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1.

Introdução

A educação está hoje onde a medicina se encontrava quatro décadas atrás. Em 1970 o
conceito de medicina baseada em evidências começou a ganhar corpo, assim como atualmente
vêm surgindo diversos novos estudos quantitativos e qualitativos no campo da educação,
buscando relações, formas e indicadores que possam nos permitir pautar decisões em fatos e
não na arte ou no instinto.
Um tema que ainda não é destaque mas que é de grande relevância dentro do âmbito
da gestão escolar é o da cultura organizacional. As organizações escolares se enquadram no
conceito proposto de organização que é compreendida “como, uma entidade social,
constituída por pessoas e pelas relações de cooperação que se estabelecem entre essas
(Bilhim, 2006)” e “como tal, a organização depara-se com a dificuldade de articular as
diferentes perspetivas e personalidades, que acentuam a oposição de interesses e divergência
de valores e crenças, que estão na origem do conflito organizacional. Com intuito de pintar
um fundo para este cenário, queremos obter uma visão holística das relações e processos
escolares, de forma a permitir que futuros estudos enxerguem o nexo e elos que regem os
fatores que podem vir a influenciar no desempenho de uma escola. Assim, este artigo busca
estudar a configuração e formas de expressão da cultura nas escolas sob a ótica dos principais
autores da cultura organizacional e relacionar estas abordagens com a eficácia das escolas.
Na próxima seção é feito uma contextualização dos conceitos usados para as análises;
na seção 3 mostra-se os métodos de pesquisa usados; na seção 4 os principais estudos
escolhidos são apresentados; na seção 5 realiza-se a análise dos dados e abordagens; por fim,
as considerações finais concluem o trabalho.

2. Cultura, cultura organizacional, cultura escolar e escolas eficazes

De forma a analisar os estudos escolhidos, foi tomado como base diversos referenciais
teóricos e conceituais consolidados, tal que estes serão apresentados, sucintamente, a seguir.

Começando pelo conceito de cultura, Hofstede (1991, p. 17) metaforiza o termo


cultura como sendo um conjunto de programas mentais, pois vem a ser um sistema comum de
significados, que nos mostra a que devemos prestar atenção, como devemos agir e o que
devemos valorizar. Schein (1992) teoriza que a cultura funciona como um processo contínuo
de construção ativa, mediante processos de produção de significados comuns, criados e
recriados pelas pessoas, consoante os contextos em que interagem, isto é, resultado da
aprendizagem e experiência vivida pelos indivíduos. Deste modo, e porque as organizações
são construídas por pessoas, a cultura faz parte integrante da organização, como que o
“cimento” que a mantém unida, e é o produto dos líderes formais.
As principais abordagens de cultura que consideramos relevantes ao nosso trabalho
podem ser, brevemente, citadas a seguir. Elementos e níveis culturais, “Os três níveis da
cultura organizacional, que partem de aspectos concretos e atingem alto nível de abstração
são: artefatos, crenças e valores declarados e pressupostos implícitos. Esses níveis perpassam
os vários elementos da cultura, dentre outros: ritos, rituais e cerimônias; histórias e mitos;
tabus; heróis; normas; e processo de comunicação.” (Schein, 1985 apud Santos, 2015).
Dimensões culturais de Hofstede (1980): alta ​versus baixa distância do poder; alta ​versus
baixa aversão à incerteza; individualismo ​versus coletivismo; feminilidade ​versus
masculinidade; e indulgência ​versus restrição. Congruência cultural, que examina as relações
entre as formas e expressões da cultura organizacional perante seus valores. Os tipos culturais
de Cameron e Quinn (2006), cultura de: hierarquia, adhocracia, mercado e clã. E as
subculturais, que derivam dos diferentes modos de agir dos atores sociais, tal que “para
Hofstede (1998, p.7-8), são as Profissional, Administrativa e de Interface com os Clientes.”
(Santos, 2015)
A cultura organizacional, de acordo com Schein (1992, p. 12) é um conjunto de
pressupostos básicos compartilhados que um grupo aprendeu ao resolver seus problemas de
adaptação externa e integração interna e que funcionaram bem o suficiente para serem
considerados válidos e ensinados a novos membros como a forma correta de perceber, pensar
e sentir em relação a esses problemas. Morgan (1996, p. 87) infere que a cultura
organizacional é resultado de um processo contínuo que não deve ser apreendido em
fragmentos, mas numa totalidade, pois está em constante transformação, num espaço no qual
as pessoas criam e recriam os mundos dentro dos quais vivem.
Dentro da educação e instituições de ensino, podemos identificar que a cultura possui
duas formas: cultura escolar e cultura da escola. O primeiro refere-se a trajetória histórica e
social das instituições escolares, sua inserção e papel na sociedade, Brito (1999, p. 134)
apresenta a cultura organizacional escolar como fonte de referências capaz de exprimir a
identidade da organização construída ao longo do tempo e de contribuir para sua permanência
e coerência, servindo de elo entre o passado e o presente, ao moldar as ações de seus
membros segundo um mesmo sistema de referências. A cultura da escola focaliza o ethos
cultural de um estabelecimento de ensino, sua marca ou identidade cultural, constituída por
características ou traços culturais que são transmitidos, produzidos e incorporados pela
experiência vivida do cotidiano escolar. Barroso (2000) analisa a cultura da escola por 3
perspectivas: funcionalista, estruturalista e interacionista. Na ordem, temos que a a primeira
entende a cultura como concebida como um elemento exterior à escola, baseada nas normas
políticas e sócio-económicas desenvolvidas na sociedade, sendo um meio transmissor da
“cultura geral”; a estruturalista diz respeito à construção, na escola, de sua própria cultura
específica a partir de suas práticas pedagógicas estabelecidas; a interacionista é compreendida
como a cultura organizacional da escola e nasce das interações sociais, integra os atores
escolares, numa cultura própria, invisível e cada escola é entendida como uma instituição
educativa particular.
Por fim, foi tomado como referência o conceito de escolas eficazes, onde “o
desempenho dos alunos e a eficácia da escola seriam as palavras-chave para descrever um
campo de análise denominado “Escolas Eficazes” “(GAME, 2002).

3. Metodologia
Para contextualizar e estudar o tema apresentado na seção anterior, foi realizada uma
coleta de dados e revisão sistemática de literatura. Nosso trabalho foi feito com base nos
principais pontos levantados por Kitchenham (2007), tal que dividimos o processo de revisão
sistemática em três etapas: planejamento da revisão, execução da revisão e análise dos
resultados. Durante o planejamento da revisão, foi formulado a questão de pesquisa,
identificado e selecionado as fontes de onde seriam extraídos os artigos, criados critérios e
procedimentos para seleção e exclusão dos estudos.
As bases de dados utilizadas foram a ​Web of Science ​da editora ​Thomson Reuters
Institute of Scientific Information (THOMSON REUTERS, 2016), e o ​Google Scholar ​do
Google​. Esta busca foi realizada de 20 de janeiro a 10 de junho de 2017. De forma a encontrar
a intersecção entre os conceitos de Cultura Organizacional, Cultura Escolar e Desempenho,
foram selecionados 12 grupos de palavras-chave: performance, ​achievement​, cultura escolar,
mudança, educação primária, educação fundamental, ensino médio, educação, pesquisa
educacional, liderança, cultura organizacional e cultura.
A coleta de dados se deu de forma iterativa: após uma rodada de pesquisa era
identificado as principais palavras-chave e, então, uma nova sequência acontecia. Além disso,
as áreas de conhecimento contempladas se mostraram muito abrangentes, sendo relacionadas
às engenharias, sociologia, psicologia, antropologia, pedagogia e administração; foram
excluídas estudos das áreas de saúde e biológicas. O último passo na seleção dos documentos
buscados foi a avaliação crítica com base em seus resumos e títulos.

4. Levantamento de dados

Foram lidos 40 textos relacionados à interface da cultura organizacional e educação,


tais que foram escolhidos os 9 seguintes documentos julgados mais interessantes à este
estudo. A escolha foi feita com base na pertinência e relação dos temas, conceitos e
construção dos trabalhos.
Os trabalhos da Rêgo (2011) e do Costa (2013) são estudos de casos realizados em
Portugal. Os dois estudos assentam no projeto coordenado pelo Dr. José Matos ​Identificação
e caracterização de classes de escolas de sucesso (Refª FCG SEB07P) ​que com a colaboração
de Rêgo (2011) e Castro elaborou um instrumento de análise de dados para estudo de cultura
de escola. Na tese de mestrado, Rêgo (2011) analisa 83 escolas, de modo quantitativo, para
determinar se a cultura da escola é ou não determinante para a obtenção de sucesso em
contextos sócio econômicos diferentes. Dando sequência nos estudos realizados, Costa (2013)
adapta a o trabalho de Rêgo (2011) para um estudo qualitativo transformando em um guião de
entrevista. Sua intenção com esse estudo foi caracterizar a cultura de uma escola através de
uma investigação qualitativa e, concomitantemente, também visou-se verificar se na prática a
aplicação da matriz de análise da cultura de escolas adaptada.
No texto de Alves e Franco (2008), é realizado uma revisão da literatura brasileira
relacionada ao tema das escolas eficazes; o estudo é uma construção do desenvolvimento
brasileiro sobre o tema, desde o crescimento e evolução das fontes de dados que permitem o
progresso das pesquisas, conclusões sobre os efeitos da escola brasileira e seu potencial de
influência sobre os alunos, evidências sobre fatores de eficácia escolar e, por fim, as
potencialidades das pesquisas neste campo. No artigo do Scheerens (2005) é abordado o
assunto de liderança escolar efetiva de acordo com as pesquisas relacionadas à escolas
eficazes; o documento faz um resumo do desenvolvimento conceitual do tema, apresenta a
teoria e esquema dos valores concorrentes de Cameron e Quinn, tal que formula um
instrumento análogo para distinção de oito ênfases da liderança escolar. Na dissertação de
mestrado da Lima (2012) é feito um estudo quali quantitativo em 12 escolas municipais de
Fortaleza, onde analisa-se características relacionadas ao clima interno, liderança
administrativa e pedagógica, grau de abertura da escola e a estrutura física e organizacional,
de forma a diagnosticar, comparar e propor sugestões nas escolas. No artigo de Cunha e
Cunha (2016), é apresentado resultados que analisam a relação entre gestão e desempenho,
medido pelo IDEB, em duas escolas; tal que desenvolve-se aspectos que expressam a cultura
da escola e usa-os como indicadores. Na dissertação de mestrado da Pacheco (2008), seis
escolas são estudadas usando como base conceitos de escolas eficazes, clima escolar, cultura
escolar, clima e cultura organizacionais, tal que busca-se entender a relação entre as
percepções dos alunos, prestígio escolar e o clima da escola.

5.1 Níveis e elementos da cultura da escola

Uma abordagem focada para a análise da cultura de uma organização escolar é a de


Deal & Peterson (2009). No trabalho, os autores buscaram experiências que provassem o
impacto e a importância da cultura escolar para as reformas da escola e no aprendizado. Após
o fim dessa introdução que trouxe relevância para o tema, Deal & Peterson apresentam os
principais elementos que caracterizam a cultura de uma escola e são eles: “Artefactos,
Arquitetura e Rotinas: Símbolos de cultura”,” História: O valor da sabedoria e da tradição”,
Mito, Visão e Valores: Descobrir a utilidade da escola”, Histórias e Estórias”, “Rituais:
Embeber os propósitos e os sentidos (significados)”, “Cerimônias e tradições: A cultura em
ação”, “Veículos de cultura: Transmissores positivos e negativos” (RÊGO, 2011; COSTA,
2013)
Utilizando a caracterização de elementos culturais de organizações escolares proposta
por Deal & Peterson, ​as Doutoras Joana Castro e Sandra Rêgo estruturam a “Matriz de
Cultura de Escolas” que é um instrumento, quantitativo, para a identificação da cultura de
uma escola. Rêgo (2011) realiza um estudo que “tem como objetivos principais compreender
se em contextos sócio econômicos diferentes, a cultura de escola, é ou não determinante para
a obtenção de sucesso” (RÊGO, 2011).
Apesar de não ter sido verificada as diferenças esperadas pela autora, os testes
realizados por ela mostraram algumas diferenças entre os níveis analisados e algumas
vertentes de cultura promotoras de sucesso. Como, por exemplo, na vertente Finalidade e
Missão, que corresponde ao elemento “História: O valor da sabedoria e da tradição” adaptado
à “Matriz de Cultura de Escolas”. Esse elemento da cultura de escola, pela ótica dos teóricos,
pode ser abordado como um código cultural que aculmula os triúnfos e as tragédias - um
legado de sabedoria partilhado que aponta para as pessoas qual é o caminho prudente a seguir
(​COSTA, 2013)​. Na análise da Rêgo (2011), essa vertente demonstrou que “no IDS¹ nível 1,2
os coordenadores de departamentos que concordam são quase tantos como os que discordam”
de que “a probabilidade de obter bons resultados nesta escola é maior do que em muitas
outras escolas” (RÊGO, 2011) enquanto que nas escolas localizadas em zonas de IDS mais
elevado (3, 4) grande parte dos questionados discordaram.
A árvore que será apresentada em seguida é uma “conclusão da revisão de literatura”
que se refere a uma analogia as vertentes de cultura de Deal & Peterson feita por Costa
(2013).

FIGURA 1 - Árvore que representa as diferentes culturas de uma escola. Fonte: Costa (2013)

As raízes da árvore da cultura de escola composta pelo mito fundador, finalidade,


arquitetura e missão e são a “base da cultura, pois moldam e refletem o que a escola visa
realizar, orientando a visão do mundo e os comportamentos” (COSTA, 2013). Assim como os
pressupostos tácitos, pois como Manuel (2015) relata “[os valores] ‘São um reflexo dos
pressupostos tácitos e estão na base daquilo que se considera apropriado ou inapropriado na
organização’”.
O tronco representa o que sustenta a escola, é a “cola” simbólica que a mantém unida,
pois são os valores, as crenças, os pressupostos e as normas que capturam os míticos pilares
da cultura de escola (Costa, 2013). Assim como aponta a definição de Deal & Peterson “as
normas consolidam os pressupostos, os valores e as crenças. As convenções normativas
desenvolvem-se quando os profissionais da escola descobrem e reforçam formas particulares
de agir e interagir”. Semelhante percepção é apresentada por Manuel (2015) da seguinte
maneira: “No segundo nível, um nível intermédio, referem-se valores fundamentais
partilhados pelo grupo e no meio, que servem para orientar as pessoas na realização das suas
tarefas. Este nível encontra-se entre o superficial e o profundo, o abstrato e o concreto”. Nesse
caso observamos que as normas não está no nível mais visível, nesse caso ele se encontra
como elemento que sustenta a organização.
As folhas assim como os artefatos estão representando os elementos mais concretos e
visíveis das escolas. Por exemplo, Manuel (2015) os define: “os artefactos, que constituem
aspetos visíveis e tangíveis da cultura da organização e correspondem a tudo o que se vê,
ouve ou sente, estando por isso ao nível do concreto”. Do mesmo modo Costa (2013) em sua
analogia “nas folhas estão representadas todas as outras vertentes [tradições, sinais, rituais,
cerimônias, símbolos, estórias, colaboração, meios e relações] e que são a face mais visível da
cultura de escola.”
Por último, os ramos da árvore que representa os veículos de cultura. Essa parte da
árvore refere-se aos que trabalham nos bastidores da escola e que possuem papéis decisivos,
Deal & Peterson separa eles em transmissores positivos ou negativos. Essa vertente irá
influenciar todas as outras representadas na árvore, por isso é fundamental para o líder
fomentar e apoiar os elementos da rede cultural positiva e reduzir os impactos do lado
negativo (Costa, 2013).

5.2 Análise de fatores e cultura da escola eficaz

O assunto de escolas eficazes busca identificar e entender os fatores que levam as


melhores instituições a terem os melhores resultados no aprendizado dos alunos. Desta forma,
diversos estudos já foram realizados, principalmente nos Estados Unidos e Inglaterra, tal que
neste artigo nos baseamos, principalmente, nas revisões bibliográficas da Lima (2012), do
Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais, GAME (2002), Alves e Franco (2008) e
Pacheco (2008). Estes estudos citados abordam a questão de escolas eficazes analisando-o
diante da realidade brasileira e se baseiam em dissertações e artigos já consolidados na
literatura do tema. Assim, nossa proposta aqui será a de estudar os principais fatores de
eficácia perante o tratamento da cultura organizacional.
“Dividiu-se, então, o “fator escola” em seis grandes grupos que representariam cada
um dos principais elementos que merecem evidência, a saber: a infra-estrutura e os fatores
externos à organização da escola, a governança da escola, os professores, a relação com as
famílias, o clima interno e as características do ensino.” (GAME, 2002). “Para além das
variáveis relacionadas com a composição social da escola, que devem ser consideradas como
variáveis de controle, os fatores associados à eficácia escolas descritos na literatura brasileira
podem ser organizados em cinco categorias: a)recursos escolares; b)organização e gestão da
escola; c)clima acadêmico; d)formação e salário docente; e)ênfase pedagógica.” (Alves;
Franco, 2008). Estes agrupamentos são destrinchados em fatores e boas práticas comprovadas
por estudos. Observa-se que os principais elementos podem, como mostrado na dissertação de
Lima (2012) citando Sammons (1995), ser resumidos em 11 características chave: liderança
profissional; visão e finalidades partilhadas; ambiente de aprendizagem; concentração no
ensino e na aprendizagem; ensino resoluto; expectativas elevadas; reforço positivo;
monitoramento do progresso; direitos e responsabilidades dos alunos; parceria escola-família;
e se tornar uma ​learning organization.​ Deve ser notado que os principais estudos realizados
no exterior não consideram os recursos escolares e infraestrutura como fatores de eficácia,
enquanto que as pesquisas brasileiras demonstram efeito positivo destes elementos para o
aprendizado dos alunos; isto se dá principalmente pela heterogeneidade de nossa escolas, ao
passo que países como Estados Unidos e Inglaterra conseguem ter um padrão bem definido
das instituições; assim, este será levado em conta nas considerações.
GAME (2002) faz um estudo de caso em três escolas analisando as relações dos
conjuntos de fatores definidos pelo grupo com o desempenho escolar. Alves e Franco (2008)
realiza uma revisão da literatura brasileira das evidências sobre o efeito das escolas e fatores
associados à eficácia escolar. Assim, levando em conta as confirmações de Alves e Franco
(2008) e, juntamente às explicações dadas por Pacheco (2008) e Lima (2012), iremos propor
um novo agrupamento dos fatores: recursos escolares e fatores externos à organização da
escola; organização escolar; liderança; clima interno da escola; e características do ensino.
Deve ser ressaltado que os fatores de eficácia não são independentes entre si; relacionam-se e
influenciam uns aos outros, de forma que o agrupamento é uma maneira de entender melhor a
análise individual diante do cenário maior que é a escola. Nos próximos parágrafos cada
grupo será explorado à luz de suas particularidades e sob o olhar das expressões e formas da
cultura e cultura organizacional.
Os recursos escolares e fatores externos à organização da escola engloba as questões
do estado de conservação e adequação das instalações, os recursos didáticos e a qualidade da
biblioteca, a percepção de segurança na escola, influência de políticas públicas e o controle
sobre contratação de professores. Há de se ressaltar que estes dois últimos não são fatores de
eficácia, mas apresentam questões decisivas na organização escolar e que não são
dependentes da administração da escola. Os itens de infraestrutura já foram temas de diversos
estudos, tal que todos convergiram na influência positiva de uma boa infraestrutura; porém
deve ser enfatizado que “a pura e simples existência dos recursos escolares não é condição
suficiente para que os recursos façam diferença: faz-se necessário que eles sejam efetivamente
usados de modo coerente no âmbito da escola.” (ALVES; FRANCO, 2008) A percepção de
segurança na escola é um tema abordado principalmente quando entendido como o contexto
social na qual a instituição está inserida, de forma que o principal foco é a questão da
violência; assim, as pesquisas “indicam que a violência dentro dos espaços escolas é um
elemento que pode prejudicar o estabelecimento de uma atmosfera propícia ao ensino.”
(PACHECO, 2008).
No tópico da organização escolar podemos identificar cinco pontos que indicam um
arranjo coordenativo eficiente: visão e finalidades compartilhadas, monitoramento do
progresso, parceria escola-família e ser uma organização aprendente. A primeira característica
está relacionada com a “unidade de propósitos, a consistência das práticas, colegialidade e a
colaboração” (LIMA, 2012). O monitoramento do progresso é composto do acompanhamento
do desempenho dos alunos e avaliação do desempenho da escola; além disso, uma escola
eficaz utiliza esses dados para entender se seus objetivos estão sendo alcançados, de forma a
identificar oportunidades de melhoria. A parceria escola-família concerne principalmente as
ações da gestão para fortalecer esta relação, tal qual como a escola se posiciona perante a
comunidade e estimula a participação dos pais no ambiente acadêmico; porém deve ser
evidenciado que este envolvimento pode se dar de diversas maneiras, dependendo do nível de
ensino. A última característica, ser uma organização aprendente ou ​learning organization, ​é
relativa à formação dos docentes dentro da própria instituição, focando no aprofundamento e
atualização dos conhecimentos e na formação em conjunto, com toda a escola; tal que o
posterior busca ser voltado para a realidade em que estão inseridos, podendo ser posto em
prática imediatamente.
A liderança escolar pode ser definida como “o ponto até onde o líder escolar direciona
seu interesse para o processo primário da escola” (SCHEERENS, 2005) e “Liderança, com
certeza, não se refere somente à qualidades individuais, apesar disso ser importante, Refere-se
também ao papel que os líderes desempenham, seus estilos administrativos, à relação deles
com a visão, valores e objetivos da escola, e às suas abordagens em relação a mudanças”
(SAMMONS, 1999). Nesse aspecto, espera-se que o líder seja firme e determinado, possua
uma abordagem participativa e colaborativa, tenha aproximação com a realidade das salas de
aulas e disponha suporte, assistência e incentivo aos professores. Há de se destacar que a
liderança escolar detém grande papel em praticamente todos os outros fatores de eficácia.
O clima interno da escola faz alusão à expressão e manifestação das características da
escola, muito vinculado à organização do ambiente escolar e às propriedades do ensino e
aprendizagem. Neste quesito podemos ressaltar um ambiente de trabalho atrativo, uma
atmosfera ordeira, expectativas elevadas dos docentes para com os alunos e o bom
relacionamento entre professores e estudantes. Estes atributos têm a comunicação como
aspecto de muita pertinência, sua consistência e teor participativo, em especial, proporciona a
relação dos alunos e educadores com a visão da escola.
Por fim, as característica do ensino que abordam questões mais relacionadas à atuação
e comportamento dos professores. Pode-se frisar o reforço positivo, a concentração no ensino
e aprendizagem e o ensino resoluto. O primeiro refere-se à disciplina clara e justa e à presença
de ​feedback​ construtivo aos alunos, não necessariamente só relacionado ao desempenho
acadêmico. A concentração no ensino e aprendizagem trata sobre “a qualidade do ensino, o
tempo dedicado à aprendizagem, a ênfase acadêmica e a focalização do sucesso” (LIMA,
2012). O último item expõe a importância de um professor bem organizado, com clareza de
propósito, que consiga dedicar tempo para a organização das aulas e atividades, estruturando
bem as lições e aulas, além de ser capaz de adaptar suas práticas.
Explorando as formas e manifestações da cultura temos, inicialmente, a visão e
finalidade da escola junto com os pressupostos tácitos de igualdade e valorização na raíz da
árvore. Esta base cultural reflete, principalmente, em valores de participação, colaboração e
reconhecimento, tais quais podem ser evidenciados - o tronco e galhos - pelas decisões mais
democráticas, consistência das práticas, altas expectativas e confiança nos alunos, dedicação e
participação dos gestores e professores e o ambiente ordeiro. Finalmente, as folhas da árvore
podem ser indicada pelos estados de conservação da infraestrutura e recursos didáticos e as
características do ensino, as práticas em sala de aula e relações entre os pares.

5.3 Abordagens da cultura organizacional usadas na cultura da escola


Schein - Henrique vai completar
A abordagem de dimensões culturais de Hofstede não foi encontrada na pesquisa
realizada, porém podemos identificar semelhanças entre o tratamento dos fatores de eficácia
escolar com os valores que compõem o esquema das dimensões culturais, uma vez que ambos
funcionam como diretrizes para as organizações.
O principal autor que abordou os tipos de cultura foi Barroso (2000), que encontra 3
tipos: funcionalista, que é um meio transmissor da “cultura geral”; estruturalista, referente à
sua construção e práticas pedagógicas; e interacionista, relativa às interações sociais
integrando os atores escolares. O reconhecimento dos tipos culturais pode ser feito a partir da
análise de seus valores, tais quais apresentados na seção anterior para caracterizar uma escola
eficaz.
A subcultura Profissional pode ser representada pela gestão (tanto administrativa
quanto pedagógica) e liderança escolar, tal que tomam decisões curriculares, definem códigos
de conduta e disciplina e possuem um valor estratégico na condução da escola. A subcultura
Administrativa é interpretada pelos professores, que executam a prática pedagógica e são os
principais veículos de comunicação dos valores da escola. Na subcultura da Interface com os
Clientes observa-se os valores, comportamento e visão dos alunos perante a escola e seus
funcionários, de forma que são quem mais sente o clima interno da instituição.
Por fim, pode-se observar que a congruência cultural de uma escola é bem ajustada
diante suas diferentes subculturas, todas tendem, pelo prisma de Hofstede, a uma menor
distância do poder, maior coletivismo e feminilidade.

6. Considerações finais

Foi constatado que existem poucos estudos trabalhando a interface entre cultura
organizacional, escolas e desempenho escolar, tal que neste artigo as abordagens de cultura
foram relacionadas com a cultura das escolas e sua eficácia. Assim, observa-se que a
abordagem mais identificada nos 40 estudos pesquisados foi a de níveis e tipos culturais de
Schein, enquanto que as outras formas de tratamento de cultura foram pouco encontradas,
mas que podem ser verificadas dentro dos 9 trabalhos utilizados como base. Por fim,
constata-se que ainda existe uma lacuna de pesquisa que estude as dimensões culturais,
subculturas e a congruência cultural de escolas perante o tema de desempenho escolar; tal que
este é um assunto de interesse para a mudança e melhora da educação brasileira.

Bibliografia

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