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DFCH
Ciências Sociais – III Semestre
Ciência Política II
Professora Dr.ª Marcela Pessoa
Marcos Carvalho Pacheco
Lênin em termos de negociação era intransigente, sua postura firme no Partido lhe
causou inúmeras inimizades com a ala direita, sendo até chamado de radical, no entanto
essa conduta era efeito de um profundo conhecimento histórico político característico de
um revolucionário estudioso da literatura marxista. Desse modo, teve o cuidado em alertar
sobre o perigo que os demagogos, aproveitadores, representava a organização do partido,
sendo estes os responsáveis por querer uma conciliação entre as classes, aliás, isto já era
objeto de crítica por Marx em seu 18 Brumário - O episódio do golpe orquestrado por
Napoleão, na França em 1851, pondo fim a Primavera dos Povos, já fornecia material
político suficiente para por em dúvida qualquer aliança entre as classes operárias e a
burguesia - Ocorre que, guardada as devidas proporções, entre o socialismo no papel e o
socialismo de fato, ou seja, posto em prática, existe um abismo insofismável. A
Revolução russa, tendo sido uma das primeiras revoluçoes socialistas, acabou logrando
para si toda a crítica que se tinha ao socialismo. Sobretudo por alguns estudiosos que não
enxergavam nesses regimes políticos um rompimento com as desigualdades. Pelo
contrário, seria nada mais do que a permanência de um elite no poder. Conhecida como
Elitismo, essa corrente de pensamento político têm dentro de seus principais teóricos, o
Italiano Gaetano Mosca, Michels e e Gilfredo Pareto.
Teoria das Elites: A democracia posta em dúvida.
Não há dúvidas de que foi o Italiano Gaetano Mosca que deu origem ao conceito
de elite tal como conhecemos hoje ao escrever em 1895 o ensaio de política intitulado
Elementi de ecienza Política. Partindo de um método sócio-histórico Mosca desejava
fundar o que pra ele seria a ciência política de fato, nesse sentido. O autor procura uma
lei que se repete em todas as sociedades e que pode ser verificado por qualquer estudioso,
nesse sentido afirma:
Em todas as sociedades – desde as parcamente desenvolvidas, que
mal atingiram os primórdios da civilização, até as mis avançadas e
poderosas – aparecem duas classes de pessoas : uma classe que
dirige e outra classe que é dirigida. A primeira sempre menos
numerosa, excede todas as forças políticas, monopoliza poder e
goza todas as vantagens que o poder traz consigo, enquanto a
segunda, mais numerosa, é dirigida e controlada pela primeira de
maneira ora mais ou menos legal, ora mais ou menos arbitrária e
violenta, e supre aquela, pelo menos aparentemente, com meios e
materiais de subsistência e com o instrumental necessário à
vitalidade do organismo político.(MOSCA, p.51)
Uma análise simplista pode levarmos a crer que Mosca estar repetindo a mesma
tese Marxista das classes antagônicas, contudo, há algumas ressalvas que devemos
destacar. Diferentemente de Marx, Mosca pressupõe existir na sociedade uma dinâmica
natural, mecânica, onde a dominação é inevitável. De modo que a mudança quando
ocorre, não é produto de uma luta revolucionária como afirma Marx, mas o resultado da
incapacidade da classe dominante de governar.
Mosca ao esudar com afinco a constituição italiana e participar ativamente do
parlamento vai perceber que este modelo implementado não conseguiu extinguir os
velhos métodos praticados pelo regime monárquico, ou seja, clientelismo,
patrimonialismo, corrupção, etc. O autor ainda vai observar que a hereditariedade
permanecia, agora não mais pela descendência sanguínea mas pelo lugar que o sujeito
ocupava na sociedade. A partir dessas observações, Mosca então, -terá motivos de sobra
para desconfiar das melhorias pregadas pelos ideais democráticos, chegando a conclusão
que os democratas e os socialistas ao proporem uma sociedade mais igualitária acabam
reproduzindo na prática todos os defeitos dos regimes por eles criticados.
Os estudos de Mosca foram fundamentais para dar notoriedade a teoria das elites
bem como arregimentar um lugar de destaque nas discussões da ciência política, e não
obstante, esta teoria vai influenciar um estudioso importante dentro da área das ciências
sociais, Vilfredo Pareto que ao contrário do provincianismo de Mosca, era
internacionalmente conhecido. Pareto afirmava, que as elites se alternavam no poder
através de um processo que ele intitula de circulação, ou seja, elementos novos seriam
incorporados em substituição aos velhos, temos assim o conceito de elite pensado pelo
autor:
-Da mesma maneira que numa sociedade se pode distinguir os ricos
e os pobres, se bem que as rendas cresçam insensivelmente da mais
baixa à mais alta, pode-se distinguir, numa sociedade, a elite, a
parte aristocrática, no sentido etimológico (αριστος = melhor) e
uma parte vulgar; porém é preciso sempre se lembrar de que se
passa insensivelmente de uma para a outra. A noção dessa elite está
subordinada às qualidades que se procura nela. Pode haver uma
aristocracia de santos ou uma aristocracia de salteadores, uma
aristocracia de sábios, uma aristocracia de ladrões etc. Se se
considera esse conjunto de qualidades que favorecem a
prosperidade e a dominação de uma classe na sociedade, temos o
que chamaremos simplesmente a elite. Essa elite existe em todas as
sociedades e as governa, mesmo quando o regime é, em aparência,
aquele da mais ampla democracia. Por uma lei de grande
importância, e que é a razão principal de muitos fatos sociais e
históricos, essas aristocracias não duram, mas se renovam
continuamente. Temos assim um fenômeno que se poderia chamar
de circulação das elites. ( PARETO, p.112)
Pareto também não via com bons olhos a ideia de igualdade, por isso tecia severas
críticas ao socialismo, de modo que, se permanecia na sociedade um movimento
constante de circulação entre as elites, a implementação do socialismo nada mais seria do
que a mera substituição de uma elite por outra. O autor ainda chama atenção para o fato
de que muitas pessoas se engajam em movimentos sociais, imaginando estar
representando os desejos da coletividade (do público), como liberdade, justiça, quando
na realidade estão defendendo seus próprios interesses.
Para inclementar essa discussão e dar mais arcabouço teórico à Teoria das Elites,
contribuiu com seus estudos o sociólogo Robert Michels. Sua notoriedade é autenticada
quando este dedica boa parte do seu livro , Sociologia dos Partidos Pollíticos, à entender
como funciona a organização, e os tramites burocráticos dentro do partido socialista
alemão. Michels vai dizer, e ai concorda com os autores anteriores, que a organização é
a arma dos operários, “O operário isolado encontra-se na realidade submetido sem defesa
à exploração dos que são economicamente mais fortes” (MICHELS,p. 01) essa
organização, por sua vez , se daria através da filiação ao partido político, aumentando,
desse modo, as chances de suas reivindicações serem atendidas. Ocorrre que, a mesma
organização que dá poder para os operários no enfrentamento aos interesses auspiciosos
da elite dirigente em detrimento dos seus, é a mesma que neutraliza a participação
(democrática ) destes através do processo que Michels chamará de Tendencia à
Oligarquia.
Quem fala em organização fala em tendência à oligarquia, em cada
organização, seja um partido ou uma união de profissões, etc. A
inclinação aristocrática manifesta-se de maneira muito acentuada.
O mecanismo da organização, ao mesmo tempo que lhe dá uma
estrutura sólida, provoca nas massas graves modificações. Ela
altera completamente as respectivas composições de chefes e
massas. A organização tem o efeito de dividir todo o partido ou
sindicato profissional em uma minoria dirigente e uma maioria
dirigida. (MICHELS, p.21)
Pois bem, a primeira constatação que Michels vai chamar atenção, diz respeito a
necessidade de toda organização desenvolver dentro de seu quadro institucional o
estabelecimento de lideranças, isso acontece justamente, pelo fato da impossibilidade
mecânica e técnica do governo direto das massas, nas palavras do autor “basta querer
reunir regularmente assembleias deliberantes de milhares de membros para nos vermos
às voltas com as maiores dificuldades de tempo e espaço” (MICHELS, p.03), sendo
assim, é necessários delegados que representem a massa e garantam sua vontade. Todavia,
no que diz respeito ao método de escolha dos dirigentes, Michels vai notar uma diferença
substancial entre as antigas práticas e as modernas, ou seja, se antes era feito por sorteio
ou por ordem sucessória, já no partido moderno, exige-se uma consagração oficial, de
modo a formar uma classe de políticos profissionais, é ai que começa os problemas:
A especialização técnica, esta consequência inevitável de qualquer
organização mais ou menos extensa, torna necessário, o que
chamamos direção de negócios. Daí resulta, que o poder de
decisão, considerados como um dos atributos específicos da
direção. É pouco a pouco retirado das massas e concentrado
exclusivamente nas mãos dos chefes. E estes, que antes não eram
senão os órgãos executivos da vontade coletiva, em breve se
tornam independentes das massas, frustrando-se ao controle.
(MICHELS. P. 21)
Michels, identifica ainda, um hiato entre o discurso da democracia e suas
possibilidades práticas, de modo que não poderia ser possível do ponto de vista lógico,
que as organizações, sobretudo o partido socialista, defendam de fato os interesses das
massas. O partido ao chegar ao poder, estaria tão somente criando uma nova dominação.
A questão não seria então, saber de que maneira poderia ser realizada uma democracia
ideal, e sim questionar até que ponto e em que medida a democracia é desejável, possível
e realizável num momento determinado., sendo assim, nas palavras do autor: “cabe à
pedagogia social a grande missão de elevar o nível das massas afim de coloca-las em
condições de se oporem, na medida do possível, às tendências oligárquicas que as
ameaçam” (MICHELS, p.242)
As críticas que Michels direcionou ao socialismo e a democracia, foram
importantes no sentido de advertir sobre a impossibilidade de realização desses processos
na prática, no entanto, o sec. XX foi o palco de movimentos autoritários de ordem nunca
antes presenciada. Em que pese, a ascensão do fascismo na Itália, do Nazismo na
Alemanha e todos os desdobramentos da segunda guerra mundial, fizeram com que que
muitos sociólogos refletissem mais um pouco e repensassem o papel da democracia na
garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos
A Poliarquia de Robert Dahl
O americano Robert Dahl, ao estudar os diferentes regimes políticos ocidentais,
vai estabelecer um método de comparação entre eles no intuito de identificar qual estaria
mais próximo da poliarquia, “regime democrático de grau mais elevado, fortemente
inclusivos e amplamente aberto à contestação pública” (DAHL, 2005, 04). Nessa nova
forma de entendimento de Dahl, o que de fato têm importância na consolidação
democrática é a participação dos cidadão atrelada a responsividade dos governantes às
suas demandas. E ai, o autor vai elencar 8 garantias que no seu pomto de vista , são
necessárias para que o regime funcione: liberdade de formar e aderir a organizações.
Liberdade de expressão, Direito de voto, Direito de líderes políticos de disputarem apoio,
Fontes alternativas de informação, Elegibilidade para cargos públicos, Eleições livres e
Idôneas, e Instituições para fazer com que as políticas governamentais dependam de
eleições e de outras manifestações de preferência.
Conclusão
As discussões suscitadas acima, permitiu-nos ter uma noção mais objetiva de
como a ideia de democracia chegou até nós. Ou seja, de uma democracia antiga direta
passando pela ideia moderna de representação, até o conceito atual, compreendida mais
como um método. Podemos ter ideia também de como o debate na virada do século XIX
entre os socialistas e os Elitistas foi fundamental no sentido de trazer novos elementos
para questionar a sua real aplicabilidade.
Sendo assim podemos concluir que se antes a participação popular estava restrita
a um certo grupo de pessoas, hoje, dada as garantias citadas por Dahl os regimes
democráticos conseguem incorporar massas de cidadãos, compreendendo diversos
seguimentos da sociedade. De modo que, a democracia vai perdendo essa característica
de um ideologia predefinida para se constituir num método ou num conjunto de regras
que permite garantir o debate, a liberdade, a soluções pacífica de conflitos, a contestação,
a livre associação, etc.
Referencias:
BOBBIO, Noberto, MATEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de
Política. São Paulo: Editora UNB – Imprensa Oficial:2004
LÊNIN, V. 1 Que Fazer? Le questions brulantes de notre moviment. In (Euvres.
Paris/Moscou, Êditions Sociales/Editioes du Progrès, 1965. V.5, maio de 1901/ fevereiro
de 1902, p.463-79
MOSCA, Gaetano. (1992), La classe política. México, Fondo de Cultura Económica.
MICHELS, R. Sociologia dos Partidos Políticos. Trad. De Arthur Chaudon. Brasília,
Editora Universidade de Brasília, c1982. 243 p. (Coleção Pensamentos Políticos, 53)
DAHL, Robert A. Poliarquia e Oposição – 1ª ed., 1ª reimpressão. Editora USP. São
Paulo. 2005 (clássico 9) p.25-50.
PARETO, Vilfredo. Manual de Economia Política. Trad. João Guilherme Vargas Neto.
Ed. Nova Cultura Ltda. São Paulo. 1996