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Discurso 10 NNA

Boa tarde a excelentíssima Pró-reitora e demais membros da mesa. Boa

tarde aos colandos, seus familiares e amigos aqui presentes. Boa tarde

também aos demais professores, professoras e preceptoras do curso de

Psicologia.

Eu tinha planejado falar da Psicologia como ciência e profissão, enquanto ética

e do seu necessário compromisso com os Direitos Humanos, com os grupos

sociais minoritários e, para além de técnicas e teóricas, com a pessoa em

sofrimento.

Mas tudo isso mudou ontem quando um aluno do curso de Psicologia me

perguntou se eu estava feliz por ter sido escolhido para ser homenageado por

duas das três turmas que estão se formando. Nesta hora, eu estava na

coordenação com profa. Elizabeth Levy e a Carol Peck enquanto a profa.

Gabriela Nascimento estava em reunião.

Confesso que até aquele momento não tinha parado para pensar nem tão

pouco para sentir a experiência de ser homenageado. Ainda não tinha me

aberto a ela. Isso é novo para mim. E, me esforço para fazer essa experiência

sem tantos preconceitos, culpas, ressentimentos ou inoportuna humildade.


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Por isso, me planejei falar a partir do que me é pessoal, íntimo, e espero, mais

próximo de vocês, colandos. Estar aqui é uma experiência me mobiliza e me

exige intensamente. Em verdade, ela me põe nu. Porque me exige parar.

Meditar sobre o caminho que tenho trilhado até este momento. E, mais do que

isso, porque ela diz respeito a essa parte efêmera da existência que

aprendemos a chamar: felicidade.

Posso dizer que nestes 39 anos de existência, poucas vezes senti a felicidade

que começo a sentir. Ela é diferente e desconhecida. Apesar disso, reconheço

que me sinto feliz de um modo quase indecente quando penso nos tempos

sombrios que se anunciam no horizonte. Feliz de um modo que chego a

acreditar que entre as alegrias e as tristezas que fazem a vida ser o que ela é,

acontece alguma coisa estranha que nos oferta algo além disso. A partir da

linguagem religiosa, eu reconheço essa coisa como redenção.

A felicidade que sinto me recorda de uma libertação que vivi há tempos. Ela

me faz lembrar de uma decisão que tomei e me fez ser uma pessoa melhor

apesar do medo do desconhecido. Esta felicidade me faz entrar em contato

com o caminho que trilhei apesar dos desesperos e inseguranças. Ela me faz

reconhecer que precisava estar mais próximo de mim mesmo apesar da minha

teimosia, covardia e tendência à auto sabotagem.


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A felicidade que vocês me proporcionam, recorda-me de como cheguei a

profissão de professor. Eu recorri a ela porque tudo na minha vida tinha

fracassado. Não porque tinha me planejado errado ou meu currículo lattles

não estava devidamente engordado. Nada disso. Fracassei porque me dei

conta que apesar do planejamento dar certo e do lattles gordinho, eu não

estava feliz. Que o tempo passava por mim sem que eu sentisse a vida

pulsando na alegria e na tristeza. Parafraseando Michel Foucault, “vivia uma

vida que me fazia amar o poder, desejar isso que nos domina e explora,

fazendo a amarga tirania da nossa vida cotidiana”. Quando eu consegui sair

disso, eu encontrei à docência. Embora não como cura, apenas como uma

forma de ganhar meu pão.

Por isso, neste momento, através do gesto de vocês que me escolheram para

ser paraninfo da turma, reconheço mais uma vez que sou feliz fazendo o que

faço. Não porque ser professor é a melhor coisa do mundo. Não é,

especialmente no Brasil. Para mim, através da docência, eu descobri uma

maneira especial de me relaciono comigo mesmo. Eu me humanizo através

da docência, eu cuido do que há de melhor em mim. Do que há de mais

poderoso em cada um, isto é, aproximar de si mesmo, plenamente. Na

docência eu me realizo porque estou mais perto de mim mesmo. Mas isso é

só uma parte do movimento. A docência também me coloca diante do Outro,


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seja na forma de meus amigos e amigas professores, meus mestres, seja na

forma de vocês, alunos e alunas.

E, por mais que se diga que o “outro é o inferno”. Isso não é verdadeiro. Ou

pelo menos não completamente. É com o outro que a existência é sustentável,

que ela pode realmente ser chamada de vida. Por isso, a diversidade humana

é o princípio maior. E o outro aquele que chama e exige nossa presença por

completo. Isso vocês sabem quando escolheram a Psicologia. Quando

conseguimos nos encontrar uns com os outros, verdadeiramente na diferença,

nossa existência se torna assustadoramente interessante.

Eu reconheço que vivi entre vocês, colandos, desta forma. Porque encontrei

vocês durante as aulas, pelos corredores, da clínica de Psicologia, nos

projetos, na monitoria, enfim, em inúmeros lugares por onde andei. Feliz

porque participei da formação de vocês. Feliz porque testemunhei o

crescimento de todos e todas. Para citar apenas alguns, vi a Louise Britto

aprender a lidar com as frustrações e trabalhar seus limites. Eu vi a Bruna

Oliveira perceber que ela pode fazer diferença na vida das pessoas. Eu vi o

Richarlle Trindade entrar em contato com a responsabilidade de ser psicólogo.

Eu vi a Talyta Soriano descobrir que priorizar o cuidado com a sua saúde

mental e física é fundamental para escutar os outros. Eu vi a Rayssa

Gonçalves aprender a ter coragem e perseverança diante de situações


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adversas. Eu vi o Renan Corrêa reconhecer que o maior valor que ele

aprendeu neste último ano foi a gratidão.

Eu também sou grato por ter te conhecido, Renan. Sou grato por fazer parte

da tua vida. Na vida de todos vocês. Sou feliz por isso. Se permitam fazer essa

mesma experiência sem tantos preconceitos, culpas, ressentimentos ou

inoportuna humildade. Vivam o momento como se fosse o primeiro amor, a

primeira canção, o primeiro acolhimento. Como se fosse a primeira vez daquilo

que fez você crescer e animar a vida. Também se sintam felizes de um modo

quase indecente. Nada é mais libertador do que reconhecer que se está no

lugar certo e na hora certa. Nada é mais poderoso do que encontrar uma

maneira de estarem mais próximos de vocês mesmo. De ser você mesmo!

Para encerrar, vou usar a palavra dos Novos Baianos, para dizer através deles

algo que não podemos esquecer jamais. Especialmente e tempos atuais.

“Não se assuste pessoa se eu lhe disser que a vida é boa. Não se assuste

pessoa, Se eu lhe disser que a vida é boa. Enquanto eles se batem, dê um

rolê e você vai ouvir. Apenas quem já dizia. Eu não tenho nada. Antes de você

ser eu sou. Eu sou, eu sou o amor da cabeça aos pés”. Sejam amor da cabeça

aos pés.
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Muito obrigado.

Belém, 24 de janeiro de 2019

Marcio Valente

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