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Educ. ¢ Filos., Uoerandia, 2 (4): 5-12, jan./jun. 1988 ABELARD E A QUESTAO DOS UNIVERSAIS ‘Marcio Chaves-Tannis * “Na discussdo sobre os universais, a posigdo de Abelardo é tipica e vai influenciar Poderosamente 0 desenvolvimento posterior do problema. Com efeito, Abelardo foi o primeiro que baseou a sua solugdo ndo jé na verdadeira ou suposta realidade metaft- sica do conceito, mas unicamente na sua tun¢do, que é a de significar as coisas.” ABBAGNANO (S/d): p. 98. “Boécio distingue trés espécies de filosofia, isto é, 2 especulativa, que investiga a natureza das coisas; a moral, que considera a questo da vida honesta; e a racional, denominada Kigica pelos gregos e que trata da argumentag4o. Alguns autores, entre- tanto, separam a légica da filosofia com afirmar que ela constitui mais um instrumento, de acordo com Boécio, do que uma parte da ciéncia filosdfica, (.. .). O proprio Boécio rebate essa opiniao com afirmar que nada impede a fégica de ser, ao mesmo tempo, instrumento e parte da filosofia. .." ABELARDO (73): p. 207. 4 - INTRODUGAO Pierre Abélard, 0 mais importante légico do século Xi, filbsofo e teblogo francés, nasceu em 1079 em Le Pallet, préximo a Nantes, na Bretanha, © estudo do “Trivium” (gramati- ca, retérica, dialética) foi a base de sua formagao intelectual. J& como estu- dante ele entra em contato, e se ocupa, com © principal problema filoséfico da primeira metade do século Xil: a ques- 180 dos universais. Ocupag&o que ele mais tarde, como professor de ldgica, aprofunda e intensifica. Em sua obra ele desenvolve uma posic&o prépria, uma espécie de variante do “conceptualis- mo"; uma alterativa teérica correta, do ponto de vista Ibgico, ao beco sem sal- da em que se encontrava, e se encon- tra, uma das mais persistentes querelas da histéria da filosofia: aquela entre os nominalistas, de um lado, ¢ Os realistas, de outro. Querela geraimente acoberta- da por denominacées outras, nem por isto, contudo, menos presente na Légi- ca, na Ontologia, na Fiosofia das Cién- * Professor do Departamento de Filosofia da UFU. 5 Educ. ¢ Filos., Uberlandia, 2(4): 5-12, jan jun. 1988 cias e na Lingiifstica contemporaneas. No nosso século, todavia, 0 co- nhecimento escasso da producao filo- s6fica medieval, assim como uma con- cep¢fo da histéria que situa no pre- sente seu ponto de referéncia Unico so fatores que tém contribuido para que a produgao atual, com freqiiéncia, se ca- racterize, ou pela esterilidade, ou pela inconsciéncia de sua natureza repetiti- va. A finalidade do presente trabalno & fomecer elementos iniciais Gteis a compreenso e a avaliagao do contri- buto de Abéiard @ quest&o dos univer- sais. 2 — A Questao dos universai A discusséo filosdfica em torno dos universais 6 pelo menos tao velha quanto a disputa de Sdcrates com os sofistas, Contra estes, Sdcrates, de acordo com 9 testemunho de Platao, afirmou a existéncia reai das idéias, ou conceitos, posteriormente denominados “universais”. Conceitos cuja expresso lingilstica S80 ou os substantivos abs- tratos, tais como: “justiga”, “virtude”, “beleza”, “bondade”, etc., ou os con cretos comuns, tais como: “homem”, “Arvore”, “pedra”, etc. Sdécrates asse- vera, Mesmo, que as idéias formam a Gnica realidade de fato: no perecivel, imutAvel, captdvel apenas pelo espirito. 4, Ct. Platon (50); live septiéme, pp. 1101-5. 6 Para ele, a existéncia das idéias prece-~ de, torna posstvel a sua propria mate- rializagZo em casos particulares, per- ceptiveis pelos sentidos. Assim, as agées virtuosas, por exemplo, pressu- p5em, como necesséria & sua prépria, a existéncia da idéia de virtude. As ages justas, a de justica, e assim por diante. De acordo com esta teoria, as ocorréncias singulares como, por exemplo, um belo corpo s4o apenas 0 reflexo pélido, a projec4o deformada, de existéncia apenas passageira, das idéias gerais imperectveis, como a idéia de beleza. Uma tentativa elogiiente de apresentagao didética desta concep¢ao nos € fornecida pela famosa alegoria da caverna’. Interessantes, e n&o desprovi- das de peso para a hist6ria posterior da filosofia, S20 as conseqiéncias episte- molégicas desta concepgdo. Coerente ‘com Seu ponto de vista ontoldgico, Sé- crates decliara serem as idéias, e nao aS manifestagées particulares destas, o tinico objeto digno do conhecimento fi- los6fico, Com este passo, ele afasta ‘sua filosofia da investigago da realida- de emplrica, do mundo captavel pelos sentidos, Afasta e atribui a toda discipli- na que se ocupe com a investigagao de fatos empiricos um papel de importan- cia secundaria, A tradic&o floséfica do “idealis- mo”, oriunda da teoria das idéias que Platao atribui a Sdcrates, é representa- da no século XII de nossa era, com ca- racterfsitcas préprias 4 época, pelos Educ. e Filos., Ubertandia, 2(4): 5-12, jan.fjun. 1988 chamados “realistas”. Para eles, os universais s&o seres concretos de existéncia real. A posi¢&o contraria, a dos chamados “nominalistas”, negava aos universais qualquer tipo de exis- téncia e afirmava serem eles meros nomes, emissdes sonoras, palavras. A terceira posigéo, o “conceptualismo”, posigao intermediria entre as duas anteriores, ndo negava aos universais todo e qualquer tipo de existéncia; n&o os enxergava, contudo, corno seres concretos, de existéncia independente da mente que os concebe. 3 — De Sécrates a Abélard. Precisada por Arist6teles, co- mentada e transmitida 4 posteridade por Porfirio e depois Boécio, a questéo dos universais chega ao século XI e, atra- vés de seus mestrés, a Abélard. Etienne Gilson situa historicamente € descreve, como segue, aS circunstan- cias em que Abélard entra em contato com a questao: “Comme tous les professeurs de logique de son temps, Abélard rencontre la philosophie & propos du probléme des universaux”. A seguir, ele descreve o que era @ quest& dos universais, tal como Abélard a conheceu: 2, Gilson (sid): p. 282. 3, Ibid. 4, Ibid. 5. Ibid, “Les questions posées par Porphyre étaient d'abord de sa- voir si les universaux existent dans la realité ou seulernent dans la pensée: (...); ensuite au cas oli ils existeraient réellement, s‘ils sont corporels ou incorporels; troisimement, s‘is sont séparés des choses sensibles ou siils y sont engagés.”? Finalmente, ele expée a contri- buigao de Abélard & formacéo da questo, tal como ela, desde entdo, se tomou conhecida: “A ces trois questions de Porphyre, Abélard en ajoute de lui-méme une quatriéme, destinée & devenir classique comme é- talent daja les trois premidres: les genres et les espéces auraient-ils encore une signification pour la Pensée, si les individus corres- Pondants cessaient dexister? Par exemple, le mot ‘rose’ aurait-t encore un sens, s'il n'y avait plus des roses?” Gilson observa, ainda, que: “La réponse & ces divers pro- blames dépend de fa solution du premier: les universaux ne sont- ils que des abjets de pensée, ou existent-ils en realité?”*

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