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Biogeografia dos peixes de água doce da América do Sul

Chapter · January 2011

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2 authors:

Alexande C. Ribeiro Naercio A. Menezes


Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) University of São Paulo
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Systematics and biogeography of neotropical freshwater fishes View project

Systematics of the Stevardiinae (Characiformes, Characidae) View project

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Capítulo 16
Biogeografia dos Peixes de Água Doce
da América do Sul

Alexandre Cunha Ribeiro

Flávio César Thadeo de Lima

Naércio Aquino Menezes

Introdução aqui, com base em exemplos da nossa rica fauna de


peixes que, conforme já declarado por um dos mais
As águas continentais da região Neotropical abrigam a importantes autores em biogeografia, Léon Croizat,
mais diversificada fauna de peixes de água doce do “Terra e vida evoluem juntas”.
planeta. O número de espécies conhecidas se aproxima
de 5.000 e estimativas quanto ao número real, conside-
rando aquelas que ainda estão por serem descritas, giram Ictiofauna Sul-americana
em torno de 6.000 a 8.000 espécies1.
A composição desta diversidade é resultado de longo É imprescindível em discussão acerca da biogeografia
processo de irradiação de diversas linhagens ao longo de dos peixes de água doce Neotropicais vislumbrar a
milhões de anos, mas também da extinção de grupos megabiodiversidade da ictiofauna, abordando seus com-
outrora diversificados. Esta riqueza resulta, em última ponentes principais. Em sua composição ocorrem
instância, de processos ecológicos e históricos comple- representantes de grupos antigos, outrora diversificados
xos, contínuos através do tempo geológico. A história de em Gondwana, mas hoje escassos, grupos Gondwânicos
nossa fauna moderna, cujas raízes remontam principal- remanescentes e diversos ainda hoje e grupos resultantes
mente ao período Mesozoico, ainda não é compreendida de irradiações mais recentes, presumivelmente posterio-
na sua totalidade. Desde as primeiras ideias dos autores res a sua ruptura final, ou seja, grupos endêmicos de um
precursores das atuais hipóteses fundamentadas no arca- continente sul-americano já isolado. Somam-se a estes
bouço conceitual de métodos modernos de reconstrução componentes grupos de ancestrais marinhos relativa-
filogenética e em teorias unificadoras, por exemplo, mente recentes, invasores secundários da água doce e,
a Tectônica de Placas, houve avanços significativos. É em menor escala, grupos que transitam entre os ambien-
notório, entretanto, que a história de nossa fauna aquáti- tes marinho e dulciaquícola.
ca ainda contém lacunas e grandes questões que poderão Uma caracterização resumida nos obriga a analisar a
ocupar a mente dos biogeógrafos por muitas gerações. composição da ictiofauna Neotropical em nível de agru-
Neste capítulo pretende-se fornecer uma visão geral pamentos taxonômicos mais inclusivos, o que pode ser
do conhecimento da biogeografia dos peixes de água feito tendo como pano de fundo a filogenia simplificada
doce da América do Sul tentando correlacionar a evolu- dos grandes grupos modernos de peixes (Fig. 16.1).
ção da fauna com a evolução geográfica do continente, Detalhes sobre esta composição podem ser vistos em
porém não se esgotará o assunto. Tentar-se-á demonstrar Reis et al.1.
262 – Padrões e Processos – Estudos de Casos

A ictiofauna dominante pertence a um grande grupo da coluna vertebral e transformadas em impulsos elétri-
denominado Ostariophysi, que inclui todos os peixes cos transmitidos ao cérebro. Desse grupo faz parte a
que possuem um órgão de audição, o aparelho de Weber, maioria dos “peixes de escama” (ordem Characiformes),
por meio do qual ondas sonoras que chegam à bexiga os “peixes de couro”, vulgarmente conhecidos como
natatória são transmitidas ao ouvido interno por meio bagres e cascudos (ordem Siluriformes) e os “peixes
de uma série de ossículos modificados na parte anterior elétricos” sul-americanos (ordem Gymnotiformes).

Myxiniformes (peixes feiticeira)

Petromyzontiformes (lampreias)

978-85-7241-896-6
Holocephali (quimeras)

Chondrichthyes
Hybodontidae ✟
Galeomorphi (tubarões comuns)
Batoidea (raias marinhas e de água doce)
Squaliformes (cações-anjo e cia.)

Polypteriformes
Chondrostei (esturjões, peixes-espátula e cia.)
Lapisosteidae (gars)
Amiiformes

Osteoglossomorpha (pirarucu, aruanãs e cia.)


Elopomorpha (tarpões, enguias, moreias e cia.)
Clupeomorpha (sardinhas, anchovas e cia.)

Craniata
Gonorynchiformes

Vertebrata
Otocephala
Ostariophysi
Cypriniformes (carpas e cia.)
Characiformes (traíras, piranhas, lambaris e cia.)
Siluriformes (bagres)

Actinopterygii
Gymnotiformes (poraquê, tuviras)
Paracanthopteryigi (salmões e cia.)
Esociformes
Ac
tin

Stenopterygii
ist
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Scopelomorpha
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Lampridiomorpha
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tos

Paracanthopterygii (bacalhaus e cia.)


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Euteleostei

Zeiformes
p
Po

ulm
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Beryciformes
on
e pif

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o

Atherinomorpha (peixes-rei, barrigudinhos,


os)
rm

Sarcopterygii
es

peixes-agulha e cia.)

Percomorpha

Gasterosteiformes
Ch
oa

Scorpaeniformes (peixes-escorpião)
na
ta

Tetraodontiformes (baiacus e peixe-cofre)


(te
trá

Pleuronectiformes (linguados)
po
do

Perciformes (curvinas, carás e cia.)


se
cia
.)

Figura 16.1 – Filogenia dos grandes grupos de vertebrados ilustrando as relações entre os componentes da fauna de peixes
da América do Sul discutidos neste capítulo.
Biogeografia dos Peixes de Água Doce da América do Sul – 263

Dentre os Characiformes, apenas a família Characidae (Osteoglossum bicirrhosum [Cuvier, 1829]) e O. ferrei-
(lambaris, piranhas, pacus, matrinxãs e outros) possui rai (Kanazawa, 1966) da ordem Osteoglossiformes,
1.057 espécies válidas reconhecidas atualmente (esta e restritos à bacia Amazônica e outras drenagens ao norte
as demais estimativas de espécies válidas por grupo aqui da América do Sul.
apresentadas, segundo Eschmeyer e Fricke2). Algumas O tarpão (Megalops atlanticus [Valenciennes, 1847])
famílias, como a dos corimbatás (Prochilodontidae) e a da ordem Elopiformes ocorre em águas marinhas e
dos piaus (Anostomidae), incluem os peixes mais im- estuarinas, mas eventualmente é encontrado em água
portantes na pesca de subsistência, em razão de grande doce. Entre os Anguillliformes apenas duas espécies, o
abundância e biomassa. Outras famílias, como a das Anguillidae Anguilla rostrata (Lesueur, 1817) e o Ophi-
traíras (Erythrinidae), possuem menor diversidade, mas chthidae Stictorhinus potamius (Böhlke e McCosker,
são bem conhecidas popularmente. Além da América do 1975), são registradas em águas doces sul-americanas,
Sul, os Characiformes ocorrem também na África (qua- a primeira no norte da América do Sul (Colômbia e
tro famílias) e América do Norte, no sul do Texas e Novo Venezuela) e a segunda na bacia do Rio Tocantins, Brasil.
México [apenas uma espécie, Astyanax mexicanus (De Representantes da ordem Clupeiformes (manjubas,
Filippi, 1853)]. apapás e sardinhas), um grupo tipicamente marinho,
Na Região Neotropical, os Siluriformes são represen- possuem, no entanto, moderada representação em água
tados por 15 famílias, a maior parte delas com espécies doce. Nas águas continentais da América do Sul ocorrem
na América do Sul. Sua diversidade, em número de es- três gêneros da família Clupeidae (Platanichthys e
pécies, ultrapassa a dos Characiformes. Só a família Ramnogaster na parte inferior da bacia do Prata
Loricariidae (popularmente conhecidos como cascudos, e Rhinosardinia nos cursos inferiores de rios do norte e
caris ou bodós) inclui cerca de 792 espécies conhecidas.
nordeste do continente) e espécies dos gêneros Anchoa,
Os limpa-fundo e tamboatás (família Callichthyidae)
Anchovia, Amazonsprattus, Anchoviella, Jurengaulis,
somam 197 espécies. Os grandes bagres como jaús,
Pterengraulis e Lycengraulis, da família Engraulidae na
pintados e cacharas, assim como os mandis da família
Amazônia, bacia do Orinoco, Rio São Francisco e rios
Pimelodidae, são representados por aproximadamente
das Guianas. Em Pristigasteridae são conhecidos repre-
102 espécies. Outras famílias importantes, menos co-
sentantes dos gêneros Ilisha e Pristigaster na bacia
nhecidas por serem representadas por formas diminutas,
Amazônia e Pellona nas bacias Amazônica e Paraná-
crípticas e de hábitos noturnos, são os bagrinhos da fa-
-Paraguai e do Orinoco.
mília Heptapteridae (199 espécies) e as cambevas e
No grande grupo que inclui os teleósteos mais deri-
candirus da família Trichomycteridae (235 espécies).
vados, Acanthopterygii, predominantes no ambiente
Duas famílias, Ariidae e Plotosidae, incluem espécies
que invadiram secundariamente o hábitat marinho. Além marinho, algumas ordens são representadas por grupos
da América do Sul, os Siluriformes sucedem em todos que invadiram secundariamente a água doce. Em Athe-
os continentes, incluindo a Antártica (como fósseis). riniformes são encontrados alguns poucos representan-
Os Gymnotiformes, ou peixes elétricos sul-america- tes de peixes-agulha (Belonidae e Hemiramphidae) e os
nos, são endêmicos da região Neotropical, porém com peixes-rei (Atherinopsidae). Uma ordem primariamente
diversidade menor (algo em torno de 150 espécies), que de água doce e com grande diversidade é Cyprinodon-
os dois grupos anteriores. Todas as espécies das cinco tiformes, que inclui os barrigudinhos (Poeciliidae), os
famílias da ordem possuem a capacidade de gerar cam- peixes anuais (Rivulidae), os tralhotos (Anablepidae),
po elétrico a partir de sua musculatura especializada, além de Cyprinodontidae em sistemas costeiros do nor-
utilizado para eletropercepção e comunicação. Uma te da América do Sul e os Orestiidae do altiplano andino.
espécie, Electrophorus electricus (Linnaeus, 1766), O grupo com a maior diversidade de teleósteos, co-
conhecida como poraquê, produz descarga elétrica capaz letivamente chamados Percomorpha, sucede em águas
de atordoar e mesmo matar presas ou predadores. continentais sul-americanas, famílias com poucos repre-
Os peixes ósseos (Osteichthyes) incluem também sentantes tais como Polycentridae (peixes-folha; duas
alguns grupos antigos, mais abundantes como fósseis, espécies), Synbranchidae (muçum; quatro espécies),
mas atualmente representados por poucas espécies, como Gobiidae (amborés; três espécies exclusivas de água
a piramboia (Lepidosiren paradoxa [Fitzinger, 1837]) doce e pouco mais de uma dezena de espécies anfídro-
“peixe pulmonado” da ordem Lepidosireniformes, en- mas), Sciaenidae (corvinas e pescadas; 19 espécies
contrada na Amazônia e bacias do Paraguai e do Prata, exclusivas de água doce), Percichthyidae (cinco espécies
o pirarucu (Arapaima gigas [Schinz, 1822]) e os aruanãs patagônicas/chilenas), Percilidae (duas espécies no
264 – Padrões e Processos – Estudos de Casos

Chile) e outras de grande diversidade, tais como Cichli- como compreendendo rios drenando ambas as vertentes
dae (acarás, jacundás e tucunarés), que abriga mais de andinas e sistemas endorreicos da Bolívia e Peru (isto
330 espécies conhecidas em água doces sul-americanas. é, Lago Titicaca), também bastante pobre ictiofaunisti-
Grupos ainda mais derivados em função dos caracte- camente, sendo caracterizada pela presença de alguns
res morfológicos exclusivos que possuem, também são poucos grupos endêmicos (por exemplo, Astroblebidae
representados por um número mais reduzido de espécies e Orestiidae). A Região Brasileira, a mais vasta e diver-
em água doce, como os baiacus (Colomesus asellus sa região ictiogeográfica, inclui, na concepção de Eigen-
[Müller e Troschel, 1849] [Tetraodontidae: Tetraodon- mann3, além de quase toda a América do Sul, toda a
tiformes]), e alguns gêneros de linguados (Achiridae: América Central, até o sul do México. Eigenmann3
Pleuronectiformes). subdivide essa região em dez “províncias”, das quais
Os demais não Osteichthyes têm representatividade duas (“pacífica” e “Magdalena”) estão parcialmente e
muito reduzida. Entre os peixes cartilaginosos (tubarões seis (“Amazônica”, “Guiana”, “Trinidad”, “São Francis-
e raias) apenas uma espécie de tubarão, Carcharhinus co”, “costeira” e “La Plata”) completamente situadas na
leucas (Müller e Henle, 1839) e duas espécies de América do Sul. A divisão em regiões e províncias ic-
peixes-serra, Pristis pristis (Linnaeus, 1758) e Pristis tiofaunísticas de Eigenmann3 obedece tanto a critérios
pectinata (Latham, 1794) penetram em água doce, mas de composição faunística como relações de grandes
no grupo das raias existe toda uma família, Potamotrygo- grupos; por exemplo, a ocorrência de Galaxiidae e lam-
nidae, exclusiva de água doce e representada por três preias na região patagônica foi por ele considerada como
gêneros (Potamotrygon, Paratrygon e Plesiotrygon) e indício da relação desta área com outras massas conti-
pelo menos 18 espécies. nentais austrais que contêm esses mesmos elementos
(isto é, Austrália e Nova Zelândia), assim como a ocor-
rência de Orestiidae, uma família endêmica de Cyprino-
dontiformes do altiplano andino, que provavelmente
História dos Estudos teria se originado, nas palavras de Eigenmann3, “when
Biogeográficos em Peixes de Água the lake was still an arm of the sea”. É notável que Ei-
genmann3,4 já percebera a importância da história
Doce Sul-americanos geológica na distribuição dos peixes de água doce sul-
-americanos, ao verificar que as terras altas dos escudos,
Neste tópico, são comentadas algumas obras conside-
geologicamente mais antigas, apresentavam ictiofauna
radas de referência para o estudo da biogeografia de
bastante distinta daquela das terras baixas das planícies,
peixes de água doce da América do Sul. São incluídos
e que esta relação poderia ser mais significativa biogeo-
trabalhos que, por seu escopo amplo e marcada influên-
graficamente do que os limites dos sistemas hidrográ-
cia, trouxeram grandes avanços no entendimento da
ficos. Por exemplo, a região guianense de Eigenmann3
biogeografia de peixes de água doce neotropicais. Es- inclui não só os rios guianenses, como também os tribu-
tudos mais pontuais, embora não menos dotados de tários da margem norte do Rio Amazonas que drenam o
importância intrínseca, não serão mencionados por escudo guianense, bem como o Rio Branco. Em sentido
questões práticas. amplo, a província amazônica incluiria, de fato, as terras
O primeiro autor a realizar uma ampla análise de baixas de todos os grandes sistemas hidrográficos sul-
padrões biogeográficos em peixes sul-americanos foi -americanos, ou nas palavras de Eigenmann3: “East of
Eigenmann3. Este autor dividiu a América do Sul em the Cordilleras, and therefore east of the Magdalena
três regiões “ictiogeográficas”: “Brasileira”, “Andina” basin, is found the most extensive and intricate fresh
e “Patagônica”. A Região Patagônica foi definida como water system in the world… a network of rivers practi-
possuindo uma ictiofauna muito pobre, composta por cally ininterrumpted, extending from the mouth of the
elementos “migrantes do mar”, como os Atherinopsidae Orinoco through the Cassiquiare, Rio Branco, Rio Ne-
e os Percichthyidae, “imigrantes” da Região Brasileira gro, Rio Madeira, Rio Guaporé, Rio Paraguay, Parana
(Characidae e Trichomycteridae), formas “autóctones” and La Plata to Buenos Aires”.
ou de “origem duvidosa” (Nematogenyidae e Diplomys- Somente 60 anos depois, com Géry5, a biogeografia
tidae) e grupos de relação biogeográfica transcontinen- de peixes sul-americanos de água doce voltou a ser
tal (Galaxiidae, Aplochitonidae, atualmente incluídos abordada de forma ampla. Géry5 identificou oito grandes
em Galaxiidae e Petromyzontidae, hoje incluídos em regiões ictiogeográficas na América do Sul, que coinci-
Mordaciidae e Geotriidae). A Região Andina, definida dem, em parte, com as regiões e províncias identificadas
Biogeografia dos Peixes de Água Doce da América do Sul – 265

por Eigenmann3. As regiões ictiofaunísticas identificadas específicas pudessem ser formuladas. Weitzman et al.8
por Géry5 foram “Orinoco-Venezuelana”, abrangendo a exemplificaram o tipo de abordagem necessário, ao
bacia do Rio Orinoco, em conjunto com a bacia do lago exibir uma discussão biogeográfica sobre os represen-
Maracaibo, a ilha de Trinidade e alguns pequenos siste- tantes da tribo Glandulocaudini (Characidae) no leste da
mas hidrográficos do Mar do Caribe; “Magdalena”, América do Sul.
abrangendo apenas o sistema do Rio Madalena na Co- Fundamentado em ampla revisão sistemática da fa-
lômbia; “Transandino”, compreendendo os sistemas mília Curimatidae, Vari9 apresentou revisão das regiões
hidrográficos a oeste dos Andes, situados entre o norte de endemismo em peixes de água doce sul-americanos.
da Colômbia e Panamá até o norte do Peru; “Andina”, Como Weitzman e Weitzman7, Vari9 também enfatizou
compreendendo a porção alta dos Andes, da Colômbia a necessidade de incorporar hipóteses filogenéticas e,
ao Chile; “Paranaense”, abrangendo a bacia platina assim, entender o componente histórico por trás das
e alguns sistemas do leste do Brasil; “Patagônica”, presentes associações faunísticas. Vari9 identificou oito
abarcando as drenagens do sul da Argentina e Chile; áreas de endemismo habitadas por curimatídeos na
“Guiano-Amazônica”, abrangendo os rios guianenses e América do Sul: “western” (incluindo os sistemas hi-
a bacia amazônica, e “Leste do Brasil”, incluindo os drográficos transandinos, do lago de Maracaibo ao Rio
sistemas costeiros do nordeste, leste e sul do Brasil, Chira no norte do Peru), “Orinoco” (correspondendo à
incluindo o Rio São Francisco. Ao contrário de Eigen- bacia do Rio Orinoco); “Guianas” (sistemas hidrográfi-
mann3, Géry5 não reconheceu uma divisão de terras cos da Guiana, Suriname e Guiana Francesa); “Amazon”
baixas e terras altas, mas as suas regiões são bastante (bacia amazônica, incluindo a bacia do Rio Tocantins);
similares às “províncias” de Eigenmann3, tendo como “northeast” (drenagens nordestinas ao norte do Rio São
principal diferença o reconhecimento da região do Francisco); “São Francisco” (correspondendo à bacia
Orinoco-Venezuela, uma área virtualmente desconhe- homônima); “coastal” (sistemas hidrográficos entre o
cida de modo ictiológico quando Eigenmann3 escreveu sul do Rio São Francisco até o Rio Paraíba do Sul);
sua monografia. “upper Paraná” (correspondendo à bacia do Rio Paraná,
Ringuelet6 apresentou uma nova classificação das acima do salto de Sete Quedas, hoje afogado sob o lago
áreas de endemismo de peixes na América do Sul. Ele de Itaipu) e “Paraguay” (incluindo a toda a bacia platina,
reconheceu vinte “áreas ictiogeográficas” na América com exceção do alto Paraná, e também os sistemas
do Sul, a maioria delas seguindo a proposta de subdivi- costeiros do Uruguai ao sul do estado de São Paulo).
são de áreas maiores que haviam sido reconhecidas por Apesar de repetir autores precedentes em estabelecer
Eigenmann3 e Géry5. Por exemplo, a área “Orinoco- áreas de endemismo para peixes de água doce sul-
-Venezuelana” foi por ele dividida em três áreas distintas: -americanos com base na presença de espécies endêmicas
sistema do Lago de Maracaibo, drenagens costeiras do nos diferentes sistemas, a grande importância do traba-
Caribe venezuelano e bacia do Rio Orinoco propriamen- lho de Vari9 consiste em ser o primeiro a discutir relações
te. A bacia platina foi dividida em três áreas: alto Paraná, históricas entre diferentes bacias hidrográficas, funda-
alto Paraguai e sistema Párano-platense. Embora o re- mentado em filogenias de alguns gêneros de Curimatidae.
conhecimento de maior número de áreas por Ringuelet6 Assim, Vari9 aponta relação entre o lago de Maracaibo
reflita os avanços no conhecimento ictiofaunístico da com as bacias amazônica, do Orinoco e platina, baseada
América do Sul desde Eigenmann3, a desvantagem em na filogenia do gênero Potamorhina, da bacia do Rio
reconhecer muitas regiões de endemismo reside em que Madalena com a bacia do Rio Orinoco e a bacia amazô-
as relações faunísticas entre as áreas são obscurecidas nica, embasado na filogenia de um grupo de espécies do
no processo, uma vez que as semelhanças (= táxons gênero Curimata9, bem como a origem “híbrida” da
compartilhados) são preteridas ante as diferenças (= fauna do Rio São Francisco9.
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táxons endêmicos). Ao longo da década de 1990 houve grande incremen-


Weitzman e Weitzman7 apresentaram uma revisão to no número de estudos de revisão e filogenia de grupos
crítica das hipóteses biogeográficas sobre peixes sul- de peixes Neotropicais com base em metodologias cla-
-americanos formuladas até aquela data. Eles notaram a dísticas modernas. Alguns estudos importantes trouxeram
falta de embasamento em hipóteses filogenéticas dos visão nova das afinidades zoogeográficas do continente
esquemas biogeográficos previamente propostos e a sul-americano. Muito significante é a contribuição de
necessidade de conhecimento filogenético, taxonômico Lundberg10, que reviu criticamente as evidências das
e distribucional muito mais detalhado da ictiofauna sul- supostas relações das faunas neotropical e africana, de-
-americana para que hipóteses biogeográficas mais monstrando que as evidências fósseis e filogenéticas
266 – Padrões e Processos – Estudos de Casos

sugerem padrões muito mais complexos que não podem, Sabe-se hoje que as posições relativas dos continentes
na maioria das vezes, serem identificados simplesmente não são fixas, mas, por possuírem constituição rochosa
como relações de grupos irmãos associados a um evento majoritariamente granítica e, portanto, pouco densa,
vicariante simples, por exemplo, a ruptura de Gondwana. flutuam em equilíbrio isostático sobre o assoalho oceâ-
Com relação aos grupos neotropicais, o ápice desta nico, de composição majoritariamente basáltica e mais

978-85-7241-896-6
tendência moderna foi a publicação, em 1998, dos resul- densa. As placas tectônicas, como são denominados
tados de um simpósio sobre filogenia e classificação de estes gigantescos blocos continentais, têm estado em
peixes neotropicais na obra Phylogeny and Classification movimento, por conseguinte, continuamente ao longo
of Neotropical Fishes. Nesta importante obra foi das eras geológicas, impelidos por forças advindas das
publicado um dos trabalhos de maior impacto para a correntes de convecção do manto. O resultado é que os
biogeografia de peixes Neotropicais. Trata-se do artigo continentes estão em constante “deriva”, colidindo uns
de Lundberg et al.11, o primeiro a associar, de forma com os outros e também se fraturando e se fragmentan-
muito clara, a biogeografia de peixes de água doce aos do em continentes menores, continuamente extinguindo
processos tectônicos em escala continental a remodelar e originando bacias oceânicas ao longo das eras geoló-
o continente sul-americano desde sua ruptura com a gicas. Este ciclo contínuo de amalgamação e ruptura de
África. Naquele artigo ficou claro o papel dos processos paleocontinentes é chamado “Ciclo de Wilson”, ou
tectônicos na remodelagem da paisagem em escala con- “abertura e fechamento de bacias oceânicas” ou ainda
tinental e de sua influência nos processos vicariantes a “Ciclos Orogenéticos”. Este último nome vem do fato
afetar a distribuição geográfica da fauna de peixes de de que, quando colidem, as placas tectônicas deformam-
água doce na América do Sul. A contribuição de Lundberg -se originando cadeias de montanhas como o Himalaia
et al.11, entretanto, enfatiza eventos históricos desenca- e os Andes (oros = montanha, genesis = origem).
deados em porções amazônicas e ao longo do sopé andi- O que hoje é identificado como continente sul-ame-
no, áreas de marcada influência do atual processo de ricano, com suas grandes bacias hidrográficas (Fig. 16.2),
soerguimento da cordilheira dos Andes ao longo princi- é resultante de pelo menos quatro grandes ciclos oroge-
palmente do Cenozoico. Mais recentemente outros estu- néticos, ou seja, quatro grandes fusões e outras quatro
dos trouxeram contribuições relevantes à compreensão grandes rupturas continentais, além do atual processo
da biogeografia de peixes Neotropicais. Ribeiro12 anali- orogenético andino14. Durante estes ciclos, processos de
sou a biogeografia dos peixes das drenagens costeiras do deformação continental, magmatismo e falhamentos
Brasil, na margem leste do continente sul-americano, originaram grande parte da atual estrutura geológica do
abordando detalhadamente a história tectônica e sua continente sul-americano.
significância na configuração de padrões de distribuição Dentre os ciclos orogenéticos que afetaram e
ao longo da margem atlântica em evolução a partir do resultaram na atual estrutura geológica do continente
Mesozoico. Hubert e Renno13 identificaram e propuseram sul-americano, dois possuem significado especial para
relações entre 11 grandes áreas de endemismo com base o entendimento da evolução atual da paisagem sul-
em análise parcimoniosa de endemicidade (PAE, parsi- -americana e, consequentemente, de sua biogeografia.
mony analysis of endemicity) (ver Cap. 3). São eles: o terceiro episódio de fusão continental e os
quatro eventos de fissão, ou ruptura continental. Tais
eventos são conhecidos na literatura especializada como
Estrutura Geológica e História ciclo Brasiliano/Pan-Africano e Ruptura do superconti-
nente Pangeia.
Tectônica do Continente O ciclo Brasiliano/Pan-Africano constitui, no conjun-
Sul-americano to, uma série de eventos complexos ocorridos entre 900
e 540 milhões de anos14. A esta altura alguém pode estar
Atualmente sabe-se que a evolução da paisagem de um se perguntando como eventos geológicos tão antigos (já
continente deve ser compreendida no contexto da tectô- que os primeiros peixes aos quais se tem notícia não
nica global. A Teoria da Tectônica de Placas de Alfred possuem muito mais do que 550 milhões de anos) podem
Wegener possui aceitação global atingida apenas por ser de relevância no entendimento da biogeografia da
poucas teorias científicas (ver Cap. 1), o que lhe confere fauna atual? Pois foi durante este período em que antigos
um status em Geociências comparável àquela atingida continentes se amalgamaram e originaram a maior parte
pela Teoria da Evolução nas Biociências ou Teoria da das províncias estruturais hoje presentes no continente
Relatividade na Física. sul-americano. Foi durante o ciclo Brasiliano/Pan-
Biogeografia dos Peixes de Água Doce da América do Sul – 267

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Figura 16.2 – Grandes bacias hidrográficas sul-americanas. Modificado de Lundberg et al.11.

Africano que antigos continentes (sua porções são hoje mente. Já os antigos cinturões orogenéticos circundantes
denominados crátons) colidiram entre si formando extensas guardam heranças de sua origem enquanto resultado de
áreas de dobramentos em seu entorno (hoje denominados colisões continentais, entre elas, um intrincado sistema
cinturões orogenéticos antigos). Juntas, estas diferentes de antigas falhas geológicas. Ao longo dos eventos tec-
províncias constituem-se na maioria dos chamados Escudos tônicos que se desenrolaram posteriormente, muitos
Cristalinos, ou seja, a maior porção do atual continente deles ativos até hoje, estes sistemas de falhas pré-cam-
sul-americano. Destas antigas cadeias montanhosas, hoje brianas foram e continuam sendo reativados, originando
totalmente erodidas, restam expostas apenas suas raízes importantes elementos da paisagem sul-americana, tais
mais profundas, contíguas aos crátons adjacentes. Os como bacias tectônicas modernas como o Pantanal e a
crátons, centrais nos escudos, são mais estáveis tectonica- depressão do Araguaia-Tocantins, entre outras15,16. Além
268 – Padrões e Processos – Estudos de Casos

disso, é a reativação destas antigas falhas por forças versos sistemas fluviais sul-americanos, tais como os dos
tectônicas modernas que gera processos de capturas de rios Paraná, São Francisco, Doce e Uruguai, os quais
rios entre bacias adjacentes12,17. A compreensão acerca parecem nascer e “fugir” de centros de abóbodas ou
da geologia estrutural do continente sul-americano é, megadomos soerguidos em direção ao interior dos con-
portanto, de crucial importância àqueles que pretendem tinentes, ou diretamente ao oceano20. Concomitantemente
estudar a biogeografia de peixes ou quaisquer outros à abertura do Oceano Atlântico inicia-se, por conseguin-
organismos. te, a evolução das drenagens costeiras sul-americanas.
O outro grande evento tectônico global de crucial Muitas delas evoluindo e encontrando seu caminho ao
relevância é a ruptura da Pangeia, mais especificamente, longo dos sistemas de falhas geológicas pré-cambrianas,
os momentos finais de fragmentação de um de seus tais como o Rio Paraíba do Sul, que segue retilíneo, en-
últimos grandes segmentos, Gondwana, que culminou caixado em antigo sistema de falhas, outros, erodindo o
com a ruptura da África e América do Sul. A ruptura de embasamento e aproveitando também os sistemas de
Gondwana não é um processo simples, ou mesmo sin- falha, mais suscetíveis à erosão, como no caso do vale
cronizado. Este evento tectônico magno, conhecido como do Rio Ribeira de Iguape21.
“Evento Sul-Atlântico” tem suas origens ainda no Triás- No lado oposto do continente, em sua margem con-
sico, com indícios geológicos associados ao processo de vergente, a Cordilheira dos Andes segue sua evolução
ruptura identificados nas margens equatoriais da Améri- concomitante, decorrente da subducção entre a placa
ca do Sul, da Guiana Francesa ao delta do amazonas continental sul-americana e a placa oceânica de Nazca.
entre 230 e 170 milhões de anos. Depois, entre 170 e 120 Embora a história andina ultrapasse no passado os limites
milhões de anos surgem indícios de atividade associada do Mesozoico, é a partir deste período que sua evolução
ao processo de ruptura mais ao sul, desde as margens moderna se institui. Esta possui íntima correlação com
costeiras da Argentina, Uruguai e Brasil, atingindo o atual processo de deriva continental, com a placa con-
a região da atual costa do Estado do Espírito Santo. Há tinental sul-americana convergindo contra a placa
cerca de 90 milhões de anos desfez-se definitivamente oceânica de Nazca, cuja deformação gera, em última
a conexão existente entre a África e a América do Sul na instância, o cinturão orogenético Andino14. De acordo
atual região do Nordeste Brasileiro e a costa da Nigéria com McQuarrie et al.22, o início do soerguimento andino
(ver referências citadas em Ribeiro12). remonta a pelo menos 70 milhões de anos.
A certa altura do processo de ruptura continental Margens convergentes, independentemente de sua
evoluiu, entre as margens divergentes dos futuros con- extensão, idade ou estágio de desenvolvimento, demons-
tinentes Africano e Sul-americano, uma grande bacia tram similaridades topográficas que permitem a distinção
fluvial alongada em sentido norte-sul, estendendo-se de uma série de fisiografias. Ao sopé do cinturão dobra-
entre zero e 20º de latitude sul, a chamada “Depressão do propriamente dito (fold-thrust belt) desenvolve-se
Afro-brasileira”. Este sistema fluvial interconectado, nos uma área deprimida denominada bacia de antepaís (fo-
quais estavam presentes sistemas fluviais e lacustres, reland basin). Tipicamente, ocorre uma flexura da
persistiu por milhões de anos, subdividindo-se em crosta nos flancos da bacia de antepaís denominada fo-
sistemas fluviais menores, ao longo do tempo que ante- rebulge11. Como a deformação do orógeno andino
cedeu a fase de influência marinha entre as margens progride para o leste, os sedimentos da bacia de antepaís
continentais18. vão sendo incorporados ao complexo montanhoso e a
Dentre as principais heranças da ruptura de Gondwa- bacia de antepaís, assim como o arco flexural migram
na para a atual paisagem sul-americana está o sistema de para leste juntamente com o orógeno. Áreas soerguidas
drenagem do planalto cristalino brasileiro, pelo menos dos planaltos adjacentes podem ser incorporadas ao
em sua porção mais ao leste, marcadamente influenciada conjunto de terras baixas da bacia de antepaís, por exem-
pelos processos de ruptura continental. De acordo com plo, o Pantanal, uma bacia tectônica interconectada as
alguns modelos, plumas ascendentes do manto causariam terras baixas do Chaco16. As bacias de antepaís formam
deformações em abóboda com centenas de quilômetros um conjunto de terras baixas ao sopé andino que podem
de diâmetro entre os continentes em separação, causando sofrer transgressões marinhas esporádicas. Isto pode se
um padrão de drenagem característico, no qual os rios desenvolver em consequência do aumento do nível dos
passam a drenar do centro soerguido (localizado na região oceanos em determinado momento, ou por afundamento
central do rifte) para suas margens (localizadas tanto para (subsidência) da própria bacia de antepaís, impulsiona-
as vertentes africanas como sul-americanas)19. Tal padrão da, por exemplo, por maior taxa de compressão entre as
de drenagem é característico e visível ainda hoje em di- margens convergentes em interação.
Biogeografia dos Peixes de Água Doce da América do Sul – 269

Padrões Biogeográficos Alguns grupos sul-americanos estão mais proximamente


relacionados aos grupos africanos do que com os demais
representantes Neotropicais. Estudos filogenéticos25
Grupos Gondwânicos e Ruptura Afrobrasileira identificam, por exemplo, que as bicudas sul-americanas
Diversos representantes da atual fauna de peixes de água (gêneros Boulengerella e Ctenolucius) e as traíras
doce da América do Sul claramente pertencem às linha- (Erythrinidae) estão mais intimamente relacionadas ao
gens de ampla distribuição em Gondwana, antecedendo gênero Hepsetus da áfrica do que aos demais grupos sul-
a separação entre os continentes africano e sul-america- -americanos. O mesmo ocorre para o gênero Neotropical
no23. A piramboia sul-americana (Lepidosiren paradoxa: Chalceus, cujas afinidades de parentesco se dão com
Lepidosirenidae) corresponde ao grupo irmão dos peixes demais membros da família africana Alestidae26. É pos-
pulmonados africanos do gênero Protopterus (Protop- sível que, com o avanço dos estudos filogenéticos, vários
teridae) e ambos correspondem ao grupo irmão do outros grupos neotropicais venham a ser considerados
peixe pulmonado australiano (Neoceratodus forsteri como pertencentes aos clados transoceânicos, ou seja,
[Krefft, 1870]: Ceratodontidae). Fósseis de Lepidosiren cujas raízes evolutivas antecedem a ruptura de Gondwana.
cf. paradoxa são conhecidos do Cretáceo Superior ao Enquanto fósseis de Characiformes são conhecidos já do
Paleoceno no Peru e Bolívia e de Lepidosiren paradoxa Terciário da Europa23 e de vários depósitos da América
no Eoceno da Argentina10. Uma outra família, Cerato- do Sul e África27, a identidade de fósseis de Characiformes
dontidae, cujo único representante vivente é o peixe mais antigos é um assunto debatido. Possíveis dentes de
pulmonado australiano, ocorre na América do Sul apenas traíras (Erythrinidae) são encontrados em depósitos do
como fósseis. Estudos moleculares têm sugerido que a Cretáceo Superior e início do Paleoceno27, constituindo-se
divergência entre Ceratodontidae e o clado formado por evidências importantes da idade mínima de alguns sub-
Lepidosirenidae e Protopteridae tenha ocorrido ainda no grupos dentre os Characiformes.
final do Paleozoico, há pelo menos 277 milhões de anos, Dentre os Siluriformes, alguns estudos sugerem que
enquanto a divergência entre os peixes pulmonados sul- diversas linhagens sul-americanas estão mais proxima-
-americanos e africanos gira em torno de 120 milhões mente relacionadas às linhagens africanas, tais como os
de anos24. É possível, portanto, que neste último caso a Doradoidea neotropicais e Mochokidae da África, Lo-
separação entre a África e a América do sul corresponda ricarioidea (Região Neotropical) e Amphiliidae (África),
ao evento cladogenético responsável pela divergência assim como Aspredinidae (Região Neotropical) e Siso-
entre as linhagens africanas e sul-americana modernas. roidea (Ásia)28.
A superordem Osteoglossomorpha (que na América
do Sul inclui o Pirarucu e os Aruanãs) também se enqua-
dra no grupo de peixes cujas linhagens antecedem a
Margem Atlântica em Evolução e
ruptura afrobrasileira. Os Osteoglossomorpha estão entre Biogeografia da Ictiofauna Correspondente
as linhagens mais basais dentre os peixes atuais (Fig. 16.1) Um exemplo da contínua evolução faunística em íntima
e com exceção da irradiação moderna da família africana associação aos eventos geológicos que governam a
Mormyridae (com mais de 200 espécies), esta superordem evolução das bacias hidrográficas ao longo do tempo,
é representada por relativamente poucos grupos recentes, pode ser visto na fauna das drenagens costeiras do leste
e seu registro fóssil é extenso10. Arapaima gigas (Schinz, brasileiro. Ribeiro12 revisou os padrões de diversidade
1822), o pirarucu é considerado o grupo-irmão de envolvendo os rios costeiros e as drenagens do escudo
Heterotis niloticus (Cuvier, 1829) da África, ambos adjacentes, e os relacionou à história geológica da região.
pertencentes à família Arapaimatidae. Já os aruanãs sul- Quando entendida do ponto de vista de suas relações
-americanos (Osteoglossum) estão mais proximamente filogenéticas, conclui-se que a grande diversidade de
aparentados com Scleropages, os “Aruanãs” da Ásia e peixes endêmicos dos rios costeiros é também compar-
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Austrália e são todos inclusos na família Osteoglossidae10. tilhada com as áreas adjacentes do escudo brasileiro,
Por fim, dentre os representantes sul-americanos, cujas embora em diferentes níveis hierárquicos. Tratam-se de
raízes filéticas comprovadamente remontam ao período faunas irmãs, desde níveis muito inclusivos (relações
que antecede a ruptura afrobrasileira, estão os Chara- entre subfamílias) passando por níveis intermediários
ciformes e Siluriformes. Além da América do Sul, os (relações entre gêneros) aos níveis menos inclusivos
Characiformes também estão na África, embora lá o onde se compartilham populações da mesma espécie
grupo apresente irradiação menor, tanto em número de (padrões designados por Ribeiro12 como padrões A, B e
famílias (quatro) quanto em espécies (pouco mais de 250). C, respectivamente).
270 – Padrões e Processos – Estudos de Casos

Os diferentes níveis de compartilhamento faunístico et al.8 delinearam o padrão de distribuição do grupo (então
entre estas regiões sugerem que os eventos cladoge- considerado como tribo Glandulocaudini), com base no
néticos entre as grandes bacias do escudo cristalino estudo de relações filogenéticas conhecido na época. Foi
brasileiro e os rios costeiros são contínuos ao longo do invocada uma combinação dos fenômenos de capturas e
tempo. Eventos antigos são responsáveis pelo reco- cabeceiras entre rios de drenagens distintas e abaixamento
nhecimento dos níveis hierárquicos mais inclusivos, do nível do mar durante o fim do Pleistoceno como deter-
enquanto eventos recentes promovem o compartilhamen- minante nos processos de dispersão e vicariância. O
to de populações da mesma espécie nas diferentes áreas. conhecimento mais recente da filogenia de Glandulocaudinae

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Desde o final da ruptura do supercontinente Gondwana e de aspectos da evolução tectônica da parte sul Cisandina
aos dias atuais, as drenagens costeiras vêm evoluindo na da América do Sul32 possibilitaram uma explicação algo
margem leste do continente. Tal evolução geomorfológica diferente. Foi reconhecida a importância das flutuações do
está intimamente relacionada aos eventos tectônicos anti- nível do mar na distribuição geográfica do grupo. Entretan-
gos e recentes ocorridos na região. Diferentemente do que to, a diversificação atual de Glandulocaudinae foi admitida
se acreditava há algumas décadas, a margem leste da como resultante principalmente de reativações tectônicas
América do Sul apresenta intensa atividade tectônica29-31, ao longo da margem oeste da bacia do Paraná superior, da
o que promove intenso rearranjo entre drenagens entre o história tectônica da margem leste da mesma bacia e
escudo cristalino e os tributários diretos do Oceano Atlân- da atividade tectônica do arco de Ponta Grossa, uma área
tico com consequente miscigenação faunística12. sujeita a levantamento tectônico recente que provavelmen-
Ribeiro et al.17, ao analisar a modesta ictiofauna da te proporcionou contato entre rios costeiros e afluentes da
bacia do Guaratuba, uma cabeceira situada no alto da parte alta adjacente a leste do Rio Paraná superior.
Serra do Mar paulista, identificaram, de forma muito As áreas dos antigos cinturões orogenéticos, dos quais
clara, a maneira pela qual diferentes bacias hidrográficas nascem cabeceiras de diversos quadrantes hidrográficos,
permutam sua ictiofauna. A Serra do Mar corresponde são sabidamente áreas preferenciais das reativações
a uma das inúmeras feições geomorfológicas que atuam tectônicas antigas e recentes15. Diversos divisores de
como divisores de água entre grandes bacias hidrográ- água são transecionados por extensas zonas de falha
ficas. Tal qual a Serra do Mar, a maior parte das regiões pré-cambrianas, muitas delas com atividade tectônica
serranas divisoras de água entre grandes bacias hidro- comprovada de menos de 1,6 milhão de anos33. Mecanis-
gráficas do escudo brasileiro originou-se exatamente nas mos análogos aos ocorridos na bacia do Guaratuba são
zonas de dobramentos e falhamentos antigos, caracteri- potencialmente passíveis de acontecer ao longo de exten-
zadas por intensa atividade tectônica ressurgente (Fig. sas áreas que representam divisores de água entre grandes
16.2). Ainda que drenando diretamente para o Oceano bacias, por exemplo, entre as bacias do Paraná, Tocantins,
Atlântico, a ictiofauna do trecho superior da bacia do Araguaia, São Francisco, Paraíba do Sul, Rio Doce, entre
Rio Guaratuba, o qual está isolado de seu trecho inferior outras. As deformações tectônicas nestas regiões ocasio-
pelos contrafortes escarpados da Serra do Mar, possui a nam rearranjos de drenagem de diversas magnitudes.
mesma fauna de peixes de sua bacia vizinha, a do Rio Desde capturas de cursos pequenos, como o Guaratuba,
Claro. Esta corresponde a um dos inúmeros tributários a grandes eventos, como a famosa captura do trecho su-
do alto Rio Tietê, cuja fauna é muito distinta daquela perior do Paraíba do Sul, antigo tributário do Rio Tietê30.
típica da província costeira. O fato de a fauna do Gua- Outros eventos de grande magnitude também são asso-
ratuba ser idêntica daquela do Tietê levantou a hipótese ciados aos movimentos tectônicos recentes, por exemplo,
de que o trecho superior do Guaratuba fosse um frag- a origem da planície alagada do Pantanal Mato-grossense,
mento capturado do Rio Claro para a drenagem do e as depressões do Araguaia e Tocantins, todas associadas
Guaratuba, que deságua no Oceano Atlântico. Uma às reativações de grandiosas zonas de fratura continentais
análise morfotectônica, efetuada pelos autores demons- pré-cambrianas, cuja importância no intercâmbio faunís-
trou que a reativação de falhas geológicas presentes na tico entre bacias não pode ser negligenciado.
região, fora a responsável pela captura do trecho superior
do Rio Guaratuba levando consigo sua antiga ictiofauna Escudos Cristalinos Antigos e
para seu novo curso, como tributário direto do Oceano
Atlântico e não mais do alto Rio Tietê17.
Distribuições Disjuntas
Talvez o grupo de peixes de água doce da América do Sul A paisagem sul-americana possui dois grandes compo-
mais bem estudado do ponto de vista biogeográfico seja nentes que podem ser prontamente identificados. Seu
Glandulocaudinae, uma subfamília de Characidae. Weitzman amplo território se subdivide em um conjunto de terras
Biogeografia dos Peixes de Água Doce da América do Sul – 271

baixas, cujos limites podem ser arbitrariamente definidos Muitas espécies de peixes endêmicos de regiões de
como aqueles com cotas abaixo de 250m acima do nível grande altitude nos escudos cristalinos parecem represen-
do mar34 e um conjunto de terras altas, excetuando-se tar grupos antigos, com distribuições relictuais. Dentre os
os Andes, cujas altitudes normalmente ultrapassam a Glandulocaudinae já citados, por exemplo, os grupos mais
cota dos 500m (Fig. 16.3). Tal divisão, embora arbitrária, basais na filogenia possuem distribuição restrita às regiões
é de grande significado biogeográfico e ecológico para serranas do Brasil Central. Lophiobrycon weitzmanni,
a fauna de peixes da América do Sul. grupo irmão dos demais gêneros da subfamília, é conhe-
Nas regiões planálticas sul-americanas predominam rios cido apenas da Serra da Canastra em Minas Gerais. O
com elevado gradiente e, por conseguinte, muita energia, o grupo irmão subsequente, gênero Glandulocauda,
que se traduz em rios encachoeirados, encaixados em seus também está restrito ao alto da Serra do Mar. Apenas o
vales. Nestes sistemas, planícies de inundação são relativa- gênero Mimagoniates, mais diversificado, possui distri-
mente reduzidas, restritas às porções baixas das grandes buição em áreas de terras baixas17,32. Ribeiro et al.35, ao
bacias planálticas. Uma das características de muitos siste- incluírem uma espécie recém-descoberta de lambari do
mas hidrográficos planálticos é que estes possuem rios gênero Creagrutus na filogenia do gênero, evidenciaram
denominados “superimpostos”, o que significa que seu que aquela espécie, ocorrente na bacia do alto Paranaíba
curso ignora ou se sobrepõe às estruturas litológicas. O em Minas Gerais e Goiás, correspondia ao grupo irmão
motivo para isso é que tais drenagens são antigas e já deve- de todas as demais espécies do gênero, com ampla dis-
riam estar estabelecidas em períodos em que as estruturas tribuição Trans e Cisandina. As antigas terras altas do
por elas cortadas ainda não afloravam. Com a evolução do planalto brasileiro abrigam, portanto, representantes
processo erosivo acarretado pela drenagem, esta, já estabe- relativamente antigos da irradiação moderna da fauna de
lecida, simplesmente “passou por cima” de estruturas que, peixes de água doce da América do Sul.
de outra forma, condicionariam seu curso. De fato, muitas O fato de grandes bacias hidrográficas serem imensas
das drenagens planálticas sul-americanas tiveram seus áreas isoladas umas das outras levou a inevitável ideia,
cursos gerais determinados pelos processos de soerguimen- muito difundida, de que cada bacia deveria constituir
to que antecederam a ruptura de Gondwana19. grande área de endemismo. Realmente, muitas espécies

Escudo das
Guianas

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A B
Terras Baixas (abaixo de 250m)

Figura 16.3 – (A) Topografia do continente sul-americano visto a partir das imagens de Shuttle Radar Topography Mission
(SRTM) da National Aeronautics and Space Administration (NASA) obtidas a partir de interferometria de radar. (B)
Compartimentalização do continente em terras altas e baixas (abaixo de 250m acima do nível do mar).
272 – Padrões e Processos – Estudos de Casos

são endêmicas de determinadas bacias hidrográficas, mas Chile e norte do Peru, semidesértica e com pouquíssimos
a verdade é que muitas outras possuem distribuições que peixes de água doce, e uma região setentrional, do norte
ultrapassam os limites dos divisores de água entre bacias. do Peru às bacias do lago de Maracaibo na Venezuela,
Certos grupos com distribuição tipicamente planáltica com uma fauna de peixes relativamente bem diversifi-
podem, por exemplo, ocorrer em diversas drenagens, cada. A afinidade dessa fauna com àquela ocorrendo na
transpondo os limites de seus divisores, porém sempre América do Sul cisandina já havia sido apontada por
associadas às suas cabeceiras, ou seja, nas porções mais Eigenmann36, que escreveu: “the fauna [dos rios trans-
altas da bacia. Diversos exemplos são dados por Lima e andinos] is largely a part of the general South American
Ribeiro34 para as drenagens dos rios Tapajós, Madeira e fauna which has been pinched off by the formation of
Tocantins-Araguaia. Tal ocorrência demonstra que, tal the Andes, and has gone its own way since the Andes
qual se dá na margem divergente da América do Sul, have become high enough to form an effective barrier
capturas entre bacias adjacentes impulsionada por reati- against the ready intermigration between the cisandean
vações tectônicas certamente acontecem em muitas outras and transandean parts of the continent”. A conecti-
regiões, incluindo o Brasil central. Grandes feições da vidade das drenagens do noroeste da América do Sul
paisagem atual são resultantes destes processos tectôni- com àquelas do resto do continente começou a ser in-
cos, tais como a depressão do Araguaia-Tocantins e a terrompida no meio do Mioceno, com o começo do
depressão do Pantanal mato-grossense. Todos resultantes soerguimento da cordilheira oriental na Colômbia, que
de reativações tectônicas relativamente recentes que determinou o atual curso do Rio Madalena (12 a 11,8
aproveitaram o sistema de falhas geológicas antigas15. Ma) e culminou com a mudança da foz do Rio Orinoco
Outro padrão biogeográfico bastante recorrente se das bacias do Maracaibo/Falcon para uma posição mais
refere às espécies comuns, porém disjuntas entre o Es- ao leste, no final do Mioceno (8 Ma)11. Esse grande
cudo das Guianas e o Escudo Brasileiro34. Tal padrão evento vicariante pode ser traçado tanto pela ocorrência
poderia constituir um típico padrão relictual. Dados de diversos fósseis, tanto de peixes como de outros
geológicos apontam, de fato, que as cabeceiras do que vertebrados aquáticos, hoje restritos a drenagens do
hoje são os tributários das margens sul e norte da Ama- norte da América do Sul cisandina, como grande bagres,
zônia Oriental poderiam constituir cabeceiras de uma pirarucus, tambaquis, tartarugas mata-matas, jacaré e
grande drenagem tipicamente planáltica20, hoje marca- botos, em formações miocênicas nas bacias dos rios
damente influenciada pela atual foz do amazonas, Madalena e do Lago de Maracaibo11,37,38, como pela
atuante como uma barreira ecológica atual para estes ocorrência de múltiplas relações de grupos irmãos en-
grupos planálticos34. contrados entre táxons trans e cisandinos9,34.

Cordilheira dos Andes e suas Distribuições Singulares


Consequências Biogeográficas Dentre os padrões biogeográficos envolvendo os peixes
O soerguimento da cordilheira dos Andes é um evento da América do Sul, alguns são muito peculiares. Por
magno, de grandes consequências para a evolução da exemplo, alguns grupos endêmicos dos altiplanos andinos
paisagem sul-americana e, por conseguinte, de sua ic- possuem afinidades inesperadas. O gênero Orestias, um
tiofauna. Tradicionalmente, a ictiofauna sul-americana grupo de aproximadamente 40 espécies de peixes da or-
se divide em um componente Cis (a leste) e outro Trans dem Cyprinodontiformes são endêmicos de rios e lagos
(oeste) andino, dada a grande distinção que se reconhe- de altitude, entre a região central do Peru e o norte do
ce entre as faunas separadas entre os dois lados desta Chile, sendo mais diversificados no Lago Titicaca, onde
cordilheira. Entretanto, grupos transandinos possuem se dá mais de 60% da diversidade do grupo39. É um gru-
relações filogenéticas com grupos cisandinos em dife- po cujas afinidades filogenéticas são controversas, tendo
rentes níveis. Com certeza, a evolução da cordilheira dos sido já considerados como relacionados aos subgrupos de
Andes, que se iniciou ainda no Cretáceo, não corresponde Cyprinodontiformes norte-americanos e, como alternati-
a um evento de vicariâncias simples, mas assincrônico va, a grupos sul-americanos, ou ainda aos membros da
e regionalmente diferenciado. família Cyprinodontidae do velho mundo, habitantes de
A porção transandina da América do Sul pode ser água doce ao redor dos mares Mediterrâneo, Negro, Ver-
dividida em três regiões: uma região meridional, que melho e da Arábia. Costa39, entretanto, identificou que
corresponde ao Chile e que apresenta uma ictiofauna Orestias consiste no grupo irmão de um clado mais
tipicamente austral, a região situada entre o norte do inclusivo que abrange os membros da América Central e
Biogeografia dos Peixes de Água Doce da América do Sul – 273

ao redor do Mediterrâneo. A constatação de que a fauna onde o nível dos oceanos foi mais abaixo do que o atual
de Orestias do altiplano andino possui afinidades com em até 100m, aumenta-se consideravelmente a extensão
outras regiões biogeográficas é surpreendente, uma vez das terras baixas sul-americanas. Em muitas das terras
que para a maior parte dos grupos Neotropicais de água baixas sul-americanas diversidade de peixes de água
doce, as afinidades se dão com outros componentes da doce atinge seu auge no que se refere ao número de
região Neotropical ou da Gondwana. Outros grupos de espécies em coexistência.
ocorrência nos altiplanos possuem suas relações com Diferentemente dos planaltos adjacentes, as terras bai-
outras áreas da região Neotropical39. xas sul-americanas (as quais se constituem em grandes
A família Galaxiidae (ordem Salmoniformes) é um bacias sedimentares mesozoicas e cenozoicas) possuem
grupo que compreende cerca de 50 espécies, que apre- sistemas fluviais caracterizados por extensas planícies de
senta uma distribuição austral, ocorrendo no sudeste da inundação de grandes rios meandrantes. Enquanto nos
Austrália, Tasmânia, Nova Zelândia, Nova Caledônia, planaltos predominam rios encaixados, nas terras baixas
sul da América do Sul (Chile e Patagônia argentina), sul seus leitos oscilam ao longo de toda sua bacia de sedimen-
da África do Sul, além de diversas ilhas neozelandensas, tação durante milhares de anos. Desenvolve-se ainda, em
a ilha Lord Howe (Austrália) e as ilhas Falklands (Mal- áreas onde rios Andinos atingem as terras baixas adjacen-
vinas) (Argentina)40. Sete espécies ocorrem na América tes, a evolução de megacones fluviais: testemunhos dos
do Sul, no Chile, Argentina e ilhas Falklands40. Há grande graus de oscilação que os canais perfazem ao longo das
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controvérsia sobre a biogeografia da família. Para alguns, planícies em sua longa evolução geomorfológica43. De-
ela constitui um dos melhores exemplos de táxons apre- pendendo de onde se localizam suas cabeceiras, grandes
sentando uma distribuição ancestral gondwânica41. rios das terras baixas sul-americanas podem ser caracteri-
Contudo, a presença de diadromia no grupo, a pouca zados como de água preta (carregados de ácidos húmicos,
diferenciação das linhagens de Galaxiidae entre os dife- resultado da decomposição de matéria vegetal, lixiviado
rentes continentes (por exemplo, a ocorrência de uma dos solos arenosos), tais como aqueles que descem as
mesma espécie, Galaxias maculatus, uma espécie vertentes do Escudo das Guianas; de água branca, carre-
diádroma, no sul da América do Sul, Nova Zelândia, gados de sedimentos proveniente dos Andes, ou de água
Austrália, em diversas ilhas neozelandesas e australianas, clara, quando descem das áreas lavadas do Escudo Brasi-
bem como nas ilhas Falklands) e a não relação entre leiro. Tal distinção acarreta grandes consequências
ecológicas nas comunidades aquáticas sul-americanas34.
espécies ocorrentes em determinada área com a história
As terras baixas sul-americanas podem ser divididas
geológica (por exemplo, o acontecimento de espécies
em dois grandes conjuntos quanto sua origem geológica:
com afinidades sul-americanas, Aplochiton zebra e
depressões tectônicas encravadas nos escudos e bacias
Galaxias maculatus nas ilhas Falklands/Malvinas, um
de antepaís. As grandes depressões, tal qual a Depressão
bloco crustal que se desprendeu do sul da África) indicam
do Araguaia-Tocantins são oriundas de reativações tec-
que dispersão transoceânica deve ter tido papel prepon-
tônicas de falhas geológica antigas dos escudos, ao
derante no estabelecimento do atual padrão de distribui-
passo que as bacias de Antepaís constituem-se terras
ção geográfica do grupo42. O mesmo é verdadeiro para
rebaixadas que se estabelecem ao sopé andino como um
as lampreias sul-americanas, Geotriidae e Mordaciidae,
arco flexural consequente do mesmo processo que gera
distribuídas através do sul da Austrália, Tasmânia, Nova
a deformação da cadeia montanhosa vizinha, num pro-
Zelândia, Chile e Argentina, cujos juvenis, após longo
cesso típico de margens convergentes.
período larval em água doce, vivem por três a quatro anos
As bacias de antepaís, tais como a do Chaco, que se
crescendo e se alimentando no mar42.
interconecta com a depressão do Pantanal, são áreas
rebaixadas que recebem esporadicamente transgressões
Terras Baixas Sul-americanas marinhas, quer seja em decorrência do aumento geral
dos níveis dos oceanos, quer seja pelo seu rebaixamen-
e Transgressões Marinhas to tectônico eventual. Embora a extensão e a frequência
Abaixo de 250m de altitude estendem-se, no continente das transgressões marinhas ao longo das terras baixas
sul-americano, milhões de quilômetros quadrados de sul-americanas sejam assunto de grande debate 44,
planícies, muitas delas extensas áreas alagáveis, tais acredita-se que a maior e mais recente delas tenha inun-
como a planície pantaneira e as terras baixas amazônicas. dado todo o conjunto de terras baixas do Chaco-Pantanal,
Caso se considere que a atual plataforma continental assim como o sopé andino ao norte, criando uma cone-
esteve emersa durante períodos glaciais do Pleistoceno, xão marinha entre o Oceano Atlântico Sul e o Caribe
274 – Padrões e Processos – Estudos de Casos

através de seu braço norte, e estendendo-se a leste pelas


terras baixas amazônicas até a atual foz do Rio Amazo-
Considerações Finais
nas aproximadamente entre 15 e 12 milhões de anos45. Neste capítulo são abordados alguns aspectos conside-
Dados de distribuição de espécies de peixes de água rados relevantes acerca da biogeografia de peixes de água
doce demonstram que as terras baixas são áreas propicias doce da América do Sul. Contudo, como já salientado
à expansão da distribuição geográfica da fauna aquática. em seu início, não se pretende aqui esgotar o assunto, o
Diversas espécies de peixes e outros grupos de água doce qual abarca muitos detalhes complexos, cuja abordagem
possuem distribuição que ultrapassa os limites dos atuais não cabe nesta pequena introdução. O crescente avanço
divisores de água entre as grandes bacias de antepaís ao nas técnicas utilizadas em estudos de biologia com-
sopé andino, estendendo-se também por outras áreas parativa, dentre eles aqueles com possibilidades de
baixas sul-americanas, tais como a extensa bacia do obtenção de filogenias e datações cada vez mais precisas,
Prata, ao sul, a maior parte das terras baixas amazônicas aliado ao aumento da compreensão dos processos em

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e atingindo as terras baixas tectonicamente desenvolvi- geologia histórica e tectônica conduzem a um terreno
das nos escudos cristalinos, tais como a depressão do fértil de exploração científica. Se por um lado muitos
Araguaia-Tocantins34. O padrão também se repete para padrões antigos parecem já quase indistinguíveis, dada
muitos táxons em que já existem disponíveis filogenias, a intensa dinâmica de paisagem sul-americana, e apenas
onde se percebe a relação de grupos irmãos entre bacias podem ser acessados com base em estudos comparativos
de antepaís adjacentes34. O dinamismo tectônico e geo- abrangentes (incluindo grupos fósseis), por outro lado
morfológico associado às terras baixas sul-americanas abordagens ao nível molecular poderão contribuir para
certamente promove a expansão da distribuição geográ- a identificação de padrões de irradiação modernos a
fica de diversos táxons, porém também promove partir de estudos filogeográficos. Entretanto, não pode-
vicariância, o que se reflete na relação de grupos irmãos mos esquecer que estes avanços só serão possíveis com
ao longo das bacias de antepaís. Os diferentes níveis de o continuo aumento da informação disponível sobre a
inclusão destes padrões de grupos irmãos demonstram verdadeira identidade taxonômica e a real conhecimen-
que a dinâmica destas terras baixas é constante, culmi- to acerca da distribuição geográfica das espécies de
nando em padrões semelhantes, mas que podem estar peixes de água doce. Embora se tenha progredido con-
distantes no tempo. sideravelmente neste assunto, ainda se está muito longe
As grandes transgressões marinhas que invadem a de vislumbrar a verdadeira grandeza da diversidade de
plataforma sul-americana pelas extensas baixadas peixes da América do Sul, no que se refere aos seus
constituem-se a porta de entrada para táxons de origem padrões e processos. Sem tais estudos taxonômicos
marinha, podendo explicar muitos dos grupos secunda- básicos, métodos analíticos avançados e caros correm o
riamente de água doce hoje encontrados nos sistemas risco de tornarem-se apenas desperdícios frustrantes.
fluviais sul-americanos. Entretanto, esta óbvia correlação
deve ser vista com cautela. A distribuição secundaria- R efeRências B iBliogRáficas
mente marinha de muitos dos atuais grupos, tais como 1. REIS, R. E.; KULLANDER, S. O.; FERRARIS, C. J. Check
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tica abrangente propôs que a linhagem de Potamotrygo- including a study of the ecological grouping of species and the
relation of the fauna of the plateau to that of the lowlands. Mem.
nidae seria ainda muito mais antiga, com idade mínima Carnegie Mus., v. 5, n. 1, p. i-xx, 1912.
de 50 milhões de anos47. Tal hipótese não relaciona, 5. GÉRY, J. The freshwater fishes of South America. In: FITTKAU,
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