:: Universidade E s ta u d a l Paulista - UNESP- c a m pu s de Fr a n c a - SP,Brasil
Summary: In this text we intend to present some discussions about
the basic questions that intermix the art, the esthetics, the beautiful, the ugly, the pretty, the artistic work and the relationship among art and the Human’s essence representation and commerce, at last. So, the practice of the beautiful wanting to manifest through the human being is the mechanism of art, because it doesn’t reveal itself by itself. The art should not be built just for being traded, but to reveal the essence of Human’s perception in the manifested revelation of the beautiful. The beauty is one of the cultural aspects of the capacity of making art and artistic creation. The esthetics, for being one of several ways of reality’s comprehension by philosophy, tries to explain or unless to further the understanding of this relationship among Human’s and inhuman’s manifests, both inserted into art’s reality. We’d rather denominate some art’s aspects by culture because that drags us to a dimension of concrete art’s exist. The art must be the deepest Human’s manifest: things that are felt and seen in his interior. We understand, thus, the art’s dimensions in what approaches art’s and esthetics’ conception, making reference to the beautiful and to the beauty, to the ugly and to the pretty in art as cultural manifestations, approaching the art as a Human’s work which reveals, at times, the Human’s more inner or attending to commerce’s exigencies that we suggest to defend the idea that art is fundamental.
Neste texto apresentamos num primeiro momento o
que entendemos por arte e por estética. Em seguida falamos da influência que esse aspecto de manifestação humana tem para a cultura enquanto expressividade de valores. Discutimos sobre as questões que permeiam o belo. E, por fim, abordamos a diferença entre a arte pela arte e a arte produzida sob encomenda – para comércio. A tentativa é a de responder à pergunta básica que nos incomoda: o que significa a arte enquanto representação humana? No conhecido dicionário do Aurélio encontramos no verbete “arte” a informação de que ela é a... ... capacidade que tem o homem de por em prática uma idéia, valendo-se da faculdade de dominar a matéria. 2. A utilização de tal capacidade com vista a um resultado, que se pode alcançar por meios diferentes. 3. Atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito, em geral de caráter estético, mas carregados de vivência intima e profunda, podendo suscitar em outrem o desejo de os prolongar ou renovar. 4. A capacidade criadora do artista de expressar ou transmitir tais sensações ou sentimentos...(FERREIRA, 1980, p.177). Para colocar em prática uma idéia estamos entendendo a capacidade que o homem possui de viabilizar, através do manuseio de matérias, transformando-os para imprimir nelas a sua idéia. Ele pode modificar a forma da matéria e imprimindo-lhe uma outra forma, revelando-se na nova forma. Assim, ele a transforma para manifestar a sua idéia através da matéria. Isso significa que está tendo um domínio sobre a matéria. Entretanto, não podemos deixar também de entender que ele pode ter um domínio parcial dessa mesma matéria. Parcial porque utilizando a forma pela qual a matéria se manifesta ele pode não modificá-la substancialmente, mas apenas dar outra significação que não a primeira. Ela, a matéria, passa a ser significante da idéia do artista. Assim, a matéria utilizada pelo artista é fundamental, tanto para expressar suas idéias sem transformá-la quanto a transformando para dar outro contorno a ela, imprimindo a sua idéia em forma de peça artística. Nesse exercício de transformação ou não da matéria, o artista manifesta os seus sentimentos, seus desejos, suas emoções, suas percepções de mundo, sua cultura, suas angústias, seus devaneios, suas certezas, suas dúvidas, sua espiritualidade, enfim sua potencialidade humana. Ao fazer isso ele entra numa dimensão que ultrapassa o comum dos homens. O artista é necessariamente um ser humano muito especial, porque tem a capacidade de perceber sons, cores, formas, contornos, luzes e sombras, tamanhos, perspectivas e graças a sua ousadia dá forma a todas essas percepções. É isso que o diferencia dos outros homens, considerados comuns. Portanto, a arte é uma maneira de manifestação da essência humana, materializada em peça artística. O homem é um ser que tem a capacidade de perceber o fenômeno e dentro do fenômeno, a essência. E mais que isso, ele pode manifestar a sua percepção de variadas formas. Através da escrita, ele constrói idéias que são manifestadas mediante a linguagem simbólico- gráfica; na fala ele expressa suas idéias de maneira oral; na poesia escrita ou falada ele manifesta seus sentimentos mais íntimos; nas artes plásticas revela sua sensibilidade em observar os fluídos da beleza de que está impregnado; na música ele junta várias manifestações artísticas e revela os sentimentos, os desejos, as percepções, as sensações, as idéias, enfim, o seu ser mais profundo em consonância com a realidade vivida ou imaginada. Diante disso, como entender a arte enquanto manifestação própria do humano? Ao entendermos a arte como manifestação humana, temos que fazer uma reflexão sobre o conceito de arte e depois argumentar sobre os vários modos pelos quais ela tem de se fenomenomenizar. Afinal, é um fenômeno se manifestando e aparecendo, tomando forma. E para isso depende do envolvimento humano. Esse exercício do belo querer se manifestar por intermédio do humano é mecanismo próprio da arte, isso porque ela não se revela sozinha. Carece da mão humana para dar-lhe forma, apresentar seus contornos. Assim, o trabalho do homem de buscar, melhor dizendo, criar instrumentos para revelar a essência do belo é um procedimento que poucos conseguem executá-lo. Exatamente por isso, é necessário ter ousadia, perspicácia, coragem, porque por alguns não conseguirem fazer esse exercício conseqüentemente também nem todos os homens vão entender o porque desse trabalho. A arte, em alguns casos extremos, geralmente é entendida como algo inútil. Diante disso aparece a dificuldade de algumas pessoas para compreender os meandros do fazer artístico como algo propriamente humano, como produto humano. A preocupação básica, nesse sentido, está relacionada com os trabalhos que produzem mercadorias valoradas economicamente. As questões ideológicas do capitalismo são fundamentalmente as da utilidade e que não permitem entender que uma manifestação artística seja algo inerente ao humano, não tem valor econômico. A arte não deveria ser construída apenas para ser comercializada, mas para revelar a essência do percepcionar humano na revelação manifesta do belo. Mas, infelizmente, vivemos em uma sociedade cujo sistema organizacional está pautado nas questões de valorar a produção material e não a espiritual, ou seja, só é valorizado aquilo que tem possibilidade de ser compreendido dentro do sistema econômico. Diante disso pode-se dizer que “... o valor de uma obra de arte no mercado nem sempre é dado pela qualidade estética” (BARROCO, 2005, p.32) mas, pelo valor de compra e de venda. O desafio do artista está justamente nessa manifestação, apesar de ter essa consciência e essa percepção ele deve ultrapassar o limite e mesmo assim, fazer manifestar-se no belo, pelo belo e com o belo. Sobre a estética também encontramos no dicionário do Aurélio, alguns conceitos que merecem uma discussão. Diz-nos ele que é o ... estudo das condições e dos efeitos da criação artística. 2. Filos. Tradicionalmente, estudo racional do belo, quanto à possibilidade de sua conceituação ou quanto à diversidade de emoções e sentimentos que ele suscita no homem. 3. Caráter estético. Beleza. (FERREIRA, 1980. p. 733). A estética por ser uma das muitas vertentes de compreensão da realidade pela filosofia, busca explicar ou pelo menos promover o entendimento dessa relação entre o manifestar do humano e do inumano, ambos inseridos na realidade da arte. O humano é aquele que está posto num determinado tempo e num determinado espaço, portanto ocupando um lócus existencial. O inumano pode ser entendido como algo não ocupante de um lócus existencial. Em outras palavras, é algo abstrato, ininteligível, não perceptível pelos sentidos, mas apenas observado pela razão. Assim, o homem tenta entender essa dimensão e tudo aquilo que está contido nesse percepcionar intelectual. No entendimento dessa realidade não-material estamos falando de estética. Ela ultrapassa o fenômeno manifesto e vai numa direção de representação. Afinal, o que é mesmo o belo? Estamos entendendo o belo como algo quase inatingível pelo homem. É algo que poderíamos dizer, perfeito. Não conseguimos entender completamente os contornos existenciais do belo, mas apenas algumas frestas de suas manifestações. Isso significa que ele tem dimensões escorregadias quando pensamos que estamos chegando perto de entendê-lo, ele se afasta e se esconde nas manifestações artísticas. Assim, o belo não é evidente, mas presente-ausente. Se fosse possível a nós humanos juntar todas as manifestações artísticas num único espaço físico ou mental, teríamos aí a presença real do belo. Como isso é praticamente impossível, temos raios luminosos pelos quais o belo se deixa manifestar em cada obra de arte separada. Quando estamos contemplando uma peça artística, estamos tendo contato com uma das formas de manifestação do belo. Ele se revela em partes através da beleza, que é a forma mais evidente de se apresentar. Pelo fato de sermos seres culturais e denominarmos de bonito ou de feio, determinada manifestação da e na realidade, revelamos a complexidade da beleza e dentro dela o belo. Preferimos denominá-lo culturalmente porque isso nos coloca numa dimensão do existir concreto da arte. Portanto, dada a dificuldade humana de compreender a complexidade do belo optamos por usar os recursos que temos disponíveis e dizermos que uma peça artística é bonita ou feia, porque isso nos coloca junto da realidade vivencial que é própria da estabilidade humana. (precisamos estar seguros existencialmente). Assim, nos confortamos e vivemos numa dimensão menos complexa. A artisticidade da arte se completa em nós quando atribuímos valores de bom, bonito, feio, ruim. Assim, ela se torna acessível a nós. É importante sabermos que “...o objeto artístico, cria valores e interfere no gosto estético da humanidade, propiciando a consciência da genericidade humana.” (BARROCO, 2005, p.30/1). Em outros termos, o homem ao ver uma peça artística pode se identificar com a idéia manifesta na forma, na cor, na silhueta, na beleza expressa através dos seus contornos criativos, ou pelo contrário rechaçar por não se identificar com ela. Frente ao que foi abordado acima, nos colocamos também numa situação de entender o porque da arte, como ela pode ser e é freqüentemente utilizada. Entendemos que em determinados casos ela manifesta o mais profundo sentimento do homem. Nesse aspecto o homem busca na sua existencialidade humana aquilo que está escondido às vezes dele mesmo e o revela, dando uma aparência manifesta na arte. Em outros casos, a arte é apenas a manifestação mais superficial do homem: aquilo que ele vê externamente, tanto de si quanto do mundo. De qualquer maneira ele desvela o ser da beleza. Assim sendo, a arte assume aquilo que chamamos de bonito ou de feio. Mas independentemente de atribuirmos valores, ela por si só já é arte, pela própria condição de ser arte. Entretanto, há outro sentido que não podemos nos omitir e deixar de mencionar. Também a arte pode ser construída apenas para atender as necessidades estéticas (arranjos ornamentais) de consumidores desse tipo de trabalho. É, por assim dizer, as obras produzidas por encomenda. Elas não perdem o seu valor artístico, o que muda em relação às apresentadas no parágrafo anterior é que enquanto aquelas são expressões do intimo do homem, estas são manifestações do interesse comercial, às vezes não do próprio artista, mas do comprador. O que há de comum entre elas é que a peça de arte assume uma existência própria e que revela o humano. Entendendo, portanto, as dimensões da arte no que se refere ao conceito de arte, de estética, referenciando-se ao belo e à beleza, ao feio e ao bonito na arte enquanto manifestações culturais, abordando a arte enquanto um trabalho humano que revela, às vezes, o mais íntimo do humano ou atendendo às exigências comerciais é que nos propomos a defender a idéia de que a arte é fundamental. Principalmente naquilo que se refere à condição humana de expressão dos seus sentimentos e de fazer a sua representação de mundo. Assim, finalizamos este texto dizendo que arte pode ser a expressão mais profunda do ser humano e que isso possibilita a interação entre almas, corpos, existências, projetos, utopias...
B IBLIOGRAFIA CONSULTADA
BARROCO, Maria Lúcia Silva. Ética e Serviço Social:
fundamentos ontológicos. 3.ed. São Paulo Cortez, 2005. COUTINHO, Evaldo. A Artisticidade do Ser. São Paulo: Perspectiva, 1987 (Col. Filosofia – Estudos). COLI, Jorge. O Que é Arte. 6.ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. ( Col. Primeiros Passos, n.46). SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo Como Vontade e Representação. Trad. M.F. Sá Correira. Rio de Janeiro: Contraponto, 2001. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. DALBERIO, Osvaldo. O Homem e a Arte. Jornal de Uberaba. Seção Opinião, 07/08/1988 DUARTE JUNIOR, João Francisco. O Que é Realidade. 6.ed. São Paulo: Brasiliense, 1990. ( Col. Primeiros Passos, n.115).