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“Sustentabilidade e Produção: Desafios pós Rio +20”

INTRODUÇÃO

O que causa a perda da biodiversidade é a estrutura econômica que aí está.


(BECKER, 2012 p.1)

São cada vez mais evidentes os efeitos negativos da exploração e intervenção


ambiental que o ser humano promove no planeta. Após sua sedentarização, o homem passou a
modificar o meio onde reside de modo a torná-lo mais confortável e adequado às suas
atividades de moradia, agricultura, pecuária, etc. Porém, com o aumento expressivo da
população nos últimos séculos, esse processo trouxe conseqüências graves para nosso meio
ambiente. Hoje temos problemas como o aquecimento global e a escassez de água potável e
isso levanta questionamentos sobre a preservação da vida na Terra.
Essa crescente preocupação veio acompanhada das propostas de produção sustentável,
com menor impacto ambiental e social. Um exemplo das conseqüências da exploração mal-
planejada e inconseqüente é o caso da Ilha de Páscoa onde sua população, após a derrubada de
grande parte das árvores para a construção e transporte de gigantescas estátuas, não permitiu a
renovação das florestas, decorrendo à quase extinção de seus habitantes (MILLER, 2007
p.18).

As propostas de desenvolvimento sustentável surgem no final do século XX frente aos


problemas decorrentes da ocupação humana e do uso incensado de recursos naturais e fontes
não renováveis de energia (AMORIM, 2012 p.11). Segundo Miller (2007), sustentabilidade é
a capacidade dos diversos sistemas da Terra sobreviverem e se adaptarem juntos às condições
ambientais em mudança. Isso inclui as economias e culturas humanas. Para isso o autor utiliza
o conceito de capital natural:

Os recursos renováveis que compõem parte do capital natural da Terra


podem nos fornecer uma renda biológica indefinidamente renovável, desde
que não usemos esses recursos mais rápido do que a natureza os renova. Por
exemplo, os serviços naturais, como a reciclagem de nutrientes e o controle
do clima (incluindo a precipitação), renovam os recursos naturais, como a
superfície do solo e os depósitos de água subterrâneos (aqüíferos). A
sustentabilidade significa sobreviver com essa renda biológica sem exaurir
ou degradar o capital natural que a fornece. (MILLER, 2007 p.3)

Uma das principais causas dos desequilíbrios ambientais é crescimento exponencial da


população humana, apontado por Malthus1 em 1798. A industrialização e os avanços da
medicina, que proporcionaram melhores condições de vida, aumentaram a expectativa de vida
das pessoas, além de diminuir a taxa de mortalidade, ocasionando o aumento estrondoso da
população mundial nos últimos dois séculos. Hoje a taxa de crescimento populacional
1
Economista britânico, nascido em 1766, considerado o pai da demografia. Sua teoria (Teoria Populacional
Malthusiana) apontava que a população mundial cresceria em progressão geométrica, enquanto a produção de
meios de subsistência cresceria em progressão aritmética. A Teoria Neo-Malthusiana aparece como atualização
da teoria original, visto que Malthus ignorou o desenvolvimento tecnológico na formulação de sua teoria.
mundial está inferior a 1,2% e aponta um constante declínio, porém, até 2050, estima-se que a
população mundial ultrapassará os nove bilhões de habitantes. (FRANCISCO, 2009. p. única)

DESENVOLVIMENTO SOCIAL X MERCADO

Num primeiro momento, devemos nos atentar aos conceitos de desenvolvimento e


crescimento econômico. Segundo Oliveira (2011, p. 2) o crescimento econômico dá-se pela
demonstração dos índices de renda, como o PIB (Produto Interno Bruto), o PNB (Produto
Nacional Bruto), a Renda per capita, etc. Para o conceito de desenvolvimento o autor se vale
da premissa de Franco (2000) que determina que “não se pode mais aceitar a crença
economicista de que o crescimento do PIB representa tudo e vai resolver por si só todos os
problemas econômicos e sociais do país.”

Para a mensuração dos índices de desenvolvimento, a UNESCO definiu os parâmetros


utilizados para a formulação do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).2 Este índice vem
com a proposta de “considerar as numerosas dimensões do bem-estar humano, já que a
atenção concentrar-se-ía assim sobre os fins para os quais o desenvolvimento deve servir, em
vez de fazê-lo apenas sobre os meios, por exemplo, para o aumento da produção.” Em síntese,
“o meio é mais importante que o fim e o nível de atividade, mais importante do que os
objetivos para os quais ela serve.” (UNESCO, 1999 p.28-29)

Além dos benefícios ambientais e sociais, os projetos sustentáveis são muito atrativos
para o comércio, em especial para o comércio exterior. Sobretudo, esta política torna-se
atrativa para os consumidores (quando as empresas vinculam as ações às suas marcas). Zizek
discorre sobre esse fenômeno e diz que seu aparecimento retrata a introdução de um novo
modelo econômico que ele batiza de capitalismo cultural:

Fundamentalmente, compramos mercadorias não pela utilidade ou pelo


símbolo de status; Compramos para ter a experiência que oferecem,
consumimos para tornar a vida prazerosa e significativa. [...] Quem
realmente acredita que as maçãs “orgânicas" meio podres e muito caras são
mais saudáveis que as variedades não orgânicas? A questão é que, ao
comprá-las, não estamos apenas comprando e consumindo, estamos fazendo
algo significativo: estamos mostrando nossa consciência global e nossa
capacidade de nos preocupar, estamos participando de um projeto coletivo.
(ZIZEK, 2011 p.53)

Seguindo a lógica do autor, as pessoas compram produtos mais “politicamente


corretos” pela oportunidade de participar, mesmo que indireta, de algum trabalho de melhoria
do bem-estar social. Para ele, este é o novo combustível do consumo. E, se valendo das
palavras de Friedman, Zizek aponta o bem-estar social como forma de manutenção da
estrutura econômica atual:

2
Índice comparativo usado para classificação do grau de desenvolvimento humano de um país. É composto a
partir dos dados de expectativa de vida (ao nascer), educação e PIB (Produto Interno Bruto) per capita.
Acho que a sociedade liberal precisa do Estado de bem-estar social, primeiro
com relação à legitimidade intelectual: o povo aceitará a aventura capitalista
se houver um mínimo indispensável de segurança social. Acima disso, num
nível mais mecânico, se quisermos que a criatividade destrutiva do
capitalismo funcione, é preciso administrá-la. (FRIEDMAN, apud ZIZEK,
2011. p.34.)

Oliveira e Gouvêa (2010) apontam o interesse, por parte das empresas, em aproveitar
os efeitos do capitalismo cultural. Para eles as empresas são as grandes detentoras dos
recursos financeiros e devem realizar ações sociais, não limitando ao Estado a
responsabilidade pela preservação do bem-estar social.

Essas ações podem ser observadas em dois aspectos:

O primeiro considera as ações como um bem em si mesmas, geradoras de


resultados para a população-alvo; o segundo considera essas ações em
termos estratégicos de negócio, com vistas à melhoria do desempenho dos
produtos e de marcas. (OLIVEIRA; GOUVÊA, 2010. p.2)

Por fim, é importante lembrar que, embora exista a tendência das empresas se
dedicarem às ações sociais visando uma melhor apresentação de sua imagem, tal fato não
deve desmerecer tais feitos.

SUSTENTABILIDADE X BEM-ESTAR SOCIAL

Um erro comum nos discursos contrários ao planejamento sustentável é afirmar que,


as regiões hoje desenvolvidas alcançaram esse patamar explorando seus recursos naturais e,
por isso, deveríamos seguir tal tendência.

Bublitz deixa evidente em seu texto que os processos exploratórios trouxeram


conseqüências graves para o meio ambiente, porém, na sua maioria, os colonos não tinham
acesso nenhum a informações de que sua atuação traria tanta degradação ecológica (2006. p.
5). Também vale observar que não podemos nos basear em erros passados para justificar
nossos atuais deslizes, Bublitz finaliza seu artigo fazendo uso das palavras de Leff: “E a
importância de se atentar para esses aspectos do processo histórico reside na possibilidade de
se estabelecer um „vínculo entre el pasado insustentable y un futuro sustentable‟ – que seria
uma das implicações da história ambiental.” (2006. p.15)

Para exemplificar a relação entre sustentabilidade e bem desenvolvimento social,


podemos utilizar os índices de população rural em situação de extrema pobreza do estado de
Mato Grosso. Segundo publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em
2009 a população rural sujeita a situação de extrema pobreza representava, em proporção, o
triplo do que se encontra na população urbana do estado (9%, na zona rural, contra 3%, nas
cidades). 3

Esse fenômeno se relaciona ao à atividade agrícola desse estado que é, essencialmente,


voltada para a produção de grãos destinados à exportação (soja e milho). Por conta disso, os
processos de produção são demasiadamente mecanizados, acarretando em enorme
desemprego entre os trabalhadores rurais.

Estudos realizados em cidades brasileiras apontam que as cidades que tem maiores
índices de desmatamento apresentam os piores índices sociais. A causa disso é, por exemplo,
a derrubada das matas para a implantação de agricultura ou pecuária extensiva que diminui a
demanda de mão-de-obra, empobrecendo a população (BARBOSA, 2009. p. única).

A melhoria das condições de vida dos trabalhadores associada a uma política de


desenvolvimento sustentável ainda depende de uma mudança significativa nos modelos
econômicos, em especial nos que tangem o mercado internacional. Conforme Montefusco, “a
idéia de desenvolvimento sustentável pode, então, ser considerada como utópica, mas as
utopias são capazes de guiar novos projetos de vida, nova (sic) idéias de sociedade e rumos
bem mais humanos para os tempos vindouros.” (MONTEFUSCO, 2007 p.7)

SUSTENTABILIDADE GLOBAL

Essa expressão, “Sustentabilidade Global”, é mais uma forma de integrar o


desenvolvimento sustentável à economia, diante do cenário de crise financeira e do possível
colapso do neoliberalismo. A Europa é a principal promotora desse movimento, tendo em
vista que a maioria dos seus países está vulnerável devido à escassez de recursos naturais e o
risco de desaparecerem do mapa por estarem localizados ao litoral. Em entrevista concedida a
revista Desafios do Desenvolvimento, do IPEA, Bertha Becker (2012), opina da seguinte
forma:

O grande problema dos europeus é que se houver realmente o aquecimento


global, algumas regiões desaparecem. A Inglaterra é uma ilha. A Noruega e
a Suécia são uma grande península cercada por mares. Não é por acaso que
esses países comandam a questão global do clima. (BECKER, 2012 p.13)

Diante disto, a ONU (liderada por estes países) pressiona os governantes de países que
passam por um processo de crescimento acelerado de industrialização e, por conseqüência,
pelo aumento na emissão de gases causadores do efeito estufa entre outros agentes poluidores.
Uma das cobranças é a adoção de metas para preservar as reservas naturais, difundindo o
conceito de que estes recursos pertencem ao mundo. Há uma visão implícita nesse processo
todo, que é ainda uma forma de manter o liberalismo econômico, órgãos criam selos para
premiarem organizações que atendem a todos os critérios definidos em uma cartilha como se
isso fosse solucionar os problemas ambientais. Bertha Becker nos faz a seguinte observação:

3
Situação Social nos Estados – Mato Grosso. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE): Brasília, 2012.
Onde estão as grandes reservas de recursos naturais? Nos países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. E as tecnologias estão no norte.
Há interesse dos desenvolvidos em ampliar o controle sobre esses recursos.
(BECKER, 2012 p.13)

O discurso atual é o da economia verde, conceito que a ONU não conseguiu definir
diretamente e que foi tema de discussão na Rio+20 4, porém trata-se do mercado tomando
conta dos recursos naturais, usando a expressão sustentabilidade global e lançando derivativos
em wallstreet, ou seja, usando um problema para lucrar através da geração de valor. Os
créditos de carbono, por exemplo, vieram como uma solução em curto prazo para questão da
emissão de gases causadores do efeito estufa, as indústrias não precisam parar seu processo de
produção ou reduzir as emissões de gases drasticamente, pois isso iria impactar a economia.
Então, segundo uma equação em que se presume o quanto de gás carbônico será expelido na
atmosfera, o resultado é uma quantidade de árvores que devem ser plantadas para compensar
essa emissão.

Em reportagem a revista Desafios do Desenvolvimento, sobre a Rio+20, Gless (2012)


discorre:

Pelo andar das negociações multilaterais que antecedem o evento –


principalmente as relacionadas ao documento base (Rascunho Um) da
Conferência, que deverá nortear as discussões –, a Rio+20 terá bem menos
meio ambiente e bem mais mercado do que o evento de 1992. A última
reunião informal do Comitê Preparatório da Conferência, ocorrida em Nova
York em março, deu sinais de que os países desenvolvidos tentarão se
blindar contra propostas onerosas a Estados e empresas, principalmente as
que abordaram questões elementares de direitos humanos e
responsabilidades ambientais dos governos. (GLESS, 2012 p.28)

Ou seja, um evento que poderia ser um marco nos avanços e soluções que visem o
desenvolvimento sustentável, nada mais é que uma reunião de negócios onde chefes de
estados e lobistas de grandes corporações atuam na defesa dos seus interesses. Verena Gless
(2012), transcreve uma análise de Iara Pietricovsky do Inesc sobre o tema:

“FAREMOS QUANDO PUDERMOS” De acordo com antropóloga Iara


Pietricovsky, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que
acompanhou as discussões de março, os países desenvolvidos têm defendido
um documento minimalista e reduzido, uma declaração “do tipo faremos
quando pudermos”. O objetivo é encurtar e enxugar ao máximo o Rascunho
Um. Estados Unidos, Canadá e Austrália defenderam, por exemplo, a
exclusão de três importantes princípios, constantes na primeira versão do
Rascunho Um. O primeiro é o principio do país poluidor/pagador, que define
que o Estado responsável por danos ambientais deve arcar com os custos da
reparação. Em seguida viria o principio de precaução ambiental,
estabelecendo que uma ação deve ser evitada em caso de incerteza quanto ao
impacto do uso de uma técnica ou produto. Por fim, haveria o principio das
responsabilidades comuns, mas diferenciadas, reconhecendo que os países

4
Conferência que deu continuidade à Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Rio-92) na qual foi discutida a agenda do desenvolvimento sustentável para as décadas seguintes.
desenvolvidos são os maiores responsáveis pela degradação do meio
ambiente. (PIETRICOVSKY apud GLESS, 2012 p. 28, grifo do autor)

Por fim, acontece o fenômeno chamado de transferência de culpabilidade – enquanto


os grandes poluidores mantêm as atividades industriais e agrícolas, em detrimento dos
recursos naturais, a população recebe a notícia de que a culpa pela degradação ambiental
deriva dos seus hábitos de consumo. – por fim o Estado se responsabiliza por fiscalizar as
corporações para que cumpram os acordos de preservação, que prevêem o mínimo de
alterações na estrutura produtiva, que é a máxima do neoliberalismo que aí está.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, Ricardo C. Desenvolver é preciso, destruir não é preciso. Concurso de


Monografias - Gazeta Mercantil, 1993. Disponível em: http://www.ricamconsultoria.com.br/
acesso em 30 de maio de 2012.

BARBOSA, Dennis. Estudo aponta que desenvolvimento baseado em desmatamento é


passageiro. 2009. Disponível em: http://www.globoamazonia.com/ Acesso em: 11 de abril de
2012.

BECKER, Bertha. O que causa a perda da estrutura econômica que ai está. Desafios do
Desenvolvimento, Brasília, DF n 72, p 10-17, 2012.

BUBLITZ, Juliana. Desmatamento Civilizador: A História Ambiental da Colonização


Européia no Rio Grande do Sul (1824-1924). UFRS – 2006. Disponível em:
http://www.anppas.org.br/ Acesso em: 09 de maio de 2012.

FRANCISCO, Wagner de Cerqueira e. O crescimento populacional no mundo, 2009.


Disponível em: http://www.brasilescola.com/ Acesso em: 20 de maio de 2012.

FRANCO, A. de. Por que precisamos de desenvolvimento local integrado e sustentável?


In: Separata da Revista Século XXI. N. 3. Millenium – Instituto de Política: Brasília, 2000.

GLESS, Verena. O lado B da economia verde. Desafios do Desenvolvimento, Brasília, DF n


72, p 26-35, 2012.

MILLER, G. T. Ciência Ambiental. São Paulo, Thomsom Learning, 2007.

OLIVEIRA, Carla M. de. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: uma discussão


ambiental e social. UFMA, 2007.

OLIVEIRA, Braulio; GOUVÊA, Maria Aparecida. A importância das ações sociais


empresariais nas decisões de compra dos consumidores. - Gest. Prod. São Carlos, v. 17, n.
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ZIZEK, Slavoj. Primeiro como tragédia, depois como farsa. Tradução: Maria Beatriz de
Medina. - São Paulo: Boitempo, 2011.

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