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O Paradoxo Político: a autonomia do problema político em Paul

Ricoeur

Henrique Augusto Tonin

Resumo

Este artigo pretende tratar da problemática do Poder em Paul Ricoeur, expondo sua
concepção de uma relativa autonomia desta em relação às contingências econômicas de uma
sociedade. A persistência do Mal Político independentemente das revoluções econômicas é o
ponto de partida de Ricoeur para investigar o papel da filosofia política no mundo
contemporâneo.

1. INTRODUÇÃO

A emergência dos regimes comunistas na primeira metade do século XX foi


acompanhada pela promessa de resolução de certos “males políticos”, que historicamente
acompanharam a evolução econômico-social das sociedades ocidentais. No entanto, certos
acontecimentos – como o processo de desestalinização da então União Soviética e a
Revolução Húngara de 1956 – levantaram sérias dúvidas sobre o termo real destes males. O
desaparecimento da alienação econômica, numa dada sociedade, implicaria no
desaparecimento da alienação política? O mal político poderia ser reduzido – como em maior
ou menor escala apregoavam certas correntes de pensamento – à exploração econômica e aos
conflitos de classe?

Num importante artigo de 1957, intitulado O Paradoxo Político, Paul Ricoeur analisa
os acontecimentos da Hungria e faz uma série de considerações sobre o problema do Poder,
salientando sua estabilidade ao longo das revoluções econômico-sociais, e respondendo
negativamente às questões apontadas acima.

Para Ricoeur, o problema do poder político revela uma surpreendente estabilidade, se


levarmos em conta as revoluções econômicas e sociais; em uma economia socialista ele é
fundamentalmente semelhante ao mesmo problema em uma economia capitalista, oferece
possibilidades comparáveis, e mesmo mais acentuadas, de tirania, exigindo portanto controles
democráticos igualmente – porventura mais – rigorosos

2. A ORIGINALIDADE DO POLÍTICO

A autonomia do político revela-se em dois aspectos contrastantes: de um lado, o


político realiza um tipo de relação humana não-redutível aos conflitos de classe nem às
tensões econômico-sociais da sociedade. De outro lado, a política desencadeia males
especificamente políticos, males do poder político, que não são redutíveis a outros, tais como
a alienação econômica.

“Por consequência pode desaparecer a exploração econômica e persistir o mal


político; ou, mais ainda, podem os meios mobilizados pelo Estado para pôr termo à
exploração econômica ser ocasião de abusos de poder, novos na sua expressão e nas
suas consequências, mas fundamentalmente idênticos, na sua repercussão passional,
aos dos Estados do passado.” 1

A dupla originalidade do político, que lhe confere um caráter paradoxal, reside


portanto na sua racionalidade especifica e no seu mal específico. Segndo Ricoeur, a tarefa da
filosofia política é elucidar este paradoxo.
Esta autonomia fica mais clara uma vez que se tenha delimitado a esfera da política e
reconhecido a validade da distinção entre o político e o econômico. Ricoeur faz esta
delimitação recorrendo à Rousseau e ao Contrato Social. Segundo ele, a grande ideia do
Contrato Social é a de que o corpo político não nasce de um acontecimento histórico, mas de
um ato virtual que só se revela na reflexão. Este ato é “um pacto de cada um com todos que
constituem o povo enquanto povo, constituindo-o em Estado” (RICOEUR 1963) Este pacto

1 RICOEUR, Paul. O Paradoxo Político. In: Revista de Pensamento e Acção - O Tempo e o Modo, nº 1,
Janeiro, Antologia, 2ª Edição,1963, p 36
não é feito entre contratantes que desistem de sua liberdade em favor de um Estado, não é
uma troca da liberdade pela segurança, mas uma passagem, consentida por todos, à lei civil.
É precisamente por causa da idealidade desse ato que a esfera da política está sujeita
ao Mal: se este pacto não se deu, não há como retonar até ele, não há como resgatá-lo. A
unidade da comunidade orientada pelo Estado não pode ser recuperada por um ato, pois ele
não aconteceu, mas apenas pela reflexão, pela tomada de consciência política e pela
retrospecção. E tal só é possível através de uma crítica válida ao poder.

3. O MAL POLÍTICO

“Há uma alienação política específica”, diz Ricoeur, “porque o político é autonomo”.
A política refere-se a toda atividade que tenha por fim conquistar ou repartir o poder. Por sua
referência ao poder é que a política apresenta um mal específico. É isto o que se depreende,
segundo Ricoeur, tanto nos profetas judeus quanto nos diálogos platônicos ou em Maquiavel e
Marx; trata-se da violência política e da astúcia, que, ainda que mantenham-se dentro da
legalidade instaurada, ficam marcadas pela violência que as originou. Esta é a esfera
eminentemente sujeita ao mal na política, não redutível ao mal econômico-social, e portanto
um mal específico.

“(...) o essencial da crítica de Marx é que o Estado não é o que pretende ser e não o
pode ser. Que pretende ser? Se Hegel tem razão, o Estado é a conciliação,
conciliação, numa esfera superior, dos interesses e dos indivíduos, irreconciliáveis
ao nível do que Hegel chama a sociedade civil, e que nós chamamos o plano
econômico-social. O mundo incoerente das relações privadas é arbitrado e
racionalizado pela instância superior do Estado. O Estado é o mediadore, poranto, a
razão. E cada um de nós atinge a sua liberdade, como um direito, através da
instância do Estado. É politicamente que sou livre. É nesse sentido que diz que o
Estado é representativo: existe na representação e o homem representa-se nele. O
essencial na crítica de Marx é a denúncia duma ilusão nessa pretensão; o Estado não
é o verdadeiro mundo do homem, mas um outro mundo e um mundo irreal; não
resolve as contradições reais, senão num direito fictício, que, por seu lado, está em
contradição com as relações reais entre os homens.” 2

É nesta discordância entre o ser verdadeiro e a pretensão que Marx situa o problema
da violência. A soberania, não sendo o povo em sua concretude, mas um mundo ideal,
sonhado, passa a ser a justificação de um soberano real, concreto. E o ideal da conciliação
numa esfera mais elevada dos indivíduos e interesses irreconciliáveis na esfera civil, em
outras palavras, o idealismo do direito, só se mantém na história pelo arbítrio do soberano real,
empírico. Assim, a esfera da soberania divide-se entre o ideal da soberania e a realidade do
soberano. Ricoeur anota que o soberano tende a defraudar a soberania, e neste ponto avança
um pouco mais na sua tese de que a alienação política não é redutível a nenhuma outra: pois
nenhum Estado existe sem uma administração, uma polícia, em outras palavras,

para que um Estado exista é necessária a realidade de um governo e não apenas o ideal
contido numa constituição. Assim, essa alienação atravessa todos os regimes, porque resolver
outra classe de contradições não implica em resolver a contradição radical que existe entre a
particularidade (e a arbitrariedade) que afeta ao Estado e a universalidade visada por ele..

“Penso que é necessário sustentar contra Marx e Lenin que a alienação política não é
redutível a nenhuma outra, mas constitutiva da existência humana, e, nesse sentido,
que o modo de existência política implica a cisão da vida abstracta do cidadão e da
vida concreta da família e do trabalho. Penso também que se salva com assim o
melhor da crítica marxista, que se junta à crítica maquiaveliana, platônica e bíblica
do poder.” 3

A crítica de Ricoeur a Marx e Lenin, é a de que eles não viram o caráter autônomo
dessa contradição. Retomando um fato ainda recente quando da redação do artigo, o processo
de desestalinização da União Soviética e o relatório Kruschev, Ricoeur aponta que sem
reconhecer essa autonomia do problema político sequer seria possível criticar Stálin e
continuar a aprovar a economia socialista e o regime soviético.
Para Ricoeur, essa redução do político ao econômico, o ponto fraco do marxismo,

2 RICOEUR, Paul. O Paradoxo Político. In: Revista de Pensamento e Acção - O Tempo


e o Modo, nº 1, Janeiro, Antologia, 2ª Edição,1963, p 43.
3 RICOEUR, Paul. O Paradoxo Político. In: Revista de Pensamento e Acção - O Tempo
e o Modo, nº 1, Janeiro, Antologia, 2ª Edição,1963, p 44.
entrava a filosofia política e não permite uma crítica válida ao poder: por não reconhecer a
especificidade do político, ele não reconhece o que há de específico em sua função e no seu
mal. Devido a essa confusão, o pensamento marxista dá um passo que Ricoeur considera
desastroso: em vez de colocar o problema do controlde do Estado, osubstitui pelo da abolição
do Estado, que remete o fim do seu mal para um futuro indeterminado, “enquanto o problema
político prático verdadeiro é o da limitação desse mal no presente.” (RICOEUR 1963). Por
sua vez, a tese escatológica da desaparição futura do Estado, acaba por justificar um
prolongamento sem fim do Estado empírico na figura da ditadura do proletariado e abre
espaço para o totalitarismo.

REFERÊNCIAS

RICOEUR, Paul. O Paradoxo Político. In: Revista de Pensamento e Acção - O Tempo e o


Modo, nº 1, Janeiro, Antologia, 2ª Edição,1963, pp. 35-51

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