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Tomando consciência do meu estado alterado:nossa resposta awareness. (psicanalista - Manoel R.

Reis – 2019)

Dentro do mundo da psicologia[…] deslocar todas as nossas reações como resposta para o mundo louco
que vivemos, não deixa de ser um fetiche do desconhecido, de uma certa “adoração ao inconsciente ou
usá-lo para expiar todos os nossos erros e pecados”. De forma intencional ou não acabamos por transferir
nossa culpa pela falta de uma percepção mais apurada dos problemas psicológicos e sociais que estamos
imersos no cotidiano. Tenho notado nas organizações uma onda crescente de contradições na busca pela
percepção de problemas mais globais, principalmente na esfera da gestão de conflitos, segundo o filósofo,
sociólogo e escritor polonês Zygmunt Bauman uma ausência de percepção da totalidade o que
compromete nossa capacidade de perceber nosso “awareness: fator que afeta diretamente nossa
habilidade em operar com êxito”(1).

Eis, então, a primeira ocorrência do termo “fenomenologia”(2) na literatura da Gestalt-terapia. Esta


abordagem aparece aqui como a disciplina por meio da qual pretendo esclarecer em que sentido a noção
de “awareness” lança as bases para uma nova concepção sobre as formas de contato entre o homem, o
semelhante e o mundo – formas essas as quais denominam do “sistema self” enfim o eixo da nossa
personalidade.

Fenomenologia, nesse sentido, não é o estudo do que aparece, do que surge, mas sim fazer ver – no
âmbito de nossa experiência – aquilo que se manifesta, que surge e se manifesta a partir de mim mesmo.
O que se manifesta do si mesmo, por sua vez, não é uma coisa objetivada, única e pronta. As coisas
naturais se mostram de acordo com a definição de natureza, e não de acordo com elas mesmas. Razão
pela qual, para a psicologia, o manifestar-se desde si mesmo implica numa espontaneidade, a qual as
coisas naturais muito representam, porém não se esgotam.

O termo “intencionalidade”(3) tenta nominar essa forma de espontaneidade, com base na qual passamos a
representar os seres humanos com as suas experiências, e seus sentimentos, sejam estes homens,
mulheres, outros animais, plantas ou coisas inanimadas.

Esta visão da fenomenologia é fazer ver a essência dessa intencionalidade (3) primeira e impessoal e
intransferível, que se mostra diante do pensamento reflexivo, inclusive com muitos dos instrumentos de
analise e investigação que temos disponíveis dentro do mundo corporativo. O tempo que tanto buscamos
não para de escoar por nossas mãos, já que ele é a forma íntima da intencionalidade (3), enfim nossa
humanidade, circunspecto dentro dos limites da nossa individualidade.

Neste fluir temos algo essencial - a espontaneidade, que se revela com base em si mesma tal como ela é
vivida a cada instante e de maneira impessoal, porque não dizer incondicional. O fundador da psicologia
Gestalt professor A. Perls utilizava o termo “awareness” para designar a forma como transpomos no
campo das relações humanas que se insere na noção do fenômeno da lógica da “intencionalidade”(3).

Entender o self como a “realização do potencial”, significa dizer que “o presente é uma passagem do
passado em direção ao futuro”, no campo da prática, a noção de fenomenologia se presta a designar uma
postura de nossa disponibilidade em relação àquilo que se mostra no cotidiano como algo “óbvio”, algo
que vivemos independente do nosso querer, de forma independente e incondicional sem ligação a causa
ou a um fator determinante como a genética por exemplo.

Trata-se dos hábitos inibitórios, ansiedade e angústia, compartilhados nas rodas de conversas, que ainda
temos nas organizações, mesmo que escassas com o advento das mensagens. Ao psicólogo importa
pontuar o “como” esses acontecimentos se mostram (naturalmente) na atualidade do dia-a-dia quer
retornem eles do passado, quer dirijam-se eles ao futuro. Enfim uma busca para deixar fluir da melhor
maneira possível nossas relações produtivas sejam em quaisquer tipos de organizações.

Tal dimensão prática do compartilhar acaba se tornando uma obrigação quando falamos em redes sociais e
virtuais e um conjunto sem fim de desdobramentos factíveis e inevitáveis destas ferramentas de
compartilhamento, ao mesmo tempo inclusivas mas poderosamente exclusoras quando afrontam os
códigos de aceitação das redes e seus principais usuários.

Se por um lado as redes sociais permitiram a socialização das informações e registros quase instantâneos
por outro possuem em seu bojo os riscos do poder manipulação social sem precedentes, criando brechas e
lacunas não mensuráveis, além de criar códigos inadvertidos de acesso construídos no afã das
intencionalidades das mensagens, arriscaria dizer códigos quase pictóricos visíveis apenas ao imaginário
coletivo de seus usuários.

Em 2011, uma equipe do Café Filosófico da TV Cultura foi à cidade de Leeds, Inglaterra entrevistar Zygmunt
Bauman, em sua casa. Bauman revelou-se uma pessoa de extrema simpatia e cordialidade com a equipe
que “invadiu” sua casa. Este grande filósofo contemporâneo tocou no ponto crítico e essencial - a
necessidade da constante elaboração e reelaboração de nossas identidades sociais em uma era
de modernidade líquida para isso.

Bauman ilustrou falando sobre o caso de uma rapaz que gabou-se para mim de que havia feito 500 amigos
em um dia através do Facebook, - minha resposta foi que eu vivi por 86 anos, mas não tenho 500 amigos.
Eu não consegui isso. Então, provavelmente, quando ele diz "amigo", e eu digo "amigo", não queremos
dizer a mesma coisa. São coisas diferentes, aí estão os códigos a que me refiro, são a antítese da coerência
e congruência do pensamento, pois o “significante” ou a palavra amigo tem um “significado” praticamente
oposto já que não subentende relação de amizade ou relação de amigo, e não existe o encontro existencial
entre as pessoas mas sim o encontro virtual apenas.

As gerações anteriores aos anos 90 não tinham o conceito de "redes". Eu tinha o conceito de laços
humanos, de comunidades, por exemplo, mas não fazia sentido a idéia de redes. Qual é a diferença entre
comunidade e rede? A comunidade precede você. Você nasce dentro da comunidade. Então o que é uma
rede? Ao contrário da comunidade, a rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes: uma é
conectar e a outra é desconectar, ou seja você faz a inclusão e depois a exclusão.

Então podemos concluir que a facilidade é a principal atratividade do novo tipo de amizade no whatsup,
instagram ou facebook, pois é tão fácil de desconectar. É fácil conectar, fazer amigos. Mas o maior atrativo
é a facilidade de se desconectar, o que não acontece na vida real, bem no fundo não estamos on line, mas
temos apenas imagens online, sejam fotos, vídeos ou msgs gravadas. Mas temos conexões off-line, pois
não temos conexões de verdade, face a face, corpo a corpo, olho no olho.

Romper relações é sempre traumático. Você tem que dar desculpas, tem que explicar, e por vezes mentir
e, mesmo assim, não se sente seguro porque seu parceiro diz que você não tem direitos, que você é isso
aquilo, etc. Mas na internet é tão fácil, você só pressiona deleta e pronto, ou simplesmente bloqueia e
acabou o pânico. Concluindo em vez de 500 amigos, você terá 499, mas é temporário, porque amanhã
você poderá ter mais 500... E isso mina os laços humanos...
Os laços humanos são uma mistura de benção e maldição. Benção, porque é realmente muito prazeroso,
muito satisfatório, ter outro parceiro em quem confiar e fazer algo por ele ou ela. É um tipo de experiência
indisponível para a amizade no Facebook; então, é uma benção.

Por outro lado, há a maldição, pois quando você entra no laço, você espera ficar lá sempre. No casamento
você faz um juramento: até que a morte nos separe, para sempre (?) O que isso significa? Significa que
você empenha seu futuro, e se compromete em estar junto. Já na rede um fenômeno curioso dessa pessoa
solitária estar numa multidão de solitários. Enfim estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo
tempo, pois somos simplesmente estranhos uns dos outros.

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(1)Um conceito central em Gestalt-Terapia é o conceito de awareness, que se caracteriza pela consciência
de si e a consciência perceptiva; é a tomada de consciência global no momento presente, no aqui agora,
com atenção a totalidade do conjunto da percepção pessoal, corporal e emocional, interior e ambiental
(Ginger, 1995, p.254).

(2)Inspirado no uso que Edmund Husserl deu à expressão “fenomenologia”, Heidegger estabelece para ela
uma nova etimologia, ele explorou o fato de o verbo “legein”(discursar) – de que o substantivo “logia” é
derivado – ser sinônimo de “apo-phainesthai” composto pelo prefixo opo (que significa “fazer ver”) e
phainesthai (que significa “manifestar-se desde si”), de onde provém a tradução da expressão
“fenomenologia”. Dicionário de Gestalt-terapia – Marcos José e Rosane Lorena Müller-Granzotto

(3) Tomasello, Michael. As origens da moralidade. Scientific American Brasil, São Paulo, outubro de 2018,
p. 54.

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