6%)


(20%)

2013 Saúde (48%) Educação (13%) Corrupção (11%) Violência/Seguran


ça (10%)

2014 Saúde (43%) Violência/Segurança Corrupção (9%) Desemprego (4%)


(18%) Educação (9%)

2015 Corrupção (34%) Saúde (16%) Desemprego Educação (8%)


(10%) Violência/Seguran
ça (8%)

2016 Corrupção (32%) Saúde (17%) Desemprego Educação (6%)


(16%) Violência/Seguran
ça (6%)

2017 Saúde (24%) Desemprego (18%) Educação (10%) Economia (6%)


Corrupção (18%) Violência/Seguran
ça (10%)

2018 Saúde (23%) Violência/Segurança Desemprego Educação (12%)


(20%) (14%)
Corrupção (14%)
Fonte: Datafolha (http://datafolha.folha.uol.com.br/)

Há, ainda, que se registrar que os esforços governamentais em coibir a violência contra
seus cidadãos enfrenta um problema adicional no que diz respeito a gestão das ações e
políticas de segurança pública no Brasil. É que ela foi fortemente marcada pela ausência de
mecanismos institucionais de incentivo à cooperação e articulação sistêmica entre os órgãos
de segurança pública (Costa e Grossi, 2007 apud Durante e Júnior, 2010). O Brasil buscou
sanar este problema com a construção do Sistema Nacional de Estatísticas de Segurança
Pública e Justiça Criminal - SINESPJC a partir de 2004 e posteriormente com a promulgação
da Lei 12.681/2012, que instituiu o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública,
Prisionais e sobre Drogas – SINESP, com o propósito de construir elementos estatísticos e
uma base de dados que venham a contribuir com o estudo para a compreensão da
problemática da violência que vem atormentando a sociedade brasileira.
Neste sentindo, como forma de contemplar um estudo reflexivo da problemática da “in
(segurança pública) e fazendo uma abordagem relevante, contextualizada das principais
contribuições e consequências para o desenvolvimento do Estado brasileiro, serão
investigados 02 (dois) Estados da Região Norte: Amapá e Rondônia e 01 (um) Estado da
Região Nordeste: Ceará, como será verificado adiante.
4 A problemática da Segurança Pública no Estado do Amapá
O Estado do Amapá localizado no extremo norte do país e tem como limites a Guiana
Francesa ao norte, o Oceano Atlântico ao leste, o Pará ao sul e oeste e o Suriname ao noroeste.
O Amapá é o terceiro estado na região Norte do Brasil com o maior índice de homicídios em
dez anos. É o que aponta o Atlas da Violência 2018, publicado pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) e assim como os demais estados da federação brasileira enfrenta
algumas problemáticas no que se refere a execução de políticas públicas.
Como bem destaca Santos (1993, p. 101):

Ao contrário de agilizar a capacidade operacional do Estado, aumentar sua eficiência


e credibilidade, produziu-se o desmantelamento das poucas estruturas ainda
eficazes, comprometeram-se a capacidade fiscalizatória, ordenadora e extrativa do
Estado de maneira que, hoje, os pobres e desvalidos dele nada esperam, enquanto
ricos e poderosos dele nada temem.

Neste sentido, além das dificuldades de execução e desmonte outro aspecto que
merece ser observado, é que a formação do Estado brasileiro, com suas variáveis e projeções
repercutem de forma decisiva nas formas de execução e escolha de prioridades, pois o:

Brasil foi povoado por trabalhadores que não eram cidadãos. O


processo de industrialização empreendido no pós-guerra deu
origem a um outro tipo de segregação. Baseada na produção de
bens duráveis de consumo para atender à demanda das classes
favorecidas, essa industrialização engendrou uma forte
segmentação do mercado interno, excluindo uma parte importante
da população da massa de consumidores. Por esse viés, o modelo
econômico brasileiro fabrica continuamente novos setores
marginalizados, reforçando assim os que se arrogam a função de
mantenedores da ordem. (ALENCASTRO, 1987, p. 71-72)

É com base na forma como se invertem as prioridades do Estado para atender os


interesses do capital econômico que a problemática a ser relatada tomará como um dos seus
embasamentos os dados divulgados pelo Atlas da Violência 2018, produzido pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O Brasil
atingiu, pela primeira vez em sua história, o patamar de 30 homicídios por 100 mil habitantes.
A taxa de 30,3, registrada em 2016, corresponde a 62.517 homicídios, 30 vezes o observado
na Europa naquele mesmo ano, e revela a urgência de ações efetivas por parte das autoridades
públicas para reverte-las, pois como afirma Carvalho (2008, p.7-8) são:
.... problemas centrais de nossa sociedade, como a violência urbana, o desemprego,
o analfabetismo, a má qualidade da educação, a oferta inadequada dos serviços de
saúde e saneamento, e as grandes desigualdades sociais e econômicas ou continuam
sem solução, ou se agravam, ou, quando melhoram, é em ritmo muito lento.

Apenas entre 2006 e 2016, 553 mil pessoas perderam suas vidas devido à violência
intencional no Brasil. Entre 1980 e 2016, cerca de 910 mil pessoas foram mortas pelo uso de
armas de fogo no país. Uma verdadeira corrida armamentista que vinha acontecendo desde
meados dos anos 1980 só foi interrompida em 2003, com a sanção do Estatuto do
Desarmamento. Em 2003, o índice de mortes por armas de fogo era de 71,1%, o mesmo
registrado em 2016. Este crescimento não se deu de maneira homogênea, mas de forma
diferençada entre as regiões: “nos últimos quatro anos, enquanto houve uma virtual
estabilidade nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, observa-se um crescimento nas demais
regiões e, de forma mais acentuada, na região Norte”, sendo que todos os Estados com
crescimento superior a 80% nas taxas de homicídios pertenciam ao Norte e ao Nordeste.
No Amapá a evolução das taxas de homicídios ficou entre as maiores por 100 mil
habitantes com 48,7%, entre o perfil das vítimas os homicídios respondem por 56,5% dos
óbitos de homens entre 15 a 19 anos no Brasil. Em 2016, 33.590 jovens foram assassinados –
aumento de 7,4% em relação a 2015 –, sendo 94,6% do sexo masculino, o Amapá obteve o
índice de (41,2%), seguidos por Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte e
Roraima.
A juventude perdida é considerada um problema de primeira importância no caminho
do desenvolvimento social do país e que vem aumentando numa velocidade maior nos estados
do Norte. A desigualdade de raça/cor nas mortes violentas acentuou-se no período analisado.
De todas as pessoas assassinadas no Brasil em 2016, 71,5% eram pretas ou pardas, a taxa de
homicídios de negros foi duas vezes e meia superior à de não negros (40,2 contra 16,0). A
pesquisa observa um aumento de 6,4% nos assassinatos de mulheres no Brasil entre 2006 e
2016. No último ano analisado, ocorreram 4.645 homicídios em que a vítima era do sexo
feminino.
A edição deste ano do Atlas da Violência também aborda os registros administrativos
de estupro no Brasil. Em 2016, as polícias brasileiras registraram 49.497 casos de estupro,
conforme informações do 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. O número contrasta
com os 22.918 incidentes desse tipo reportados no Sistema Único de Saúde.
O Atlas da Violência colocou o Amapá na ponta entre os estados mais violentos do
país e do mundo. São pelo menos três indicadores preocupantes em relação aos homicídios,
latrocínios, mortes em decorrência de intervenção policial e lesões corporais. Segundo os
números, o Amapá é, proporcionalmente, o 6º estado mais violento do Brasil, e Macapá a 5ª
capital com maior incidência de mortes violentas. O Atlas considerou ainda um ranking
divulgado por uma organização internacional que colocou a capital como a 40ª cidade mais
violenta do mundo.
Os dados do Altas são fornecidos pelas secretarias estaduais e a publicação é
consolidada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ao todo, no Amapá, foram 445
pessoas vítimas de crimes violentos, representando uma taxa de 55,8 casos a cada 100 mil
habitantes, aumento de 52,9% em relação a 2014.
Sobre os indicadores, a Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública (Sejusp)
justificou que os crimes violentos são na maioria relacionados a atuação de organizações
criminosas fundadas no Sudeste do país, que expandiram atividades para o Norte,
principalmente o tráfico de drogas. "São dados que preocupam o Brasil. Os estados vivem
essa situação e os estados do Norte e Nordeste agora sofrem mais frequentemente com essa
onda das organizações criminosas que subiram para o Norte e Nordeste do país", explicou
Carlos Souza, titular da Sejusp.
O que pode ser feito um paralelo com o alto o índice de desemprego no Amapá, o
estado teve a maior taxa de desocupação em 2018 com 19,6% o que também pode ser um
fator para o aumento da violência, refletindo na criminalidade e foi, inclusive maior que a
média nacional, de 12,6% como apontou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (Pnad Contínua), que foi divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Como bem define Santos (1993, p. 103) “o Estado brasileiro é
ridiculamente pequeno e disforme, isto é, está onde não deveria, ao preço de não se
encontrar onde a responsabilidade social de um Estado moderno demandaria”.
Dito de outra maneira: significa que o problema do Estado brasileiro é menos de
eficiência (problema típico de gestão pública = fazer mais com menos) e mais de
eficácia (fazer a coisa certa) e efetividade (transformar a realidade, eliminando ou
mitigando os grandes e históricos problemas nacionais). Ou seja: grande parte dos
problemas do Estado brasileiro relaciona-se com a ausência ou a precariedade do
Planejamento Público (e não da Gestão pura e simples)! E isso implica a
necessidade de encarar o planejamento em uma abordagem mais ampla, como
processo tecnopolítico orientado para uma maior e melhor capacidade de governar.
(KLIASS e CARDOSO, 2016, p. 06)
5 A problemática da Segurança Pública no Estado do Ceará
No Estado do Ceará não é diferente, o medo toma conta das pessoas e a sensação geral
da população é de insegurança. Segundo informações dados da Secretaria de Segurança
Pública e Defesa Social do Estado do Ceará, somente nos últimos cinco anos o número de
homicídios foi de mais de 25 (vinte e cinco) mil pessoas.

Tabela 2

Número de Vítimas no Ceará (série 2013-2018)

Tipologia ANO

2013 2014 2015 2016 2017 2018

Crimes Violentos Letais Intencionais – 4.408 4.475 4.044 3.457 5.171 4.234
CVLI = Homicídio Doloso, Latrocínio e
Lesão corporal seguida de morte2 (*)

Intervenção Policial (**) 41 53 86 109 161 199


Fonte: SIP/CIOPS/CPI/PEFOCE/AAESC/SSPDS3
(*) Estão incluídos na CVLI os crimes ocorridos nas unidades prisionais (13 em 2013, 36 em 2014, 25 em 2015,
50 em 2016, 38 em 2017 e 44 em 2018)
(**) As mortes decorrentes de Intervenção Policial não são consideradas como intencionais, pois possuem
excludente de ilicitude.

Uma questão que merece destaque é perfil das vítimas da violência. Segundo as
estatísticas, a grande maioria das vítimas é formada por jovens da periferia, homens negros de
15 a 29 anos de idade, com baixa escolaridade e baixa renda (Sousa et. al., 2014 apud Ceará) 4.

2 Entende-se por CVLI a soma de crimes de Homicídio Doloso/Feminicídio, Lesão corporal seguida de morte e
Roubo seguido de morte (Latrocínio). A quantidade será definida pela soma de todos os homicídios classificados
como dolosos isto é, praticados voluntária ou intencionalmente, por qualquer instrumento ou meio, de todas as
lesões intencionais que resultaram em morte e de todos os latrocínios praticados. Outros crimes classificados
como homicídio doloso após o resultado do trabalho policial, bem como os que resultaram na ausência de dolo,
poderão ser retificados a posteriori na série. Para fins de maior transparência, os casos decorrentes de
intervenção policial também são apresentados na tabela. Fonte: https://www.sspds.ce.gov.br/wp-
content/uploads/sites/24/2018/12/01-CVLI-Estat%C3%ADsticas-Mensais.pdf (acesso em19/01/2019)
3 Os dados utilizados para a construção das estatísticas são oriundos da combinação de diferentes fontes. A
principal é o Sistema de Informações Policiais (SIP/SIP3W) que engloba os procedimentos usuais utilizados pela
Polícia Civil tais como: Boletim de Ocorrência, Termo Circunstanciado de Ocorrência e Inquérito Policial. Em
se tratando de CVLI, se faz necessária a utilização de fontes secundárias de dados como os relatórios diários
encaminhados pelo Comando de Policiamento do Interior (CPI), os relatórios diários encaminhados pela
Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (CIOPS) e os relatórios de exames cadavéricos da Perícia
Forense (PEFOCE). Cabe exclusivamente à a Assessoria de Análise Estatística e Criminal (AAESC) a
responsabilidade de reunir, sistematizar e divulgar as informações estatísticas referentes à criminalidade e
violência da SSPDS/CE. Fonte: http://sistemas.sspds.ce.gov.br/port
al/file_bd?sql=FILE_DOWNLOAD_FIELD_ARQUIVO_DOWNLOAD&parametros=4412&extFile=pdf
(acesso em 19/01/2019)
4 Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ceará Pacífico: O cenário da violência e da criminalidade no
Brasil e no Ceará. 2017 http://www.forumseguranca.org.br/wp-
Mostrando que a desigualdade social permanece como um dos principais fatores
influenciadores da criminalidade.
No Ceará, como na maioria dos estados brasileiros, a desigualdade social é muito
grande e os investimentos em políticas públicas não acompanham a demanda, que é cada vez
mais crescente. O tráfico de drogas domina as comunidades da capital cearense e das
principais cidades do interior do estado, principalmente as comunidades mais carentes, onde o
comando do crime organizado atua recrutando os jovens para engrossar suas fileiras. Esses
jovens, por sua vez, veem no crime uma opção de melhoria de vida.
A disputa por territórios para expandir os negócios do tráfico é permanente, moradores
das comunidades dominadas por facções criminosas chegam a ser expulsos de suas casas para
dar espaço aos soldados do crime. De acordo com a Defensoria Pública do Estado do Ceará,
nos últimos 12 meses, pelo menos 133 famílias passaram por essa situação 5. Entretanto, esse
número pode ser ainda maior, pois há pessoas que não denunciaram os casos aos órgãos
públicos com receio de sofrer represálias. Em tempos de capitalismo improdutivo, moradias
viraram “commodities” e nesse contexto, os pobres são simplesmente excluídos.
Os que resistem passam a viver como reféns do tráfico, há localidades que para entrar
precisa-se de autorização do comando do tráfico, chegando ao absurdo de até a polícia ter
dificuldades de penetrar nestes locais, numa verdadeira disputa de poder. Reforçando o que o
sociólogo Orson Camargo comenta em seu artigo “Violência no Brasil, um Outro olhar” Para
ele; “a violência se manifesta por meio do abuso da força, da tirania, da opressão. Ocorre do
constrangimento exercido sobre alguma pessoa para obrigá-la a fazer ou deixar de fazer um
ato qualquer”6. E é exatamente isso o que acontece atualmente no Estado.
Tal situação contribui para alimentar uma cultura onde a violência e a insegurança
afeta toda a população de uma forma desigual. Aqueles que podem pagar se protegem em seus
condomínios fechados, seus carros blindados, contratam empresas de segurança que alimenta
toda uma indústria que rende milhões. No entanto, a imensa maioria da população, os pobres
deserdados de toda sorte, são vítimas involuntárias, reféns, por um lado, de grupos, facções

content/uploads/2017/12/FBSP_Ceara_Pacifico_livro_2_2017
.pdf (acesso em 05/03/2019)
5 Fonte: Tribuna do Ceará. http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/segurancapublica/pelo-menos-131-familias-
foram-
expulsas-de-casa-por-faccoes-nos-ultimos-12-meses-em-fortaleza/ (acesso em 05/03/2019)
6 Fonte: Brasil Escola. https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/violencia-no-brasil.htm (acesso em
05/03/2019)
criminosas e, por outro, do próprio aparato policial como demonstram as inúmeras notícias de
chacinas de jovens, negros e pobres.7
Todos os governos têm tentado, de alguma forma, buscar uma solução para este grave
problema. No caso do Estado do Ceará o governador Camilo Santana, para seu segundo
mandato à frente do Palácio Abolição, resolveu criar uma nova secretaria especialmente
voltada para a segurança prisional: a Secretaria de Administração Penitenciária para a qual
nomeou Luís Mauro Albuquerque, reconhecido como um policial “linha dura”. Imputa-se a
essa nomeação a onda de ataques a prédios públicos, concessionárias de serviços públicos, à
infraestrutura viária, de eletricidade e comunicação em várias cidades do Estado do Ceará
praticados pelo crime organizado.
Para fazer frente a esta situação de enfrentamento com essas organizações criminosas
e dar uma resposta à sociedade que exigia medidas enérgicas e eficazes, o Governo do Estado
recorre ao Ministério da Justiça solicitando o envio da Força Nacional de Segurança Pública8.
O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou o uso da Força
Nacional, por 30 dias, para atuar em onda de violência no Ceará. De acordo com a
portaria do ministro, a Força Nacional fará policiamento ostensivo, entre outras
ações de segurança, em apoio às forças policiais já em operação no estado.
(...)
Desde o início dos ataques, ônibus foram incendiados, tiros foram disparados contra
prédios e bancos, e artefatos caseiros incendiários foram arremessados contra
delegacias.
Uma bomba foi colocada na coluna de um viaduto na BR-020, em Caucaia.9

Diante desta situação o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Estado
do Ceará - CEDDHCE se manifestou com a seguinte nota no dia 09 de janeiro de 2019:

7 Cinco chacinas ocorreram no Ceará sob comando ou envolvimento de facções criminosas em 2018 -
https://www.opovo.com.br/noticias/fortaleza/2018/12/5-chacinas-ocorreram-no-ceara-sob-comando-ou-
envolvimento-de-faccoes-c.html (acesso em 20/01/2019); Sete chacinas no Ceará deixaram 48 mortos em 2018 -
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/ceara-tem-48-mortes-em-sete-chacinas-em-2018.ghtml (acesso em
20/01/2019).
8 A Força Nacional de Segurança Pública é um programa de cooperação do governo federal, criado para
executar atividades e serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública, à segurança das pessoas e do
patrimônio, atuando também em situações de emergência e calamidades públicas. Trata-se de um corpo de
profissionais especializados, mobilizados e prontos a atuar em apoio e sob a coordenação de outros órgãos
subordinados aos governos estaduais e federal do Brasil. Seu trabalho consiste em apoiar operações de segurança
pública, que podem ser realizadas em qualquer ponto do país. Entretanto, a Força Nacional de Segurança Pública
só pode atuar em um determinado município do Brasil se for solicitada pelo governador do respectivo estado ou
do Distrito Federal, e se esse pedido for autorizado pelo ministro (MSP). Dessa forma, a Força Nacional poderá
apoiar a Polícia Militar, a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros ou os órgãos oficiais de Perícia Forense. Também
mediante autorização do MSP, a Força Nacional de Segurança Pública poderá apoiar operações específicas de
outros órgãos federais – a exemplo da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal ou do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ou mesmo outros ministérios do governo federal. A
Diretoria da Força Nacional de Segurança Pública está subordinado à Secretaria Nacional de Segurança Pública
do Ministério da Justiça (Senasp/MSP). Fonte: http://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca-publica/forca-
nacional (acesso em 06/03/2019)
9 Fonte: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/01/04/sergio-moro-autoriza-atuacao-da-forca-nacional-no-
ceara.ghtml (acesso em 06/03/2019)
O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do estado do Ceará (CEDDH
- CE), órgão colegiado estabelecido pela Lei Estadual n° 15.530, de 02 de maio de
2013, repudia os graves ataques cometidos a partir do dia 02 de janeiro de 2019
contra veículos de transporte público, prédios públicos e estabelecimentos
comerciais e as arbitrariedades e excessos no uso da força por parte de agentes
públicos neste contexto. Este Conselho exorta o Poder Público cearense a que se
comprometa com medidas pautadas na garantia e promoção de Direitos Humanos
capazes de efetivamente superar a continuada e grave crise na segurança pública e
no sistema penitenciário do Ceará.
Até o dia 8 de janeiro, a imprensa contabilizou 125 ataques em 36 municípios
cearenses, que têm atingido profundamente o cotidiano do povo cearense, sobretudo
das/os moradoras/es das periferias das cidades. O funcionamento do transporte
público, do comércio e de serviços públicos está prejudicado. Nesse contexto, este
Conselho também tem recebido notícias de arbitrariedades e de uso excessivo da
força cometidos por agentes de segurança pública, tais como invasão de domicílios,
violência em abordagens policiais, suspeita de flagrantes forjados e prisões
arbitrárias nas periferias das cidades cearenses.
Este ciclo de ataques é o acontecimento mais recente em uma longa crise no sistema
penitenciário, marcada pela superlotação, morosidade na tramitação dos processos, a
maior taxa de presos sem julgamento entre os estados brasileiros e ausência de
oportunidades de educação e trabalho. É também o episódio mais recente em uma
grave crise na segurança pública do Ceará, marcada pela vergonhosa posição de
Fortaleza como a 7ª cidade mais violenta do mundo e o Ceará como o Estado com o
maior índice de homicídios de adolescentes, um aumento de 73% no número de
assassinatos de mulheres somente entre 2016 e 2017 e um aumento de pelo menos
385% no número de mortes por intervenção policial desde 2013 no Ceará.
Nestes primeiros dias de 2019, este Conselho, assim como outros órgãos, conselhos
e organizações da sociedade civil, têm recebido notificações por parte de familiares
quanto à ausência de informações em relação à localização de presos e mesmo
quanto à adoção de procedimentos e práticas atentatórias a dignidade e a integridade
física e psicológica de homens e mulheres em diversas unidades prisionais do
Estado. Este Conselho também tem recebido notificações específicas sobre
ocorrências de castigos físicos e até a negação do direito de acesso à água potável
para mulheres presas no Estado. Neste momento de pânico e sofrimento da
população cearense, não se reduzirá a violência atentando contra dignidade de
familiares e internos.
O Conselho compreende também que o início da nova gestão do Governador Camilo
Santana e a criação de uma secretaria especializada de gestão penitenciária poderiam
representar uma oportunidade para a adoção de medidas com consequências
duradouras e que pudessem atacar os reais problemas da gestão prisional, com foco
em reduzir a violência dentro e fora das unidades. No entanto, há que se ponderar
sobre a forma de implementação das medidas desta nova gestão, a fim de que elas
não reproduzam práticas de violação de direitos humanos nas unidades prisionais do
Estado, tais como as relatadas no recente relatório do Mecanismo Nacional e do
Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura sobre o sistema prisional do
estado do Rio Grande do Norte.
À vista do exposto e buscando aprimorar as políticas de promoção e defesa de
direitos humanos no Estado, o CEDDH informa que instará o Sistema de Justiça e
órgãos nacionais de defesa de direitos humanos, para que haja uma pactuação
interinstitucional com vistas a monitorar e acompanhar as medidas que têm sido
adotadas por órgãos estaduais e federais no âmbito da gestão penitenciária e da
segurança pública do Estado, incluindo os excessos e arbitrariedades no uso da força
por agentes públicos nas periferias das cidades cearenses, bem como para que haja
uma abertura cada vez maior desses órgãos à população cearense que vem sofrendo
os efeitos dessa operação e aos familiares de pessoas que estão custodiadas nas
unidades prisionais cearenses.
Por fim, o Conselho reitera sua disposição para colaborar nas ações que levem à
superação da crise na segurança pública e no sistema penitenciário do Ceará em seus
reais problemas, sem o império do medo e da violência, na observância da lei e no
pleno exercício das suas instituições garantidoras, ao tempo em que manifesta sua
profunda solidariedade com todas as vítimas dos ataques e dos atos de violência
institucional que tem acometido dezenas de municípios do Estado do Ceará.
Fortaleza, 09 de janeiro de 2019
Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Estado do Ceará10
Foram mais de 60 (sessenta) dias de intensa mobilização das forças de segurança
federal e estadual (inclusive o estado da Bahia enviou 100 policiais militares) para coibir
ações que tinham o propósito de confrontar o poder estatal e “colocar em xeque” um de seus
principais fundamentos: o monopólio exclusivo da violência. No último dia 28 de fevereiro de
2019, o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, André Costa, concedeu coletiva à
imprensa para anunciar a saída da Força Nacional do Ceará considerando que a situação está
controlada.
Será preciso um pouco mais de tempo para uma análise mais apurada do ponto de
vista sociológico e dos direitos humanos para se avaliar quais os resultados efetivos para a
população cearense.

10 https://www.facebook.com/CEDDHCE/posts/2110051279055336?__tn__=K-R (acesso em 06/03/2019)


6 A problemática da Segurança Pública no Estado de Rondônia
O Brasil é signatário de diversas normas que visam assegurar e ratificar o respeito aos
direitos humanos, tais como a Declarações sobre Direitos da criança, a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, o Pacto de São José da Costa Rica, o Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos dentre muitos outros. Estas normativas são garantidoras de direitos e
especialmente concerne às crianças e ao adolescente o direito à convivência familiar, o
incentivo ao estudo, fortalecimento dos vínculos comunitários e ao desenvolvimento e
crescimento saudável.
No entanto, em decorrência do projeto desenvolvimentista que prima pelo capital e
não pelo social, ocorre no estado uma segregação que remota desde a formação do Estado
Brasileiro e que exclui do acesso aos direitos mais básicos uma grande massa de trabalhadores
que em razão de sua renda não tem acesso à educação de qualidade e consequentemente
destinando seus filhos a persistirem como atores coadjuvantes no espetáculo da vida
protagonizados e estrelados por aqueles que detêm o poder e a riqueza.
Alencastro (1987, p. 70) em sua obra O Fardo dos Bacharéis retrata a formação e
consolidação do Estado brasileiro já exprimia essa realidade, que “Por um lado presumia-se
que a nação brasileira só existia graças à ação de suas elites ”. É o favorecimento das elites
por meio de ações governamentais que lhes garante a manutenção do patamar econômico
privilegiado e relega a classe trabalhadora e excluídos a permanecerem na mesma casta social.
No estado de Rondônia a realidade é outra e totalmente diversa da que preconizam as
leis e os órgãos de proteção às crianças e adolescentes. Principalmente pela atuação dos
governantes que desde a emancipação do Território tendem a privilegiar ações como a prisão
ou a detenção de adolescentes como medidas de segurança pública.
A Fundação Estadual de Atendimento Socieducativo (FEASE) de Rondônia, entidade
governamental voltada para elaboração, coordenação e execução de política de atendimento
ao adolescente autor de ato infracional foi recentemente criada no estado e é responsável por
nove unidades de centros socioeducativos. Há capacidade para duzentas e setenta e uma vagas
em seis unidades regionais no Estado, destas duzentas e quarenta e nove são destinadas à
internação e vinte e duas à internação provisória.¹
Contudo, apesar da criação da Fundação e do aumento do número de vagas nos
centros socioeducativos o sistema está em estado de falência, melhor dizendo, em colapso
total. São constantes os relatos de maus tratos praticados contra os adolescentes, fugas e
mortes de menores sem a apuração devida e a responsabilização dos responsáveis pelos
incidentes.
Investir nos recursos humanos do sistema socioeducativo, dar continuidade às políticas
públicas de acolhimento e inserção na escola e sociedade, preparando-o para o mercado de
trabalho são medidas urgentes que devem ser elevadas à categoria de política de Estado e não
de governo, tudo como forma de garantir minimamente a assistência a estes jovens.
Com o advento do Governo Bolsonaro criou-se no Brasil a expectativa de uma
diminuição da violência através do “endurecimento da legislação penal” sendo uma das
medidas preconizadas para alcançar este fim à redução da maioridade penal. Todavia, a
sociedade elitista, que possui melhor acesso aos parlamentares - e os patrocina - reclama por
medidas de segurança imediatas. E qual a medida mais fácil e rápida a ser implementada que
a prisão? No entanto o sistema socioeducativo de Rondônia é uma prova concreta que esta
solução é equivocada.
Garantir atendimento com qualidade aos adolescentes do Sistema Socioeducativo por
meio do desenvolvimento de políticas sociais públicas bem sucedidas e voltadas para crianças
e adolescentes em situação de vulnerabilidade, voltadas a produzir justiça social e igualdade,
assegurando direitos de acolhimento familiar e acessos à educação e ao mercado de trabalho e
reinserção na sociedade é medida que se impõe.
O Plano Estadual de Medidas Socioeducativas (2014, p. 21) esclarece que “O
adolescente em cumprimento de medida de privação de liberdade já está sendo afastado do
convívio familiar e social, entretanto, os atores envolvidos no processo da socioeducação
devem assegurar o acesso aos demais direitos do adolescente”. Desencadeando assim, uma
boa aplicação do recurso público, o atendimento de sua finalidade e consequentemente
possibilitando aos menores a assistência necessária.
7 Conclusão
A problemática da segurança pública no Brasil não é um aspecto recente da nossa
história. É preciso revisitar a história, compreender como se deu o surgimento do Estado
brasileiro, principalmente no tocante a formação da sua estrutura militar e de segurança
externa e interna para entendermos que sua construção foi peculiar e não seguiu o mesmo
caminho da dos estados nacionais que se constituíram sobre a égide dos ideais iluministas do
século XVIII. A transmigração da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, impactou as
relações sociais, políticas e econômicas internas existentes na então colônia portuguesa, além
da nova posição e do papel que esta passaria a ocupar no plano internacional, sobretudo pelo
interesse e a influência que a Inglaterra passaria a ter sobre esse imenso território.
Hoje a questão da (in) segurança pública é um problema que desafia nosso Estado
Democrático de Direito como mostram a realidade aqui exposta dos Estados do Amapá, Ceará
e de Rondônia. Apesar de cada um apresentar especificidades únicas em seus territórios, a
problemática surge sob o comando de um mesmo “viés” – que são a falta de investimentos do
Estado brasileiro como provedor de políticas públicas que atenda a todos e não o somente o
interesse de uma minoria “privada” e “elitista”, estando presente onde não deveria estar.
Diante das realidades apresentadas nos 03 (três) estados foi possível perceber que no
Amapá a problemática da (in)segurança pública está associada aos altos índices de homicídios
apontados pelo Altas da Violência 2018 que o colocou entre o terceiro estado mais violento na
Região Norte. Com índice de 48,7% na qual a maioria homens negros e pobres entre 15 a 19
anos. Refletindo na falta de políticas públicas para juventude que vive desocupada e acaba
enveredando para o mundo da criminalidade. As informações obtidas pelo Altas da Violência
2018 e a Secretária de Estado da Justiça e Segurança Pública (Sejusp), colocam o Amapá na
ponta entre os estados mais violentos do país e do mundo, foram pelo menos 03 (três)
indicadores preocupantes em relação a homicídios, latrocínios, mortes em decorrência de
intervenção policial (recentemente a polícia do Amapá foi apontada como a que mais mata no
país) e lesões corporais. De acordo com o titular da Secretária de Estado da Justiça e
Segurança Pública (Sejusp) o aumento desses crimes violentos estão na maioria relacionados
a atuação de organizações criminosas fundadas no Sudeste do país, que vem expandindo suas
atividades para o Norte, principalmente o tráfico de drogas. O que é fato, pois em um Estado
na qual a taxa de desempregados é a maior do país com 19, 6%, maior que a média nacional
de 12,6, o resultado só poderia ser este, um crescimento desordenado da violência e da
criminalidade refletindo numa total (in)segurança da sociedade e na incapacidade do estado
de combate-la.
No Estado do Ceará a realidade não é diferente de acordo com os relatos apresentados
pelos órgãos de Segurança Pública o número de homicídios nos últimos anos cresceu
desordenadamente bem como a disputa pelo território no mercado de tráfico de drogas. As
estatísticas divulgadas mostram que a grande maioria das vítimas são jovens da periferia,
homens negros, com baixa escolaridade e renda – fruto da desigualdade social que têm na
ausência do Estado seu fator de crescimento. No Ceará a ausência do estado vem sendo
preenchida pelo tráfico de drogas que domina as comunidades da Capital ao interior. A disputa
por território e a expansão das facções, criminosas tomou a paz dos cidadãos cearenses que
vivem sob o temor e o medo do crime. Diante desta realidade refém do tráfico, os
investimentos em políticas de prevenção, combate e inteligência são cruciais. Recentemente
o governo do Ceará saiu no embate a esses grupos e acabou vivendo quase 60 dias em guerra
com intervenção inclusive das Forças Armadas. Tanto a população de modo geral como
Instituições Públicas foram alvos de vários ataques criminosos e esteve diariamente entre os
principais noticiários do país. Uma guerra na qual o estado têm a missão de combater não só o
crime mais a pobreza e a miséria.
Em Rondônia a problemática da Segurança Pública é tão banalizada que as políticas
que deveriam proteger e socializar com medidas socioeducativas e de proteção o menor
infrator, deixam de ser aplicadas para que este menor de forma “imediata” seja punido sobre o
comando do uso da força e da arma. A escassez de ações concretas do governo rondoniense
nas áreas sociais e da educação reflete no aumento do índice de crianças e adolescentes em
conflito com a lei e consequentemente abarrotam as unidades socioeducativas, que, em sua
grande maioria, estão incapacitadas de cumprir o que a lei preconiza, pois não há aplicação
eficaz dos mecanismos capazes de promover o desenvolvimento saudável dos adolescentes
em cumprimento de medidas socioeducativas.
Assim é possível perceber que apesar de realidades diferentes os problemas e conflitos
são constantes, principalmente quando o Estado brasileiro e ausente, inoperante e escasso de
políticas públicas. O Estado como bem fundamentado não pode ser tratado como uma
instituição que é anterior ou exterior a sociedade, pois é resultado ou melhor espelho dos
próprios conflitos que emergem da sociedade e apesar de ser “violento por natureza” é o único
poder capaz de garantir segurança para a maioria.
8 Referências Bibliográficas
ALENCASTRO. Luiz Felipe. O fardo dos bacharéis. São Paulo, Revista Novos Estudos
Cebrap, n. 19, 1987
https://zeoserver.pb.gov.br/portalsuas/suas/arquivos/plano-sinase.pdf Plano Estadual de
Atendimento Socioeducativo do Estado de Rondônia. 2014.
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/servicos/404?notfound=/editorias/metro/41-da-
populacao-vivem-em-moradia-precaria.

http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/segurancapublica/pelo-menos-131-familias- foram-
expulsas-de-casa-por-facções-nos-últimos-12-meses-em-fortaleza/

CAMARGO, Orson. "Violência no Brasil, outro olhar"; Brasil Escola. Disponível em


https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/violencia-no-brasil.htm>. Acesso em 11 de fevereiro
de 2019.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil, o longo caminho. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira, 2008.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Atlas da Violência 2018.


Disponível em <
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas_da_vi
olencia_2018.pdf. > Acesso em 08 de fevereiro de 2019

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. PNAD Contínua trimestral:


desocupação cai em 6 das 27 UFs no 4º trimestre de 2018. Disponível em <
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-
noticias/releases/23845-pnad-continua-trimestral-desocupacao-cai-em-6-das-27-ufs-no-4-
trimestre-de-2018>. Acesso em 22 de fevereiro de 2019.

KLIASS, Paulo e CARDODO JR. José Celso. Três mitos liberais sobre o Estado brasileiro.
São Paulo, Brasil Debate, 2016.

SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Mitologias institucionais brasileiras: do Leviatã


paralítico ao Estado de natureza. São Paulo, Revista do IEA, n.7, 1993.

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