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A mastite é o processo inflamatório da glândula mamá-

ria, caracterizado por alterações patológicas do tecido ma-


mário, microbiológicas, físico-químicas, organolépticas do
leite. A etiologia é complexa, com potencial zoonótico, respon-
sável por causar grandes prejuízos aos produtores de leite e
laticínios, tais como, redução na produção leiteira, deprecia-
ção do animal, limitação na produção de derivados, descarte
do leite, gastos com medicamentos, honorários veterinários,
aumento de mão-de-obra, descarte precoce de fêmeas, entre
outros. As causas da mastite são: tóxica, traumática, alérgica,
Mastite bovina metabólica e infecciosa. As infecciosas são as causas mais
comuns e aproximadamente 150 espécies de microorganismos
podem causar essa enfermidade. Como a mastite bovina é a
doença que mais onera a exploração de animais com interesse
zootécnico, destinados à produção de leite; a prevenção, con-
trole e tratamento dessa doença são de fundamental impor-
tância para a pecuária leiteira.

D. M. S. CASSOL1, G. A. F. SANDOVAL2 ,
J. J. PERÍCOLE3, P. C. N. GIL4, F. A. MARSON5

fecciosa, sendo as causas infecciosas as prin-


INTRODUÇÃO cipais, destacando-se as bactérias pela maior
AGENTES DA MASTITE frequência, além de fungos, algas e vírus (Fon-
DIAGNÓSTICO seca e Santos, 2000).
TRATAMENTO Alguns estudos demonstram prejuízos
de aproximadamente US$ 200 (duzentos dóla-
res) para cada vaca acometida por mastite ao
INTRODUÇÃO ano (National Mastitis Council, 1996). Esses
prejuízos são representados por: 70% devido
A mastite é a inflamação da glândula à redução na produção dos quartos mamários
1
Daniela Miyasaka S. Cassol, mamária que se caracteriza por apresentar al- com mastite subclínica; 14% por desvaloriza-
Médica Veterinária, Gerente Téc- terações patológicas no tecido glandular e uma ção dos animais pela redução funcional dos
nica Ourofino, Ribeirão Preto, SP, série de modificações físico-químicas no leite. quartos acometidos, descarte precoce do ani-
BRASIL. mal ou morte; 8% pela perda do leite descarta-
2
Gabriel A. F. Sandoval, Médi-
As mais comumente observadas são: altera-
co Veterinário, Diretor Técnico ção de coloração, aparecimento de coágulos e do por alterações e/ou pela presença de resí-
Ourofino, Franca, SP, BRASIL. presença de grande número de leucócitos duos após tratamento; 8% pelos gastos com
3
Jean J. Perícole, Médico Veteri- (Radostits et al., 2002). tratamentos, honorários de veterinários, mais
nário, Supervisor Técnico de Pro- Entre as diversas patologias que afetam despesas com medicamentos (Costa, 1998).
dutos, Uberaba, MG, BRASIL. Segundo Domingues e Langoni (2001),
4
Paulo César Nunes Gil, Médi-
o rebanho leiteiro, esta enfermidade se desta-
co Veterinário, Gerente de Pes- ca, pois causa grandes prejuízos como o des- a mastite continua sendo a doença que mais
quisa Clínica (PDI) Ourofino, carte do leite, a queda da produção leiteira, os onera a produção leiteira, resultando nos Es-
Olímpia, SP, BRASIL. gastos com antibióticos e, eventualmente, o tados Unidos em perdas anuais da ordem de
5
Fábio A. Marson, Médico Vete- descarte do animal (Brito e Brito, 1998). A US$ 2 bilhões. Isto significa uma perda esti-
rinário, Supervisor de Pesquisa mada em US$ 18.000/ano em um rebanho de
Clínica (PDI) Ourofino, Ribeirão
etiologia dessa doença pode ser de origem
Preto, SP, BRASIL. tóxica, traumática, alérgica, metabólica ou in- 100 vacas. Costa et al. (1996), em estudo se-

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melhante realizado no Brasil, concluíram que os prejuízos de- nica e umidade da cama podem provocar o aumento do núme-
vido à mastite subclínica em propriedades leiteiras produtoras ro de bactérias. Portanto, a limpeza dos estábulos é de funda-
de leite tipo B e C, com produção média de 28.000 litros/mês/ mental importância (Tyler e Cullor, 2006).
propriedade, foi de 4.800 litros/mês/propriedade, ou seja, uma
perda de 17% do volume total de produção. Se levarmos em DIAGNÓSTICO
conta a produção de leite do Brasil em 2008, que foi de 27 bi-
lhões de litros (Embrapa, 2010), teríamos uma perda de 4,6 bi- Esta enfermidade pode ser dividida em dois grandes gru-
lhões de litros, ou aproximadamente R$ 2,3 bilhões. pos quanto à forma de manifestação, as mastites clínicas e as
Para o produtor a presença da mastite significa menor subclínicas. A mastite clínica apresenta sinais evidentes, tais
retorno econômico, em decorrência da redução na produção, como edema, aumento de temperatura, endurecimento, dor na
dos gastos com medicamentos e também das penalidades apli- glândula mamária, aparecimento de grumos, pus, ou qualquer
cadas pelos laticínios. alteração nas características do leite denomina-se mastite clí-
Para a indústria, a presença da mastite significa proble- nica. Seu diagnóstico é realizado pela inspeção e palpação
mas no processamento do leite e redução no rendimento em com base nas alterações inflamatórias do úbere e por altera-
razão dos teores inferiores de caseína, gordura e lactose, que ções macroscópicas do leite, visualizados nos primeiros jatos
resultam em produtos de baixa qualidade e estabilidade (Brito, da ordenha com o auxílio da caneca telada ou fundo preto
1999). Por esses motivos, alguns laticínios têm utilizado siste- (Corrêa e Corrêa, 1992).
mas de bônus ou penalidades para estimular a produção de Na outra forma de manifestação da doença, a mastite
leite com baixa CCS (Edmondson, 2002). subclínica, não são observados os sinais clínicos anterior-
Além desses prejuízos a mastite representa um risco em mente descritos, mas se caracteriza por apresentar alterações
potencial à saúde do consumidor. A veiculação de agentes na composição do leite como o aumento na CCS, o aumento
causadores de zoonoses, como nos casos de mastites nos teores de cloreto, sódio, proteínas séricas e a diminuição
brucélicas e tuberculosas (Acha e Szyfres, 1989), a possibili- nos teores de caseína, lactose e gordura do leite (Fonseca e
dade de desencadear fenômenos alérgicos em indivíduos sen- Santos, 2000). Esses casos são de alta prevalência e é para o
síveis, os efeitos tóxicos e carcinogênicos decorrentes das produtor um fator concorrente dos lucros, devido ao elevado
alterações no leite; por alterações no equilíbrio da microbiota custo na produção de leite (Philpot, 2002). Fonseca e Santos
intestinal e pela seleção de bactérias resistentes no trato (2000) destacaram que a mastite subclínica é responsável por
digestório decorrentes do uso de antibióticos são outros ris- 70% a 80% das perdas econômicas ocorridas em decorrência
cos, nos quais os consumidores são expostos se consumirem do complexo mastite, no entanto, a prevalência da mesma é
leite oriundo de animais acometidos por essa enfermidade subestimada, uma vez que muitos consideram para efeito de
(Mansur et al., 2003). análise apenas a mastite clínica porque esta se apresenta de
Outro fator importante para a saúde pública é o fato de forma evidente e de fácil diagnóstico.
que mais de 25% do leite produzido no Brasil não é industria- Por não apresentar sinais visíveis de um processo in-
lizado em estabelecimentos sob algum tipo de fiscalização ofi- flamatório ou fibrosamento, para o diagnóstico da mastite
cial, compondo o mercado informal, ou seja, podendo ser con- subclínica é necessário a utilização de testes indiretos como
sumido sem nenhum tratamento térmico ou controle laboratorial o California Mastitis Test (CMT), Whiteside, a
(Embrapa, 2010). condutibilidade elétrica, a contagem de células somáticas,
entre outros (Costa, 1998).
AGENTES DA MASTITE O CMT consiste na reação do leite à um detergente
aniônico, que promove a liberação de DNA das células
Os patógenos causadores da mastite são classificados somáticas, levando a formação de um composto na forma de
como contagiosos e ambientais. Os agentes contagiosos ne- gel, correspondente à quantidade de células presentes
cessitam do animal para a sobrevivência, multiplicando-se na (Andrade, 1998). Pianta (1997) relatou que o CMT é um teste
glândula mamária, canal do teto ou sobre a pele. São transmi- que apresenta boa sensibilidade, além de facilidade de ser
tidos de uma vaca infectada, ou quarto mamário infectado realizado ao “pé da vaca”, momentos antes da ordenha.
para uma vaca sadia, ou quarto sadio, principalmente durante De acordo com Fonseca e Santos (2000), o resultado do
a ordenha. Os principais agentes contagiosos são: teste é avaliado em função do grau de gelatinização, ou visco-
Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae e sidade da mistura de partes iguais de leite e reagente, sendo o
Corynebacterium bovis. Os patógenos ambientais são agen- teste realizado em bandeja apropriada. Os resultados são ex-
tes oportunistas, estão presentes no ambiente em que o ani- pressos em escores: negativo, traços, uma, duas ou três cru-
mal vive e, a partir desta fonte, alcançam o teto, destacando- zes, os quais apresentam uma boa correlação com a contagem
se a Escherichia coli, Streptococcus uberis, Enterobacter de células somáticas da amostra.
aerogenes e Klebisiella spp (Philpot e Nickerson, 2002). A E. Schäfer e Rosado (1993) compararam a reação positiva
coli é considerada um dos principais agentes da mastite bovi- do CMT com a contagem de células somáticas igual ou supe-
na de origem ambiental. As infecções estão relacionadas ao rior a 500.000 células/mL e encontraram correlação em 85,11%
comportamento oportunista desse agente, veiculado nas fe- das reações.
zes dos animais, pela via ascendente para o canal galactóforo Outra forma de diagnóstico muito utilizado é a Conta-
(Radostits et al., 2000). A grande quantidade de matéria orgâ- gem de Células Somáticas (CCS) que vem sendo realizada por

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Laboratórios da Rede Brasileira de Controle da Qualidade do to do ponto de vista da saúde do animal, quanto da produtivi-
Leite, tendo como objetivo melhorar a qualidade do leite e dade da glândula mamária. Os resultados dos testes de sus-
monitorar a situação do rebanho leiteiro. De acordo com Fonse- ceptibilidade a antimicrobianos auxiliam o veterinário na esco-
ca e Santos (2000), a CCS do leite proveniente de animais sadios lha do medicamento apropriado (Francis et al., 1989; Bramley
é normalmente menor que 300.000 células/ml, quando o proces- et al., 2000).
so inflamatório se instala este número tende a aumentar. Os antimicrobianos mais recomendados para o tratamen-
O teste microbiológico é o método definitivo para o di- to da mastite são: amoxicilina, ampicilina, enrofloxacina,
agnóstico, pois, revela o agente etiológico específico e permi- estreptomicina, gentamicina, oxitetraciclina, penicilina,
te escolher a terapêutica e a profilaxia adequada (Corrêa e sulfamerazina e tetraciclina (Andrei, 1999). Deve-se, entretan-
Corrêa, 1992). to, considerar que nem sempre os resultados in vitro podem
O controle desta infecção em uma propriedade leiteira ser totalmente eficazes, pois vários fatores podem interferir no
deve ter como princípio básico a limpeza e a higienização das sucesso do tratamento, tais como, uma reação tecidual de
instalações, utensílios e equipamentos, higiene pessoal do fibrose, a subdosagem e a produção de leite que diluem o
ordenhador, realização dos testes da caneca de fundo escuro, medicamento e dificultam a manutenção de níveis terapêuticos,
CMT, CCS e testes microbiológicos (VEIGA, 1998). entre outros fatores (Costa, 1998).
A resposta ao tratamento de casos de
mastite clínica na lactação varia muito; foram
obtidas taxas de 40% a 70% de acordo com
vários estudos, devido às diferenças na sus-
ceptibilidade de vários microorganismos às
drogas, duração da infecção antes do trata-
mento, idade do animal e grau de envolvimento
do tecido da glândula (Natzke, 1981).
Costa et al. (1997) avaliaram a eficácia
do tratamento da mastite clínica e subclínica,
com base no resultado do perfil de sensibili-
Figura 1. Testes de diagnóstico de mastite clínica e subclínica, mais comumente dade in vitro. Para Staphylococcus spp sen-
utilizados: a) Teste de caneca de fundo preto com apresentação de grumos; b)
Raquete utilizada para teste CMT. síveis a gentamicina a taxa de cura foi de 94,8%.
Lopes e Moreno (1991) analisando três
cefalosporinas contra Staphylococcus aureus de origem bo-
vina, obtiveram boa sensibilidade frente a cefalotina, entre-
TRATAMENTO tanto o cefoxitin e o ceftriaxone apresentaram resistência para
a maioria das cepas.
O tratamento da mastite deve ser feito como parte de um Freitas et al. (2005) estudaram o perfil da sensibilidade
programa de controle que visa prevenir a mortalidade nos ca- de 59 cepas de Staphylococcus coagulase positivo in vitro
sos agudos, o retorno à composição e produção normal do aos antibióticos e obtiveram 100% de sensibilidade da
leite, a eliminação de fontes de infecção e a prevenção de vancomicina, 96% da norfloxacina e 20% da penicilina.
novas infecções no período seco (Cullor, 1993).
Antiinflamatórios não esteroidais
Antibióticos Os antiinflamatórios não esteroidais (AINES) tem várias
Com o progresso tecnológico na área da farmacologia ações terapêuticas, que podem ser de caráter periférico, como
antimicrobiana, diversos problemas foram solucionados e no caso das ações antiinflamatórias, antitrombóticas e
outros surgiram, entre eles, o uso inadequado de drogas no antiendotóxicas, ou podem atuar sobre o Sistema Nervoso
intuito de sanar doenças bacterianas que acometiam o reba- Central (SNC), promovendo ação antipirética.
nho leiteiro. Este fato resultou em respostas estratégicas dos Especificamente nos casos de mastites clínicas, em vir-
principais agentes etiológicos de mastite, uma vez que o em- tude do quadro inflamatório que se desenvolve, o uso dessas
prego exagerado e indiscriminado de antibióticos conduz a drogas é bastante desejável, reduzindo o desconforto dos
resistência bacteriana (Mota et al., 2002). animais, além de aumentar o sucesso das terapias quando
As decisões terapêuticas são comumente realizadas de associadas aos antibióticos (Anderson et al., 1986; Rentala et
forma empírica ou baseadas em informações prévias de sensi- al., 2002).
bilidade para o rebanho em questão, pois raramente os médi- Anderson et al. (1986) observaram que o uso de flunexin,
cos veterinários dispõem de recursos como à identificação administrado pela via injetável em vacas com mastite experi-
microbiana, e a susceptibilidade dos agentes para se tomar mentalmente induzida, reduziu a temperatura retal e os sinais
decisões terapêuticas (Owens et al., 1997). clínicos da inflamação.
Para a melhor indicação terapêutica, o ideal é que sejam Anderson e Hunt (1989) relataram que a administração
feitos cultivo, isolamento e antibiograma do agente etiológico de flunexin ou dexametasona em animais com mastite, induzida
da mastite (Langoni, 1995). experimentalmente, reduziu a temperatura retal e a temperatura
A seleção do antimicrobiano apropriado é essencial, tan- da superfície das glândulas mamárias. Os animais tratados

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com dexametasona apresentaram queda na produção leiteira solução anti-séptica depois da ordenha (Fagundes e Oliveira,
e, embora o número de leucócitos e neutrófilos segmentados 2004). Essa medida é considerada prática, econômica e eficaz
estivesse aumentado, não houve aumento da quantidade de para o controle da mastite, reduzindo mais de 50% das novas
células somáticas no leite. infecções intramamárias durante a lactação. No entanto, sua
Rentala et al. (2002) observaram que, ao tratar vacas eficácia contra alguns tipos de mastite não tem sido compro-
com mastite por Escherichia coli induzida experimentalmen- vada, principalmente aquelas causadas por Streptococcus
te, a associação de enrofloxacina com flunexin foi mais eficaz uberis e coliformes (Silva, 2003).
que o tratamento apenas com o antiinflamatório. As vacas devem ter acesso ao alimento depois da retira-
McDougall et al. (2009) concluíram que animais com da do leite para mantê-las em pé até que a extremidade da teta
mastite clínica tratados com meloxicam e hidroiodeto de seque e o canal estriado se feche completamente. Essa técnica
penetamato apresentaram menores contagens de células ajuda a impedir uma contaminação ambiental imediatamente
somáticas no leite, assim como menores índices de descarte após a ordenha (Rebhun, 2000).
no rebanho, quando comparados com os animais que foram
tratados apenas com o antibiótico. Desinfetantes
A definição oficial de desinfecção pela “American Public
Ordenha Health Association” (1950), “US Publix Health Service” and
A ordenha deve ser realizada por pessoas treinadas, “British Ministry of Health” é a morte de microrganismos
destacando os princípios de higiene, fisiologia da lactação, patogênicos por meios químicos ou físicos, aplicados direta-
funcionamento e manutenção do equipamento (Müller, 2002). mente sobre os mesmos (Block, 1991).
Existem algumas maneiras corretas no manejo, como os proce- Os programas de controle da mastite objetivam reduzir
dimentos de desinfecção dos tetos antes da ordenha, sua prevalência em níveis economicamente aceitáveis, uma
estimulação da ejeção, extração eficiente e rápida do leite e vez que sua erradicação não se apresenta como uma meta
desinfecção dos tetos após a ordenha (Fonseca e Santos, viável (National Mastitis Concil, 1978). Um dos métodos mais
2000). Os tetos e a parte inferior do úbere devem ser lavados efetivos para prevenir novas infecções é a realização da
com água corrente de boa qualidade ou água clorada e secar antissepsia pré e pós-ordenha (Costa et al., 1993).
com papel toalha descartável (Silva, 2003). Esses procedimen- A imersão dos tetos em produtos desinfetantes pode
tos constituem a melhor estratégia na prevenção da transmis- eliminar a maioria dos patógenos e reduzir os riscos das bacté-
são de agentes contagiosos e ambientais durante todo o pro- rias terem acesso à glândula mamária (Fonseca e Santos, 2001).
cesso. É importante saber que o manejo de ordenha não pos- Oliver et al. (1992) demonstraram que a antissepsia dos
sui um padrão. Assim deve ser adaptado à realidade de cada tetos antes e depois da ordenha com produtos a base de dióxido
propriedade. de cloro foi efetivo na prevenção de infecção intramamária por
A rotina pode ser estabelecida da seguinte maneira: Staphylococcus aureus e Streptococcus uberis.
1) Estabelecer uma linha de ordenha: novilha de primeira Com o sucesso desta prática na redução de novas infec-
cria; vacas que nunca tiveram mastite; vacas que tiveram ções intramamárias, com o tempo surgiram várias bases de
mastite clínica há mais de 6 meses; vacas que tiveram mastite soluções desinfetantes em diversas concentrações (National
clínica nos últimos 6 meses; separar do rebanho vacas com Mastitis Concil, 2004).
mastite clínica (Silva, 2003); Os princípios ativos mais utilizados para desinfecção
2) Realizar diariamente o teste da caneca de fundo escu- dos tetos são iodo, clorexidina, ácido sulfônico, cloro,
ro, com leite retirado nos primeiros jatos. Este teste permite o peróxidos, lauricidina, ácido cloroso, entre outros. Com obje-
diagnóstico da mastite clínica e diminui o índice de contami- tivo de diminuir a irritação e condicionar a pele dos tetos,
nação do leite (Müller, 2002); pode-se utilizar essas bases germicidas associadas a
3) Fazer a imersão dos tetos em solução desinfetante; emolientes como a glicerina, lanolina, propilenoglicol, sorbitol,
4) Utilizar o papel toalha descartável para fazer a seca- óleos vegetais, minerais e colágenos (Fonseca e Santos, 2001).
gem dos tetos; Ribeirão (1996) concluiu que um dos principais fatores
5) Colocar as teteiras e ajustá-las; envolvidos na prevenção de novas infecções é a realização da
6) Retirar as teteiras após terminar o fluxo de leite; antissepsia adequada pós-ordenha, com soluções prepara-
7) Fazer a imersão dos tetos em solução desinfetante; das de preferência com emolientes (lanolina ou glicerina 5-
8) Fazer a desinfecção das teteiras entre as ordenhas. 10%), evitando-se o acúmulo de matéria orgânica.
Algumas ações e terapias são essenciais para diminuir Os melhores resultados no pós-dipping têm sido obti-
os casos de mastite clínica, exemplos: pré-dipping; pós- dos com as seguintes concentrações de compostos: iodo - 0,7
dipping; terapia da vaca seca; tratamento da mastite durante a a 1,0%, clorexidina - 0,5 a 1,0% e cloro - 0,3 a 0,5% (4%
lactação e estratégias de descarte; manutenção adequada dos hipoclorito de sódio). No pré-dipping, os produtos tradicio-
sistemas de ordenha e estratégias de aumento da resistência nalmente utilizados são hipoclorito de sódio à 2%, iodo à 0,3%
da vaca. e clorexidina à 0,3%. Em ambos os casos deve-se fazer a imersão
No pré-dipping deve-se fazer a imersão dos tetos em completa dos tetos (Fonseca e Santos, 2001).
solução desinfetante antes da ordenha, usando uma solução Costa (1998) verificou que as amostras de Staphyloco-
eficaz, na diluição certa e que não seja irritante para a pele. ccus spp apresentaram resistência in vitro quando testadas
O pós-dipping é realizado com a imersão dos tetos em frente ao cloro, o mesmo sendo verificado frente ao

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Streptococcus spp. A eficácia da clorexidina e do cloro frente • Atenção especial deve ser dada também aos antimicrobianos
às cepas de Corynebacterium spp sofreu interferência na pre- utilizados como aditivos, antissépticos e desinfetantes (Fon-
sença da matéria orgânica, sendo, portanto, menor quando seca e Santos, 2000).
comparada com os produtos a base de iodo.
O uso de derivados de amônia tem sido indicado no A saúde da glândula mamária é um fator de alta relevân-
“pós-dipping” e desinfecção de material de ordenha, bem como cia na qualidade do leite e na lucratividade do produtor, uma
mãos das pessoas envolvidas no processo. vez que a mastite determina reduções drásticas na produção.
Em 18 de setembro de 2002, o Ministério da Agricultura,
Vacinação Pecuária e Abastecimento (MAPA), por intermédio do Depar-
A vacinação em alguns casos de mastite clínica reduz a tamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA)
prevalência e a gravidade dos quadros clínicos, como ocorre publicou a Instrução Normativa Nº 51 no Diário Oficial da
nas ambientais causadas por coliformes: E. coli, Klebsiella União. Esta instrução normatiza a produção, estabelecendo
spp, Enterobacter spp. Podem ser usadas vacinas autócto- os critérios e parâmetros de identidade e qualidade do leite
nes, produzidas a partir de patógenos isolados de surtos da desde a ordenha, o resfriamento na propriedade e seu trans-
própria fazenda, ou comerciais já existentes no mercado (Müller, porte a granel, incluindo requisitos físico-químicos e
2002; Silva, 2003). Para mastites causadas por S. aureus, Silva microbiológicos, contagem de células somáticas (CCS) e limi-
(2003) relatou resultados promissores do uso da terapia vacinal tes máximos de resíduos (LMR) de antimicrobianos. Desta
na redução da gravidade, bem como da prevalência. forma busca-se a melhoria da qualidade do leite produzido e
industrializado (Brasil, 2002).
Resíduos Diante do exposto é muito importante diminuir a inci-
A presença de resíduos de antibióticos no leite tem sido, dência da mastite para evitar as perdas de quantidade e quali-
nos últimos anos, um dos maiores desafios da indústria de dade do leite. A utilização de antimicrobianos dever ser feita
alimentos no mundo, pois eles interferem na industrialização corretamente, de acordo com a recomendação do médico ve-
de alguns produtos lácteos, podem causar hipersensibilidade terinário. O manejo na fazenda influencia na ocorrência da
em humanos, além de resistência à antibioticoterapia, e são mastite, assim a ordenha deve ser bem feita. A higiene e desin-
considerados indesejáveis pelos consumidores. Estima-se que fecção são fundamentais para o controle dessa enfermidade.
aproximadamente 3,5% das pessoas tratadas com doses tera-
pêuticas de sulfonamidas exibem reações adversas a essas AGRADECIMENTO
drogas, e mais de 10% são alérgicas às penicilinas e seus Dr. José Ricardo Garla de Maio, M.V., Diretor Comerci-
metabólitos (Fonseca e Santos, 2000). al. Ourofino Agronegócio Ltda.
A prevenção das enfermidades e o monitoramento do
uso dos antimicrobianos diminuem a ocorrência de resíduos LITERATURA CONSULTADA
nos alimentos e o aparecimento de resistência bacteriana. Sob
o ponto de vista do uso terapêutico de antimicrobianos, algu- A literatura consultada pode ser adquirida mediante so-
mas considerações são sugeridas: licitação à autora: daniela.miyasaka@ourofino.com
• Devem ser utilizados apenas sob prescrição veterinária;
• Devem ser usados nos casos em que se suspeite ser o agen- Résumé
te causal não apenas de natureza infecciosa como, também,
sensível ao medicamento escolhido, com base em resultados La mammite bovine
de antimicrobianos;
• A escolha do antimicrobiano deve ser feita levando em considera- D. M. S. Cassol et al.
ção a relação risco versus benefício (à saúde animal e humana);
• Seguir rigorosamente as instruções da bula do produto utili- La mammite est un processus inflamatoire de la glande
zado, principalmente respeitar o prazo mínimo do período de mammaire caractérisé par des altérations pathologiques du
carência estabelecido pelo fabricante; tissu mammaire: microbiologiques, fisico-chimiques et
• Usá-los pelo menor período de tempo possível, porém pelo tem- organoleptiques du lait. L’étiologie est complexique, avec du
po necessário para que ocorra total remissão do agente causal; potentiel zoonotique, et est responsable de grandes pertes
• Manter um registro dos animais tratados, dos medicamentos pour le produteurs de lait: reduction de la production laitière,
utilizados, da posologia, do período em que foi feito o trata- chute du valeur de l’animal, limitation de la production des
mento, e dos nomes dos que os prescreveram e forneceram; produits lactés, élimination de lait, dépenses avec assistence
• Monitorar os animais após tratamento antes de liberar o leite vétérinaire, médicaments, main-d’oeuvre, élimination précoce
para consumo humano; de vaches, d’entre autres. Les causes de la mammite sont
• Monitorar quartos não tratados de animais com tratamento d’ordre toxique, traumatique, alergique, métabolique et
intramamário se for utilizado o leite destes quartos não trata- infectieuse. Les causes infectieuses sont les plus courantes
dos, pelo risco destes também apresentarem resíduos; et environ 150 types de microbes peuvent être responsables
• Sempre que possível dar preferência ao tratamento de mastite de la maladie. Comme la mammite est la plus importante des
subclínica ao final da lactação, na secagem, minimizando os maladies des vaches laitières, sa prévention, son contrôle et
riscos de resíduos; son traitement sont essentiels pour la rentabilité des élevages.

A Hora Veterinária – Ano 29, nº 175, maio/junho/2010 31

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