Vous êtes sur la page 1sur 2

Consumismo não é capitalismo.

Recentemente, debatendo com um esquerdista, deparei-me com a afirmação de que


consumismo é uma expressão do capitalismo. Ao rebater e explicar longamente que
consumismo é fruto do constante aumento geral de preços e que tal fenômeno é causado
pelo estado, o esquerdista relinchou e a plateia aplaudiu o relinche - ao apontar que este
indivíduo não conhecia suficientemente de economia para debater o assunto em questão,
a plateia reagiu como se eu houvesse dito algo absurdo e falacioso. No entanto, o debate
inspirou-me a colocar aqui o argumento.
Primeiramente, consumismo é um fenômeno observado na realidade, no qual indivíduos
apresentam baixa preferência temporal, consumindo quase sem realizar poupança - ou
mesmo consumindo-a -, geralmente por coisas "supérfluas" - conforme a crítica ao
consumismo.
No entanto, observa-se que o próprio adjetivo, "supérfluas", já apresenta um ponto do
argumento: o de que o consumismo é provocado, dentre outros motivos, por uma
valoração subjetiva baixa da moeda ou meio de troca empregado em relação aos outros
produtos e serviços presentes no mercado pois, se a valorasse mais, o consumo não seria
tão "intenso", pois tender-se-ia a poupar mais.
E isso é possível de ser deduzido praxeologicamente, além de poder-se argumentar
apontando para a realidade de países com hiperinflação: os indivíduos usam meios
escassos para alcançar fins, meios estes que julgam serem os mais apropriados possível.
Se a utilidade da moeda decai rapidamente, é mais interessante comprar/consumir hoje do
que amanhã, trocando-a por algo cuja utilidade não decaia na mesma velocidade.
Em um cenário de hiperinflação, a preferência temporal dos indivíduos cai. Isso foi
observado aqui mesmo no Brasil, durante governo Sarney, quando houve a tentativa de se
controlar a inflação congelando os preços, e os mesmos eram ajustados mensalmente
pelo índice da inflação que o governo permitia. Pela expectativa de aumento de preços do
mês seguinte, as pessoas corriam aos supermercados assim que os preços eram
reajustados porque sabiam que 1- teriam mais chances de encontrar os produtos e 2-a
moeda perderia muito valor para o mês seguinte.
Tanto é esse o caso que diversas famílias criaram o hábito de realizarem as compras no
supermercado pensando na duração de pelo menos um mês - a minha foi uma delas. Foi
lançado o "Jogo do mês" para ensinar as crianças com um jogo a planejarem suas
economias mensalmente, por exemplo - talvez reflexo disso mesmo. Isso coincide com a
prática inflacionária do governo de permitir reajustes mensais - a periodicidade de tempo é
a mesma não à toa.
Não é de se estranhar, pois ao possuir o monopólio dos meios de troca - moeda, crédito,
outros - o estado não só não possui incentivos para a manutenção de seu poder de
compra/reserva de valor, como possui todos os incentivos para desvalorizá-la: ao
aumentar a oferta monetária a partir de si, por efeito Cantillon, o estado é capaz de subtrair
o poder de compra dos indivíduos para si em um estalar de dedos - ou apertar de botões
em um computador. Ele pode transferir esse poder de compra para seus agentes e
amigos, e os efeitos negativos só serão vistos meses ou mesmo anos depois. A própria
dívida pública obtida com tal subterfúgio só afetará gravemente as gerações futuras.
Já os incentivos contrários são observado em moedas privadas e no mercado
internacional: os indivíduos, livres e capazes de adquirir outras moedas, preferem aquelas
que mantém seu poder de compra àquelas que não mantém. Dentre as criptomoedas, não
só há pouca desvalorização durante o tempo, mas é observado ou a manutenção ou o
aumento exponencial de valor e poder de compra. O Bitcoin é um dos exemplos: seu valor
mínimo, ano a ano, está sempre crescendo. Porque as pessoas fogem de más moedas e
correm para boas moedas, em um sistema de competição por meios de trocas as pessoas
naturalmente irão atrás daquelas que não só não desvalorizam mas daquelas que
valorizam, criando portanto um incentivo, para os fornecedores de moeda, que a façam
ganhar valor e poder de compra.
Tanto o consumismo não é natural ao capitalismo que os próprios economistas apologetas
do estado afirmam com assombro que se tivéssemos "deflação" poderíamos cair em uma
espiral de falta de consumo e aumento de poupança, desacelerando a economia. Isto é, o
temor deles é de que, se os preços médios caírem continuamente, as pessoas irão
aumentar sua preferência temporal, poupando ao invés de consumir, o que levará as
empresas a terem de baixar seus preços para atrair consumo, o que levaria a uma
redução geral de preços, e assim ad infinitum.
Não cabe aqui senão pontuar que só existe produção porque há consumo, e que portanto
estamos seguros dessa armadilha econômica: não só nem todo consumo pode ser
postergado, como o motivo pelo qual as pessoas produzem é para que possam trocar sua
produção por consumo. A tempo: as pessoas não consomem iPhone porque iPhones são
produzidos - iPhones são produzidos porque pessoas consomem iPhones.
No entanto, uma "deflação" é justamente o que vemos no mercado de moedas privadas.
Frente ao Bitcoin, duas pizzas que antes custavam 10 mil unidades dessa moeda hoje
custam frações da mesma. A própria tendência do mercado é deflacionária: tudo o mais
constante, um aumento de produtividade levará a uma redução de preços, não somente
pelo aumento da competitividade, mas pela redução relativa de oferta de dinheiro.
A fim de que fique claro: em uma sociedade que produz mil maçãs e tem uma oferta
monetária de mil reais, a tendência é de que cada maça custe R$ 1,00. Mantendo a oferta
monetária constante e aumentando a produção de maçãs para 2 mil, a tendência é de que
cada maçã agora custe R$ 0,50.
Assim sendo, ao defender o espólio do poder de compra dos indivíduos pelo estado, os
economistas apologetas estão afirmando que o estado deve ter uma política inflacionária
justamente para incentivar o... consumismo. Não sendo, portanto, natural ao capitalismo
que haja redução do poder de compra da moeda, não é natural que haja consumismo no
capitalismo.
Um último exemplo deve bastar, e para isso recorrerei a uma fonte de esquerda: Karl
Marx. Em "das Kapital", Marx descreve o capitalismo e assim o nomeia por se tratar de um
sistema econômico baseado no acúmulo de capital. Ora, acúmulo significa que, ao invés
de consumir, está-se poupando capital. O próprio Marx admite que o capitalismo é
baseado na abstinência de consumo! E os principais empreendimentos são hoje
realizados a partir de empréstimos e investimentos, isto é, capital que deixou de ser
consumido.
Assim sendo, e considerando que só há produção daquilo que as pessoas querem
comprar, argumenta-se aqui que:
1-Consumismo é causado pela pressão de aumento de preços causada pelo aumento da
oferta monetária monopolista estatal;
2-Capitalismo é sobre poupar, não consumir;
3-A produção desenfreada das empresas é para satisfazer o consumismo causado pelo
estado;
4-O consumismo é, na prática, a prova do desprezo do povo pela moeda estatal,
preferindo produtos ao seu meio de troca;
Logo, resta evidente que o consumismo não é uma expressão do capitalismo, e sim, uma
expressão do estatismo, brincando -para o nosso desprazer - de economia.

Vous aimerez peut-être aussi