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Resumo
Os impactos socioambientais ocasionados pela grande demanda de recursos, imposta pelo
crescimento e desenvolvimento populacional, cada vez mais põe em risco o equilíbrio
ambiental do nosso planeta. Neste contexto, a criação e o aperfeiçoamento de técnicas e
ferramentas de geotecnologia, capazes de contribuir na defesa do meio ambiente, se mostra
uma alternativa interessante para o desenvolvimento sustentável. Dessa forma, o objetivo
deste trabalho é fundamentar a utilização do Sistema de Aeronave Remotamente Pilotada
(Remotely-Piloted Aircraft System – RPAS) como um instrumento de defesa e preservação do
meio ambiente e sua aplicação em perícias ambientais. Desenvolvido por meio de pesquisa
bibliográfica, este artigo aborda passagens do direito ambiental, enfatizando o conceito de
meio ambiente e a legislação pertinente à perícia ambiental. Ainda, evidencia a interação
entre meio ambiente e geotecnologia e a utilização desta como ferramenta para a perícia
ambiental. Por fim, conclui-se que a utilização do RPAS como instrumento de defesa e
preservação do meio ambiente é uma alternativa viável e seu uso como ferramenta nas
perícias ambientais auxilia de forma precisa e eficiente na comprovação, ou não, do dano
ambiental.
1. Introdução
O crescimento populacional ocorrido, principalmente, no século XX trouxe consigo o
aumento da demanda por recursos naturais utilizados para atender os desejos e necessidades
da sociedade. Esse aumento ainda hoje acarreta a necessidade de alterações no meio ambiente
e essas, por sua vez, causam diversos impactos e comprometem o equilíbrio ecológico do
planeta.
Sabendo disso, o Estado desenvolveu Políticas Públicas com o objetivo de proteger o meio
ambiente. A Lei nº 6.938/81 é um exemplo, pois estabeleceu a Política Nacional do Meio
Ambiente - PNMA e trouxe em seu objetivo, disposto no art. 2º desta mesma lei, “a
preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da
segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”.
O art. 225 da Constituição Federal é outro exemplo, quando, no ano de 1988, estabeleceu que
“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para às presentes e futuras gerações”.
Quando o dever jurídico é descumprido e o ato acarreta em dano ou prejuízo aos elementos
que compõe o meio ambiente, sendo o indivíduo pessoa física ou jurídica, autora, coautora ou
partícipe do mesmo ato, este será responsabilizado pelo delito, podendo haver cumulação de
responsabilidades jurídicas pelo descumprimento de um único dever jurídico.
Para comprovar, ou não, a existência do dano o Estado, por meio do Ministério Público,
poderá requisitar o exame pericial, realizado por profissional de comprovada aptidão e
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2. Desenvolvimento
[...]Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para às presentes e
futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e
fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
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Esse artigo é um marco no que se refere à proteção do meio ambiente e do ser humano.
Diferente dos conceitos apresentados até a sua publicação, a CF inseriu o conteúdo humano e
social no contexto meio ambiente, que antes era tratado de um ponto de vista unicamente
biológico.
Mesmo não estando fixado no Título II da CF, que dispõe “Dos Direitos e Garantias
Fundamentais”, o direito de viver num ambiente ecologicamente equilibrado se mostra um
direito fundamental implícito na Constituição, pois está subentendido de um direito ou
princípio positivado.
Quando o Poder Público diz que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, classificando-o como bem de uso comum, e impõe à coletividade o dever de
preservar e defender o meio ambiente, os direitos e deveres vão de encontro a um objetivo
maior, o desenvolvimento em prol do equilíbrio ambiental.
A Lei nº 6.938/81 que estabeleceu a Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA veio
fundamentada nos arts. 23 e 225 da CF e trouxe em seu objetivo “a preservação, melhoria e
recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao
desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da
dignidade da vida humana”.
A PNMA também foi responsável por estabelecer instrumentos de controle e fiscalização da
qualidade ambiental e por definir o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida
em todas as suas formas”.
A inserção das leis na definição de meio ambiente auxiliou na mudança de paradigmas da
sociedade, pois, explicitou o estabelecimento de deveres e padrões a serem cumpridos e
penalidades disciplinares a quem, física ou juridicamente, incorrer em ações lesivas ao meio
ambiente.
Em relação aos instrumentos da PNMA, Santos (2014) dividiu sua aplicação em duas fases:
Nunes (1994) conceitua a perícia nas esferas criminal, cível e administrativa, verbis:
Art. 429. Para o desempenho de sua função, podem o perito e os assistentes técnicos
utilizar-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo
informações, solicitando documentos que estejam em poder de parte ou em
repartições públicas, bem como instruir o laudo com plantas, desenhos, fotografias e
outras quaisquer peças.
Fica explicito no disposto que o perito e os assistentes técnicos não devem abdicar de nenhum
meio de prova, e sim maximizar seus sentidos perceptivos para aproveitar tudo que possa
estar relacionado ao objeto da perícia.
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Martins Junior (2010) explica que os dados levantados in loco constituem a base fática para a
elaboração do laudo pericial e dos pareceres dos assistentes técnicos. Os dados de campo são
entendidos como elementos físicos, documentos e informações disponíveis e necessárias ao
total esclarecimento dos fatos questionados nos autos. Como esses elementos se revestem de
importância decisiva para a conclusão da perícia, devem merecer especial atenção do perito.
A precisão e confiabilidade dos dados coletados são de extrema importância para a correta
análise e interpretação dos fatos e para atender o objetivo do exame pericial. Para Trauczynski
(2013), nos crimes contra a flora, os quais são definidos pela Seção II do Capítulo V da Lei
9.605/98, a perícia, através dos exames periciais, objetiva-se a:
Salienta-se que a perícia em crimes contra a flora é exigida pelo fato de tratar-se de crime que
deixa vestígios e por ser necessário exame que defina a floresta derrubada e ateste o dano.
Nesse sentido, a perícia também poderia atestar se a área enquadra-se como de preservação
permanente, está em regeneração natural, encontra-se em unidade de conservação ou outros
elementos possíveis.
É importante que o perito utilize alguns instrumentos e ferramentas de trabalho que deverão
ser escolhidas em função das características de cada perícia. Em especial nas perícias em
crimes contra a flora, a utilização das geotecnologias vem se destacando e é responsável por
integrar as tecnologias do Geoprocessamento, Sensoriamento Remoto e Sistemas de
Informações Geográficas (SIG) as quais podem gerar informações cruciais para o correto
entendimento do fato (TRAUCZYNSKI, 2013).
Conforme Caldas (2006), o geoprocessamento é instrumento primordial em qualquer
procedimento que envolva a realização de análises ambientais abrangentes, pois atua na
obtenção, processamento e difusão de dados espaciais. Não há dúvidas que um laudo pericial
de desflorestamento, por exemplo, é uma análise ambiental e seu grau de abrangência é
dependente da magnitude do fato investigado.
Assad e Sano (1993) definem SIG como sistemas destinados ao tratamento automatizado de
dados georreferenciados. Trata-se de um sistema computacional (softwares) destinados a
armazenar (em forma de bancos de dados), processar, integrar, analisar, calcular áreas,
visualizar e representar em forma de mapas informações georreferenciadas. Essas
informações podem estar relacionadas a relevo, solos, vegetação, clima, fenômenos,
urbanização e inúmeras outras.
Já o sensoriamento remoto pode ser definido como um conjunto de técnicas que visam obter
informações sobre um determinado objeto ou fenômeno sem que haja contato físico entre os
sensores e os alvos. Conforme Menezes e Netto (2001) os sensores a bordo de satélites e
aeronaves tornam-se extensões dos olhos humanos para ver a superfície do nosso planeta e
conseguiram superar o poder de visão do homem, ampliando nossa visão espectral, espacial e
temporal da superfície terrestre.
Nos exames periciais em que, na maioria das vezes, o objeto pericial está dentro de uma
pequena área de terra, o uso das abordagens clássicas de geotecnologias pode, de alguma
forma, não ser confiável, principalmente nos casos em que são necessárias imagens de alta
resolução espacial e temporal.
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3. Conclusão
Tendo em vista a essencialidade do meio ambiente ecologicamente equilibrado para a
prosperidade da vida humana é necessário que os modelos de desenvolvimento
socioeconômico tenham como base a sustentabilidade aliada à preservação e a melhoria da
qualidade ambiental. Para isso o avanço tecnológico deve andar de mãos dadas com as boas
práticas ambientais fornecendo alternativas viáveis economicamente e eficientes, capazes de
evitar ou mitigar os danos ao meio ambiente.
O uso do RPAS, aliado à geotecnologia, se fundamenta no art. 225 da Constituição Federal
quando sua aplicação tem por objetivo, direto ou indireto, a defesa e proteção do meio
ambiente, seja de forma preventiva ou corretiva. Essa mesma aplicação do RPAS também
está fundamentada nos instrumentos e objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei
nº 6.938/81, e em várias outros trechos da legislação ambiental vigente em nosso país.
Quando o assunto é perícia, o uso do RPAS se fundamenta no art. 158 do Código de Processo
Penal e no art. 429 do Código de Processo Civil, sendo, sua aplicação, capaz de auxiliar de
forma precisa e eficiente o perito na identificação, mensuração, ilustração, registro de
vestígios e locais de crimes e na comprovação, ou não, da existência do dano.
Por fim, o RPAS se consolida como um importante instrumento de defesa e preservação do
meio ambiente, proporcionando precisão, agilidade, praticidade e inovação aos estudos e
projetos que envolvem esse setor.
4. Referências
ALMEIDA, R. de. Avaliação de Danos Causados ao Meio Ambiente. In: TOCCHETTO,
D. (Org.). Perícia Ambiental Criminal. 3. ed. Campinas, SP: Millennium, 2014, p. 269-291.
MEIRELLES, H. L. Direito administrativo Brasileiro. 35. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2009, p. 245
MENEZES, P. R.; NETTO, J. da S. M. (Org.). Sensoriamento remoto: reflectância dos
alvos naturais. Brasília: UNB, 2001. 262 p.
NUNENS, P. dos R. Dicionário de Tecnologia Jurídica. 12. ed. Rio de Janeiro: Livraria
Freitas Bastos, 1994.
NETO, M. S. Qual software de processamento de imagens de drone devo usar? Droneng,
2015. Disponível em: <http://blog.droneng.com.br/processamento-de-imagens-de-drones-
qual-software-usar/> Acesso em: 29 de mar. 2018.