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ilustradora

Expediente
SENHORINHA GERVÁSIO LOURENÇO BRAGANÇA
“Reflexões Bíblicas II”
2016

Publicação da
Convenção Batista Mineira

Diretor executivo da Convenção Batista Mineira


Pr. Márcio Alexandre de Moraes Santos

Coordenadora do comitê do programa


para o Crescimento Cristão
Tania Oliveira de Araujo Nasceu em Humaitá, município de Mutum
em 10 de abril de 1958. Em Belo Horizon-
Diretoria da Convenção Batista Mineira te fez o Curso Livre de Educação Religio-
Pr. Ramon Márcio de Oliveira (Presidente), sa no Seminário Teológico Batista Mineiro,
Pr. Sandro Ferreira (1º vice-presidente), onde foi professora nos anos 1996 a 2002.
Pr. Danilo Secon (2º vice-presidente), Casou-se com Wagno Alves Bragança com
Irmã Laiza Assumpção (3ª vice-presidente), quem teve três filhos: Bruno Gervásio
Pr. Jaelson de Oliveira Gomes (1º secretário), Bragança, Breno Gervásio Bragança e Wagno
Pr. Nicolas Alves Bastos (2º Secretário) Alves Bragança Júnior. Trabalhou na Igreja
Irmã Rosimeire Rosa (3ª secretária),
Batista Central no Palmeiras - BH como edu-
Pr. Jonair Monteiro da Silva (Presidente de Honra),
Pr. Muryllo Casséte (in memorian) (Presidente Emérito).
cadora nos anos 2004 a 2008, período em
que também foi professora no Instituto de
Revisão Teológica Liderança Cristã da Igreja Batista do Barro
Pr. Tarcísio Farias Guimarães Preto - BH/MG.
Primeira Igreja Batista em Divinópolis
Cursou na Escola Guignard – UEMG Educa-
Pr. Ramon Márcio de Oliveira
ção Artística, turma 2000 e foi professora
Igreja Batista Parque Granada – Uberlândia
de Artes no Colégio Batista Mineiro - Séries
Pr. Sandro Ferreira Iniciais, em Belo Horizonte, por um curto
PIB Coronel Fabriciano
período. Cursou na Casa dos Quadrinhos
- Técnico em Artes Visuais. Atualmente é
Revisão ortográfica
membro da Igreja Batista Memorial em Belo
Pr. Francisco Mancebo Reis
Horizonte.
Editoração
Tania Oliveira de Araújo Equipe de planejamento
Senhorinha Gervásio Lourenço Bragança
Litza Alves
• Ana Lúcia dos Santos Ribeiro
Diagramação • Pr. André Luiz Ferreira Silva
Adriana Angélica Costa Carvalho • Elvira M. Gonçalves Rangel
• Pr. Francisco Mancebo Reis
Tiragem - 30.000 exemplares
• Isabel da Cunha Franco
Convenção Batista Mineira: • Pr. Joselito Ferreira de Sena
Rua Plombagina, 250 - Floresta - 31110-090
Belo Horizonte/MG - Fone: (31) 3429-2000
• Miriam de Oliveira Lemos Santos Mendonça
• Pr. Reinaldo Arruda Pereira
E-mail: secretaria@batistas-mg.org.br • Senhorinha Gervásio Lourenço Bragança
Site: www.batistas-mg.org.br • Pr. Tarcísio Caixeta de Araújo
• Pr. Wagno Alves Bragança
autorEs
ISABEL DA CUNHA FRANCO  (autora da 1ª parte - Estudos 1 a 26)

Dados Pessoais:
Nascida em 08 de dezembro de 1941 numa família batista do Estado do Rio de Janeiro
Membro de uma igreja batista desde 12 anos de idade
Membro da Igreja Batista do Barro Preto
Casada com o Pastor Jonair Monteiro da Silva
Membro do Comitê do programa para o Crescimento Cristão
Formação:
-  Graduação em Geografia (1970) e em Psicologia (1991), pela UFMG 
-   Pós-graduação em Educação Religiosa no IBER – RJ
-   Pós-graduanda em Teologia Sistemática na Faculdade Batista de Minas Gerais
-   Várias matérias avulsas em Seminários
Atividades já exercidas:
-  Professora no Sistema Público Municipal e Estadual
-  Professora no Seminário Teológico Batista Mineiro, da Convenção Batista Mineira
-  Educadora Religiosa na Igreja Batista do Barro Preto e Primeira Igreja Batista do Tupi, ambas em Belo Horizonte.
-  Diretora do Instituto de Liderança Cristã da Igreja Batista do Barro Preto, em Belo Horizonte.
-  Professora de Antigo e Novo Testamentos no Instituto de Liderança Cristã da Igreja Batista do Barro Preto, em Belo Horizonte.
Obras:
-  Livro   “O poder do abraço”  -  2011
-   Revista para EBD  -  Panorama do Antigo Testamento com 26 estudos
-   Revista de EBD  -  Livros Poéticos e Proféticos com 26 estudos
-  Vários artigos publicados  na antiga revista “Mulher Cristã Hoje“ cuja redatora era Nancy Gonçalves Dusilek;  Outros: no Jornal
“Transformação” da Visão Mundial, no “Batista Mineiro”, etc 

jOSELItO FERREIRA DE SENA (autor da 2ª parte - Estudos 27 a 52)

63 anos, casado há 39 anos com a irmã Idélia S. Sena, tem dois filhos e cinco netos. É natural
de Jitaúna-BA. Tel. (31) 99644-1952. joselito-sena@ig.com.br

ESCOLARIDADE: Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (Rio
de Janeiro), graduado em teologia pela Faculdade Teológica Batista Mineira. Bacharel em
Psicanálise pela Academia Brasileira de Psicanálise Clínica (Rio de Janeiro). Pós-graduado em
teologia sistemática pela Faculdade Teológica Batista Mineira. Pós-graduado em Psicanálise
pela Faculdade Einstein da Bahia.

PASTORADO: Igreja Batista Novo Horizonte (Rio de Janeiro); PIB de Muriaé (MG); PIB de Cel.
Fabriciano (MG); Igreja Batista de Acari (Rio de Janeiro); PIB do Barreiro (BH); Coordenador de Evangelismo e Missões – Igreja Batista
do Barro Preto (BH); atualmente PIB em Lagoa Santa (MG).

MAgISTÉRIO: 1ª e 2ª séries do ensino fundamental (Jitaúna – BA); Evangelismo e Missões, Psicologia Pastoral (Faculdade Teoló-
gica Batista de Itaperuna - RJ). Diretor do Campus Avançado do Seminário Teológico Batista Mineiro (Cel Fabriciano – MG); onde
também lecionou Homilética, Evangelismo e Missões. Teologia Bíblica do Antigo Testamento (campus-avançado do Seminário
Batista Brasileiro em Cambridge – EUA). Teologia sistemática na Pós-Graduação da Faculdade Teológica Batista Mineira. Teologia
(Faculdade Lagoa Santa - MG).
COOPERAÇÃO DENOMINACIONAL
Duas vezes presidente da Ordem dos Pastores Batistas de Minas Gerais e uma vez terceiro presidente. Duas vezes escreveu
meditações para a revista Manancial da UFBB. Diversas vezes escreveu matéria para a revista Visão Missionária da UFBB.

OBRAS PUBLICADAS:
Pela Editora Kárita: Classe de Batismos. Classe Vida Nova. Boa Notícia. O Novo Convertido. Estudando a Bíblia. Manual de
Treinamento de Discipulado. Manual de Pequenos Grupos. Panorama do Novo Testamento I. Panorama do Novo Testamento II.
Estudos no Evangelho de Mateus. Estudos no Evangelho de Marcos. Estudos no Evangelho de Lucas. Estudos no Evangelho de
João. Estudos no livro de Atos. Estudos na Carta aos Romanos. Estudos em I e II Coríntios. Estudos em Gálatas e Efésios. Estudos no
Livro dos Salmos - Volume I. Estudo no Livro dos Salmos – Volume II. O Mordomo Cristão. O Pescador.
Pela JUERP: O Evangelho de Marcos.

Atividades Pedagógicas
AndrÉ Luiz FERREIRA DA SILVA
Bacharel em Teologia pela FBMG - Faculdade Batista de Minas Gerais;
Graduado em Teologia pela FACETEN - Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte
do Brasil;
Especialista em exposição Bíblica pela LEADERSHEAP RESOURCES / CDL NPP PIBA;
Pós-graduado em psicopedagogia Clínica e Institucional pela - FANS - FACULDADE DE
NOVA SERRANA;
Mestrando Profissional em Ciências da Religião com especialização em Análise do Discurso
Religioso pela FACULDADE UNIDA DE VITÓRIA / ES);
Pastor da Igreja Batista Memorial em Uberlândia.

Celma Oliveira Araujo Ferreira Silva


Graduada em pedagogia - Universidade Norte do Pará
Membro da Igreja Batista Memorial em Uberlândia
Vice-presidente da UFMBM / Representante das Igrejas Batistas no comitê de
Crescimento Cristão

Selma Almeida de Morais


Bacharel em Pedagogia - Faculdade Anhanguera
Professora na E.B.D. da Igreja Batista do Progresso em Belo Horizonte MG.

Rosilene Deltiza Turci Oliveira


Bacharel em Teologia e Educação Religiosa pela Faculdade Batista de Minas Gerais
Professora do Ensino fundamental – Colégio Joaquim Nabuco.
Educadora religiosa na Igreja Batista Metropolitana – Contagem

Doriceia Alves Pedroso


Curso livre de Educação Religiosa – Seminário Teológico Batista Mineiro
Educadora Religiosa na Igreja Batista Humaitá – BH
Presidente da AECBMG – Associação dos Educadores Cristãos Batistas de Minas Gerais
palavra do dirEtor EXEcutivo da cBm

jesus, a Verdade que Liberta

O
evangelista João em seu
evangelho 8:32 cita as pa-
lavras de Jesus quando diz:
“conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará”. A ênfase desse
versículo não está na verdade e sim no
conhecereis, a verdade já existe, ela já
está presente, ela é um fato. Se nós co-
nhecermos a verdade então alcançare-
mos a plenitude do objetivo do texto pronunciado por Jesus, logo
seremos libertos. Há uma ação de liberdade que vem ao encontro
de cada um a mediada que conhece, que se tem acesso e intimida-
de com a verdade. Já em João 14.6, o próprio Jesus vai nos ensinar
que ele é essa verdade. Diante disso, fica muito claro para cada um
de nós que a missão que Jesus deixou para igreja é ensinar, ensinar
sobre Ele mesmo ou fazer discípulos como nos lembra Mateus 28.19.
Toda a palavra de Deus aponta para Jesus, de Gênesis a Apocalipse
encontramos uma redação Messiânica que converge para o Cristo,
tudo aponta para a Verdade! A Convenção Batista Mineira entenden-
do sua missão de servir e instrumentalizar a igreja local tem a alegria
de entregar gratuitamente um material de alta relevância para to-
das as igrejas batistas cooperantes do Estado de Minas Gerais. Esse
ano iremos falar sobre a vida e o ministério de Jesus e a formação
do discípulo, desta forma cada estudante da Palavra de Deus pode-
rá conhecer cada vez mais a verdade e alcançar a liberdade que só
encontramos em Jesus.

Pr. Marcio Santos

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 5
PALAVRA DA COORDENADORA DO
COMITÊ de CRESCIMENTO CRISTÃO
Educação que transforma

para a Escola Bíblica em ção com o outro. O exem-


nossas igrejas em tem- plo de Cristo relatado de
pos em que se requer forma atual e reflexiva de
da sociedade pessoas se permitir ser transfor-
transformadas em sua in- mado e assim transformar
tegridade, coerentes em a sociedade.
seu viver e atuantes na
comunidade. O apóstolo Paulo em
sua carta aos Romanos
A Convenção Batista 12.2 nos convida à trans-

P
Mineira entrega às igrejas formação pela renovação
ara os batistas mais uma revista, con- de nossa mente. Assim
a Escola Bíbli- tendo uma proposta ino- nossa esperança é que
ca tem sido um vadora e atualizada dos os estudos realizados na
meio pelo qual estudos sobre a vida de revista do aluno e apli-
o aprendizado da Palavra Jesus e seu exemplo para cação das sugestões de
de Deus se propaga se- a sociedade. atividades propostas no
manalmente, contribuin- exemplar do professor
Nos primeiros estudos contribuam para a co-
do para a formação do estaremos focando a pes-
caráter do cristão. Desde erência de vida e assim
soa de Jesus em seu mi- uma ação transformadora
a sua criação ela tem ex- nistério e autoridade para
perimentado vários mo- na comunidade.
exercê-lo. Em um segun-
delos e ênfases, sendo so- do momento estudare- Agradecidos somos
cial, evangelística e edu- mos o discipulado através a todos que contribuí-
cacional. Neste novo tem- do exemplo de Cristo atra- ram para a efetivação des-
po a união desses valo- vés de toda sua caminha- se sonho: autores, ilustra-
res estão sendo traba- da terrena. dora, editoras, pedago-
lhados de forma total e gos, teólogos, revisor or-
atual, visando à formação Vivemos em uma so- tográfico e diretor execu-
integral da pessoa. Te- ciedade que necessita tivo.
mos experimentado em de relacionamentos sau-
Minas uma nova proposta dáveis para sua integra- Tania Oliveira de Araujo

6 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
sumário
Jesus Cristo – Vida e Ministério nos Evangelhos
ESTUDO 1: Os Evangelhos falam de Jesus.................................................................................................................. 11

ESTUDO 2: A CHEGADA DA MAIOR DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO........................................................................... 14

ESTUDO 3: ANTECEDENTES AO MINISTÉRIO DE JESUS................................................................................................... 17

ESTUDO 4: INÍCIO DO MINISTÉRIO DE JESUS...................................................................................................................... 20

ESTUDO 5: ENTREVISTAS DE JESUS NO INÍCIO DO SEU MINISTÉRIO......................................................................... 23

ESTUDO 6: JESUS e o ESTABELECIMENTO DO REINO .................................................................................................... 27

ESTUDO 7: O AMOR DE JESUS NÃO DISCRIMINA.............................................................................................................. 30

ESTUDO 8: JESUS COMBATE A RELIGIOSIDADE EXTERIOR............................................................................................ 33

ESTUDO 9: JESUS SEMPRE SURPREENDE AS PESSOAS.................................................................................................... 36

ESTUDO 10: A ÉTICA DO REINO DE DEUS (i)........................................................................................................................ 39

ESTUDO 11: A ÉTICA DO REINO DE DEUS (ii) ...................................................................................................................... 42

ESTUDO 12: A ÉTICA DO REINO DE DEUS (III)........................................................................................................................ 45

ESTUDO 13: ALICERCES FIRMES, É O SEGREDO ................................................................................................................. 48

ESTUDO 14: O VALOR E O CRESCIMENTO DO REINO DEPENDEM DE SINAIS? ...................................................... 51

ESTUDO 15: PARÁBOLAS DO REINO........................................................................................................................................ 54

ESTUDO 16: A HUMILDADE FAZ PERDOAR........................................................................................................................... 57

ESTUDO 17: jesus se retira para estar a sós com os discípulos (I)............................................................ 60

ESTUDO 18: jesus se retira para estar a sós com os discípulos (II)........................................................... 63

ESTUDO 19: JESUS, O GRANDE MESTRE................................................................................................................................ 66

ESTUDO 20: O DESEJO DE JESUS PARA OS SEUS SEGUIDORES .................................................................................. 69

ESTUDO 21: A SEMELHANÇA COM O CARÁTER DO PAI................................................................................................... 72

ESTUDO 22: JESUS É VIDA QUE LIBERTA................................................................................................................................ 75

ESTUDO 23: JESUS SOFRE, RECONHECENDO O QUE O AGUARDA............................................................................. 78

ESTUDO 24: ENSINANDO ATÉ O FIM....................................................................................................................................... 81

ESTUDO 25: O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS........................................................................................................... 84

ESTUDO 26: O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS.............................................................................. 88

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................................................ 91

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 7
A formação do Discípulo de Jesus Cristo

ESTUDO 27: CHAMADO PARA SER DISCÍPULO .................................................................................................................. 92

ESTUDO 28: A TEOLOGIA DO DISCÍPULO DA CRUZ ......................................................................................................... 96

ESTUDO 29: O DISCÍPULO E O MARAVILHOSO CONVITE DE JESUS..........................................................................100

ESTUDO 30: O DISCÍPULO QUE OLHA PARA CRISTO......................................................................................................103

ESTUDO 31: O ALVO SUPREMO DO DISCIPULADO.........................................................................................................107

ESTUDO 32: O Discípulo E SEU ENCONTRO COM Jesus............................................................................................111

ESTUDO 33: UM PEDIDO ESPECIAL: FICA CONOSCO, SENHOR! . .............................................................................115

ESTUDO 34: O DISCÍPULO APROVADO POR DEUS..........................................................................................................118

ESTUDO 35: MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS ........................................................................121

ESTUDO 36: QUANDO O DISCÍPULO NEGA A CRISTO ...................................................................................................125

ESTUDO 37: O OLHAR MISERICORDIOSO DE JESUS ......................................................................................................128

ESTUDO 38: O DISCÍPULO E A ORAÇÃO . ............................................................................................................................131

ESTUDO 39: REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES . ....................................................................................135

ESTUDO 40: VITÓRIA SOBRE O PECADO: “NÃO PEQUES MAIS” .................................................................................139

ESTUDO 41: A COSMOVISÃO DO DISCÍPULO ...................................................................................................................142

ESTUDO 42: O DISCÍPULO E OS ARGUMENTOS DA FÉ ..................................................................................................145

ESTUDO 43: O DISCÍPULO E OS MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE (I) . ............................................................148

ESTUDO 44: O DISCÍPULO E OS MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE (II)..............................................................152

ESTUDO 45: OS DISCÍPULOS NA TEMPESTADE ................................................................................................................156

ESTUDO 46: A MISSÃO PRECÍPUA DO DISCÍPULO DE CRISTO ...................................................................................159

ESTUDO 47: O DISCÍPULO QUE LEVA O IRMÃO A JESUS...............................................................................................163

ESTUDO 48: A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA .......................................................................................................166

ESTUDO 49: O DISCÍPULO RICO PARA COM DEUS...........................................................................................................170

ESTUDO 50: O DISCÍPULO E SUA FIDELIDADE .................................................................................................................173

ESTUDO 51: DISCIPULADO - QUE TERRENO SOU EU?....................................................................................................177

ESTUDO 52: DISCÍPULO – UM MORDOMO CRISTÃO......................................................................................................181

anotações ..................................................................................................................................................................................185

8 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
APRESENTAÇÕES

E
sta série de estudos apresenta um panorama da vida e do ministério de Jesus
contido nos Evangelhos. Deus se revela através de Sua maior dádiva à huma-
nidade: Jesus Cristo, o Senhor.

Os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João não apresentam os fatos da


vida de Jesus em absoluta ordem cronológica. Tentei apresentá-los o mais cronologi-
camente possível nestes estudos, com a ajuda preciosa do livro de HESTER, H.I., “Intro-
duccion al estudio del Nuevo Testamento”, que consta nas referências bibliográficas ao
final. Sei, no entanto, das incertezas com relação ao tempo exato e local em que acon-
teceram alguns fatos e ensinos no ministério de Jesus. Mas tenho também a convicção
de que isto não é o mais importante para o estudioso dos Evangelhos.

Os primeiros estudos desta série se relacionam à vida de Jesus desde antes do Seu
nascimento até o início do Seu ministério. A seguir vem grande parte dos estudos fo-
calizando Sua obra e ensino na Galileia, onde Ele exerceu a maior parte de suas ativida-
des. Ele realizou milagres, proferiu o Sermão do Monte e contou muitas parábolas. No
período do ministério galileu, no entanto, há fatos importantes acontecidos na Judeia
que são também mencionados. Após o ministério galileu, virão dois estudos sobre as
Suas retiradas, isto é, o Seu afastamento das multidões para estar a sós com os discípu-
los. A seguir, dois estudos versarão sobre o ministério de Jesus na Judeia e dois sobre
o Seu ministério na Pereia. Finalmente, três estudos abrangerão a última semana da
vida terrena de Jesus e depois disto virá o último sobre a Sua gloriosa ressurreição.

Cada estudo está baseado em um ou mais evangelhos, de acordo com a escolha


pessoal da autora. Cada Evangelho, por sua vez, transmite a história de Jesus, confor-
me os traços pessoais e as preferências do evangelista inspirado. O fato é que Deus
não usou os escritores do NT como se fossem máquinas. Ele não os despersonalizou,
apossando-se deles independentemente de sua vontade, cultura ou características
pessoais. Pelo contrário! Respeitando seu modo de ser, Deus usou de cada um o de-
sejo de escrever, além da inteligência, capacidade e formação. Todavia, segundo o que
cremos, cada evangelista escreveu o que Deus queria que soubéssemos.

- Mateus destaca Jesus como o Messias que deveria vir. Sendo este evangelho em
grande parte dirigido aos judeus, apresenta muitos textos do Antigo Testamento que
mostram ser Jesus o Messias esperado por eles.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 9
- Marcos apresenta Jesus sobretudo como servo. Descreve-O, muitas vezes, em
ações rápidas, deslocando-se sempre de um lugar para outro a fim de servir às pessoas.

- Lucas focaliza Jesus como filho do homem, realçando a sua humanidade.


Escrito mais para os gentios, visto ser o autor um gentio, mostra a universalidade do
evangelho.

- João é o evangelho que realça sobretudo a divindade de Jesus. Apresenta-O


desde o início como pré-existente, o Deus que se encarnou.

Recomendamos que ao se estudar esta série em grupo, que se leia antes


individualmente, para que se aproveite melhor o estudo.

Desejamos que, mais uma vez, o estudo da Palavra de Deus ajude você a
construir sua vida à semelhança d’Aquele cuja VIDA neste mundo é aqui estudada.

Isabel da Cunha Franco

MINHA VISÃO SOBRE AS LIÇÕES “O DISCÍPULO DE CRISTO”

Fazer discípulos deve ser não somente um alvo do cristão, mas deve ser o seu
estilo de vida. Jesus nos chamou para “ser” e “fazer” discípulos. Temos dois objetivos
especiais com nossa humilde contribuição ao escrever os estudos sobre o discípulo
de Cristo: O primeiro é incentivar aqueles que já estão obedecendo a Jesus na prática
do discipulado a prosseguir, porque o Senhor há de recompensá-los com a alegria
de voltar trazendo consigo os seus “molhos” (Sl 126.5-6). O segundo é despertar
aqueles que desejam obedecer a Deus em tudo, a cultivar a prática do discipulado.
Deve-se perceber que discipulado não é apenas tornar alguém num seguidor de
Jesus, mas levá-lo a prosseguir para o alvo da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus: Ser a imagem e semelhança de Deus (Fp 3.12-14 e 1Jo 3.2).

Joselito Ferreira de Sena

10 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 1

Leituras Diárias
Segunda João 5. 36-40 e 6.47-51
Os Evangelhos falam Terça
Quarta
Efésios 3.14-21
Mateus 16.13-20
de Jesus Quinta
Sexta
Marcos 1.14-28
Lucas 1.1-4, 26-38
Sábado João 1. 1-14
Introdução
Os escritores bíblicos não foram usa- pessoais do que Seus encontros com as
dos pelo Espírito Santo de forma mecâni- multidões.
ca. Deus não age assim. Ele os inspirou,
usando a inteligência, os dons e os talen- Os textos semelhantes nos evange-
tos que lhes deu, além do próprio desejo lhos sinóticos parecem mostrar que eles
deles de investigar e relatar sua boa nova podem ter se servido um do outro ou de
à humanidade. Por isso, os Evangelhos, fontes comuns. Algumas aparentes con-
embora semelhantes, diferem uns dos tradições entre os escritores não revelam
outros, já que seus autores (Mateus, Mar- contradição na mensagem, mas na forma
cos, Lucas e João), diferiam em formação de narrar o acontecimento. O objetivo
e em estilos de personalidade. dos Evangelhos é apresentar a vida ímpar
de Jesus neste mundo como encarnação
Os Evangelhos narram vida, obras e da Divindade, demonstrando o Seu infi-
ensinos de Jesus. Mateus, Marcos e Lu- nito amor no resgate de Sua criação.
cas são chamados Evangelhos Sinóticos1
porque há muito de comum em seu con-
Aplicação a sua vida: Quando você sabe
teúdo e forma de apresentação. Eruditos
que Deus usou pessoas tão diferentes para
pensam que Marcos é o mais antigo, do
anunciar ao mundo as suas “boas novas”,
qual Mateus e Lucas tiraram muito do
que sentimentos brotam em seu coração?
que escreveram, além de terem pesqui-
sado em outras fontes.
Veja a seguir um pouco sobre cada
O Evangelho de João é diferente. Não um dos Evangelhos.
tem parábolas e narra alguns milagres
1. Evangelho segundo Mateus
que só aparecem nele. O ensino de Jesus
neste evangelho é mais sobre Si mesmo e Mateus foi o primeiro Evangelho acei-
aí são mais destacados os Seus encontros to no cânon sagrado, talvez porque, sen-

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II || 11
| O s E v an g el h os falam de J esus

do muito didático e com muitos ensinos A seguir, Jesus afirma que pessoas
de Jesus, foi o primeiro a ser usado na seriam ligadas ao céu através de Pedro.
igreja nos primeiros séculos. Apresenta Realmente, no dia de Pentecostes e mui-
mais organizadamente os discursos de tas vezes depois, milhares de pessoas fo-
Jesus, como por exemplo o Sermão do ram ligadas ao céu através de Pedro e de
Monte. Seu autor, Mateus, foi um dos outros apóstolos. O discípulo do Cristo
doze discípulos mais próximos de Jesus, tem a missão de ligar pessoas ao céu e
cujo nome aparece como Levi por oca- desligá-las de cadeias demoníacas atra-
vés da mensagem do amor divino. Pedro,
sião de sua chamada (Mt.9.9 e Mc.2.14).
um discípulo como os demais, aprendeu
Era publicano, isto é, cobrador de im- com Jesus a superar suas limitações por-
postos. O fato de trabalhar com papéis que cresceu na dependência do Senhor.
e documentos, pode lhe haver facilitado
escrever sobre Jesus.
Aplicação a sua vida: Se você já é um dis-
Um propósito importante deste Evan- cípulo de Jesus, de que maneira tem procu-
gelho é levar os judeus a reconhecer Je- rado desempenhar sua missão no mundo?
sus como o Messias esperado. Por isto Você tem ligado pessoas ao céu, isto é, ao
tem grande número de menções às pro- que Deus deseja para elas?
fecias do Antigo Testamento. Exemplos:
Mateus 1.22-23; 2.5-6; 4.14-16; 12.17-21. 2. Evangelho segundo Marcos
Você pode encontrar muitas.
É o Evangelho mais curto, não tendo
É o único evangelho em que aparece muitos fatos anteriores ao ministério de
a palavra “igreja”. Jesus. Seu autor, João Marcos, era filho
Mateus 16.13-20 de uma mulher de destaque na igre-
ja primitiva em Jerusalém. Os cristãos
Jesus faz uma pergunta aos discípu- se reuniam em sua casa, durante a pri-
los: “Quem vocês pensam que eu sou? são de Pedro (At.12.12); era parente de
Estes O alegram através da resposta de Barnabé (Cl.4.10); acompanhou Paulo e
Pedro: “Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo”. Barnabé em sua primeira viagem mis-
Jesus afirma que tal declaração de Pedro sionária, voltando da Panfília, na Ásia
lhe viera do Pai e que sobre esta pedra, Menor (At.13.5,13 e 15.36-38); muitos
este fundamento, edificaria a Sua igreja. anos depois, João Marcos é mencionado
em várias epístolas como cooperador de
Pedro quer dizer pedra. O que signi- Paulo e de Pedro (Cl.4.10; Fm.24; II Tm.
ficaria esta declaração de Jesus? Alguns 4.11; I Pe.5.13). Segundo estudiosos, foi
pensam que esta declaração tem o signi- de Pedro que Marcos ouviu muito do que
ficado de que a igreja está edificada so- relatou a respeito de Jesus.
bre Pedro, mas não concordamos com tal
Marcos apresenta Jesus como servo,
interpretação. O que se pode entender
sempre fazendo o bem às pessoas. Este
e que é confirmado por outros textos bí- evangelho narra ações que se sucedem
blicos, é que a igreja está edificada sobre com rapidez.
a declaração de Pedro, pois o verdadei-
ro fundamento é Jesus, como o próprio Marcos 1.14-39
Pedro declara (I Pe. 2.3-7). E Paulo diz Os acontecimentos se sucedem ra-
que “ninguém pode lançar outro funda- pidamente. Aí aparecem muitas vezes,
mento, além do que já está posto, o qual é expressões como “logo”, “a seguir” e “ime-
Jesus Cristo”(I Co.3.11). diatamente”. Veja algumas ações de Jesus
12 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O s E v an g el h os falam de J esus |

neste texto e como elas se sucedem: Aplicação a sua vida: Você já pensou no
chama os primeiros discípulos (14-20); privilégio que tem o seguidor de Jesus de
ensina na sinagoga e cura um endemo- fazer o que lhe é possível para ajudar pes-
ninhado (21-28); cura a sogra de Pedro soas e circunstâncias a estarem dentro do
(29-31); cura muitos enfermos e ende- propósito de Deus? Como você pode fazer
moninhados (32-34); dedica-se à oração isto?
(35-37); prega em muitas aldeias (38-39).
Apresentando Jesus como servo, este 4. Evangelho segundo João
Evangelho faz ver aos discípulos do Cris-
Este Evangelho é diferente na estru-
to que devem se dispor a prestar serviço
tura e no estilo. Não apresenta parábo-
às pessoas. las e só contém sete milagres, cinco dos
quais só aparecem nele. Os discursos
Aplicação a sua vida: Como você tem, na de Jesus dizem respeito principalmente
medida de suas possibilidades, servido aos à Sua pessoa e não à doutrina ética do
que estão próximos de você? reino. Exemplos: Eu sou a luz, a porta, o
pastor, o pão, o caminho, a verdade e a
vida. São várias as entrevistas pessoais
3. Evangelho segundo Lucas de Jesus. Sua relação com os indivíduos
é mais acentuada que Seu contato com
Lucas 1.1-4 e Atos 1.1 o público.
Os textos acima indicam que estes O Evangelho de João é fortemente
dois livros são do mesmo autor. Possivel- teológico. Apresenta a natureza divina
mente Lucas era um gentio muito culto da pessoa de Jesus e o significado da fé
convertido ao Cristianismo. Com grande n’Ele. Ele é, ao mesmo tempo, o homem
capacidade para investigar e escrever, perfeito que tem um papel de exemplo
narra com vivacidade e beleza os aconte- para os Seus discípulos e a encarnação
cimentos. Era médico (Cl 4.14) e compa- do Deus, diante de quem precisamos nos
nheiro de Paulo em suas viagens (II Tm. curvar em adoração.
4.11). João 1.1-14
Algumas características do Evangelho Este texto faz uma apresentação clara
de Lucas: e belíssima da divindade de Jesus.
- aparecem muitos cânticos, como os Conclusão:
de Zacarias, de Maria, de Simeão.
- Aparecem grupos marginalizados Aplicação a sua vida: Jesus é apresentado
como crianças, mulheres, pobres, publi- pelos evangelistas como Deus, o Messias, o
canos, meretrizes. filho do homem e servo de todos... Se você
é um dos seus discípulos, que responsabili-
- É o que mais destaca a universalida- dade tudo isto lhe dá?
de do evangelho.
Embora diferentes, os quatro evange-
- Narra em maior número e com gran- lhos têm o objetivo de anunciar o Cris-
de beleza as parábolas. to, o Redentor do mundo. Nos estudos
a seguir, procuro apresentar em ordem
Apresenta Jesus em sua humanidade, cronológica a vida de Jesus, usando os
estimulando os que O seguem a desem- vários evangelhos.
penhar no mundo um papel que ajude
________
pessoas e circunstâncias a se transforma- 1. Sinóticos - palavra grega que tem o significado
rem em direção à vontade de Deus. de “ver junto”.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 13
ESTUDO 2

Leituras Diárias
Segunda Isaias 9.2-7
Terça Lucas 1.5-38
A CHEGADA DA MAIOR Quarta
Quinta
Lucas 1.39-56
Lucas 2.1-7
DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO Sexta
Sábado
Lucas 2.8-20
Lucas 2.21-38

Introdução Este texto majestoso é o prólogo deste


Neste estudo veremos o nascimento evangelho e nos mostra que:
de Jesus, além de alguns fatos que o an- - Jesus é pré-existente, é eterno (v.1-
tecederam e alguns que ocorreram ime- 2).
diatamente depois.
- Ele é o Criador e a origem da vida
Dos quatro evangelhos, Lucas é o que (vs. 3-4);
narra maior número de fatos anteriores
ao nascimento de Jesus; Mateus narra - Ele é o Deus encarnado (v. 14);
pouco; Marcos já começa com a prega- - Ele veio dar início a um novo tempo
ção de João Batista; e João fala apenas (vs. 14, 17);
da pré-existência de Jesus, destacando a
- Ele é a revelação de Deus (v. 18).
Sua divindade.
O apóstolo João fala aí do Deus que
Neste estudo, usando vários evange-
se encarnou e veio habitar entre nós. O
lhos, serão apresentados alguns aconte-
Cristianismo é a religião que apresenta,
cimentos anteriores ao nascimento de
não um Deus que devemos buscar com
Jesus, mais ou menos em ordem cronoló-
os nossos esforços intelectuais ou de
gica, de acordo com H.I.Hester.
boas obras, mas o Deus que desce até nós
em nossos descaminhos e pecados, para
1. A Preciosidade da dádiva de Deus ao resgatar-nos. Um Deus que toma a inicia-
mundo - João 1.1-18 tiva. Que em Cristo se encarna e que por
amor se doa, identificando-se conosco. A
O Evangelho de João tem maravi- nós cabe responder ao Seu amor e doa-
lhosos ensinos a respeito de Jesus, en- ção, entrando numa relação com Ele para
fatizando especialmente sua divindade. sermos salvos da alienação em que vive-

14 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
A CHEGADA DA MAIOR DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO |

mos, ao estar desvinculados da Sua vida o que ele muito desejava. Os versículos
e da Sua vontade. Esta relação nos fará 15-17 dizem o que João Batista seria. Al-
ser as pessoas que Ele sempre desejou guns meses depois, o anjo Gabriel, que já
que sejamos: felizes e que promovem a havia anunciado o nascimento de João
felicidade, abençoadas e que espalham a Batista, apareceu a Maria (vs. 26-38). Ve-
bênção por onde vão. ja no v. 38 como Maria se coloca diante
Por felicidade, entendo a satisfação de Deus, após ouvir o anúncio do nasci-
do desejo básico mais profundo do ser mento de Jesus. Ela se entregou, mesmo
humano: o de usufruir do amor e da co- correndo grandes riscos, a fim de ser ve-
munhão com Deus, cumprindo em sua ículo de Deus para abençoar o mundo.
vida a vontade do seu Criador. Este dese- Através dela, Deus trouxe seu maior pre-
jo em nós se origina do fato de havermos sente à humanidade.
sido criados com este sublime propósito.
A satisfação dele dá a alegria, a felicidade, Estamos nós dispostos a, mesmo com
que nada nem ninguém poderá tirar. De sacrifícios, servir de veículo da graça de
posse desta bênção, o ser humano passa Deus para outros? Após isto, Maria vi-
a ser bênção para muitos. sitou Isabel, que era sua prima e estava
grávida de João Batista. Este encontro é
O cristão tem motivo para celebrar a
graça infinita do Deus a quem adora. E cheio de júbilo e poesia.
é impossível adorá-Lo, sem colocar-se Lucas 1.39-56
ao lado d’Ele no Seu projeto de tudo fa-
zer para que este mundo esteja mais de Maria visitou Isabel. Nos versículos
acordo com a vontade divina. 41 a 45 temos as belas palavras de Isa-
bel saudando Maria e reconhecendo
O evangelista João apresenta Jesus que Jesus, o bebê que ela esperava, era o
como o Deus encarnado, o Deus Conos-
Senhor. Você vê aí que é o Espírito Santo
co. Você já crê de todo o seu coração nes-
quem revelou a Isabel esta preciosa ver-
se Jesus, que é a revelação por excelência
de Deus? Que, sendo luz, deseja iluminar dade (v.41).
sua vida para que você também possa A partir do versículo 46 é Maria quem
iluminar seu ambiente? Se você quer isto fala, expressando num belo cântico toda
de todo coração, poderá experimentar a sua alegria e adoração ao Senhor. Este
alegremente os efeitos do Seu amor. cântico é muito semelhante ao de Ana
no Antigo Testamento (I Sm. 2.1-10). Isto
Aplicação a sua vida: Que sentimentos mostra que ela conhecia as Escrituras e
brotam em você, como resultado de saber- aguardava o Messias. Este texto mostra
se alvo do amor sacrificial e resgatador do sua humildade e consciência do seu pri-
grande e excelso Deus? Que atitudes práti- vilégio (vs. 48-49).
cas resultam disso? Maria foi uma piedosa serva do Se-
nhor, a quem devemos honrar e imitar.
2. Fatos que antecedem à chegada de Foi bendita e privilegiada, como veícu-
Jesus lo da maior dádiva de Deus ao mundo:
Jesus Cristo. Pena que no coração de mui-
Lucas 1.5-38 tos ela tenha tomado o lugar do próprio
O sacerdote Zacarias cumpria seu ser- Deus, os quais desconsideram que Maria
viço no templo, quando foi surpreendido exultou em Deus, a quem rendeu graças
com a notícia que o deixou estupefato e por poder conhecer o seu Salvador pes-
muito alegre, pois a vinda de um filho era soal (vs. 46,47).

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 15
| A CHEGADA DA MAIOR DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO

Aplicação a sua vida: Em quais circuns- sendo que no versículo 23 temos a cita-
tâncias você já se percebeu reverenciando ção de Isaías.
mais as pessoas do que o Deus que as fez? Outros fatos relacionados ao nasci-
mento de Jesus:
A seguir, a partir do versículo 57, te- - O alistamento de Maria e José em
mos o nascimento de João Batista e o Belém - Lc. 2.1-5.
cântico de Zacarias, seu pai.
Este alistamento foi ordenado pelo
3. Fatos importantes relacionados à Império Romano e as profecias diziam
vinda de Jesus ao mundo que o Messias nasceria em Belém (Mq.
5.2). A história dirige-se para o cumpri-
Mateus 1.18-25 mento dos propósitos divinos.
Neste texto, é patente a discrição e - o nascimento de Jesus - Lc. 2.6-7;
sensatez de José, o marido de Maria. Ele - a visita dos pastores - Lc. 2.8-20
era um homem muito nobre e bom.
O nascimento de Jesus foi anunciado
Refletir antes de agir e falar produz com alegria a pessoas humildes e discri-
resultados positivos. Se temos a vida minadas socialmente.
colocada no altar do Senhor e refletimos
antes de agir, colocando diante d’Ele os - a apresentação de Jesus no templo
nossos problemas, com calma e sensatez, - Lc. 2.21-40.
como José, naturalmente teremos um Este texto nos mostra o espírito de
maior discernimento para encontrar a obediência e consagração dos pais de
Sua vontade. Jesus. Eles circuncidaram Jesus ao oitavo
O versículo 19 mostra a nobreza do dia e depois O consagraram ao Senhor
caráter de José. Ao saber que Maria es- como mandava a lei. Pais devotados
ao Senhor, levam a sério o seu dever de
tava grávida, antes que eles se unissem
cumprir a vontade de Deus na criação
como marido e mulher, José planejou
dos seus filhos.
deixá-la sem expô-la publicamente. De-
pois do sonho que teve, José recebeu a A seguir, neste mesmo texto, vemos o
Maria como sua mulher. O último versí- cântico de Simeão e as palavras da pro-
culo diz que José se manteve afastado fetiza Ana.
dela, como marido, até que ela desse a
luz. Cremos que isto deixa claro que após Aplicação a sua vida: Ao pensar no dono
o nascimento de Jesus, eles se tornaram do universo entrando na história humana
marido e mulher, também no aspecto se- com tal simplicidade, como você pensa que
xual. deve viver?
Crer que Maria foi esposa de José no
sentido completo, não empana sua hon- Conclusão
ra e dignidade. A relação sexual, dentro Jesus, o Deus encarnado, nasceu hu-
da união conjugal, sob a égide do amor e mildemente, entrando em nossa história
como foi planejada por Deus, é legítima, de maneira muito singela. Ele vai, através
pura e bela. da Sua vida e dos Seus ensinos, abrir os
O autor de Mateus, segundo os erudi- olhos de homens e mulheres para perce-
tos, teve a intenção de dirigir-se de modo berem a forma de viver vazia e hipócrita
prioritário aos judeus. Por isso o Antigo dos seus dias, como veremos nos estudos
Testamento é tão mencionado por ele, a seguir.

16 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 3

Leituras Diárias
Segunda Mateus 2.1-12
Terça Mateus 2.13-23

ANTECEDENTES AO Quarta Lucas 2.39-52


Quinta Mateus 3.13-17

MINISTÉRIO DE JESUS Sexta Mateus 4. 1-11


Sábado Hebreus 1.1-3

Introdução saber que eles procuravam uma criança


que diziam ser o Rei dos Judeus. O medo
Os Evangelhos relatam muito pou- de perder o poder fez o rei desejar matar
co a respeito da vida de Jesus antes do essa criança. Avisado por Deus em so-
Seu ministério de aproximadamente três nhos, José fugiu com Maria e Jesus para
anos. o Egito.
Depois do que vimos no estudo ante- Herodes, não sabendo dessa fuga,
rior concernente aos seus primeiros dias mandou matar todas as crianças abaixo
após o nascimento, temos poucos fatos. de dois anos, para que Jesus fosse atin-
Dois ainda na sua primeira infância: a visi- gido. Este é um dos motivos porque al-
ta dos magos e a fuga para o Egito; outro guns pensam que a visita dos magos não
aos doze anos de idade, quando ele no foi logo que Jesus nasceu. Este Herodes,
templo, conversa com os doutores da lei. segundo registros históricos, foi muito
Os outros, já próximos do início do minis- sanguinário, sempre mandando matar
tério, foram o batismo e a tentação. os que imaginava que se opunham a ele,
Embora a Bíblia se cale a respeito da inclusive pessoas da sua própria família.
maior parte da vida de Jesus, sabemos Como se vê, Jesus enfrentou a pri-
que toda ela se desenvolveu de modo a meira oposição nos Seus primeiros dias e
que, na época própria, Ele cumprisse o esta foi de alguém que detinha o poder.
seu sublime propósito. Assim seria durante toda a Sua vida. Os
1. A infância de Jesus que detinham o poder político-religioso
não gostavam do Seu estilo de vida, nem
Neste tópico, veremos os fatos a que de sua mensagem, pois estes confronta-
já se fez referência na Introdução. vam todos os valores que para eles eram
Leia Mateus 2.1-23 muito preciosos.

Os versículos 1 a 12 falam da visita Veja um pouco da situação política


dos magos do oriente e de como o rei He- no contexto da infância de Jesus. A Pa-
rodes, o Grande, sentiu-se ameaçado ao lestina estava sob o poder do Império
REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 17
|| 17
| ANTECEDENTES AO MINISTÉRIO DE JESUS

Romano e Herodes, o Grande, era o rei aí almente. E que sua mãe, discretamente,
quando Jesus nasceu. Quando Jesus era guardava o que percebia em seu coração.
ainda criança, estando no Egito com Seus
2. O batismo de Jesus - Mateus 3.13-17
pais, Herodes, o Grande, morreu e o seu
domínio foi dividido entre seus filhos. Ar- Antes do batismo de Jesus, os evan-
quelau ficou com a Judeia; Antipas com a gelhos relatam a aparição de João Ba-
Galileia e Pereia; e Filipe com Traconites e tista, o precursor do Cristo, que anuncia
regiões adjacentes (1). a chegada do Reino de Deus. Jesus é a
manifestação concreta do Reino de Deus,
Destes três herodes, Arquelau, da Ju-
isto é, da vontade divina sendo realizada
deia, deixou de governar primeiro, tendo
de forma absoluta numa vida humana.
sido tirado pelos romanos. Antes disso,
Mt. 2.22-23 informa que, por ser ele o O texto apresenta o batismo de Je-
governante na Judeia, José, ao voltar do sus. Veja o significado profundo do diá-
Egito, não desejou ir para lá, indo viver logo entre Jesus e João Batista, e o sinal
em Nazaré, na Galileia. A partir de Arque- que Deus dá a Jesus da Sua aprovação
lau, os romanos colocaram procuradores àquele ato e também à Sua filiação divi-
seus na Judeia. O procurador na época na.
da morte de Jesus era Pôncio Pilatos.
O batismo de Jesus mostra como
Jesus, portanto, viveu junto com seus Ele assumiu a encarnação, identifican-
pais na cidade de Nazaré. do-se com os demais seres humanos,
além de colocar-se ao lado dos fiéis, dan-
No tempo do ministério de Jesus,
do apoio à obra de João. Seu batismo,
Herodes Antipas, filho de Herodes, o
que acontece aos trinta anos, marca o
Grande, governava a Galileia, sendo mui-
início de uma nova etapa em Sua vida. A
to mencionado nos Evangelhos. Foi ele
partir daí, após a tentação do diabo, tem
quem mandou decapitar João Batista.
início o Seu ministério.
Leia Lucas 2. 39-52 O batismo significa para o cristão uma
declaração pública de sua identificação
Este fato, narrado apenas por Lucas, é
com Cristo, simbolizando mudança inte-
muito interessante e nos revela muito a
rior, com uma nova vida de obediência a
respeito de Jesus no final da Sua infância.
Ele.
Indo com seus pais a Jerusalém para a
festa da páscoa, ele ficou no templo e foi O ato externo do batismo, símbolo
preciso que eles voltassem para buscá-lo. para o cristão de sua morte com Cristo,
Conversava com ele com os doutores da seu sepultamento e sua ressurreição para
lei e Sua palavra aos pais já parece revelar uma nova vida, nada significará, se não
a percepção que Ele começava a possuir existirem nele tais realidades espirituais.
de Sua relação diferenciada com Deus.
Lucas destaca no final do texto que Aplicação a sua vida: Você já deu, através
Jesus era uma criança/adolescente, den- do batismo, seu testemunho público de
tro de uma situação normal de vida em que está comprometido com Cristo, como
submissão a seus pais, em Nazaré. E que um seguidor d’Ele? Que atitudes suas de-
Ele se desenvolvia de forma equilibrada, monstram a sua fidelidade a esse compro-
tanto física, quanto intelectual e espiritu- misso?

18 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ANTECEDENTES AO MINISTÉRIO DE JESUS |

3. A tentação de Jesus - Mateus 4.1-11 vida, tornando-nos fortes para vencer o


que nos quer afastar da vontade d’Ele.
Este texto, rico em significado e lições,
apresenta três tentações a Jesus. O diabo - As necessidades físicas, o desejo de
procura atingi-Lo em três áreas de vulne- exibir-nos e a ambição por possuir posi-
rabilidade humana: necessidades físicas, ções e poder, tudo isto que tem sido tão
desejo de ser admirado e desejo por po- estimulado pela nossa cultura, tornam-se
der e glória. Atacado nestas três áreas, pontos vulneráveis para nos afastar da
Jesus venceu todas as tentações. vontade divina. Por isso, é importante
conhecermos, além de nós mesmos, a
O que Deus deseja é que, ao enfren-
mentalidade do mundo no qual vivemos,
tarmos as tentações, a plenitude da Sua
comparando-a com a mente de Cristo,
graça e do Seu poder nos permitam ven-
sob cuja égide devemos viver.
cê-las, tornando-nos mais fortes e madu-
ros. - Jesus saiu vitorioso sobre as tenta-
ções e enviou-nos Seu Espírito para que
Algumas lições que este texto nos en-
nos dê força para vencê-las também. De-
sina:
pendamos d’Ele.
- O diabo está sob a autoridade de
Deus (v.1) pois Ele, Deus, é soberano e Aplicação a sua vida: Se Jesus, como Filho
todos os poderes estão sob Seu controle. de Deus, foi tentado, podemos, como dis-
Deus deseja usar todas as circunstâncias cípulos seus, pensar que somos imunes às
que nos atingem para o nosso bem e Sa- tentações? Quais tentações mais atingem
tanás quer usá-las para o nosso mal. Tudo sua vida? Como você poderá vencê-las?
vai depender da nossa reação. De quem
somos cooperadores?
- Somos atacados nos nossos pontos Conclusão
vulneráveis. Por isso, é importante nos Jesus enfrentou muitas provas antes
conhecermos, para que não nos deixe- e durante o Seu ministério terreno. Nós,
mos envolver pelos nossos impulsos para como servos d’Ele, não poderemos ter
o mal. Quais são os nossos pontos fra- vidas significativas, sendo bênçãos para
cos? Conheçamo-los. outros, sem passar pelas tentações com
- O diabo usou a Palavra de Deus (v.6), força e coragem, vencendo-as no poder
tentando Jesus a errar o alvo de Sua vida. de Jesus Cristo. Se houver queda, olhe-
Esta pode ser usada de forma distorcida mos para Ele e seremos reerguidos pela
para nos fazer duvidar do amor e da san- Sua graça.
tidade de Deus ou para que trilhemos ca- Que sempre tenhamos vidas submis-
minhos perigosos. sas ao Senhor que, como diz o escritor
- Jesus se relacionava perfeitamente aos Hebreus, é o nosso sumo-sacerdote
com Deus Pai e sabia muito bem qual que “foi tentado em todas as coisas, porém
o objetivo de Sua vida. Por isso, usou a sem pecado” (Hb. 4.15 ).
Palavra de Deus de forma apropriada. É
importante usá-la, não como um amu-
leto ou objeto com poder mágico, mas _______
como veículo através do qual Deus está (1)
DANA, H.E. O Mundo do Novo Testamento,
nos aconselhando e construindo a nossa págs. 77-82

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 19
ESTUDO 4

Leituras Diárias
Segunda Jo. 1.19-28
Terça João 1.29-37
Quarta João 2.1-12
INÍCIO DO MINISTÉRIO DE Quinta
Sexta
Lucas 4.14-21
Lucas 4.21-30
JESUS Sábado Colossenses 2.6-10

quem foi João Batista, o precursor de


Introdução Jesus.
O ministério de Jesus não é apre- Diante da autoridade da pregação de
sentado pelos evangelistas em ordem João Batista, uma comissão foi enviada
cronológica e, como a nossa intenção é de Jerusalém pelos sacerdotes e levitas
um estudo panorâmico, veremos apenas para saber quem ele era afinal. Ele de-
alguns fatos principais, ora num, ora nou- clarou que não era o Cristo, mas apenas
tro Evangelho. Seu precursor, que cumpria a profecia de
Isaías, sendo “a voz do que clama no deser-
Nos estudos 4 e 5 veremos alguns fa- to: Endireitai o caminho do Senhor” (v.23).
tos do início do ministério de Jesus que João Batista menciona aí Isaias 40.3. Diz
estão no começo dos Evangelhos, con- mais: que ele não era digno de desatar a
forme apresentados por João e Lucas. correia das sandálias de Jesus (v.27).
1. A pregação de João Batista João Batista, um pouco mais ve-
João 1.19-37 lho que Jesus, apresentou-O como o
Não se poderia começar um estu- “Cordeiro de Deus que tira o pecado do
do do início do ministério de Jesus, sem mundo”(v.29) e disse que Jesus tem a pri-
que se atentasse para esta grande figura mazia pois existia antes dele (v.30). João
que foi João Batista, seu precursor. Este Batista reconheceu a pré-existência de
homem do deserto apresentava uma Jesus e mostrou-se humilde ao não que-
mensagem cheia de autoridade, com ve- rer tomar um lugar que não era o dele.
emente ataque ao pecado. Um homem Deu também o seu testemunho do que
que o próprio Jesus considera grande ele vira acontecer quando batizara Jesus
(Mt.11.11). (vs.31-37).
Já foi apresentado no estudo anterior Mais tarde, ao saber que muitos es-
o batismo de Jesus por João Batista. Este tavam seguindo a Jesus, ele declarou: “É
texto, no entanto, nos apresenta melhor necessário que Ele cresça e que eu diminua”
20 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
INÍCIO DO MINISTÉRIO DE JESUS |

(Jo.3.30). Que homem ao mesmo tempo do bênção onde estiverem. Jesus se sen-
corajoso e humilde! tia à vontade com outros, sendo Aquele
que, onde está, ajuda e ilumina com Sua
E pensar que, mesmo podendo ocu- vida.
par altos postos na elite religiosa e polí-
tica do seu povo, pois era descendente Quando Maria falou a Jesus de uma
de Arão, seu desejo era estar no centro dificuldade que estava sendo enfrenta-
da vontade de Deus, anunciando a vinda da pela família que oferecia a festa, Ele
d’Aquele diante de quem se dizia indigno pareceu dar uma resposta grosseira à
de, curvando-se, desatar-lhe as sandálias. Sua mãe (v.4). Muitos se têm preocupa-
Ah, como necessitamos de tal humildade do com este texto. Alguns pensam que
Jesus foi realmente áspero para mostrar
e submissão a Deus!
que, como um homem adulto e com uma
A vaidade e a inveja são pecados que missão tão especial, não poderia deixar
se relacionam um com o outro e atingem que Sua família traçasse os rumos do Seu
a todos nós. Não há pecado que mais nos ministério. Alguns comentaristas argu-
afaste do Deus da graça do que o orgu- mentam que na palavra “mulher” não há
lho. Por vezes, até a nossa irritação con- qualquer aspereza, e nós é que julgamos
tra o orgulhoso ou a nossa timidez por al- de acordo com o valor da palavra na nos-
gum defeito nosso, podem ser sintomas sa cultura. Jesus usou a palavra “mulher”
de um orgulho disfarçado. ao referir-se à Sua mãe, na crucificação,
quando amorosamente se preocupou
Como Paulo, exclamamos: “Miserável com ela (Jo. 19.26) e depois de ressurreto,
homem que sou! Quem me livrará do corpo no encontro com Maria Madalena, numa
desta morte? ” (Rm. 7.24). Mas Paulo não palavra terna de consolação (Jo. 20.15).
para aí e nós não podemos parar, pois, O que se percebe neste texto (João
a seguir, ele fala da vitória que tem em 2.1-12) é que Jesus parece querer mos-
Cristo Jesus (Rm. 7.25). Coloquemo-nos trar que Seu ministério e Sua obra não es-
sempre diante do nosso Redentor para tariam vinculados à presença e à vontade
recebermos d’Ele força e perdão. de Sua mãe ou de qualquer outro fami-
liar. A Sua vontade e o Seu agir seriam
sempre em resposta às verdadeiras ne-
Aplicação a sua vida: “Deus resiste aos so- cessidades humanas, segundo a vontade
berbos, mas aos humildes dá a sua graça” do Pai. Ele sabia a hora de agir.
(Tg. 4.6). Em quais circunstâncias você per-
cebe que a falta de humildade tem prejudi- Depois disto, é Maria quem diz que as
pessoas devem ser-Lhe obedientes (v.5).
cado seu relacionamento com Deus e com
os seus semelhantes? Jesus fez o milagre e, conforme esse
texto, este fato levou seus discípulos a
crerem n’Ele. Interessante! Pensamos
2. O primeiro milagre numa festa de que, se já eram discípulos e o seguiam,
casamento - João 2.1-12 era porque já criam n’Ele... Mas o conhe-
cer e o crer vão crescendo com a expe-
Este texto mostra que Jesus era uma riência do andar juntos. Não é também
pessoa que fazia questão de conviver assim em nossa vida cristã? Talvez seja
com outras pessoas e, com isso, Ele en- por isto que Bonhoeffer diz que “Só o
sina que santidade não significa neces- obediente é que crê” (1). À medida que
sariamente isolamento dos outros, mas andamos juntos, obedecendo-lhe, va-
uma presença que conduza as pessoas mos conhecendo mais e crendo com
para mais perto da vontade de Deus, sen- maior profundidade.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 21
| INÍCIO DO MINISTÉRIO DE JESUS

Aplicação a sua vida: A sua fé tem se de- de outros povos através dos Seus profe-
tas. Mostrou assim que Ele se importava
senvolvido em seu caminhar com Jesus?
mais com a necessidade, a humildade e a
Quais os sinais desse crescimento?
fé de alguém, do que com seu sangue ou
a qual grupo pertencia.
O milagre nos faz ver que o vinho que Os judeus ficaram irados, pois, se jul-
Jesus ofereceu era de muito melhor qua- gavam depositários das bênçãos de Deus
lidade do que o anterior. Isto nos trans- como Seu povo escolhido, enquanto Je-
mite algum ensino? Será que percebe- sus disse que Deus tem abençoado ou-
mos quanto a vida com Cristo é melhor? tras pessoas, deixando-os de lado. Eles se
Devemos ter uma vida de santidade esqueciam que Deus os havia escolhido
em qualquer lugar em que estejamos. para transmitir a Sua bênção “a todas as
famílias da terra” (Gn.12.3) e não simples-
3. Jesus na sinagoga de Nazaré - Leia mente para receberem a bênção.
Lucas 4.16-30 Isto pode acontecer conosco? Or-
Foi difícil para Jesus o cumprimento gulhar-nos da nossa herança cultural ou
de Sua missão, especialmente em Sua religiosa, desprezando outros? Esque-
própria terra. Ao entrar na sinagoga em cemo-nos que, se somos abençoados, é
Nazaré, Ele leu o que está nos versículos para sermos canais destas bênçãos a ou-
18-19 do texto acima. Esta é uma pro- tros?
fecia de Isaías. Tinha neste momento a
atenção de todos sobre Ele. Quando dis-
Aplicação a sua vida: Como você consi-
se que este texto de Isaías se referia a Ele,
muitos olharam incrédulos e escandaliza- dera o seguir a Cristo? Você tem recebido
dos, perguntando: “Não é este o filho de as bênçãos de Deus, procurando abençoar
José? ” (v.22). com elas outras pessoas? De quais manei-
ras você tem feito isto?
Temos também muitos preconceitos,
não acha? Parece que, para muitos, é
mais difícil perceber a presença e a voz Conclusão
de Deus no simples, no cotidiano, pois, O primeiro milagre e este fato na si-
querem sempre fatos espetaculares. nagoga aconteceram na Galileia, res-
Quanto podemos perder por causa disto, pectivamente em Caná e em Nazaré. No
não acha? próximo estudo veremos alguns aconte-
Jesus mostrou aí que Sua missão cimentos na Judeia.
era dirigida aos humildes e necessitados: Jesus começou logo a enfrentar pres-
“pobres, cativos, cegos, oprimidos...” Não sões. Seria assim durante todo o tempo
àqueles que se orgulhavam de estar no do seu ministério terreno, pois, Ele inco-
topo da pirâmide social e de cumprirem
modava os que detinham o poder.
legalisticamente uma religião que não
os tornavam melhores. A declaração de O discurso de Jesus despertou muita
Jesus os enraiveceu. Depois vemos nos ira e alguns O expulsaram da cidade, le-
versículos 24-30 mais uma palavra de Je- vando-O ao pináculo do templo para de
sus que provoca uma reação indignada lá O jogarem, mas Ele se desviou deles,
contra Ele. escapando.
Jesus mencionou como Deus, deixan- ____________
do de atender judeus, abençoou pessoas (1)
BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. p. 26

22 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 5

Leituras Diárias
ENTREVISTAS DE JESUS NO Segunda João 3.1-16
João 3.16-21
Terça
INÍCIO DO SEU MINISTÉRIO Quarta João 4.1-14
João 4.13-30 Marcos 1. 40-45
Quinta
Sexta João 4.31-42
Introdução Sábado Romanos 5.1-11

Embora estivesse sempre em conta-


to com grupos e grandes multidões, as
ve como Jesus se dirige a eles de forma
entrevistas individuais foram muito im-
diferente, de acordo com a experiência
portantes no ministério de Jesus. Neste
de vida e o contexto de cada um.
estudo veremos o Seu encontro, logo no
início do Seu ministério, com Nicodemos 1. O encontro de Jesus com Nicodemos
e a mulher samaritana. - Leia João 3.1-21
O primeiro foi na Judeia, na cidade de Este é um dos textos mais conhecidos
Jerusalém. O segundo foi na cidade de do Novo Testamento. Sendo um impor-
Sicar, em Samaria, quando Ele se dirigia tante fariseu e doutor da lei, Nicodemos
para a Galileia. Foram entrevistas com talvez tivesse um sentimento religioso
pessoas muito diferentes: um homem e profundo. Já tendo naturalmente ouvi-
uma mulher. Ele, doutor da lei, da alta do falar do poder e da sabedoria de Je-
sociedade e membro da mais alta corte sus, Nicodemos desejou conversar par-
judaica, o Sinédrio. Ela, de uma classe ticularmente com Ele. Escolheu a noite
desprezada e socialmente baixa. Ele, de para encontrar-se com Ele, talvez para
uma seita que encarava com a maior não arriscar sua reputação, já que era
seriedade o cumprimento das leis e dos uma autoridade civil e religiosa, e Jesus
ritos religiosos. Ela, que adotava um com- sofria pressões por parte destas autori-
portamento que feria os mais elementa- dades. O Mestre se aproveitou da opor-
res princípios da religião. tunidade para falar-lhe de temas muito
Os dois, no entanto, eram igualmente importantes. Nesta conversa temos um
importantes para Jesus. Para ambos, Ele dos versículos mais conhecidos do NT:
tinha uma mensagem relevante. Obser- João 3.16.

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 23
|| 23
| E N T R E V I S TA S D E J E S U S N O I N Í C I O D O S E U M I N I S T É R I O

Nesta palavra de Jesus a Nicodemos, Muitas vezes ficamos olhando para


temos ensinos importantes sobre a dou- dentro de nós para verificarmos se te-
trina da salvação. mos fé. O que Jesus diz é que precisamos
olhar e aceitar a providência de Deus: Sua
- O novo nascimento - Vs.3-7 graça infinita, oferecendo-se em nosso
O reino de Deus só poderá ser usufru- lugar. A fé vai chegando e crescendo, à
ído por alguém através de sua natureza medida que andamos com o Jesus dos
espiritual, que só poderá ser gerada pela Evangelhos, o Cristo vivo que, na pessoa
ação do Espírito Santo. E Jesus fala sobre do Seu Espírito, está entre nós.
isso a Nicodemos.

- O Espírito Santo é quem opera o Aplicação a sua vida: Você deseja crer
novo nascimento – Vs. 8-12 com maior profundidade? Como você de-
monstra este desejo?
Esta ação é misteriosa, soberana e
não se pode explicar por métodos lógi-
- O pecado faz rejeitar a luz - Vs. 19-21
cos e racionais. Jesus compara o Espírito
Santo ao vento, mostrando que, como as Este é um texto que fala sobre a luz
pessoas em geral não conheciam e nem e seus efeitos sobre a vida do pecador.
controlavam o vento, assim também a Quem deseja esconder suas más ações,
ação do Espírito Santo ultrapassa a nossa não querendo enxergá-las, não quer a luz
capacidade de compreender e controlar. em sua vida. Mas quem vive dentro da
A nós cabe responder aos anseios que Ele verdade, quer a luz, desejando enxergar
nos dá pelo que é espiritual, indo humil- suas más ações para que sejam corrigi-
demente a Ele para que seja gerada em das.
nós esta nova vida.
Jesus proclamou-se como a luz e a
- Só a fé em Jesus pode operar o novo verdade. Se não queremos nos ver como
nascimento - Vs. 14-18 pecadores, rejeitaremos a luz e não de-
sejaremos a verdade; por conseguinte,
Usando a alegoria da serpente de Jesus está fora das nossas vidas.
cobre levantada no deserto por Moisés
(Num.21.8-9), Jesus falou a Nicodemos Quando recebemos Jesus, a Sua luz
que só no Filho de Deus há redenção vai clareando a nossa compreensão para
para o pecador. Como aconteceu no de- perceber melhor o amor, a justiça e a san-
serto, assim também todos que foram tidade de Deus, cujo caráter vai nos mos-
picados pela serpente do pecado (todos trando como devemos ser e nos transfor-
os seres humanos foram) deverão olhar mando em direção a este alvo. A Sua luz
com fé para o Filho de Deus levantado na faz com que enxerguemos a nós mesmos
cruz, fazendo-se pecado por todos. Só como frágeis pecadores, mas também
Ele nos poderá transmitir a cura, a salva- como grandemente valiosos, amados
ção. Ao olharmos para Jesus, o Espírito pelo Senhor do universo, a quem pode-
Santo aponta o nosso pecado, fazendo- mos chamar de Pai, que nos quer trans-
nos nascer de novo. formar a cada dia, levantando-nos quan-

24 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
E N T R E V I S TA S D E J E S U S N O I N Í C I O D O S E U M I N I S T É R I O |

do caímos e nos ajudando a caminhar. E Aplicação a sua vida: Como você valoriza
se somos Seus discípulos, podemos até o ser humano? De acordo com o valor que
falhar e cair, mas voltaremos para a luz, lhe dá o mundo, ou de acordo com o valor
pois não desejaremos nunca mais viver que Jesus lhe dá?
sem ela.
Jesus falou a Nicodemos sobre o novo
Jesus quebrou aí vários tabus. Ele
nascimento que nos traz para um mun-
era um homem, um judeu, um rabi ou
do de luz. Cada um de nós tem a opção
mestre. Um rabi não podia conversar
de vir para luz ou rejeitá-la. Não sabemos
publicamente com uma mulher; ela era
se o grande Nicodemos se tornou um
samaritana, com quem os judeus não se
discípulo de Jesus, mas o fato é que ele
comunicavam, a ponto de não usarem
foi grandemente tocado pelo ensino do
as vasilhas dos samaritanos (v.9); levava
Mestre. Se quer saber mais sobre Nicode-
uma vida moral irregular, arriscando a
mos, veja João 7.50-52 e 19.38-42.
reputação de quem tivesse contato com
ela. Jesus conversou com aquela mulher
2. O encontro de Jesus com a mulher sa- por reconhecer ali um coração faminto
maritana - Leia João 4.1-30 do verdadeiro amor.
Este encontro de Jesus, tão diferente - Versículos 10 a 15
do encontro que vimos no item anterior,
também nos ensina grandes e preciosas Que sabedoria! Jesus parte de um
lições. tema conhecido e corriqueiro, chegan-
do ao tema desejado: a água que satisfaz
- Versículos 4 a 6 permanentemente. A mulher não per-
Aí vemos a humanidade de Jesus se cebe a alegoria, achando que Jesus está
expressando em Seu cansaço junto ao falando de uma água que substituiria a
poço de Jacó. Ao se despojar de Sua gló- água que ela viera buscar.
ria, Jesus carregou todo o fardo da nossa
- Versículos 16 a 18
humanidade: fome, sede, cansaço, dores,
etc. A hora sexta era meio-dia, pois, os Jesus toca na ferida profunda da mu-
judeus contavam o dia, de seis horas da lher porque a amava. Ela precisava saber
manhã às seis horas da tarde. Jesus esta- que Ele conhecia sua vida e que mesmo
va cansado. Ali, todavia, Ele travaria con- assim não a desprezava. Que sua bus-
tato com alguém muito importante. ca constante por novos parceiros podia
significar sede de um amor muito mais
- Versículos 7 a 9
profundo. Ou talvez, já havendo sido
Esta mulher pouco valia para os ju- rejeitada muitas vezes (o mais provável
deus, mas vemos aí como Jesus age com naquela época), sentia-se frustrada com
as pessoas. Para Deus é o valor intrínseco o amor humano. Jesus sabia que só uma
do ser humano que importa, e não o va- abertura ao amor de Deus, poderia mu-
lor que lhe dá a sociedade. dar sua vida.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 25
| E N T R E V I S TA S D E J E S U S N O I N Í C I O D O S E U M I N I S T É R I O

- Versículos 19 a 26 Aplicação a sua vida: Os discípulos apren-


A mulher busca um tema mais confor- diam a cada dia, em seu caminhar com Je-
tável e procura descobrir quem é Jesus. sus. E você, o que tem aprendido? Como
Às vezes é mais fácil trafegar pela via do deseja vivenciar tal aprendizado?
conhecimento teológico do que encarar
honestamente a nossa interioridade. Je-
sus responde à mulher, ensinando-nos Conclusão
muitas lições, inclusive que a adoração - Jesus se dirige a cada um, respei-
não depende de lugar, nem de tempo, tando a sua individualidade ao lhe trans-
que Deus deseja adoradores sinceros, mitir os ensinamentos do Evangelho.
que O adorem em espírito e em verdade. Temos nós procurado apresentar o Evan-
Percebendo que a mulher estava pronta gelho de acordo com as características
para ir adiante, Jesus lhe declara o que pessoais daqueles a quem nos dirigimos?
está no versículo 26.
- Pensar que Jesus, tão reticente
Será que nós temos a sabedoria de como era, não desejando revelar logo a
abordar a pessoa de acordo com sua cir- sua identidade, revelou-a a esta mulher
cunstância? De conduzir a mensagem (v.26) ...
de modo que ela perceba o cerne do
Evangelho, que é livrar o ser humano da
alienação em que vive, levando-o a co- Aplicação a sua vida: Percebendo a forma
nhecer a Deus e a si mesmo? de agir de Jesus, é possível a um seguidor
Seu tratar a qualquer ser humano com des-
Ao chegarem, os discípulos se ad-
prezo ou discriminações? Como você vê
miraram de que Jesus conversasse com seu modo de agir, diante disso?
uma mulher, mas não lhe fizeram per-
guntas (v.27). E a mulher samaritana
convidou muitos da sua cidade a virem Viver na luz nem sempre é cômo-
a Jesus. E eles não apenas vieram, como do, mas produz correção, crescimento,
alguns creram ser Jesus o Salvador do alegria... “Deus é luz e n’Ele não há treva
mundo (vs. 30,39,40,41). alguma” (I Jo. 1.5).

26 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 6

Leituras Diárias
Segunda Mateus 4.12-25
Terça Marcos 1.21-28
JESUS e o Quarta
Quinta
Marcos 1. 29-39
João 1.40-45
ESTABELECIMENTO Sexta
Sábado
Marcos 2.1-12
Atos 10.34-38
DO REINO
1. O início do ministério galileu - Leia
(O ministério galileu: curas e Mateus 4.12 a 25
sinais - 1ª Parte)
Vemos neste texto que depois da pri-
são de João Batista, Jesus foi para a Ga-
Introdução lileia. Deixando a cidade de Nazaré, foi
para Cafarnaum, onde estabeleceu sua
Jesus desempenhou o Seu ministério residência (v.13).
em várias regiões da Palestina, mas foi na
Galileia que Ele esteve a maior parte do Na Galileia Jesus começou a pregar
tempo. Era a Sua terra. Ali viveu a infân- a chegada do reino de Deus, que n’Ele
cia com os pais, na cidade de Nazaré. Ali tinha o seu cumprimento (vs.14-17), se-
realizou seu primeiro milagre, em Caná. gundo Isaias 9.1-2. Muito se tem discu-
Ali estabeleceu a base do Seu ministério, tido a respeito do que significa reino de
em Cafarnaum, à margem do mar da Ga- Deus ou reino do Céu. Estudiosos escla-
recem que reino de Deus ou reino do Céu
lileia.
significa o governo divino sobre nós e em
Ele não tinha casa propriamente sua. nenhum ser humano o governo de Deus
Estudiosos creem que em Cafarnaum, ele se estabeleceu de forma absoluta, como
ficou na casa de Pedro que devia morar na pessoa de Jesus. E onde há o governo
aí, pois pescava no mar da Galileia quan- de Deus, aí se estabelecem a paz, o amor,
do Jesus o chamou. E foi aí que Jesus a justiça, a misericórdia e tudo que faz
curou a sogra de Pedro. parte do caráter e do agir de Deus.
Vejamos neste estudo alguns feitos O reino de Deus tem uma dimensão
de Jesus na Galileia. passada, presente e futura. O reino já

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 27
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| J E S U S E O E S TA B E L E C I M E N T O D O R E I N O

veio, está vindo e virá. Já veio, ao reve- de ver satisfeitas suas necessidades físi-
lar-se Deus de forma crescente, até à Sua cas. Outros, no entanto, queriam saciar
manifestação plena e absoluta na pessoa necessidades emocionais e espirituais.
de Seu Filho Jesus. Está vindo sempre Ele não os separava, a todos atendendo
que alguém permite que Deus reine so- com compaixão, pois, o reino de Deus
bre a sua vida ou que contribui para que visa ao benefício do ser humano em to-
a vontade d’Ele se estabeleça no mundo. dos os seus aspectos.
E virá um dia, quando o reino se estabe-
lecer em plenitude, no final dos tempos.
Aplicação a sua vida: Você é um represen-
A missão dos cristãos é lutar para que tante do reino de Deus, desejando estabe-
o reino de Deus se estabeleça nos cora- lecê-lo onde está? Como você pode fazer
ções e na sociedade em geral. isto?

Aplicação a sua vida: Como seguidor de
Jesus Cristo, que atitudes suas demonstram 2. Jesus atendeu o ser humano em sua
seu desejo de que a vontade de Deus se es- integralidade - Leia Marcos 1.21 - 45
tabeleça no meio em que você vive? - 1.21 - Uma parte importante da
missão de Jesus era o ensino. Ele se di-
Logo no início do Seu ministério na rigia à mente das pessoas, falando-lhes
Galileia, Jesus chamou quatro discípulos muitas vezes por parábolas ou fazendo-
lhes perguntas que as levavam a pensar.
que eram pescadores - dois pares de ir-
mãos: Pedro e André e também Tiago e Deus quer o desenvolvimento da
João (vs.18-22). Eles deixaram suas ativi- nossa mente, pois foi Ele mesmo quem a
dades para seguir a Jesus. Seriam prepa- criou. Se a nossa religiosidade se baseia
rados para ajudar no estabelecimento do apenas em emoções ou numa credulida-
reino de Deus nos corações. de ingênua, desvinculada do nosso pen-
sar, alguma coisa nela está errada.
O versículo 23 faz como que um re-
sumo do ministério na Galileia.: ensino,
pregação e cura das pessoas em geral. O Aplicação a sua vida: Está você interessa-
trabalho de Jesus sempre visou ao alívio do em desenvolver seu conhecimento de
dos sofrimentos físicos e emocionais do Deus, do mundo, de você mesmo? O que
ser humano, o desenvolvimento de sua você está fazendo, para que isto aconteça?
mente e, sobretudo, o benefício de sua
vida espiritual pela comunhão com o Pai - 1.22 - A autoridade de Jesus era
Eterno. Esta deve ser a plataforma de tra- reconhecida por todos. As pessoas esta-
balho dos Seus seguidores, para ver cum- vam acostumadas com mestres que sa-
prida a vontade de Deus de que o Seu rei- biam de cor as Escrituras e as recitavam
no de justiça e paz vá se estabelecendo mecanicamente, mas não com alguém
por este mundo, mesmo em meio a tan- em quem religião e vida se misturavam
tos males resultantes do pecado. tão profundamente.
Os últimos versículos deste texto fa- Temos nós a autoridade de quem crê,
lam que as multidões seguiam a Jesus. sente e vive aquilo que prega? É assim
Muitos O seguiam apenas com o desejo com você?

28 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
J E S U S E O E S TA B E L E C I M E N T O D O R E I N O |

- 1.23-28 - Jesus confrontava os de- e visando à cura espiritual do paralítico,


mônios que revelavam saber muito bem Jesus perdoa os seus pecados.
quem Ele era. E Sua fama se espalhava
Estaria Jesus desejando mostrar a
(V. 28).
possibilidade de a paralisia daquele ho-
- 1.29-45 - Neste texto, podemos mem ser resultante de seus sentimentos
observar coisas importantes. de culpa pelos pecados? Jesus não enca-
rava a doença como resultante do peca-
a) Jesus curou a sogra de Pedro e
do do doente ou de seus familiares. Ele
muitos outros (vs. 29-34).
disse isso em João 9.2-3.
b) Em meio a tantas atividades, Je-
O que Jesus parece mostrar aqui é
sus se dedicava à oração para cumprir o
que mais do que da sua cura física, aque-
Seu ministério (v.35-39).
le homem precisava ser liberto do seu
c) Jesus era sempre impulsionado pecado. Os escribas, então, O acusam
pela compaixão que sentia pelas pesso- de blasfêmia. Realmente, para quem não
as que sofriam (vs.40-41). O leproso era cria na divindade de Jesus, só restava
discriminado e ninguém se aproximava achá-lo presunçoso e blasfemo.
dele. Jesus tocou-o sem qualquer discri-
Não é este um argumento com o
minação.
qual se pode combater a ideia de que
d) Jesus mandou que o leproso cura- Jesus foi um ser iluminado, de grandes
do não divulgasse a sua cura e fosse ao virtudes morais e espirituais, mas não
sacerdote para que este atestasse a au- era Deus? Ou Ele era Deus, ou men-
sência de lepra nele (v.44). Era a orienta- tiu a respeito de Si mesmo, enganando
ção judaica na época. O sacerdote fazia as pessoas. Neste caso, onde estariam
o papel do médico. O suspeito de estar Suas virtudes morais?
com lepra deveria ficar isolado, ser exa-
minado até que o sacerdote desse o seu
veredito, declarando-o curado; após as Conclusão
ofertas e rituais, ele o liberava para o con- Vimos neste estudo o começo do
vívio social (Nm.13.9-11). Hoje as pes- ministério de Jesus na Galileia, onde
soas deveriam ser enviadas aos médicos Ele passou o maior tempo de Sua vida.
para que se averiguasse a autenticidade Nesta terra está o Mar de Tiberíades ou
de supostos milagres, você não acha? da Galileia, cenário de muitos aconte-
Quantas lições para nós neste texto, cimentos da Sua vida ministerial. Ali Ele
hein? proferiu o Sermão do Monte e muitos
outros ensinos. Ali estão cidades como
Cafarnaum, Nazaré, Caná, Betsaida,
3. Cresce a popularidade de Jesus - Naim, etc, onde fatos importantes ocor-
Leia Marcos 2.1-12 reram.
A popularidade de Jesus crescia e as Jesus começou o Seu ministério di-
multidões O cercavam por onde fosse. zendo que o Reino de Deus havia chega-
Neste texto, um paralítico é trazido até do. A Sua vida acompanhada de todos
Jesus pelos seus solidários amigos que o os Seus sinais e também do Seu ensino,
desceram pelo telhado. Vendo a fé deles atestava isto.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 29
ESTUDO 7

Leituras Diárias
Segunda Lucas 7.1-17
Terça Marcos 3.13-19
Quarta Marcos 4.35-41
Quinta Marcos 5. 21-43
O AMOR DE JESUS NÃO Sexta
Sábado
Marcos 6. 30-44
Marcos 3.31-35

DISCRIMINA
modo de viver e Seus ensinos. O bem
(O ministério galileu: curas e
que Ele praticava, no entanto, era sem-
sinais - 2ª Parte)
pre resultante do Seu coração amoroso
e compassivo. Assim deveriam sempre
Introdução ser aqueles que pertencem ao Seu reino,
você não acha?
Veremos neste estudo, em alguns tex-
tos de Marcos e Lucas, mais alguns sinais 1. A compaixão de Jesus - Leia Lucas
do ministério de Jesus na Galileia: mila- 7.1-17
gres envolvendo tanto a área física quan-
O centurião era um capitão que co-
to a área espiritual do ser humano, tanto
mandava cem soldados. Vemos aí que
judeus como gentios, tanto ricos como
ele estava com um servo muito doente
pobres, tanto o homem como a mulher.
e enviou alguns emissários para pedir a
O Filho de Deus não discriminava pesso-
Jesus que fosse curá-lo. Vejamos algumas
as, espalhando entre todos as Suas bên-
coisas que nos podem impressionar nes-
çãos.
te centurião:
Jesus sempre sentia compaixão pe-
- Sua humildade e interesse por um
los sofredores e era está a Sua motivação
servo doente;
para agir em favor deles. Não esperava
agradecimentos, nem que as pessoas O - Sua fé elogiada pelo próprio Jesus.
apreciassem ou se tornassem artificial- Quando o Senhor foi se aproximando da
mente suas seguidoras. Muitas vezes, casa do centurião, veja o que ele lhe man-
recomendava que não divulgassem Seus dou dizer nos versículos 6 a 8. Jesus elo-
atos. Muitos se tornaram Seus discí- giou então a sua fé, principalmente pelo
pulos atraídos pela Sua compaixão, seu fato de ele não pertencer a Israel, povo

30 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O AMOR DE JESUS NÃO DISCRIMINA |

que se orgulhava de seu relacionamento - Mesmo quando estamos junto com


com Deus. Como tal fato nos ensina! o Mestre e seguimos o caminho da obe-
diência, não estamos livres de sofrer difi-
A partir do versículo 11 deste mesmo
culdades;
texto, Lucas relata um outro milagre que
Jesus efetuou, levando alegria ao cora- - Nas nossas horas de aperto, Jesus
ção de uma mãe que chorava. Seu co- poderá nos acudir em nossos temores,
ração terno e misericordioso se enchera acalmando as tempestades da nossa
de compaixão por essa mãe. Jesus não vida.
veio nos revelar o Pai? Pois é assim o
nosso Deus. 3. O amor que não discrimina - Leia
Marcos 5.1-43
A morte e a vida se encontraram na-
quele lugar - a vida representada por Neste texto de Marcos, temos três
Jesus e a morte representada por aque- fatos importantes: a cura do endemoni-
le féretro. Mas, em Jesus, a vida sempre nhado gadareno, a cura da mulher que
vence a morte. tinha um fluxo de sangue e a ressurreição
da filha de Jairo. Vejamos um pouco so-
No sentido espiritual, vivemos sempre
bre cada um.
cercados por aspectos de vida e morte. O
que é mal e contrário à vontade de Deus - O endemoninhado gadareno - Ver-
é sempre uma manifestação da morte. sículos 1 a 20
Como discípulos de Jesus, devemos levar
Este homem vivia entre os mortos,
a vida e seus sinais por onde formos.
despido, ferindo-se e atordoado por es-
píritos demoníacos. Curado por Jesus,
2. Jesus acalma a tempestade - Leia estava agora assentado, vestido e em
Marcos 4.35-41 perfeito juízo. Quem antes não era con-
tido por grilhões e cadeias, estava agora
Este fato, relatado também por Ma-
calmo e equilibrado, sem que alguém o
teus e Lucas, mostra Jesus e Seus discípu-
subjugasse.
los passando de um lado para outro do
Mar da Galileia, talvez para estarem mais Muitos males neste mundo não se-
sozinhos e isolados da multidão, talvez rão debelados por forças externas, mas
para acharem um outro campo missio- somente por uma transformação interior
nário. produzida pelo Espírito de Deus. Quan-
tos criminosos que nenhuma força po-
Vemos neste texto uma demonstra-
licial consegue deter, poderão ser trans-
ção da humanidade de Jesus, quando Ele
formados pela força divina em suas vidas!
se mostra cansado e dorme sobre a almo-
fada. Quando ocorre uma tempestade, o Jesus, com Seu ato, causou prejuízo
que era comum no Mar da Galileia, os dis- a criadores de porcos, que trabalhavam
cípulos assustados O chamam. naquela região predominantemente ha-
bitada por gregos. Será que tal fato nos
Temos aí uma visão da autoridade de faz refletir que o valor da vida humana é
Jesus sobre as forças da natureza. superior ao dos bens materiais? O povo
Com o fato ocorrido, podemos apren- da cidade em geral não compreendeu
der algumas lições: isso.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 31
| O AMOR DE JESUS NÃO DISCRIMINA

Aplicação a sua vida: Você se dispõe a sa- do Mestre pelas pessoas, lhe ensinaram
crificar bens materiais para ver o reino de muito.
Deus se estender, beneficiando as pessoas?
Quais atitudes suas demonstram isso?
Aplicação a sua vida: As expectativas
quanto ao final da caminhada impedem
você de aproveitar a beleza e os ensinos
- A ressurreição da filha de Jairo e a
que Deus tem para sua vida durante o per-
cura de uma mulher - Versículos 21-43
curso? Como você pode agir para evitar
Jairo era um homem socialmente isso?
muito importante (v.22). Sua angústia e
temor pela morte da filha levaram-no a
- A bênção que ele esperava demo-
se prostrar, cheio de humildade e fé, aos
rou a realizar-se, mas valeu a pena es-
pés de Jesus (vs.22-23). Ao atendê-lo,
Jesus caminhou em direção à casa dele, perar, pois, ela se tornou muito maior e
mas demorou muito a chegar, por causa recebida com muito maior alegria e grati-
da grande multidão que o acompanhava dão do que o esperado.
e porque foi interrompido pela neces- - A mulher, que desejava não ter seu
sidade de uma mulher enferma que Ele ato tornado público, pois, sua doença
curou. lhe dava um sentimento de inferioridade
Temos lições muito preciosas nesses que a acompanhava há muitos anos, foi
dois fatos entrelaçados: elogiada por Jesus e saiu dali curada, não
apenas física, mas espiritualmente.
- Jesus trata a todos sem discrimina-
ções. Aquele homem era, social e cul- Deus tem o seu modo próprio de agir
turalmente, muito mais importante do e não vê como vê o homem.
que aquela mulher. Mas não do ponto de
vista de Jesus.
- Deve ter sido muito difícil para aque- Conclusão
le homem suportar a aflição e a demora - Cremos na soberania e no poder de
de Jesus em atender seu pedido. Era Deus?
muito difícil não se impacientar ou não
desistir. Temos nós paciência de esperar - O que sentimos ao perceber a de-
as respostas de Deus às nossas necessi- mora de Deus em nos atender?
dades? - Não é verdade que muitas vezes per-
- Por outro lado, enquanto ele cami- demos as bênçãos da nossa caminhada,
nhava com Jesus em direção à sua bên- porque ficamos aguardando o que Deus
ção, outra pessoa era muito abençoada e nos dará ao final, em vez de usufruir da
ele podia, em sua caminhada, aprender alegria e beleza de cada trecho do per-
muitas lições. A humildade e a fé daque- curso? Oremos para que tenhamos um
la mulher, bem como o cuidado amoroso coração sempre disposto a aprender.

32 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 8

Leituras Diárias
JESUS Combate A Segunda
Terça
Marcos 2.13-28
Marcos 3.1-12

RELIGIOSIDADE EXTERIOR Quarta João 5.1-18


Quinta João1.1-7
Sexta I João 2.1-6
(Controvérsias do ministério Efésios 3.17-21
Sábado
galileu - 1ª Parte)
prezando e discriminando as classes
Introdução marginalizadas. Neste estudo, veremos
alguns confrontos de Jesus com pes-
Sabemos que Jesus, muitas vezes,
soas que defendiam a observância das
com Seu estilo de vida e Seus ensinos,
leis, acima do amor a Deus e ao próxi-
feriu os preconceitos de muitas pessoas,
mo.
especialmente daqueles que detinham
maior poder na época: os chefes políticos
1. Jesus combate o legalismo - Leia
e religiosos.
Marcos 2.13-28
Muitos sacerdotes, escribas e fariseus
Encontramos neste texto a censura
pertenciam ao Sinédrio, que era um tri-
que Jesus recebeu pelo seu modo de agir
bunal civil e religioso na Palestina. No
e também pelo comportamento de Seus
tempo de Jesus, o Sinédrio tinha grande
discípulos.
influência política. O próprio sumo-sa-
cerdote, que era o presidente do Siné- Nos versículos 13 a 17 vemos dois
drio, passou a ser um cargo, cuja nome- fatos:
ação se dava por influência política (1).
- Jesus chama um publicano para
Como você pode perceber, o poder polí-
segui-lo - Os cobradores de impostos, ou
tico e religioso estavam entrelaçados.
publicanos, eram considerados desones-
Com seu modo de viver e ensinar, tos, sendo odiados pelo povo e despre-
Jesus ameaçava a situação cômoda zados pelos fariseus, pois, serviam aos
em que muitos se encontravam, ao dominadores romanos e tinham muito
acumularem riquezas e prestígio, des- contato com os gentios. O chamado de

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 33
|| 33
| J E S U S combate A R E L I G I O S I D A D E E X T E R I O R

Jesus era para todos, qualquer que fosse externa e legalista. Ele dá o exemplo dos
a atividade, a posição política ou repu- odres que eram feitos de couro e guarda-
tação na sociedade. Qualquer mudança vam o vinho. Como o vinho novo colo-
após o chamado deveria vir de dentro cado dentro de odres velhos, que já não
para fora e como resultante da convivên- tinham flexibilidade, fazia com que os
cia com o Mestre. odres se rompessem, assim a espirituali-
- Jesus é criticado pelos escribas e dade verdadeira romperia as estruturas
fariseus por estar entre publicanos e religiosas rígidas e inflexíveis que carac-
pecadores – Levi, o novo discípulo, tal- terizavam a religião daquelas pessoas.
vez tenha dado uma recepção para Je- Que pena! Às vezes as estruturas se
sus, chamando muitos daqueles com os rompem, desperdiçando grande par-
quais ele possuía relações. O partilhar te daquilo que Deus quer dar a todos,
de uma mesma mesa de refeição para o porque não se adaptam ao novo agir de
judeu simbolizava comunhão, amizade.
Deus no mundo ou no meio do Seu povo.
Por isso, eles estranharam Jesus estar ali
entre as pessoas a quem eles julgavam
impuras. Ele declarou então que sem- Aplicação a sua vida: Quais atitudes você
pre estará onde estão os que necessitam pretende tomar para viver de acordo com
d’Ele (v.17). os valores percebidos em Jesus?
Jesus foi sempre censurado pelas pes-
soas para quem a religião estava baseada
Deixemo-nos guiar pelo Espírito San-
no cumprimento de ritos externos. Isto
to, tendo uma vida que honre e glorifique
pode acontecer conosco? Valorizar mais
ao Senhor.
o externo e aparente do que a comunhão
com Deus e a mudança interior? Valori-
2. A pressão sobre Jesus aumenta -
zar mais as pessoas pelo que fazem do
Leia Marcos 3.1-12
que pelo que são?
Do versículo 18 em diante temos dois Jesus sabia que era observado. Podia
fatos que receberam a censura dos fari- deixar de curar o homem, não se confron-
seus: os discípulos de Jesus que não jeju- tando com autoridades que acabariam
avam como os discípulos de João Batista; por tirar-lhe a vida. Resolveu, todavia,
e a colheita de espigas que eles realiza- dar testemunho daquilo por cuja causa
ram num sábado. Ele entregaria a sua vida: o valor do ser
humano, acima de rituais religiosos.
Dando Sua resposta, Jesus transmite
ensinos de duas naturezas: Jesus mandou o homem vir para o
meio (v.3). Apesar de, às vezes, por pru-
- Vs. 23-28 - Ele fala a respeito do valor dência, não querer a divulgação do que
do ser humano, que é maior do que o de
fazia, já que Sua vida corria risco, Jesus
cumprimento de ritos religiosos. Diz que
não escondia por covardia Seus posi-
as leis não têm valor em si mesmas, pois,
cionamentos. Logo mostrou que estava
foram feitas para beneficiar as criaturas
do lado dos que sofrem e não do lado
de Deus. Estas sim têm um valor incalcu-
lável. do cumprimento de regulamentos que,
embora formulados com o objetivo de
- Vs. 21-22 - Com esta alegoria, Jesus beneficiar o ser humano, pela sua práti-
transmite o ensino de que o Evangelho ca mecânica e inflexível acabavam por
não caberia dentro de uma religiosidade prejudicá-lo.

34 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
J E S U S C ombate A R E L I G I O S I D A D E E X T E R I O R |

No versículo 6 vemos que as confabu- le dia um sábado. Interessante é que o


lações já começavam para tirar a vida de homem curado, ao ser interrogado, não
Jesus. Por que os líderes religiosos dese- identificou o seu benfeitor (vs. 10-13).
javam tanto eliminá-lo? Talvez a vida de Jesus curava por compaixão e não para
Jesus desmascarasse aquilo que era o seu receber notoriedade ou mesmo agrade-
orgulho: a prática de uma religião ritua- cimentos.
lista, que não atingia o seu interior. Além
disso, eles tinham uma posição social e
política que era ameaçada por Jesus, ao Aplicação a sua vida: Quais são os seus
atrair tantas pessoas, levando-as a ques- sentimentos quando suas boas ações não
tionar o que para eles era tão importante. são reconhecidas?

Se Jesus vivesse fisicamente em nos-


so mundo, não encontraria a mesma Ao encontrar-se com o curado, Jesus
resistência por parte de muitos de nós? disse o que está no versículo 14. Sabe-
Não desejariam muitos religiosos, que mos que Jesus não relacionava a doença
se dizem cristãos, eliminá-lo também? de alguém ao seu pecado pessoal, como
Ele disse aos discípulos em João 9.2-3.
3. A cura de um paralítico - Leia João Mas nesse caso específico, Jesus pare-
5.1-18 ceu ver a doença daquele homem como
resultante de algum pecado dele e, por
Jesus vai rapidamente a Jerusalém. isso, advertiu-o para que não continuas-
Coloco o fato no ministério galileu por- se no seu pecado, a fim de que não lhe
que, mesmo acontecido na Judeia, foi acontecesse coisa pior. Ou essa coisa pior
dentro do período do ministério galileu. podia também ser a separação de Deus?
Ele foi a Jerusalém e logo voltou.
O versículo 16 diz que os judeus ago-
Mais uma vez Jesus efetua uma cura ra procuravam matar Jesus. Era a hostili-
no sábado. Entre os que ali estavam, dade aberta que começava.
havia este homem há 38 anos paralítico.
Jesus perguntou se ele desejava ficar são.
Parece uma pergunta sem sentido, já Conclusão
que aquele paralítico estava sempre ali.
Mas Jesus gostava de fazer as pessoas Lemos em Atos que Jesus andou por
pensarem. Estaria ali por desejar real- toda a parte fazendo o bem (10.38b).
mente a cura? Para despertar piedade Discípulos Seus devem espalhar o bem
ou conseguir algo? Queria mostrar como onde estejam, mas sempre cuidando
as outras pessoas são egoístas? Já teria para que a sua conduta resulte da atua-
pedido ajuda? Estaria acomodado com ção do Espírito Santo em suas vidas. Esta
sua imobilidade? produzirá amor e compaixão, sem qual-
quer interesse por visibilidade ou retri-
Tal pergunta, cuja resposta nos pare- buições de qualquer tipo.
ce óbvia, várias vezes foi feita por Jesus.
Talvez para nos ensinar que o nosso de-
sejo verdadeiro é condição para o agir de
Deus em nossa vida.
Jesus curou o paralítico e ele carregou (1) O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo:
seu leito, sendo criticado por ser aque- Ed. Vida Nova, 1979. p.1535

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 35
ESTUDO 9

Leituras Diárias
Segunda Lucas 7.36-50
Terça Mateus 12.9-21
JESUS SEMPRE Quarta Mateus 12.22-30
Quinta Mateus 9.35-38
SURPREENDE AS PESSOAS Sexta Mateus 10.1-15
Sábado Marcos 6.1-6
(Controvérsias do ministério
galileu - 2ª Parte)
Quando desobedecemos a Deus, dei-
xando de cumprir a nossa missão para
Introdução receber as glórias do mundo, estamos
nos submetendo à tentação de Satanás.
Este estudo trata um pouco mais das Pense sobre isto!
controvérsias de Jesus enquanto desem-
penhava Seu ministério na Galileia. Com 1. Um jantar surpreendente - Leia Lu-
Seus atos, Jesus estava sempre desrespei- cas 7.36-50
tando tabus e ideias religiosas que preju-
dicavam as pessoas a quem Ele viera res- Jesus foi jantar na casa de Simão, um
gatar. Por isso, a hostilidade e a oposição fariseu. No estudo anterior nós O vimos
a Ele iam crescendo. Ele teve sempre de na casa de um publicano, pessoa despre-
escolher entre o cumprimento de Sua zada pelos fariseus. Jesus surpreendeu
missão e o “estar bem” com todos. por não respeitar os preconceitos sociais
e religiosos de Sua época, amando antes
Não foi esta a tentação que o Homem a todos os seres humanos.
Jesus recebeu a Sua vida inteira? Deixar
de lado a Sua missão, para se “dar bem” Os fariseus pertenciam a uma seita
em tudo? Não foi isto que o diabo lhe muito exigente quanto ao cumprimento
ofereceu: “Eu te darei tudo isto, se prostra- de leis e rituais religiosos. Muitos valori-
do me adorares? ” (Mt.4.9). Jesus resistiu. zavam mais o cumprimento de tais leis
A Bíblia diz que Ele foi “obediente até à do que as qualidades internas do caráter.
morte e morte de cruz. Por isso, Deus tam- Ali compareceu uma prostituta, expon-
bém O exaltou com soberania e Lhe deu o do-se ao desprezo social e religioso.
nome que está acima de qualquer outro Ela derramava não apenas o perfu-
nome” (Fl. 2.8-9). me, mas suas lágrimas sobre os pés de
36 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
JESUS SEMPRE SURPREENDE AS PESSOAS |

Jesus. Por que ela chorava? Pela dor que 2. O rei manso e sofredor - Leia Mateus
tal vida lhe provocava? Por sentir que 12.14-30
Jesus a amava, tendo consciência de que
Depois de uma cura no sábado e ven-
só este amor seria capaz de resgatá-la da
do a oposição a Ele crescer, Jesus se re-
vida promíscua e infeliz?
tirou, sendo sempre acompanhado pelas
O fariseu ficou chocado por ver Je- multidões. Por um lado, Jesus procurava
sus aceitando que tal mulher O tocasse não se expor à morte e ao perigo, mas,
(V.39). Era o toque de uma pessoa con- por outro lado, nunca fugia de Sua mis-
siderada grandemente impura pela sua são. Pedia que as pessoas não O divulgas-
sociedade. Talvez aquele fariseu fosse sem, mas não deixava de falar e fazer o
sincero, ao defender rigidamente tabus que era preciso.
religiosos que aprendera desde criança.
Neste texto, Mateus mencionou uma
Era escravo dos seus preconceitos. Quais
profecia de Isaías referente ao Messias
são os nossos preconceitos?
(vs.18-21). Ele cumpriria Sua missão sem
Jesus mostrou que Ele sabia quem era estardalhaço (v.19), protegendo os fracos
a mulher e que aceitava a sua homena- (v.20) e não fazendo acepção de pessoas
gem. Em vez de olhar simplesmente a (v.21).
reputação dela, Seu olhar viu um coração
Depois da menção a esta profecia (Is.
cheio de humildade e uma vida que po-
42.1-4), Mateus fala da expulsão de um
dia ser resgatada.
demônio que causou admiração a toda
A seguir, Jesus ensinou a Simão sobre a multidão. Para os incrédulos, que não
o amor e o perdão (vs. 40-47). Pensa- desejam crer, os sinais não adiantam,
mos nós que temos sido pouco ou muito pois, eles tratam de explicá-los de uma
perdoados pelo Senhor? A nossa noção maneira que satisfaça sua incredulidade.
estreita de pecado, simplesmente como Não são as obras espetaculares que farão
descumprimento de deveres e tabus, nascer em alguém a fé, mas a humildade
pode nos fazer pensar que somos pouco e a fome de justiça de um coração que
pecadores. Desconsideramos o nosso deseja a sabedoria de Deus.
egoísmo, o nosso orgulho e a nossa vai-
Jesus fala então de dois reinos: o de
dade, nossa falta de amor e compaixão
Satanás e o de Deus. Mateus é o Evan-
pelo próximo e tantas outras mazelas do
gelho que mais usa a expressão “reino dos
nosso caráter, deixando de perceber o
céus” e o que mais se refere a Jesus como
quão longe da vontade de Deus estamos.
Rei. O autor tem por objetivo convencer
Em consequência disso, somos menos
os judeus da messianidade de Jesus.
gratos pelo perdão divino, além de mais
orgulhosos e condenadores daqueles Reino dos céus e reino de Deus signi-
que, a nosso ver, tem mais pecados que ficam a mesma coisa. Mateus é o evan-
nós. E a nossa “santificação” passa a base- gelista que evita usar a expressão “rei-
ar-se simplesmente em cumprimento de no de Deus”, usando sempre “reino dos
rituais religiosos e deveres morais. céus”. Segundo os estudiosos, como ele
se dirige especialmente aos judeus, não
Novamente ali Jesus perdoou peca-
quer ferir a suscetibilidade deles usando
dos, causando admiração.
a palavra Deus. Estes evitavam usar tal
Aplicação a sua vida: Em quais situações vocábulo por ser sagrado demais. O que
significa reino de Deus ou reino dos céus?
você tem julgado as pessoas simplesmente
Estudiosos discutem sobre isto e alguns
pelo seu comportamento, desconsideran- pensam que é o governo de Deus sobre
do suas dificuldades e sofrimentos? nós, podendo ser visto em três tempos:
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 37
| JESUS SEMPRE SURPREENDE AS PESSOAS

a) o Reino já chegou, plenamente tra- tribuindo na solução das necessidades


zido por Jesus com Sua vida de absoluta físicas, emocionais e espirituais de tantos
submissão a Deus Pai e, especialmente, que sofrem. Podemos orar “Venha a nós
com Sua ressurreição que anuncia a vi- o teu reino e seja feita a tua vontade” se vi-
tória final do reino. Pertencem ao reino vemos vidas fúteis e egoístas, cuidando
aqueles que seguem a Cristo, o Rei, vi- apenas dos nossos interesses pessoais,
vendo de acordo com os valores desse sem nada fazer pelo estabelecimento da
reino e lutando pelo seu estabelecimen- vontade de Deus neste mundo?
to no mundo.
b) o Reino chega a cada vez que no- Aplicação a sua vida: Como a sua ma-
vas pessoas se submetem ao Senhorio de neira de viver tem mostrado seu desejo
Jesus como Rei em suas vidas. Também de que o Reino de Deus venha a nós?
quando valores como o amor, a justiça, a
solidariedade, a paz, etc, que são valores No capítulo seguinte de Mateus, ve-
do reino de Deus, penetram onde antes mos Jesus investindo Seus discípulos de
havia os valores contrários. autoridade para executar a Sua obra. A
c) o Reino chegará em plenitude, mensagem aí é não apenas orar, mas ir.
quando não houver mais a presença do Oração e trabalho andam juntos!
pecado, mas o domínio do Rei Jesus for O segundo texto (Mc.6.1-6) mostra
completo. Jesus ensinando na sinagoga em Nazaré,
Como súditos do Reino de Deus não a Sua cidade. Vendo a Sua sabedoria e o
podemos nos conformar, vendo preva- Seu poder, as pessoas se escandalizavam
lecer em nosso mundo o que é contrário por ser Ele filho de uma família simples
aos valores divinos. Devemos lutar pela e conhecida. A incredulidade criou obs-
disseminação nos corações humanos de táculos às obras de Jesus naquela cidade.
tudo que faz parte do coração do nos- Teremos nós os mesmos preconcei-
so Rei: amor, justiça, paz, enfim, todo tos, desvalorizando pessoas perto de nós,
o desejo de Deus. Seja qual for a nossa através de quem Deus quer promover
atividade diária ou profissão, que traba- nosso crescimento?
lhemos dentro dos princípios do reino de
Deus e para o benefício das pessoas que
Conclusão
Ele ama.
As obras de Jesus abençoavam mui-
3. Um pedido de oração - Leia Mateus tas pessoas, enquanto produziam rancor
9.35-38 e Marcos 6.1-6 e ódio em muitas outras. Os sofredores
e os humildes que desejavam a verda-
Após relatar vários fatos do ministé- deira sabedoria, queriam estar perto
rio de Jesus, Mateus fala que Ele, vendo d’Ele. Os que se sentiam prejudicados
tantas necessidades, faz a Seus discípulos em seus interesses mesquinhos, queriam
um pedido de oração que é para nós ain- acabar com Sua vida.
da hoje (v.38).
Creio que um bom teste para saber-
Recebemos pedidos de oração das mos se, como igreja, temos um minis-
pessoas, mas recebê-lo de Jesus é uma tério semelhante ao de Jesus é este: a
grande responsabilidade, não acha? Ore- quem estamos agradando ou desagra-
mos para que muitos se levantem, con- dando?

38 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 10

Leituras Diárias
A ÉTICA DO REINO Segunda
Terça
Mateus 5.1-12
Romanos 8.1-8
DE DEUS (i) Quarta
Quinta
Romanos 12.9-21
Gálatas 5.16-23
(Sermão do Monte: 1ª Parte) Sexta Efésios 4.1-7
Mateus 5. 1 - 16 Sábado Mateus 5.13-16

Introdução O Sermão do Monte não se constitui


de um código de regras exteriores, mas
O Sermão do Monte, que está em de princípios e valores do reino de Deus.
Mateus 5-7, conhecido como a ética do Em quatro estudos (10 a 13), serão con-
reino de Deus, possui vários trechos do siderados os princípios gerais do Sermão
seu conteúdo, dispersos em vários con- do Monte, não se estudando particular-
textos da narrativa de Lucas. É um ser- mente cada ensinamento, já que, o que
mão magistral que torna os súditos deste se pretende nesta série de estudos, é
reino humildes, pela consciência de sua uma visão panorâmica da vida e minis-
incapacidade de cumpri-lo em suas vi- tério de Jesus com Seus grandes ensinos.
das, sem a graça proveniente do exem- Neste estudo veremos, em duas partes, o
plo de vida do seu Rei, e o poder do Seu texto de Mateus 5.1-16.
Santo Espírito, já habitando naqueles O 1. Os bem-aventurados
seguem. Leia Mateus 5.1-12
O destaque que Mateus dá ao fato de Este trecho do sermão é conhecido
que o sermão foi feito no monte, pode como “As bem-aventuranças”, que tem o
ter sido motivado pelo desejo de com- sentido de “felicidade”. Cada uma come-
parar Jesus com Moisés, que trouxe a lei ça com a expressão “Bem-aventurados...”,
do monte Sinai. É bom lembrar que, se- que tem o significado de “felizes...” Todas
gundo muitos estudiosos, Mateus dirigiu as bem-aventuranças apresentam os
seu Evangelho de modo especial aos ju- valores que podem tornar alguém feliz.
deus. Jesus, no entanto, “tanto maior que Jesus relaciona aí qualidades de caráter
Moisés, quanto maior que a casa é aquele que Ele deseja ver na vida de todos que O
que a edificou”, como diz o escritor aos seguem, para que possam servir de sal e
Hebreus (3.3), dá uma nova ética aos que luz neste mundo. São virtudes interiores,
pertencem ao Seu reino, isto é, aqueles isto é, que caracterizam o ser e não sim-
que vivem sob a Sua autoridade. plesmente o fazer.
REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 39
|| 39
| A ÉTICA DO REINO DE DEUS (i)

Ser humilde de espírito, sensível, estilo de vida e das propagandas que


manso, sedento de justiça, misericordio- presenciamos, os que parecem felizes no
so, limpo de coração, pacificador, capaz mundo são os orgulhosos, vaidosos, in-
de sofrer perseguição e continuar culti- sensíveis, os que revidam o mal que rece-
vando estas virtudes, é o que Jesus dese- bem, os que não se importam com a jus-
ja de Seus discípulos. tiça, os que não têm misericórdia, os que
não têm o coração limpo e nem buscam
Veja de forma bem sucinta o significa-
a paz. Estes nunca serão perseguidos
do de cada bem-aventurança encontrada
por viverem os valores anunciados por
neste texto:
Jesus Cristo, pois se ajustam aos valores
- Os humildes de espírito - Não são do meio em que vivem.
presunçosos, pois, se julgam extrema-
E então? Teria Jesus razão? Podem ser
mente pobres e necessitados da graça
felizes as pessoas que desejam as virtu-
de Deus. Não se julgam sábios, estando
des pregadas por Ele? Depende do que
sempre dispostos a reconhecer os seus
se entende por felicidade. Se por felici-
erros, a aprender.
dade, entende-se prazer momentâneo,
- Os que choram - São sensíveis ao superficial e barato, talvez não se possa
sofrimento de outros, à sua própria ini- realmente chamar de felizes os que prati-
quidade e ao mal e sofrimento encontra- cam tais virtudes. Mas, se por felicidade
dos no mundo. entende-se a satisfação do desejo huma-
no mais profundo, que é parecer-se com
- Os mansos - Não respondem à vio- o Pai, isto é, se por felicidade entende-se
lência com violência. Estão dispostos a uma alegria profunda, espiritual, dura-
não revidar, sabendo que a vingança não doura, que nada nem ninguém pode-
é caminho para o bem. rá tirar, então, a resposta é SIM. Só tais
- Os que tem fome e sede de justiça pessoas conseguirão ser realmente fe-
- Desejam ardentemente a justiça em sua lizes, pois, estão começando a ser aqui
própria vida, na sociedade e no mundo. aquilo para o qual foram criadas. Estão
cumprindo o propósito de suas vidas. E
- Os misericordiosos - Sentem uma um dia, fora deste mundo mau e injusto,
compaixão que os impulsiona a agir em terão com fartura tudo pelo qual as suas
favor do próximo. almas mais anseiam.
- Os limpos de coração - Reconhe- As virtudes encontradas nas bem-
cem e confessam suas falhas, não culti- aventuranças não podem ser vistas de
vando sentimentos negativos ou dúbios forma legalista, pois, não são leis a serem
em seu coração... obedecidas, mas alvos a serem desejados
- Os pacificadores - Estando em paz com sinceridade de coração. Jesus des-
com Deus, procuram promover a paz taca aí não o fazer, mas o ser. Embora as
onde estiverem. nossas ações sejam muito importantes,
até mesmo para construir o nosso ser, o
- Os que são perseguidos por causa desejo de Jesus é que o nosso fazer se
da justiça - Não se curvam diante dos va- torne, cada vez mais, resultante da nossa
lores injustos da sociedade. Por viverem forma de ser.
uma vida que se contrapõe à injustiça,
são perseguidos e sofrem. Podemos praticar atos de misericór-
dia sendo até cruéis, mas não é isto o que
Não é verdade que no mundo em Deus quer. O que Ele deseja é que a aqui-
que vivemos, tudo parece anunciar que sição dessas virtudes seja o nosso mais
as pessoas felizes são justamente as que caro alvo. Tal alvo só poderá ir sendo al-
vivem valores contrários aos que estão cançado mediante o domínio do Espírito
sendo ensinados por Jesus? Através do Santo nas nossas vidas.

40 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
A ÉTICA DO REINO DE DEUS (i) |

Aplicação a sua vida: Você deseja as vir- O v.16 diz que não basta proceder
tudes anunciadas aí por Jesus? Se a sua bem. É preciso ter motivação correta: a
glória do Pai. Não podemos fazer o bem
resposta é sim, quais atitudes você deverá
com atitude de orgulho e vaidade, pois,
tomar para que isto aconteça?
tal modo de agir nos afasta de Deus e das
pessoas. Lembremo-nos: “Bem-aventu-
O Evangelho verdadeiro sempre fará rados os humildes de espírito.” Só a Deus, a
com que nossos pontos de vista se apro- honra e a glória!
ximem dos pontos de vista de Deus. Es-
tejamos atentos, no entanto, pois os valo- Só com a atuação do Espírito Santo
res não cristãos em nossa cultura entram em nós, podemos caminhar cada dia na
tão sorrateiramente em nós, contami- direção de ser as pessoas sonhadas por
nando-nos, que podem se tornar o estilo Jesus, sendo “sal e luz” nesta sociedade
de vida que vivemos e transmitimos, sem que está tão perdida. Como sal, que evi-
que percebamos a sua contradição com temos a sua deterioração e que lhe de-
o evangelho. mos um melhor sabor. Como luz, que lhe
facilitemos a visão do caminho a seguir.
2. Sendo sal e luz - Leia Mateus 5.13-16 Tudo isto com muita humildade e depen-
dência do Espírito Santo. Que propósito
Veja que belas figuras Jesus usa para
comparar Seus discípulos. Estes são os sublime e desafiador!
que levam a sério ser as pessoas que o
seu Mestre quer neste mundo, de acordo
com os ensinos dos versículos anteriores. Conclusão
Pense nas funções do sal e da luz... Quem não cultiva em seu coração
o desejo de ser o que Jesus ensina nas
As funções do sal têm sido principal- bem-aventuranças, não pode se procla-
mente conservar e dar sabor. Não deixar mar seguidor de Cristo. É difícil? Sim!
que os alimentos entrassem em estado Mas quem disse que o cristão é chamado
de putrefação foi uma importante função
para o que é fácil? A vida cristã é desafia-
do sal quando não se possuía geladeira.
dora. Este é o ideal de Deus para nós e
E dar sabor aos alimentos é algo pelo
qual muito valorizamos o sal. por isso deve ser também o nosso ideal.

A função da luz é clarear, mostrar a Na medida em que nos reconhecer-


realidade. Estando na luz, a pessoa per- mos falhos em alcançar tais virtudes, a
cebe onde está, como está, para onde humildade deve nos cobrir e devemos
deve ir, etc. Se há algo errado, a luz ajuda reconhecer no Senhor a perfeição abso-
a encontrar a solução. luta. O que Ele quer de nós é o desejo
profundo de nos assemelharmos a Ele,
dependendo do Seu Santo Espírito.
Aplicação a sua vida: Como você poderá A cada vez que falharmos, teremos a gra-
ser sal, dando sabor ao ambiente em que ça perdoadora de Deus e a força estimu-
vive? Como ser luz para facilitar às pessoas ladora do Espírito Santo para que conti-
encontrar a direção correta? nuemos.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 41
ESTUDO 11

Leituras Diárias
Segunda Mateus 5.17-26

A ÉTICA DO REINO Terça


Quarta
Mateus 5.27-37
Mateus 5.38-48

DE DEUS (ii) Quinta


Sexta
Mateus 6.1-18
Romanos 13.8-14
Sábado Romanos 11.33 – 12.2
(Sermão do Monte - 2ª Parte)
Mateus 5.17 a 6.18
perioridade entre Seu ensino e a lei mo-
Introdução saica, conforme as interpretações literais
Desejaria Jesus frustrar as pessoas e legalistas dos escribas e fariseus; na ter-
com as demandas do texto acima? Não! ceira, Jesus faz ver que o que importa na
Jesus vivia rodeado por pessoas que obe- vida espiritual não é a aparência, mas a
deciam rigidamente a leis e normas reli- atitude do coração.
giosas, se sentiam orgulhosas e, por isso, 1. O Deus da justiça
desprezavam os que não as cumpriam. Leia Mateus 5.17-20
Jesus queria que as pessoas, ao per- Jesus diz aqui que a verdadeira jus-
ceberem as demandas de Deus, se tor- tiça vai muito além do cumprimento frio
nassem humildes, sabendo que satisfa- das leis. Estas estavam sendo cumpridas,
zê-Lo não era fácil. Que não podiam jul- em seu verdadeiro espírito, através de
gar outros simplesmente pelo fazer, pois, Sua vida. Ele chama à responsabilidade
as demandas divinas vão muito além dis- aqueles que, além de violar a lei, ensinam
so. Só numa relação estreita com Deus, isto a outros, bem como elogia os que fa-
pode alguém buscar ser a pessoa segun- zem o contrário.
do o Seu ideal. “A ética do “Sermão do
Monte”, como disse C. H. Dodd, é a ética Jesus não combate a lei. O que Ele
absoluta do reino de Deus”.1 combate aí é a interpretação da lei que
destaca o fazer e não o ser, o que moti-
Este estudo está dividido em três va os seus praticantes a ficarem cheios
partes: na primeira, Jesus apresenta Sua de orgulho e presunção e a julgarem os
posição de defensor e não de destruidor demais como inferiores e dignos de des-
da lei; na segunda, Jesus apresenta a su- prezo.
42 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( ii ) |

No versículo 20 Jesus diz que a justi- com algo menor que a perfeição? Ele
ça de quem O segue deve superar à dos espera que n’Ele busquemos a perfeição,
escribas e fariseus. Isto tanto podia se desejando-a para as nossas vidas. E Ele
referir à conduta que Deus deseja, como nos ajudará em nossas fragilidades na
à noção de justiça que o Seu seguidor de- busca de tão grandioso alvo!
veria ter. Não vamos discutir no âmbito des-
Como seguidores de Jesus, tanto o te estudo o conteúdo de cada uma das
nosso proceder como a nossa noção de orientações dadas, pois, o que visamos
justiça, devem ir além de preceitos legais, aqui é um estudo mais panorâmico e
buscando o nosso modelo no caráter de cada orientação destas exigiria um estu-
Deus espelhado em Jesus. do especial.
Nosso desejo é mostrar que a religião
2. Além do cumprimento de leis - Leia de Jesus não é uma religião de aparência,
Mateus 5.21-48 mas, de conteúdo interior. A característi-
ca interna é que deve se refletir nos atos
Neste texto fica claro que Jesus não externos. SER é mais que simplesmente
está desvalorizando a lei, mas indo muito FAZER.
além dela. Ele apresenta a superioridade
entre o ideal de Deus e o cumprimento Alguém poderia perguntar: “Por que
frio e formal da lei. Jesus colocou alvos tão difíceis de se al-
cançar? ”
a) Não apenas não matar, mas estar
bem com o próximo, amando-o e consi- Como os religiosos do tempo de Jesus
derando-o (vs.21-26). que cumpriam os preceitos da lei ficavam
presunçosos e cheios de justiça própria,
b) Não apenas não praticar o ato de isto pode acontecer conosco também.
adultério, mas ter um coração puro (vs. Estabelecendo alvos tão grandiosos, Je-
27-28). sus nos “puxa o tapete”, fazendo-nos cair
c) Não apenas legalizar a situação ao em Seus braços, inteiramente dependen-
separar-se da mulher, mas não separar- tes de Sua graça. Só ela nos perdoa e nos
ajuda a viver dentro dos Seus padrões.
se dela por razões pequenas e egoístas
(vs.31-32). O padrão de Jesus é muito alto e sem-
pre estaremos em débito com Ele. Isto
d) Não apenas cumprir os juramentos,
deve nos tornar humildes, não julgadores
mas ter uma palavra tão séria e respeita-
de outros, além de mais dependentes do
da que não seja preciso jurar (vs. 33-37).
Espírito- Santo. Desejar parecer-se mais
e) Não apenas não se vingar, mas agir com o seu Mestre é a suprema ambição
com paz e misericórdia, dando sempre do verdadeiro discípulo. Parecer-se com
mais do que é exigido (vs. 38-42). Jesus não é fácil. Mas se esta for realmen-
te a nossa ambição, Deus nos ajudará a
f ) Não apenas amar o próximo, mas
caminhar nessa direção, pois, este é tam-
amar o inimigo (vs. 43-47).
bém o Seu querer.
Depois de proclamar a diferença en-
tre a antiga e a nova aliança, Jesus diz
que nosso modelo é Deus, a quem deve- Aplicação a sua vida: Como você demons-
mos imitar (vs. 45-48). É fácil? Não!!! Mas tra que, mais do que cumprir deveres, você
um Deus perfeito poderia se contentar quer SER a pessoa que Deus deseja?

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 43
| A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( ii )

3. As motivações que agradam a Deus Tal oração tem ensinamentos muito pre-
- Leia Mateus 6.1-18 ciosos. Que os primeiros pedidos devem
Jesus diz que Seus discípulos não expressar o desejo profundo de que o
deveriam nunca fazer algo para serem nome de Deus seja por todos considera-
vistos pelos homens. Ele ensina que prá- do santo, que o Seu governo (reino) justo
ticas religiosas com finalidade exibicio- e santo possa atingir esta terra e que nela
nista não tem qualquer valor diante de a vontade d’Ele seja feita. O discípulo
Deus. A verdadeira santidade é interior, cuja oração sincera é esta terá sua vida
podendo se revelar exteriormente, é cla- gasta na conquista desses desafios. De-
ro, mas sem qualquer intenção de rece- pois destes, o pedido é pela provisão das
ber admiração e louvor. necessidades físicas e espirituais, saben-
do-se que Deus é o grande provedor de
Dentro deste texto estão as esmolas, todas as carências.
o jejum e a oração, que eram importan-
tes expressões da piedade judaica e que, O jejum (vs.16-18) - Era uma prática
conforme eram praticadas, poderiam da religião judaica também feita muitas
provocar da parte de muitos a observa- vezes com espírito de orgulho e exibição,
ção: “Como ele é religioso!”; “Como ele é e Jesus orienta aí a alguém que deseje je-
santo!” E muitos praticavam tais ações juar, como fazê-lo.
para serem admirados. Tal motivação
para agir, conforme o ensinamento de
Aplicação a sua vida: Quais atitudes suas
Jesus, não deveria nunca ser a atitude de
alguém que O segue. Por isso, Ele manda podem contribuir para que o nome de
fazer tudo de uma forma secreta (v.1). Deus seja santificado, para que o Seu reino
possa imperar nos corações e a Sua vonta-
As esmolas (vs.2-4) - A ajuda material de seja feita na terra?
ou qualquer outra ajuda a alguém por
parte de um cristão não deveria ser re-
sultante simplesmente de sentimentalis-
Conclusão
mo, mas consequência de atitudes como
compaixão, responsabilidade, justiça e O Evangelho tem a ver com aquilo
consideração. Nunca poderemos nos jul- que somos. Nosso viver deve ir além do
gar superiores por estarmos em condição que a lei preconiza e a nossa motivação
de ajudar alguém, pois, tudo que temos ao cumprir os preceitos da lei, nunca de-
é fruto da graça de Deus. Além disso, verá ser apresentar-nos diante de outros.
muitas vezes, as diferenças entre as pes-
soas que podem ajudar e as pessoas que Jesus, no entanto, quer a nossa prática
precisam de ajuda, são consequência da de boas ações e admite que elas possam
injustiça do nosso mundo de pecado. E ser vistas por outros. Você viu isto em tex-
não deveríamos então, se temos condi- tos do próprio Sermão do Monte, como
ções favoráveis, ajudar os desfavoreci- Mateus 5.16. Ele deseja, no entanto, que
dos? em tudo que façamos, a motivação seja
honrar o nosso Pai.
As nossas boas ações podem também
contribuir para a construção do nosso ca- Na dependência da graça de Deus,
ráter e isto agrada ao Senhor. Com espíri- cresçamos na direção de ser as pessoas
to exibicionista, no entanto, elas não nos que Ele deseja.
ajudarão nisto.
A oração (vs.5-15) - Jesus ensina aí a ________
oração que se conhece como “Pai Nosso”. (1)
Tasker. Mateus, Introdução e Comentário, p. 48

44 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 12

Leituras Diárias
Segunda Mateus 6.19-24
A ÉTICA DO REINO Terça
Quarta
Mateus 6.25-34
Romanos 15.1-7
DE DEUS (iii) Quinta
Sexta
I Timóteo 6.11-12, 17-21
I Tessalonicenses 5.15-23
(Sermão do Monte - 3ª Parte) Sábado Hebreus 12.1-4
Mateus 6. 19 – 34
tâncias, dando-nos orientações que nos
ajudarão na vida prática.
Introdução
Nos dois estudos anteriores, vimos 1. Os verdadeiros valores
como Jesus estimula o desejo de se ter Leia Mateus 6. 19-24
um caráter semelhante ao de Deus e que
Nos versículos 19 a 21 Jesus compara
se valorize não a aparência, mas o cres-
as riquezas materiais e as espirituais, sen-
cimento em direção ao alvo de se pare-
do que as primeiras são transitórias (as
cer com Aquele que foi a encarnação de
da terra), não podendo ser levadas para
Deus no mundo.
além desta vida. As últimas, no entanto,
Jesus muda a ordem de valores des- são aquelas que poderão ser usufruídas
te mundo pecador. Neste estudo, serão em toda a vida futura, pois, fazem parte
apresentados textos em que Ele fala do de nós, sendo valores internos e dura-
valor das riquezas e de como devem ser douros.
elas consideradas por aqueles que per-
As nossas virtudes de caráter, o nosso
tencem ao Reino de Deus. Ele nos adver-
agir como fruto do domínio do Espírito
te sobre as verdadeiras e as falsas rique-
Santo em nós, as pessoas que ganhamos
zas e sobre o que deve ocupar o centro
como novos súditos do reino de Deus,
das nossas vidas.
todos estes são valores eternos. Mas o
Nos dois estudos anteriores, vimos dinheiro e a aparência são coisas que fi-
sobretudo como um seguidor de Jesus carão aqui. Por isso, Ele nos recomenda
deve ser. Neste, Jesus fala-nos como ajuntar tesouros no céu e ter aí o nosso
devemos agir em determinadas circuns- coração.

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 45
|| 45
| A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( iii )

Uma vez ouvi sobre isto, uma ilustra- Este texto termina com a advertência
ção que achei muito interessante. O con- de que não podemos servir a dois senho-
ferencista, um líder indiano que trabalha- res (v.24). Se servimos a Jesus, não pode-
va na Visão Mundial, disse que, se no livro mos servir a Mamon (as riquezas). Natu-
de Apocalipse lemos que as ruas no céu ralmente, neste mundo, temos coisas que
são de ouro, a mensagem que devería- prezamos: dons, capacidade, influência,
mos receber é que lá o ouro não valerá amigos, familiares e mesmo bens mate-
nada, sendo pisado por nós. O que deve- riais. Mas, todas estas coisas devem estar
mos, disse o conferencista, não é levar os sob o senhorio de Jesus, sendo usadas
valores daqui para lá, dizendo: “Que bom! para o nosso bem e colocadas a serviço
Lá teremos ruas de ouro!” Em vez disso, das pessoas que Ele ama. Do contrário, se
deveríamos trazer os valores de lá para tornarão ídolos para nós, empobrecen-
cá pensando: “Se o ouro de nada valerá do-nos dos valores permanentes.
na vida futura, por que valorizá-lo tanto
aqui?”
Aplicação a sua vida: O que você mais am-
O que Jesus destaca é que devemos biciona para a sua vida? Este é o valor que
priorizar o que tem valor permanente. domina o seu coração!
Isto não significa sermos indolentes, não
nos preocupando com o progresso nos-
so e dos que estão sob nossa responsa- 2. Vivendo com sabedoria
bilidade. A questão é onde colocamos o Leia Mateus 6.25-34
nosso coração, a nossa paixão, o primeiro Neste texto, Jesus fala sobre os cui-
lugar em nossas vidas. Jesus teve segui- dados e inquietações provenientes da
dores ricos. Ele não pediu a Zaqueu que ansiedade pelos bens materiais: “Não
deixasse os seus bens. Quando Jesus andeis inquietos... A vida e o corpo valem
disse a Zaqueu “Hoje a salvação chegou mais do que o alimento e o vestido. Olhai
a esta casa”, Ele mostrava que a salvação os lírios que não trabalham, nem fiam e
já estava operando na vida de Zaqueu, são vestidos de forma tão esplendorosa...
mudando o valor que ele dava às rique- Os pássaros não trabalham e Deus os ali-
zas. Ele, que parecia querer tanto ficar menta”.
rico, agora queria distribuir seus bens.
Se você ainda não leu ou não se lembra Será que Jesus está condenando aí o
do encontro de Zaqueu com Jesus, leia trabalho, a produção, o cuidado com o
Lucas 19.1-10. futuro? Claro que não! A Bíblia deve ser
vista no seu todo e não através de textos
A salvação de Jesus em nós muda os isolados. Há nela condenação à preguiça
nossos pontos de vista, a respeito de nós e à imprudência. O que Jesus recomenda
mesmos e a respeito do mundo que nos aqui é que não deixemos que a ansieda-
cerca. E isto nos leva ao próximo texto. de e a inquietação tomem o nosso tempo
- Vs. 22-23 - Se os nossos olhos espi- e roubem as nossas energias, a ponto de
rituais forem bons, dar-nos-ão um ponto prejudicar a nossa vida espiritual, os nos-
de vista correto a respeito das coisas e sos relacionamentos, a nossa saúde e até
assim todo o nosso ser terá luz. Quem va- o nosso trabalho.
loriza mais a aparência do que a essência, Trabalhar sim! Prover nossas necessi-
está tendo um ponto de vista que contra- dades, é claro que precisamos! Devemos
ria o Evangelho. Está em trevas! ser responsáveis. Deus nos deu talentos

46 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( iii ) |

e inteligência, para que os empreguemos A ansiedade, além de ser inútil, de-


providenciando o bem-estar nosso e da- monstra incredulidade. O que compete
queles que estão sob os nossos cuidados. ao cristão é ser trabalhador e prudente
Que não nos descuidemos disso. no dia de hoje, sabendo, contudo, que
as inquietações só poderão lhe roubar a
O que Ele nos adverte, no entanto, é
paz, sem acrescentar qualquer coisa à sua
que não devemos gastar o nosso tempo vida.
e as nossas emoções, inquietando-nos
por coisas que muitas vezes não estão
sob o nosso controle, ou que acontece- Aplicação a sua vida: Há tendência à an-
rão a seu tempo, independentemente de siedade em você? Isto pode até fazer parte
nós. Muitas vezes, as preocupações além do seu estilo de personalidade, mas não
da medida certa, não apenas não nos é o que Deus quer. Ele deseja o seu bem
ajudam a conquistar nossos alvos, mas e isto prejudica você. É possível trabalhar
também nos impedem de enxergar os por uma mudança em seus pontos de vista
caminhos e as oportunidades que Deus e em seu modo de agir? Como?
coloca à nossa frente.
A ansiedade só é útil em certa medi- Conclusão
da, ao nos impulsionar a agir positiva-
Devemos trabalhar, fazendo tudo que
mente. A ansiedade, da qual fala o texto,
estiver ao nosso alcance, dentro dos prin-
é aquela que prejudica as nossas ações.
cípios do reino de Deus, para termos um
Que nos desorganiza e tolhe nossos mo-
viver digno neste mundo. As inquieta-
vimentos.
ções pelo futuro, no entanto, não devem
Jesus diz, então, que seus discípulos roubar-nos a paz, dificultando as nossas
devem buscar em primeiro lugar o reino ações.
de Deus e a Sua justiça (v.33). Buscar o rei-
no de Deus significa buscar o domínio de Se dermos prioridade ao reino de
Deus na nossa vida, tendo como objetivo Deus e à Sua justiça em nossas vidas, as
viver os valores do reino de Deus procla- riquezas espirituais valerão mais para
mados neste sermão, especialmente nas nós que os bens materiais. Tal priorida-
bem-aventuranças, bem como lutar pelo de já será capaz de diminuir a nossa an-
estabelecimento deles neste mundo. siedade, tornando-nos mais felizes e en-
tregues à vontade de Deus. Além disso,
Este texto termina com a recomenda- reconheceremos que tudo o que temos e
ção do seu início: “Não andeis inquietos” somos deve ser usado, não de forma ego-
(v.34). O que Jesus deseja é que o ama- ísta, mas de uma maneira que beneficie o
nhã não seja a causa de nossas preocu- reino de Deus e glorifique aquele que é o
pações hoje. Devemos sim, ser pruden- Rei da nossa vida.
tes com o amanhã, fazendo hoje o que é
possível e necessário para viver bem os Que os tesouros mais importantes
dias futuros. Não podemos, no entanto, para nós sejam aqueles que estão onde
viver ansiosos com o que só poderemos nem a traça, nem a ferrugem consomem,
resolver amanhã. Isto nos tornará inca- e onde os ladrões não conseguem rou-
pazes para as lutas de hoje. bar.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 47
Estudo 13

Leituras Diárias
Segunda Mateus 7.1-6
Terça Mateus 7.7-23
ALICERCES FIRMES, Quarta
Quinta
Mateus 7.24-29
I Pedro 2.1-9
É O SEGREDO Sexta
Sábado
I Coríntios 3.10-15
I Coríntios 13.16-20
(Sermão do Monte - 4ª Parte)
Mateus 7.1-29 1. O julgamento - Leia Mateus 7.1-6
Neste texto, Jesus discorre sobre o jul-
gamento. Diante do que foi visto do Ser-
Introdução
mão do Monte nos estudos anteriores,
Neste estudo você refletirá sobre a isto é, de como as virtudes espirituais e
última parte do Sermão do Monte. Em internas foram destacadas, quem poderá
Mateus, lemos sobre os vários assuntos se sentir capaz de julgar? Não estamos,
sobre os quais Jesus falou: julgamento, todos nós, em débito com o nosso Pai?
práticas religiosas, falsos profetas e, no Diante da demanda de Jesus de que Seus
final, como um encerramento do sermão, discípulos sejam humildes, mansos, sen-
a advertência sobre a importância de não síveis, misericordiosos, pacificadores, etc,
como julgar aqueles que se encontram à
construirmos a nossa vida sobre valores
nossa volta?
falsos e transitórios.
Devemos, no entanto, fazer distinção
Esta construção da nossa vida sobre
entre julgar atos e julgar pessoas. É bas-
valores verdadeiros e permanentes, vai tante diferente uma coisa da outra.
nos dar base, inclusive, para reconhecer a
falsidade daquilo com que muitas vezes Julgar um ato é considerar o ato pra-
somos confrontados em nosso mundo, ticado por alguém como mau ou bom,
que tenta solapar a nossa edificação. tendo por base padrões morais absolu-
tos. Não apenas podemos, mas muitas
Vejamos os assuntos finais do Sermão vezes precisamos fazer tais julgamentos.
do Monte: Não fazê-lo, nos qualificaria como seres

48
48 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
ALICERCES FIRMES, É O SEGREDO |

amorais. A própria Bíblia nos estimula a rio de tudo que foi dito anteriormente
discernir, a avaliar, a julgar... neste capítulo e em todo o sermão. Ele é
chamado de regra-áurea para os relacio-
Julgar uma pessoa, no entanto, é di-
namentos.
zer o quanto ela é má em si mesma, im-
petrando sobre ela uma condenação que - Vs. 13-14 - mostram que, se você
só Deus, como justo juiz, poderá impe- cumprir o que está no versículo 12 e em
trar. Ao julgarmos alguém, nós a compa- todo o ensino destes capítulos, você es-
ramos conosco, não vendo muitas vezes tará trilhando o caminho estreito, pois, o
maldades maiores que carregamos no caminho largo é o daqueles que não se
coração. Mesmo quando julgamos atos importam com o cumprimento da vonta-
hediondos, devemos pensar que só Deus de de Deus em sua vida.
conhece a história de alguém, sua carga
- Vs. 15-23 - Jesus recomenda aí que
genética, suas doenças, seus medos, seus
seus discípulos tomem cuidado com os
traumas, podendo julgar com absoluta
falsos profetas. O caminho estreito não
justiça e equidade.
é apenas difícil de ser trilhado, mas, mui-
Não há aqui, todavia, qualquer defesa tas vezes, achá-lo se torna mais difícil,
de impunidade. Cada pessoa, em princí- por causa da existência de falsos profetas
pio, deve ser responsabilizada pelos seus que anunciam o falso como verdadeiro.
atos. Do que se fala aqui é do julgamen-
to em última instância, quando condena- Observemos alguns ensinos deste
mos as pessoas, seguindo nossas avalia- texto sobre os falsos profetas:
ções pessoais e nossas emoções diante - Os falsos profetas não podem ser
dos fatos. E quando pensamos que, se conhecidos pela aparência (v.15).
nós agimos melhor que tais pessoas, é
simplesmente por nossos próprios méri- - Nos versículos 16-20 temos a reco-
tos pessoais. mendação de julgar para saber se os pro-
fetas são falsos ou não. Será que esta re-
No versículo 6 Jesus faz outra re- comendação não contradiz o que lemos
comendação: a de que se tenha o bom em 7.1? Não! O que devemos julgar não
senso de não apresentar as verdades pre- é a pessoa, mas se o que ela faz e diz con-
ciosas de Jesus Cristo a pessoas que as traria a vontade de Deus. Para isso, to-
ridicularizam e desprezam. davia, é preciso conhecer a Deus e a Sua
Palavra. Só sabemos o que é falso, com-
Aplicação a sua vida: É possível a você jul- parando com o legítimo. O que nos faz
gar as pessoas com justiça? Por quê? conhecer o legítimo é o estudo, a oração
e a reflexão, tendo por base a Palavra e o
caráter de Deus, sempre na dependência
2. Recomendações especiais do Espírito Santo.
Leia Mateus 7. 7-23 Os versículos 21-23 mostram que os
- Vs. 7-12 - Jesus ressalta a necessida- profetas do Senhor não serão identifi-
de de persistência na oração, fazendo- cados por discursos inflamados ou mila-
nos ver que Deus sempre quer dar o me- gres, mas por sua vida e ensino em con-
lhor a Seus filhos (vs.7-11). No versículo sonância com a vontade de Deus. Vida
12 encontramos o que parece um sumá- íntegra, coração humilde e amoroso, sim-

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 49
| ALICERCES FIRMES, É O SEGREDO

plicidade no viver são alguns dos sinais. muitas vezes, ensinavam de uma forma
Não foi assim a vida de Jesus? mecânica e legalista, pois, não tinham o
desejo intenso de ver a vontade de Deus
3. Edificando com segurança se cumprindo em sua própria vida e no
Leia Mateus 7.24-29 mundo em que viviam. Por isso, eles fa-
lavam com frieza e não como Jesus, que
Neste texto, Mateus fecha o ser-
estava disposto a oferecer a sua própria
mão proferido por Jesus com uma bela e
vida para ver cumprida toda a vontade
significativa ilustração. Temos dois tipos
do Pai.
de pessoas aqui: o homem sensato, isto é,
o prudente, o que tem juízo; e aquele que
é louco, imprudente ou sem juízo.
Conclusão
O homem prudente edifica sua casa
sobre alicerce firme, embora possa isto O Sermão do Monte não poderá nun-
lhe custar mais tempo e mais dinheiro. ca ser considerado de forma legalista,
O insensato se preocupa com o imedia- pois, segundo cremos, ele foi proferido,
to. O importante é a pressa em fazer ou a
dentre outras coisas:
aparência da edificação, e não sua firme-
za e resistência às intempéries. - para tornar-nos humildes, pelo re-
conhecimento da nossa incapacidade de
O resultado nós sabemos. Enquanto
cumprir tudo que aí está posto de forma
a casa do homem sensato resiste às in-
plena;
tempéries, a do homem imprudente não
suporta qualquer tormenta. - para tornar-nos conscientes da nos-
sa necessidade de dependência do Es-
pírito Santo de Deus, para alcançarmos
Aplicação a sua vida: Sobre quais alicerces estes ideais;
você está construindo sua vida, sua família, - para que não sejamos julgadores
seus valores? É preciso mudanças? Quais? dos nossos irmãos, sabendo que, com o
rigor com que julgarmos as falhas deles,
seremos julgados pelas nossas;
Jesus nos mostrou aí que nossa vida
tem de estar sobre alicerces firmes, isto - para que lancemos o nosso olhar e
é, sobre valores que permanecem como o nosso desejo para muito além da letra
fé, amor, desprendimento. Assim, ela não morta da lei, desejando ser o que Deus é.
ruirá diante das procelas que lhe sobre- Jesus nos apresenta no Sermão do
vierem. Monte princípios que, indo muito além
Nos últimos versículos deste texto, de códigos legais de comportamento,
vemos que as pessoas se admiravam ao atingem a interioridade do ser humano.
verem a autoridade de Jesus, pois, Ele Reconheçamos, humildemente, que não
não ensinava como os escribas. Os es- podemos ir por este caminho sozinhos.
cribas eram doutores da lei, que sabiam Andar sob o poder e a graça do Espírito
de cor muito da Palavra de Deus, mas, Santo é o segredo.

50 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 14

Leituras Diárias
Segunda Mateus 12.38-42
O VALOR E O CRESCIMENTO Terça
Quarta
Mateus 13.44-46
Mateus 13.31-33 e Mc.4.26-29
DO REINO DEPENDEM DE Quinta
Sexta
Mateus 3.1-2; 4.23-25 e 6.33
Lc.4.43; 17.20-21; Jo. 18.36-37
SINAIS? Sábado Romanos 12.9-16

Jesus continua o ministério rar as pessoas em dois grupos - o grupo


galileu - (1ª Parte) constituído das pessoas que já aceitaram
o governo divino em suas vidas e buscam
como prioridade lutar pelo estabeleci-
Introdução mento desse reino, e o grupo das pesso-
as que vivem alienadas do plano de Deus
As parábolas foram recursos muito para elas.
usados por Jesus em seus ensinos. Elas
atingiam as pessoas conforme as suas Onde a vontade de Deus prevalece, aí
condições, necessidades e desejo de está em exercício o reino de Deus.
apreender a mensagem. Através delas,
Jesus levava os ouvintes a elaborarem 1. Um sinal é pedido - Leia Mateus
suas próprias conclusões a respeito do 12.38-42
que Ele ensinava. Por outro lado, Ele Ao pedirem um sinal, estes homens
estava sempre disponível para dialogar pareciam querer um sinal diferente dos
com aqueles que quisessem aprender milagres que Jesus estava fazendo. Tal-
mais, refletindo sobre os Seus ensinos.
vez quisessem ver um sinal do céu, como
Neste e no próximo estudo, veremos é pedido no incidente similar em Mateus
algumas parábolas conhecidas como 16.1.
“parábolas do reino”. Já vimos anterior-
Jesus desejava que as Suas obras e os
mente que “reino de Deus” significa o
governo divino sobre as pessoas, as insti- Seus ensinos, por si só, falassem a eles da
tuições, a sociedade em geral. Estas pará- necessidade de uma vida de arrependi-
mento e fé, pois, nisto é que consiste o
bolas eram assim chamadas pelo fato de
reino de Deus.
apresentarem o reino de Deus: seu valor,
seu poder de crescimento, como partici- Arrependimento significa mudança
par dele e como o reino acaba por sepa- de modo de pensar, com o reconheci-
REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 51
|| 51
| O V A LO R E O C R E S C I M E N T O D O R E I N O D E P E N D E M D E S I N A I S ?

mento do pecado e o desejo profundo 2. O valor do Reino


de viver uma vida dentro do sublime pro- Leia Mateus 13.44-46
pósito de Deus. Aí temos duas pequenas parábolas
A fé desejada por Jesus significa crer que falam do grande valor do reino de
que a vontade de Deus é perfeita, o que Deus. Elas mostram homens que acha-
ram importantes tesouros.
leva à obediência a Ele sob o poder do
Espírito Santo. Na parábola do tesouro escondido
(v.44), o homem parecia não estar pro-
Ao falar de Jonas neste texto, Jesus curando, mas ao encontrar o grande te-
parece referir-se à Sua permanência no souro, reconheceu-o e trocou tudo que
túmulo e, após os três dias, à Sua ressur- tinha por ele. Parece ilustrar aqueles que,
reição. mesmo tendo sede de Deus, não O estão
procurando de forma muito consciente.
A seguir, Jesus falou dos ninivitas e, Quando o encontram, no entanto, reco-
depois da rainha de Sabá, como pessoas nhecem a preciosidade do que encontra-
que tinham saído da situação ou do lugar ram.
em que estavam por causa de alguém
Na parábola da pérola (vs.45-46), te-
muito menos importante do que Ele. A mos um homem que estava procurando
rainha de Sabá (I Reis 10) saiu do seu até achar uma pérola de grande preço.
reino e mudou o seu modo de pensar a Ao reconhecer o seu grande valor, ven-
respeito de Salomão; os ninivitas saíram deu tudo que tinha para adquiri-la. Esta
de uma acomodação ao pecado e se arre- parábola parece exemplificar aqueles
penderam com a pregação de Jonas (Jn. que estão procurando o grande tesouro,
3.4-5). E as pessoas com quem Jesus con- que é o reino de Deus e, ao achá-lo, o re-
vivia continuavam insensíveis ao Messias conhecem e o valorizam prontamente.
de Deus, muito maior do que Salomão ou Os dois homens (o do tesouro escon-
Jonas. dido e o da pérola), ao acharem riqueza
tão preciosa, souberam valorizá-la. Reco-
O que Jesus desejava era fazê-los en- nheceram-na como algo pelo qual abri-
xergar que eles não precisavam de sinais, riam mão de tudo que haviam possuído
além dos que lhes eram dados através de antes.
Sua vida e do Seu ensino.
Já vimos que o reino de Deus ou rei-
Quem precisa de fatos sensaciona- no dos Céus é a presença e o domínio do
listas para crer em Deus vai acabar não Senhor em nossas vidas. Trocaríamos a
crendo, ou adotando uma fé infantil e presença d’Ele em nós e o pertencimento
a Ele por qualquer outra coisa?
equivocada, que não é a fé que Deus de-
seja. Pode, por exemplo, ver Deus como Temos nós considerado o pertenci-
um grande fazedor de milagres, e não mento ao reino de Deus como algo de
como quem deseja de nós a fé que resul- extraordinário valor? Estamos nós dis-
ta em compromissos éticos e espirituais postos a sacrificar outros valores, pagan-
do o preço do discipulado, por considerá-
neste mundo.
lo um privilégio incomparável?
Aplicação a sua vida: Sua fé se baseia em
sinais exteriores ou na perfeição dos ensi- Aplicação a sua vida: Quais valores em
nos de Jesus, o que levará você a obedecer? sua vida você se dispõe a abandonar pelo
Como você demonstra isso em sua vida? reino de Deus?

52 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O V A LO R E O C R E S C I M E N T O D O R E I N O D E P E N D E M D E S I N A I S ? |

3. O crescimento do Reino vés do que somos, do que fazemos, do


Leia Mateus 13.31-33 e Marcos 4.26-29 que falamos.
Se as parábolas do tópico anterior
ilustram o grande valor do reino dos Céus, Aplicação a sua vida: Você crê no poder
as três parábolas destes dois textos ilus- da semente que se transforma numa gran-
tram o seu poder de crescimento e ex- de árvore? No poder do fermento que pe-
pansão.
netra a massa? Quais atitudes suas, mesmo
Estas parábolas mostram que o reino pequenas, podem fazer crescer o Reino de
de Deus, uma vez chegado, tem em si Deus em seu ambiente? “O reino de Deus é
mesmo o poder de crescer, de penetrar, justiça, paz e alegria no Espírito Santo. ” (Rm.
de se expandir. Este é o poder da Vida de 14.17b)
Deus!

A parábola do fermento (Mt.13.33)
mostra que os valores do reino de Deus Conclusão
penetram de forma invisível; as outras Se pertencemos ao reino de Deus, re-
(Mt.13.31-32 e Mc.4.26-29) falam de se- conheçamos o seu valor, conscientes de
mentes muito pequenas que, misterio- que podemos, com as nossas palavras e
samente, se transformam, tornando-se atitudes, penetrar o ambiente em que vi-
plantas ou árvores que fornecem alimen- vemos, purificando-o, melhorando-o.
to ou abrigo aos que precisam.
Jesus gostava de usar figuras de lin-
Assim é o reino de Deus. O amor de guagem: sal, luz, semente, fermento.
Deus pode permear a vida dos cristãos Tudo isto podemos significar na socieda-
e, através deles, penetrar de tal maneira
de em que vivemos.
a sociedade, que as suas leis e costumes
podem ser influenciados, atingindo até No início deste estudo, vimos que Je-
os que não são declaradamente cristãos. sus mostrou que o reino de Deus não deve
É a árvore que cresce e dá alimento e ser reconhecido por sinais miraculosos
abrigo. ou fatos sensacionais. Nestas parábolas,
A parábola que está em Marcos des- Ele ensina que Seu reino tem de ser reco-
taca os mistérios do nascimento, cresci- nhecido pelo seu poder silencioso, que o
mento e da frutificação que ultrapassam faz crescer como a semente que se trans-
em muito a ação, a capacidade e a com- forma numa árvore; que penetra como
preensão de quem semeia. “A semente o fermento. Os sinais mais espetacula-
brota e cresce sem que o semeador saiba res do reino são vidas misteriosamente
como” (v.27b). Jesus nos mostra aí que transformadas, que atuam para a trans-
não conseguimos penetrar o mistério formação do mundo em que vivem.
da conversão ou do crescimento do dis- Importa viver o Evangelho e não pra-
cípulo de Cristo. Nosso papel é semear ticar feitos que provoquem sensações,
e aguardar sem ansiedade, pois, é Deus pois, Jesus disse que, no julgamento,
quem opera a frutificação. muitos lhe dirão: “Em teu nome não fi-
A semente tem em si mesma o poder zemos muitos milagres?” e Ele lhes dirá:
de brotar e crescer. O seu germinar e “Nunca vos conheci; afastai-vos de mim,
desenvolver-se não é obra do semeador. vós que praticais o mal.” (Mt. 7. 22c - 23 ).
Vem da parte de Deus. Sem ansiedade, Viver sob o governo de Deus, eis o maior
cumpramos nossa missão: semear atra- sinal do reino em nós!

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 53
ESTUDO 15

Leituras Diárias
Segunda Marcos 4.1-20
PARÁBOLAS DO REINO Terça
Quarta
Mateus 13.24-30 e 36-43
Mateus 13.47-51
Mateus 18.1-5
Jesus continua o ministério Quinta
Salmo 93.1-5
Sexta
galileu - (2ª Parte) Sábado Salmo 99.1-9

Introdução
lha a semente, que é a palavra de Deus
No estudo anterior, algumas pará- (Lc. 8.11). Os ensinos de Jesus devem ser
bolas nos mostraram o grande valor e o semeados neste mundo.
poder de crescimento do reino de Deus.
Quem é o semeador? Podemos con-
Nosso papel é semear a bendita semen-
siderar que este seja o Espírito Santo,
te, sem ansiedade sobre o seu germinar
que coloca nos corações a semente. Mas,
e crescer. O importante é semear com
também podemos considerar como se-
o nosso modo de ser, falar e agir, aquilo
meadores aqueles homens e aquelas
que faz parte do caráter divino: a paz, o
mulheres que atuam como veículos Seus,
amor, a justiça, a santidade, a salvação.
semeando aquilo que receberam de
Como é maravilhoso, depois de seme- Deus.
ada uma pequena semente, ver uma ár-
Temos sido semeadores do Evange-
vore imensa, dando abrigo aos seres que
lho e de tudo quanto ele significa, como
dela precisam.
diferentes formas de ser, de pensar e de
Neste estudo, veremos outras pará- agir?
bolas de Jesus que nos ensinam sobre o
A semente tem valor e poder em si
reino de Deus.
mesma, pois, é ela que cresce, que pro-
1. A semeadura - Leia Marcos 4.1-20 duz os frutos. Os tipos de solo são, no
entanto, variados, podendo favorecer
Encontramos esta parábola também ou não a frutificação da semente. Não
em Mateus e Lucas. O semeador espa- vamos explicar o significado de cada um

54
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PA R Á B O L A S D O R E I N O |

dos quatro tipos de terreno, pois, isto foi estão preparadas para ficar. Isto é uma
explicado pelo próprio Jesus na parábola figura do que acontecerá na consumação
(vs. 14 a 20). dos séculos, quando a separação será fei-
ta. O próprio Senhor, como grande juiz,
A semente que o Espírito Santo lança
separará o que pertence ao Seu reino da-
no coração produz de acordo com o tipo
quilo que é antagônico a ele.
de terreno em que é semeada. Não é só o
não crente que recebe a palavra de Deus A parábola do trigo e do joio traz-nos
como um tipo especial de solo. Os que se muitas lições. Vejamos algumas:
proclamam cristãos também. Todos nós
1. No campo, que é o mundo, são se-
estamos constantemente, através de vá-
meados dois tipos de semente: um tipo
rios meios, recebendo a palavra de Deus
é semeado pelo dono do campo e outro
e apresentando, ou não, as condições
por um inimigo. Quando semeamos o
para que ela produza em nós os seus fru-
que é mau, estamos a serviço do inimigo
tos.
de Deus, pois, Deus é o dono do campo e
Que tipo de terreno temos sido para só semeia o que é bom.
a bendita semente que Deus quer plan-
2. Neste mundo, é inevitável que te-
tar em nós? Um terreno pedregoso em
nhamos trigo e joio crescendo juntos. Je-
que ela não pode nascer e ter raízes? Um
terreno à beira do caminho em que a se- sus Cristo adverte que não devemos nos
mente é arrebatada logo? O terreno entre apressar em julgar, querendo separá-los,
espinhos em que a semente é sufocada pois, isto só Deus é capaz de fazer. Só Ele,
pelos cuidados deste mundo? Ou somos que conhece o interior de cada um, po-
a terra boa, onde a vontade de Deus tem derá efetuar a separação.
frutificado em abundância? 3. Há joio e trigo no mundo e também
na igreja. O importante a considerarmos
é: estamos sendo trigo ou joio?
Aplicação a sua vida: Você tem estado
consciente de que o Espírito Santo tem lan- 4. Também dentro de nós pode haver
çado sementes preciosas em sua vida? Que joio, pois, mesmo sendo resgatados, so-
tipo de terreno você tem sido para elas? mos pecadores. Cooperemos com o Es-
pírito Santo, para que Ele retire de nossa
vida o que não foi plantado por Ele.
2. A separação - Leia Mateus 13.24-30,
36-43, 47-50 A disciplina na igreja deve ser exer-
cida para fins de ensino, para evitar es-
Já vimos anteriormente sobre o valor cândalos, mas sempre com muito amor e
e o crescimento do reino dos Céus, bem paciência, sem precipitação ou qualquer
como sobre os tipos de terreno que re- sentimento de partidarismo. Afinal, as
cebem a sua semente. Nos textos acima, pessoas são mais importantes que qual-
vemos a separação entre os que partici- quer instituição. Precisamos estar sem-
pam e os que não participam do Reino.
pre conscientes de que somos frágeis e
A parábola da rede parece mostrar- imperfeitos, e de que nunca conseguire-
nos, figuradamente, que a mensagem do mos separar verdadeiramente o trigo do
evangelho lança a rede, trazendo todo joio. Deixemos isto para o justo e perfei-
tipo de pessoas, mas que algumas não to juiz.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 55
| PA R Á B O L A S D O R E I N O

Aplicação a sua vida: Você acha mais fácil Ele mesmo nos ensina a medir as conse-
ver os seus erros ou ver os erros dos outros? quências dos nossos atos com maturi-
Em quais circunstâncias você se percebe dade. Por isso, o apóstolo Paulo diz em
julgando e condenando as pessoas? I Coríntios 14.20: “Quanto ao mal, contu-
do, sede como criancinhas, mas adultos
quanto ao entendimento.”
3. O cidadão do Reino - Leia Mateus
18.1-5

A ética do reino dos céus é muito Conclusão


diferente da ética do reino deste mun-
do, como vimos no Sermão do Monte. Que como veículos do Espírito Santo,
Ela é proveniente de valores do interior semeemos a boa semente, enchendo o
do coração, que resultam em atitudes mundo dos valores do “reino” como paz,
externas. amor e todo o fruto do Espírito que en-
contramos em Gálatas 5.22.
No texto de Mateus vemos Jesus,
diante de alguns que querem saber Que tenhamos a consciência, no en-
quem é o maior no reino do céu, tomar tanto, de que no mundo teremos sempre
uma criança para ilustrar como deve sementes que não pertencem ao reino
ser o cidadão desse reino. A criança em de Deus.
geral não tem orgulho, não faz discrimi-
Que não nos arvoremos em juízes,
nações, é simples e humilde na sua de-
querendo separar as más das boas se-
pendência e fragilidade. Os que desejam
mentes, pois, somos incapazes para tal
o Reino dos Céus nas suas vidas, devem
se revestir de tais atitudes. tarefa.

A grandeza, segundo os valores do Que tenhamos sempre o espírito de


“reino”, não resulta de poder econômico- uma criança, para aprender com o nos-
social ou de aparência, mas de humil- so Pai e para não nos julgarmos nunca
dade e graça. Por isso, segundo Jesus, autossuficientes. Que nossa missão no
o maior no reino dos céus é o que é mundo seja servir e não ser servido, a
servo de todos (Mc.10.44) ou que tem a exemplo do nosso Mestre e Senhor.
humildade de uma criança. Que sejamos o bom solo para a se-
Jesus, no entanto, não está dizendo mente que Deus deseja plantar em nosso
que devemos ser como crianças em tudo. coração.

56 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 16

Leituras Diárias
Segunda Mateus 18.21-35
Mateus 13.54-58
A HUMILDADE FAZ PERDOAR Terça
Quarta Marcos 6.14-29
Quinta João 1.27-34
Jesus termina o ministério na Sexta Mateus 11.25-30
Galileia Sábado Colossenses 3.12-17


Introdução 1. Quantas vezes perdoar?
A ética vivida na sociedade em geral é Leia Mateus 18.21-35
muitas vezes oposta à ética sonhada por Pedro, o apóstolo, fez uma pergunta.
aqueles que pertencem ao reino do Se- Queria saber quantas vezes deveria per-
nhor. A vida do nosso Rei atesta isto. doar. Tal indagação parece mostrar uma
Por opor-se muitas vezes à religiosi- falta de percepção do que Jesus sempre
dade hipócrita da Sua época e ao com- ensinava. Para os discípulos, devia ser
portamento daqueles que lideravam a muito difícil desvincular a religiosidade
sociedade; por viver uma vida que punha das regras e dos tabus aos quais estavam
em cheque o modo de viver da maioria, acostumados.
especialmente dos poderosos; por nunca Talvez, Pedro estivesse ainda mui-
ter trocado a fidelidade à Sua missão re- to preso ao legalismo e, por isso, queria
dentora por qualquer glória deste mun- regras bem claras e definidas quanto
do, Jesus, o Rei, foi rejeitado e persegui- ao que fazer ou deixar de fazer. Estas o
do. fariam saber se agira ou não segundo a
Jesus sempre destacou a necessidade lei e, no caso de ter agido dentro da lei,
da mudança interior, que traria como re- poderia sentir-se satisfeito consigo mes-
sultado um viver amoroso e produtivo na mo e até, quem sabe, poderia condenar
sociedade. outros, como faziam muitos legalistas do
seu tempo.
Após a apresentação neste estudo de
uma importante exigência para o súdito Mesmo sendo boas as regras, o es-
do reino de Deus, veremos alguns fatos pírito legalista é sempre perigoso, pois,
que marcaram a finalização do grande pode nos afastar de Deus. O legalista, ao
ministério de Jesus na Galileia. se perceber como bom cumpridor de re-

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 57
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| A H U M I L D A D E FA Z P E R D O A R

gras exteriores, torna-se orgulhoso e, por haver sido perdoado e, por isso, foi duro
vezes, condena os que não agem como com quem lhe devia.
ele. Pode até ser sincero, mas não vive
Jesus colocou a dívida da parábola
conforme a vontade de Deus. Jesus que-
com valor tão alto para nos ajudar a com-
ria que seus discípulos fossem sobretudo
preender quão monstruosa é a nossa
guiados pela lei do amor (Jo. 15.12). O
dívida para com Deus. Foi terrível o que
desejo de amar verdadeiramente, como
fizemos. Usamos mal o livre arbítrio que
Jesus, sempre nos tornará humildes e
nos tornava criaturas muito especiais.
ligados a Deus, pois, sabemos o quanto
Corrompemos o universo criado. Degra-
somos incapazes de consegui-lo. Tam-
damos a imagem de Deus em nós. Trou-
bém nos deixará sem condições para
xemos o mal para o nosso mundo. E Deus
condenar outras pessoas, por reconhe-
nos perdoou em Cristo. A percepção da
cermos quão distantes estamos sempre
enormidade do nosso pecado faz-nos ver
do nosso tão maravilhoso alvo. Pedro
com gratidão a infinitude da graça divina.
ainda não entendera isto.
Isto amacia o nosso coração em direção
Para responder à pergunta de Pedro, aos que nos tem ofendido. Quem somos
Jesus contou a parábola indicada nes- nós para negar o perdão a quem quer
te texto bíblico. Alguém devia ao seu que seja?
senhor uma quantia exorbitante e não
O coração que não perdoa, na verda-
tinha como pagar. Após muitos rogos
de não tomou posse do perdão. Conti-
do servo para que não o enviasse para
nua carregando a culpa pela sua dívida.
a prisão, seu senhor o perdoou. Logo
E não conseguindo perdoar, torna-se pri-
depois, ele encontrou um conservo seu
sioneiro. A solução para cada um é reco-
que lhe devia uma importância insigni-
nhecer a monstruosidade do seu pecado
ficante. Embora ouvisse as suas súplicas
contra Deus, receber com alegria o Seu
pedindo-lhe perdão, foi insensível a isso,
perdão e com o coração cheio da graça
mandando-o para a cadeia. Sabendo do
divina, espalhar com outros, a começar
ocorrido, o senhor mandou chamá-lo e
dos mais próximos, o perdão e o amor do
negou-lhe o seu perdão, encerrando-o
Senhor.
na prisão.
Esta parábola nos ensina o que outros
textos bíblicos também nos mostram. Aplicação a sua vida: Liste pessoas a
Que seremos julgados com o mesmo ri- quem você não tem conseguido perdoar.
gor com que julgamos. Que o usufruir o Reconheça o pecado inominável que você
perdão e o saber perdoar, andam juntos. cometeu contra Deus e o quanto Ele lhe
O servo que recebeu o perdão não perdoou. Tome posse desse perdão e de-
tinha noção da dimensão de sua dívida. pois libere o seu perdão às pessoas que lhe
Você vê no versículo 26 que ele prome- têm ofendido. Agora mesmo ore e peça a
teu pagar a dívida ao seu senhor. Como Deus para abençoá-las.
se isso fosse possível! Ele devia dez mil
talentos!!! Isto correspondia ao valor de
Jesus, que conhece as leis espiritu-
60 milhões de denários, sendo um dená-
ais, declara que, para sermos perdoados,
rio o equivalente a um dia de trabalho
precisamos perdoar. Por outro lado, se
braçal. Sua vida de trabalho ininterrupto
abrirmos o nosso coração, reconhecendo
daria para pagar apenas uma parte muito
a hediondez do nosso pecado e a gran-
insignificante de tal dívida.
deza do perdão, do amor e da graça de
Como aquele servo não tinha a di- Deus, nós canalizaremos toda esta pre-
mensão do tamanho do perdão recebido ciosidade que recebemos de Deus para
do seu senhor, não sentiu a alegria de os nossos semelhantes.
58 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
A H U M I L D A D E FA Z P E R D O A R |

2. Jesus em Nazaré - Leia Mateus 13. “Este é o Cordeiro de Deus que tira o peca-
54-58 do do mundo” (Jo.1.29). Depois de bati-
zar Jesus, declarou: “Vi o Espírito descer do
O grande ministério de Jesus na Ga- céu como pomba e permanecer sobre ele”
lileia está chegando ao fim. Ele vai ago- (Jo.1.32).
ra, mais uma vez, à sua cidade natal. Vai
dar ao Seu povo outra oportunidade de Este foi João Batista. Um homem hu-
recebê-lo. Mas, o resultado novamente milde e corajoso. Humilde para nunca
foi desanimador. Diz o texto: “E escan- pretender ser algo além daquilo que era:
dalizavam-se por causa d’Ele. ” (...) “E não o precursor do Messias. Corajoso a ponto
realizou muitos milagres ali, por causa da de desafiar o tetrarca(1) da Galileia, como
incredulidade deles” (vs. 57a, 58). você viu neste texto. Este tetrarca era
Deus está sempre dando-nos novas Herodes Antipas, filho de Herodes, o
oportunidades. Grande. Neste texto, temos o relato do
que aconteceu com o corajoso João Ba-
Novamente, o preconceito fez com tista.
que muitos O rejeitassem. “Não é este o
filho do carpinteiro? Sua mãe não se cha- Interessante como Herodes, ao ouvir
ma Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão a fama de Jesus, pensa que João Batista
e Judas? ” (V. 55). houvera ressuscitado. Como pode sofrer
uma consciência atormentada! É triste o
Os preconceitos são sempre pernicio- sentimento de culpa associado ao orgu-
sos ao nosso desenvolvimento. Podem lho. O pecado sem arrependimento sem-
eles nos tornar insensíveis aos veículos pre traz consequências desastrosas.
que Deus quer usar para nos transmitir
sabedoria e maturidade. Julgamos que
a sabedoria está atrelada a títulos, status Aplicação a sua vida: Ser humilde verda-
ou tempo de vida cristã? Como os pre- deiramente é mais difícil do que cumprir re-
conceitos podem nos tornar insensíveis à gras exteriores. Quais atitudes orgulhosas
mensagem de Deus!
você percebe em si mesmo (a)?

3. A morte de João Batista - Leia Mar-


cos 6.14-29 Conclusão
Já dissemos anteriormente que os Jesus terminou assim o seu grande
evangelhos não relatam os fatos ocor- ministério na Galileia. Dois anos, aproxi-
ridos no ministério de Jesus em ordem madamente, são passados desde o Seu
cronológica. Este fato (a morte de João batismo. Sua popularidade crescia e, na
Batista) parece estar relacionado ao fim mesma medida, as resistências a Ele por
do ministério de Jesus na Galileia. parte das autoridades religiosas e políti-
João Batista foi uma pessoa muito va- cas.
lorizada por Jesus. Ele disse que, dentre
os nascidos de mulher, ninguém houve- Terminado o ministério na Galileia,
ra maior do que João Batista (Mt. 11.11). Ele começou uma curta etapa conhecida
Ele foi o precursor de Jesus. Anunciando como “as retiradas de Jesus”, que veremos
a Sua chegada, disse que não era digno nos próximos estudos. Ele vai procurar
de desamarrar a correia das sandálias de estar mais a sós com seus discípulos.
Jesus (Jo. 1.27). Ao saber que Jesus es-
tava fazendo mais discípulos do que ele, __________
(1)
Tetrarca - título usado para denotar o governan-
declarou: “É necessário que ele cresça e te da quarta parte de uma região e mais tarde para
que eu diminua” (Jo.3.26,30). Às pessoas qualquer soberano sujeito a outro país (Davis - Di-
que viram Jesus se aproximar, ele disse: cionário da Bíblia)

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 59
ESTUDO 17

Leituras Diárias
Segunda Mateus 14.13-21
Terça Mateus 14.22-36
jesus se retira para Quarta
Quinta
João 6.22-40
João 6. 41-59

estar a sós com os Sexta


Sábado
João 6.60-71
Mateus 15.1-20

discípulos (I) mais a sós com os discípulos. Precisava


(Primeira Parte) intensificar o ensino a eles, para que esti-
vessem mais preparados para desempe-
nhar a Sua missão quando Ele não mais
Introdução
estivesse aqui.
Com este estudo começaremos a ver
As retiradas de Jesus são classificadas
a parte do ministério de Jesus conhecida
em quatro:
como “as retiradas”, tempo em que Ele
procura se afastar um pouco das grandes A primeira: para o outro lado do mar
multidões e passa a instruir Seus discí- da Galileia, região de Betsaida-Júlia, na
pulos com maior intensidade. Sabemos parte oriental;
que os Evangelhos não registram tudo
A segunda: na terra de Tiro e Sidon, na
que Jesus fez e ensinou, pois, aquilo que
antiga Fenícia;
está registrado é suficiente para que O
conheçamos como Messias e creiamos A terceira: na região de Decápolis, a
n’Ele (Jo. 20.30-31). Vejamos alguns fatos sudeste do mar da Galileia;
registrados:
A quarta: em Cesareia de Felipe, ao
Durante o grande ministério na Ga- norte do mar da Galileia.
lileia, a fama de Jesus havia se espalha-
Veremos neste estudo apenas a pri-
do e grandes multidões O seguiam. Os
meira retirada.
fariseus e outros líderes com influência
política se opunham aos seus ensinos e a
pressão sobre Ele crescia muito. Sua vida 1. Os discípulos aprendem sobre o po-
e Seus ensinos sempre contrariavam os der e a missão de Jesus - Leia Mateus
interesses dos que exerciam o poder. 14.13-36
Jesus então resolveu retirar-se um A primeira retirada foi rápida e para
pouco de cena, afastando-se para estar um local bem próximo. Jesus foi com
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J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( i ) |

Seus discípulos para um lugar deserto, a medo, que fez com que Pedro começasse
leste do mar da Galileia, mas, ao chegar a afundar.
lá, já encontrou uma grande multidão
Às vezes não são as circunstâncias
buscando a Sua ajuda. Mesmo vendo
que nos afundam, mas a nossa atitude
frustrado o Seu plano de estar a sós com
frente a elas. Olhos fitos em Jesus e cora-
os discípulos, Jesus sentiu compaixão por
gem são elementos indispensáveis para a
aquela gente que O procurava. Aí aconte-
vitória. Quantas lições para os discípulos!
ceu a multiplicação dos pães.
Diante deste milagre, um grande pe-
2. Os discípulos aprendem sobre as di-
rigo ocorreu: muitos queriam fazer de
ficuldades do discipulado - Leia João
Jesus um rei político, conforme o relato
6.22-71
de João 6.15. Mas Jesus se recusou, pois,
isto seria trair Sua missão, caindo na ten- Vemos neste texto que a multidão
tação que o diabo lhe apresentara no de- procurou Jesus no dia seguinte e foi por
serto (Mt. 4.8-9). Ele acusada de procurá-lo apenas com in-
teresse nas bênçãos materiais, já que ha-
A compaixão de Jesus e o Seu atendi-
via sido atendida anteriormente em suas
mento amoroso às necessidades huma-
necessidades físicas (v. 26).
nas foram lições muito fortes para os dis-
cípulos. Não será esta uma importante A seguir, Jesus fez um discurso muito
parte do ministério da Igreja como corpo duro para a multidão e que ensinou mui-
de Cristo no mundo? Será possível falar to aos Seus discípulos. Ele operara antes
do amor de Cristo, sem viver tal compai- a multiplicação dos pães e agora lhes fala
xão? do pão espiritual. Diz que eles deverão
beber o Seu sangue e comer a Sua carne
(vs. 51-58). Este discurso era duro (v. 60),
Aplicação a sua vida: Quais atitudes práti- pois, significava ter a Sua vida, alimentar-
cas de amor você tem dirigido ao próximo, se d’Ele, viver como Ele.
por ser um seguidor do Cristo que veio, não
para ser servido, mas para servir? Ele diz ser o pão da vida (v. 35). Diz
ainda que, para que alguém tenha a vida
eterna, será preciso que se alimente d’Ele
Temos aí outros ensinos que Jesus (vs. 53-57).
transmite aos discípulos com Sua vida.
Vemos que Jesus os compeliu a entrar Diante de tão duro discurso (v. 60),
no barco (v.22) e Ele sozinho subiu a um muitos discípulos O abandonaram (v. 66).
monte para orar (v.23). Que lição impor- Seus discípulos mais próximos apren-
tante! diam com estes fatos. Jesus lhes ensinou
que as condições do discipulado não po-
A seguir, neste mesmo texto, vemos dem ser abrandadas para atrair as mul-
que uma tempestade atingiu a embarca- tidões. Não poderá forçá-los também
ção em que os discípulos estavam e Jesus a permanecer com Ele, se não quiserem
lhes apareceu, dando uma lição de fé, es- atender às suas condições. Por isso, lhes
pecialmente a Pedro. faz a pergunta que está no versículo 67.
Este fato na vida de Pedro ilustra É Pedro, em nome dos discípulos, quem
algo muito importante para nós. Veja o responde o que está no versículo 68, sa-
versículo 30. Não foi o vento, mas foi o tisfazendo assim a Jesus.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 61
| J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( i )

Não é preciso ser perfeito para mãe”, que eles substituíam por uma ofer-
ser discípulo de Cristo. Ele está sempre ta no templo chamada corbã. Os filhos
disposto a, com amor e paciência, en- deveriam amparar financeiramente os
sinar, corrigir, perdoar e levantar-nos pais, pois, isto era o mesmo que honrá-
quando caímos. O que Ele quer de nós é los; mas se eles dessem essa oferta no
que tenhamos um desejo muito forte de templo (corbã), ficavam desobrigados de
satisfazer as condições do discipulado, ampará-los. Jesus via isso como algo que
reconhecendo que, fora dos Seus propó- contrariava a vontade de Deus.
sitos para nós, a vida não tem realmente
Jesus então combateu a tradição do
sentido, como disse Pedro no versículo
lavar as mãos, dizendo que o que entra
68.
pela boca não contamina o ser humano
(v. 11). Jesus sempre combateu o legalis-
Aplicação a sua vida: Qual deve ser a sua mo frio e hipócrita que tornava a religião
atitude ao chamar pessoas para seguirem a mecânica, ao expressar-se apenas pelo
Jesus? comportamento exterior.

O legalismo pode se manifestar em


nossa vida cristã de muitas formas como:
3. Os discípulos aprendem mais uma
vez que Jesus quer vida interior e não - quando avaliamos a nossa situação
cumprimento de ritos - Leia Mateus com Deus baseados, não na Sua graça,
15.1-20 mas nos nossos atos externos;

Este fato acontecido no ministério de - quando nos comparamos a outros


Jesus trouxe grandes ensinos aos Seus pelo que fazemos ou deixamos de fazer,
discípulos. Eles foram acusados de não desconsiderando a nossa maldade inte-
lavar as mãos antes das refeições. Jesus rior, como o egoísmo, o desamor, o des-
então os defendeu, acusando os líderes respeito;
judaicos de muitas vezes transgredirem - quando avaliamos pessoas pela apa-
os mandamentos de Deus por causa da rência ou pelo aspecto externo do seu
sua tradição. comportamento, sem considerar a sua
Para os judeus, o lavar as mãos às história ou as circunstâncias que nos são
refeições não significava simplesmente desconhecidas.
um ato de higiene, mas um ritual de pu-
rificação, para afastar a possibilidade de
Conclusão
participar da refeição contaminado por
alguém religiosamente impuro - um gen- Os discípulos de Jesus tiveram gran-
tio ou um judeu impuro. A refeição tinha des lições com os fatos vistos neste estu-
um aspecto sagrado de comunhão que do. Aprenderam com as atitudes e pa-
devia ser com os “iguais” lavras do seu Mestre a respeito da fé, do
preço do discipulado, da necessidade de
Jesus atacou tais tradições religio-
se alimentar da vida de Jesus e também a
sas, falando que, na realidade, eles não
respeito dos perigos do legalismo.
cumpriam os mandamentos de Deus por
causa das suas tradições, e dá o exemplo O que temos aprendido em nossas
do mandamento “Honra a teu pai e a tua horas a sós com Jesus?

62 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 18

Leituras Diárias
Marcos 7.24-30
jesus se retira para
Segunda
Terça Mateus 16.13-28
Quarta Lucas 9. 28-36
estar a sós com os Quinta Lucas 9. 37-45
Sexta Atos 2. 37-43
discípulos (II) Sábado I Pedro 2.1-9

(Segunda Parte)
O texto de Marcos diz que Jesus que-
ria ficar a sós com os discípulos. Isto se
Introdução fazia quase impossível. Foi nessa segun-
Neste estudo veremos as últimas reti- da retirada que Ele foi abordado pela
radas de Jesus: uma para os lados de Tiro mulher siro-fenícia, a que pediu a cura
e Sidon (Mc. 7.24); outra para Decápolis de sua filha. Jesus disse que “não era
(Mc.7.31); e a última para Cesareia de Fe- justo tomar o pão dos filhos e jogá-lo para
lipe (Mc.8.27). Os episódios acontecidos os cachorrinhos” (v. 27). Alguns comen-
aí e os ensinos ministrados marcariam os taristas dizem que Jesus aqui procurou
discípulos para sempre. ser cortês, expressando delicadamente o
modo como os judeus consideravam os
Jesus queria estar a sós com os discí- gentios.
pulos. Sabia que não teria muito tempo
para ensinar-lhes. A palavra cão no N.T. designa todos
quantos são incapazes de apreciar o que
é santo e elevado. Os judeus chamavam
1. Os discípulos aprendem que a gra- de cães os gentios, por serem declarados
(1)
ça de Deus é para todos - Leia Marcos impuros pela lei cerimonial . Com sua
7.24-30 atitude, Jesus queria realçar a graça de
O fato relatado por este texto perten- Deus que se estende a todos.
ce à segunda retirada, que foi para as regi- Aquela mulher sabia que, sendo uma
ões de Tiro e Sidon. Não sabemos quanto estrangeira, não pertencia ao considera-
tempo Jesus ficou nesta área nem quais do povo de Deus. Expressou, no entanto,
foram Suas atividades. A maior parte do sua humildade e, por isso, teve a sua fé
tempo provavelmente foi empregado enaltecida por Jesus, conforme relato de
em instruir Seus discípulos. Mateus 15.28.
REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 63
|| 63
| J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( ii )

A missão de Jesus era realmente para vras, pois, Pedro significa pedra. Creem
todos, embora durante o Seu ministério eles que a afirmação de Jesus: “Sobre esta
terreno fosse, primariamente, dirigida pedra edificarei a minha igreja” refere-se à
aos judeus. A fé e a humildade desta mu- declaração de Pedro:“Tu és o Cristo, o Filho
lher O tocaram profundamente. de Deus vivo”. Esta é a pedra fundamen-
tal da fé cristã - a convicção a respeito da
Segundo alguns comentaristas, na
identidade de Jesus como Filho de Deus.
terceira retirada não estão registrados fa-
E o próprio Pedro diz isso em sua primei-
tos de grande destaque ou diferentes dos
ra carta (I Pe. 2.3-4).
já acontecidos em outros períodos do
ministério de Jesus. Por isso, não comen- De certa forma, no entanto, os após-
taremos a terceira retirada e veremos, tolos são pedras importantes na edifica-
nos dois próximos tópicos, dois aconte- ção da igreja, pois, foram testemunhas
cimentos que julgamos importantes na oculares da vida e obra de Jesus, assim
quarta retirada. como foram os primeiros divulgadores
do Evangelho. O próprio apóstolo Pedro
diz aos cristãos, em sua primeira carta,
2. Os discípulos aprendem sobre Cristo
que Cristo é a pedra angular e que todos
e a missão da igreja
os cristãos são pedras na edificação da
Leia Mateus 16.13-28
igreja (I Pedro 2.3-5). Paulo, em I Coríntios
Nesta quarta retirada, Jesus seguiu 3.11, diz que o único alicerce ou funda-
para a região de Cesareia de Filipe. De- mento é Cristo.
pois de saber a opinião de outros a Seu
respeito, Jesus perguntou aos discípulos Jesus diz ainda a Pedro que lhe daria
o que eles pensavam d’Ele. as chaves dos céus e tudo que ele ligasse
ou desligasse na terra, seria confirmado
Era muito importante para o Mestre, a pelos céus. O poder das chaves é dado a
esta altura do Seu ministério, saber o que todo verdadeiro súdito do reino de Deus.
os Seus discípulos pensavam a Seu res- É o poder de, através do testemunho da
peito, porque Ele voltaria para o Pai e Sua vida de Deus em si, abrir o reino de Deus
missão continuaria através deles. Como às pessoas que vivem em sofrimento e
poderiam cumpri-la se não tivessem cla- desesperança. Pedro o abriu a milha-
reza a respeito de quem era Jesus? res de pessoas no dia de Pentecostes
Pedro respondeu pelo grupo apos- (At.2.38-41) e de um modo especial aos
tólico: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” gentios na casa de Cornélio (At. 10).
(v.16). Sua palavra satisfez a Jesus, que Quem comunica a mensagem de
lhe disse que aquela resposta se origina- Deus, isto é, a vida verdadeira e plena de
ra na própria revelação do Pai a ele. Jesus amor que há em Jesus, pode ligar pesso-
fez então a declaração dos versículos 18 as ao céu e pode desligá-las das prisões
e 19 (releia-os). A Igreja Católica Roma- demoníacas. O que o cristão faz, na auto-
na interpreta que a pedra aí refere-se a ridade dada por Jesus, é confirmado pelo
Pedro, que teria sido o principal líder da
céu.
igreja primitiva. Embora concordem que
Pedro foi realmente um dos grandes lí- A seguir, no texto indicado de Mateus
deres da igreja em seus primeiros anos, 16, Jesus mostrou aos discípulos que Ele
os evangélicos não aceitam tal interpre- deveria sofrer, morrer e ressuscitar (v. 21).
tação. Eles veem aqui um jogo de pala- Pedro procurou convencê-lo a não deixar

64 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( ii ) |

que isto acontecesse. (v.22). Jesus consi- aqueles em cuja companhia sentimos
derou tal palavra de origem maligna (v. grande prazer e afinidade espiritual, do
23). Esta foi sempre a tentação que Jesus que com pessoas que passam por difi-
sofreu durante a Sua vida: fugir da cruz, culdades e a quem precisamos ajudar. Ao
desviando-se de Sua missão. descerem do monte, Jesus e Seus discí-
pulos encontraram um jovem possesso
Pedro, que há tão pouco tempo fizera
por demônio, que precisava de liberta-
uma declaração inspirada por Deus, ago-
ção.
ra era usado pelo inimigo para desviar Je-
sus da cruz. Este fato ensina como somos Estamos sempre a transitar entre as
vulneráveis e podemos, após declarações alegrias produzidas em nós, pela consci-
sábias, ser por vezes insensatos. Temos ência da presença de Deus nos momen-
sempre de ser humildes e dependentes tos de enlevo espiritual, e as tristezas
de Deus. ocasionadas pelas situações muitas vezes
dolorosas do cotidiano, que são um desa-
Pedro aconselhou Jesus a fugir da
fio à nossa fé.
cruz. Não é esta também uma tentação
para todo o cristão: sacrificar o propósito Os momentos de nossa comunhão
de sua vida pelo seu próprio bem-estar, com o Pai não nos devem alienar da vida
com a satisfação de motivos egoístas? com suas tensões e desafios. Pelo con-
Jesus ensinava a Pedro e aos demais dis- trário! Tais momentos devem servir de
cípulos que não é possível um cristianis- alimento para tornar-nos mais fortes, ser-
mo sem cruz (vs. 24-25). Qual é a missão vindo de bênção dentro das circunstân-
da Igreja? Qual é a cruz da qual Satanás cias em que vivemos.
deseja que nos desviemos?
Estamos prontos a responder aos de-
safios que enfrentamos, ou queremos
apenas as situações que nos agradam?
Aplicação a sua vida: O propósito de sua Foi assim a vida d’Aquele a quem dize-
vida é tornar-se mais semelhante a Jesus, mos seguir?
servindo de bênção para o ambiente em
que você vive? Quais fatos em seu viver de-
monstram que você deseja isso?
Aplicação a sua vida: Qual serviço seu às
pessoas tem sido demonstração do amor
de Jesus através de sua vida?
3. Os discípulos aprendem que contem-
plação e serviço andam lado a lado -
Leia Lucas 9.28-45
Conclusão
Vemos aí que, na transfiguração de
Jesus gastou tempo para ensinar os
Jesus à vista de Pedro, Tiago e João, apa-
discípulos. Nada podemos fazer, se não
receram Moisés e Elias. Estes falavam
tivermos o nosso aprendizado aos pés de
com Jesus a respeito de sua morte e res-
Jesus.
surreição. Diante do esplendor do acon-
tecimento, Pedro sugeriu que perma-
necessem ali. Realmente, é muito mais _____
prazeroso participar de um momento (1)
- Davis, John, D - Dicionário da Bíblia , S. Paulo:
de adoração e contemplação junto com Ed. Vida Nova, 1965. p.105

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 65
ESTUDO 19

Leituras Diárias
Segunda João 7.14-18 e 30-32
Terça João 7. 37-52
JESUS, O GRANDE MESTRE Quarta
Quinta
João 8. 1-11
João 9. 1-21
O Ministério de Jesus na Judeia Sexta João 9. 18-41
Sábado Atos 10.34-42
(Primeira Parte)
questão era: Ele falava a verdade a res-
Introdução peito de si mesmo ou não? Jesus, então,
adverte no versículo 17 que aquele que
João, o Evangelho que será usado
quiser fazer a vontade de Deus conhece-
neste estudo, é o que mais realça a di-
rá se o que Ele fala é de Deus ou não.
vindade de Jesus, desde o seu prólogo
em João 1.1-14. Neste Evangelho, Jesus Quantas vezes a falta de percepção
fala mais de si mesmo do que da ética de uma verdade espiritual, com impedi-
do Seu reino. Neste estudo, vemos que, mento à fé, pode vir de uma resistência
após as retiradas, Jesus volta à Judeia e em querer fazer a vontade de Deus! Co-
exerce parte do Seu ministério ali. Atra- ração aberto e desejo de estar em comu-
vés de alguns fatos e ensinos deste pe- nhão com a vontade de Deus são condi-
ríodo, usufruímos de grandes lições. Ao ções para perceber as verdades de Deus.
dizermos que aceitamos Jesus, estamos
Guardas foram enviados para prender
anunciando que O reconhecemos como
Jesus, mas não O levaram por se sentirem
Mestre, desejando viver de acordo com
extasiados ante a sabedoria e a autori-
Seus ensinos.
dade d’Ele (vs. 32, 45-46). O fato é que a
pressão sobre Jesus estava aumentando
1. O ensino de Jesus - Leia João 7.14- muito. Aqueles, no entanto, que eram
18, 30-32 e 37-52 sinceros, desejando a luz para as suas vi-
das, percebiam que algo na palavra e na
O ministério de Jesus está caminhan-
vida d’Ele atraia-os chamando-os a um
do para o seu final. Ele foi para Jerusalém,
posicionamento diante de Deus. Somos
indo ao templo na festa dos tabernáculos
honestos em nossa relação com Deus?
e ali ensinava. Enquanto isso, o cerco a
Jesus se apertava. Havia uma grande agi- É interessante como Nicodemos,
tação entre o povo por causa de Jesus. A aquele que já conhecemos por haver es-

66
66 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
JESUS, O GRANDE MESTRE |

tado à noite com Jesus (Estudo 5), toma pois, não a estavam esperando. Jesus os
a defesa dele perante os fariseus (vs. 47- surpreendeu como sempre. Ele amava a
52). todas aquelas pessoas e desejava resga-
tá-las. Tanto a mulher, como os escribas
Jesus declara muitas vezes o Seu po-
e fariseus. A resposta d’Ele, “Quem den-
der, mas as pessoas em geral não dese- tre vós estiver sem pecado seja o primeiro
jam crer. Muitas vezes o nosso impedi- a atirar-lhe uma pedra” (v. 7), fez com que
mento à fé resulta da falta de vontade de aqueles homens se retirassem. Mas a
obedecer, como já foi dito. Se isso está Sua palavra poderia também resgatá-los,
acontecendo conosco, talvez precisemos levando-os a pensar e perceber a si mes-
tomar algumas atitudes: mos como pecadores, também necessi-
- confessar essa dificuldade ao pró- tados da graça de Deus. A graça de Deus
prio Deus, com a certeza de que Ele nos é para todos nós, mas só a alcança quem
ajudará a vencê-la; reconhece o seu pecado e a sua necessi-
dade de perdão.
- obedecer naquilo que já sabemos
ser a Sua vontade como amar, perdoar,
trabalhar em favor do próximo e tantas Aplicação a sua vida: Qual pecado sepa-
outras coisas. ra mais a criatura do seu Criador: o pecado
daquela mulher ou o pecado daqueles ho-
- lidar com os nossos preconceitos e
mens tão religiosos? Por quê?
resistências, para estarmos mais disponí-
veis para ouvirmos a voz do Senhor.
Após ficar sozinho com a mulher,
Aplicação a sua vida: Qual resistência em Jesus se dirigiu a ela com ternura e com-
seu coração pode estar sendo obstáculo paixão. “Mulher, onde estão eles? Ninguém
para você crer na palavra de Jesus? te condenou? ” E após a resposta dela, Je-
sus disse: “Nem eu te condeno. Vai e não
peques mais” (vs.10b e 11.b)
2. Todos são pecadores, ensina Jesus Jesus queria salvar ali, tanto a mulher
aos fariseus - Leia João 8.1-11 quanto os homens, todos vivendo em
pecado, embora manifesto de formas
Os fariseus levaram esta mulher a
diferentes. A mulher vivendo uma vida
Jesus, não por serem zelosos pela lei ou
de adultério e aqueles homens vivendo
pela moral da sociedade em que viviam. cheios de orgulho, de interesses egoístas
O que eles queriam era pegar Jesus em e vazios de misericórdia.
alguma contradição, para terem de que
O acusar (vs. 4-6). Se Jesus dissesse que Jesus trata a cada um de acordo com
deveriam apedrejá-la, estaria sendo con- sua condição. À pessoa que está humi-
trário à sua própria mensagem de amor e lhada, Ele tenta, através do seu amor e da
perdão. Se dissesse que a mulher deveria sua graça, levá-la a perceber a sua digni-
dade e a desejar viver uma vida íntegra.
ser perdoada, estaria indo flagrantemen-
Os orgulhosos, cheios de justiça própria
te contra a lei de Moisés e atrairia a rea-
e condenação aos outros, Jesus tenta
ção do povo contra Ele.
aproximar de Deus, fazendo-os perceber
Jesus, então, deu uma resposta que a estupidez do seu orgulho, que os torna
deixou aqueles homens estupefatos, insensíveis e sem misericórdia.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 67
| JESUS, O GRANDE MESTRE

Que bom é entender que Jesus veio durante o Seu tempo de vida. Não po-
para todos. Que nos ama e está sempre deria deixar para depois. Será que temos
disposto a nos perdoar, ajudando-nos a consciência de que, como discípulos
viver uma vida de acordo com a Sua von- seus, também temos uma missão a cum-
tade. prir, que não deve ser deixada para de-
pois? Também nós fomos comissionados
3. Jesus ensina através de uma cura - por Jesus para sermos luz do mundo. E só
Leia João 9.1-41 podemos cumprir esta missão enquanto
estamos no mundo. Conscientizemo-
O acontecimento central deste capí- nos de que nossa vida é breve e que não
tulo é a cura de um cego de nascença. podemos deixar de cumprir o propósito
Há todo um processo de investigação divino para o qual estamos aqui.
por parte dos escribas e fariseus para
saberem como havia acontecido aquele
milagre. Eles queriam achar um motivo
Aplicação a sua vida: Você tem consciên-
para prender Jesus.
cia de que Jesus deseja servir às pessoas
Com este milagre importante no mi- através de você? De que maneira isto está
nistério de Jesus, muitas lições podemos acontecendo ou poderá acontecer?
aprender:

- O sofrimento de alguém nem sem-
- Jesus fez um trocadilho nos versícu-
pre é resultado do seu próprio pecado ou
los 39 a 41, para mostrar que nem sempre
do pecado de algum de seus antepassa-
os cegos eram apenas aqueles pobres
dos (vs. 2-3).
que viviam marginalizados à beira do
- O cego não sabia muita coisa a res- caminho. Nem sempre também, o espiri-
peito de Jesus, mas o que ele sabia era o tualmente cego é aquele que tem menor
suficiente para dar aos outros o seu teste- conhecimento, mas aquele que não quer
munho: “Eu era cego e agora estou enxer- enxergar o que Deus quer lhe mostrar.
gando! ” (Vs.24-25). Também nós, muitas
Queremos nós enxergar verdadeira-
vezes, não sabemos muitas coisas, mas o
mente? Aprender com Jesus? Isto nos
que sabemos é que o conhecimento e a
dará maiores responsabilidades, mas
presença de Jesus dão à nossa vida sig-
também maiores privilégios.
nificado e sentido de eternidade. Nesse
caso, podemos dar o nosso testemunho.
- Jesus aí desafiou mais uma vez os Conclusão
legalistas religiosos e curou num sábado
Nestes textos, Jesus mostra que Ele
(v.14). Mais uma vez mostrou que as leis
é o Deus encarnado, que veio para liber-
são feitas por causa do ser humano e de-
tar o ser humano de sua ignorância e
vem sempre estar a serviço dele.
do seu pecado. Veio perdoá-lo e abrir-lhe
- No versículo 5 Jesus diz: “Enquan- os olhos para enxergar sua dignidade,
to estou no mundo, sou a luz do mundo. ” mas também sua pequenez; sua gran-
Jesus possuía um sentido de urgência, deza, mas também sua dependência de
pois, tinha uma missão a ser cumprida Deus.

68 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 20

Leituras Diárias
Segunda Lucas 10.1-12
O DESEJO DE JESUS PARA Terça
Quarta
Lucas 10. 17-24
Lucas 10. 25-37
OS SEUS SEGUIDORES Quinta
Sexta
Lucas 10. 38-42
Filipenses 2.5-11
O ministério de Jesus na Judeia Sábado Efésios 6.10-18

(Segunda Parte)
- A missão era grande (v.2) - Hoje o
nosso mundo é maior ainda.
Introdução
- A missão seria difícil (v.3) - Seus dis-
Jesus está chegando ao fim do Seu
cípulos seriam como ovelhas no meio de
ministério terreno. Trabalhara longo
lobos. Haveria oposição.
tempo na Galileia. Teve depois suas re-
tiradas com os discípulos para que os Também hoje, o anúncio do reino
instruísse (estudos dezessete e dezoito). de Deus nunca será recebido sem opo-
Agora estamos vendo, desde o estudo sição, embora seja esta muito maior em
anterior, alguns fatos do Seu ministério alguns lugares do que em outros. Afinal,
na Judeia. os seguidores de Jesus devem ter uma
vida semelhante à do seu Mestre, con-
trapondo-se ao que é mal e injusto. Se
1. Jesus deseja que Seus seguidores
não há oposição alguma, de ninguém,
cumpram sua missão - Lucas 10.1-12
devemos prestar atenção se não estamos
Jesus enviou setenta discípulos para enfraquecendo o nosso testemunho cris-
trabalharem no anúncio do reino de tão para que sejamos mais aceitos. Ou
Deus. Anteriormente, Ele havia enviado se não estamos perdendo a consciência
os doze com mais ou menos as mesmas de que todo o cristão, seja qual for a sua
recomendações. Jesus deu-lhes várias atividade, deve procurar viver dentro de
instruções. Vejamos essas instruções e o padrões que satisfaçam a justiça e a san-
que elas ensinam para o desempenho da tidade de Deus, inclusive em seu relacio-
nossa missão hoje: namento com as pessoas.

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 69
|| 69
| O D E S E J O D E J E S U S PA R A O S S E U S S E G U I D O R E S

- A missão era urgente (v.4) - não de- 2. Jesus deseja que ajudemos os seme-
veriam ficar gastando tempo e energia lhantes, sem preconceito - Leia Lucas
com o que não era importante. Cumpri- 10.25-37
mentos ou bagagem não deveriam atra-
Esta parábola é muito conhecida: a
palhar a caminhada.
do samaritano que socorre o homem as-
Também nós, não devemos carregar saltado. Através dela, Jesus respondeu à
coisas em nossa bagagem que a tornem pergunta de um religioso que queria vê-
pesada demais e nos impeçam de ca- lo cair em contradição. Isto sempre acon-
minhar. Tiremos dela os cuidados deste tecia com os escribas, que eram doutores
mundo, as vaidades, o luxo, as inimiza- da lei, e com os fariseus. Queriam pegar
des, o formalismo, etc... Caminhemos Jesus em contradição, para terem de que
com leveza, dando importância àquilo acusá-lo perante o povo.
que é realmente importante.
Jesus, então, proferiu esta parábola,
- Sobre o sustento, Jesus diz que dig- o que deve ter deixado irados os douto-
no é o trabalhador do seu salário (v.7) res da lei ali presentes, pois ela, além de
- Deus providenciaria pessoas que os
ter deixado em posição desfavorável os
sustentassem e eles deveriam viver com
religiosos, colocou como herói um sama-
simplicidade e sem ambições materiais.
ritano. Jesus lhes ensinou várias lições.
Ainda hoje, devemos estar dispos- Vejamos:
tos a sustentar os obreiros do Senhor,
que gastam a sua vida exclusivamente - Muitos escribas e fariseus valoriza-
no anúncio da Palavra de Deus ou na vam o cumprimento rígido de todas as
preparação do povo de Deus para que práticas religiosas, mas desprezavam a
cumpra a sua missão no mundo. Estes justiça, a misericórdia e a fé (Mt. 23.23),
obreiros são dignos de duplicada honra (I inclusive menosprezando os samari-
Tm. 5:17,18). Devemos ter a consciência, tanos. Nesta história, foi o samaritano
no entanto, de que todos os cristãos são quem cumpriu o maior de todos os man-
chamados a representar o reino de Deus damentos.
onde estiverem, defendendo seus princí- - Jesus ensinou que o que importa
pios, vivenciando um estilo de vida den- para Deus não é simplesmente o cum-
tro dos valores que pertencem a tal reino. primento de ritos religiosos, mas a fé que
Precisamos viver dentro do espírito tem por expressão o amor, o que leva à
do reino de Deus, testemunhando que ação. “Deveis fazer estas coisas e não omi-
tal reino manifestou-se em Jesus e já che- tir aquelas”, disse Jesus (Mt. 23.23).
gou em nossa vida. Que vivamos dentro
O ensino de Jesus e o Seu confron-
dos valores do reino de Deus, os quais
são humildade, simplicidade, paz, amor, to com os fariseus mostraram o quanto
honestidade, pureza e tudo que caracte- Ele era corajoso. Sabendo os riscos que
rizou a vida do nosso Mestre. corria, falava-lhes a verdade, mesmo que
isso lhes provocasse incômodo ou raiva.
Queria salvá-los de uma religião legalista
Aplicação a sua vida: Como você pode e de uma justiça própria, que os tornava
anunciar às pessoas com quem convive rígidos com os outros e os impedia de
que sua vida é um sinal do reino de Deus enxergar os próprios pecados. Jesus os
entre elas? amava e sabia que o jeito deles de ver a

70 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O D E S E J O D E J E S U S PA R A O S S E U S S E G U I D O R E S |

lei de Deus os impedia de receber a graça tempo em estar a Seus pés, aprendendo
do Senhor. d’Ele como viver uma vida verdadeira,
profunda e significativa neste mundo.
Jesus! Que Mestre cheio de coragem
e amor!

Aplicação a sua vida: Quais são as suas


3. Jesus deseja crescimento para aque- prioridades? Quais atitudes suas mostram
les que O seguem - Leia Lucas 10. 38-42 o seu desejo de aprender com Jesus?
Jesus estava em Betânia, na casa de
Maria e Marta. Maria ficava aos pés do
Cristo, ouvindo-O, enquanto Marta se Com nossos trabalhos domésticos
preocupava em servi-lo com uma boa e práticos, podemos realmente servir a
refeição. No meu entender, as duas pra- Deus, pois, de acordo com o ensino de
ticavam atividades importantes, pois, Jesus, servimos também a Ele quando
precisamos tanto do alimento material servimos com amor às pessoas que Ele
quanto do espiritual. O que havia era ama. Não devemos separar a nossa vida
uma preocupação excessiva de Marta “religiosa” da nossa vida cotidiana, como
com o alimento material, no que ela foi se só estivéssemos servindo ao Senhor
repreendida delicadamente por Jesus, o quando estamos lendo a Bíblia, orando
qual focalizou a questão da prioridade. É ou em algum trabalho com a igreja. De-
importante o fato de Jesus ter valorizado vemos ter cuidado, no entanto, para não
o desejo de Maria de aprender aos pés de inverter prioridades.
um Mestre, especialmente num tempo Jesus quer que desenvolvamos nossa
em que isto era, em grande parte, nega- compreensão d’Ele, de nós mesmos e do
do à mulher. mundo em que vivemos, para que possa-
Para Jesus, era muito mais importante mos atuar em Seu nome.
repartir com as pessoas o alimento que
Ele possuía (o ensino), do que usufruir de
uma mesa farta ou de uma casa bem ar- Conclusão
rumada. Esta era a Sua comida, como Ele
Estejamos atentos para viver de
disse aos seus discípulos - fazer a vontade
forma equilibrada, tanto servindo aos
do Pai (Jo. 4.34).
outros, quanto tendo uma íntima e pro-
Será que hoje, em nossa vida cristã, dutiva comunhão com o Cristo dos Evan-
pessoal ou comunitária, não podemos, gelhos. Assim se desenvolverá em nós
mesmo com as melhores intenções, o Seu modo de ver a vida, o mundo e as
como aconteceu com Marta, gastar mui- pessoas. Como consequência, teremos o
to mais do nosso tempo com o que é ma- Seu jeito de ser e a Sua forma de agir, ser-
terial ou social? Preparamos ambientes, vindo de luz para o mundo. E, seguindo o
programações, homenagens e banque- exemplo d’Ele, nosso alimento poderá se
tes para agradar a Jesus, e não gastamos tornar também fazer a vontade de Deus.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 71
ESTUDO 21

Leituras Diárias
Segunda Lucas 15.1-10
Terça Lucas 15.11-32
Quarta Lucas 18.9-14
A SEMELHANÇA COM O Quinta
Sexta
II Coríntios 2. 14-15
II Coríntios 5.17-20
CARÁTER DO PAI Sábado Efésios 5.3-6

O Ministério de Jesus na Pereia -


Parábolas tidas. Jesus era um grande Mestre. Ele
contava histórias do cotidiano porque,
assim, as pessoas que tinham real interes-
Introdução
se em absorver as lições das parábolas,
O ministério de Jesus na Pereia, onde percebiam os seus ensinos. Ao mesmo
Ele se deteve enquanto viajava para tempo, as pessoas que tinham resistên-
Jerusalém, inclui também acontecimen- cia a Ele, as que não queriam segui-lo
tos em outras cidades fora dessa região, ou as que não estavam suficientemente
onde Ele passou rapidamente. Este tem- maduras para entender as parábolas,
po do Seu ministério está narrado em não as entendiam naquele momento,
Lucas 13.22 a 19.28(1) e em textos meno- podendo vir a entendê-las mais tarde.
res de outros evangelhos. Neste estudo, Por outro lado, os que O perseguiam e
destaco algumas parábolas e, no próxi- queriam prendê-lo, não se sentiam sufi-
mo, alguns acontecimentos desta fase do cientemente autorizados para isso, já que
ministério de Jesus. Ele falava por parábolas.
Veja a seguir algumas destas parábo-
1. Parábolas do ministério na Pereia - las.
Leia Lucas 13.22 a 19.26
Lucas é, dos evangelistas, o principal 2. O perdido é encontrado - Leia Lucas
narrador de parábolas. Nos capítulos aí 15.1-32
referidos, você encontra muitas delas.
Leia primeiro o texto todo, perceben-
Mesmo sem ler todo o texto indicado, do o que há de comum nas três parábo-
procure reconhecer as parábolas aí con- las que aí se encontram.
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72 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
A S E M E L H A N Ç A C O M O C A R ÁT E R D O PA I |

Nos primeiros versículos (1-3) nós en- É maravilhoso saber que ao filho bas-
contramos a razão por que Jesus contou ta o reconhecimento da sua condição e
estas três parábolas. Os fariseus e escri- a atitude de voltar, para que possa resta-
bas O criticavam por receber pessoas que belecer sua condição junto ao pai. Não é
não cumpriam as leis religiosas. Tais pes- preciso melhorar o aspecto para se voltar
soas eram consideradas por eles como para Deus. As mudanças acontecerão
“os pecadores”. Jesus, então, conta estas com o restabelecimento da condição de
parábolas, mostrando em todas que algo filho e pela comunhão com o Pai (vs. 21-
está perdido e é procurado, havendo 22). Assim aconteceu com o filho pródi-
grande alegria ao se encontrar o que es- go.
tava perdido.
A volta para Deus é aquilo que a alma
Jesus queria que os fariseus e escri- do pecador mais almeja, tenha ele cons-
bas entendessem o quanto é alegre para ciência disso ou não. Pena que muitos
Deus que o ser humano perdido se deixe continuem em estado de rebelião, resis-
achar por Ele. Receber a pessoa que se tindo à sua própria necessidade de voltar.
volta para Ele é o Seu desejo e a Sua ale- Não percebem que nesta volta estaria
gria. sua possibilidade de ter uma vida feliz e
com propósito.
Vejamos algumas semelhanças e dife-
renças entre estas parábolas: Outra lição que a parábola do filho
pródigo nos ensina é o perigo de sermos
- Nas duas primeiras, quem toma a
como o filho mais velho que, embora vi-
iniciativa para o reencontro com o que
vendo em casa, tinha o coração cheio de
estava perdido é o dono. Isto mostra que
amargura e distante da comunhão com o
a graça de Deus vem sempre primeiro.
pai. Não se aproveitava de sua riqueza.
Ele nos busca antes mesmo de O procu-
Parecia mais ser um empregado, cum-
rarmos.
prindo fielmente todos os seus deveres,
- Na parábola da dracma, o que está sem afinidade com o seu pai. Não sofreu
perdido não tem consciência da sua per- com ele e nem partilhou da alegria do pai
dição e nem sofre por isso. Na parábola com a volta do seu irmão.
da ovelha perdida, ela já sofre como con-
Jesus falava aos fariseus, lembra-se?
sequência do seu afastamento do pastor.
(vs.1-3). Eles cumpriam a lei, mas não
O filho já tem plena consciência do seu
tinham misericórdia. Por isso, condena-
afastamento do pai. Cada pecador pode
vam Jesus, por aceitar aqueles que eles
ter um grau diferente de consciência do
julgavam “grandes pecadores”.
seu afastamento de Deus, mas todos es-
tão perdidos enquanto não houver o re- Será que podemos ser como o filho
encontro com o Pai. mais velho? Estar na “casa do Pai” e ape-
nas cumprir as nossas obrigações, sem
- Na parábola do filho pródigo, vemos
qualquer alegria? Se não amamos o Pai
o filho voltando arrependido e o pai que
Celeste e nem temos comunhão íntima
o espera. Isto nos mostra que há uma
com Ele, não nos alegraremos em Sua
parte a ser feita pelo homem afastado de
casa e nem teremos um caráter parecido
Deus. Este deve reconhecer o seu estado
com o d’Ele: amoroso e perdoador.
de filho desgarrado e desejar a comu-
nhão com o Pai, expressando-se tudo isto Com o coração livre e feliz, recebamos
na sua atitude de voltar. com alegria as pessoas na nossa família
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 73
| A S E M E L H A N Ç A C O M O C A R ÁT E R D O PA I

espiritual, pois, somos todos pecadores arrogantes, porém dá graça aos humildes
perdoados. (Tg. 4.6)
Esta parábola nos mostra o perigo de
Aplicação a sua vida: Você se alegra no agirmos como o fariseu. Agimos assim
seu convívio com Deus? Quais efeitos esse quando consideramos pecado apenas a
convívio tem produzido em sua vida? Seu quebra das leis exteriores, sendo pessoas
coração está cheio de amor e espírito per- interiormente abaixo do padrão de Deus.
doador como o coração do Pai? E existe alguém que não esteja muito
abaixo? Estamos abaixo quando nos
faltam humildade, justiça, amor, compai-
3. O fariseu e o publicano - Leia Lucas xão, coragem para viver o que é correto.
18.9-14 Quando, em vez de nos considerarmos
No versículo 9, Lucas declara que Je- pecadores, sentimos orgulho porque
sus contou esta parábola aos religiosos, cumprimos exteriormente os nossos de-
aqueles que confiavam em sua própria veres religiosos. Quantas vezes agimos
justiça. Ele queria fazê-los compreender como o fariseu da parábola! Isto é abo-
que, o reconhecimento humilde de que minável a Deus, pois, nos afasta d’Ele, im-
se é pecador, é agradável a Deus. Não o pedindo o nosso crescimento espiritual.
sentimento de orgulho e de desprezo a
outros.
Aplicação a sua vida: É possível crescer
Ali estavam o fariseu e o publicano no no relacionamento com Deus sendo como
templo. o fariseu? Por quê?
O publicano era considerado impuro
diante de Deus, pois, não praticava os de- O reconhecimento do nosso pecado,
veres e rituais religiosos. Era, no entanto, e a nossa contrição, com desejo profundo
humilde, reconhecendo-se pecador e ne- de ser o que Deus quer de nós, fará com
cessitado da misericórdia de Deus. que Ele nos tome nos braços e nos ajude
O fariseu, no entanto, que cumpria a crescer em direção ao Seu ideal.
com rigor as regras da lei mosaica, julga-
va-se superior e desprezava aqueles que
Conclusão
não tinham o seu modo de viver. Talvez
aquele fariseu fosse até sincero. Julgava- Vimos neste estudo algumas parábo-
se realmente melhor por cumprir a lei. las contadas por Jesus nesta parte do seu
Só que ele mostrava com isso que não ministério, quando Ele estava na Pereia
conhecia a Deus e que julgava apenas de ou indo para Jerusalém. No próximo es-
acordo com a aparência exterior, não per- tudo veremos alguns fatos do Seu minis-
cebendo o orgulho, a falta de misericór- tério nesta região.
dia, e a pobreza de amor que habitavam
Que Deus nos dê a humildade que
o seu coração.
nos abra à Sua graça!
O publicano, cheio de humildade, re-
conhecia o quanto necessitava da graça _________
de Deus, o que não acontecia com o fa- (1) Gioia Egídio. Notas e Comentários à Harmonia
riseu. Lemos na Bíblia: “Deus se opõe aos dos Evangelhos. RJ: JUERP, 1969

74 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 22

Leituras Diárias
Lucas 17.11-19
JESUS É VIDA QUE LIBERTA
Segunda
Terça João 11.1-14
Quarta João 11.14-27
O Ministério de Jesus na Pereia - Quinta João 11.28-44
Fatos importantes Sexta Lucas 18.18-24
Sábado Lucas 19.1-10

Introdução
tos. Ele curava por sentir compaixão das
No estudo anterior, dissemos que o
ministério de Jesus na Pereia está nar- pessoas. Ele satisfazia a necessidade das
rado principalmente em Lucas 13.22 a pessoas e não Suas próprias necessida-
19.28, havendo poucos fatos relaciona- des, como pode acontecer hoje com mui-
dos e esta fase em outros evangelhos. tos de nós que desejam com suas obras
atrair audiências, receber agradecimen-
Enquanto no estudo anterior vimos tos, atenção, notoriedade, etc. Com Jesus
algumas parábolas ensinadas por Jesus, nunca acontecia isto.
agora veremos alguns fatos desta parte
do seu ministério, alguns narrados em Neste milagre, vemos que apenas um
Lucas e um contado pelo evangelista voltou para agradecer, o que nos ensina
João. Antes de passarmos ao estudo dos que o grupo dos que não revelam grati-
fatos que serão vistos neste estudo, exa- dão é sempre maior do que o grupo dos
mine o texto de Lucas indicado acima e agradecidos. Jesus se agrada de um cora-
identifique todos os fatos encontrados ção grato, não em Seu próprio benefício,
aí. mas por saber que a pessoa agradecida
receberá bênçãos maiores.
1. Jesus faz o bem, sem visar gratidão -
Leia Lucas 17.11-19 Aplicação a sua vida: Em qual grupo
Vemos aí que Jesus não curava para você está? Quais bênçãos você tem recebi-
receber qualquer forma de retribuição, do sem agradecer e, às vezes, sem mesmo
nem mesmo para receber agradecimen- notar?

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 75
|| 75
| J E S U S É V I D A Q U E L I B E R TA

Muitas pessoas não recebem as bên- do Filho de Deus ameaçavam as suas ati-
çãos mais preciosas de Deus (as espiritu- vidades e posições.
ais) por não terem o coração preparado
A presença de Jesus em nossas vidas
para isso. Dos que receberam a cura, o
sempre ameaçará aquilo que para nós é
samaritano foi mais abençoado, pois, não
ídolo. Mas os ídolos escravizam, não nos
apenas o seu corpo, mas sua alma foi to-
dão a verdadeira alegria, e um dia nos
cada, além de ter tido mais um contato
deixarão totalmente desamparados.
com Jesus.

2. Jesus é a Vida - Leia João 11.1-48 Aplicação a sua vida: Quais ídolos você
Quando Jesus estava na Pereia, soube ainda percebe em sua vida?
que seu amigo Lázaro estava enfermo.
Foi, então, à Betânia, na Judeia. Jesus es-
tava numa fase de grande popularidade Apesar de ter estado em Betânia,
e de grande pressão em Seu ministério. Jesus se dirigiu depois para longe de
Era perigoso para Ele voltar à Judeia, pois, Jerusalém, pois, ainda não era chegada a
poderia ser perseguido e talvez até mor- Sua hora, embora esta já estivesse muito
to. Os discípulos sabiam disso e o próprio próxima.
Tomé disse aos outros no versículo 16:
“Vamos nós também para morrer com Ele”.
3. Jesus quer a nossa libertação - Leia
Ao chegar à casa dos Seus amigos e Lucas 18.18-24 e 19.1-10
encontrar Lázaro já morto, Jesus realizou
o grande milagre de trazer à vida alguém Temos aí dois fatos interessantes
já morto há quatro dias. Isto causou desse período do ministério de Jesus: o
grande sensação. encontro d’Ele com duas pessoas muito
diferentes uma da outra. O jovem rico e
Este texto faz-nos ver não apenas o o publicano Zaqueu.
poder de Jesus ao realizar este milagre,
mas outros aspectos a respeito d’Ele. Façamos um paralelo ligeiro entre es-
sas duas pessoas tão diferentes do ponto
- Ele é vida. Quem está n’Ele não ex-
de vista social e religioso, mas ambas tão
perimentará a morte eterna (vs. 25-26).
profundamente necessitadas da graça do
- Ele tinha emoções como qualquer Senhor.
ser humano: comovia-se, chorava, sofria
(vs. 33-35, 38). - O jovem era corretíssimo e guarda-
va criteriosamente toda a lei de Moisés,
- Ele tinha uma dependência profun- desde muito cedo em sua vida. Zaqueu
da de Deus e disso dava sempre testemu- era um homem de péssima reputação na
nho (vs. 41-42). sociedade e acumulara muitas riquezas,
Muitos creram n’Ele após este milagre cobrando impostos do seu povo - o ju-
(v. 45). Outro resultado do milagre, no deu - para o povo romano que oprimia os
entanto, foi que os fariseus e sacerdotes judeus. E cobrava além do devido, atra-
passaram a desejar mais ainda matar a vés daqueles a quem ele chefiava. Era
Jesus (vs. 47-48). A presença e as ações considerado um “pecador”.

76 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
J E S U S É V I D A Q U E L I B E R TA |

- O jovem rico era muito correto, pa- para a transformação e o crescimento, do


recendo confiar na sua própria bondade que a opinião de pessoas legalistas que
e correção, não percebendo o seu pro- acabam se tornando desumanas.
fundo egoísmo. Preso às riquezas, não
O que é ser verdadeiramente huma-
estava disposto a renunciar uma posi-
no, senão ser o humano conforme o ideal
ção confortável em favor de outros. Não
de Deus? E qual é o ideal de Deus para
se deixou tocar pela graça, talvez por se
nós? Não é que tenhamos a Sua imagem
julgar muito correto. Zaqueu talvez se
em nós, que foi danificada na queda, o
considerasse um pecador e, por isso, a
mais restaurada possível? E qual o mo-
presença de Jesus na sua casa o tocou
delo de ser humano perfeito, senão Je-
profundamente. Ele estava pronto a ser
sus?
tocado pela graça e a renunciar aquilo
que até ali ele julgara tão importante. O - Ninguém que é tocado pela graça
toque da graça o transformou. deixa de sentir, como efeito da transfor-
mação que ela causa, além da alegria,
- O jovem rico confiava em sua justiça,
o desejo de corrigir-se e de doar de si
julgando-se bom porque cumpria a lei.
aos outros. Como você percebe, tudo
Zaqueu considerava-se um pecador e sa-
isto aconteceu aí com Zaqueu. Conhecer
bia que, para ser perdoado, precisava da
verdadeiramente a Jesus provoca trans-
misericórdia de Deus.
formações que nos humanizam e nos
Muitas lições podemos tirar desses alegram!
dois encontros de Jesus.
Do encontro de Jesus com o jovem Aplicação a sua vida: O que está impedin-
rico, aprendemos que: do que Deus opere transformações em sua
- Precisamos ter cuidado com as coi- vida?
sas que consideramos preciosas em nos-
sas vidas, pois, estas poderão fazer com
Conclusão
que percamos o que é muito mais va-
lioso. Não devemos inverter os valores, Jesus termina o Seu ministério na Pe-
desprezando o espiritual em função do reia. Aproximam-se agora seus últimos
material, trocando o essencial e eterno dias sobre a terra. Veremos nos próximos
pelo que é secundário e transitório. estudos sua última semana de vida ter-
rena. Caminhará para Jerusalém como a
- Jesus quer nos libertar da escravi-
ovelha que vai para o matadouro. Sabe
dão. Aquele moço era um escravo de
que ali estarão Seus dias de agonia, sofri-
suas riquezas e infeliz por causa disso.
mento e morte. Mas, era necessária a Sua
Saiu triste. Veio buscar segurança e ale-
submissão ao Pai, isto é, ao cumprimento
gria, e saiu sem elas.
do projeto divino, que era o Seu próprio
No encontro com Zaqueu, o publica- projeto, já que Ele e o Pai, em Suas pró-
no, observamos que: prias palavras, são UM (Jo.10.30 e 14.9 e
11).
- As pessoas murmuravam, isto é, fa-
lavam mal de Jesus por haver Ele entrado Ir a Jerusalém significava levar a ter-
na casa de um homem de má reputação mo a sua dolorosa e sublime missão até o
na sociedade. Novamente, Jesus valoriza fim. Isso significaria a Sua vitória e o nos-
mais o ser humano que está disponível so supremo bem.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 77
ESTUDO 23

Leituras Diárias
Segunda João 12.12-19

JESUS SOFRE, Terça


Quarta
Marcos 11.12-19
João 12. 20-30

RECONHECENDO O QUE Quinta


Sexta
João 14.15-17
João 15.1-5

O AGUARDA Sábado João 14.6-11

A Última semana na vida de gitavam se Ele iria ou não à festa. O cerco


Jesus - Domingo e Segunda-feira se apertava em torno de Jesus (Leia João
11.55-57).

Introdução Este estudo abrangerá o domingo e a


segunda-feira.
Neste e nos dois próximos estudos,
veremos a última semana da vida terrena Jesus chegou no final da semana an-
de Jesus. Eles foram divididos pelos dias terior à páscoa, na casa de Seus amigos
da semana. Para isto, consultei o livro Marta, Maria e Lázaro, em Betânia, e ali
“Introduccion al estudio del Nuevo Testa- passou o sábado. Ali foi homenageado
mento” do autor H. I. Hester, que consta por Maria, que lhe perfumou os pés com
das Referências Bibliográficas, ao final. um caríssimo perfume (Jo. 12.1-3).

Esta última semana foi de muitas Betânia distava de Jerusalém, apro-


atividades e de trágicos sofrimentos na ximadamente, três quilômetros. No do-
vida de Jesus. A páscoa dos judeus foi mingo e na segunda-feira, vários fatos
na sexta-feira em que Jesus foi crucifica- tiveram lugar na vida de Jesus, na cidade
do. Como o dia judaico começa com o de Jerusalém. Vejamos tais fatos.
pôr do sol do dia anterior, a partir do pôr
do sol de quinta-feira já a páscoa era ce-
1. A entrada triunfal - Leia João 12.12-
lebrada. Em João 12.1 lemos que Jesus
19
foi a Betânia seis Dias antes da páscoa.
Provavelmente foi na sexta-feira da se- Após passar o sábado em Betânia,
mana anterior e aí Ele passou o sábado. Jesus corajosamente foi no dia seguinte
Enquanto isto, em Jerusalém muitos co- a Jerusalém. Foi quando se deu a Sua

78
78 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
JESUS SOFRE, RECONHECENDO O QUE O AGUARDA |

entrada triunfal. Chegou montado num Transcrevemos aqui um texto do


jumentinho. Assim se cumpriu o que le- Novo Comentário da Bíblia:
mos em Zacarias 9.9. A multidão O acla-
“Ele agia mais uma vez na Sua fun-
mara, espalhando ramos de palmeira.
ção de Messias. Nesta ocasião o pátio
Era a semana da páscoa e a cidade es- dos gentios serviu de palco para a cena.
tava cheia. A Sua fama se espalhara de Naquele pátio havia um mercado para a
forma estrondosa, especialmente depois venda de objetos necessários ao templo,
da ressurreição de Lázaro. Muitos ainda e um câmbio onde se obtinha dinheiro
estavam esperando que Ele fosse o líder judaico, visto que não se aceitava no re-
político que libertaria Israel do Império cinto sagrado, tributo pago em moedas
Romano.
pagãs. Estas provisões aparentemente
Ao vir montado num simples jumento razoáveis abriram, no entanto, uma por-
em vez de montar num imponente cava- ta para a hierarquia extorquir dinheiro e,
lo, Ele anunciava que vinha numa missão ao mesmo tempo, para o povo regatear
de paz, pois este era o significado do Seu os animais como se fosse bazar oriental,
ato. E, ao chegar cumprindo uma profe- com o consequente prejuízo dos peregri-
cia, estava proclamando ser o Messias. nos. Parece que alguns usavam o recinto
Acabado o domingo, Jesus voltou a Be- como atalho entre a cidade e o Monte
tânia, indo passar a noite na casa de Seus das Oliveiras (v.16), minúcia esta notada
amigos (Mc. 11.11). somente por Marcos. ”(2)
Na época da páscoa, havia muita gen-
2. Dois fatos ocorridos na segunda-feira te em Jerusalém e os animais vendidos
- Leia Marcos 11.12-19 no templo tinham a garantia de serem
aceitos para o sacrifício, pois, estes de-
Na segunda-feira, novamente Jesus veriam ser animais sadios e perfeitos. Os
foi a Jerusalém. O primeiro fato narra- vendedores exploravam, por isso, espe-
do neste texto foi a maldição da figuei- cialmente os que vinham de longe. Isto
ra. Este milagre tem sido criticado por
provocou a indignação, a ira de Jesus,
alguns porque esta não era época de fi-
pois, via que, por motivos egoístas da
gos. “Contudo consta que na Palestina a
classe mais alta, muitas criaturas amadas
figueira dá fruto temporão, verde e imatu-
por Deus eram prejudicadas.
ro, que aparece antes das folhas e serve de
alimento para os camponeses. A ausência
desse fruto seria evidência inegável da es-
terilidade da árvore”.(1) Aplicação a sua vida: Quando você se ira,
isto é sempre resultante do seu senso de
Este fato era uma lição para os israeli- justiça ao ver outras pessoas sendo prejudi-
tas, pois, a figueira era símbolo da nação. cadas, ou tem por causa motivos egoístas e
A nação, embora abundante em folhas pecaminosos, como o orgulho ferido ou in-
de aparência religiosa, não produzia fru- teresses pessoais prejudicados? Examine-
tos de justiça. se nos momentos de ira para se conhecer
O segundo fato dessa segunda- melhor. Talvez este seja um caminho para
feira, narrado por Marcos, foi a purifica- as transformações que Deus quer operar
ção do templo. em sua vida.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 79
| JESUS SOFRE, RECONHECENDO O QUE O AGUARDA

3. Gregos querem ver Jesus - Leia João Nos versículos 24-26, embora fa-
12. 20-30 lando do Seu próprio sofrimento e morte,
Jesus está falando também daquele que
Jesus foi procurado por alguns gregos
deseja segui-lo, conforme Mateus 10.39.
que desejavam vê-lo, ainda na segunda-
A vida que se doa é a vida que produz.
feira, segundo H. I. Hester.
É preciso renunciar para ter. O ser hu-
Estes gregos eram prosélitos (3), pois, mano pecador está dividido. Deseja a
o v. 20 diz que eles também foram adorar. comunhão com Deus e ter uma vida que
Eles procuraram a Filipe, talvez por ser O sirva, mas sente também atração pelas
este de Betsaida da Galileia, onde havia solicitações vindas de um mundo peca-
muitos gregos. Filipe falou a André e am- dor. Ele precisa perder o que deseja a sua
bos se dirigiram a Jesus. O Mestre, então, natureza pecaminosa, para tomar posse
dirigiu-lhes a palavra, expressando-lhes o daquilo que vai satisfazê-lo plenamente.
que lhe iria acontecer nos próximos dias,
como também a grande angústia que to-
mava conta de Sua alma. Disse-lhes que Aplicação a sua vida: Em quais circunstân-
a hora de Sua glorificação chegara (v. 23), cias você tem demonstrado que se dispõe a
mas que, antes disto, haveria muita humi- perder para ganhar?
lhação e sofrimento (v. 24).

Parece que Jesus viu na vinda dos gre-
gos as primícias da grande colheita que Conclusão
virá a partir de Seu sofrimento, morte e Este estudo apresentou algumas coi-
ressurreição. Por isso, Ele proclamou a sas que aconteceram no domingo e na
grande verdade do versículo 24: “Na ver- segunda-feira da última semana da vida
dade, na verdade vos digo que, se o grão terrena de Jesus. No final do dia, Ele no-
de trigo, caindo na terra, não morrer, fica vamente foi repousar na casa de Seus
ele só; mas se morrer, dá muito fruto”. A amigos, em Betânia. Marcos diz apenas
grande colheita de almas remidas, entre que Ele se retirou da cidade (11.19) e Ma-
judeus e gentios, deveria ser precedida teus diz que Ele foi para Betânia (21.17).
de Sua morte.
Jesus falou da sua angústia e decla-
_______
rou que para isso Ele veio, não podendo (1) O Novo Comentário da Bíblia - Vol. II - Ed Vida
pedir ao Pai que O salvasse dessa hora. Nova - Pag. 1012
Em intenso sofrimento, recebeu a confir- (2) O Novo Comentário da Bíblia - Vol. II - Ed Vida
Nova - Pág. 1013
mação dos céus de que era necessário o (3) Prosélitos - Palavra que no NT se aplica aos
cumprimento de Sua missão. pagãos convertidos ao judaísmo.

80 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Estudo 24

Leituras Diárias
Segunda Mateus 23.12-15
ENSINANDO ATÉ O FIM Terça
Quarta
Mateus 23.23-28
Mateus 26. 17-30
João 13.1-20
A última semana na vida de Jesus Quinta
Sexta Mateus 26. 36-46
Terça, Quarta e Quinta-feira Sábado Mateus 26.47-56

Seus discípulos e transmitiu-lhes muitos


Introdução
ensinamentos. Dali não sairia mais, en-
Veremos neste estudo a terça, quarta frentando todos os horrores do final de
e quinta feiras da última semana de Je- Sua vida terrena entre nós.
sus neste mundo. A terça-feira foi um dia
cansativo e de muitos confrontos, quan-
do Jesus ensinou através deles. Muitos 1. Muitos ensinos na terça-feira
são os relatos bíblicos sobre aconteci-
Terça-feira foi um dia exaustivo e pe-
mentos e ensinos na terça-feira. Por isso,
noso. Jesus chegou cedo a Jerusalém,
há neste estudo referências a muitos ca-
havendo ensinado aos Seus discípulos
pítulos de Mateus, apenas para que você
sobre a fé, quando estes viram a figuei-
tenha uma visão geral da intensidade
ra que fora amaldiçoada na véspera (Mc.
das atividades de Jesus na terça-feira. À
11.20-24). Foi um dia de confronto, de
tardezinha foi novamente para Betânia,
controvérsias. Os inimigos tudo fizeram
onde esteve à noite e todo o dia de quar-
para pegá-lo em alguma armadilha. Re-
ta-feira, voltando a Jerusalém somente
gressou a Betânia tarde.
na quinta-feira.
No domingo e na segunda-feira, Je-
Os evangelhos não falam de nenhu-
sus havia assumido sua posição de Mes-
ma atividade na quarta-feira. Ele deve ter
sias. Isto precipitou o desejo dos líderes
passado esse dia em oração e reflexão,
judaicos de pegá-lo nalguma falta, para
preparando a Si mesmo e aos Seus discí-
terem de que O acusar, condenando-O à
pulos para o que aconteceria a seguir.
morte. Membros do sinédrio, como tam-
Na quinta-feira, Jesus foi outra vez bém vários outros fariseus, herodianos e
para Jerusalém, celebrou a páscoa com saduceus, através de perguntas capcio-

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 81
|| 81
| E N S I N A N D O AT É O F I M

sas, embora aparentemente ingênuas, seus discípulos para o que lhe aconte-
puseram Jesus à prova. Tudo fizeram ceria na quinta e sexta-feiras. Enquanto
para deixá-lo mal diante do povo. isso, os líderes judaicos planejavam pe-
gá-lo para O matarem. Mais tarde, vemos
Examine ligeiramente os textos indi-
Jesus, já em Betânia, sendo ungido por
cados a seguir, para que você tenha ideia
uma mulher, que João parece identificar
da intensidade das atividades de Jesus
como Maria, irmã de Marta e Lázaro (Jo.
neste dia.
12.2-3).
a) Em Mateus 21.23 a 22.40 temos
Houve crítica por parte dos discípulos
algumas das perguntas feitas a Jesus.
ao uso de um perfume tão caro ali. João
- A primeira foi sobre sua autoridade identifica o autor da crítica como Judas e
(21.23-27). Ele contou, então, três pará- diz que ele, como tesoureiro, queria de-
bolas que ilustravam a atitude dos líderes positar dinheiro na bolsa do grupo para
judaicos (21.28 - 22.14). roubá-lo (Jo. 12.4-6). O relato de Mateus e
o de João referem-se ao mesmo fato.
- A segunda foi sobre o pagamento de
tributo a César (22.15-22). O dia de terça-feira foi, portanto, mui-
to cheio. Desde cedo, na vinda, com os
- A terceira foi sobre a ressurreição
ensinamentos sobre a figueira que havia
(22.23-33).
secado; depois, os confrontos e ensina-
- A quarta foi sobre o principal dos mentos no templo; por fim, a volta para
mandamentos (22.34-40). Betânia, sendo ungido na casa de Simão.
Jesus respondeu a todas com sabedo- Quarta-feira foi um dia sobre o qual
ria, de tal maneira que deixou a multidão não temos nenhum fato registrado nos
admirada e encantada. evangelhos. Foi um dia, talvez em Be-
tânia mesmo, de preparação para o que
b) Em Mateus 23.1-39 Jesus fez pe-
viria.
sado discurso, denunciando a hipocrisia
dos escribas e fariseus. Depois, Ele ob- Nos dois próximos ítens veremos fa-
servou e elogiou a oferta da viúva pobre, tos que ocorreram na quinta-feira.
fato observado apenas por Marcos e Lu-

cas (Mc. 12.41-44 e Lc. 21.1-4).
2. Ceia do Senhor com lição de humil-
c) Em Mateus 24-25, temos três dis- dade, despedidas, ensinos e oração sa-
cursos de Jesus. cerdotal - Leia Mateus 26.17-30 e João
13.1-20
1º) Sobre a destruição de Jerusalém
(Mt. 24.1-35). Isto veio a ocorrer mais ou Jesus celebrou a ceia pascal, que se
menos trinta anos depois. transformou em Ceia do Senhor para os
cristãos. Aqueles que já eram Seus discí-
2º) Sobre sua vinda, com exortação à
pulos e outros milhares, que O seguiriam
vigilância através das parábolas das dez
após a Sua morte e ressurreição, tem
virgens e dos talentos (Mt.24.36 - 25.30).
celebrado a Ceia do Senhor com todo o
3º) Por último, sobre o último julga- simbolismo cristão que conhecemos, o
mento (Mt. 25.31-46). Foi um dia emo- qual nos foi transmitido pelo próprio Je-
cionalmente muito difícil. Depois disto sus e seus primeiros seguidores.
foi para Betânia.
O Evangelho de João nos mostra, du-
Em Mateus 26.1-16, vemos, ainda na rante a ceia, Jesus lavando os pés dos dis-
terça-feira, primeiro Jesus preparando cípulos - a grande lição de humildade e
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E N S I N A N D O AT É O F I M |

de serviço que eles jamais esqueceriam. No Getsêmane, Jesus recomendou


Para os discípulos, foi chocante ver Jesus aos Seus seguidores: “Vigiai e orai para
fazendo um trabalho de escravo. Mas, Ele que não entreis em tentação” (v. 41). Deus
ensinava com isso que no Seu reino os tem propósitos para a nossa vida, dos
valores são diferentes dos valores deste quais somos sempre tentados a nos des-
mundo. O maior é o que serve. Devia-se viar.
procurar servir e não ser servido. A partir Temos nós resistido a tais tentações?
do versículo 21 de João 13, o traidor é re-
velado e Pedro é avisado de que negaria Depois da terceira vez que orou em
o Senhor. extrema angústia as mesmas palavras,
Jesus serenamente anunciou aos Seus
João, nos capítulos 14 a 17 do seu discípulos que Sua hora era chegada.
Evangelho, nos mostra Jesus, ao se des-
pedir de Sua vida terrena, transmitindo Então Judas se aproximou com mui-
outros ensinos a Seus discípulos e oran- tas pessoas da parte dos líderes do povo
do por eles. judeu. Jesus foi preso. Um dos discípu-
los, identificado como Pedro por João (Jo.
18.10), feriu o servo do sumo-sacerdote,
Aplicação a sua vida: Jesus, o grande Mes- sendo repreendido por Jesus. O nosso
tre, ensinou o tempo todo, com Seu modo Mestre nos ensina a trilharmos o cami-
de viver e Seus pronunciamentos. Quais nho da não violência, a sermos pacifica-
atitudes demonstram em você o desejo de dores.
aprender com Jesus? E como você tem de-
monstrado em sua vida esse aprendizado? Conclusão
Assim passaram-se terça, quarta e
3. Jesus no Getsêmane - Leia Mateus quinta feiras daquela fatídica semana.
26. 36-56 Lembra-se dos principais acontecimen-
tos desde o domingo? Veja:
Aqui vemos o sofrimento de Jesus
atingindo uma intensidade indescritível. - domingo: entrada triunfal em Jeru-
A hora final se aproximava, quando Ele se salém;
ofereceria como holocausto pelos nossos
- segunda-feira: a figueira é amaldiço-
pecados. A Sua alma estava extrema-
ada, a purificação do templo, os gregos
mente angustiada. Seu desejo era fugir procuram Jesus;
da cruz. Mas, para isso veio.
- terça-feira: os discípulos se admiram
Durante toda a Sua vida, Jesus foi de que a figueira haja secado, respostas
tentado a desviar-se da cruz. Para isso, o a perguntas e ensinamentos no templo,
diabo lutou com Ele na tentação após o Jesus é ungido em Betânia;
batismo; para isso, usou o povo que quis
fazê-lo rei; para isso, usou até Pedro quan- - quarta-feira: provavelmente, oração
do aconselhou Jesus a não deixar que e contato com os discípulos em Betânia;
coisas tão penosas lhe acontecessem. E busca de força para enfrentar os momen-
agora esta agonia, esta angústia, esta tos finais;
dor inominável... Mas Jesus tinha plena - quinta-feira: celebração da ceia, mui-
consciência de Sua missão e iria cumpri- tos ensinamentos, despedidas, oração sa-
la. Ele mesmo disse: “Eu sou o bom pastor; cerdotal, Jesus ora no Getsêmane e ali é
o bom pastor dá a Sua vida pelas ovelhas” traído e preso. Aproxima-se o doloroso
(Jo. 10.11). final.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 83
ESTUDO 25

Leituras Diárias
Segunda Mateus 26.57-75
Terça Mateus 27.1-31

O FINAL DA VIDA TERRENA Quarta


Quinta
Mateus 27.32-44
Mateus 27.45-56

DE JESUS Sexta
Sábado
Mateus 27. 57-61
Filipenses 2.5-11

A última semana na vida de Jesus


- Sexta-feira e Sábado 1. Jesus perante as autoridades judai-
cas - Mateus 26.57-75
Apanhado na quinta-feira à noite por
Introdução
guardas e outras pessoas, todos envia-
No estudo anterior, vimos que na dos pelos líderes judaicos e guiados por
quinta-feira Jesus celebrara a Páscoa com Judas Iscariotes, Jesus foi levado até Cai-
Seus discípulos e se despedira deles com fás. Só João narra que, antes de ser con-
uma grande lição de humildade, e depois duzido a Caifás, que era o sumo-sacerdo-
com vários ensinos e oração (Jo. 14-17). te, levaram-no a Anás, o sogro de Caifás.
A seguir, ainda na quinta-feira, Jesus so-
Os membros do Sinédrio se reuniram
freu a Sua agonia no Getsêmane, sendo
para julgar Jesus. Foi um julgamento, se-
preso e entregue às autoridades por uma
gundo os estudiosos, totalmente ilegal,
multidão chefiada por Judas Iscariotes.
já que além das testemunhas contra Je-
Neste estudo, veremos a sexta-feira e sus serem completamente tendenciosas,
o sábado. Sexta-feira, o dia tenebroso em não havia testemunha favorável a Ele.
que o maior sofrimento já enfrentado por Além disso, Jesus fora arrastado até ali,
um ser humano aconteceu. Sábado, o dia sem que pesasse sobre Ele uma acusação
em que o corpo de Jesus passou no tú- formal.
mulo. Para os discípulos, dia de silêncio,
Durante aquela madrugada, um fato
de espanto, de desamparo, de desolação,
envolveu o apóstolo Pedro e que nos traz
de decepção, de tristeza, de medo. O dia
muitas lições - Leia Mateus 26.69-75
de sofrimento que antecedeu ao maior
e mais surpreendente acontecimento já Ali no pátio, perto de onde Jesus esta-
visto sobre a terra. va, Pedro foi indagado, por várias vezes,

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O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS |

se pertencia ao grupo de Jesus, ao que Jesus mandou que ele apascentasse


ele negou categoricamente. Após negar Suas ovelhas. Deus nos usa quando de-
por três vezes que era um seguidor de sejamos de coração a Sua vontade, reco-
Jesus e ouvir o galo cantar, Pedro se lem- nhecendo, no entanto, as nossas fragili-
brou de que Jesus lhe dissera que ele O dades e entregando-nos a Quem pode
negaria três vezes (Mt. 26.33-35). nos encher de poder e graça.

Algumas observações sobre Pedro: Mais tarde, cheio do Espírito Santo,


Pedro se tornou corajoso, mas sabia que
- Pedro seguia Jesus de longe. Estava esta coragem não vinha dele e, por isso,
amedrontado. Quando seguimos Jesus não poderia ficar vaidoso.
de longe, nossa fé se enfraquece, nossos
temores aumentam. Somos fracos e temos de viver sem-
pre sob a graça de Deus.
- Pedro estava na companhia de ini-
migos de Jesus. Se, principalmente em
nossos momentos mais vulneráveis, an- Aplicação a sua vida: É apenas para exe-
damos com aqueles que amam a Jesus, cutar algum trabalho extraordinário que
nossa fé se fortalece e nos sentimos en- devemos confiar na força que Deus dá ou
corajados. Mas, ele estava com estranhos em qualquer área do nosso viver, seja em
e adversários. casa ou na sociedade? Em quais ocasiões
você tem se percebido cheio de confiança
Lucas registra que Jesus, após Pedro
em sua própria força e capacidade?
lhe haver negado pela terceira vez, olhou
para ele. Isto quebrantou o coração de
Pedro, que saiu para chorar fora dali. Es- 2. Jesus perante Pilatos - Mateus 27.1-
tava arrependido e decepcionado consi- 31
go mesmo.
Pela manhã, bem cedo, o Sinédrio se
Pedro estava se confrontando com o reuniu para julgar Jesus e, após O julga-
que havia feito e conhecendo-se melhor. rem digno de morte, mesmo sem ne-
Ele, que dissera a Jesus que o seguiria até nhuma acusação formal contra Ele, O en-
à morte, sem negá-lo (Mt. 26.35), agora viaram a Pilatos. Vemos neste texto que
teve que admitir sua fragilidade e covar- Pilatos concordou com a morte de Jesus,
dia. apesar de saber que Ele era justo. Tinha
medo da multidão e das autoridades ju-
Depois da ressurreição, num diálogo
daicas. Queria estar bem com todos e
com Pedro (Jo. 21.15-17), Jesus lhe per-
conservar seu poder.
guntou por três vezes (tantas vezes quan-
tas ele O negara), se ele O amava. Pedro Lucas diz que Pilatos enviou Jesus
hesitou em responder e, quando respon- a Herodes Antipas, que governava a
deu que o amava, usou em grego, um Galileia e estava em Jerusalém naqueles
verbo diferente do que Jesus usou. Este dias. Nenhum crime foi visto em Jesus e
não significava amar profundamente, a Ele foi novamente enviado a Pilatos que,
ponto de se sacrificar por Ele. Pedro esta- pressionado pela multidão, O entregou à
va agora quebrantado, humilde. Amava morte (Lc. 23.6-25).
a Jesus, mas não confiava em si mesmo, Depois que Pilatos se dobrou aos
como antes. Precisaria depender de desejos da multidão e das autoridades
Deus para isso. judaicas, Jesus foi açoitado e entregue
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 85
| O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS

aos soldados romanos que d’Ele escarne- prontos para usufruir da superabundante
ceram. graça do Senhor. Só quando reconhecer-
mos a nossa fraqueza, é que nos tornare-
Quando interesses mesquinhos e pe-
mos mais fortes.
caminosos nos levam a tomar decisões,
estas acabam nos trazendo a infelicida-
de. Foi o caso de Pilatos que, embora Aplicação a sua vida: O que em você o
alertado pela mulher dele, teve medo de está impedindo de ser tocado pela graça
perder o poder. Foi o caso de Judas, que de Deus?
traiu a Jesus por dinheiro.

Será que podemos acusar Judas, Pi-
latos e autoridades religiosas, ou temos 3. A crucificação - Mateus 27.32-66
de nos sentir todos, como diz Sttot.(1), Neste texto, temos a crucificação de
culpados pela morte de Jesus? Quantas Jesus. Esta era uma forma de condenar
vezes já traímos a Jesus, deixando de à morte os piores criminosos. A crucifi-
defender os interesses do Seu reino, por cação, além de humilhante, era inenarra-
motivos egoístas e covardes muito mais velmente dolorosa. Os pés e as mãos do
fáceis de resistir do que os motivos de Pi- criminoso eram pregados com cravos e o
latos, Judas e das autoridades religiosas? corpo pendurado ficava em agonia até à
Nesse caso, podemos garantir que não morte.
faríamos o mesmo se estivéssemos no
lugar dessas pessoas? Foi este o tipo de morte do nosso Se-
nhor amado. Alguns fatos sobre a cruci-
O que precisamos é reconhecer nos- ficação são narrados por um e não por
sas fragilidades e depender do Espírito outros evangelistas. Se você quiser fazer
de Jesus para nos dar a força necessária um estudo mais completo, deve consul-
para vivermos uma vida sincera e íntegra, tar os quatro Evangelhos.
que O alegre e dê testemunho d’Ele a
este mundo tão carente. Jesus é maltratado aí por três grupos,
como diz Tasker: os pecadores ignorantes
Se nos sentirmos melhores que qual- (vs. 39-40), os pecadores religiosos (vs.
quer pessoa, nosso acesso à infinita graça 41-43) e os pecadores condenados (vs.
de Deus fica prejudicada, pois, Ele rejeita 44).(2)
os soberbos, mas aos humildes dá graça
(Tg. 4.6). Todos nós fazemos parte des- Alguns fenômenos depois da morte
ta humanidade pecadora e, de alguma de Jesus foram:
forma, por ação ou omissão, somos cul- - Trevas da hora sexta à hora nona: de
pados por todos os pecados que aconte- meio-dia às três da tarde (v. 45).
cem no mundo. Se em alguns aspectos
- O véu do templo que dava acesso ao
nos portamos melhor que outros, isto
Santo dos Santos, onde só o sumo sacer-
nos acontece pela graça divina. Pense
dote, apenas uma vez por ano, entrava
nisto!
para ser o mediador entre Deus e os ho-
O inimigo das nossas almas não de- mens, se rasgou (v. 51). O fato é relatado
seja que reconheçamos quem somos, também por Marcos e tem grande signi-
porque só quando o fizermos em verda- ficado para os cristãos. O véu, que inter-
deira e completa humildade, estaremos ditava ao povo o lugar mais sagrado do

86 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS |

templo, estava rasgado. A barreira que Conclusão


separa os pecadores de Deus foi desfeita
pela morte vicária de Jesus. Os fatos relacionados aqui e que mos-
tram o sacrifício de Jesus aconteceram
- A visão de pessoas ressurretas (vs.
até o final da sexta-feira. No sábado não
52-53).
acontece nada especial.
Alguns parecem profundamente im-
Há certa ansiedade e temor por parte
pressionados e reconhecem Jesus como
das autoridades que mandaram guardar
Filho de Deus.
bem o sepulcro de Jesus. Há tristeza,
Já no final do dia de sexta-feira, Jesus frustração e medo no coração dos discí-
foi colocado no sepulcro novo de José de pulos.
Arimateia, que era um homem importan-
É sábado. Aproxima-se o domingo.
te, um senador, membro do sinédrio e
O acontecimento mais extraordinário,
que Mateus diz ser um discípulo de Jesus
mais admirável, mais espantoso está para
(Mt. 27.57-60). João, ao narrar este fato,
acontecer na manhã do dia seguinte. É o
diz também que ele era um discípulo,
que veremos no próximo estudo.
mas ocultava isto por medo dos judeus e
acrescenta que Nicodemos estava junto
com ele, levando especiarias para pre-
parar o corpo de Jesus para a sepultura
(Jo. 19.38-40).
As autoridades, então, mandaram _______
guardar bem o sepulcro (vs. 62-66). Não (1)
STOTT John. A Cruz de Cristo. p.61
queriam que os discípulos roubassem o (2)
TASKER, R.V.G. “Mateus - Introdução e Comentá-
corpo. rio. pp 210-211

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 87
ESTUDO 26

Leituras Diárias
Segunda Mateus 27.62-65
Terça Mateus 28.1-10
O MAIOR ACONTECIMENTO Quarta Mateus 28.11-15
Lucas 24.13-27
Quinta
DE TODOS OS TEMPOS Sexta
Sábado
Lucas 24. 28-35
Lucas 24. 36-43 e Mateus 28.16-20
A ressurreição de Cristo
discípulos de Jesus, planejaram ganhar
o mundo inteiro, arriscando suas vidas,
Introdução em prol de uma mensagem falsa e de um
evento acerca do qual não eram testemu-
Este é o último estudo desta série e
nhas oculares.
focalizará a ressurreição de Cristo e várias
de Suas aparições durante os quarenta Jesus anunciou, antes de Sua morte,
dias, até a Sua ascensão. Serão usados que ressuscitaria e depois, como disse
textos dos vários evangelhos. Lucas, apresentou-se vivo, com muitas
provas incontestáveis (Atos 1.3). Os discí-
A ressurreição de Cristo, diz Paulo, é o
pulos, que antes de verem Jesus ressurre-
acontecimento que dá razão à nossa fé (I
to, eram covardes e medrosos, esconden-
Co.15.14). Embora seja questionada pe-
do-se com medo dos judeus, adquiriram
los céticos, há sobejas razões para que a
novo ânimo e, depois do Pentecostes,
aceitemos como fato histórico. O maior,
espalharam o Evangelho com tal vigor
o mais sublime, o mais extraordinário
que, em pouco tempo, todo o mundo
acontecimento de todos os tempos,
conhecido por eles tinha sido alcançado.
quando a eternidade invadiu a história
Muitos foram martirizados e Pedro disse
humana. Não crer na ressurreição é ne-
que não podiam deixar de falar daquilo
gar, além dos registros dos evangelhos,
que tinham visto e ouvido (Atos 4.20).
fatos históricos que, sem dúvida, foram
Será que alguém se deixaria martirizar
resultantes dela. É acreditar que, mesmo
por algo do qual não tivesse certeza?
sem convicção de que Jesus ressuscitou,
os cristãos primitivos continuaram se reu- Acreditamos na ressurreição de Cristo
nindo a cada Domingo para celebrarem a como um fato histórico. Este teve um im-
ressurreição de Jesus (Jo. 20:1,19,26; I CO- pacto tão grande sobre todos os discípu-
RÍNTIOS 16:2). É acreditar ainda que, os los, que a igreja cristã se espalhou logo

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XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS |

por todo o Império Romano, apesar de Ao chegarem em casa, eles convida-


todas as perseguições que sofreu. ram o viajante para entrar. Na hora da re-
feição, quando Jesus abençoou e partiu
1. As primeiras aparições - Lucas 24.
o pão, eles O reconheceram, mas Jesus
1-45
desapareceu. Naquele momento, eles
Os evangelistas narram diferente- recordaram que, ao ouvi-lo no caminho,
mente as primeiras aparições de Jesus. algo lhes tocou o coração. O cansaço e
O que vemos é que as mulheres são as a tristeza foram embora e eles voltaram
primeiras a saber da ressurreição e vão para Jerusalém. Precisavam comparti-
correndo contar aos discípulos (vs. 1-12). lhar a nova. Ao chegarem ali, encontra-
ram os onze juntamente com outros. Já
Que privilégio! As mulheres foram as
corria entre eles a notícia da ressurreição
primeiras a ver e a anunciar a ressurreição
de Jesus e de uma aparição d’Ele a Pedro.
de Cristo. Como disse alguém, se a nar-
ração da ressurreição fosse uma história Jesus teve que provar que estava vivo.
arranjada, nunca se poderia registrar as Que não era apenas um espírito, mas po-
mulheres como as primeiras a saber da dia ser tocado. Seu corpo, em uma outra
ressurreição, já que eram pessoas menos dimensão, podia aparecer em lugares fe-
dignas de crédito na sociedade, além de chados, embora fosse concreto, real. Je-
consideradas mais sugestionáveis. Estas sus apareceu aos discípulos várias vezes.
mulheres foram anunciar aos onze e a ou- A ressurreição para eles já era um fato.
tros, mas eles acharam que elas estavam Suas vidas começaram a tomar novo
delirando. Devemos estar conscientes de rumo.
que os discípulos não esperavam que Je-
sus ressuscitasse dos mortos (Jo.20.9). A
2. Outras aparições - João 20.24 a 21.14
primeira missão de Jesus após a ressur-
reição foi fazer Seus discípulos acredita- Estes textos nos mostram outras apa-
rem que Ele estava vivo. rições de Jesus.
Lucas relata aí a aparição aos dois no A aparição registrada nos versículos
caminho para Emaús, que era uma aldeia anteriores a este texto (vs. 19-23) parece
distante, aproximadamente, 11 quilôme- ser a mesma registrada por Lucas, após a
tros de Jerusalém. É uma narração linda volta a Jerusalém dos dois que iam para
e emocionante (Lucas 24.13-35). Emaús. Tomé não estava com eles.
Tristes e desanimados, os dois conver- Em João 20.24-28 temos outra apari-
savam sobre o que acontecera a Jesus - ção aos discípulos, estando Tomé presen-
Sua crucificação. Eis que o próprio Jesus te. Ele, que não acreditara e que dissera
apareceu e se pôs a caminhar e conver- que precisava de provas concretas, se viu
sar com eles, como se fosse um simples agora frente a frente com Jesus e excla-
companheiro de caminhada. Eles fala- mou: “Senhor meu e Deus meu” (v. 28).
vam de sua decepção e tristeza, pelo que
havia acontecido com Aquele em quem Às vezes, só acreditamos no que ve-
eles haviam depositado tanta esperança. mos. Mas, Jesus disse: “Bem-aventurados
Afirmaram até que alguns diziam tê-lo os que não viram e creram” (v. 29b).
visto. Naturalmente, eles não acredita- Uma outra aparição foi a sete discípu-
vam nisto. Sem que O reconhecessem, los que estavam na praia (Jo. 21.1-14).
Jesus lhes anunciou as Escrituras. Depois, Jesus apareceu várias outras ve-
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 89
| O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS

zes. Paulo fala de algumas dessas apari- sem dizendo: “vocês tem de olhar para
ções em I Co. 15.4-8. a terra onde há muitas necessidades a
Aqueles discípulos tiveram o teste- serem supridas por aqueles que consti-
munho destas aparições. Nós temos, tuem a igreja do Senhor. ” Será que até
além das Escrituras (Antigo e Novo Testa- hoje não há muitos cristãos mais preo-
mentos), todo um testemunho cristão de cupados e curiosos em descobrir sobre
dois mil anos de história, que nos falam à o futuro do que responsáveis por saber
mente e ao coração. Deus se revela a nós sobre o seu próprio papel no presente?
especialmente através de Jesus Cristo, Nos versículos 4-8 temos uma mensa-
a expressão máxima do Seu amor e da gem semelhante. Os discípulos se mos-
Sua superabundante graça para com os tram preocupados com o tempo em que
pecadores. Recebamos a Sua bendita Jesus restauraria o Reino de Israel. Jesus
mensagem. diz, então, que eles não deveriam estar
preocupados com as coisas futuras, que
3. Jesus, que é UM com o Pai, quer que a estão apenas no poder de Deus realizar.
igreja cumpra sua missão - Leia Mateus Que eles deveriam sim, receber a virtude
28.16-20, Lucas 24.44-53 e Atos 1.1-11 do Espírito e ser testemunhas d’Ele aqui
e agora, agindo sempre em benefício das
No texto de Mateus, vemos mais uma
pessoas.
aparição de Jesus. Pode ser a aparição
à qual Paulo se referiu em I Co. 15.6. Aí Temos nós meras curiosidades sobre
Jesus transmite a chamada “Grande Co- coisas que não estão em nossas mãos
missão” aos discípulos. Este é o comis- realizar, deixando de cumprir o que é a
sionamento para que eles espalhem o nossa missão?
Evangelho por todo o mundo. Promete
também que estaria com eles sempre.
No texto de Atos 1.1-11, vemos a as- Aplicação a sua vida: Você faz parte da
censão de Jesus, após ter recomendado igreja de Jesus Cristo neste mundo? Como
aos discípulos que ficassem em Jerusa- você tem demonstrado que deseja conhe-
lém, pois, um acontecimento muito im- cer a vontade de Deus para sua vida, para
portante ocorreria, inaugurando o mi- que a igreja, através de você, cumpra a sua
nistério do Espírito Santo e preparando missão?
a igreja para o início de sua atuação no
mundo, a partir daí. Jesus continuaria
com eles, não mais em forma humana e
limitada como em Sua encarnação, mas Conclusão
na pessoa do Seu Espírito, que conforme
A ressurreição de Cristo tem um gran-
Ele mesmo falou, lhes ensinaria e lhes
de significado para os cristãos, sendo Ele
transmitiria poder para fazerem coisas
maiores ainda (Jo. 14.12). as primícias dos que dormem

O texto de Atos tem algumas lições (I Co. 15.20-22). Isto significa que res-
importantes para nós. suscitaremos também porque Ele venceu
a morte (I Co. 15.54-56).
- No versículo 11, os homens de bran-
co que viram as pessoas olhando para Aleluia! Não temos um Senhor mor-
cima disseram: “Por que estais olhando to. Ele apareceu a João na ilha de Patmos
para o céu?” Quão significativa pode ser e disse “... fui morto mas agora estou aqui,
esta observação! É como se eles estives- vivo para todo o sempre” (Ap. 1.18).

90 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS |

Antes de Sua morte, Jesus havia de Jesus? Daí para frente, ninguém os
dito a Seus discípulos: “Não vos deixarei seguraria mais na divulgação desta men-
órfãos, voltarei para vós.” (Jo. 14.18). E foi sagem que continua sendo a base da fé
em Jerusalém que o grande fato da mani- cristã até os dias atuais. Glória a Deus!
festação do Espírito Santo, o Consolador, Jesus está vivo e, através do Seu Espírito
aconteceu, como lemos em Atos 2. Jesus Santo, está entre nós. Aleluia! E como
veio aos seus seguidores, na pessoa do seus seguidores, somos chamados a
Espírito Santo, para ficar com eles para reproduzir a Sua vida, o Seu ensino,
sempre. Reconheçamos essa bênção! a Sua pregação, os Seus atos, sendo
sinais da Sua graça neste mundo tão ne-
Os discípulos, cheios de alegria e co- cessitado.
ragem, após o Pentecostes, passaram a
anunciar aquilo que eles tão bem já sa-
biam: Jesus estava vivo! A divulgação tão Aplicação a sua vida: Você deseja aten-
rápida e poderosa do Cristianismo po- der o Seu chamado, cumprindo esta
deria ter acontecido sem a ressurreição sublime missão?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- A Bíblia - versões diversas
- BONHOEFFER, Dietrich. O discípulo. Tradução de Ilson Kaiser. São Leopoldo, sinodal,
2004. 208 págs.
- CARSON, D.A., MOO, Douglas J. e MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento.
Tradução de Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1997. 556 páginas
- DANA, H.E. O mundo do Novo Testamento. Tradução de Jabes Torres. Rio de Janeiro:
JUERP, 1977. 215 págs.
- DAVIS, John D. Dicionário da Bíblia, S.Paulo: Ed. Vida Nova, 1965.
- GIOIA, Egídio. Notas e Comentários à Harmonia dos Evangelhos. RJ: JUERP, 1969. 412
págs.
- GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. Tradução de João Marques
Bentes. São Paulo: Edições Vida Nova, 1ª edição, 1978. 445 páginas
- HESTER, H.I. Introduccion al estudio del Nuevo Testamento. Casa Bautista de Publi-
caciones, 1986. 354 páginas
- DOUGLAS, J.D. (Editor Organizador). O Novo Comentário da Bíblia - Volume II - São
Paulo: Ed. Vida Nova, 1987,
- SHEDD, Russel P. (Responsável pela edição em Português). O Novo Dicionário da
Bíblia - São Paulo: Ed. Vida Nova, 198
- TASKER, R.V.G. Mateus, introdução e comentário. Tradução de Odair Olivetti. Série
Cultura Cristã. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1980, 229 págs.
- STOTT, John. A Cruz de Cristo. Tradução João Batista. São Paulo: Ed. Vida, 2006, 367
págs.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 91
ESTUDO 27

Leituras Diárias
Segunda Mc 1.14-20
CHAMADO PARA SER Terça
Quarta
Mc 3.13-19
Lc 4.18-19
DISCÍPULO Quinta
Sexta
Mc 16.15-16
Mt 6.33; Mc 1.15
Marcos 1.14-20; 3.13-19 Sábado Hb 3.7-8
Domingo Fp 1.1-6

Introdução
(Lc 9.57-62), fazendo a vontade de Deus,
O que é um discípulo? Como ele se
a ponto de aceitar a possibilidade de
forma? Qual é sua missão? Este estudo
enfrentar uma morte vergonhosa como
procura responder a estas perguntas,
era a condenação à cruz (Mt 10.25 e
mas também apontar como cada um
37; 16.24; Lc 14.25ss). Os discípulos de
de nós pode se tornar um discípulo de
Jesus são conhecidos pelo amor existen-
Jesus. A palavra grega para discípu-
te entre eles (Jo 13.35; 15.13). A fidelida-
lo é μαθητης mathetes, definida co-
de ao chamado do discípulo exige uma
mo “aprendiz, pupilo, aluno, discípulo”
humildade confiante em Deus e uma
(Strong).1 “Aquele que recebe ensino
disposição total para renunciar a tudo
de alguém; aquele que aprende; aluno”
que impeça seu pleno seguimento (Mt
(O Dicionário Português).2 “Pessoa que
18.1-4; 19,23ss.; 23.7). Mesmo que, tanto
segue os ensinamentos de um mestre.
os apóstolos como o grupo dos setenta
No NT se refere tanto aos apóstolos (Mt
(Mt 10.1; 11.1; Lc 12.1) tenham recebi-
10.1) como aos cristãos em geral (At
do a designação de discípulos, o certo
6.1)” (O Dicionário Almeida). “O concei-
é que não pode restringir-se somente
to de discípulo — aquele que aprende
a esses grupos. Discípulo é todo aquele
de um mestre — surgiu no judaísmo
que crê em Jesus como Senhor e Messias
do Segundo Templo. De fato, no An-
e segue-o (At 6.1; 9.19)” (O Dicionário de
tigo Testamento a palavra só aparece
Jesus).
uma vez (1 Cr 25.8). Nos evangelhos, o
termo indica a pessoa chamada por Je- Além da definição dicionarizada,
sus (Mc 3.13; Lc 6.13; 10.1) para segui-lo compreende-se que discípulo é todo

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C H A M A D O PA R A S E R D I S C Í P U LO |

aquele que se parece com Jesus, alguém (Mc 16.15-16). Alguém que se intitule dis-
que reflete a imagem de Cristo na sua cípulo de Cristo, mas não prega o evan-
vida. Um excelente exemplo foi o que gelho, está negando sua identidade.
aconteceu com os discípulos de Antio-
O Reino e a justiça de Deus devem
quia: Eles encarnaram tanto a imagem de
estar em primeiro lugar na missão do
Jesus que passaram a ser chamados “cris-
discípulo (Mt 6.33), daí a necessidade de
tãos” (At 11.26).
arrependimento e fé (o evangelho, isto é,
Jesus deu-nos o exemplo de lideran- as boas novas divinas). Mc 1.15 nos asse-
ça, formando o seu grupo de discipulado. gura que Deus cumpre o que promete e
Esses homens teriam uma missão espe- o tempo para arrependermos é chega-
cífica, mas precisavam ser submetidos do, portanto, não pode ser adiado para
a um treinamento que, principalmente, amanhã (Hb 3.7-8). Ao ouvir o evangelho
implicaria no relacionamento com o seu cada pessoa deve arrepender-se e crer.
Mestre. Esta é a única resposta aceitável a Deus.
Este tipo de mensagem era revolucioná-
ria e demandava escolha de pessoas es-
Aplicação a sua vida: relembrando o
peciais para transmiti-las.
momento em que Deus o convidou a par-
ticipar do Seu Reino e você aceitou, reflita
agora em quais aspectos você tem se asse- O DISCÍPULO DE JESUS É CHAMA-
melhado a Ele. DO PARA SER MOLDADO POR ELE
(Mc 1.16-17)

O DISCÍPULO É CHAMADO PARA PRE- Simão e André, os dois primeiros dis-


GAR O EVANGELHO E ANUNCIAR QUE cípulos chamados por Jesus, eram pes-
O REINO DE DEUS CHEGOU (Mc 1.14 - cadores; pessoas simples e iletradas, que
17). podiam ser “moldadas” por ele. Observe
que, ao convidá-los, Jesus acrescenta “eu
Jesus iniciou o seu ministério sendo
batizado por João Batista e tentado por vos farei pescadores de homens”. Um dis-
Satanás. Ele venceu todas as tentações cípulo de Jesus é mais que um seguidor
do inimigo e prosseguiu em seu ministé- do Mestre. Ele é moldado como “pescador
rio pregando o Evangelho de Deus. Sua de vidas”. Para Deus, não importa a posi-
mensagem era de que veio trazer boas ção social ou intelectual de uma pessoa,
novas e esperança para os cansados e mas, sim, o quanto ela se deixa ser usada
oprimidos (Lc 4.18-19). Essa preocupação por Ele. O Senhor tinha um plano para os
divina para conosco é maravilhosa, mas dois irmãos (Simão e André): Eles seriam
nos desafia a fazer o mesmo que Jesus “feitos” por Jesus em pescadores de ho-
fez. O verdadeiro discípulo de Jesus faz mens. Jesus iria trabalhar e moldar suas
outros discípulos e glorifica o Pai através vidas, seu caráter e sua visão do Reino de
da produção de “muito fruto”, conforme Deus. Mas eles tinham que vir após Ele.
João 15.8, onde Jesus diz: “Nisto é glori- O que o Senhor vai fazer em nossas vidas
ficado meu Pai, em que deis muito fruto; só o experimentaremos quando nos dei-
e assim sereis meus discípulos”. Por este xarmos moldar por Ele. Deus começou
motivo o discípulo de Jesus tem a missão uma “boa obra” na vida de cada um de
de anunciar o evangelho a toda criatura nós, e a está aperfeiçoando, porém, é

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 93
| C H A M A D O PA R A S E R D I S C Í P U LO

importante lembrar que esse processo A LISTA DOS DISCÍPULOS CHAMADOS


durará até “o dia do Senhor” (Fp 1.6). POR JESUS (Lc 6.13-16)
Jesus escolheu os seus discípulos
Aplicação a sua vida: Deus quer nos mol- após uma noite de oração. O texto bíbli-
dar conforme Jesus fez com Simão e André. co acima nos apresenta a seguinte lista:
Qual é a sua contribuição para que isso “Simão, ao qual também chamou Pedro,
aconteça? e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe
e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, fi-
lho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; e
O DISCÍPULO CHAMADO POR JESUS Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes,
DEIXA IMEDIATAMENTE “SUAS REDES” que foi o traidor”.
(Mc 1.18-20)
Note que Jesus não chamou a lideran-
Quando Jesus chama, não podemos ça religiosa e nem a elite da sociedade do
continuar envolvidos com as “redes” da seu tempo. Na verdade, essas pessoas fo-
vida. Não há desculpa, não pode haver ram alcançadas e envolvidas mais tarde.
demora! Temos que deixar tudo e segui- Dessa maneira, Jesus demonstrou que o
lo imediatamente. O mesmo fizeram os discipulado não precisa ser iniciado com
outros dois irmãos, Tiago e João. Eles os melhores e mais renomados homens
deixaram o pai, os empregados e os bar- e mulheres. Muitos obreiros procuram se
cos para seguir Jesus. Nada neste mundo justificar, dizendo que não tem pessoas
(nem bens materiais, nem sentimentos realmente empenhadas no discipulado,
familiares) deve nos impedir de atender que o grupo envolvido na evangelização
ao chamado de Jesus (Mt 19.27-29). O é muito pequeno etc. Lembremos que
escritor da Carta aos Hebreus nos concita Jesus não chamou para o discipulado
ao desembaraço de tudo o que nos ro- uma multidão, mas, sim, apenas doze e
deia e a corrermos com firmeza em busca que (aos olhos humanos) não seriam os
do alvo proposto, sempre com os olhos melhores homens de então. Dificilmente
fitos em Jesus (Hb 12.1-2). Cabe a cada escolheríamos pescadores, cobradores
um de nós verificar no que está enreda- de impostos (alguns deles pessoas tem-
do, embaraçado, bem como quais são os peramentais e incultas) para um projeto
laços familiares, de trabalho ou qualquer que alcançaria governadores, presiden-
pecado que nos impede de atender a tes, reis e revolucionaria o mundo. Cre-
chamada para ser “feito” no discípulo que mos que essa opção de Jesus não se deu
Jesus quer que sejamos. Em Hb 12.16 so- porque Ele desprezava quem fosse culto
mos alertados a não trocarmos o nosso ou de alto poder aquisitivo. Entendemos
direito de primogenitura por um prato que Ele desejava demonstrar que o reino
de lentilhas. de Deus pode ser expandido através de
qualquer pessoa, de qualquer classe so-
cial, religiosa, política, de estatura ou de
Aplicação a sua vida: Como você tem de- cor, que se coloque em suas mãos e se
monstrado que é um discípulo chamado deixe usar por Ele. Tanto é verdade que,
por Deus? depois, vamos ter na lista dos cristãos,

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C H A M A D O PA R A S E R D I S C Í P U LO |

pessoas como Lucas, Paulo, Barnabé e CONCLUSÃO


outras personalidades cultas e de eleva-
O objetivo de nossa missão no reino
da posição social (At 13.1 e 17.12; Cl 4.14;
de Deus é repartir com outros a men-
Lc 8.3). Na verdade todos são chamados a
sagem do evangelho (das boas novas).
fazer parte da lista de discípulos de Jesus
É transmitir a outros o que recebemos
e a ter um relacionamento especial com
de Jesus, através daqueles que nos
Ele.
discipularam (2Tm 2.2). O exemplo de
Jesus demonstra isso e também indi-
O DISCÍPULO CHAMADO E O SEU RELA- ca a importância da estratégia na cha-
CIONAMENTO COM JESUS (Mc 3.14) mada e capacitação dos discípulos. Ele
iniciou o seu ministério pela Galileia, e
Observe que, primeiramente, os dis-
não pela Judeia. Seu critério de escolha
cípulos foram chamados “para estar com
também foi singular. Ele o fez chaman-
Jesus”. Relacionamento é a chave do dis-
do homens simples, pessoas comuns,
cipulado. Discipulado não é estudo bíbli-
e não os líderes políticos ou religiosos.
co, não é pregação, não é doutrinamen-
Jesus queria pessoas que pudessem ser
to. DISCIPULADO É RELACIONAMENTO.
moldadas, discipuladas por Ele. Jesus
O discípulo chamado precisa primeiro
primeiramente nos chama para nos
ter relacionamento especial com Jesus.
relacionarmos com Ele, e só então ser-
Sem relacionar-se com Jesus ninguém é
mos enviados a pregar, a repartir com
“feito” discípulo e muito menos pescador
os outros o que recebemos dele (1Co 11.
de vidas. É a partir do relacionamento
11 e 23). Que este exemplo nos leve a
com Jesus que o discípulo sai a pregar.
ter critérios divinos no momento de
Talvez aqui resulte o fracasso de muitos
escolher aqueles que servirão ao Senhor
pregadores que enfrentam “as portas do
no seu reino, e que todos vejam em
inferno” (Mt 16.18) sem ter estado com
nós o caráter de Jesus e assim nos
Jesus. É verdade que Jesus começou com
imitem!
homens simples e incultos, mas também
é verdade que o segredo do sucesso no
discipulado é o tempo que se passa com
ele. Quando você investe tempo para es-
tar com Deus em oração; quando você é
suficientemente humilde para deixar-se
ensinar (treinar), então você tem uma
mensagem de Deus para os corações fa-
mintos da Palavra!

Aplicação a sua vida: Como cristão que


busca um relacionamento profundo com ____________
Jesus, preciso ter uma vida ajustada con- 1
Bíblica eletrônica Word.
forme seus valores, para fazer a vontade de 2
Bíblica eletrônica Word.
Deus. 3
Bíblica eletrônica Word.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 95
ESTUDO 28

Leituras Diárias
Segunda Lc 23.33-43
Terça Sl 111.10

A TEOLOGIA DO DISCÍPULO Quarta


Quinta
Lc 19.40
Lc 23.40

DA CRUZ Sexta
Sábado
2Co 5.19
Rm 10.9-10
Domingo 1Co 2.9-13
Lucas 23.33-43

INTRODUÇÃO
hoje, entretanto, vivem insolentemente,
Jesus disse que Deus ocultou conhe- blasfemam de Deus (Lc 23.39), brincam
cimentos aos sábios e entendidos e os ou escarnecem dele. O resultado é a co-
revelou aos pequeninos (Mt 11.25). Jesus lheita do que se planta (Gl 6.7). Apesar de
foi crucificado entre dois ladrões e um sua vida de crimes, nos últimos momen-
deles se tornou seu último seguidor, dis- tos de sua vida Dimas caiu em si, como
cípulo que Jesus fez antes de sua morte. o fez o “filho pródigo” (Lc 15.17). Dimas
Quem eram esses ladrões? A tradição os viu que chegara o momento de temer a
denomina de Gestas e Dimas.4 Em Dimas Deus e se tornou “O Discípulo da Cruz”.
vemos profunda demonstração de arre- Suas primeiras palavras a Gestas, o outro
pendimento e conhecimento teológico ladrão crucificado, foi: “tu ainda não te-
nunca esperados de um ladrão prestes a mes a Deus (v. 40)? ”.
morrer. Vamos chamá-lo neste estudo de
“O Discípulo da Cruz”. Esse conhecimento Apesar de crucificado, Dimas não se
e sua atitude naqueles últimos momen- calou, pelo contrário, ante a insolência de
tos abriram-lhe a porta do paraíso. Ele Gestas, ele tomou a posição de confron-
revelou o verdadeiro coração de um dis- tá-lo e confessar seu temor a Deus.
cípulo de Jesus. Sua coragem, confissão
e transformação podem ser identificadas
como “A Teologia do Discípulo da Cruz”. Aplicação a sua vida: Nos dias de hoje, te-
mos enfrentado situações parecidas com a
de Dimas e Gestas, momentos quando te-
TEMOR A DEUS (Lc 23.39-40; Pv 14.27) mos de crucificar sonhos e desejos. Como
O temor a Deus é uma das chaves temos respondido a Deus diante dos sacri-
para a vida eterna (Sl 111.10). Muitos fícios?
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A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z |

CONFRONTO AO ERRO (Lc 23.40) Isto nos reporta a Paulo, ao afirmar que
Jesus se tornou maldito em nosso lugar,
O discípulo de Jesus não pode ser co-
e que “Deus estava em Cristo reconcilian-
nivente com o erro, com o pecado. Paulo
do consigo o mundo” (Gl 3.13; 2 Co 5.19).
recomenda a Timóteo a não ser partici-
Moltmann1 diz que Jesus é “O Deus Cru-
pante dos pecados alheios (1Tm 5.22).
cificado”. Dimas teve pouco tempo com
Há uma hora em que a pessoa errada
Jesus, mas percebeu sua divindade e de-
precisa ser confrontada. O discípulo de
monstrou profundo reconhecimento dos
Jesus contesta o conselho dos ímpios (Sl
próprios pecados, bem como das conse-
1.1). Se nos calarmos, até as pedras cla-
quências dos mesmos.
marão (Lc 19.40). Dimas, o Discípulo da
Cruz, poderia racionalizar, dizendo: “Não
tenho nada a ver com isto; estou morren- Aplicação a sua vida: De qual modo po-
do e ninguém me ajuda... e, talvez Gestas demos confessar a Cristo diante do mundo
tenha razão... por que Jesus não salva a hoje? Compartilhe quais são suas maiores
si mesmo e a nós também? ”. A teologia dificuldades, ou como tem feito.
do Discípulo da Cruz nos ensina que não
precisamos permanecer no erro; que to-
dos têm oportunidade de arrependimen- O PECADOR E SUA CONDENAÇÃO
to e conversão. Aquela era sua última (Lc 23.40-41)
oportunidade e ele não a desperdiçou.
Além de confrontar o seu companheiro O discípulo de Jesus não justifica os
de infortúnio, Dimas fez a seguinte con- seus pecados; não transfere responsabi-
fissão: lidade para os outros. Não condena o sis-
tema político ou a sociedade pelos seus
erros. Dimas confessou que sua condena-
CONFISSÃO DE QUE JESUS É DEUS ção era justa, porque a merecia. Quando
(Lc 23.40) uma pessoa confessa o seu pecado e ape-
la para a misericórdia divina, essa pessoa
Repreendendo Gestas, Dimas per-
é atendida. A Bíblia diz que Deus não re-
guntou: “Tu não temes a Deus?”. Quem
jeita o coração quebrantado e contrito (Sl
lhe ensinou que Jesus era Deus? Ele disse
51.17). O coração do verdadeiro discípulo
que a vida eterna é conhecer a Deus e ao de Cristo é reconhecedor de que é salvo
próprio Jesus (Jo 17.3). Comparar com Jo pela graça, por meio da fé (Ef 2.8). Uma
10.30; 14.8-9. Durante o período da cruci- das funções do Espírito é, justamente,
ficação, Dimas ouvira diversos títulos de convencer o ser humano do pecado, da
Jesus, dentre eles, “o Cristo” (isto é, o Mes- justiça e do juízo (Jo 16.8). Dimas se tor-
sias); “o rei dos judeus”, mas houve um nou o Discípulo da Cruz, exatamente por
que era a maior revelação da pessoa de ter sido conduzido a Cristo pelo Espírito
Jesus: Ele era “o Filho de Deus” (Lc 22.70). Santo, daí ter experimentado tão profun-
Dimas era criminoso, estava condenado, da transformação. Deus não espera que
mas seu coração se abriu para conhe- justifiquemos os nossos pecados, mas se
cer a Jesus como o Filho de Deus. Para os confessarmos, Ele nos purifica de todo
ele, Gestas foi insolente para com Deus. pecado e nos justifica pela fé em Jesus
É interessante que Dimas reconheceu (1 Jo 1.9 e Rm 5.1). Faça como “o Discípu-
que Jesus é “o Deus condenado”. Ele per- lo da Cruz”. Abra o seu coração, confesse
guntou a Gestas: “Tu nem ainda temes a seus pecados e desfrute de perdão e jus-
Deus, estando na mesma condenação?”. tificação do Senhor.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 97
| A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z

Prosseguindo em sua confissão de fé, Gestas. Entretanto, ao dirigir-se a Jesus,


Dimas fez mais uma declaração surpre- ele fez mais uma declaração teológica.
endente a respeito de Jesus. Dimas, além
de confessar que era pecador, teve a co-
ragem de afirmar que Jesus era imputá-
Aplicação a sua vida: Diante do fato de
vel de erro.
que Jesus não pecou, mas foi tentado em
todas as áreas nas quais também somos
Aplicação a sua vida: Temos a certeza que, tentados, qual é a sua sugestão para, como
diferentemente de Jesus, somos pecadores. discípulo d’Ele, buscar esse ideal de vida?
Como você tem trabalhado com essa reali-
dade?
JESUS É O REI ETERNO (Lc 23.42)
Quem ensinou para aquele homem
JESUS NÃO PECOU (Lc 23.41)
moribundo que Jesus tinha um reino?
Como ele podia ter certeza de que Com estas palavras, “o Discípulo da Cruz”
Jesus não praticou qualquer coisa erra- demonstrou crer na imortalidade da
da? Os judeus o acusaram de variadas alma e na vida eterna. Ora, se ele estava
transgressões: Quebrar o sábado, dizer- morrendo, como poderia esperar ou crer
se Filho de Deus, ser pecador, enganar num “reino”? Ele superou a teologia dos
o povo, e ser um falso Messias (Jo 5.18; saduceus, que não criam na ressurrei-
9.24; 7.12 e 27). Jesus foi rejeitado pelos ção (Mc 12.18). Quando nos tornamos
seus (o povo, a nação), pelos sacerdotes discípulos de Jesus, o Espírito Santo nos
(a religião oficial), e pelos governantes conduz “a toda a verdade” (Jo 16.13). Para
(o poder político), foi traído por Judas e Dimas, não somente havia vida após a
negado por Pedro. O último de seus dis- morte, como Jesus entraria no seu reino.
cípulos, aquele “gerado” na cruz, é quem Note que o reino era de Jesus. “O Discí-
o inocenta. E aquele era de fato um mo- pulo da Cruz” não tinha mais dúvida de
mento propício, porque acontecia a exe- que estava ao lado do Rei Eterno. Esta é
cução de condenados. Na teologia do a visão que todos precisamos ter de Je-
“Discípulo da Cruz”, ele e Gestas eram sus: Ele é o Rei dos reis e o Senhor dos
culpados, e Jesus inocente. Naquela exe- Senhores (1 Tm 6.15; Ap 17.14). Ele está
cução, o justo levava a culpa que devia no comando. Se morrermos com Ele,
ser dos pecadores. Jesus não pecou, mas haveremos de ressuscitar com Ele (2 Tm
conhece todas as tentações pelas quais 2.11-12). É importante lembrar que é a fé
passamos e pode nos socorrer em nossas na morte e ressurreição de Jesus que nos
tentações (Hb 2.18; 7.25; 4.15-16). A ino- assegura a salvação (Rm 10.9-10). Jesus
cência de Jesus foi declarada por um pe- não respondeu a Gestas, mas atendeu a
cador condenado. Isto é extraordinário! Dimas. O Senhor se manteve em silêncio
Porém, “o Discípulo da Cruz” surpreendeu enquanto era tripudiado por Gestas, mas
mais uma vez, pois, até este momento, falou quando “o Discípulo da Cruz” lhe di-
seu discurso fez parte da reprimenda a rigiu uma oração.

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A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z |

A resposta de Jesus: “Hoje mesmo ser seu discípulo, precisa tomar sua cruz
estarás comigo no Paraíso”, nos assegura e segui-lo. Não foi a cruz que salvou Di-
que o Paraíso perdido por Adão e Eva é mas, mas sim o Messias crucificado que
restituído na cruz. A morte, que triunfou ele confessou ser Justo, ser o Rei que po-
no Éden, é vencida no Calvário. É através dia lembrar-se dele. Enfim, foi o arrepen-
de Cristo que todo pecador arrependi- dimento dos pecados e a fé na pessoa de
do tem sua condenação eterna anulada Jesus que o fez um discípulo, um segui-
(Rm 8.1). Observe que o Paraíso era para dor, não somente naquele momento de
“hoje” (Lc 23.43). Neste caso, a oportuni- crucificação, mas acompanhou Jesus ao
dade para a salvação de cada um de nós Paraíso.
é também para “hoje” (2 Co 6.2). Paulo diz
que Deus releva os tempos da ignorância
e convida todos ao arrependimento (At Aplicação a sua vida: Que você também
17.30). Adúlteros, ladrões ricos e pobres, confesse a Jesus como Senhor e Salvador
não importa a condição, todos podem de sua vida, independente das circunstân-
ser perdoados, crescer na graça e no co- cias. Faça isto e Jesus o confessará diante
do Pai que está no céu (Mt 10.32-33).
nhecimento de Jesus, e penetrar nas mais
profundas verdades espirituais reserva-
das aos discípulos de Cristo (2 Pe 3.18 e
1 Co 2.9-13). Seja você também a pessoa ___________
4
http://www.escribacafe.com/dimas-e-gestas-la-
que, pela fé, entrará hoje no paraíso. droes-crucificados. Acesso em 19/06/2015.
E então, que discípulo é você? Jesus 5
MOLTMANN, Jürgen – O Deus crucificado. Santo
disse que qualquer pessoa que desejar André, SP. Academia Cristã. 2011.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 99
ESTUDO 29

Leituras Diárias
Segunda Mt 11.28-30

O DISCÍPULO E O Terça
Quarta
1Jo 5.18
Fp 4.6-7

MARAVILHOSO CONVITE Quinta


Sexta
Lc 7.48
Jo 8.11

DE JESUS Sábado Jo 5.14


Domingo Hb 8.12
Mateus 11.28-30
to você permanecer onde está, significa
rejeição ao convite de Jesus. Quando diz
INTRODUÇÃO “vinde a mim”, Jesus chama para si a res-
ponsabilidade do convite. Em Mc 10.46-
Já vimos em estudos anteriores que
50 vemos que Jesus iria curar o homem
Jesus veio buscar e salvar o que estava
cego e o convidou a vir a Ele: “E Jesus,
perdido (Lc 19.10). Acontece que a sal-
parando, disse que o chamassem; e cha-
vação é oferecida através de um convi-
maram o cego, dizendo-lhe: Tem bom
te, em respeito ao livre arbítrio de cada
ânimo; levanta-te, que ele te chama. E
pessoa. Aquele que aceita o convite de
ele, lançando de si a sua capa, levantou-
Jesus se torna um discípulo dele e assu-
se, e foi ter com Jesus. ” Você percebe que
me compromissos nessa caminhada com
Jesus quer ter um encontro com você,
o Senhor. Apesar de todos serem convi-
mas você precisa ir a ele? É maravilhoso
dados ao discipulado cristão, este texto
observar que o cego, após sua cura, se-
bíblico nos aponta um grupo específico
guiu a Jesus pelo caminho (Mc 10.52).
a quem Jesus dirige o respectivo convite.
Você também é convidado agora a vir a
Vejamos as lições que podemos aprender
Jesus e se tornar um discípulo dele.
do maravilhoso convite de Jesus.
Aqui vemos duas situações que po-
dem sobrevir a um discípulo de Cristo:
JESUS CONVIDA PARA VIR A ELE (Mt
cansaço e opressão. Há muitas áreas do
11.28)
cotidiano que nos cansam, desde o es-
Ele diz “vinde a mim”. Talvez sua vida tresse pelo excesso de trabalho e pelas
continue cansada e oprimida porque preocupações da vida, até nas questões
você tem ido a outras pessoas ou lugares. religiosas, no que diz respeito ao anseio
Você precisa de uma experiência pessoal por um encontro pessoal com Deus. Uma
com Jesus. Seu maravilhoso convite de- religiosidade vazia angustia a alma e re-
manda resposta da parte de cada pessoa sulta em desesperança. A sensação que
convidada. É preciso atendê-lo. Enquan- se tem é de um cansaço, muitas vezes ge-
100
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neralizado. Se você se sente assim, então quem está perto do Senhor, fica a certeza
o convite de Jesus é extensivo a você. O de que o inimigo não lhe toca (1 Jo 5.18).
convite é também para os oprimidos. As Torne-se um discípulo de Jesus e seja ali-
opressões da vida têm origem nas pres- viado de toda carga e opressão!
sões da sociedade, da família, mas po-
dem ser oriundas de cobranças pessoais
sobre alvos não alcançados. Jesus disse Aplicação a sua vida: atender ao convite
que veio pôr em liberdade os oprimidos de Jesus implica em cumprimento de pro-
(Lc 4.18-19): “O Espírito do Senhor é sobre messa. Você tem experimentado essa pro-
mim, pois que me ungiu para evangelizar messa em sua vida?
os pobres. Enviou-me a curar os quebran-
tados do coração, a pregar liberdade aos
cativos, e restauração da vista aos cegos, COMPROMISSOS DOS CONVIDADOS
a pôr em liberdade os oprimidos, a anun- POR JESUS (Mt 11.29)
ciar o ano aceitável do Senhor. ” O desejo
Discipulado implica em comprome-
de Jesus é que você venha a Ele e O ex-
timento. Jesus foi claro ao afirmar que,
perimente para ter uma nova qualidade e
aquele que O quisesse seguir, deveria
perspectiva de vida. Que seja aliviado de
renunciar a si mesmo e tomar a sua cruz.
todo cansaço e liberto de toda opressão.
Porém, neste texto de Mt 11.29, Ele lista
Qual é o seu cansaço e o que o oprime?
outros compromissos dos seus seguido-
Observe que o convite é bem específico:
res:
“cansados e oprimidos”. Se você se sente
assim, então você está na lista dos convi- a) Tomar sobre si o jugo de Jesus. A
dados por Jesus. ideia do jugo tem significados muito im-
portantes: Primeiro, leva a pessoa a estar
comprometida com Jesus e a andar lado
Aplicação a sua vida: o convite feito por a lado com Ele. Jugo ou canga é um ins-
Jesus aos seus discípulos se estende a nós. trumento colocado no pescoço de dois
Para tanto, se você se encontra em alguma bois para que ambos levem a mesma car-
situação de cansaço e opressão, é hora de ga. Um não pode ir à frente e nem ficar
aceitar o Seu convite. para trás do outro. Ambos têm que andar
lado a lado. Isso significa que a canga é
divida entre os dois. Segundo, você deve
A PROMESSA DO MARAVILHOSO CON- tomar o jugo de Jesus, e não o seu pró-
VITE DE JESUS (Mt 11.28) prio ou de outrem. Jesus diz que a razão
Mais uma vez Jesus chama a res- disto é que o seu jugo é suave e o seu
ponsabilidade para si: “Eu vos aliviarei”. farde é leve. É a promessa de que, ao se
Ele empenha sua própria palavra e sua tornar um discípulo de Jesus, Ele suaviza
pessoa. Observe que a promessa está todo peso e opressão que há na sua vida.
condicionada a ação de vir a Ele. Cabe a b) Aprender de Jesus. No meio rural,
você aceitar ou não ter um encontro com quando alguém quer treinar um boi novo
Jesus. Ele disse que muitas pessoas per- para levar uma carga, ele é colocado jun-
deram a vida eterna porque não vieram a to com um boi treinado e experiente. Es-
Ele (Jo 5.40). Só Jesus pode aliviar as nos- tando atrelado ao boi experiente, o novo
sas cargas e nos proteger de toda e qual- boi “aprende” a andar com o boi treinado.
quer opressão. O fato de Jesus querer os Aqui está em foco uma figura similar. Ao
seus discípulos perto d’Ele é porque Ele recebermos o jugo de Jesus, aprendemos
é o “Bom Pastor” e nós somos ovelhas do a andar com Ele. Jesus quer nos ensinar
seu pasto. Quem está fora ou longe de Je- todas as coisas concernentes a sua pes-
sus leva sozinho, e inutilmente, suas car- soa e ao seu reino (Mt 28.19-20). Isto, en-
gas, e sofre a opressão do inimigo. Para tretanto, só é possível quando estamos
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 101
| O D I S C Í P U LO E O M A R AV I L H O S O C O N V I T E D E J E S U S

atrelados a Ele através do seu jugo. O cris- O JUGO E A CARGA DE JESUS


tão deve fazer de sua vida uma escola de Jesus assegura que o jugo dele é su-
aprendizado a respeito de Jesus. Obser- ave e sua carga é leve. Ele não aumenta
ve que Jesus diz que devemos aprender nossa carga. Ele nos alivia dela. Jesus não
d’Ele porque é manso e humilde de cora- nos escraviza. Ele nos liberta e suaviza
ção. Mansidão e humildade são virtudes nossa alma.
que norteiam o caráter cristão. Nisso con- O mundo escraviza, mas Jesus liberta.
siste um dos segredos da felicidade (Mt O mundo aflige, porém Jesus dá alívio. O
5.3): “Bem-aventurados os humildes de mundo não tem paciência com os nossos
espírito, porque deles é o reino dos céus. ” problemas, entretanto, Jesus nos acolhe
(os cansados e oprimidos). O mundo tira
a paz, porém Jesus nos dá sua paz (Jo
O RESULTADO DE APRENDERMOS COM 14.27). O convite de Jesus é para virmos
JESUS (Mt 11.29) a Ele; é para desfrutarmos de sua compa-
nhia e sermos aliviados de nossas cargas.
Note que o “descanso” é para as nos- Cabe a você atender o maravilhoso con-
sas “almas”. O termo grego usado aqui vite de Jesus.
é “psuche” e pode referir-se também a
alma, no sentido de nossas emoções. O Acreditamos que uma das maiores
cargas do ser humano é o sentimento
discipulado de Jesus alcança diretamen- de culpa. Mas para todos que atenderam
te a alma do discípulo e resulta em livra- o convite de Jesus, Ele disse: Filho, filha,
mento de toda ansiedade (Mt 6.25): “Por estão perdoados os teus pecados. Exem-
isso vos digo: Não estejais ansiosos quan- plos:
to à vossa vida, pelo que haveis de comer, a) O paralitico de Cafarnaum: “E Jesus,
ou pelo que haveis de beber; nem, quan- vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Filho,
to ao vosso corpo, pelo que haveis de perdoados são os teus pecados.” (Lc 5.20)
vestir. Não é a vida mais do que o alimen- b) A mulher que ungiu os pés de Je-
to, e o corpo mais do que o vestuário? ”. sus: “E disse a ela: Perdoados são os teus
Leia ainda Fp 4.6-7: “Não andeis ansiosos pecados” (Lc 7.48)
por coisa alguma; antes em tudo sejam c) A mulher adúltera: “Respondeu ela:
os vossos pedidos conhecidos diante de Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem
eu te condeno; vai- te, e não peques
Deus pela oração e súplica com ações mais” (Jo 8.11)
de graças; e a paz de Deus, que excede d) O paralítico de Betesda: “Depois
todo o entendimento, guardará os vos- Jesus o encontrou no templo, e disse-lhe:
sos corações e os vossos pensamentos Olha, já estás curado; não peques mais,
em Cristo Jesus. ” A ansiedade obstrui a para que não te suceda coisa pior” (Jo
fé e adoece o corpo. Jesus quer tratar di- 5.14)
retamente nossa alma, porque uma alma
cansada e oprimida resulta em muitas Conclusão
doenças psicossomáticas. Tome, agora A cada um de nós, a Bíblia afirma que
mesmo, o jugo de Jesus e deixe que Ele Deus jamais se lembrará dos nossos pe-
cuide de suas ansiedades e alivie sua cados: “Porque será misericordioso para
alma (1 Pe 5.7). com nossas iniquidades, e dos nossos
pecados não se lembrará mais” (Hb 8.12)
Agora só depende de você: atender o
maravilhoso convite de Jesus, assumindo
Aplicação a sua vida: Aceitar o convite de
o compromisso de ser um discípulo d’Ele
Jesus não significa término total das dificul- e, consequentemente, desfrutar de todo-
dades ou problemas. Significa que, ao di- as as bênçãos dispensadas àqueles que o
vidirmos com Ele, o nosso julgo fica suave. seguem.

102 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 30

Leituras Diárias
Segunda Hb 12.1-17
Sl 139.23-24
O DISCÍPULO QUE OLHA
Terça
Quarta 2 Tm 4.7-8
Quinta 2 Cr 7.14
PARA CRISTO Sexta Hb 12.14
Hb 12.16-17
Sábado
Hebreus 12.1-17 Domingo Rm 8.18

tolo Paulo diz que os discípulos de Cristo


INTRODUÇÃO foram postos como espetáculo “ao mun-
do, aos anjos e aos homens” (1 Co 4.9). No
Ser discípulo de Jesus é segui-lo, man- verso primeiro, Paulo espera que os ho-
tendo os olhos fitos n’Ele. A recomenda- mens nos considerem como ministros de
ção de Hb 12.2 é: “olhando para Jesus, au- Cristo. Jesus disse que devemos ser suas
tor e consumador da fé, o qual, pelo gozo testemunhas (At 1.8). Se olharmos para
que lhe estava proposto, suportou a cruz, nós mesmos, certamente fracassaremos.
desprezando a afronta, e assentou-se à Os heróis da fé são testemunhas de que é
destra do trono de Deus.” Em Isaías 45.22, possível vencer, mas não é para eles que
também somos convidados a olhar para devemos olhar, nem para os anjos, mui-
Deus a fim de sermos salvos. Este estudo to menos para o mundo. Nosso foco tem
aponta os motivos e resultados de uma que ser Cristo. Se assim o fizermos, não
vida focada em Cristo. decepcionaremos a ninguém, muito me-
nos ao nosso Senhor.
OLHAR PARA JESUS POR CAUSA DOS
QUE VENCERAM (Hb 12.1) “Portanto, Aplicação a sua vida: é muito importan-
também nós, visto que temos a rodear- te sabermos que, ao olharmos para Jesus,
temos a vitória garantida. Para isso, temos
nos tão grande nuvem de testemunhas. ”
uma nuvem de testemunhas. Mas, nosso
A “nuvem de testemunhas” à qual o foco não pode ser desviado de Jesus. Ape-
autor se refere é a lista de “heróis da fé” do sar dos inúmeros exemplos de vencedores,
capítulo anterior. Por esse motivo, o após- onde está firmado seu olhar?

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 103
|| 103
| O D I S C Í P U LO Q U E O L H A PA R A C R I S T O

OLHAR PARA JESUS E REMOVER OS próprio Cristo, pois que “nele estão todos
EMBARAÇOS (Hb 12.1): “Desembaraçan- os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl
do-nos de todo peso e do pecado que 2.3). O desejo divino é que nos tornemos
tenazmente nos assedia” semelhantes a Cristo e cheguemos à sua
Assim que Jesus ressuscitou a Lázaro, estatura (Ef 4.13; 2 Co 3.18). Esta é a razão
recomendou: “Desligai-o, e deixai-o ir” pela qual o discípulo de Cristo não pode
(Jo 11.44). O autor de Hebreus reconhe- tirar os olhos d’Ele! Nos próximos estu-
ce que lidamos com embaraços e somos dos, desenvolveremos melhor o tema do
tenazmente assediados pelo pecado. supremo alvo do discípulo de Cristo.
Jesus recomendou que devemos nos li-
vrar de qualquer coisa que nos sirva de
tropeço (Mt 5.29-30). Hoje, um dos maio- OLHAR PARA JESUS E SUPORTAR A
res embaraços do discípulo de Cristo é CRUZ (Hb 12.2): “Olhando firmemente
justamente a “rede”, tradução da palavra para o Autor e Consumador da fé, Jesus,
“net”, do Inglês. Apesar de sua inestimá- o qual, em troca da alegria que lhe estava
vel contribuição à informação, a Internet proposta, suportou a cruz”
tem se constituído num grande embara- Não existe discipulado sem crucifi-
ço quando mal utilizada ou quando se cação diária. Jesus disse que aquele que
torna um vício. Essa forma de embaraço quiser ser seu discípulo deve tomar, a
tem destruído não apenas famílias, como cada dia, sua cruz (Lc 19.23). Paulo dizia
principalmente a alma de muitas pesso- que estava crucificado com Cristo (Gl
as. Você não vai remover a Internet da 2.20); e que em nós se cumpre o resto das
sua vida, mas pode usá-la para o seu bem aflições de Cristo (Cl 1.24). Nossa crucifi-
e de outras pessoas que o rodeiam. Há cação diária não é para pagar ou purificar
muitos outros embaraços que somente pecados, porque Jesus já o fez por nós.
pela oração sincera podemos detectá-los A crucificação diária de um discípulo faz
e removê-los de nossa vida. Para tanto, parte de sua santificação, no sentido de
oremos como o salmista: “Sonda-me, ó abandonar os pecados e consagrar sua
Deus, e conhece o meu coração; prova- vida ao Reino de Deus e à sua justiça (Rm
me, e conhece os meus pensamentos. E
6.13 e 19). É a apresentação do corpo em
vê se há em mim algum caminho mau, e
sacrifício a Deus, de que fala Rm 12.1.
guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.23-
Somente com os olhos fitos em Jesus é
24).
que o discípulo suportará, a cada dia, sua
cruz.
Aplicação a sua vida: temos em nosso
viver alguns embaraços que nos impedem
Aplicação a sua vida: O que significa livrar-
o crescimento. Jesus deixa claro que pre-
se de tudo o que atrapalha, inclusive do
cisamos fazer a nossa parte. Qual é a sua
pecado, e correr com perseverança, man-
contribuição?
tendo os olhos fitos em Jesus?

OLHAR PARA JESUS E CORRER PARA O


OLHAR PARA JESUS E NÃO DESA-
ALVO (Hb 12.1): “Corramos, com perseve-
NIMAR (Hb 12.3, 4 e 12): “Considerai,
rança, a carreira que nos está proposta”
pois, atentamente, aquele que suportou
O nosso alvo é a soberana vocação de tamanha oposição dos pecadores con-
Deus em Cristo Jesus (Fp 3.14). O alvo é o tra si mesmo, para que não vos fatigueis,
104 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O D I S C Í P U LO Q U E O L H A PA R A C R I S T O |

desmaiando em vossa alma. Ora, na vos- dos maus caminhos, o Senhor nos ouvirá
sa luta contra o pecado, ainda não tendes e trará saúde à terra. O discípulo de Cristo
resistido até ao sangue. Por isso, restabe- precisa ter a consciência de que é mem-
lecei as mãos descaídas e os joelhos trô- bro do corpo de Cristo; de que Ele age na
pegos. ” terra também através dos membros des-
se corpo.
Por estas palavras, o discípulo de Cris-
to tem consciência de que sua caminha-
da pode lhe custar o sangue ou a própria
OLHAR PARA JESUS E SEGUIR A SAN-
vida, como muitos cristãos da “Igreja Pri-
TIFICAÇÃO (Hb 12.14): “Segui a paz com
mitiva” deram a vida por amor a Cristo.
todos e a santificação, sem a qual nin-
Quando, porventura, lhe vier o desânimo,
guém verá o Senhor. ”
os joelhos ficarem trôpegos e as mãos
descaírem, olhe para Jesus e você encon- Não é possível nos determos aqui na
trará forças para se levantar e estar de pé questão de “seguir a paz com todos”, mas
Sl 20.8. Aquele que for fiel até ao ponto nos ateremos à segunda parte do versí-
de morrer, receberá a “coroa da vida”: culo: “Seguir a santificação”. É impossível
Ap 2.10; 2Tm 4.7-8; Ap 3.11. não seguir a santificação e andar com
Deus. Observe que não diz que você che-
gou ao “topo” da santificação. Você a se-
OLHAR PARA JESUS E FAZER CAMINHO
gue, no sentido de procurar santificar-se
DIREITO PARA OS PÉS (Hb 12.13): “E fa-
a cada dia. E ela se dá pela crucificação
zei caminhos retos para os pés, para que
diária, conforme vimos anteriormente.
não se extravie o que é manco; antes, seja
Aliás, Paulo diz que não julga haver al-
curado. ”
cançado o alvo, mas que prossegue para
Os versos cinco a onze de Hebreus, ca- ele (Fp 3.13-14). É a ideia de não se con-
pítulo doze, falam do modo como Deus formar com o mundo e nem amá-lo (Rm
nos trata como filhos, corrigindo-nos, 12.1-2; 1 Jo 2.15). Santificação é um pro-
como o pai corrige ao filho que ama. Em cesso. Ela começa na aceitação de Jesus
Hb 12.10 diz que a correção do Senhor como Senhor e Salvador e prossegue por
é para sermos participantes de sua san- toda a vida. É uma obra começada por
tidade. E 1 Co 11.31 diz que a disciplina Deus e aperfeiçoada até o dia do nosso
do Senhor é para não sermos condena- encontro com o Senhor (por nossa mor-
dos com o mundo. Daí a recomendação te, ou pela volta de Jesus). Leia Fp 1.6.
de Hb 12.12, que apreciamos no ponto
anterior. Porém no verso treze, Ele reco-
OLHAR PARA JESUS E EVITAR RAIZ DE
menda fazermos “caminhos retos”. Não
AMARGURA (Hb 12.15): “Atentando, di-
podemos andar com Deus se não estiver-
ligentemente, para que ninguém seja
mos de acordo com Ele (Am 3.3). Quem é
faltoso, separando-se da graça de Deus;
discípulo, seguidor de Jesus, anda pelos
nem haja alguma raiz de amargura que,
caminhos de Jesus, e os caminhos d’Ele
brotando, vos perturbe, e, por meio dela,
são retos. Observe que a responsabili-
muitos sejam contaminados. ”
dade de fazer caminhos retos é nossa. É
uma ordem divina. Essa determinação Uma vida que não prima pela santi-
pessoal nos livrará do extravio e nos trará ficação, tem efeitos letais: Primeiro, nos
a cura. Isto combina com 2 Cr 7.14, onde priva da graça de Deus. Segundo, faz
é prometido que, se nos convertermos brotar raiz de amargura. Aquele que não
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 105
| O D I S C Í P U LO Q U E O L H A PA R A C R I S T O

confia na graça de Deus não pode ser um Esaú desprezou o seu direito de pri-
discípulo de Cristo. A Bíblia admite que mogenitura por um prazer momentâneo.
cometemos pecados, mas recomenda O autor sagrado nos adverte para não
confessá-los, crendo no poder purifica- sermos como ele. O primogênito tinha
dor do sangue de Jesus (1 Jo 2.1 e 1.7-9). direito a herança dobrada e, dependen-
O perigo é abusar da graça de Deus, pois, do da preferência do pai, era também es-
significa que pisa o sangue de Jesus e faz pecialmente abençoado. Acontece que a
agravo ao Espírito da graça (Hb 10.26 e Bíblia nos assegura que somos herdeiros
29). Deus está pronto a nos perdoar e a de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm 8.17).
se “esquecer” dos nossos pecados (Is 55.7; Este é o sentido maior da salvação. Ser
Hb 8.12). Esse desprezo para com o san- salvo não é apenas ser livre do inferno.
gue de Cristo e o agravo ao Espírito da Inferno é uma consequência para quem
graça, produz na pessoa raiz de amargu- não foi salvo. Até mesmo porque o in-
ra contra todos e até contra Deus. Daí a ferno foi preparado para o diabo e seus
recomendação bíblica para não sermos anjos (Mt 25.41). A bênção maior de um
vagarosos no cuidado e para cuidarmos discípulo de Jesus é ser transformado
quando estamos em pé, pois, corremos na mesma imagem de Jesus (1 Jo 3.1-2).
o risco de cair (Rm 12.11; 1 Co 10.12). A Mas, esta é matéria para o próximo estu-
única maneira de evitarmos tudo isso é do.
mantendo os olhos fixos em Jesus.

CONCLUSÃO
Aplicação a sua vida: o que você já des-
cobriu que o ajuda a manter os olhos fixos Deixamos aqui o desafio de que o
em Jesus? verdadeiro discípulo de Cristo mantenha
seus olhos fitos em Jesus. Por esta razão,
ele procura se desembaraçar dos peca-
OLHAR PARA JESUS E NÃO PERDER A dos e busca a santificação. A caminhada
BÊNÇÃO MAIOR (Hb 12.16-17): “Nem pode lhe custar a vida, mas ele entende
haja algum impuro ou profano, como foi que a verdadeira vida não é aqui, pois,
Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o está na glória que está para ser revelada
seu direito de primogenitura.” (Rm 8.18).

106 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 31

Leituras Diárias
Segunda Fl 3.13-14
Terça Fl 3.1-6
O ALVO SUPREMO DO Quarta
Quinta
2 Co 12.2-4
1 Co 3.11-15
DISCIPULADO Sexta
Sábado
1 Co 2.10-14
Ef 3.19
1 Jo 3.1-2
Filipenses 3.1-21 Domingo

INTRODUÇÃO tem não pode ser seu discípulo (Lc 14.33).


Em Fp 3.1-6, Paulo está falando dos “cães”,
O capítulo onze da Carta aos Hebreus que se introduziam no seio da igreja ensi-
fala dos “heróis da fé”. Eles tinham um alvo nando doutrinas falsas. Um dos grandes
para o qual olharam de longe e foram ca- perigos do cristianismo mal interpretado
pazes de passar pelo fogo, serem serrados é o entendimento equivocado de que
ao meio ou submetidos a muitas outras somos aceitos por Deus mediante nossa
formas de sofrimento por causa de algo ascendência religiosa ou por méritos pes-
que esperavam do futuro. Paulo, em Fp soais. Paulo fala de sua condição anterior
3.13-14, fala do “alvo pelo prêmio da voca- ao cristianismo. Ele era descendente de
ção celestial de Deus em Cristo Jesus”. Que Israel, fariseu, circuncidado ao oitavo dia,
alvo é esse? Antes de nos concentrarmos zeloso da lei (chegando a ser irrepreensí-
no alvo supremo de Cristo para nós, reflita- vel) e perseguidor da igreja. Mas, quando
mos nos versículos que precedem o texto conheceu a graça do Senhor Jesus Cris-
em foco. to, o que para muitos era lucro, Paulo o
reputou como perda, por amor a Cristo.
O nosso passado sem Cristo não deve ser
CONSIDERA LUCRO COMO PERDA (Fp
nenhum motivo de satisfação ou orgu-
3.7): “Mas o que para mim era ganho re-
lho, mas como refugo (Fp 3.9). No verso
putei-o perda por Cristo.”
oito, ele diz que essas perdas foram pela
O passo inicial do discipulado cristão “excelência do conhecimento de Cristo”,
é a renúncia por amor a Cristo. Jesus disse isto é, o supremo alvo que tinha diante
que, quem não renunciar a tudo quanto de si.

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 107
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| O A LV O S U P R E M O D O D I S C I P U L A D O

Aplicação a sua vida: como discípulo, O “LUGAR” DO ALVO (Fp 3.14): “Prossigo
o que você tem perdido em sua vida por para o alvo, pelo prêmio da soberana vo-
amor a Deus e ao próximo? cação de Deus em Cristo Jesus. ”
Observe que a “soberana vocação de
ESTÁ ADIANTE, NÃO DIANTE (Fp 3.13): Deus” é “em Cristo Jesus”. N’Ele estão todos
“Irmãos, quanto a mim, não julgo que o os tesouros da sabedoria (Cl 2.2-3). Então,
haja alcançado; mas uma coisa faço, e é o “segredo” está em Cristo Jesus. Daí a ne-
que, esquecendo-me das coisas que atrás cessidade de crescermos na graça e no
ficam, e avançando para as que estão di- conhecimento de Cristo (2 Pe 3.18). Paulo
ante de mim. ”
chega mesmo a dizer que isso é um “misté-
Paulo reconhecia que ainda não havia rio” (1 Co 1.27). Bem, como, então, alcançar
alcançado o supremo alvo, ou que fosse esse mistério? Continuemos esse estudo
perfeito, mas prosseguia para aquilo para e, quem sabe, teremos um “vislumbre” do
o que também fora alcançado por Cristo. que poderá ser esse alvo. Tenhamos sem-
Observe que Cristo nos salvou não apenas pre em mente que o alvo é de Deus para
para irmos para o céu, mas também para
nós. Há uma vontade de Deus que precisa
termos uma vida abundante aqui na terra.
ser cumprida em nossa vida. Precisamos
Há uma vocação celestial, um “prêmio” que
transpõe a capacidade dos sentidos físicos conhecê-la para sabermos como chegar a
ou de um homem natural compreendê-la ela.
(1 Co 2.9 e 14). Paulo reconhecia que há
um propósito maior para o discípulo de SEMELHANÇA DE DEUS EM CRISTO (Fp
Cristo. Ele tivera uma aparição especial 3.14 e 1 Jo 3.2b): “Prossigo para o alvo,
de Jesus e passara por uma revelação no pelo prêmio da soberana vocação de
“terceiro céu”, tão sublime que não podia Deus em Cristo Jesus (...); seremos semel-
ser relatada aos homens (Gl 1.12 e 16; 2 hantes a Ele; porque assim como é o ver-
Co 12.2-4). Apesar de tudo isto, e de ser- emos.”
vir a Cristo e ao seu Reino, não julgava
estar no topo da vida espiritual. Ele reco- a) A soberana vocação de Deus é
nhecia que ainda havia um caminho a ser para ser conforme a imagem de Jesus
percorrido e, nesse sentido, prosseguia, (Rm 8.29): “Porque os que dantes conhe-
pois, “o alvo estava adiante, não diante ceu também os predestinou para serem
dele. ” Nada conquistado deve servir de conformes à imagem de seu Filho, a fim
merecimento espiritual. Não podemos de que ele seja o primogênito entre mui-
olhar para trás (vitórias ou derrotas). O tos irmãos.”
alvo supremo está adiante e precisamos
prosseguir até que recebamos ou alcan- A imagem de Deus idealizada em
cemos esse “prêmio”. Adão é concluída na pessoa de Cristo. O
texto é claro em afirmar que Deus nos
predestinou para ser conforme a ima-
Aplicação a sua vida: Nosso alvo é Cristo. gem do seu Filho. Cristo é o modelo a ser
Cada batalha vencida nos fortalece, mas
atingido e o propósito divino é nos tornar
ainda temos uma caminhada a seguir. As
vitórias ou derrotas do caminho precisam semelhantes a Ele.
nos dar força para continuar. Como você b) O processo de transformação na
tem tratado essas situações em sua vida? mesma imagem de Jesus (2 Co 3.18):

108 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O A LV O S U P R E M O D O D I S C I P U L A D O |

“Mas todos nós, com rosto descoberto, Deus no-las dá a conhecer pelo Espírito
refletindo como um espelho a glória do Santo (1 Co 2.10-14). Na mesma linha de
Senhor, somos transformados de glória pensamento, devemos entender a afir-
em glória na mesma imagem, como pelo mação paulina de que “temos a mente
Espírito do Senhor.” de Cristo” (1 Co 2.16). Mesmo entenden-
A transformação é um processo: “De do que a participação da natureza divina
glória em glória”. O alvo é a imagem de tem a ver com nossa comunhão com Ele,
Cristo: “Na mesma imagem”. O Agente sabemos que essa comunhão é num ní-
transformador é o “Espírito do Senhor”. vel que transpõe a capacidade humana
Enquanto a boa obra que foi iniciada de compreensão (1 Co 2.9; Ef 3.19). Ob-
em nós é processada, o Espírito Santo serve que o final de Ef 3.19 diz “para que
nos conduz a toda verdade até o dia em sejais cheios da plenitude de Deus. ” En-
que nos entregará a Cristo “sem mácula, tão, lembre-se que este é o supremo alvo
nem ruga, nem coisa semelhante” (Fp da vocação de um discípulo de Cristo.
1.6; Jo 16.13; Ef 5.27; 1.13-14; Ap 22.17). Ainda não o alcançamos, mas caminha-
Esta é uma das razões da importância mos para ele.
da santificação a que somos submetidos d) Veremos a Deus e seremos se-
pela disciplina do Senhor, e as provações melhantes a Ele (1 Jo 3.1-2): “Vede quão
pelo fogo das tribulações (Hb 12.10; 1 Co grande amor nos tem concedido o Pai,
11.32; 1 Pe 4.12; Rm 8.18; 1 Co 3.11-15). que fôssemos chamados filhos de Deus.
c) Participantes da natureza divi- Por isso o mundo não nos conhece;
na (2 Pe 1.3-4): “Visto como o seu divino porque não o conhece a Ele. Amados,
poder nos deu tudo o que diz respeito agora somos filhos de Deus, e ainda não
à vida e piedade, pelo conhecimento é manifestado o que havemos de ser. Mas
daquele que nos chamou pela sua glória sabemos que, quando Ele se manifestar,
e virtude; pelas quais Ele nos tem dado seremos semelhantes a Ele; porque assim
grandíssimas e preciosas promessas, como é o veremos. ”
para que por elas fiqueis participantes da Somente na volta de Cristo esse alvo
natureza divina, havendo escapado da supremo se cumprirá em nossa vida. Ve-
corrupção, que pela concupiscência há remos como Deus é! Então, estaremos
no mundo. ” prontos para andar com Ele, pois, sere-
Pedro disse que Paulo escreveu coi- mos semelhantes a Ele. Não tem alvo
sas difíceis de compreendermos, mas ele ou recompensa maior do que ver e ser
também não ficou atrás, quando fala de semelhante a Deus. Observe que não é
nossa participação da “natureza divina”. igual, mas, semelhante. Isto também não
A palavra grega “participantes” é “koino- é por nossos méritos, mas através de Cris-
noi”, de “koinonos”, que significa comu- to (Jo 14.6). Então, a plenitude de Deus se
nhão, companheirismo enfim, a ideia de cumprirá em nossas vidas. Por esta razão,
manter comunhão com a natureza divi- dissemos em estudos anteriores que, ser
na. Podemos associar essa ideia ao que salvo, é muito mais que não ir para o in-
Paulo diz sobre o homem natural não ferno ou apenas ir para o céu. Eu quero
compreender as coisas do Espírito, mas ir para o céu, porém, muito mais que ser

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 109


| O A LV O S U P R E M O D O D I S C I P U L A D O

livre do inferno, o céu que entendo é po- sendo transformado de glória em glória
der ver a Deus, ter comunhão com sua na mesma imagem de Cristo e que, por
natureza divina e ser cheio de sua pleni- fim, será semelhante a Deus. Tudo isto,
tude. Para isso Ele nos criou, para isso nos entretanto, culminará na volta de Jesus,
salvou e para isso nos está transformando quando os mortos ressuscitarão e os
salvos que estiverem vivos serão arreba-
de glória em glória.
tados para encontrar com o Senhor nas
nuvens. Todos os salvos (ressuscitados
Aplicação a sua vida: Se você fosse com- e arrebatados) serão transformados na
parar sua vida em Cristo a uma corrida, qual mesma imagem de Cristo (1 Co 15.51-
seria a sua posição: sentado á margem da 52). Em 1 Jo 3.2, lemos: “Amados, ago-
pista, no aquecimento, à espera do sinal de ra somos filhos de Deus, e ainda não é
largada ou já em disparada dando tudo de manifestado o que havemos de ser. Mas
si? sabemos que, quando Ele se manifestar,
seremos semelhantes a Ele; porque assim
como é O veremos” (grifo nosso). Por en-
CONCLUSÃO quanto, estamos na caminhada em busca
O supremo alvo de Deus para cada desse alvo, por isso, como vimos no estu-
discípulo é torná-lo participante da natu- do anterior, é necessário que o discípulo
reza divina, no sentido de ter perfeita co- mantenha os olhos fixos em Jesus, pois, é
munhão com Deus; é que tenha a mente n’Ele que se cumpre a vocação de Deus!
de Cristo, no que diz respeito a ser usado Então, firme como propósito este tipo
pelo Espírito Santo no conhecimento do de vida com Deus e você verá que ser cren-
“mistério de Deus”, que é o próprio Cris- te é muito mais que ter o céu; é ser seme-
to. Por esta razão é que o discípulo está lhante a Deus. Aleluia!

110 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 32

Leituras Diárias
Segunda Lc 19.1-10
O Discípulo E SEU Terça Is 55.6-7
Quarta Hb 3.7-8
ENCONTRO COM Jesus Quinta Rm 12.11
Mt 16.24-26
Sexta
Lucas 19.1-10 Sábado At 17.27-28
Domingo Ap 3.20

INTRODUÇÃO:
Zaqueu aproveitasse aquela oportunida-
O estudo de hoje mostra como um
de. O sentido de Ef 5.16 é que devemos
homem por nome Zaqueu buscou e en-
aproveitar bem cada oportunidade. Para
controu Jesus, sendo salvo e levando sal-
Deus, o dia de nossa salvação é sempre
vação também a toda sua casa. Zaqueu,
aparentemente, tinha um bom empre- “hoje” (Hb 3.7-8; 2 Co 6.2). Não temos o
go, pois, era o chefe dos cobradores de direito de adiá-lo. Não devemos perder a
impostos a serviço do império romano, oportunidade de buscar ao Senhor. Apesar
e era muito rico. Nos padrões de hoje, de ser um homem perdido e, possivelmen-
ele poderia ser considerado uma pessoa te, estar em caminhos ímpios, havia che-
bem-sucedida. Mas, sua busca por Jesus gado o momento de Zaqueu encontrar-se
demonstrou que seu emprego e condi- com o Salvador e de ajustar sua vida como
ção financeira não eram suficientes para um novo discípulo de Cristo. O quadro é
trazer salvação para si mesmo e sua fa- interessante: Zaqueu procurava por Jesus
mília. Nossa esperança é que você tam- e este queria “pousar” em sua casa. Caso
bém possa ter um encontro pessoal com você também precise de um encontro com
Jesus e desfrutar da mesma alegria que Jesus, não deixe passar essa oportunidade.
Zaqueu desfrutou. Daí a importância de superar eventuais
obstáculos.
APROVEITA BEM CADA OPORTUNI-
DADE (Lc 19.1; Is 55.6-7; Ef 5.16) SUPERA OBSTÁCULOS (Lc 19.3-4)
Esta era a última vez que Jesus pas- Encontrar-se com Jesus não é tão
saria por Jericó. Era imprescindível que simples como parece. Enquanto a pes-

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 111


| O D I S C Í P U LO E S E U E N C O N T R O C O M J E S U S

soa está longe do Senhor, não enfrenta percebeu a multidão, ele correu na frente
certos obstáculos, mas, ao aproximar-se e subiu numa árvore. A Bíblia diz que há
d’Ele, aparecem os mais diferentes obs- tempo para todo propósito debaixo do
táculos. céu (Ec 3.1). Aquele que deseja ser um
discípulo de Jesus não deve ser “moroso”.
Observemos a experiência de Za-
É preciso agir depressa. O escritor de He-
queu: Sua estatura o impedia de ver Je-
breus diz que devemos correr com perse-
sus entre a multião; sua função o estig- verança (Hb 12.1). Paulo nos exorta a não
matizava perante seus conterrâneos; sua sermos vagarosos no cuidado (Rm 12.11).
conduta como chefe dos publicanos, isto Ninguém tem o direito de retardar a bus-
é, dos cobradores de impostos a serviço ca por Jesus. O verso seis diz que Zaqueu,
do império romano, era reprovada. Jesus apressando-se, recebeu Jesus alegre-
foi censurado por ir à casa de Zaqueu e mente. Nossa diligência em buscar e em
comer com ele, porque na avaliação dos receber Jesus resulta em grande alegria (Jo
seus críticos, este era pecador. Mas ele 15.11; Lc 10.20).
tomou as decisões certas para superar
os obstáculos que o impediam de ver a É AMADO POR ELE (Lc 19.5)
Jesus e de se tornar um discípulo do Mes-
tre. Porém, observe, ele foi diligente: Cor- Observe que Jesus foi ao encontro de
reu, subiu numa árvore e ficou aguardan- Zaqueu, olhou para ele e ordenou que des-
do a aproximação de Jesus. Mais à frente, cesse depressa porque iria a sua casa. Mais
veremos que ele tomou outras decisões um detalhe: Jesus o chamou pelo nome.
que motivaram Jesus a dizer que ele tam- Jesus disse que as ovelhas dele ouvem sua
bém era filho de Abraão. voz e ele as conhece (João 10.27). Quan-
do damos o primeiro passo em direção a
Deus, descobrimos que Ele já vem ao nos-
Aplicação a sua vida: Quais são os obstá- so encontro. Deus realmente se importa
culos que o impedem de ser um discípulo conosco. Ele está procurando você, apenas
de Jesus? Você sente-se perdido, discrimi- esperando que você tome a iniciativa de
nado ou estigmatizado? Anime-se! Jesus o ir em busca d’Ele. Quando você fizer isto,
procura e quer fazer de você um discípulo. descobrirá que é Jesus quem o está procu-
rando. Ponha isto no coração: Jesus a ama,
sabe o seu nome e deseja fazer de você um
É DILIGENTE (Lc 19.3-8) discípulo d’Ele.
Zaqueu “procurou ver Jesus”. A visão Em Lc 19.7, Jesus é acusado de ser
e o conhecimento de Jesus são fatores hóspede de um pecador. Aqui talvez es-
preponderantes na obtenção da vida teja um dos grandes mistérios do amor
eterna (Jo 17.3). Zaqueu não se conten- de Deus. Ele não procura “justos” arro-
tou em apenas ouvir falar de Jesus, ou gantes, mas pecadores humildes e dis-
saber que ele havia passado por sua cida- postos a recebê-lo e, assim, se tornar um
de. Sua procura o levou a muito mais que discípulo dele. As demais pessoas pre-
um conhecimento meramente visual. Ela sentes na casa de Zaqueu censuraram Je-
redundou em bênçãos para sua vida e sus. Perderam, assim, a oportunidade de
sua família (Lc 19.9). O verso quatro diz também se tornarem discípulos dele e,
que ele “correu adiante”. No verso cinco, deste modo, não somente serem salvas,
Jesus ordena para Zaqueu descer “de- como também levarem a salvação para
pressa”. Na sua busca por Jesus, quando sua família.

112 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O D I S C Í P U LO E S E U E N C O N T R O C O M J E S U S |

Em Lc 19.9-10, Jesus declara: “Hoje para sua família (Lc 19.3). Na história do
veio a salvação a esta casa, pois, também cristianismo, Deus sempre começa por
este é filho de Abraão. Porque o Filho do uma ou mais pessoas de uma família e a
homem veio buscar e salvar o que se ha- Palavra vai alcançando os corações dos
via perdido. ” Jesus quer buscar e salvar o demais familiares. Aliás, esta é a ordem
que está perdido na sua vida. Tudo aquilo divina para cada seguidor de Jesus (Mc
que o pecado tem destruído. Sua paz, sua 5.19).
alegria da salvação e sua família. Jesus quer
fazer de você um discípulo e, desta forma,
usufruir de todas as bênçãos prometidas Aplicação a sua vida: O que está perdido
àqueles que o seguem (1 Co 2.9): “Mas, na sua vida ou na sua casa? Observe que Je-
como está escrito: As coisas que o olho sus está procurando exatamente o que está
não viu, e o ouvido não ouviu, e não su- perdido. Seu objetivo é salvá-lo. Peça para
biram ao coração do homem, são as que Jesus entrar em sua casa, curar suas feridas,
perdoar seus pecados e salvar sua família.
Deus preparou para os que o amam. ” É
importante salientar, entretanto, que Jesus
só pôde fazer isso na vida e casa de Zaqueu
AJUSTA A VIDA PARA SEGUI-LO (Lc
quando este procurou Jesus e o levou para
19.7-8)
sua casa.
Jesus foi claro com os seus segui-
dores, ao dizer-lhes que não existe dis-
Aplicação a sua vida: Jesus aproveitava cipulado sem crucificação do ego (Mt
todas as oportunidades para fazer o bem e 16.24-26). No discipulado, há renúncias
levar salvação às pessoas. Como discípulo e perdas; há valores a serem refeitos. So-
d’Ele, tenho aproveitado as oportunidades bre este assunto, a irmã Isabel Monteiro
para fazer outros discípulos? já escreveu no semestre passado, ao falar
sobre as instruções de Jesus aos seus dis-
cípulos, nos capítulos cinco a sete de Ma-
QUER A SALVAÇÃO DE SUA FAMÍLIA teus. Entretanto, o exemplo de Zaqueu,
(Lc 19.9) evidencia que os valores do Reino de
Cada momento do encontro de Za- Deus, apresentados por Jesus, eram ago-
queu com Jesus, nos transmite uma ra encarnados por aqueles que decidiram
mensagem especial sobre a salvação da se tornar seus discípulos.
família. O verdadeiro arrependimento produz
A promessa divina a Abraão é que, mudança. Aquele homem, antes ávido
nele, seriam benditas todas as famílias por cobrar impostos e, possivelmente,
da terra (Gn 12.3). Paulo assegurou ao um defraudador, revela-se agora um al-
carcereiro de Filipos que, se ele cresse em truísta, honesto e mais que justo para
Jesus, seria salvo ele e toda a casa dele (At com o próximo, ao decidir devolver qua-
16.30-31). O plano divino é que você seja tro vezes mais no que tivesse defraudado
o instrumento do Senhor para que sua alguém.
família experimente a graça salvadora do Zaqueu estava disposto a reparar os
Senhor Jesus Cristo. seus erros. Ele não argumentou contra
É importante salientar, entretanto, aqueles que o acusavam. Ele tomou uma
que o discípulo de Cristo precisa tomar decisão que demonstra mudança de
a iniciativa de conhecer Jesus e levá-lo vida. Deus espera que nossa fé vá além

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 113


| O D I S C Í P U LO E S E U E N C O N T R O C O M J E S U S

de nossas intenções. O discípulo de Jesus do está sendo procurado por Jesus para
precisa reconhecer seus pecados, tomar ser salvo. Ele está bem perto. Na verda-
decisões que demonstrem sincero arre- de, “n’Ele vivemos, nos movemos e exis-
pendimento e conversão. timos” (At 17.27-28). Quando o “homem
pecador” dá o primeiro passo em busca
do “Deus Santo”, descobre que ele está
Aplicação a sua vida: sabemos que Jesus à sua procura. Uma das pessoas con-
nos chama como estamos, mas para ser seu vertidas no meu ministério no Rio de
discípulo, temos que fazer alguns ajustes Janeiro, compôs uma música que diz:
em nossa vida que refletirão em nosso re- “Me arrependo, meu Deus, eu não sa-
lacionamento com Ele. bia... que a felicidade estava em Cristo!...
eu não sabia. Eu vivia agarrado ao mun-
do, sem para Cristo olhar. É que eu fu-
Conclusão gia de Cristo, e Ele queria me achar”.
Uma das extraordinárias revelações Jesus está também à sua procura. Dê o
de “O Novo Testamento” é que o “Deus primeiro passo para segui-lo, e desco-
Santo” procura o “homem pecador” e lhe brirá que Ele está bem juntinho de você,
faz o convite para vir após Ele, isto é, ser na verdade, batendo à porta do seu cora-
um discípulo d’Ele. Todo pecador perdi- ção (Ap 3.20).

114 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 33

Leituras Diárias
Segunda Lc 24.13-31
Terça Sl 119.126
Quarta Ap 3.20
UM PEDIDO ESPECIAL: FICA Quinta
Sexta
Lc 24.16 e 31
Rm 10.9-10
CONOSCO, SENHOR! Sábado
Domingo
At 3.15
Lm 3.19-21
Lucas 24.13-31
o Cristo Ressurreto. Então, toda tristeza
INTRODUÇÃO e sentimento de derrota desapareceram
da vida daqueles discípulos e eles foram
O pedido dos dois discípulos a Cami- anunciar que viram Jesus ressuscitado.
nho de Emaús retrata a realidade de cada
um de nós hoje, também discípulos do
Senhor.
Aplicação a sua vida: tudo muda quando
Se eu lhe perguntasse qual é a sua convidamos Jesus para entrar em nossa
maior necessidade neste momento, o vida e ficar conosco. Quais motivos o leva-
que você me diria? A maior necessidade riam a convidar Jesus para ficar com você,
de uma pessoa não é de saúde, de em- hoje?
prego, alimento, casa, escola, segurança,
dinheiro ou outros bens materiais. Nossa
maior necessidade hoje é de Deus mes- PORQUE É TARDE E JÁ DECLINOU O
mo, como diz o salmista: “A minha alma DIA! (Lc 24.13-29)
tem sede de Deus, do Deus vivo; quando
Aqueles discípulos no caminho de
entrarei e me apresentarei ante a face de
Emaús estavam sob domínio romano, e
Deus? ” (Sl 42.2).
na hora em que o livramento parecia ter
Aqueles discípulos caminhavam tris- chegado, o que eles viram foi a tragédia
tes, mas a companhia de Jesus lhes fez do julgamento e da crucificação de Jesus.
tanto bem que O convidaram para ficar Suas mentes estavam entorpecidas; eles
com eles. Jesus atendeu ao pedido de- não perceberam que tudo aquilo estava
les e, no partir do pão, revelou-se como no plano de Deus, exatamente para livrá-

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 115


| U M P E D I D O E S P E C I A L : F I C A C O N O S C O, S E N H O R !

los de uma escravidão mais aguda, a es- Da mesma forma, Jesus bate à porta do
cravidão do pecado. A noite passara, mas nosso coração; seu maior desejo é que
eles não perceberam. A companhia de ouçamos sua voz e abramos a porta, para
Jesus naquele momento lhes fazia bem, desfrutarmos de sua doce comunhão.
e eles pediram-lhe: Fica conosco.
A Bíblia nos adverte que “a noite vem”
(Jo 9.4). Todos nós vivemos experiências Aplicação a sua vida: Você percebe Jesus
de noites que parecem intermináveis! Às batendo à porta do seu coração, desejoso
vezes temos a sensação de que o tempo de lhe fazer companhia? Ele espera que
e a esperança se vão e não acontece o li- seus discípulos ouçam sua voz e O convi-
vramento. Porém, devemos nos lembrar dem para entrar e estar com eles.
de que, se a Bíblia nos assegura que “a
noite vem”, também nos promete que o
Porque queremos VER QUE ES-
“choro pode durar uma noite, mas a ale-
TÁS CONOSCO! (Lc 24.16 e 31)
gria vem pela manhã” (Sl 30.5).
Pode ser que você se identifique com Observe que o verso dezesseis diz
os discípulos que pediram para Jesus fa- que os discípulos estavam “como que
zer-lhes companhia porque estavam tris- com os olhos fechados”. E no verso trinta
tes (Lc 24.17). Pode ser que você julgue e um é dito que “abriram-se-lhes então
que a oportunidade está passando e não os olhos, e o conheceram”. Eles estavam
percebe que veio ajuda divina. Pode ser com Jesus mas não viam que era Jesus.
que você sinta que não há mais esperan- Somente depois que Jesus lhes abriu os
ça e nem qualquer expectativa para sua olhos, foi que O reconheceram.
vida, como compartilharam os discípulos
A visão correta de Jesus, ou o relacio-
no caminho de Emaús. Então, peça para
namento com Ele, é que dá vida eterna
Jesus ficar com você, porque já é tarde.
(Jo 17.3). Então, precisamos pedir que Je-
sus nos abra os olhos.
Aplicação a sua vida: Que horas são na a) Quando Jesus nos abre os olhos,
sua existência? Já lhe ocorreu de refletir entendemos melhor as escrituras. Aque-
sobre o quanto a vida passa rápido? O que les discípulos não sabiam, mas sua ex-
está passando “da hora” na sua vida? Onde, periência ficaria registrada nas páginas
na sua vida, você entende que já é tempo sagradas. Da mesma forma, cada um de
de Deus atuar? nós faz parte dos planos de Deus na his-
tória da Igreja. Sua vida, amado irmão,
está sendo escrita nesta nova etapa da
PORQUE PRECISAMOS DA TUA
história do povo de Deus.
COMPANHIA! (Lc 24.29) 
Uma das gran-
des bênçãos da igreja é a experiência da
presença de Jesus no meio da mesma (Mt
18.20). A Igreja de Laodicéia deixou Jesus Aplicação a sua vida: De qual modo você
do lado de fora de sua vida, mas ele batia permitirá que sua história seja registrada?
à porta, esperando ser ouvido, para en- O que vão dizer de você quando Deus te
chamar para a eternidade?
trar e ter comunhão com eles (Ap 3.20).

116 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
U M P E D I D O E S P E C I A L : F I C A C O N O S C O, S E N H O R ! |

b) Para vermos que Jesus morreu, mas Paulo nos recomenda a tomarmos posse
ressuscitou. Ele vive para todo o sempre da vida eterna (1 Tm 6.12). Não permita
(Ap 1.18). Paulo diz que a mensagem dele que imagens destrutivas e de morte do-
era que Cristo foi crucificado, morto e se- minem sua mente. Traga à memória o
pultado, mas ressuscitou ao terceiro dia que lhe pode dar esperança (Lm 3.19-21).
(1 Co 15.2-4). A certeza da ressurreição de Somente assim, você poderá exercitar a
Cristo é que nos assegura a vida eterna fé e perceber que Deus está no controle
(Rm 10.9-10). A tristeza daqueles discípu- de sua vida.
los era porque, para eles, o seu Cristo es-
tava morto. Você deve remover toda tris-
teza e lembrança de derrotas de sua vida, Conclusão
pois, Cristo é Aquele que venceu a morte
Se você ainda não convidou Cristo
e nos conduz em vitória (1 Co 15.54 e 57;
para ficar com você, este é o momento de
Rm 8.37).
fazê-lo. Se já fez este convite, identifique-
c) Para vermos que Jesus é o autor da se com aqueles discípulos a caminho de
vida (At 3.15). Jesus nos dá vida abun- Emaús e abra os olhos, perceba que Ele
dante e eterna porque Ele é o AUTOR DA está com você para mudar a sua vida.
VIDA. Os discípulos caminhavam com a Peça a Ele que lhe abra os olhos para ver
imagem de um Jesus morto e nem per- como você poderá participar mais signifi-
cebiam que Ele estava vivo e com eles. cativamente do reino.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 117


ESTUDO 34

Leituras Diárias
Segunda Lc 13.1-9
Terça Mt 27.24-25
O DISCÍPULO APROVADO Quarta
Quinta
Is 55.8-9
Lc 18.9-14
POR DEUS Sexta
Sábado
Gl 5.19-23
Hb 3.7-8
Lucas 13.1-9 Domingo 2Co 6.2

mando de Pilatos, enquanto ofereciam


INTRODUÇÃO sacrifícios a Deus. O sangue deles fora
O discípulo de Cristo deve reavaliar misturado com os próprios sacrifícios
seus conceitos de “culpa e castigo”, bem oferecidos ao Senhor. Pilatos os conside-
como quando trata da questão sobre rava insurgentes contra o governo e, por
quem é mais pecador: aquele que co- isso, os mandara matar. As palavras de Je-
mete um crime bárbaro ou aquele que sus nos dão a entender que aqueles gali-
não se arrepende de outros pecados, por leus eram julgados pela sociedade como
julgá-los menos graves que os pecados grandes pecadores. Entretanto, Jesus
do próximo. Na condição de discípulos redireciona o mérito da questão para a
de Jesus, somos responsáveis pela divul- realidade de que o maior pecado de uma
gação do Reino de Deus e de sua justiça, pessoa é a rejeição do Reino de Deus. Ele
conforme o Senhor nos recomenda em os adverte de que, se não se arrependes-
Mt 6.33. De acordo com esse padrão de sem, de igual modo pereceriam. Isto nos
justiça, o que é um discípulo aprovado faz lembrar que esta palavra de Jesus lite-
por Deus? Este estudo aprecia valores ralmente aconteceu quando da destrui-
divinos que nos tornam aprovados por ção do templo de Jerusalém e da morte
Deus. de milhares de judeus no ano setenta da
era cristã. No julgamento de Jesus, Pilatos
disse que era “inocente do sangue deste
É AQUELE QUE RECONHECE OS VALO-
justo”, então, o povo respondeu: “O seu
RES DO REINO (Lc 13.1-3)
sangue caia sobre nós e sobre os nossos
Os “galileus” aos quais Jesus se refe- filhos. ” (Mt 27.24-25). Aquele que se tor-
re neste texto bíblico, foram mortos a na um discípulo de Jesus, precisa rever os

118
118 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
O D I S C Í P U LO A P R O V A D O P O R D E U S |

seus valores em comparação com os va- É AQUELE QUE TEM O FRUTO DO ESPÍ-
lores do mundo (Rm 12.1-2). Em Is 55.8-9, RITO E RENEGA A OBRA DA CARNE (Gl
aprendemos que a escala de valores de 5.19-23)
Deus é elevada; a nossa é baixa.
Neste texto bíblico, o apóstolo Pau-
lo nos apresenta uma lista das obras da
Aplicação a sua vida: os valores de Deus carne e o fruto do Espírito. Em Gl 5.19,
são diferentes dos valores humanos, pois, ele menciona “prostituição, impureza,
Deus busca a essência da pessoa. De qual lascívia”. O termo grego para a palavra
forma os valores humanos tem influencia- prostituição é “porneia”, que significa “re-
do a sua vida? lação sexual ilícita, adultério, fornicação,
homossexualidade, lesbianismo, relação
sexual com animais, relação sexual com
É AQUELE QUE SE ARREPENDE (Lc 13. parentes próximos, relação sexual com
3-5) um homem ou mulher divorciada” (Mc
10.11,12). O termo “impureza” é “akayar-
A Bíblia diz que Deus não rejeita o co-
sia”, que significa “impureza física; im-
ração quebrantado e contrito. Deus não
pureza moral; impureza proveniente de
leva em conta o quanto nós pecamos,
desejos sexuais, luxúria, vida devassa. Já
mas o quanto nos arrependemos. Deus
o termo lascívia é “aselgeia”, que significa:
se importa não com o nosso passado,
“luxúria desenfreada, excesso, licencio-
mas com o que somos e como estamos
sidade, libertinagem, caráter ultrajante
agora (At 17.30; Hb 8.12). Na parábola do
impudência, desaforo, insolência; adora-
fariseu e do publicano (Lc 18.9-14), Jesus
ção de ídolos”. Precisamos ser honestos
disse que o fariseu se gabava de sua re-
para, ao detectarmos em nós qualquer
ligiosidade e “justiça”, enquanto que o
uma dessas atitudes, termos a coragem
publicano apenas clamava: “Ó Deus, tem
de renunciá-la e buscarmos o fruto do
misericórdia de mim, pecador”. Jesus con-
Espírito Santo.
cluiu afirmando que o publicano desceu
justificado, enquanto que o fariseu não. Gl 5.21 aponta: “invejas, bebedices,
O problema dos ouvintes a quem Jesus orgias, e coisas semelhantes a estas.” É
dirigiu as palavras de Lc 13.3-5 é que eles impressionante verificar que o invejoso
julgavam os outros e não se arrependiam não herdará o Reino de Deus. Na mes-
dos próprios pecados. Se você quer ser ma lista, entram as bebedeiras, as orgias
um discípulo aprovado por Deus, deixe e coisas similares. Por esta “lista” de im-
de apontar os pecados do próximo e se pedimentos apontados por Paulo, fica
arrependa dos seus. Porém, o verdadeiro caracterizado que, para Deus, não existe
arrependimento produz resultados. um “jeitinho” para ninguém na eternida-
de. Todas essas manifestações são obras
da carne, diferentes do “fruto do Espírito”,
Aplicação a sua vida: para Deus, o arre- conforme veremos a seguir.
pendimento é sempre na “primeira pessoa”. Diferentemente de “obras da carne”, a
Deus se importa com o meu tempo presen- partir de Gl 5.22, Paulo fala sobre o “fru-
te. Qual ou quais situações você ainda pre- to do Espírito”, que é: “amor, gozo, paz,
cisa colocar diante de Deus? longanimidade, benignidade, bondade,

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 119


| O D I S C Í P U LO A P R O V A D O P O R D E U S

fidelidade. ” O amor é o primeiro produto Tanto João quanto o próprio Jesus, afir-
(fruto) do Espírito, que deve ser traduzi- maram que, aquele que não desse fruto,
do em atitude, e não somente em pala- seria cortado.
vra. Todo estilo de vida deve ser pautado
Em Lc 13.6-9, Jesus conta a “Parábola
no amor. Quem é possuído pelo Espírito
Santo, desfruta ainda de alegria e paz; ele da Figueira” plantada numa vinha. Du-
é longânimo (tem o ânimo longo), busca rante três anos, o dono da vinha procu-
o bem do próximo, é bom e fiel. A infide- rou figo na figueira e não a encontrou,
lidade é uma deturpação do caráter e evi- então, recomentou que fosse cortada. A
dencia a ausência do Espírito Santo. alegação era que a figueira ocupava o lu-
gar “inutilmente”. O vinhateiro pediu mais
Em Gl 5.23, temos “mansidão e domí- um ano de prazo; se, após aquele período
nio próprio”. Mansidão e domínio próprio não desse fruto, seria cortada e lançada
estão relacionados e nos identificam com fora. Vale lembrar ainda o episódio da fi-
Jesus, que disse: “Sou manso e humilde gueira frondosa na qual Jesus procurou
de coração” (Mt 11.29). Na sequência de fruto e, não o encontrando, a amaldiçoou
Gl 5.23, Paulo diz que contra essas coisas e ela secou imediatamente (Mt 21.18-19).
não há lei. No verso 24, ele justifica por O texto de Jo 15.2 e 6, diz que o galho de
que o discípulo de Cristo age diferente uma videira que não dá fruto é cortado,
daqueles que não seguem a Jesus: “E os lançado fora, seca, é colhido, é lançado
que são de Cristo crucificaram a carne
no fogo e arde. O discípulo aprovado por
com as suas paixões e concupiscências”.
Deus, não se contenta com uma vida de
O fruto do Espírito é a evidência clara de
aparência. Ele leva a sério a vida cristã,
que nascemos de novo, nascemos do
produz fruto e cada vez mais é limpo,
Espírito Santo (Jo 3.3-5). Quem não tem
isto é, santificado, para que dê mais fruto.
o Espírito Santo não está ligado a Deus,
Quando percebe que não está com sua
não é de Cristo (Rm 8.9).
vida aprovada por Deus, ele se arrepende
e demonstra isto na prática.
É AQUELE QUE PRODUZ FRUTOS (Lc
13.6-9 e Jo 15.2 e 6)
Conclusão
É inadmissível para Deus que alguém
“plantado” no seu Reino não produ- O discípulo aprovado Deus não retar-
za frutos para o mesmo. É inadmissível da suas decisões (Hb 3.7-8; 2 Co 6.2). A
para Deus que alguém ligado à “Videira posição bíblica é que o momento de bus-
Verdadeira” não produza frutos verda- car o Senhor é sempre agora, hoje. Toda
deiros. Então, o que Deus faz? Remove a nossa vida terrena é uma oportunidade
esse “intruso” do Reino (ou da Videira). dada por Deus para produzirmos frutos
João Batista, ao iniciar o seu ministério, para a vida eterna. Deus não aceita nossa
conclamava a todos para produzirem aparência ou meras palavras. Deus quer
fruto digno de arrependimento (isto é, vidas transformadas e produtivas. Deus
fruto que demonstrasse sincero arrepen- tolera os nossos pecados, mas tem um
dimento), conforme Mt 3.8-10. João os limite. Pode ser que este seja também o
alertava para que não confiassem na sua seu último ano de oportunidade, como
tradição religiosa (religião dos seus pais), foi o da figueira que não produzia fruto.
mas que dessem evidência de verdadeira Então, busque ao Senhor e produza fruto
mudança, conforme se pode ler nos ver- digno de arrependimento. Seja um discí-
sos seguintes de Mateus, capítulo três. pulo aprovado por Deus!

120 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 35

Leituras Diárias
Segunda 1Co 4.1-2
2Rs 4.8-9
MINISTRO E DESPENSEIRO
Terça
Quarta Hb 2.17-18
Quinta Gl 5.19-21
DOS MISTÉRIOS DE DEUS Sexta 2Co 11.28-29
2Tm 4.7-8
Sábado
1 Coríntios 4.1-4 Domingo 1Co 4.9

CIÊNCIA, isto é, “estar com a ciência” de


INTRODUÇÃO que é preciso servir ao “corpo de Cristo”,
Considerando que Jesus, ao comis- a Igreja. Deste modo, vemos de imediato
sionar seus discípulos, lhes recomendou que, na condição de ministro de Cristo,
que fizessem discípulos e lhes ensinas- cada discípulo tem funções básicas, a fim
sem todas as coisas que ele tinha ensina- de que desempenhe bem o seu ministé-
do (Mt 28.19), reflitamos sobre o desejo rio.
de Paulo, expresso em 1 Co 4.1-2, onde Aurélio7 define “ministro” como “título
lemos: “Que os homens nos considerem genérico para qualquer empregado ou
como ministros de Cristo e despenseiros funcionário público de nível mais ele-
dos mistérios de Deus”. vado: secretário de Estado; membro de
Tribunal. Aquele que executa os desíg-
nios de outrem: medianeiro, intermedi-
Aplicação a sua vida: O que é um “minis- ário, executor, auxiliar; do evangelho (...)
tro de Cristo” e o que significa ser despen- Membro de um ministério; (...) Categoria
seiro desses “mistérios divinos”? diplomática abaixo da de embaixador.
Aquele que, em nome da Igreja, exerce
certas funções sagradas, como pregar,
DISCÍPULO E MINISTRO DE CRISTO (1
administrar os sacramentos. Pastor pro-
Co 4.1-2)
testante. Designação comum aos juízes
A palavra “ministro”, no grego do Supremo Tribunal Federal, do Supe-
υπερετης (huperetes), significa “aque- rior Tribunal Militar, do Tribunal de Con-
le que serve, ajudante”. Ela substitui a tas da União, do Tribunal Federal de Re-
palavra δουλος (doulos), que significa cursos, do Tribunal Superior do Trabalho
“servo”.6 Todo cristão deve ter a CONS- e dos tribunais eleitorais”.
REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 121
|| 121
| MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS

O apóstolo Paulo espera que os ho- aos Hebreus diz que, por assim viver, Ele
mens nos considerem como “ministros pode nos compreender e nos ajudar (Hb
de Cristo, e despenseiros dos mistérios de 2.17-18; 4.15-16). Ponha-se no lugar do
Deus”. A função do ministro é servir. O dis- próximo e você se assemelhará ao mes-
cípulo está a serviço de Cristo entre os ho- mo que Jesus fez. Jesus tomou a inicia-
mens, e é necessário que seja reconhecido tiva de humilhar-se a si mesmo. Ele não
por eles. Isso nos faz lembrar de Eliseu, que esperou ser humilhado. Aliás, Ele asse-
foi reconhecido como um santo homem gurou que, somente quem se humilhar,
de Deus (2 Rs 4.8-9). Lembremo-nos ain- será exaltado (Mt 23.12). A Bíblia diz que
da que, em Antioquia, os discípulos foram Jesus “sendo em forma de Deus, não teve
chamados, pela primeira vez, de “cristãos” por usurpação ser igual a Deus, mas es-
(At 11.26). Observe que eles não se deno- vaziou-se a si mesmo, tomando a forma
minaram cristãos, mas foram reconhecidos de servo, fazendo-se semelhante aos ho-
como tais em virtude de suas vidas refleti- mens; e, achado na forma de homem, hu-
rem o exemplo de Cristo. milhou-se a si mesmo, sendo obediente
O que diferencia um discípulo de Cristo até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.6-8). E
dos demais homens precisa ser o mesmo porque Ele se humilhou, Deus o exaltou
sentimento que houve em Cristo (Fp 2.5- soberanamente, e lhe deu um nome que
8). Observe de que modo Jesus nos serve é sobre todo o nome” (Fp 2.9). Se você se
de exemplo: “De sorte que haja em vós o humilhar, Deus o exaltará e honrará o seu
mesmo sentimento que houve também nome.
em Cristo Jesus”. e) “Foi obediente até à morte”. A ques-
a) “Sendo em forma de Deus, não teve tão aqui não é ser obediente até quando
por usurpação ser igual a Deus”. Jesus era morrer, mas até a ponto de morrer. Este
Deus, mas não reivindicou “seus direitos também é o significado de Ap 2.10: “(...)
divinos”. Sendo rico, se fez pobre, a fim de Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da
nos enriquecer (2 Co 8.9). O discípulo de vida”. O discípulo, mesmo ante a ameaça
Cristo não busca o seu interesse pessoal; e concretização da morte, permanece
seu objetivo é o bem do próximo (1 Co fiel.
10.24). f ) “Teve morte de cruz”. Jesus nos
b) “Esvaziou-se a si mesmo”. O discípu- chamou para, a cada dia, tomarmos a
lo de Cristo não se ufana de nada. Ele se nossa cruz (Lc 9.23). Paulo disse que es-
esvazia de si mesmo, e só deve gloriar-se tava crucificado com Cristo (Gl 2.20). O
na cruz de Cristo (Gl 6.14). verdadeiro discípulo de Cristo está cru-
cificado com Ele, e é desta forma que
c) “Tomou a forma de servo”. Jesus dis- serve o próximo e glorifica a Deus. Vida
se que basta ao discípulo ser igual ao seu sem crucificação da carne e dos prazeres
Mestre (Lc 6.40). O discípulo é chamado mundanos não é vida cristã. Em Gl 5.19-
para servir aos homens e a Deus (Cl 3.23). 21, Paulo lista quais são esses prazeres ou
d) “Fez-se semelhante aos homens”. paixões da carne: “Adultério, prostituição,
O discípulo somente entende o próxi- impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, ini-
mo quando procura se colocar “no seu mizades, porfias, emulações, iras, pelejas,
lugar”. Jesus veio viver como homem, dissensões, heresias, invejas, homicídios,
sentir como homem, ser tentado e mor- bebedices, glutonarias, e coisas semel-
rer como homem. O escritor da Carta hantes a estas”.

122 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS |

g) “Veio para servir” (Mt 20.28). Quan- lar uma casa, determinando a cada um
do o mundo enxergar essa predisposição quais os seus deveres específicos (...).
em cada um de nós, teremos dado o pri- Essa palavra indicava também aquele
meiro passo de um despenseiro dos mis- que geria os negócios externos de uma
térios de Deus. Somos administradores casa”.8 O discípulo despenseiro é aque-
da despensa divina aos homens, e eles le que administra a despensa divina em
mesmos é que devem nos considerar benefício não somente à Igreja, como
como discípulos e ministros, isto é, a ser- corpo de Cristo, mas também a todas as
viço de Cristo neste mundo. demais pessoas do mundo. Paulo, em
2 Co 11.28-29, diz: “Além das coisas ex-
teriores, há o que pesa sobre mim dia-
Aplicação a sua vida: Ter o mesmo sen- riamente, a preocupação com todas as
timento de Cristo é o que diferencia um igrejas. Quem enfraquece, que também
discípulo de Cristo dos demais homens. eu não enfraqueça? Quem se escanda-
Assim, as qualidades apresentadas no ca- liza, que eu não me inflame?”. Na condi-
ráter de Cristo devem ser evidenciadas em ção de despenseiros desses mistérios de
nós. Identifique em seu viver diário quando Deus, o discípulo de Cristo é desafiado,
você apresenta essas qualidades. diariamente, a exercer essa função. Desse
modo, o discípulo está consciente de que
cuida da despensa de Deus a favor dos ho-
DISCÍPULO E DESPENSEIRO DOS MIS- mens. Exemplo: Daniel e o despenseiro de
TÉRIOS DE DEUS Babilônia (Dn 1.11): “Então disse Daniel ao
despenseiro a quem o chefe dos eunucos
Os “mistérios de Deus” não se referem
havia constituído sobre Daniel, Hananias,
a coisas “misteriosas”, mas tem a ver com
Misael e Azarias (...)”. Assim como o homem
o suprimento espiritual que Deus nos
que cuidava dos amigos de Daniel tinha
confia, como o discernimento e a prega-
a responsabilidade de mantê-los bem ali-
ção da Palavra, bem como a intercessão, mentados e saudáveis, da mesma forma
o ensino, o cuidado recíproco, o amor somos responsáveis pela alimentação e
não fingido e o ensino a respeito da pró- saúde espiritual daqueles que Deus nos
pria pessoa de Jesus. Quando explicou o tem confiado.
significado da “Parábola do Semeador”,
Jesus disse que aquele era um mistério a) O discípulo de Cristo é um despen-
do Reino de Deus revelado aos discípu- seiro da Casa de Deus (Tito 1.7): “Porque
los (Mt 13.11). Paulo disse que a salvação convém que o bispo seja irrepreensível,
estendida aos gentios era um mistério como despenseiro da casa de Deus, não
que foi revelado (Cl 1.27). É desta forma soberbo, nem iracundo, nem dado ao vi-
que o discípulo de Cristo é um despen- nho, nem espancador, nem cobiçoso de
seiro dos mistérios de Deus. Isto é, tem a torpe ganância. ”
incumbência de ministrar as verdades da b) O discípulo de Cristo é um despen-
Palavra a todas as pessoas. seiro dos mistérios de Deus. Aqui cabe
uma pergunta: como ter acesso a esses
O que é um despenseiro? É o encar-
mistérios? É através da Palavra de Deus, a
regado da despensa; ecônomo. “É a tra-
chave da despensa divina (Sl 119.105; Jo
dução do vocábulo grego οικονομος;
5.39; 2Tm 3.16-17).
oikonomos – que significa distribuir,
determinar, dirigir”. O despenseiro “indi- c) O discípulo de Cristo é um despen-
ca alguém que tinha por função contro- seiro da graça de Deus a corações feridos,

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 123


| MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS

vidas arruinadas e aprisionadas pelo ini- principalmente pelo Senhor (Mt 25.21 e
migo (1 Pe 4.10): “Cada um administre 23). O discípulo fiel receberá a coroa da
aos outros o dom como o recebeu, como justiça, a coroa da vida (2 Tm 4.7-8; Ap
bons despenseiros da multiforme graça 2.10). A questão de nossa fidelidade é tão
de Deus”. significativa que Paulo diz que “somos
feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e
d) Quanto ao tema “mistérios de
aos homens” (1 Co 4.9). A aprovação de
Deus”, não nos deteremos nele, mas lem-
nossa fidelidade é o maior diploma de
bremos que Paulo mesmo nos informa
um discípulo e despenseiro de Cristo.
que esse “mistério” é o próprio Cristo em
nós (Ef 3.9; 1Co 2.7; 1 Tm 3.16; Cl 4.3, 2.2,
1.29).
Aplicação a sua vida: como tem sido seu
comportamento de um discípulo despen-
seiro? Quanto da Bíblia (versículos) você
Aplicação a sua vida: O despenseiro de tem guardado em sua memória?
Cristo é aquele que guarda a Palavra e a
distribui ordenadamente àqueles que ne-
cessitam de alimento. Você tem sido fiel a
essa verdade? CONCLUSÃO:
O discípulo e despenseiro fiel precisa es-
tar ciente de que não vive para si, e que
FIDELIDADE DO DISPENSEIRO: DISCÍ-
deve olhar para Cristo, seu maior exem-
PULO E DESPENSEIRO FIEL (1 Co 4.2)
plo. Tudo o que fizer deverá ser na con-
Na condição de ministro e despen- dição de servo, e para a glória de Deus.
seiro dos mistérios de Cristo, o discípulo Tem que ser por amor a Jesus, sabendo
deve “ser achado fiel”. Todos havemos de que, tudo o que fizer a um dos seus pe-
“dar conta” da administração (mordomia), queninos, é ao Senhor que está fazendo
do que tivermos feito com o “estoque” da (Mt 25.40).
despensa divina (Lc 16.2; Mt 25.19). A
despensa não é do discípulo, é de Deus.
________________
Ele deve administrá-la com fidelidade e 7
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda – Novo Au-
segundo a expectativa divina (Mt 25.27). rélio o dicionário da língua portuguesa – Século XXI
Todos vamos comparecer ante o tribunal – Dicionário eletrônico.
divino para julgamento de nossas ações 8
CHAMPLIN, - Russell Norman - O novo testamento
(2 Co 5.10). Nossa fidelidade será não interpretado versículo por versículo. Vol. IV. Milê-
apenas reconhecida pelos homens, mas nium. SP. Pag. 57.

124 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 36

Leituras Diárias
Segunda Lc 22.31-34
Terça Tg 1.13-15
QUANDO O DISCIPULO NEGA Quarta
Quinta
Lc 22.55-58
2 Tm 2.13
A CRISTO Sexta
Sábado
Jo 21.15-19
Mt 10.32-33
1 Pe 4.8
Lucas 22.31-34 Domingo

também que a pessoa nascida de Deus não


Introdução
vive na prática do pecado. Contudo, o “cair
Veremos neste estudo quais são as condi- em tentação” pode ser uma realidade (Mt
ções em que um discípulo de Cristo pode ser 6.13; 26.41). Por esta razão, veremos a seguir
tentado, os motivos da tentação (no caso de o que acontece ao discípulo de Cristo ante as
Pedro), bem como os resultados da negação tentações.
a Cristo e a oportunidade do arrependimento
que é dada por Deus.
JESUS INTERCEDE POR ELE (Lc 22.31-
32)
É vencido pelo TENTADOR (Lc 22.31;
No caso de Pedro, temos uma revelação
Tg 1.13-15)
do que aconteceu antes dele negar ao Se-
Ainda que o diabo ande ao nosso der- nhor: Satanás pediu permissão para ciran-
redor, “rugindo como leão, e procurando a dá-lo, isto é, peneirá-lo como se peneirava
quem possa tragar” (1 Pe 5.8), sabemos tam- o trigo. Depreende-se do texto que Satanás
bém que “o anjo do Senhor acampa-se ao re- obteve essa permissão, mas temos a revela-
dor dos que o temem e os livra” (Sl 34.7). Sata- ção de que Jesus, sabendo da tentação à qual
nás só poderá atingir um discípulo de Cristo Pedro seria submetido, orou mesmo antes
sob a permissão de Deus, ou se o discípulo que acontecesse, para que aquele discípulo
der lugar à tentação (Ef 4.27). A experiência não desfalecesse. Jesus intercede por nós e
de Jó é uma clara demonstração de que Sa- pode socorrer os que são tentados porque
tanás só pode tocar um filho de Deus sob sua em “tudo foi tentado” (Hb 2.18; 4.15-16; 7.25).
permissão (Jó 1.8-12). Em 1 Jo 5.18, é dito que Como Jesus é maravilhoso! O que aconte-
o inimigo não toca naqueles que são nasci- ce nas esferas espirituais é algo que, muitas
dos de Deus. Entretanto, este versículo diz vezes, não temos conhecimento. Mas, o fato

REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 125
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| Q U A N D O O D I S C I P U LO N E G A A C R I S T O

de Jesus Saber do que estava acontecen- motivos secretos. Jesus havia prevenido
do e interceder em favor de Pedro, só vem que seria preso, julgado, morto e que res-
a confirmar o que vimos nos textos bíblicos suscitaria. A cegueira e surdez espiritual
mencionados anteriormente: Jesus inter- daqueles discípulos os privavam de se co-
cede pelos que são tentados. Tiago diz que, locarem à mercê da vontade do Senhor. A
quando caímos em tentação, é por causa visão espiritual verdadeira sabe que não
de nossa cobiça (Tg 1.14-15). O discípulo de deve ser “por força, nem por violência, mas
Cristo deve resistir ao diabo e, no caso de cair pelo meu Espírito, diz o Senhor dos exérci-
em tentação, confessar o seu pecado e crer tos” (Zc 4.6).
na intercessão de Jesus. Pedro não admitiu
a possibilidade de cair em tentação e deu DISTÂNCIA NA RELAÇÃO: (22.54). O discí-
passos em direção à sua queda, conforme pulo que não ora e tenta defender o Reino
pontuado a seguir. de Deus pela força, não tem firmeza para
acompanhar de perto o seu Senhor. Segue
o Senhor de longe, isto é, sem compromis-
Aplicação a sua vida: o discípulo de so. Essa pessoa está prestes a dar um passo
Jesus não está imune às tentações, mas ainda mais perigoso
temos exemplo a seguir, para não cairmos FINALMENTE, NEGAÇÃO AO SENHOR (Lc
e, quando cairmos em tentação, sabermos 22.55-58). O discípulo que não ora, que usa
o que fazer. de violência para defender o Reino de Deus
e que segue a Jesus sem compromisso, na
hora em que deveria dar o seu testemunho,
PASSOS PARA A NEGAÇÃO A CRISTO senta-se com os escarnecedores e diz que
NEGLIGÊNCIA À ORAÇÃO (Lc 22.33). Pedro não conhece a Cristo. Como você pode ver,
foi advertido de que negaria ao Senhor, a princípio, Pedro afirmava que estaria dis-
porém se achou mais forte que todos os posto até a morrer por amor a Cristo, mas
outros. Ele alimentava uma falsa fidelidade sua negligência à oração, apelo à violência e
(muito mais “bravata” que verdade). Quan- excesso de autoconfiança o levaram a come-
do nos estribamos na autoconfiança, da- ter o maior erro de sua vida: negar a Cristo.
mos o primeiro passo para a queda. Daí a O pecado é assim: vai minando nossas forças,
recomendação aos que estão em pé para nossa resistência e, por fim, cometemos coi-
terem cuidado para não cair (1 Co 10.12). sas absurdas!

SONOLÊNCIA NA TENTAÇÃO (Lc 22.45- Nossa infidelidade, entretanto, não torna


46). Apesar da advertência do Senhor, en- Deus infiel (2 Tm 2.13). O amor de Cristo por
quanto Jesus orava em agonia, os discípu- seus discípulos, alertou Pedro da tentação e
los dormiam. Jesus os adverte para orarem lhe fez a recomendação de que, quando se
a fim de não entrarem em tentação, mas convertesse, confortasse a seus irmãos (Lc
eles estavam tão vencidos pela tristeza que 22.32). Este texto nos leva à compreensão
não atentaram para as palavras do Senhor. de que Pedro teria uma queda em sua vida
Quando leio estes versículos fico envergo- espiritual, mas que teria também a oportu-
nhado, porque é fácil julgar os outros, po- nidade de conversão (não que ele ainda não
rém, quantas vezes, eu mesmo não me dei- fosse convertido ao Senhor), mas que haveria
xo abater pela tristeza e “durmo”? Descuido uma “reviravolta” tremenda na sua vida e que,
assim do momento em que deveria estar após essa experiência, poderia ajudar os seus
irmãos. É comum querermos “atirar pedras”
vigilante e em oração.
ou “puxar a espada” quando não admitimos
VIOLÊNCIA NA AÇÃO (Lc 22.50). Somos nossas fraquezas e pecados. Porém, quan-
assim: quando nossa fraqueza espiritual do reconhecemos que somos tão humanos
vem à tona, usamos da violência física (ou quanto os outros, choramos, amargamente,
verbal) para encobrir nossos verdadeiros os nossos pecados.
126 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
Q U A N D O O D I S C I P U LO N E G A A C R I S T O |

RESULTADO DA NEGAÇÃO A JESUS? (Lc fessarmos diante dos homens, Ele também
22.61-62) nos confessará diante do Pai (Mt 10.32-33).
A previsão de Jesus se cumprira. Ele olha A confissão de Pedro levou Jesus a fazer-
para Pedro. Esse estremece. Suas “bravatas” lhe a revelação de como havia de glorificar
desvaneceram, sua fé esmaeceu, sua alegria a Deus através de sua morte (21.18-19).
tornou-se amargo pranto. Olhar para Jesus
como Salvador tem um significado; mas
olhar para Jesus como Juiz, deve ser terrível. Aplicação a sua vida: Pode ser que você
Eu acredito que o olhar de Jesus foi de uma algumas vezes tenha negado seu amor a
amorosa advertência, mas o suficiente para Jesus, mas hoje Ele lhe dá nova oportunida-
desmantelar o apóstolo Pedro. Ele saiu dali e de de provar que O ama.
chorou amargamente.
Jesus disse que os que choram são bem-
Segundo a tradição, Pedro morreu cru-
aventurados e serão consolados (Mt 5.4). A
cificado de cabeça para baixo, em Roma. Na
pecadora que ungiu os pés de Jesus chora-
hora da crucificação, ele teria dito que era in-
va, e Jesus disse que os seus muitos pecados
digno de morrer como o seu Senhor morreu,
foram perdoados (Lc 7.38, 44 e 47-48). Paulo
então, Pedro teria pedido para ser crucificado
diz que a tristeza segundo Deus opera arre-
de cabeça para baixo. O que, entretanto, nos
pendimento para a salvação (2 Co 7.10). O
chama a atenção nesse registro bíblico de
discípulo de Jesus que, sinceramente, chorar
João, capítulo vinte e um, é a preocupação
por causa dos seus pecados, terá o perdão do
de Jesus em reabilitar Pedro. Isto faz parte
Senhor e será reintegrado à sua missão. Após
do discipulado. Quando alguém fraquejar e
a ressurreição, Jesus procurou a Pedro e o re-
negar a fé, devemos, com todo amor, dar-lhe
conduziu à função apostolar.
nova oportunidade. E, foi com essa oportuni-
dade, que Pedro se tornou uma bênção no
Reino de Deus e veio a escrever depois que
Aplicação a sua vida: segundo o estudo, o amor cobre uma multidão de pecados (1 Pe
o pecado é consequência de alguns fatores 4.8).
que culminam com a prática dele. Você tem
praticado algum desses passos? Reflita e
reconsidere a sua jornada de vida. Conclusão
Acreditamos que todos temos “um Pedro”
OPORTUNIDADE DE REABILITAÇÃO (Jo dentro de nós. Queremos servir a Jesus, po-
21.15-19) rém, muitas vezes, nos vemos afundando nas
empoladas ondas do mar da vida. Dizemos
Jesus, pessoalmente, foi ao encontro de que somos fiéis a Jesus, porém é comum nos
Pedro. Esse voltara de Jerusalém para a Gali- vermos em situação de perigo e, ante algu-
leia e fora novamente pescar (Jo 21.1-7). Nos ma ameaça, fraquejamos e fingimos não co-
versos 15 a 17, Jesus indaga Pedro se ele O nhecer o nosso Mestre, ou agimos como se
amava. Pedro desconversou, dizendo que não O conhecêssemos. Cremos também que,
gostava de Jesus e que Ele sabia disso. Ape- no processo do crescimento espiritual e do
lou para o conhecimento de Jesus, dizendo: discipulado cristão, devemos detectar atitu-
“Tu sabes que te amo”. Jesus reformulou a des que reflitam arrogância, negligência na
pergunta e Pedro reafirmou sua resposta oração, omissão no compromisso de seguir
por três vezes. Deus sabe todas as coisas, a Jesus e, finalmente, percebermos o desfe-
mas é necessário confessar com a boca (Rm cho ou resultado de tudo isso: negar a Cristo.
10.9-10). Há implicações espirituais que exi- Caso você reconheça que tem falhado para
gem a confissão de nosso amor a Jesus. Pe- com o seu Senhor, confesse isto agora mes-
dro precisava confessar o seu amor a Jesus, mo. Lembre-se de que Ele também está à sua
porque anteriormente havia até jurado que procura, desejando reabilitá-lo à comunhão
não O conhecia. Jesus disse que, se O con- com Ele e no serviço cristão.
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 127
ESTUDO 37

Leituras Diárias
Segunda Lc 22.31-34
Terça Tg 1.13-15
Quarta Lc 22.55-58
Quinta 2 Tm 2.13
O OLHAR MISERICORDIOSO Sexta Jo 21.15-19
Mt 10.32-33
Sábado
DE JESUS Domingo 1 Pe 4.8

Mateus 9.9-13 cador, porque viam a função de Mateus


como uma traição ao povo judeu. Mas
não foi assim que Jesus “viu” Mateus. O
INTRODUÇÃO texto diz que Jesus “viu” Mateus e o con-
vidou para segui-lo. Ele olhou para aque-
O comportamento cristão tende a
le homem com um olhar misericordioso.
oscilar entre alguns extremos tremenda-
É assim também que Ele nos vê: com
mente perigosos. Exemplo: Há o extre-
olhos misericordiosos. Ele olha para o
mo de alguém ter prazer no sofrimento
coração (1 Sm 16.7). Os homens viam em
alheio. Por outro lado, alguém pode ir
Mateus um cobrador de impostos, mas
ao extremo de ter prazer no sofrimento
Jesus via nele um discípulo, alguém que
pessoal. Outros extremos podem ser o
viria a escrever um dos evangelhos. Da
“farisaísmo” (falso pietismo) ou o ceticis-
mesma forma devemos olhar o próximo,
mo (aquele que faz da dúvida sua filo-
não acusando-o por seus pecados, mas
sofia de vida). Todos nós sabemos que
convidando-o ao arrependimento e a ser
os extremos são perigosos. Deus espera
um discípulo de Cristo.
que sejamos moderados, equilibrados e
justos quando fizermos qualquer juízo de Não importa como os homens o
valor. O Estudo de hoje nos mostra o que veem. Deus o olha com misericórdia. Ele
Deus mais quer de nossa vida (no que diz vê o seu coração e o que poderá fazer de
respeito à misericórdia e ao sacrifício). você no reino d’Ele.
Que este seja uma grande bênção em sua
vida, levando-o a olhar o próximo como Aplicação a sua vida: nos acostumamos
Jesus olha: com misericórdia. a ver os índices de violência, de corrupção,
de desigualdade, de pecado e não temos
UM OLHAR DIFERENCIADO (Mt 9.9) uma atitude de mudança. O discípulo de
Assim como Zaqueu (Lc 19.1-10), Ma- Jesus deve, como Ele, ter um olhar diferen-
teus também estava a serviço do impé- ciado diante destas questões. O olhar dife-
rio romano na cobrança de impostos. Os renciado é saber que temos a mensagem
judeus consideravam-no um grande pe- de mudança destas situações.

128
128 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
O OLHAR MISERICORDIOSO DE JESUS |

UM OLHAR INCLUSIVO (Mt 9.9) mostra que Jesus frequentou a casa de


pessoas da alta sociedade. Jesus era um
O texto diz que Mateus, assim que
homem social, e não fazia acepção de
recebeu o convite de Jesus, “levantando-
se, o seguiu”. Mateus não engendrou des- pessoas (ricas ou pobres). Os publicanos
culpas, como por exemplo: estou muito e pecadores viram na pessoa de Jesus a
ocupado; tenho que dar satisfações ao esperança de perdão dos seus pecados. É
governo... Ele simplesmente obedeceu. reconfortador saber que o nosso Mestre
Jesus não quer saber qual é sua religião; “come conosco”, pecadores! Jesus gosta-
se você é bom ou mal. O que Ele quer sa- va de ir às casas das pessoas. Quando Za-
ber é se você está disposto a levantar-se queu procurou vê-lo, Ele disse: Hoje vou
e segui-lo. pousar na sua casa (Lc 19.5).
Enquanto os opositores de Jesus O es- Jesus tinha como intenção estabele-
preitavam e questionavam Sua palavra, cer o seu reino através dos lares. Quan-
Mateus atendeu de pronto o convite de do enviou os setenta discípulos, de dois
Jesus. Percebemos que Mateus rompeu a dois, Ele orientou que os mesmos, ao
completamente com o seu compromisso chegarem numa cidade, deveriam procu-
para com o governo romano. rar uma casa onde houvesse um homem
de paz (Lc 10.1, 5-6). Isto combina com a
Jesus chama pecadores, sim, mas
profecia de Is 54.2, 3 e 12, onde Deus pro-
estes que atendem o convite de Jesus
mete que expandiria o seu reino através
mudam seu estilo de vida, passam a ser
dos lares.
discípulos, seguidores de Jesus. Quem
segue a Jesus se torna uma nova criatu- No livro de Atos, ao referir-se ao cres-
ra. Deixa “as coisas” velhas e tudo se torna cimento da Igreja, Lucas diz que os cris-
novo (2 Co 5.17). Esta mudança na vida tãos primitivos se reuniam no templo e
de um seguidor de Jesus, proporciona nas casas (At 5.42). No versículo seguin-
algo extraordinário. te, At 6.1, vemos o resultado da reunião
da Igreja nos lares: crescia o número de
discípulos. Não importa como esteja sua
Aplicação a sua vida: segundo o estudo, casa, peça para Jesus olhar com miseri-
o pecado é consequência de alguns fatores córdia para ela e estabelecer o seu reino
que culminam com a prática dele. Você tem através dos seus moradores. Jesus deseja
praticado algum desses passos? Reflita e ter um relacionamento especial com o
reconsidere a sua jornada de vida. seu lar; Ele quer ter comunhão com você
e sua família. Ele quer olhar para você de
UM OLHAR RELACIONAL (Mt 9.10-11; modo misericordioso.
Mc 2.15)
Mateus leva Jesus para sua casa e lhe Aplicação a sua vida: o nosso olhar dife-
oferece uma refeição. Mateus omite que rencial e inclusivo é fruto de um relaciona-
a casa era a dele próprio mas, em Lc 5.29, mento maior com Deus. Relacionamento
diz que Levi (Mateus) “deu a Jesus um requer investimento no tempo. Qual o
lauto banquete em sua casa”. Isto nos faz tempo que tenho dedicado a Deus e ao
lembrar de Ap 3.20, onde Jesus diz que próximo?
aquele que ouve sua voz e abre a porta,
Ele entra nessa casa, tem comunhão com
a pessoa e esta com Ele. UM OLHAR MISERICORDIOSO (Mt 9.12)
Este episódio de Jesus indo à casa Marcos acrescenta que “eram em
de Mateus (e também de Zaqueu), nos grande número e o seguiam” (Mc 2.15).
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 129
| O OLHAR MISERICORDIOSO DE JESUS

Os publicanos e pecadores percebiam na tão seja um instrumento de Jesus no tra-


pessoa de Jesus a esperança de perdão tamento dele. Isto porque...
dos seus pecados.
Jesus via na família e convidados de UM OLHAR QUE ALCANÇA A FELICIDA-
Mateus almas e corações feridos, vidas DES: Mt 9.13; Os 6.6; Mt 12.7.
arruinadas pelo pecado, consciências Ao dizer que Deus quer misericórdia
carregadas de culpa. Você pode imaginar e não sacrifícios, Jesus cita Oséias 6.6. Em
o estigma que aquelas pessoas traziam, Mateus 12.7, Jesus volta ao tema, com-
classificadas como “pecadoras” diante da plementando que se eles entendessem
“sociedade farisaica”? Devemos aprender, “o que significa misericórdia quero, e não
entretanto, que onde houver um coração sacrifícios, não condenariam os inocen-
ferido, uma alma angustiada, uma vida tes. ” Não devemos julgar segundo a apa-
humilhada, ali estará o Senhor: “Porque rência, mas segundo a reta justiça: João
assim diz o Alto e o Sublime, que habita 7.24. O exercício da misericórdia nos leva
na eternidade, e cujo nome é Santo: Num a também alcançar a misericórdia divina:
alto e santo lugar habito; como também Mt 5.7.
com o contrito e abatido de espírito, para
vivificar o espírito dos abatidos, e para vi- Um dos significados da palavra mi-
vificar o coração dos contritos.” (Is 57.15) sericórdia é “pôr o coração na miséria do
próximo”. É deste modo que Deus nos
Na condição de discípulos de Jesus, vê e é assim que Ele vem à nossa casa e
precisamos olhar o próximo com o mes- nos convida à comunhão com Ele. Deus
mo olhar misericordioso de Jesus. Na espera que, da mesma forma, seus dis-
ótica divina, quem se considera “são” não cípulos se relacionem com o próximo. A
tem necessidade de Jesus. Ele foi categó- misericórdia é tão importante que Deus a
rico em afirmar que os sãos não necessi- renova a cada manhã (Lm 3.22-23). Jesus
tam de médico. Ele disse que veio curar disse que o misericordioso é feliz e alcan-
os quebrantados de coração (Lc 4.18; Sl çará misericórdia. Aprenda a ter olhar de
143.3). É importante refletir sobre esta misericórdia quando desejar condenar
palavra de Jesus, para termos paciência alguém. Olhe com misericórdia e você
com aqueles que estão sendo tratados amará profundamente aquela pessoa.
por Jesus. Cada um de nós precisa, de Quando fizer isto, todos também o olha-
alguma maneira, estar sob o tratamento rão com misericórdia. É a promessa de
de Jesus. Jesus (Mt 5.7).
Jesus disse que os sãos não necessi-
tam de médico, em virtude da acusação Conclusão
dos fariseus de que Ele comia com pe-
cadores. Devemos ter cuidado para não Neste estudo, pudemos observar que
assumirmos uma posição farisaica em Jesus tinha uma forma toda especial de
relação ao próximo, colocando-nos supe- olhar para o outro.
riores a eles, justificando-nos aos nossos Como seus discípulos, forjados sob
próprios olhos. Precisamos perguntar a seu ensino, devemos cultivar a cada dia
Deus se a nossa “doença” não é vista por um olhar misericordioso. Um olhar que
Ele como mais perigosa do que a do se- inclui, relaciona, traz felicidade. Esse olhar
melhante (Lc 6.41-42; Rm 14.1-4; 15.1-3; me fará perceber o quanto o mundo pre-
8.33-34; Fp 3). Enfim, se você entende cisa de mim, para fazer a diferença e levar
que o seu irmão precisa de médico, en- a única mensagem que traz libertação.

130 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 38

Leituras Diárias
O DISCÍPULO E A ORAÇÃO Segunda Lc 11.1-4
Mt 6.9-13
Terça
Lucas 11.1-4; Mateus 6.9-13 Quarta Rm 8.26
Quinta 1Co 11.1
Sexta Tg 4.2-3
INTRODUÇÃO Sábado Mt 6.9-12
Domingo Hb 8.12
Uma das principais lições dessa série
de estudos é que Jesus ensinou os seus
discípulos a orar. Esse ensino nasceu de
um pedido dos próprios seguidores do
ORAÇÃO – A INTERCESSÃO DO
Senhor ao observarem como Ele orava.
ESPÍRITO (Rm 8.26 e Tg 4.2-3)
Jesus atendeu o pedido e lhes apresen-
tou os princípios da oração. Paulo diz que não sabemos orar conve-
nientemente, por isso, o Espírito Santo nos
ajuda em nossas fraquezas (Rm 8.26). Pre-
ORAÇÃO – ENSINO E EXEMPLO (Lc 11.1)
cisamos da ajuda do Espírito Santo quando
Os apóstolos, ao observarem Jesus oramos porque a oração errada não tem
orando, reconheceram que precisavam resposta de Deus (Tg 4.2-3). Tiago nos des-
aprender a orar. Nossa vida de oração cortina duas implicações de orarmos erra-
deve constituir-se num exemplo a ser se- damente: pedir mal e ter objetivos errados.
guido. Paulo desafiou os cristãos de Co- Em Ef 6.18, Paulo recomenda que oremos
rinto a imitá-lo, assim como ele imitava a no Espírito Santo e com vigilância. Em Gl
Cristo (1 Co 11.1). Antes de pedirem que 5.16 e 18, lemos que a pessoa guiada pelo
Jesus os ensinasse a orar, os discípulos Espírito Santo não anda segundo os dese-
observaram como Ele orava. Então, ore jos da carne, mas segundo o Espírito. Orar
de tal maneira que outros sejam desafia- certo é orar segundo a vontade de Deus,
dos a aprender a orar como você ora. O isto é, dirigido pelo Espírito Santo. Esta ora-
texto de Lc 11.1 nos faz uma revelação: ção tem resposta (1 Jo 5:14). Os discípulos
João Batista ensinou os seus discípulos a perceberam que precisavam aprender a
orar. O exercício da oração é uma prática orar porque viram o modo como Jesus
que precisa ser aprendida. orava. E Jesus atendeu o pedido deles.
REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 131
|| 131
| O D I S C Í P U LO E A O R A Ç Ã O

Aplicação a sua vida: o pedido dos após- a) Temos um Pai Celestial: “Pai nosso
tolos para que Jesus os ensinasse a orar que estás nos céus” (Mt 6.9)
foi baseado no Seu exemplo. Como tenho Não somos bastardos e nem órfãos
agido com referência à oração que tem
despertado o interesse de outros a esse espiritualmente. Em Cristo Jesus, todos
relacionamento? somos filhos de Deus e isto tem significa-
dos que extrapolam a capacidade do en-
tendimento humano (1 Co 2.9 e Fp 4.6-7).
ORAÇÃO – MODELO A SEGUIR (Lc 11.2 Ser filho de Deus é ser herdeiro de Deus
e Mt 6.9-13) e co-herdeiro de Cristo (Rm 8.17). Orar re-
conhecendo a Deus como Pai Celestial é
Lucas parece resumir o ensino de Je-
um dos modos de começarmos bem uma
sus sobre a oração, por este motivo va-
oração. É a ideia de um filho que se agra-
mos nos basear na oração ensinada por
da da presença do pai, e isto tem promes-
Jesus em Mt 6.9-13.
sas (Sl 103.13-14 e 37.4). Pensamos que
Em Mateus, antes de ministrar o ensi- não há termo mais doce e apropriado
no da “Oração do Pai Nosso”, Jesus já ha- para se começar uma oração do que se
via ensinado como não se deve e como dirigindo a Deus como Pai, porém há um
se deve orar, no que diz respeito à postu- detalhe a não ser esquecido...
ra: evitar orar para exibição aos homens.
b) A Santidade do Nome de Deus:
Neste estudo, nos ateremos sobre o que
“Santificado seja o teu nome” (Mt 6.9)
dizemos na oração. Em Mt 6.9, Jesus ensi-
na: “Portanto, vós orareis assim. ” Obser- A ideia aqui é dirigirmo-nos a Deus
ve que, apesar de Jesus dizer “vós orareis com a devida reverência. Não há desculpas
assim”, em nenhum lugar do Novo Testa- para se usar o nome de Deus irreverente-
mento lemos que alguém tenha recitado mente (Ex 20.7). Ele não terá por inocente
a “Oração do Pai Nosso”. Os discípulos quem tomar o seu santo nome em vão, isto
entenderam que o ensino de Jesus sobre é, quem fizer brincadeiras ou for irreveren-
a oração se constituía num modelo, em te para com o nome de Deus. Não é por se
princípios a serem seguidos e não em pa- estar feliz e se agradar da presença de Deus
lavras a serem decoradas e repetidas. que ficamos desobrigados da exaltação ao
seu santo nome. Isso nos leva a ser mais
cautelosos quando nos referirmos ao Se-
Aplicação a sua vida: a oração deve ser nhor e usarmos o seu santo nome. Na ora-
baseada nos princípios do “Pai Nosso”. ção, você deve exaltar o nome e a pessoa
Ela não é para ser repetida. Sigamos esse bendita do Pai Eterno.
exemplo e façamos nossas orações sob es-
ses princípios! c) A prioridade do Reino de Deus:
“Venha o teu reino” (Mt 6.10 e 33)
Observe que o primeiro “pedido” nes-
ORAÇÃO - PRINCÍPIOS A OBSERVAR ta oração é pelo Reino de Deus. A busca
Pontuamos a seguir os itens que de- pelo Reino de Deus deve estar em primei-
vem constar de uma oração dirigida pelo ro lugar na vida de um discípulo de Cris-
Espírito Santo e, portanto, com resposta to. Se na oração, ele coloca em primeiro
assegurada. lugar “as demais coisas”, esta oração não é

132 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O D I S C Í P U LO E A O R A Ç Ã O |

segundo a vontade do Senhor. Deus quer f) Confissão de Pecados: “E perdoa-


reinar em nossos corações, em nossa nos as nossas dívidas” (Mt 6.12). É impos-
mente, em todo o nosso corpo, em toda sível ter um encontro com Deus e não
a nossa vida e em todo o mundo. Quando reconhecer que se está em falta, que se
oramos para que o Reino de Deus venha, é pecador. Esta foi a experiência de Isaí-
estamos pedindo também que Jesus as (Is 6.1-7; Lc 5.1-8). Ele confessou qual
venha finalmente reinar. Que Ele volte, era o seu pecado: era um homem de lá-
conforme prometeu (Jo 14.3; At 1.11; Ap bios impuros e habitava no meio de um
22.20). É dizer para Deus que aceitamos povo de impuros lábios. Pedro não os
o seu reino absoluto sobre tudo o que especificou, mas reconheceu que era um
somos e temos. Se o Reino de Deus for homem pecador. É importante confessar-
buscado em primeiro lugar, é certo que mos pecados específicos quando formos
as demais coisas serão acrescentadas. orar. Exemplo: Senhor, eu menti; eu fui
agressivo; eu faltei com os meus compro-
d) Rendição à Vontade Divina: “Seja
missos ou deveres na seguinte área. De-
feita a tua vontade, assim na terra como
vemos evitar as célebres frases, como por
no céu” (Mt 6.10)
exemplo, perdoa a multidão dos meus
Uma vez convidado para reinar sobre pecados. Ao confessarmos determinado
tudo o que temos e somos, evidenciamos pecado, devemos lembrar que o Senhor
nossa dependência do Senhor e deseja- realmente perdoa e não precisamos ficar
mos que sua vontade seja feita aqui na nos martirizando com o pecado confes-
terra, do mesmo modo como é feita no sado, visto que Deus o esqueceu (1 Jo
céu. Somente quem se rende à vontade 1.9 e Hb 8.12). Na confissão dos pecados,
de Deus pode conhecer também qual é está implícito o perdão a quem nos tem
sua “boa, agradável e perfeita vontade” ofendido. Aquele que não perdoa não
(Rm 12.1-2). Até este ponto, estamos fa- tem direito a perdão. Uma vez confessa-
lando da pessoa de Deus, do seu reino e do o pecado, vem o próximo pedido.
da sua vontade. A partir de então, come-
g) Livramento da Tentação e do Mal:
çamos a pedir pessoalmente por nós.
“E não nos deixes entrar em tentação;
e) Dependência do Pão Cotidiano: mas livra-nos do mal” (Mt 6.13; 26.41). Há
“O pão nosso de cada dia nos dá hoje” (Mt duas petições que fazemos nesta parte
6.11). A oração começou reconhecendo a da “Oração do Pai Nosso”. A primeira é
Deus como Pai, portanto, o Supridor da para que o Senhor não nos deixe “entrar
família, da vida. Realça a santidade do seu em tentação”. Ele pode nos alertar sobre
nome, o domínio do seu reino, a impor- algum perigo ou armadilha do inimigo.
tância do cumprimento de sua vontade, A tentação poderá vir, mas não chegará
agora demonstra a completa dependên- a nos envolver. A segunda é para que o
cia do Senhor: pede o pão para cada dia. Senhor nos livre do mal. Deus não so-
É Deus quem dá o sustento. Não pede o mente nos guardará de entrar em tenta-
pão da semana que vem; é o pão de cada ção, mas também nos dará livramento do
dia. Isso evita ansiedade e exercita a fé na mal. Esta palavra “mal” significa livramen-
certeza de que o Senhor não faltará com to do maligno. É a proteção que o salvo
o pão cotidiano, como o fez com o povo tem, por Jesus, contra as hostes de Sata-
de Israel durante quarenta anos no de- nás (Sl 91.3; 1 Jo 5.18). Observe que, na
serto (Ex 16.35). “oração modelo”, o único pedido material

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 133


| O D I S C Í P U LO E A O R A Ç Ã O

foi pelo pão cotidiano. Jesus nos adverte consta que algum dos discípulos a tenha
ainda contra os “tesouros da terra”, contra repetido em qualquer momento. Ela
a ansiedade pela comida, pela bebida e não era para ser objeto de recitação de-
pelo vestuário. Ele nos assegura que, se corada. Seus princípios é que deveriam
buscarmos em primeiro lugar o Reino de fazer parte de nossa oração, conforme
Deus e a sua justiça, as demais coisas nos acabamos de expor. Com base nes-
serão acrescentadas (Mt 6.19-33). sa compreensão, quando formos orar,
devemos ter bem definidos os motivos
h) O “Clímax” da Oração: “Porque pelos quais devemos orar.
teu é o reino e o poder, e a glória, para
sempre” (Mt 6.13). A oração é concluída Conclusão
reafirmando que o reino e o poder per-
tencem a Deus. Reconhece também a O discípulo de Jesus precisa ter vida
Sua glória e a Sua eternidade, ao dizer de oração, mas com base nos princípios
“para sempre”. Como você percebe, Jesus ensinados pelo Senhor. Caso contrá-
não acrescentou mais nada a esta oração, rio, pode incidir no risco de pedir e não
porque os princípios nela contidos pon- receber, porque pede errado ou por
motivos errados. O discípulo deve crer
tuam verdades a respeito de Deus e das
que, se ele se deixar ser guiado pelo Es-
necessidades do ser humano.
pírito Santo, orará segundo a vontade
Mais uma vez, chamamos sua aten- de Deus e terá resposta a tudo o que pe-
ção, entretanto, para o fato de que Je- dir. Esta é uma questão de obediência e
sus só falou esta oração uma vez, e não de fé.

134 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 39

Leituras Diárias
Segunda Jo 11.1-5;25-46
Terça Rm 8.18;37-39
Quarta 2Co 4.16-17
Quinta Jo 11.44
REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS Sexta
Sábado
Hb 12.1-2
2Co 1.3-7
ADVERSIDADES Domingo Jo 13.7

João 11.1-5; 25-46 FÉ ANTE A ENFERMIDADE (Jo 11.1-3 e 5)


Marta e Maria mandaram dizer a Je-
sus: “Está enfermo aquele a quem Tu
INTRODUÇÃO amas”. É linda a afirmação dos sentimen-
tos de Jesus para com Lázaro. O verso
Esse milagre da ressurreição de Láza-
cinco diz que Jesus amava àqueles três
ro demonstra que, apesar de não sermos
irmãos. Possivelmente, o pai e a mãe dos
do mundo, estamos no mundo e, por-
amigos do Senhor já tivessem morrido.
tanto, sujeitos aos males do mesmo (Jo
Marta e Maria temiam por mais um duro
17.11-16). Somente Jesus pode livrar-nos
golpe na família e, por isso, mandaram
do mal, daí ele ter ensinado na oração
avisar a Jesus da doença de Lázaro. Este
do Pai Nosso que deveríamos pedir o li-
fato nos ensina que, por sermos discípu-
vramento do mal (Mt 6.13). Deus tinha
los de Cristo e Ele nos amar, não estamos
um propósito na enfermidade e morte
isentos de enfermidades e outros males
de Lázaro. Ele era discípulo (seguidor)
deste mundo. Aliás, Cristo mesmo nos
de Cristo, juntamente com suas irmãs,
alerta que no mundo teremos aflições,
Marta e Maria. Estes eram moradores de
mas que devemos ter bom ânimo, por-
Betânia, aldeia próxima a Jerusalém. Eles,
que Ele venceu o mundo (Jo 16.33). Deus
entretanto, não sabiam desse propósito
tem propósitos específicos com tudo o
divino. A experiência da enfermidade e
que nos acontece.
morte de Lázaro contribuiu para o cres-
cimento espiritual de Marta não somente
EFERMIDADE PARA A GLÓRIA DE DEUS
em “saber”, mas principalmente em “crer”
(Jo 11.4)
que Jesus é a ressurreição e a vida. Ser-
viu também de testemunho do poder de Ao ouvir que o seu amigo e amado
Jesus sobre a morte. discípulo (Lázaro) estava doente, Jesus

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 135


| REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES

afirmou: “Esta enfermidade não é para responder. No caso específico de Lázaro,


morte, mas para glória de Deus, para que a demora de Jesus era porque Ele deseja-
o Filho de Deus seja glorificado por ela” va levar os discípulos a crer (Jo 11.11-15):
(Jo 11.4). Esse é mais um caso na Bíblia “E folgo, por amor de vós, de que eu lá
em que uma enfermidade foi para a gló- não estivesse, para que acrediteis. ” Ob-
ria de Deus. O outro está em Jo 9.3, onde serve que diz “por amor de vós. ” Mesmo
Jesus diz que a deficiência visual daquele a demora divina é porque Ele nos ama e
homem era para que nele se manifestas- quer que a bênção que tem para nossa
se “as obras de Deus. ” Fica evidente que, vida seja mais e mais significativa. Porém,
apesar de Deus amar, Ele permite enfer- lembre-se: Muito mais do que “saber”, o
midades e outros males na vida de seus discípulo precisa “crer”. Reconhecemos,
discípulos (e até permite a morte), tudo entretanto, que existe grande distância
contribuindo para o bem daqueles que o entre saber e crer.
amam (Rm 8.28). Nossa parte é procurar
compreender o propósito de Deus em
nos permitir qualquer situação adversa, Aplicação a sua vida: mesmo firmados em
e crer que tudo é para o nosso bem. O Cristo, muitas vezes chegamos a perder as
discípulo de Cristo deve lembrar-se sem- forças e esperanças. Como trabalhar diante
pre que, sua momentânea tribulação, da demora na resposta divina?
resultará na revelação da glória de Deus
através de sua vida e vai torná-lo mais do
que vencedor (Rm 8.18, 37-39; 2 Co 4.16- SABER X CRER (Jo 11.20-26)
17). Além de “saber”, você deve “crer” que A paciência de Jesus no processo de
Deus está operando através de sua vida crescimento espiritual de Marta é im-
para a glória d’Ele, mesmo que a resposta pressionante. Ela, primeiro chega lamen-
divina pareça demorar. tando a ausência de Jesus, alegando que
se Ele estivesse presente, Lázaro não teria
morrido. Jesus inicia, então, um processo
Aplicação a sua vida: estamos todos su- de despertamento da fé em Marta (v. 23).
jeitos a adoecer, mas sabemos que Deus é Ela disse que “sabia”, mas Jesus queria
soberano em nossas vidas. Qual tem sido que ela “cresse” (v. 25-26). Sua confissão
sua experiência nessa área e como você
de fé, no v. 27, demonstra progresso es-
tem enfrentado essa situação?
piritual, porém, Jesus queria operar algo
extraordinário naquela família. Ele, re-
almente, iria ressuscitar Lázaro naquele
FÉ ANTE A DEMORA DIVINA NA RES-
dia. Mais adiante, quando Jesus manda
POSTA A UM DISCÍPULO (Jo 11.6)
tirar a pedra e Marta alega que o corpo
Quando o mensageiro chegou a Je- de Lázaro cheirava mal, Jesus volta a rea-
sus, Lázaro já estava morto (Jo 11.11). firmar a questão da fé para ela ver a glória
Jesus sabia, mas os discípulos não. Mui- de Deus (v. 40). A revelação de Jesus de
tas vezes, não entendemos por que Deus que Ele é a ressurreição e a vida (v. 25-26)
parece demorar quando vivemos uma é uma das mais extraordinárias da Bíblia.
situação angustiante. A recomendação Ela responde à dúvida de Jó, quando
é orarmos sempre e nunca desfalecer (Lc questiona se alguém tornaria a viver de-
18.1). Deus sempre tem um propósito de pois de morto (Jó 14.14). Jesus não ape-
bem até mesmo quando demora em nos nas diz que ressuscita os mortos, mas que

136 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES |

Ele próprio é a ressurreição e a vida. Fico mentos e, muitas vezes, “chora” conosco.
impressionado que, algumas das mais Nessa atitude de Jesus, vemos também
impressionantes revelações de sua pes- que não é errado chorarmos a morte dos
soa, Jesus tenha feito a mulheres. Vimos nossos entes queridos. O v. 36 registra o
isto, neste particular, a Marta; à samari- testemunho dos judeus sobre o amor de
tana, quando foi claro em dizer que ele Jesus para com Lázaro. Porém, o proces-
era o Messias (Jo 4.25-26); quando res- so de levar Marta do “saber” para o “crer”
suscitou, Jesus apareceu primeiro a Maria ainda teria mais uma etapa. Ela precisava
Madalena, e não a um dos apóstolos (Mc remover...
16.9). Não há tempo e espaço para nos
determos nesses “motivos divinos”, mas,
nos concentramos no cuidado de Jesus JESUS PEDE QUE REMOVA A PEDRA DA
em transpor Marta do nível do saber para INCREDULIDADE (Jo 11.39-40)
o nível da fé, isto é, crer. Quando alguém
Aquela pedra na entrada da caverna
crê, move o coração de Jesus.
que servia de túmulo para Lázaro, não
seria retirada por Jesus, apesar do seu
poder, mas, sim, pelas pessoas presentes.
Aplicação a sua vida: Por muitas vezes, Marta temia pelo desconforto que pode-
parece que Jesus está longe e se esqueceu ria causar àqueles que vieram consolá-
de nós. Mas Ele é DEUS! Resta-nos recorrer las, pelo mau cheiro, em virtude do esta-
a Ele, para que possamos aprender a ser de-
do de decomposição do corpo de Lázaro.
pendentes d’Ele.
Aquele era um momento para a fé e não
para se olhar ou “sentir” as circunstâncias
físicas. As pedras de nossa vida, que obs-
JESUS CHORA POR SEU DISCÍPULO
truem a manifestação do poder de Deus,
(Jo 11.35)
devem ser removidas por nós mesmos.
Quando Jesus pergunta a Marta se ela Isso é uma questão de fé. Ante o temor
cria que Ele é a ressurreição e a vida, ela de Marta, Jesus lembra o que lhe disse-
confessa crer em Jesus como o Filho de ra há pouco: Para ver a glória de Deus,
Deus, e sai para chamar sua irmã Maria é preciso mais que saber, é preciso crer
(Jo 11.26-28). Ela disse à sua irmã que Je- (Jo 11.40). O processo do discipulado de
sus a chamava. Maria, sim, era uma mu- Marta foi doloroso, mas se tornou glo-
lher que sabia e cria. Observe que, ao ir rioso, porque, ao permitir a remoção da
ao encontro do Senhor, disse as mesmas pedra do túmulo do irmão, Jesus orde-
palavras que Marta, porém, prostrada nou que Lázaro saísse do sepulcro. Esta
aos pés de Jesus (Jo 11.28-32). Jesus não ordem de Jesus nos leva a mais um passo
precisava transpor Maria do “saber” para no discipulado.
o “crer”; Ele apenas perguntou: “Onde o
pusestes? ” Então, se comoveu e chorou
(Jo 11.34-35). Para a viúva de Naim, que
chorava a morte do seu filho, Jesus disse: Aplicação a sua vida: o fato de Jesus ter
“Não chores”, porém, agora, com a morte pedido que removessem a pedra nos ad-
do seu amigo, Ele se emocionou muito verte sobre o nosso envolvimento no pro-
cesso de realizações de Deus em nossa
(Jo 11.33) e chorou. Este lado humano
vida. Como você tem removido as pedras
de Jesus é algo que nos comove e con- que te separam da vontade d’Ele?
forta. Deus compreende os nossos senti-

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 137


| REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES

JESUS ORDENA: VENHA PARA FORA! nos rodeiam e a corrermos, olhando para
(Jo 11.43) Jesus. Apesar de ressuscitado, Lázaro pre-
Jesus não foi lá dentro e nem impôs cisava ser desembaraçado. Também nós
as mãos sobre a cabeça do defunto. Ele devemos descobrir quais são os embara-
apenas ordenou que Lázaro viesse para ços de nossa vida espiritual e nos livrar-
fora, e ele veio. A decomposição do corpo mos deles. Esta é uma clara demonstra-
foi revertida, seu espírito voltou; apesar ção do discipulado, que devemos fazer
de se encontrar todo amarrado, Lázaro com todos os que “saem da morte para
veio andando (v. 44). Isso nos faz lembrar a vida”. Uma pessoa, mesmo convertida,
que Jesus disse que virá à hora em que precisa de cuidados especiais, de alguém
todos os mortos ouvirão a voz do filho de que a ajude a desembaraçar-se.
Deus e ressuscitarão (Jo 5.28-29). Jesus
realmente tem o comando sobre a morte
e sobre a vida. Ele próprio é a ressurrei- Conclusão
ção e a vida, conforme vimos anterior- Deus permitiu doença e morte na-
mente. Como é bom crer em Jesus! Po- quela família de Betânia e pode permitir
rém, aprendemos com esse episódio que o mesmo em qualquer um dos seus discí-
precisamos despertar da morte na qual
pulos (seguidores). Precisamos ter sabe-
nossa vida pode estar presa, nos levan-
doria para que, quando isso nos aconte-
tarmos e, assim, Cristo nos iluminará (Ef
cer, procurarmos entender os propósitos
5.14). Assim como Lázaro ouviu a voz de
divinos, que são sempre para o nosso
Jesus e veio para fora, todo discípulo de
bem. Muitas tragédias acontecem provo-
Cristo deve tomar consciência de onde
cadas por nós mesmos ou por outros. Isso
está e “vir para fora”. É interessante que a
palavra “igreja” no grego é “ekklesia”, que já entra na esfera da irresponsabilidade e
significa vir de dentro para fora. maldade do coração humano e não, ne-
cessariamente, que Deus tenha planeja-
do isso para as nossas vidas. Entretanto,
quando somos vitimados por algo dessa
Aplicação a sua vida: Após a ressurreição
natureza, devemos entender que foi per-
Jesus pediu que desatassem as faixas que
encobriam o corpo de Lázaro. No discipula- missão de Deus, e que Ele nos consolará e
do vemos a importância do outro para nos julgará os culpados. Entretanto, seu amor
ajudar nesse momento de desatar os nós e soberania poderão converter em bem
que nos impedem de crescer. o que nos parece mal. Ele nos recompen-
sará se nos mantivermos firmes e O glori-
ficarmos em tudo. Nossa firmeza servirá
JESUS MANDA: DASATEM AS FAIXAS também como testemunho e ajuda para
(Jo 11.44) outros (2 Co 1.3-7). Precisamos detectar
Novamente, vem a parte do homem. as pedras, ou embaraços, que obscure-
Eles precisaram retirar a pedra e, agora, cem nossa fé e obstruem a manifestação
desembaraçar Lázaro das faixas de morto da glória de Deus em nossas vidas. Creia
que o prendiam. Em Hb 12.1-2, somos re- sempre que o que você não entende
comendados a deixar os embaraços que agora, entenderá depois (Jo 13.7).

138 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 40

Leituras Diárias
Segunda Jo 5.1-14 e 8.12
Terça Lc 16.19-21
Quarta Sl 37.5, 7
VITÓRIA SOBRE O PECADO: Quinta
Sexta
Fp 4.13
2 Rs 20.1-7
“NÃO PEQUES MAIS” Sábado
Domingo
1 Tm 5.23
1 Co 11.30
João 5.1-14 e 8.12
de Deus. Quando a luz chega, as trevas
têm que ser dissipadas (Jo 1.5). Apesar de
INTRODUÇÃO
ir a uma festa, Jesus não ignorou a misé-
Por que Jesus teria recomendado, ria dos que sofriam. Talvez, este fosse um
tanto ao paralítico curado quanto à dos grandes problemas do homem rico
“mulher adúltera”, para que não pecasse que vivia em festas, mas ignorava o men-
mais? O que acontece a quem, depois de digo, o enfermo Lázaro que vivia à sua
perdoado, permanece no pecado? O pre- porta (Lc 16.19-21).
sente estudo procura responder a estas
perguntas e propõe ações concretas para
que o discípulo de Cristo viva em santi- Aplicação a sua vida: a experiência de Je-
dade. sus nos mostra que devemos ter uma vida
social que abençoe o outro. Como tem sido
Jesus era um homem social, um ho- essa área da sua vida?
mem do povo. Ele foi ao casamento em
Caná da Galileia, compareceu a diversas
O DISCÍPULO E OS ENFERMOS (Jo 5.2-4)
festas do seu povo e comeu com os pe-
cadores. O fato de estarmos no mundo e Impressiona-nos, em primeiro lugar, o
sermos santos, não significa isolamento número de pessoas enfermas nos alpen-
social. Viver em santidade, isto é, não pe- dres do tanque de Betesda (v. 3): grande
car, não é viver distante dos momentos multidão de enfermos. O problema da
sociais do povo. Jesus ia às festas e não enfermidade e outros males físicos tem
pecava. Aonde Ele ia, causava impacto assolado a humanidade. O importante
positivo nos que viam e ouviam o Senhor. de tudo isso é que Jesus veio ao encontro
Nesse sentido, o discípulo de Cristo pode daquelas pessoas. A palavra Betesda sig-
ir a qualquer lugar, desde que transforme nifica Casa de Misericórdia. Aqui há duas
pessoas e mude o ambiente para a glória lições que precisamos aprender com Je-
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 139
| VITÓRIA SOBRE O PEC ADO: “NÃO PEQUES MAIS”

sus. A primeira é que, na condição de seus ao ser colocado no tanque de Betesda, mas
discípulos, não podemos ser indiferentes às Deus tinha um plano melhor para sua vida:
enfermidades e miséria do povo. A segun- viria na pessoa do seu Filho para encontrar-
da é que Jesus curou apenas uma pessoa se pessoalmente com ele. Há quanto tem-
de toda aquela multidão. Como discípu- po você está esperando pela sua cura, pela
los dele, não podemos atender a todos. O intervenção divina em sua vida? Creia que,
discípulo de Cristo não é insensível, mas assim como Jesus foi ao encontro daquele
também precisa estar atento à direção do homem, Ele virá também ao seu encontro e
Espírito Santo sobre o momento oportuno realizará algo acima de suas expectativas (Ef
de quando e a quem deve ajudar. 3.20): “Ora, àquele que é poderoso para fa-
zer tudo muito mais abundantemente além
Quanto à crença sobre a descida de um
daquilo que pedimos ou pensamos, segun-
anjo que agitava a água, e quem descesse
do o poder que em nós opera”.
primeiro ficaria curado, os comentaristas
bíblicos apresentam, entre outros argu-
mentos, o fato desse relato não constar VOCÊ QUER SER CURADO? (Jo 5.6)
nos mais antigos manuscritos. Admitem,
A pergunta de Jesus pode parecer ab-
entretanto, que algo extraordinário acon-
surda. Porém, lembremos, a enfermidade
tecia ali para atrair tanta gente. Uma das
daquele homem era resultado de pecado (v.
explicações plausíveis é que, aquela fonte
14). A pergunta de Jesus em João 5.6 deve
era afetada por um fenômeno natural, que
ser comparada com o verso quatorze e com
causava a intermitência das águas, e as pes-
Tg 5.15. Mais à frente, apreciaremos a ques-
soas criam tratar-se de um ato sobrenatural
tão da relação entre enfermidade e pecado,
e milagroso. Um dado importante é que
mas vamos nos ater à pergunta de Jesus:
Jesus não comentou o argumento do para-
Você quer ser curado? Deus quer saber exa-
lítico (v. 7). Vamos nos ater, entretanto, ao
tamente qual é o desejo do íntimo do nos-
que é pertinente na cura daquele homem
so coração. Pergunta semelhante Ele fez ao
e na recomendação de Jesus para que ele
cego Bartimeu: “O que você quer que eu lhe
não pecasse mais.
faça? ” (Lc 18.41). Bartimeu foi objetivo: “Eu
quero enxergar”. Já o paralítico não percebeu
que era Jesus quem estava diante dele, e fa-
UMA BÊNÇÃO ESPECIAL (Jo 5.5)
lou sobre as dificuldades de não ter quem o
Não sabemos há quanto tempo o paralí- descesse ao tanque (Jo 5.7). Muitos de nós
tico estava junto ao tanque de Betesda. Mas, também ficamos esperando nos fenômenos
o texto nos informa que sua paralisia já du- desta vida e nos esquecemos de que temos o
rava trinta e oito anos. E isto devia ser uma Senhor de todos os fenômenos! Jesus conhe-
experiência angustiante. Há quanto tempo ce o nosso tempo de sofrimento; Ele sabe,
você ou um ente querido seu está enfermo exatamente, há quanto tempo temos lidado
e você busca por um milagre? A pedagogia com determinada adversidade. Ele ignorou
divina recomenda duas atitudes básicas ao os argumentos do paralítico e deu-lhe uma
discípulo de Cristo: crer e esperar com paci- ordem poderosa, conforme veremos a seguir.
ência no Senhor (Sl 37.5, 7 e 40.1). O aprendi-
zado no discipulado é progressivo (Jo 16.12 e Aplicação a sua vida: Lembremos que ha-
13.7). O fato de Jesus advertir aquele homem via ali uma multidão de enfermos (v. 3 e 13),
para que não pecasse mais, a fim de que algo mas Jesus curou apenas esse homem. O
pior não lhe acontecesse, sugere que aquela que o diferenciou dos demais? O que pode
doença era resultado de um pecado especí- fazer a diferença entre você e uma multidão
de enfermos? Você, de fato, quer o perdão e
fico. Somente trinta e oito anos depois é que
a bênção do Senhor?
ele foi curado. Ele esperava que sua cura viria
140 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
VITÓRIA SOBRE O PEC ADO: “NÃO PEQUES MAIS” |

LEVANTE-SE E ANDE! (Jo 5.8) orientação ao Senhor sobre sua vontade a


respeito da mesma: vai ser curada direta-
Mas se ele era paralítico, como poderia mente através da oração, de uma cirurgia
levantar-se, tomar o leito e andar? A ordem ou de um medicamento? Ezequias, mesmo
era para que ele fizesse o que não fazia há tendo a promessa de que seria curado e
trinta e oito anos. O verso nove diz que viveria mais quinze anos, precisou aplicar
“imediatamente, o homem se viu curado e, uma pasta de figos para restauração da
tomando o leito, pôs-se a andar”. Imagine se saúde (2 Rs 20.1-7). Paulo recomendou a Ti-
ele continuasse a argumentar com Jesus: móteo não beber somente água, em virtu-
“Mas, Senhor, não posso andar! Estou aqui de de suas “constantes enfermidades” (1Tm
há trinta e oito anos nesta cama... será que 5.23). O próprio Paulo lidou com o seu “es-
o Senhor poderia me descer às águas quan- pinho na carne” e Jesus lhe disse que não o
do o anjo viesse? ” Porém, ante a ordem de curaria, mas que a graça d’Ele lhe bastava (2
Jesus, o paralítico se viu curado. Ele, que até Co 12.9). Por outro lado, os cristãos de Co-
aquele dia era carregado num leito, ago- rinto estavam adoecendo, e alguns tinham
ra era incumbido de carregar o seu leito. até morrido por causa da irreverência na
Quando Jesus opera em nossa vida, deixa- celebração da Ceia do Senhor (1 Co 11.30).
mos de ser um peso para os outros e come- O importante firmarmos aqui é que a vigi-
çamos a agir. Esta mesma ordem lhe é dada lância nos livra de muitas consequências
hoje: Levante-se! Anime-se! Deixe de viver ruins em nossa vida. Então, na medida do
preso a um leito, a uma depressão, ao sen- possível, evitemos o pior!
timento de “não posso” (Sl 27.14 e Fp 4.13).
Esta é outra questão a aprendermos no
processo de discipulado que reafirmamos CONCLUSÃO
aqui: Deus age, mas nossa parte Ele não faz. Tanto para a mulher flagrada em adulté-
Também há providências a serem tomadas rio quanto para este homem curado por Je-
após as manifestações divinas e que fazem sus, a ordem foi que não pecasse mais. Deus
parte do processo da santificação, confor- sabe das consequências do pecado. O peca-
me Jesus advertiu o recém-curado. do traz enfermidades, tristezas, desavenças,
dá lugar ao diabo e, finalmente, produz a
morte. O desejo do Senhor é que não peque-
Aplicação a sua vida: em muitas áreas de mos, contudo, se pecarmos, e, sinceramente,
nossas vidas, estamos esperando a ação de nos arrependermos, temos Jesus como o
Deus, mas não fazemos nada em prol dessa nosso suficiente advogado (1 Jo 2.1). No pre-
ação. Deus pode estar lhe dizendo: “ levan- sente estudo, vimos que nem toda enfermi-
ta, toma a tua cama e anda”. dade tem origem no pecado, mas o pecado
sempre gera algum tipo de enfermidade:
desde a doença e a morte da alma (condena-
CUIDADO COM O PIOR (Jo 5.14) ção eterna da pessoa, conforme Ap 21.8), até
Sabemos que não é toda enfermida- doenças psicossomáticas, distúrbios psicoló-
de que tem origem direta do pecado (Jo gicos, emocionais, além de abrir espaço para
9.1-3), contudo o caso desse homem, em o inimigo de nossas almas.
particular, tinha a ver com pecado, tanto é
verdade que Jesus o advertiu para que não
pecasse mais. Tiago nos recomenda confes-
Aplicação a sua vida: Evitar o pecado é a
sarmos os nossos pecados uns aos outros
vontade do Pai para cada um de nós. Caso
para que saremos (Tg 5.16). Devemos pedir
você tenha consciência de que tem peca-
discernimento a Deus quanto à origem de
do contra Deus, a primeira atitude deve ser
nossas enfermidades para que, caso sejam
arrependimento e conversão. Confesse ao
oriundas de pecados, possamos nos arre-
Senhor, tome posse do perdão e desfrute
pender e sermos curados. Se a enfermidade da graça redentora de Cristo.
tem outra origem, também devemos pedir
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 141
ESTUDO 41

Leituras Diárias
Segunda Jo 9.1-12, 24-25
Tg 5.15-16
A COSMOVISÃO DO
Terça
Quarta Ef 5.8-13
Quinta Am 8.11-12
DISCÍPULO Sexta 2 Rs 6.16-17
Hb 11.1 e 6
Sábado
João 9.1-12, 24-25 Domingo Sl 119.18

INTRODUÇÃO não significa um ato consumado, mas


uma intenção, como num olhar impudi-
Há um provérbio popular que diz: “O co, ou num desprezo exacerbado para
maior cego é aquele que não quer ver”. com o irmão (Mt 5.21-22 e 27-28). A pa-
Na discussão dos fariseus com Jesus, so- lavra pecado, “hamartia”, no grego, indica
bre quem é o verdadeiro cego nesta vida, que pecado não é “errar o alvo” , no senti-
Jesus disse que eles pecavam porque do de quem atira em algo e erra, mas dei-
afirmavam ver, mas não criam Jo (9.39- xar de atingir o alvo proposto por Deus
41). Esta declaração de Jesus nos apon- para as nossas vidas. Desse modo, Jesus
ta para a cosmovisão da fé. A cura deste nos direciona para uma visão diferente
cego de nascença vem a descortinar-nos de pecado. A ótica humana enxergava
outro ângulo da revelação divina: os mo- no homem que nascera cego um castigo
tivos de certos problemas e enfermida- divino, em virtude de um pecado pessoal
des em nossa vida. No capítulo cinco de ou hereditário. Jesus aproveitou a opor-
João, vimos um homem que, se voltasse tunidade para alargar a visão discipular,
a pecar, lhe aconteceria alguma coisa para a manifestação das obras de Deus
pior. Já a experiência deste homem que em todas as circunstâncias de nossa vida.
nasceu cego, mostra que sua enfermida- Não podemos negar que todo pecado
de não era consequência de um pecado traz consequências, muitas vezes físi-
pessoal ou hereditário. Desse modo, há cas, porém nem toda enfermidade é de
uma visão no discipulado que transpõe origem direta do pecado. A deficiência
as concepções e limites materiais, e nos visual deste homem tinha um objetivo
aponta um novo caminho a seguir. espiritual: manifestar as obras de Deus. O
mesmo objetivo é revelado na morte de
Lázaro (Jo 11.4). Entretanto, há casos de
A VISÃO DO PECADO (9.1-3)
enfermidades em que sua origem é de
No “Sermão do Monte”, Jesus inter- pecado (Jo 5.14; Tg. 5.15-16). Daí a neces-
preta a lei mosaica e ensina que pecado sidade de redefinirmos o que é pecado e

142
142 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
A C O S M O V I S Ã O D O D I S C Í P U LO |

quais suas reais consequências na vida por parte de muitos religiosos. A “Refor-
de um pecador. ma Protestante” reacendeu a luz da gra-
ça de Deus e possibilitou a expansão do
evangelho no mundo. Entretanto, nos
Aplicação a sua vida: Diante da afirmação últimos tempos, percebemos que o ate-
de que o pecado é errar o alvo proposto por ísmo, as “religiões radicais”, o misticismo
Deus para o ser humano, como você identi- e a frouxidão moral da igreja chamada
fica o pecado na atualidade? de “evangélica” parece ter feito com que
a Igreja tenha perdido a visão de Deus,
de sua santidade e dos valores morais do
A VISÃO da obra de Deus (Jo 9.4) cristianismo. As trevas voltam a cobrir a
terra na “Idade Moderna”. Necessitamos,
“Os filhos da luz” devem fazer as desesperadamente, da “Luz do Mundo”,
obras de Deus enquanto é possível. As- conforme apreciaremos a seguir.
sim como Davi, cada pessoa deve servir
a Deus na sua geração, isto é, aprovei-
tando bem cada oportunidade. É preci- A VISÃO DA “LUZ MUNDO” (Jo 9.5 e
so cumprir as obras de Deus enquanto 8.12)
as trevas não cobrem a terra (Is 60.1-2;
Ef 5.8-13; At 26.18). A noite vem para to- João disse que Jesus é a luz que ilu-
dos, mas há de vir de um modo especial, mina todos que vêm ao mundo (Jo 1.9).
pelo que cremos, num tempo bem pró- Paulo nos convida ao despertamento e à
ximo. Precisamos agir enquanto temos iluminação de Cristo (Ef 5.14). Cego não é
“luz”! No mundo físico, quando não há ser desprovido de visão física. Cego é não
luz, não podemos ver, nosso desloca- ver a Deus. Porém, somente os limpos de
mento é perigoso e o trabalho é quase coração, os que seguem a paz com todos
impossível. Realmente, na completa es- e a santificação, é que verão a Deus (Mt
curidão é difícil alguém conseguir tra- 5.8 e Hb 12.14). Somente aquele que se-
balhar, exceto em casos especiais, em gue a Jesus não anda em trevas (Jo 8.12).
modalidades de trabalho que podem ser Talvez tenhamos que orar para que o Se-
realizados no escuro como, por exemplo, nhor nos abra os olhos espirituais para
aqueles realizados em câmaras escuras vermos as maravilhas da sua lei, ou até
na revelação de fotografias. Da mesma vermos que mais são os que estão conos-
forma, quando há escuridão espiritual, o co do que os que estão com o inimigo (Sl
trabalho de Deus não pode ser realizado, 119.18; 2 Rs 6.16-17). Para tanto, é preciso
a menos que venha alguém com a luz do que Jesus opere algo especial em nossa
evangelho e resplandeça. O que Jesus vida, como operou na vida do homem
queria dizer é que não devemos perder
que era cego.
as oportunidades que Deus nos dá. Isto
combina com a recomendação de Isaías
para buscarmos o Senhor enquanto po- Aplicação a sua vida: como discípulos nes-
demos achá-lo (Is 55.6). Amós diz que te mundo, temos o desejo de levar a luz ao
haverá um tempo em que Deus enviará mundo. Você, como discípulo, está envolvi-
fome, não de pão, e sede, não de água, do na obra de clarear o mundo que está em
mas de ouvir a Palavra de Deus. Muitos, trevas?
diz o profeta, buscarão a Palavra, mas
não a acharão (Am 8.11-12). A “Idade
Média” é também denominada de “Idade VISÃO DA OBEDIENCIA (Jo 9.6-7)
das Trevas”, em virtude do marasmo e da
cegueira espiritual da Igreja, bem como Modo estranho de Jesus curar este
da rejeição ao conhecimento científico cego. Jesus usou de diferentes processos

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 143


| A C O S M O V I S Ã O D O D I S C Í P U LO

de cura: para uns, Ele simplesmente orde- Jesus promove um segundo encontro com
nou a cura; para outros, fez lodo ou aplicou o ex-cego e se revela como Aquele que o
saliva; e, para outros, mandou ir para casa. curou.
O resultado foi a restauração física de to-
dos. No caso deste cego, após fazer lodo
e passar nos olhos do cego, o mandou ir e Aplicação a sua vida: qual é sua visão
se lavar no tanque de Siloé. Ele obedeceu de Deus e de sua revelação na pessoa de
e voltou vendo. O tanque de Siloé “era um Jesus?
grande reservatório, que recebia água me-
diante um canal subterrâneo que corria de
nordeste para sudoeste (...) provavelmente O PECADO E A COSMOVISÃO (Jo 9.39-
o tanque de Betesda” (O NT versículo por 41)
versículo, vol. 2, pág. 427). Percebemos O homem que foi curado, reconheceu
que a obediência do cego resultou na sua que era cego e creu em Jesus como o Fi-
cura. Enquanto ele ia não foi curado, e
lho de Deus. Os fariseus estavam presos
sim quando voltou. Precisamos ver o que
às questões da lei (guarda do sábado) e,
Jesus está esperando no que diz respeito
apesar de verem o milagre de Jesus, não
à obediência de nossa parte, para que sua
queriam ver que Ele era o Messias. Ape-
obra se manifeste em nossa vida.
sar da visão física, eram cegos espiritual-
mente, e isto os tornava culpados diante
Aplicação a sua vida: A obediência a Deus de Deus. Eles precisavam confessar seus
é muito importante para mantermos o foco pecados, sua ignorância e cegueira espiri-
na visão de transformação que o mundo tuais. Precisavam tomar a decisão pessoal
precisa. Você tem sido obediente e procu- de “ver” a Luz (Jo 3.19; Jo 9.4-5). Era preciso
rado mudar a visão de mundo? dizer como o salmista: “Desvenda os meus
olhos, para que eu veja as maravilhas da
tua lei” (Sl 119.18).
VISÃO, UMA QUESTÃO DE FÉ (Jo 9.8-14)
Os opositores de Jesus não acredita- Conclusão
ram que um cego de nascença pudesse A maior visão que alguém pode ter é a
ser curado. Para eles, era um milagre ina- visão da graça e da misericórdia de Deus.
creditável. Sem a visão da fé, corremos o Realmente Deus tem um propósito para a
risco de interpretarmos tudo a partir de vida de cada um de nós. Um homem era
nossa ótica pessoal, de “valores” que nos cego de nascença porque através dele
passaram ou desenvolvemos, mas sem haveria de manifestarem-se as obras de
sustentação bíblica. Não podemos bitolar Deus. Ao chegar o momento de sua cura,
as ações divinas. Deus é soberano e criati- Jesus veio ao seu encontro e lhe concedeu
vo. As ações divinas devem ser entendidas a visão. Este ex-cego passou a ter uma vi-
a partir do fundamento da fé (Hb 11.1 e 6). são progressiva de Jesus: a princípio era
Analisemos, entretanto, o processo e o um homem, depois, um profeta e, final-
desenvolvimento da fé do “ex-cego” (João mente, Jesus era o Messias, o Deus que se
9): Nos versos 11-12, para ele Jesus era “um fez carne, digno de ser adorado. Apesar de
homem” e não sabia onde ele estava. No tantos anos sem a visão física, aquele ho-
verso 17, Jesus “é profeta”. Nos versos 29 mem pode ver através da fé, enquanto que
a 33, Jesus não é pecador, pois, foi ouvido os fariseus não tinham uma visão divina,
por Deus; Jesus é “homem de Deus” pelo e enxergavam apenas através de valores
que fez. Nos versos 35-38, Jesus é “o Filho pessoais ou da interpretação equivocada
do Homem”, é o “Senhor”, é Deus, por isso, da lei mosaica. Eles não quiseram ver em
“o adorou”. É impressionante que o próprio Jesus o Cristo de Deus.
144 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 42

Leituras Diárias
O DISCÍPULO E OS Segunda
Terça
Mt 15.21-28
Sl 121.1-2

ARGUMENTOS DA FÉ Quarta
Quinta
Tg 4.6-7
Rm 4.17-18
Sexta Jo 4.46-50
Mateus 15.21-28 Sábado At 10.34-35
Domingo Mc 7.29-30

INTRODUÇÃO
Davi, tem misericórdia de mim, que mi-
A experiência desta mulher siro-fe- nha filha está miseravelmente endemo-
nícia retrata o que muitos discípulos de ninhada.”
Cristo vivem no cotidiano de suas famí-
Marcos diz que ela era siro-fenícia
lias. Aponta também para a importância
(Mc 7.26). Ela não era judia, nascera na
de buscarmos solução com a pessoa cer-
divisa da Síria com a Fenícia. Apesar das
ta e no lugar certo. O que mais chamou
tribulações, ao invés de buscar ajuda entre
a atenção de Jesus foi o argumento de
os feiticeiros ou exorcistas da época, a siro-
fé exercido por uma mulher que não era
fenícia reuniu forças para buscar o auxílio
do povo de Israel. O fato de Cristo tê-la
de Jesus. Não importam as circunstâncias,
atendido nos transmite preciosas lições e
o socorro está em Deus (Sl 121.1-2).
nos desafiam a uma nova postura como
discípulos de Cristo. Quais seriam os ar- Somente quem já lidou com alguém
gumentos de fé que um discípulo do Se- com desequilíbrio mental, possessão de-
nhor poderia usar hoje nas adversidades moníaca ou doença incurável, entende a
e tribulações da vida? magnitude desse problema. Um discípu-
lo de Cristo não está imune aos proble-
TENHO UM GRANDE PROBLEMA, MAS
mas do mundo, e pode vir a lidar com um
EU CREIO! (Mt 15.21-22)
problema pessoal ou na família que pa-
“E, partindo Jesus dali, foi para as rece insolúvel, uma montanha intranspo-
partes de Tiro e de Sidom. E eis que uma nível. Mas ele pode usar o seguinte argu-
mulher cananeia, que saíra daquelas cer- mento da fé hoje: Meu problema parece
canias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de insolúvel, mas eu creio!
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 145
| O D I S C Í P U LO E O S A R G U M E N T O S D A F É

Conta-se que um empresário manti- Deus parece indiferente, que não está
nha uma placa na sua mesa de escritório, ouvindo. Jesus nos anima a nunca desis-
onde estava escrito: “Deus é maior que tirmos (Lc 18.1): “Contou-lhes uma pará-
todos os meus problemas”. A mulher siro- bola sobre o dever de orar sempre e nun-
fenícia não tinha um problema qualquer: ca desfalecer.” Isto nos faz lembrar do que
sua filha era afligida pelo demônio; esta- Jesus disse a Jairo quando lhe trouxeram
va “miseravelmente endemoninhada”. A a notícia de que sua filha havia morrido
Bíblia diz que Jesus veio para “desfazer (Lc 8.49): “Ao que Jesus lhe disse: Não
as obras do diabo” (1 Jo 3.8). O discípulo temas! Crê somente. ” O silêncio divino
de Cristo precisa avaliar as possíveis áre- sempre tem objetivos para o nosso bem,
as nas quais tenha dado lugar ao diabo. A porém, reconhecemos, ele é um desafio
Bíblia recomenda: “Não deis lugar ao dia- à nossa fé. Daí a decisão do salmista em
bo” (Ef 4.27); também deve lembrar que, esperar confiantemente no Senhor, com
se resistir ao diabo, o mesmo fugirá dele a certeza de que Ele o ouviria (Sl 40.1 e
(Tg 4.6-7). Tudo isto é importante, porque 27.14). Se Deus lhe parece em silêncio,
a Bíblia diz que o diabo anda ao nosso persista, porque Ele quer lhe ensinar algo
derredor, buscando a quem possa tragar muito especial.
(1 Pe 5.8). Porém, se entregarmos nossa
vida a Jesus, Ele nos libertará (João 8.32 e
36) e desfará as obras do diabo (1 Jo 3.8). Aplicação a sua vida: há sempre em nossa
Não existe problema maior que a fé no vida momentos em que sentimos que Deus
poder de Deus para resolvê-lo. está em total silêncio. O que devemos fazer
nesses momentos?

Aplicação a sua vida: a mulher siro-fenícia


tinha um grande problema e procurou a Je- EU NÃO MEREÇO, MAS EU CREIO! (Mt
sus para resolvê-lo. Qual seria o seu “grande 15.24-28)
problema”, que precisa de uma intervenção
“E ele, respondendo, disse: Eu não fui
divina?
enviado senão às ovelhas perdidas da
casa de Israel. Então chegou ela, e ado-
rou-o, dizendo: Senhor, socorre-me! Ele,
DEUS ESTÁ EM SILÊNCIO, MAS EU
porém, respondendo, disse: Não é bom
CREIO! (Mt 15.23)
pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos
“Mas ele não lhe respondeu palavra. E cachorrinhos. E ela disse: Sim, Senhor,
os seus discípulos, chegando ao pé dele, mas também os cachorrinhos comem
rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que das migalhas que caem da mesa dos seus
vem gritando atrás de nós. ” senhores. Então, respondeu Jesus, e dis-
A Bíblia diz que Abraão creu contra a se-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja
esperança (Rm 4.18): “O qual, em espe- isso feito para contigo como tu desejas.
rança, creu contra a esperança, tanto que E desde aquela hora a sua filha ficou sã. ”
ele tornou-se pai de muitas nações, con- Esta resposta de Jesus parece-nos es-
forme o que lhe fora dito: Assim será a tranha, entretanto, em lugar de procurar-
tua descendência.” A siro-fenícia clamou, mos entendê-la, inspiremo-nos na humil-
mesmo quando as evidências eram des- dade da siro-fenícia. Ela não se revoltou,
favoráveis. A fé argumenta que o discípu- não desistiu, mas, pelo contrário, fez das
lo de Cristo deve insistir, mesmo quando palavras de Jesus um motivo para de-
146 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O D I S C Í P U LO E O S A R G U M E N T O S D A F É |

monstrar sua humildade e fé. O resultado Marcos acrescenta este texto no qual
foi a vitória que tanto desejava. Ela sabia Jesus manda que a mulher volte porque a
que, por não ser judia, não teria o mere- filha dela já estava libertada. A siro-fenícia
cimento da atenção de Jesus. Os israeli- buscou a Jesus porque cria, persistiu por-
tas acreditavam que os povos de outras que confiava e obedeceu sem questionar.
nações não eram herdeiros das promes- Jesus mandou que ela voltasse, que a filha
sas feitas a Abraão. Até mesmo a Igreja estaria curada, e ela o fez. A fé não deve ser
Primitiva censurou Pedro por ter ido à exercida apenas para pedir, mas também,
casa de um gentio (At 11.1-3). Mas, o ar- para obedecer. Se você quer ser vitorioso
gumento da fé ignora as leis e preconcei- na fé, além de buscar, deve persistir e, ao
tos dos homens; a fé contraria a lógica. obter a confirmação da palavra de Jesus,
Um discípulo de Cristo não se firma em deve fazer o que Ele mandar. É comum,
merecimentos pessoais; ele apenas crê, em muitas ações divinas, cada um de nós
mesmo que seja “contra a esperança” (Rm precisar fazer sua parte. Aquela mulher
4.17-18). Jesus quebrou muitos paradig- teria que voltar, crendo que encontraria
mas etnológicos. Apesar dos judeus não sua filha liberta, e ela o fez, encontrando a
se darem com os samaritanos, Jesus se filha exatamente como Jesus prometeu. O
aproximou de uma samaritana e fez dela discípulo de Cristo precisa examinar quais
uma missionária para o seu povo. Em se- áreas de sua vida precisam ser submetidas
guida, entrou na cidade deles e ficou ali à obediência a Cristo. Jesus foi taxativo em
dois dias, levando muitos a crerem n’Ele afirmar que somente é amigo d’Ele quem
(Jo 4.9, 28-29 e 39-42). Ele curou outras obedece a suas palavras (Jo 15.14).
pessoas de origem romana (Mt 8.8-12;
Jo 4.46-50). Quando Pedro foi à casa de
Cornélio, disse que “Deus não faz acep- Conclusão
ção de pessoas; mas que lhe é agradável
Deus vê a aflição de cada discípulo
aquele que, em qualquer nação, o teme
seu, mas espera a manifestação de obe-
e faz o que é justo” (At 10.34,35). A mu-
diência e fé do mesmo. Ele quer que não
lher siro-fenícia não retrucou as palavras
confiemos em nossos merecimentos ou
de Jesus, mas se humilhou, dizendo que
virtudes. O escritor aos hebreus diz que
até mesmo os cachorrinhos “comem das
Deus é galardoador dos que O buscam
migalhas que caem da mesa dos seus se-
com fé (Hb 11.6). Se você tem um grande
nhores”. Quem se humilha na presença
problema, creia que Deus é maior que os
do Senhor, Ele o exalta (1 Pe 5.6). Em Tg
seus problemas. Deus parece em silên-
4.6, é dito que “Deus resiste aos soberbos,
cio? Ele está apenas ajudando-o a crescer
mas dá graça aos humildes”.
na fé. Você não tem nenhum merecimen-
to? Cristo morreu para usar os mereci-
mentos d’Ele em favor daqueles que não
CREIO E OBEDEÇO! (Mc 7.29-30)
têm nenhum. Se for necessário, veja qual
“Então ele disse-lhe: Por essa palavra, área de sua vida precisa ser submetida à
vai; o demônio já saiu de tua filha. E, indo obediência a Cristo. Use sempre os argu-
ela para sua casa, achou a filha deitada mentos da fé e o Senhor o honrará!
sobre a cama, e que o demônio já tinha
saído”

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 147


ESTUDO 43

Leituras Diárias
Segunda Mt 14.22-36
Terça Rm 4.10, 13

O DISCÍPULO E OS Quarta Ef 4.2


Quinta Tt 3.10-11
Sl 23.1; Dt 32.11-12
MANDAMENTOS DA Sexta
Sábado Tg 5.19-20
Ef 4.12-13; Fp 1.6.
MUTUALIDADE (I)
Domingo

PARTE 1 - Jo 13.34 - 35 AMAR UNS AOS OUTROS (Jo 13.34;


15.12; Rm 12.10; 1Ts 4.9; Rm 13.8; 1Pe
1.22)
INTRODUÇÃO
O amor é o principal elo do cristianis-
mo. Se não amamos o próximo, também
A reciprocidade e a mutualidade são não amamos a Deus (1 Jo 4.8, 20-21). É o
atitudes imperativas a todos os discípu- amor que nos faz conhecidos como discí-
los de Cristo. É raro acontecer algo posi- pulos de Cristo (Jo 13.35). Quem não ama
tivo que não tenha reciprocidade e mu- o irmão, permanece na morte (1Jo 3.14).
tualidade. Exemplo: Quando adquirimos De acordo com esta palavra, você está
um produto, somos beneficiados, mas morto ou vivo? Ver ainda João 15.17 e 1Jo
também beneficiamos a dezenas e até a 3.11, 23. Cumprir o mandamento de Jo
milhares de pessoas. Quem presta algum 15.12, “O meu mandamento é este: Que
serviço, é também servido por alguma vos ameis uns aos outros, assim como eu
forma de retribuição. A seguir, compar- vos amei”, constitui-se num grande desa-
tilhamos como um discípulo de Cristo fio para o discípulo de Cristo. Observe o
pode cumprir os mandamentos recípro- modelo de amor proposto: “Assim como
cos no relacionamento com os outros. eu vos amei”. De que forma Jesus provou
Considerando que o número de textos o amor de Deus para conosco? (Rm 5.8)
é muito extenso, fizemos pequenos co- “Cristo morreu por nós”. O amor verda-
mentários sobre a maioria deles, porém, deiro se consuma em nossa morte em fa-
cabe a você aplicar esses mandamentos vor do irmão (1Jo 3.16). E essa morte não
à sua vida. é apenas a física, é a morte do “ego”, das

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“vantagens” pessoais em benefício do ir- (Mt 7.3). Quando assumimos a postura de


mão. Conforme Rm 12.10, o amor frater- juízes, usurpamos o lugar de Deus (Tg 4.11;
nal nos leva a honrar o nosso irmão. Nes- 1.20); Somente Deus pode exercer o juízo,
te caso, sempre que buscarmos a honra, porque julga justamente (Rm 14.10, 13). O
a preferência deve ser para o irmão e não fato de que não devermos julgar uns aos
para nós. Será maravilhoso o dia em que outros, não exclui a confrontação daquele
alguém possa nos dizer o mesmo que que estiver errado. O ideal é que, ao se ter
Paulo disse para os discípulos de Tessalô- dúvida sobre uma atitude de um irmão,
nica (1Ts 12.10): “Nem preciso falar sobre procurá-lo e esclarecer a referida dúvida. Em
o amor fraternal, porque vocês já estão caso positivo, de ele estar errado, procurar
instruídos por Deus nessa questão”. Estas levá-lo à correção de sua atitude. Se ele for
palavras de Paulo combinam com João contumaz e não aceitar a repreensão, seguir
13.35, quando Jesus diz que todos co- o que a Bíblia recomenda em Tt 3.10-11: “Ao
nhecerão que somos discípulos d’Ele, se homem herege, depois de uma e outra
tivermos amor uns para com os outros. admoestação, evita-o, sabendo que esse
De acordo com Rm 13.8, a maior dívida tal está pervertido, e peca, estando já
que um discípulo de Cristo deve ter é em si mesmo condenado”. O escritor da
a dívida do amor para com o próximo. carta aos Hebreus nos recomenda a ex-
Pedro nos instrui que o amor recíproco ortação mútua (Hb 12.25). Advertir não é
deve ser não fingido, mas de coração, e julgar. O julgamento é também perigoso
isto “ardentemente” (1 Pe 1.22). O termo porque podemos estar equivocados.
grego para “ardentemente” é “ektenos” Nossos sentidos e, muitas vezes, certos
e significa “seriamente, fervorosamente, valores, nos enganam. Jesus disse para
intensamente”, de um verbo que significa não julgarmos segundo a aparência, mas
“estender a mão.”9 conforme a reta justiça (Jo 7.24). Outro
perigo de julgarmos uns aos outros é
O mandamento do amor é deter-
que, quando julgo, dou o direito de ser
minante para todos os demais, porque
julgado na mesma medida (Mt 7.2). Ag-
quem ama obedece ao mandamento re-
ora, reflita, se julgamos alguém por um
cíproco de “não julgar uns aos outros”.
erro que ele não cometeu, que direito de
julgamento estamos dando a outrem?
Daí a importãncia de procurarmos o ir-
Aplicação a sua vida: nos tempos atuais,
mão quando “julgarmos” que ele está er-
a prática do amor está cada dia mais difícil
de ser realizada devido à falta de limite das rado. Isto pode corrigir muitos equívocos
pessoas. Como exercer o amor de forma in- e evitar muitos danos aos outros, a nós e
tegral sem, em contrapartida, estar prejudi- à Igreja de Cristo.
cando o irmão, criando dependência?

Aplicação a sua vida: o julgamento faz


NÃO JULGAR UNS AOS OUTROS (Rm parte da nossa velha natureza e convive-
14.13) mos com ela diariamente. A matriz de re-
ferência tem sido sempre nós. O não julgar
Jesus recomenda que, antes de olhar- é um exercício diário. O que você tem feito
mos o “cisco” no olho de um irmão, devemos para diminuir o seu julgamento em relação
remover a “trave” que está no nosso olho ao próximo?

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 149


| O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I )

ACOLHER E ADMOESTAR UNS AOS OU- Aplicação a sua vida: nos tempos atuais,
TROS (Rm 15.7 e 14) a prática do amor está cada dia mais difícil
A palavra “acolher” no grego é “pros- de ser realizada devido à falta de limite das
pessoas. Como exercer o amor de forma in-
lambano”, e significa “levar a, pegar a tegral sem, em contrapartida, estar prejudi-
mais, tomar para si mesmo; tomar como cando o irmão, criando dependência?
companheiro; (...) conceder acesso ao
coração”.10 O sentido para os relaciona-
mentos cristãos é dar guarida, abrigar NÃO PRIVAR UNS AOS OUTROS (1Co 7.5)
ou proteger. Esse acolhimento tem mais
Paulo trata aqui do relacionamento con-
a ver com o lado emocional do que com
jugal, recomendando que marido e mulher
o físico. Todos nós sentimos necessidade
cumpram os deveres sexuais recíprocos. A
de aceitação e compreensão. Daí as me-
razão dessa recomendação é para evitar a
táforas bíblicas de Deus como refúgio e
tentação de Satanás. No original, a palavra
fortaleza (Sl 46.1); Deus como Pastor que
usada para privar é “apostereo”, derivada
protege o rebanho, ou como uma ave
de “stereo” (destituir), e significa “defrau-
que abriga os seus filhotes (Sl 23.1; Dt dar, roubar, despojar”. Quando um côn-
32.11-12; Sl 91.4). Jesus se apresentou juge “priva” o outro de suas obrigações
como o Bom Pastor que dá a vida pelas conjugais, significa que está defraudan-
suas ovelhas (Jo 10.11). No cristianismo, do, roubando e despojando bens e direi-
esse abrigo deve ser realizado também tos do outro. Por esta razão, as relações
pelos discípulos de Cristo, uma vez que íntimas têm interferência na resposta às
devem imitar o seu Mestre (Mt 23.37; 1Pe orações e podem dar lugar a Satanás (Hb
2.21; Mt 10.25). Quando acolhemos uns 13.4; 1Pe 3.7; 1Ts 4.3-5). É muito impor-
aos outros no coração, vivemos o mais tante que você leia estes textos bíblicos
profundo significado do cristianismo. O e os aplique à sua vida pessoal. Como
maior desejo de Deus é que mantenha- se percebe, essa questão é muito séria,
mos uns aos outros no próprio coração. porque não se trata apenas do relacio-
A palavra “admoestar” é “noutheteo” namento entre cônjuges, mas das conse-
e significa “admoestar, advertir, exortar. ” quências de quando esse mandamento
Observe que o discípulo de Cristo deve não é observado: Julgamento divino, dar
praticar essa admoestação “cheio de bon- lugar à tentação e a Satanás, e ainda in-
dade”. Tiago diz que, ao convertermos um terferência na resposta às orações.
irmão do erro do seu caminho, cobrimos
uma multidão de pecados e salvamos NÃO PROVOCAR UNS AOS OUTROS (Gl
uma vida da morte (Tg 5.19-20). Como 5.26)
vimos no ponto anterior, não devemos
julgar, mas admoestar, isto é, chamar a O verbo “provocar”, no grego, é
atenção daquele que estiver errado e “prokaleomai” e significa “trazer à tona,
procurar levá-lo ao caminho do arrepen- extrair; extrair para si mesmo; desafiar
dimento e da conversão. É o sincero de- a um combate ou disputa com alguém;
sejo de trazer o seu irmão para perto de provocar, irritar”.
você, na verdade para dentro do coração, Neste caso, provocamos o próximo
conforme vimos no verso anterior. quando “trazemos à tona” algo que inco-

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O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I ) |

moda, que humilha, que irrita, ou quan- rosa exortação. Observe que Paulo diz
do desafiamos alguém para uma discus- que o “suporte” deve ser feito com “toda
são (ou até uma briga). Jesus disse que os humildade e mansidão, com longanimi-
pacificadores serão chamados filhos de dade”. Se houver esse sentido recíproco,
Deus (Mt 5.9). Se você é filho de Deus, ao todos podemos ser suportes para que o
invés de instigar a intriga, você promo- próximo não caia. Comparar com Cl 3.13.
ve a paz, busca sempre a reconciliação, Quanto à segunda recomendação de Ef 4.2,
a melhor maneira de resolver um ponto que é “perdoar uns aos outros”, apreciaremos
conflitante. No entendimento do apósto- no próximo estudo.
lo Paulo, quando nos vangloriamos ou te-
mos inveja, provocamos uns aos outros.
Daí a recomendação de que devemos CONCLUSÃO
considerar os outros superiores a nós Os valores cristãos devem superar os va-
mesmos (Fp 2.2). Quando nossa atitude é lores do mundo. Jesus disse que nossa justi-
humilde e pensamos sempre no bem do ça deve exceder a justiça do farisaísmo (Mt
outro, evitamos o orgulho e a provoca- 5.20). O primeiro passo deve ser o do exer-
ção ao próximo. Deste modo, cumprimos cício do amor mútuo, tendo como modelo
o próximo mandamento recíproco. o amor sacrificial de Cristo em nosso favor.
Quem ama, não julga (1Co 13.5), mas acon-
selha, exorta, acolhe, não prova, pelo contrá-
Aplicação a sua vida: nos tempos atuais, rio, dá suporte. Os mandamentos recíprocos
a prática do amor está cada dia mais difícil levam em conta o bem-estar do próximo. O
de ser realizada devido à falta de limite das
pessoas. Como exercer o amor de forma in- maravilhoso de tudo isso é que, no sentido
tegral sem, em contrapartida, estar prejudi- positivo, sempre que exercemos os manda-
cando o irmão, criando dependência? mentos recíprocos, somos beneficiados na
mesma medida. Está na hora de avaliarmos
nossos valores e ver onde temos falhado,
SUPORTAR E PERDOAR UNS AOS OU- para corrigirmos, e onde temos acertado,
TROS (Ef 4.2) para melhorarmos. O desejo divino para
A palavra suportar no grego é “ane- cada um de nós é o aperfeiçoamento, até
chomai”. Significa “levantar; manter-se que os propósitos divinos sejam plenamen-
ereto e firme; sustentar, carregar (...).”11 É te cumpridos em nós (Ef 4.12-13; Fp 1.6)
a ideia não apenas no sentido de tolerar,
mas também de dar suporte. Cada pes-
soa tem motivos de ser o que é. Cada dis-
cípulo de Cristo deve ver a área na qual ______________
o próximo é mais fraco e, ao invés de 9
Bíblia eletrônica Word.
criticá-lo, buscar um modo de lhe dar su- 10
Bíblia eletrônica Word.
porte, que pode ser até através da amo- 11
Bíblia eletrônica Word.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 151


ESTUDO 44

Leituras Diárias
Segunda Ef 4.32-5.2

O DISCÍPULO E OS Terça
Quarta
1 Co 13.4; Gl 5.22
Mt 6.14-15

MANDAMENTOS DA Quinta
Sexta
Mt 18.15-35
Ef 5.14-21

MUTUALIDADE (II) Sábado Cl 3.9


Domingo 1 Ts 4.18; 5.11

PARTE 2 - Efésios 4.32-5.2


A Bíblia diz que Jesus andou fazendo o
bem a todos (At 10.38). O discípulo de
INTRODUÇÃO Cristo deve seguir os passos do seu Se-
A questão da mutualidade é tão im- nhor, sempre visualizando o bem “uns
portante que até a Trindade se revelou dos outros”. Se não é benigno, não pode
existindo como três pessoas, mas um só ser discípulo de Jesus. Além de benigno, o
Deus. Antes de ser preso, Jesus orou por discípulo de Cristo deve ser compassivo. No
nossa unidade, da mesma forma que Ele grego, a palavra “compassivo” é “eusplag-
era um com o Pai (Jo 17.11 e 21). O após- chnos”, e significa “ter fortes entranhas;
tolo Paulo disse que as divisões são evi- compassivo; de bom coração”. A ideia
dências de carnalidade na vida da igreja é a do envolvimento do coração para
de Jesus (1 Co 3.3). O salmista diz que é com o próximo. Quando olhamos o pró-
bom e agradável que os irmãos vivam em ximo com o coração, no sentido de “so-
união (Sl 133.1). Os mandamentos sobre frer com”, pois, esta é outra maneira de
a mutualidade são a “bússola” de como compreendermos a palavra compassivo
seguir nessa direção e alcançar esse alvo. (com+paixão), temos uma postura amo-
No estudo anterior, pontuamos alguns rosa para com ele. Daí a necessidade de
desses mandamentos. Neste estudo, obedecer à outra recomendação de Ef
apreciaremos outros. 4.32, que nos manda “perdoar uns aos
outros”. O perdão é tão determinante nos
SER BENIGO, COMPASSIVO E PER- relacionamentos que Jesus afirma que,
DOAR UNS AOS OUTROS (Ef 4.32) se não perdoarmos a quem nos ofender,
Benignidade é uma das característi- também não seremos perdoados por
cas e fruto do amor (1 Co 13.4; Gl 5.22). Deus (Mt 6.14-15). Observe que o perdão

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não é para quem foi benigno ou compas- pretende ser tirano, deve ser confrontado e
sivo, mas para quem nos ofendeu. Em chamado ao caminho do amor e do respeito
Mt 18.15-35, Jesus fala sobre como tra- cristãos (Rm 16.17; Mt 18.15; 1Ts 3.14-15; Gl
tar alguém quando tivermos algo contra 2.11). Tudo, entretanto, deve ser feito com
ele, ou quando ele tiver uma dívida para amor e no temor de Deus. É por essa razão
conosco. Chamamos sua atenção para o que Paulo nos recomenda a respeitar as au-
servo que não quis perdoar o conservo, toridades (Rm 13.1-2). Essas autoridades não
apesar de perdoado pelo seu senhor. Este são apenas as civis e militares, mas também
servo foi entregue “aos atormentadores, no nosso trabalho, em nossa comunidade
até que pagasse tudo o que lhe devia”. No (religiosa ou não) e na família (Ef 6.1-6; 1 Tm
verso 35, Jesus conclui: “Assim vos fará, 5.17-19; Hb 13.7,17). A humilde sujeição, no
também, meu Pai celestial, se do coração sentido de respeito e obediência, é uma ma-
não perdoardes, cada um a seu irmão, as neira de testemunharmos que somos discí-
suas ofensas”. Não há desculpas para os pulos de Cristo (1 Pe 2.12-21).
ressentimentos e a falta de perdão, pois,
quebra os relacionamentos e obstrui um
NÃO MENTIR UNS AOS OUTROS (Cl 3.9)
dos maiores alvos divinos para a vida de
um discípulo de Cristo: A unidade do seu Acredita-se que evitar a mentira é um
povo. dos maiores desafios no discipulado cris-
tão. Jesus foi taxativo em afirmar que os
mentirosos são filhos do diabo e que estes
Aplicação a sua vida: a lição descrita nos não entrarão no Reino de Deus (Jo 8.44; Ap
adverte quanto à forma como devemos 21.8 e 22.15). Mas, o que nos impressiona é
lidar com as pessoas que nos magoam ou a nossa tendência para mentir. A recomen-
as que magoamos. Você tem perdoado de dação divina é que cada um fale a verdade
coração e não voltado a incorrer no mesmo
com o seu próximo (Ef 4.25). A mentira é
erro?
como uma máscara que pomos no rosto e
escondemos nossa verdadeira face. Aconte-
SUJEITAR UNS AOS OUTROS (Ef. 5.21) ce que ninguém se sente confortável quan-
do descobre que a outra mente. As pessoas
Desde Ef 5.14 que Paulo nos convoca a
nos amam quando somos verdadeiros e
um despertamento do sono, a nos levantar-
nos rejeitam quanto encobrimos a verdade
mos dentre os mortos, pois, somente assim
e mentimos. Falar a verdade, por mais que
seremos esclarecidos por Cristo sobre sua
doa, nos torna mais aceitáveis e acreditados.
vontade (Ef 5.17). A seguir, no verso 18, nos
Um dos recursos para evitar a mentira e, con-
exorta a sermos cheios do Espírito Santo.
sequentemente, falar a verdade, é buscar a
Nos versos 19 a 20, ele nos orienta como:
direção de Deus, porque Ele ama a verdade
“compartilhando a Palavra uns com os ou-
no íntimo. Uma das funções do Espírito San-
tros e entoando cânticos espirituais”. Ef 5.21
to é nos guiar e conduzir em toda a verdade
é a continuação desse despertamento es-
(Jo 16.13).
piritual, conhecimento da vontade de Deus
e enchimento do Espírito Santo: a sujeição Aplicação a sua vida: a mentira tomou um
uns aos outros. Observe que essa “sujeição” caminho tão amplo que já há música pe-
é no temor de Cristo. Não significa que de- dindo para que o amado minta, mas diga
vamos nos submeter à tirania de alguém coisas lindas. Como temos tratado essa
que se diga cristão. O princípio aqui é o de relação com a mentira em nossas igrejas?
uma comunidade de amor, de benignidade Temos achado palavras mais brandas para
e de valorização recíproca. Quando alguém explicar ações e palavras mentirosas?

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 153


| O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I I )

CONSOLAR UNS AOS OUTROS (1Ts a importância do discipulado, quando


4.18) cuidamos uns dos outros e nos suprimos
O verbo “consolar”, no grego, é “paraka- mutuamente. Esta é também uma das
leo”, e significa “chamar para o (meu) importâncias da Escola Bíblica Dominical,
lado, chamar, convocar; dirigir-se a, falar dos cultos e demais atividades espirituais
a, (recorrer a, apelar para), o que pode ser que realizamos em conjunto. Cada um
feito por meio de exortação, solicitação, edifica o outro com o seu dom (Ef 4.16).
conforto, instrução etc.; admoestar, exor-
tar (...)”. Impressiona-nos a ideia de que
consolar tem a ver com chamar a pessoa Aplicação a sua vida: nosso crescimento
para perto, a fim de desfrutar de nosso em Cristo está diretamente ligado ao rela-
calor humano e ter um ombro amigo. É cionamento com Ele e com o próximo. As-
nesse sentido que o Espírito Santo é o nos- sim crescemos, quando nos relacionamos
bem com Ele e com o outro. À medida que
so Consolador (Jo 15.26). Em nossas tribula- tratamos o outro como gostamos de ser
ções, Ele nos chama para perto de si e nos tratados, crescemos juntos diante de Deus.
oferece seu “ombro amigo”. O discípulo de Temos contribuído para a edificação do
Cristo tem o Espírito e, portanto, deve conso- próximo com os dons que Deus nos deu?
lar uns aos outros. As tribulações têm a fina-
lidade de nos preparar para consolar a quem
passa por semelhante experiência (2 Co 1.3- CONFESSAR UNS AOS OUTROS (Tg 5.16)
7). Deus nos usa como instrumentos d’Ele
Acreditamos que a melhor aplicação des-
na edificação uns dos outros, objetivando
te texto seria o pecado que cometemos con-
levar-nos à estatura de Cristo, à medida do
tra o nosso próximo. Neste caso, devemos
homem perfeito (Ef 4.11-16). Ao invés de
procurá-lo e pedir-lhe perdão. Não é reco-
criticar o seu irmão, pelo pouco crescimento
mendável procurar uma pessoa que nos te-
que ele tem em Cristo, ajude-o na edificação
nha ofendido e dizer-lhe que estávamos com
nessas áreas na vida dele.
raiva dela, mas que a perdoamos. Há muitas
pessoas que levam um susto com esse tipo
de “pietismo” daquele que se julgou ofendi-
EDIFICAR UNS AOS OUTROS (1 Ts 5.11)
do. Quando isto acontece, é melhor perdoar
Deus começou uma obra maravi- o ofensor em nosso coração e não precisar
lhosa em nossas vidas e estamos sendo informá-lo do fato. Se o ressentimento per-
construídos até a volta de Cristo (Fp 1.6). sistir, é recomendável procurar aquele que
Somos edificados das mais diferentes nos ofendeu e indagá-lo sobre o motivo de
maneiras por Deus: através da Palavra, da ter agido assim. Na maioria das vezes, houve
oração, do serviço no Reino, mas Deus usa um equívoco de nossa parte e interpreta-
a cada um de nós nesse processo de edi- mos mal a palavra ou atitude do outro. Isto é,
ficação mútua (Ef 2.22). O surpreendente o problema pode ser nosso e não do próxi-
é que essa edificação é para a morada mo. Quanto à confissão de pecados pessoais
de Deus. Pedro diz que estamos sendo contra outra pessoa, esta questão não é sim-
edificados em casa espiritual (1 Pe 2.5). A ples, até mesmo pelo grau de confiabilidade
edificação é mútua. Neste caso, quando que precisa haver entre os“confessores”. A re-
deixamos de “pôr um tijolo” na constru- comendação é que devemos abrir o coração
ção do outro, ficamos também atrofiados com alguém comprovadamente confiável. A
em alguma área de nossa construção. Daí primeira pessoa a quem devemos confessar

154 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I I ) |

os nossos pecados é a Deus, porque Ele não vemos servir “uns aos outros conforme
somente nos perdoa como se “esquece” dos o dom que recebeu, como bons despen-
nossos pecados (Hb 8.12). Há pessoas, en- seiros da multiforme graça de Deus. ” Já
tretanto, que sentem necessidade de abrir vimos este assunto, no estudo sobre o
o coração com alguém de confiança. Tiago discípulo como ministro e despenseiro
recomenda isto com fins terapêuticos “para dos mistérios de Deus. Cabe realçar aqui
serdes curados. ” É importante salientar que que o serviço deve ser conforme o dom
a confissão deve ser específica: Exemplo: “Ó de cada um. Deus capacita a cada um de
Deus, perdoa aquela palavra que disse inde- nós com, pelo menos, um dom espiritual,
vidamente; perdoa a mentira que falei hoje; visando o serviço ao próximo. Precisamos
perdoa a atitude grosseira que tive para com descobrir qual é o nosso dom e servir de
aquela pessoa”. É sempre viável mencionar modo fiel (1 Co 4.1-2).
ocasião, nomes de pessoas etc. Deve-se evi-
tar a confissão generalizada, como: “Perdoa
a multidão dos meus pecados”. Ora, se você Aplicação a sua vida: temos que ressaltar
confessa diariamente seus pecados, não é nesse ponto que, em várias ocasiões, o
multo compreensível dizer que tem “mul- servir tem dado lugar ao serviçal. Servir o
tidão de pecados”. Pecado confessado não outro é utilizar-nos dos dons que Deus nos
precisa ser “reconfessado”, a menos que você deu em favor do próximo, seja ele familiar
não o tenha feito sinceramente. Lembre-se: ou não. Como tenho usado os dons que
Deus esquece os nossos pecados, e o san- Deus me deu? Qual é a minha participação
no corpo de Cristo?
gue de Jesus purifica a nossa consciência de
pecado (Jr 31.34 e Hb 9.14). Mais um lembre-
te: Se você sinceramente confessou o peca-
do a Deus e experimentou o seu perdão, não CONCLUSÃO
há necessidade de que procure alguém para Discipulado é relacionamento. Por
confessar o mesmo pecado. esta razão, a prática dos mandamentos
recíprocos é o mais elevado exercício do
discipulado. Sua maior motivação deve
SERVIR UNS AOS OUTROS (1 Pe 4.10)
ser o amor. Seu maior modelo é o exem-
Este mandamento é regulado pelo plo do Senhor Jesus. A culminação de
“amor uns aos outros”: servir, e não ape- sua prática deve ser a predisposição de
nas ser servido. Jesus disse que nos deu o dar a vida uns pelos outros. Eles devem
exemplo de como servir uns aos outros e fazer parte do estilo de vida do discípulo
que devemos fazer o mesmo (Jo 13.15). de Cristo: viver para servir e não para ser
Ele disse que não veio para ser servido, servido. A partir do momento em que os
mas para servir. Acontece, entretanto, discípulos de Cristo fizerem dos “manda-
que esse serviço não se restringe a fa- mentos recíprocos” o seu estilo de vida,
zer algo por alguém, mas em servir com a plenitude do cristianismo será expe-
a própria vida, se necessário (1 Jo 3.16): rimentada e Cristo será manifestado ao
“Conhecemos o amor nisto: que Ele deu mundo, conforme Jo 13.35: “Nisto todos
a sua vida por nós, e nós devemos dar a conhecerão que sois meus discípulos, se
vida pelos irmãos”. Pedro disse que de- vos amardes uns aos outros”.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 155


ESTUDO 45

Leituras Diárias
Segunda Mt 14.22-36
OS DISCÍPULOS NA Terça
Quarta
Lm 3.26-29
Sl 30.1-5
TEMPESTADE Quinta
Sexta
Sl 46.1-11
Hb 13.1-6
Mateus 14.22-36 Sábado Jo 16.33 e Mt 28.20
Domingo Tg 1.2-8

INTRODUÇÃO
da multiplicação dos pães, Jesus sentiu
O presente estudo retrata realidades necessidade de orar. Ele preferiu ficar
da experiência cotidiana de um discípu- sozinho, porém na comunhão com o Pai.
lo de Cristo e também nos aponta o que Cada um de nós deve evitar contentar-se
devemos fazer mesmo após grandes ma- a viver apenas de milagres e manifesta-
nifestações divinas em nossa vida. Neste, ções do poder de Deus no passado. Pre-
procuramos entender como lidar com cisamos reabastecer nossa alma. Haverá
as adversidades e tempestades da vida. momentos em que necessitaremos criar
O estudo nos revela ainda a divindade condições para que a comunhão com o
de Jesus no controle da natureza, e sua Pai seja desfrutada, quando estivermos
prontidão de vir em nosso socorro quan- inteiramente sozinhos. Uma das grandes
do estamos em perigo. Começamos com bênçãos em nossas vidas é o momento
a intrigante ordem de Jesus aos seus dis- do “a sós com Deus”, conforme nos suge-
cípulos. re Mt 6.5-6. Comparar com Lm 3.26-29.
Porém, além de querer ficar sozinho com
o Pai, Jesus levou os discípulos a serem
OBRIGADOS A ENTRAR NO BARCO (Mt
testados na fé. Ele os obrigou a entrarem
14.22-23)
no barco. Isto fazia parte da “pedagogia
O verso 22 diz que Jesus obrigou os de Jesus aos seus discípulos”. Deus nos
discípulos a entrarem no barco e passa- submete a tempestades na vida, a fim
rem adiante dele para o outro lado. O de aprendermos que, não importando as
complemento do verso 23 diz que Ele “su- circunstâncias, Ele está sempre presente.
biu ao monte para orar à parte. Ao anoite- Ele é o “socorro bem presente na angús-
cer, estava ali sozinho”. Apesar do milagre tia” (Sl 46.1).

156
156 || RR EE FF LL EE XÕ
XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
O S D I S C Í P U LO S N A T E M P E S TA D E |

O BARCO AÇOITADO PELAS ONDAS (Mt pulos pensaram que Jesus fosse um fan-
14.24-25; Sl 30.5) tasma); o medo leva ao estado de pânico.
O desânimo, muitas vezes, ofusca a visão
A vida tem muitas surpresas. Após um
da presença e do poder do Senhor. Je-
milagre, pode vir uma tempestade. O fato
sus disse: “sou eu”. O discípulo de Cristo
de sermos seguidores de Jesus não nos deve lançar fora os temores de sua vida
isenta de revoltosas ondas e adversidades (Hb 13.6). Resista aos medos de sua vida
na vida. Eles estavam ali em obediência a e renove sua confiança na presença e no
Jesus, mesmo assim, foram apanhados por poder de Jesus! Por toda a Bíblia, perce-
uma violenta tempestade. O verso 24 diz bemos o empenho divino em despertar o
que eles eram “açoitados pelas ondas; por- ânimo no seu povo (Sl 27.14; Lc 8.48). Ob-
que o vento era contrário”. Quando servi- serve que não é Deus quem nos anima,
mos a Jesus, mesmo que encontremos em- mas Ele recomenda que nos animemos.
poladas ondas e ventos adversos, sempre O ânimo é uma predisposição interior de
teremos Jesus vindo ao nosso encontro. não se entregar à derrota. Não é algo que
Comparar com Jo 16.33 e Mt 28.20. vem de fora, mas do nosso coração, e o
Primeiro, ressaltamos que Jesus tinha desejo sincero de não ser vencido. Daí a
orado desde o cair da tarde (verso 23) até recomendação divina a não temermos,
à 4ª vigília da noite. A 1ª vigília era das mas termos ânimo.
18h às 21h; a 2ª era das 21h à meia noite;
a 3ª era de zero hora às 3h da manhã; a 4ª BUSCA PELA SALVAÇÃO (Mt 14.28-30)
vigília era das 3h às 6h da manhã. Já pas-
Pedro pediu que Jesus provasse que
sava, portanto, das 3h da manhã quando
era ele mesmo, permitindo-lhe que fosse
Jesus veio ao encontro dos discípulos em
ao encontro do Senhor, andando sobre
meio à tempestade. Eles haviam remado as águas. Jesus o convidou. Pedro come-
a noite toda. Mesmo parecendo demo- çou muito bem, mas depois, “sentindo
rar, Jesus veio em socorro deles. Isso re- o vento forte, teve medo”. Pedro nos re-
afirma a promessa de que “o choro pode presenta perfeitamente em nossas “aven-
durar uma noite, mas a alegria vem pela turas de fé”: pedimos provas a Deus,
manhã”. O próprio Jesus disse que deve- recebemos sua aprovação, iniciamos a
mos “orar sempre e nunca desfalecer” (Lc jornada e, depois, tememos. Ao temer,
18.1). Permaneça firme; não se desespere o apóstolo começou a submergir. Se em
porque, a qualquer momento, Jesus virá alguma área de sua vida você está afun-
em seu socorro, sobrepujando o mar re- dando é porque fez algo errado, ou por-
voltoso e vencendo os ventos contrários que não exercitou fé suficiente para man-
que açoitam sua vida! ter os olhos em Jesus. Você está olhando
para sentimentos pessoais e não para
Jesus (Hb 12.1-2). Ao submergir, Pedro
Aplicação a sua vida: quais áreas da sua deu um grito de desespero, pedindo que
vida representam tempestade e pelas quais o Senhor o salvasse. Jesus o salvou, mas
você sente-se açoitado?
repreendeu o apóstolo, pela falta de fé.

ADVERTIDOS A NÃO TEMER (Mt 14.26-


27) Aplicação a sua vida: Clame agora pela
salvação do Senhor, para a área de sua vida
A falta de ânimo conduz ao medo; o ou família que você percebe que está afun-
medo traz confusão da mente (os discí- dando.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 157


| O S D I S C Í P U LO S N A T E M P E S TA D E

EXERCITANDO A FÉ (Mt 14.31) transformaram o temor em adoração.


Só Deus deve ser adorado. Ao reconhe-
Ainda que o nosso “afundamento”
cerem que Jesus era o Filho de Deus, os
seja por falta de fé, contudo, ao clamar-
discípulos confessaram também sua di-
mos pela salvação de Jesus, Ele estende a
vindade. Ele foi adorado e recebido como
mão e nos segura. Deus trata a increduli-
o Filho de Deus. Crer que o Deus Eterno
dade ou a dúvida com muita firmeza. Du-
gerou um Filho entre os homens, é algo
vidar é ofender a Deus, para quem tudo
que aviva nossa fé e nos leva a experi-
é possível (Jo 20.24-29; Tg 1.2-8). Deus
mentar o verdadeiro amor de Deus por
recompensa, isto é, galardoa, a quem se
nós.
aproxima dele com fé (Hb 11.6). Observe
que o Senhor espera que seu discípulo O exemplo de Jesus orando após o
“exerça” fé. Os homens e as mulheres “he- milagre da multiplicação dos pães, de-
róis” da fé foram aceitos por Deus porque monstra a necessidade de continuarmos
demonstraram fé, e não porque pediram a orar, mesmo após grandes manifesta-
fé. Não se deve confundir a fé para crer ções do poder de Deus em nossas vidas.
no poder de Deus, isto é, a fé que Deus O fato de obedecermos a Jesus, não nos
espera que a exerçamos, com o dom da isenta de tragédias e adversidades. Nessas
fé, concedida pelo Espírito Santo (1 Co circunstâncias, devemos ter a certeza de
12.7). O dom da fé é uma capacitação so- que “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, so-
brenatural, concedida a algumas pessoas corro bem presente na angústia” (Sl 46.1).
quando se convertem. Esse dom tem a A desconfiança é uma atitude que desa-
finalidade de suprir necessidades espe- grada e ofende a Deus. Sempre que hou-
ciais na vida da Igreja ou no Reino de ver perigo, Jesus virá em nosso socorro e,
Deus (Ef 4.11-12). A fé que Jesus cobrou quando clamarmos “Senhor, salva-nos”,
dos seus discípulos é aquela que deve ser Ele estenderá a mão e, mesmo que nos
exercida por todos para a salvação, ou no repreenda, contudo nos livrará e conduzirá
relacionamento pessoal de cada um de em segurança.
nós com Deus.

Aplicação a sua vida: Você já confessou a


Aplicação a sua vida: Deus está sempre Jesus como o verdadeiro Filho de Deus? Já
pronto a nos atender. Você crê ou duvida? O recebeu no seu coração como único Se-
Mas, só depende da sua intimidade de fé nhor, Salvador e Mediador? Então, adore-O
com Ele para que você seja atendido! sempre; louve-O sempre, independente
das circunstâncias. Creia que Ele virá ao seu
encontro em meio às tempestades da vida.
ADORANDO O SENHOR DE TODAS AS
COISAS (Mateus 14.32-33)
Conclusão
Aprecio muito o texto do hino
328 do Cantor Cristão, que diz: “Tais Precisamos ter sempre em mente que
águas não podem a nau tragar,  Jesus é Deus. Ele deve ser adorado e cultu-
que leva o Senhor, Rei do céu e mar!”. ado. Caso sua vida esteja como a daqueles
Quando os discípulos perceberam o se- homens, no meio do mar, açoitados pelo
nhorio de Cristo sobre os ventos, sobre vento, clame também agora a Jesus para
as ondas, enfim, sobre a tempestade, eles que o salve!

158 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 46

Leituras Diárias
Segunda Mt 28.18-20
Terça Sl 126.6
A MISSÃO PRECÍPUA DO Quarta
Quinta
Jo 4.25-26
Js 1.8
DISCÍPULO DE CRISTO Sexta
Sábado
Lc 14.26-33
Lc 6.12-13
Domingo Jo 15.8
Mateus 28.18-20
ões nas quais pregava Mordecai Ham (o
INTRODUÇÃO evangelista Cowboy), converteu-se Billy
Neste estudo, objetivamos chamar os Graham.
discípulos de Cristo a uma releitura do Essas experiências são comoventes,
Novo Testamento, à avaliação de como porém, muitas vezes, nos parecem de ou-
tem cumprido a ordem de Jesus para fa- tra realidade que não a nossa ou, então,
zer discípulos. nos sensibilizam e nos constrangem, mas
Vejamos, a seguir, exemplos de pes- parecem não funcionar conosco. Então,
soas que causaram impacto na sua ge- nos perguntamos: Poderíamos também
ração pelo cumprimento de sua missão ser usados assim por Deus? E por que
precípua: muitas pessoas não o conseguem? Teria
Deus ainda hoje homens e mulheres que
No Século XIX, Edward Kimball se
se tornariam poderosos instrumentos
empenhou em discipular os alunos da
discipuladores em suas mãos? Waylon
EBD, e deu especial atenção a um jovem
Moore, em seu livro “Multiplicando Discí-
recém-chegado da roça (era Dwight L.
pulos”, diz que sim. Que Deus tem esses
Moody), que veio emocionar milhões de
homens e mulheres hoje. E sabem quem
pessoas na América do Norte e na Europa
são eles? Exatamente eu e você! Quer sa-
com suas poderosas mensagens. Moody
ber como?
influenciou F. B. Meyer, que influenciou J.
W. Chaman, que influenciou Billy Sunday. SAIA DO DISCURSO PARA A PRÁTICA
Liderado por Billy Sunday, um grupo de (Mt 28.19): “Portanto ide, fazei discípulos
oração se empenhou em ganhar toda de todas as nações, batizando-os em nome
a cidade para Cristo. Durante as reuni- do Pai, e do Filho, e do Espírito
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 159
| A M I S S Ã O P R E C Í P U A D O D I S C Í P U LO D E C R I S T O

Não me preocupo com a interpreta- do com eles o Senhor, e confirmando a


ção gramatical do texto bíblico, se é “ide palavra com os sinais que se seguiram”.
e fazei” ou “indo, fazei”. O importante é Amém.
que discípulos sejam feitos quando se foi
Observe que o texto diz “cooperando
ou quando se ia. Para se fazer discípulo, é
com eles o Senhor”. K. Bruce Miller diz:
preciso agir imediatamente. De nada vale
“Você despenderia o mesmo tempo, para
fazer discursos, pregações e estudos so-
se preparar a fim de atender as necessi-
bre discipulado, se você não for. Enquan-
dades de uma pessoa, que usaria para
to você não agir, nada acontecerá. Há
se preparar a fim de pregar um sermão
pessoas que discutem sobre quais são os
para cinco mil pessoas? Quanto você crê
métodos mais eficazes de fazer discipu-
no potencial de uma pessoa? ”. Há mui-
lado. Na verdade, é raro um método que
tos casos em que os discípulos de Cristo
não funcione. O melhor método é aquele
estão envolvidos na igreja com “ensaios”
que se pratica. Conhecemos uma senho-
e reuniões para os mais diferentes obje-
ra que fazia evangelização e discipulado
tivos, que até tem o seu valor, mas pou-
escrevendo cartas a presidiários. Dezenas
cos resultam na produção de frutos e no
deles se converteram, inclusive o carteiro
cuidado para com os novos convertidos
que levava e trazia as cartas. Houve um
ou interessados no evangelho. Impres-
pastor que simplesmente saía, todos os
siona-nos o tempo que Jesus investiu no
dias, conversando com a vizinhança e
encontro com “a mulher samaritana”, mas
muitas pessoas foram levadas a Cristo.
principalmente com os seus discípulos
Por isto, cremos que uma das melhores
definições para discipulado é “relaciona- que O acompanhavam. A samaritana se
mento”. O resultado dos relacionamentos tornou a primeira missionária do Novo
de discipulado é a construção de vidas Testamento, conforme veremos num
para obedecer e viver com Deus. Se você estudo mais adiante. Foi para ela que o
obedecer a Jesus e for, Ele promete que Senhor fez uma das mais surpreendentes
estará com você todos os dias (Mt 28.20). revelações de sua pessoa: “Eu sou o Mes-
A Bíblia nos assegura que, “aquele que sias, que fala contigo” (Jo 4.25-26).
leva a semente, andando e chorando, Horatius A. Bonar nos conclama a in-
voltará, sem dúvida, trazendo consigo os vestir nossas vidas em favor dos perdidos
seus molhos” (Sl 126.6). Então, deixe de e faz uma oração: “Senhor, ponha em
“conversa mole” e haja! nossos olhos as suas lágrimas, porque os
nossos corações estão endurecidos. ”
Aplicação a sua vida: na zona de conforto Os homens de Deus que investiram
onde estamos, muitas são as vezes em que em vidas e nos seus sucessores tiveram a
a rotina diária nos afasta de nossa missão. continuação de seu ministério. Exemplo:
Como você pode conciliar sua missão à pra-
tica diária? Moisés e Josué; Elias e Eliseu; Jesus e os
seus apóstolos; Paulo e Timóteo. Diz-se
que Barnabé foi o maior discipulador do
INVISTA NA TAREFA DE FAZER DISCÍ- Novo Testamento. Ele discipulou Paulo
PULOS (Mc 16.20): “E eles, tendo partido, e João Marcos; e João Marcos escreveu
pregaram por todas as partes, cooperan- o Evangelho de Marcos. Este evangelho

160 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
A M I S S Ã O P R E C Í P U A D O D I S C Í P U LO D E C R I S T O |

serviu de fonte para Lucas e Mateus es- que estivessem com Ele” (Mc 3.14). O dis-
creverem os seus evangelhos. Paulo es- cípulo de Cristo tem que investir tempo
creveu treze cartas do Novo Testamento para estar com Ele em oração, ouvindo e
e foi um dos maiores missionários da his- meditando na sua Palavra (Js 1.8).
tória da Igreja.
d) Tempo com o discipulando: Jesus
Waylon Moore diz que “quando a igre- investiu cerca de três anos com os seus
ja exala discípulos inala convertidos; des- discípulos. Ele sempre investia tempo na-
ta forma ela cresce. O discipulado é a for- queles que o procuravam. Exemplo: Nico-
ma mais rápida de multiplicar líderes que demos, Zaqueu, Maria e Marta, e muitos
apressarão tanto a evangelização quanto outros. Se discipulado é relacionamento,
o discipulado. ” é necessário se ter tempo para investir
Para tanto, é necessário o investimen- naqueles que pretendemos discipular.
to de tempo, de recursos e de capacita- Discipular é também construir vidas, e
ção para discipular. isto demanda tempo!
e) Lágrimas (At 20.19; 2 Co 2.4; 2 Tm
O PREÇO DO DISCIPULADO (Mt 16.24) 1.4): Discipulado custa lágrimas. Pau-
la fala das lágrimas que derramou por
Billy Graham disse que “salvação é aqueles que ele evangelizou.
de graça, mas o discipulado custa tudo
o que temos. ” Para Waylon Moore “dis- Você terá de fazer as contas de “quan-
cípulo é alguém que dá a sua vida pelos to custa” ser um discípulo de Cristo (Lc
outros. ” Então, para cumprir sua missão 14.26-33). John Knox orava, dizendo: ”Dá-
precípua, o discípulo deve “pagar” os se- me a Escócia, senão eu morro! ” O disci-
guintes preços: pulado é como o processo da gestação,
do nascimento e do desenvolvimento de
a) Renúncia (Mt 16.24): Além de re-
uma criança (Gl 1.19; Fm 1.10). Essa negli-
nunciar a si mesmo, cada discípulo de
gência de priorizar os novos convertidos
Cristo sofre perdas ou podas em áreas de
tem levado muitos discípulos de Cristo a
sua vida que são infrutíferas. Então, ele
precisa renunciar também aos “galhos in- gerar frutos imperfeitos (conforme sua es-
frutíferos de sua vida” (Jo 15.1-2). pécie), que gera outros frutos imperfeitos,
uma geração doente (Lc 8.14).
b) Crucificação diária (Lc 9.23): Já
vimos anteriormente que a crucificação Muitas igrejas pagam um alto valor
diária é o processo da santificação, ao para realizações de mega shows, chama-
qual todo discípulo de Cristo é submeti- dos de cultos, mas abandonam as crian-
do. Todo discípulo de Cristo precisa estar cinhas espirituais nos seus primeiros
“crucificado com Cristo”, e não mais viver, momentos de nascimento. Então, elas
mas Cristo viver nele (Gl 2.20). Sem cruci- morrem ou se tornam “deficientes espi-
ficação diária não há discipulado. rituais”.

c) Tempo com Jesus (João 15.5): Dis- Convidamos você a pagar o preço do
cipulado não é algo mecânico ou “estraté- discipulado, gerando discípulos que es-
gico”. Discipulado é o resultado de como tejam prontos a também pagarem o seu
se vive em e com Cristo. Quando Jesus preço e prosseguirem para o alvo da so-
chamou os seus discípulos, Ele o fez “para berana vocação de Deus em Cristo Jesus.

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 161


| A M I S S Ã O P R E C Í P U A D O D I S C Í P U LO D E C R I S T O

Aplicação a sua vida: para sermos disci- Sugestão: Faça uma lista de novos deci-
puladores, temos um preço a pagar. Dian- didos, parentes não crentes, amigos e vi-
te dos tópicos apresentados, a qual deles zinhos, e experimente visitá-los, orar por
você precisa recorrer? eles e se relacionar com eles. Você terá uma
grande surpresa: eles estão interessados na
salvação deles, sim! Este foi o método de Je-
sus. Por que há pessoas que querem fazer
A GERAÇÃO DE DISCÍPULOS MULTI-
diferente? Seriam elas mais sábias do que
PLICADORES (2 Tm 2.2) Jesus?
A recomendação de Paulo a Timóteo
foi para que ele produzisse discípulos
que fizessem outros discípulos. Discípulo Conclusão
que não se multiplica deixa de cumprir
sua missão. Waylon Moore diz que “Este Quando Jesus chamou os seus discí-
ministério perdurará através de toda a pulos, Ele disse que os faria “pescadores
eternidade, se você investir na vida de de homens”. Da mesma forma, ao des-
indivíduos que, por seu turno, se dispo- pedir-se deles, recomendou que fossem
nham a alcançar outros, que alcançarão e fizessem discípulos, que pregassem
outros”. Como isto pode acontecer? Co- o evangelho e que fossem suas teste-
mece imediatamente, ainda hoje! munhas. A missão do discípulo é fazer
outros discípulos. Quem assim não está
agindo está fora da missão, fora de foco.
Aplicação a sua vida: você pode conside-
Então, não há mais desculpa e nem tem-
rar-se como parte de uma geração de dis-
cipuladores? O que você precisa buscar ou po a perder. Obedeça a Jesus e comece a
deixar para ser um discipulador? cumprir sua missão ainda hoje!

162 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 47

Leituras Diárias
Segunda Jo 1.35-51
Terça Jo 3.26-30
O DISCÍPULO QUE LEVA O Quarta
Quinta
At 2.37-41
1Co 1.27-29
IRMÃO A JESUS Sexta
Sábado
Gn 28.12-13
Ef 3.20
João 1.35-51 Domingo Jo 13.7

INTRODUÇÃO lado deve ser a pessoa de Jesus e não a


Nos versículos 35 – 37 João Batis- pessoa do discipulador.
ta apresenta Jesus como o Cordeiro de João apresenta detalhes, não descri-
Deus. O testemunho de João (de que Je- tos pelos demais evangelhos, da chama-
sus era o Cordeiro de Deus) levou aque- da dos discípulos. Um desses detalhes diz
les discípulos a deixá-lo e seguir a Jesus. respeito ao modo como André conheceu
André figura como um dos primeiros dis- Jesus e como levou o seu irmão (Pedro)
cípulos a se interessar por Jesus. A Bíblia a conhecer o Senhor. Da mesma forma
fala pouco sobre a atividade apostolar aconteceu com Filipe, que falou de Jesus
desse irmão de Pedro, porém o que ele para Natanael. É sobre a importância de
fez ao seu irmão serviu de exemplo para levarmos outros a Jesus que tratamos no
um dos princípios do discipulado, confor- presente estudo.
me veremos mais adiante. O testemunho
de João nos impressiona pela sua des-
pretensão pessoal. Desde a primeira vez ESTÁ EM COMPANHIA DE JESUS (Jo
que viu Jesus, chamou a atenção para a 1.38-39)
importância do Senhor, sem se importar Por estes versículos, fica evidente que
que os seus discípulos o deixassem e se- Jesus estava residindo em uma casa, e
guissem a Jesus. João tinha o sentimen- não era como há quem pense, que ele
to de que devia diminuir e Jesus crescer não tivesse uma residência, vivendo a pe-
(Jo 3.26-30). Este é um dos mais nobres rambular pelo mundo. O convite de Jesus
sentimentos que podemos cultivar em é para uma experiência pessoal: “Vinde, e
relação ao próximo: Diminuir para que o vereis”. O texto diz que eles passaram o
outro cresça! Uma das principais funções resto do dia com Jesus. Deve ter sido uma
do discipulado é apresentar o Cordeiro tarde maravilhosa estar na companhia
de Deus aos homens. O foco do discipu- de Jesus! O maior desejo de Jesus é que
REFLEXÕES BÍBLIC
REFLEXÕES BÍBLIC AS
AS II
II 163
|| 163
| O D I S C Í P U LO Q U E L E V A O I R M Ã O A J E S U S

tenhamos comunhão, sejamos um com tes de chamá-los para o apostolado. Es-


Ele, assim como Ele é um com o Pai (Jo ses contatos foram logo após Jesus ser
17.21). Jesus convidou aqueles dois discí- batizado por João e este ter testemunha-
pulos para irem com Ele e verem onde Ele do que Jesus era o Cordeiro de Deus. A
morava. Aliás, Ele diz que está à porta do continuação do texto bíblico menciona
nosso coração e bate. Quando abrimos a outros encontros de Jesus com pessoas
porta Ele entra, ceia conosco e nós com que vieram mais tarde fazer parte do gru-
Ele (Ap 3.20). po de apóstolos.
Em Jo 1.43, vemos que Filipe teve o
LEVANDO O IRMÃO A JESUS (Jo chamado especial de Jesus para segui-lo.
1.41-42) O mesmo convite é feito a cada um de
André compartilhou com Simão o seu nós. Jesus tem um plano especial para
“grande achado”. Aquele não era um acha- cada pessoa no seu reino. Talvez você não
do comum. Era uma esperança alimenta- venha a ser o destaque que foi Pedro, Tia-
da desde o Jardim do Éden, quando Adão go ou João, entretanto, do mesmo modo
e Eva pecaram (Gn 3.15), esperança essa como Filipe foi chamado a fazer parte
reafirmada na promessa a Abraão, Isa- dos doze que seguiam a Jesus, também
que, Jacó, Moisés, a todo o povo de Israel, você é convidado agora a ser um discípu-
e anunciada pelos profetas. Essa notícia lo, isto é, seguidor de Jesus. A seguir, ve-
deve ter “eletrizado” Simão. O passo se- mos como Filipe também foi instrumento
guinte foi ainda mais importante: diz que divino para levar Natanael a Cristo.
André o levou a Jesus. Que bênção extra- Filipe se torna um evangelista e dis-
ordinária é levar um membro da família cipulador de primeira mão (Jo 1.45). Ele
a Jesus! É dessa experiência que surgiu compartilha que acabara de achar “aque-
a “Operação André”, em que cada pes- le de quem escreveram Moisés na lei, e os
soa é desafiada a levar alguém a Cristo. profetas: Jesus de Nazaré, filho de José”.
Mais tarde, Simão veio a ser instrumento Primeiramente, Filipe demonstra conhe-
divino para conduzir quase três mil pes- cimento das escrituras e, em seguida,
soas a Jesus, num só dia (At 2.37-41). Ao afirma ter achado o Messias prometido.
encontrar-se com Jesus, Simão teve o seu Esse “achado” não é algo comum, pois
nome mudado para Cefas (em aramaico) trata-se do cumprimento de uma pro-
ou Pedro (em grego). Ambos significam messa feita há séculos e referida nos es-
“pedra”. Simão significa “audição”. Desse critos do Antigo Testamento. Afirmar que
modo, o Senhor lhe dava um novo signi- havia achado Aquele de quem falaram
ficado ao seu nome a partir daquele dia. Moisés e os profetas era algo que revolu-
A lição principal aqui é que todo aquele cionaria a vida daqueles homens! Porém,
que conhece Jesus como Salvador deve Natanael tinha uma mente inquiridora,
ser instrumento d’Ele para conduzir ou- investigativa e duvidou que pudesse vir
tros à salvação. alguma coisa boa de Nazaré (Jo 1.46). Ele
desconfiava de que uma promessa tão
Aplicação a sua vida: sempre que expe- auspiciosa pudesse estar se cumprindo
rimentamos algo bom, queremos contar naquele momento e vindo de um lugar
para pessoas que amamos, a fim de que to- sem tradição profética (Jo 7.52). É nesse
dos possam desfrutar. Quando, pela última ponto que Deus diz confundir os sábios
vez, você levou alguém a Cristo? na sua sabedoria (1 Co 1.27-29) e, “onde
foi dito: Vós não sois meu povo, se lhes
dirá: Vós sois os filhos do Deus vivo” (Os
ACEITA O CONVITE E SEGUE A JESUS
1.10). Entretanto, apenas como curiosi-
(Jo 1.43-49)
dade, os fariseus estavam equivocados
João nos descortina que Jesus teve quanto a vir profeta da Galileia, porque
um encontro com os seus discípulos an- Jonas era de Gate-Hefer, cidade da Gali-
164 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O D I S C Í P U LO Q U E L E V A O I R M Ã O A J E S U S |

leia (2 Rs 14.25). Filipe não entra na pro- que Natanael conhecesse o conceito de
vocação de Natanael e o convida para vir “Filho de Deus”, pois, Jesus ainda não ha-
e ver Jesus. Não existe argumento maior via revelado isto ao mundo. As palavras
na evangelização e no discipulado do seguintes de Jesus apontam para o fato
que levar a pessoa a se relacionar direta- de que a reação de Natanael foi o pro-
mente com Jesus. duto da fé e, deduzimos, uma revelação
especial de Deus naquele momento. Je-
TORNA-SE DISCÍPULO SEM DOLO (Jo sus, então, lhe assegura que seus discí-
1.47) pulos veriam “o céu aberto, e os anjos de
A primeira palavra de Jesus sobre Deus subindo e descendo sobre o Filho
Natanael foi que ele era um verdadeiro do Homem”. Deus honra a nossa fé. Esta
israelita em quem não havia dolo. Ele não palavra de Jesus tem a ver com a expe-
era um trapaceiro e nem corrupto. Ele era riência de Jacó, quando fugia de Esaú, o
sincero na sua vida com Deus, apesar de qual, dormindo, viu uma escada na qual
ainda não conhecer Jesus. Imagine como os anjos subiam e desciam (Gn 28.12-13),
seria eu e você sermos assim apresenta- mas aponta também para a obra expia-
dos por Jesus! Esta declaração intrigou tória de Cristo e para o seu retorno a este
Natanael, que perguntou a Jesus de onde mundo em glória (Jo 14.6; Mt 25.31). Mais
ele o conhecia (Jo 1.48). Jesus novamen- tarde, Jesus assegurou que seus discípu-
te o surpreende ao dizer que o conhecia los fariam obras grandiosas (Jo 14.12).
antes que Filipe o chamasse, quando ele Paulo diz que o que Deus reserva aos que
estava debaixo da figueira. A reação se- o amam está acima da capacidade do
guinte de Natanael comprova seu grau
conhecimento humano (1 Co 2.9). Deus
de discernimento espiritual (Jo 1.49),
pois, de pronto, ele confessa que Jesus quer dar uma visão especial a cada um de
é “o Filho de Deus, o rei de Israel”. Deus nós, não no sentido de uma nova revela-
procura homens e mulheres verdadeiros, ção, mas nos levar a conhecer e desfrutar
sinceros e honestos para fazerem parte bênçãos, realizar obras que estão acima
do seu grupo de discipulado. do que pedimos ou pensamos (Ef 3.20).
Há muita coisa revelada que não enten-
demos agora, mas o Espírito Santo nos
Aplicação a sua vida: Acrescentamos ain- conduzirá a toda verdade e nos ajudará a
da que esse encontro de Natanael com compreendê-las depois (Jo 13.7).
Jesus, em primeiro lugar, demonstra o po-
der de Jesus em conhecer os nossos senti-
mentos e atitudes. Possivelmente, Natanael Conclusão
estava meditando, quando Jesus diz tê-lo
visto debaixo da figueira. O elogio de Jesus, O modo como João Batista falou de
de que Natanael era um verdadeiro israe- Jesus para os seus discípulos, mostra o
lita, em quem não havia dolo, constitui-se quanto ele era despretensioso e humil-
num desafio para cada um de nós. Valeu de. Os discípulos de João, ouvindo o seu
a pena Natanael ser um homem honesto. testemunho a respeito de Jesus, resol-
Todas as nossas atitudes de fidelidade, vem segui-lo e passam um fim de tarde
honestidade etc., são consideradas pelo com Ele. O texto diz que André levou o
Senhor. seu irmão a Jesus, Filipe testemunhou
O que Jesus diria a nosso respeito se tivesse para Natanael e o convidou a vir e ver o
que falar sobre nossa honestidade? Senhor. Foi uma sucessão de atos em que
um discípulo falava de Jesus para o ou-
tro, experiência essa que bem caracteriza
TEM UMA VISÃO ESPECIAL (Jo 1.50) o processo de discipulado. Que este estu-
Natanael creu que Jesus era “o Filho do tenha levado você a se empenhar em
de Deus, o rei de Israel”. Surpreende-nos levar outros a Jesus!
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 165
ESTUDO 48

Leituras Diárias
Segunda Jo 4:3-4.
Terça Jo 4.6.
A PRIMEIRA DISCÍPULA Quarta Jo 4.7
Jo 4.11-14 e 7.37-38.
Quinta
MISSIONÁRIA Sexta
Sábado
Jo 4.15-18.
Jo 4.19-24
João 4.1-30 e 7.37-39 Domingo Jo 4.25-26 - Jo 4.28-29.

políticas e religiosas. É que Samaria foi


INTRODUÇÃO a capital do Reino do Norte, enquanto
Este estudo está baseado no encontro que Jerusalém foi a capital do Reino do
de Jesus com a “mulher samaritana”. Ele Sul. Essa divisão aconteceu a partir do
se reveste de especialidade incomum por reinado de Roboão, filho de Salomão,
causa do modo da abordagem e o tempo que se negou a ouvir o pedido de alívio
que lhe foi dedicado pelo Senhor, bem dos impostos feito pelo povo. Jeroboão,
como pela revelação que Jesus lhe fez de filho de Nebate, foi eleito rei das dez tri-
sua pessoa como o Messias prometido e, bos dissidentes e elegeu Samaria como a
ainda, pelo resultado produzido na vida capital do “novo reino”; fez bezerros para
daquela mulher, indo anunciar aos sama- o povo adorar, receoso de que o mesmo
ritanos que o homem que ela havia en- o abandonasse, para vir adorar a Deus
contrado podia ser o Cristo. Ela se tornou no templo em Jerusalém (1 Rs 12.1-33).
a primeira discípula do Novo Testamento. Jesus estava acima dessa “pendenga”
político-religiosa; Ele veio para todas as
ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt
O VALOR DE UMA VIDA PARA JESUS (Jo
15.24). Ali havia uma vida que tivera cin-
4:3-4)
co casamentos desfeitos, porém poderia
No verso quatro João diz que “era se tornar um instrumento d’Ele para levar
necessário” Jesus passar por Samaria. O sua mensagem de amor aos demais sa-
significado é que lhe era moralmente ne- maritanos. Era-lhe necessário passar por
cessário. Os judeus não se comunicavam Samaria e revelar-se como o Messias pro-
com os samaritanos (v. 9) por questões metido, conforme veremos mais adiante.

166
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XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II
A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA |

APROVEITANDO BEM CADA OPORTU- Ele falou de uma comida que eles não
NIDADE (Jo 4.6) conheciam. Ante a dúvida dos discípu-
los, Ele disse que sua comida era fazer a
Jesus se utiliza do momento e das
vontade do Pai (Jo 4.8 e 31-34). A maior
circunstâncias para revelar à samaritana
sede de Jesus naquele momento, assim
que Ele é a água viva que dessedenta a
como na cruz, não era pelo líquido físico,
cada pessoa. Ali havia um poço “dado”
mas por alcançar e salvar vidas sedentas
por Jacó (v. 12), do qual, segundo a sama-
da água da vida. Como você percebe, o
ritana, ele mesmo bebera e dera de beber
método de evangelização de Jesus é ilus-
ao seu rebanho. Jesus se vale da oportu-
trativo: o poço, as montanhas, a diferen-
nidade para ensinar que só Ele pode dar
ça política e religiosa entre samaritanos
a verdadeira água ao seu rebanho. Outro
e judeus, a situação conjugal da mulher
detalhe do v. 6 é que Jesus estava cansa-
etc. De cada situação, Jesus fazia um mo-
do e sentou-se. Isso mostra a humanida-
tivo para usar de sua pedagogia, sempre
de de Jesus e o exemplo de que também
apontando para realidades espirituais.
devemos separar tempo para o descanso
do corpo. Jesus sabia o que era ter fome
e cansaço; Ele podia experimentar todos
os sentimentos do ser humano, a fim de Aplicação a sua vida: o mundo tem sede
e fome. Esse é um fato que acompanha a
poder ajudá-lo (Hb 4.15-16). humanidade. Temos experimentado na
atualidade a baixa em nossas reservas de
água. Como você tem usado os recursos da
Aplicação a sua vida: podemos observar natureza e aproveitado para anunciar a Je-
que toda oportunidade é válida para ser- sus como manancial inesgotável?
mos discípulos de Jesus e levarmos a men-
sagem salvadora a todos. Como você tem
se apropriado desse privilégio e falado do
nosso Deus, que é água viva? CANAIS DA FONTE ETERNA (Jo 4.11-14
e 7.37-38)
Jesus é a fonte da água da vida, mas
A SEDE E A FOME DE JESUS (Jo 4.7)
espera que sejamos os canais através
Jesus pediu de beber à samaritana. de quem essa água jorre. Para que isto
Com qual propósito você pensa que Je- aconteça é necessário crer em Jesus (Jo
sus lhe pediu de beber? Comparar com o 7.37-38). O verso seguinte (39) explica
v. 10. O desdobramento do relato bíblico que Jesus estava se referindo àqueles
mostra que foi para que a mulher sou- que haviam de crer n’Ele e, portanto, re-
besse quem era que lhe fazia aquele pe- ceberiam o Espírito Santo. Jesus, além
dido e lhe pedisse da água viva. Quando de salvar-nos da condenação eterna, dá-
o Senhor foi crucificado, também disse nos vida abundante (Jo 10.10) e faz de
que tinha sede (Jo 19.28). Cada palavra nossas vidas verdadeiros canais de água
ou ação de Jesus tinha uma aplicação cir- viva. Aquele que é salvo por Jesus se tor-
cunstancial, mas apontava também para na uma referência da fonte eterna, que é
realidades espirituais e eternas. Isto fica o próprio Jesus. Neste caso, esses canais,
claro quando os discípulos tendo volta- conectados a Jesus, devem chegar a ou-
do da cidade, onde foram comprar pão, tros que tem sede. Daí a importância de
insistiram para que Jesus comesse, mas transmitirmos aos outros aquilo que te-

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 167


| A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA

mos recebido, isto é, praticar o discipu- O VERDADEIRO ADORADOR (Jo 4.19-


lado. 24)
Jesus afirma que Deus procura adora-
COMPROMISSO COM A VERDADE (Jo dores verdadeiros. Ele não se impressio-
4.15-18) na com a formalidade, com a liturgia ou
com a aparência. Ele olha para o coração.
Assim que a samaritana demonstrou
Nossa motivação para adorar é o que fala
interesse pela água viva, Jesus a confron-
mais alto para Deus. Encontramos na Bí-
tou com a verdade: “Vai, chama o teu
blia, diversos exemplos de como adorar a
marido e vem cá”. A samaritana abriu o
Deus em espírito e em verdade (Sl 51.17;
coração, revelando não ter marido e Je-
Lc 18.10-14). Deus quer humildade e que-
sus disse que ela falou a verdade. A Bíblia
brantamento daqueles que se propõem
diz que Deus ama a verdade no íntimo (Sl
a adorá-lo. Ele procura aqueles que assim
51.6). Aquela mulher viu que não podia
estão adorando-O. Isso era diferente, tan-
esconder a verdade de Jesus. Ela havia
to para os samaritanos quanto para os
alimentado a esperança de um lar, de
judeus, que estavam afeitos a questões
uma família, de um marido. Cinco vezes
da forma e não da essência da adoração.
se casara e cinco vezes tivera que enfren-
O que mais os impressionava é que Jesus
tar a realidade de uma separação. Não
fez esta revelação particularmente a uma
sabemos quem fora o culpado, mas com
mulher, e esta era uma samaritana. Não
toda certeza, ela era uma pessoa muitas
foi para uma multidão, nem mesmo para
vezes ferida. Possivelmente, tenha ferido
os apóstolos. O assunto se tornou cada
outros também. A pessoa com quem vi- vez mais interessante e a samaritana fa-
via agora não era o seu marido. Era um lou de algo que era comum a samarita-
relacionamento ilegal. Ao falar a verda- nos e judeus: a esperança do Messias.
de, viu que Jesus já sabia como era a sua
vida. Deus nos conhece, mas espera que
confessemos os nossos pecados, as nos-
Aplicação a sua vida: ser adorador é estilo
sas fraquezas. A samaritana reconheceu de vida. Deus tem buscado adoradores que
que Jesus era profeta e tratou logo de O adorem em espírito e em verdade. Como
desviar o foco da conversa para a polêmi- tem sido sua adoração?
ca sobre o verdadeiro lugar de adoração.
Foi neste ponto que Jesus lhe fez uma ex-
traordinária revelação. DIANTE DO MESSIAS (Jo 4.25-26)
Neste ponto, novamente Jesus nos
surpreende. Ele diz para a samaritana
Aplicação a sua vida: podemos observar que ela está diante do Messias: “Sou eu
que a mulher samaritana abriu o coração que falo contigo”. Aquela mulher era uma
para Jesus e foi verdadeira em suas afirma-
ções. Quantas são as vezes que, por medo fracassada em cinco casamentos e vivia
das consequências ou perda de privilégios, com um homem que não era seu mari-
tentamos mudar a verdade ou mentimos do. Como dissemos no ponto anterior,
deliberadamente? Reflita neste momento e esta revelação tão sublime não foi assis-
peça perdão a Deus, assumindo novo com- tida por seus discípulos, nem por mais
promisso com a verdade. ninguém. As palavras de Jesus se asse-

168 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA |

melham às que Deus disse a Moisés no uma revelação particular de Jesus, quan-
Monte Sinai: “EU SOU” (Ex 3.14). Elas caí- do este lhe afirmou que Ele era o Messias
ram no coração da samaritana de modo prometido a Israel. Isso se reveste de uma
transformador. Visto ser conhecedora de importância toda especial. É singular
tão especial revelação, ela agora tinha também que uma mulher tenha saído a
uma missão. pregar que teria encontrado o Messias, e
isso para samaritanos. Nesse sentido, ve-
mos esta mulher como a primeira missio-
MISSÃO INADIÁVEL (Jo 4.28-29) nária a ter uma revelação direta de que
O impacto de Jesus na vida da sama- Jesus era o Messias, e voltar para anun-
ritana foi tão grande que ela deixou de ciar essa grande descoberta.
lado o seu objetivo de buscar água, e ain-
da abandonou o cântaro. Seu testemu-
nho na cidade foi tão convincente que Aplicação a sua vida: ser adorador é estilo
uma grande multidão a acompanhou de vida. Deus tem buscado adoradores que
para vir a Jesus. Dessa maneira, ela se O adorem em espírito e em verdade. Como
tornava a primeira missionária do Novo tem sido sua adoração?
Testamento. Jesus investiu nela, revelou-
se como o Messias prometido a Israel, e
possibilitou à samaritana ser a primeira Conclusão
mulher a levar a uma cidade o anúncio
Cada pessoa que tem um encontro
de ter encontrado o Cristo.
pessoal com Jesus deve ser portadora
Jesus quebra preconceitos e paradig- dessas boas novas, inclusive com a plena
mas. De fato, Deus não faz acepção de convicção de que Jesus é o Filho de Deus,
ninguém e pode usar qualquer pessoa o Senhor e Salvador do Mundo, o Messias
para se tornar um canal por onde jorre prometido. Seja você também um discí-
a água da vida eterna. A samaritana teve pulo missionário!

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 169


ESTUDO 49

Leituras Diárias
Segunda Lc 12.13-21

O DISCÍPULO RICO PARA Terça


Quarta
Tg 4.14
1 Tm 6.17-19

COM DEUS Quinta Sl 128.1-2


Sexta Mt 7.24-27
Sábado Ap 3.18
Lucas 12.13-21 Domingo At 17.30

INTRODUÇÃO insensato”. Vejamos os ensinos que pode-


mos aprender sobre o que seria um discí-
Humanamente falando, o conceito
pulo rico para com Deus.
de riqueza ou de pobreza é avaliado pela
renda pessoal ou per capta de uma famí-
lia. Dessa forma, temos as classes A B, C,
NÃO TEM O FOCO NA HERANÇA
D ou E. Não importa como você é classi-
TERRENA (Lc 12.13-14): “E disse-lhe um
ficado socialmente, mas como Deus o vê.
da multidão: Mestre, dize a meu irmão
A conceituação divina difere da humana.
que reparta comigo a herança. Mas ele
Pensando nisto, considere o seguinte:
lhe disse: Homem, quem me pôs a mim
qual é sua maior riqueza? Sinceramente,
por juiz ou repartidor entre vós?”
o que tem tido maior valor na sua vida?
E mais: qual é a maior preocupação dos Observe que Jesus estava instruindo
pais em relação aos seus filhos hoje? Em seus discípulos sobre a missão deles
que as pessoas hoje investem mais tem- neste mundo (Lc 12.11-12). O homem
po? Porém, a pergunta mais contunden- ouvia Jesus, mas seus pensamentos es-
te é: como vai sua alma? Este texto nos tavam na herança terrena. O objetivo
convida a reavaliarmos nossos valores. dele em seguir a Cristo era totalmente
Ele inicia-se com um pedido equivocado equivocado. Deus é justo nas questões
de alguém dentre os ouvintes de Jesus, do direito, mas seu foco é o reino em
querendo que o Senhor ordenasse que o primeiro lugar (Mt 6.33). Quando o nosso
irmão dele repartisse a herança com ele. foco está nas “heranças” desta vida, per-
Após questionar aquele homem sobre demos a visão de Deus, como a pessoa
quem o teria colocado como juiz entre em questão que pediu para Jesus intervir
o povo, Jesus conta “a parábola do rico na divisão de herança familiar. Jesus disse

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O D I S C Í P U LO R I C O PA R A C O M D E U S |

que onde estiver o nosso tesouro (isto é, A verdadeira riqueza é ser rico para
nossa herança) aí estará o nosso coração com Deus. A verdadeira riqueza é a que
(Lc 12.34). Jesus nos dá (2Co 8.9). A verdadeira rique-
za é a acumulada no céu (Mt 6.19-20). A
verdadeira riqueza é ser herdeiro de Deus
Aplicação a sua vida: nossas necessidades e co-herdeiro de Cristo (Rm 8.17). A ver-
pessoais são tantas que envolvem todo o dadeira riqueza é a da fé (1 Tm 6.17-19).
tempo que temos. O mundo está cada dia Não importa como você é classificado
mais informatizado e confortável, assim, socialmente, mas como é classificado por
estamos precisando trabalhar mais para ter Deus. Disto independe sua posição social
mais. Perdemos a vontade de ser alguém neste mundo. O fato de ser rico material-
significativo para ter algo significativo.
mente não significa que seja pobre espi-
Nesse momento de sua vida, onde estão
concentrados os desejos de seu coração? ritualmente e vice-versa. A questão está
no que ou em quem você põe sua con-
fiança. E os discípulos se admiraram des-
TEM SUA ESPERANÇA EM DEUS (Lc tas palavras de Jesus; mas Ele, “tornando
12.15): “E disse-lhes: Acautelai-vos e a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é,
guardai-vos da avareza; porque a vida de para os que confiam nas riquezas, entrar
qualquer não consiste na abundância do no reino de Deus!” (Mc 10.24).
que possui.” E você, é rico ou pobre?
A Bíblia nos faz uma pergunta exis-
tencial: “O que é a vida?” (Tg 4.14). Paulo EVITA AS RIQUEZAS ILUSÓRIAS (Lc
diz que, se esperamos em Cristo só nesta 12.19): “E direi a minha alma: Alma, tens
vida, somos as mais miseráveis de todas em depósito muitos bens para muitos
as pessoas (1 Co 15.19). A consistência da anos; descansa, come, bebe e folga.”
vida está na esperança em Deus (Sl 42.5;
O que seria uma riqueza ilusória?
Hb 10.23). A resposta à pergunta existen-
cial é: a vida consite em estar em Cristo e a) Riqueza fácil: Ela é contrária à or-
viver n’Ele (Gl 2.20). Caso contrário, é ser dem Divina (Sl 128.1-2; Gn 3.19). O traba-
mais que pobre, é ser miserável! lho honesto foi o meio estabelecido por
Deus para o ser humano viver bem e ser
feliz.
Aplicação a sua vida: aqui vale a pergunta:
b) Expedientes humanos escusos
onde está a sua esperança? Qual seu rela-
cionamento com Deus? Em que consistem aos olhos de Deus: O discípulo de Cris-
seus pedidos? to deve ter pesos justos e balanças jus-
tas, porque o nosso Deus é justo e ama
a justiça (Lv 19.36; Pv 11.1; 20.23; Sl 11.7).
EXPERIMENTA A VERDADEIRA RIQUE- Precisamos ter cuidado também com os
ZA (Lc 12.19-21): “E direi a minha alma: subterfúgios e as desculpas esfarrapadas,
para justificar palavras e ações dolosas.
Alma, tens em depósito muitos bens para
muitos anos; descansa, come, bebe e fol- c) Amor ao dinheiro (1Tm 6.10): O
ga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite nosso amor deve ser a Deus e ao próxi-
te pedirão a tua alma; e o que tens pre- mo. O amor ao dinheiro contribui para
parado, para quem será? Assim é aquele pensamentos e atitudes que resultam
que para si ajunta tesouros, e não é rico em males para a própria pessoa, para a
para com Deus.” família e para a sociedade. O dinheiro é

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 171


| O D I S C Í P U LO R I C O PA R A C O M D E U S

necessário, mas não deve ser o principal mens, mas não é rico para com Deus. A
foco de qualquer pessoa. Igreja de Laodiceia era assim (Ap 3.17).
Aqueles cristãos se consideravam ricos,
Riquezas ilusórias não estão apenas
mas Jesus os considerava desgraçados, e
na esfera material. Estão também no sen-
miseráveis, e pobres, e cegos, e nus. Cer-
tido moral, educacional, familiar, profis-
tamente, nenhum de nós gostaria de ter
sional etc. Cabe a cada um de nós avaliar
uma avaliação divina assim. Todos quere-
as motivações da vida e detectar se elas
são verdadeiras ou ilusórias. mos ser ricos para com Deus. Então, pre-
cisamos ouvir os conselhos de Jesus (Ap
3.18): “Aconselho-te que de mim com-
Aplicação a sua vida: em um país com tan- pres ouro provado no fogo, para que te
tas injustiças e impunidades, muitas vezes enriqueças; e roupas brancas, para que te
somos levados a buscar caminhos mais vistas, e não apareça a vergonha da tua
curtos e fáceis para conquistar nossos so- nudez; e que unjas os teus olhos com co-
nhos. Como temos trabalhado com essas lírio, para que vejas”. Isto demanda uma
riquezas ilusórias que se apresentam a nós profunda avaliação de como estamos
todos os dias? diante de Deus e sincero arrependimen-
to (At 17.30). É preciso pôr o foco ou os
É O SÁBIO (Lc 12.20): “Mas Deus lhe disse: olhos em Jesus, conforme vimos em es-
Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e tudo anterior.
o que tens preparado, para quem será?”
Para Deus, viver somente para esta Aplicação a sua vida: uma pergunta mui-
vida é loucura. Isto nos faz lembrar de to oportuna neste momento é a seguinte:
outra parábola contada por Jesus so- Que bem eterno você está propiciando à
sua alma com o estilo de vida que tem leva-
bre a pessoa sábia e a pessoa louca (Mt
do? Deus lhe pergunta: “Se hoje” sua alma
7.24-27). O louco é quem ouve a pala- for pedida, para quem será o que você tem
vra de Deus e não a cumpre. Ele é com- preparado? Qual é sua resposta?
parado a quem constrói a casa sobre a
areia, a qual não suporta as intempéries
da vida. O sábio é quem ouve a palavra
Conclusão
de Deus e a cumpre. Ele é semelhante a
quem constrói a casa sobre fundamento Nossa busca a Jesus não deve ser
sólido, a qual não é sequer abalada pelas por motivos interesseiros. A prudência
tempestades deste mundo. Ouvir e pra- da vida precisa conduzir-nos a priorizar
ticar a palavra de Deus é construir a casa os valores eternos, uma vez que a vida
para a eternidade. Já vimos anteriormen- é passageira e não podemos levar nada
te que, quem espera em Cristo somente deste mundo. A ambição pela riqueza
nesta vida, é a mais miserável de todas pode levar-nos ao afastamento de Deus
as criaturas (1 Co 15.19). Precisamos nos e à supervalorização dos bens materiais,
lembrar de que nossa vida está nas mãos em detrimento dos valores morais.
de Deus e vivemos na dependência d’Ele. Está na hora de você adquirir real-
Lc 12.21 diz: “Assim é aquele que para si mente uma grande riqueza. A recomen-
ajunta tesouros, e não é rico para com dação do Senhor é o arrependimento e o
Deus.” redirecionamento dos olhos unicamente
Por estas palavras de Jesus, vemos para o Reino de Deus e sua justiça (Mt
que há quem seja rico para com os ho- 6.33).
172 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 50

Leituras Diárias
Segunda Lc 19.11-27
Terça Mt 13.31-33
Quarta Mt 14.13-21
O DISCÍPULO E SUA Quinta
Sexta
1 Co 15.57-58
Lc 19.20-21
FIDELIDADE Sábado
Domingo
Mt 15.7-9
Ec 9.10
Lucas 19.11-27

Introdução Muitas pessoas esperavam que Jesus


estabelecesse um reino político e terreno.
Neste texto Jesus demonstra que, ape-
Porém, Jesus contou esta parábola apon-
sar do seu “reino” não ser “deste mundo”
tando para as dimensões espirituais do
(Jo 18.36), contudo foram dados “dons aos
Reino de Deus, bem como para a respon-
homens” (Ef 4.8), e eles darão conta desses
sabilidade pessoal de todo aquele que tem
dons quando da segunda vinda do Senhor
recebido “minas” ou “talentos” de Deus.
a este mundo. O Senhor ilustra estas ver-
É verdade que o Reino de Deus já havia
dades através da “parábola das dez minas”.
chegado, mas sua consumação ainda se
Em Mt 25.14-30 temos uma parábola simi-
daria na segunda vinda de Cristo (Lc 10.9,
lar, sendo que ali são mencionados “talen-
11; 13.29). Todos devemos buscar o Reino
tos”. É possível que as duas parábolas te-
de Deus, isto é, o domínio divino sobre
nham sido contadas mesmo em diferentes
nossas vidas. Porém, haverá um dia em
ocasiões e com detalhes diferentes, mas os
que todos os reinos do mundo virão a ser
“evangelistas” Lucas e Mateus as adapta-
de Cristo, quando todo o império do mal
ram em seus livros.
e da morte for aniquilado (Ap 11.15; 1Co
15.26). Jesus nos advertiu sobre os sinais
DIANTE DA PROXIMADE DO REINO DE que apontariam para a proximidade desse
DEUS (Lc 19.11): “E, ouvindo eles estas reino (Lc 21.31). A incidência crescente de
coisas, Ele prosseguiu, e contou uma pa- terremotos, tsunamis, epidemias e guer-
rábola; porquanto estava perto de Jeru- ras confirma o cumprimento dos sinais da
salém, e cuidavam que logo se havia de volta de Cristo. Realmente o Rei Eterno se
manifestar o reino de Deus.” aproxima. Preparemo-nos!
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 173
| O D I S C Í P U LO E S U A F I D E L I D A D E

Aplicação a sua vida: diante da afirmativa a) Investimento dos bens recebidos


de que fazemos parte do reino de Deus es- (Lc 19.13): “E, chamando dez servos seus,
tabelecido por Cristo, como você está atu- deu-lhes dez minas, e disse-lhes: Nego-
ando diante da proximidade da Sua volta ciai até que eu venha”. O discípulo de Cris-
para nos buscar? to deve “negociar” o que recebeu até que
Ele volte. A palavra grega para “negociai”
é “pragmateuomai”, e tem a ver com “es-
DIANTE DAS IMPLICAÇÕES DA VOLTA tar ocupado com algo; exercer um negó-
DE JESUS (Lc 19.12): “Disse pois: Certo cio de banqueiro ou comerciante”. A ideia
homem nobre partiu para uma terra re- é que dádivas divinas não são para o nos-
mota, a fim de tomar para si um reino e so benefício exclusivo, nem mesmo para
voltar depois”. Comparar com At 1.11. devolvermos apenas o que tivermos re-
É maravilhoso saber que Jesus veio cebido. “Minas” (certa quantia em dinheiro
libertar-nos do reino das trevas para a sua (v. 15); um valor não muito alto), contras-
maravilhosa luz, e do poder de Satanás tando com “talentos” (cada talento pesava
para o poder de Deus (At 26.18). Agora per- 30 kg de prata). A proposta de Jesus para
tencemos a Jesus e ao seu Reino. Entretan- o Reino de Deus é de algo que começa
to, Pedro diz que essa libertação tem uma pequeno e se expande. Foi assim na com-
implicação: “Anunciar as virtudes daque- paração com o grão de mostarda e com o
le que nos chamou das trevas para a sua fermento (Mt 13.31-33). O próprio Jesus
maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). Desse modo, “o tomou cinco pães e dois peixes, e alimen-
reino” agora é tomado através de nós, os tou cinco mil homens além das mulheres e
discípulos de Cristo. Sendo assim, daremos crianças (Mt 14.13-21). Também, ao iniciar
contas da missão e dos benefícios recebi- o seu ministério terreno, convocou apenas
dos: “E muito tempo depois veio o senhor doze discípulos que deveriam ser testemu-
daqueles servos, e fez contas com eles” nhas por todo o mundo. A questão não é o
(Mt 25.19). Por este texto, fica evidente que ou quanto temos recebido, mas nossa
que a volta de Jesus será também para o fidelidade para com o que nos foi confiado.
“acerto de contas”. Entendemos que, em
relação aos salvos, o acerto é para con- b) A multiplicação esperada (Lc
ceder galardão (Ap 22.12) porém, quan- 19.16, 18): “E veio o primeiro, dizendo:
to aos perdidos, o acerto é para o julga- Senhor, a tua mina rendeu dez minas.
mento final. Cada pessoa neste mundo (...) E veio o segundo, dizendo: Senhor, a
recebe bênçãos divinas, mas cada uma é tua mina rendeu cinco minas”. O primeiro
responsável e haverá de prestar contas. teve resultado decuplicado; o segundo
Mais adiante, veremos que Jesus elogiou quintuplicado. Tanto na “parábola dos ta-
aqueles que foram fiéis no sentido de lentos” quando na “parábola das minas¨, o
bem administrar o que receberam. resultado foi a multiplicação dos recursos
recebidos. Não podemos devolver apenas
o que nos foi confiado (muito menos não
DIANTE DA RECOMPENSA devolver nada). Aqui, uma mina rendeu
Os textos bíblicos a seguir apontam dez minas, e a outra rendeu cinco. Jesus
para a recompensa à fidelidade de cada disse que “nisto é glorificado o meu Pai,
discípulo de Cristo ao que tiver recebido que deis muito fruto; e assim sereis meus
d’Ele: discípulos” (Jo 15.8). Isaías previu que o

174 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
O D I S C Í P U LO E S U A F I D E L I D A D E |

menor viria a ser mil (Is 60.22). E, na pará- compareceremos ao “tribunal de Cristo,
bola do semeador, o que produziu menos, para cada um receber o que fez por meio
produziu trinta. A fidelidade não consiste do corpo, segundo o que praticou, o bem
em devolver qualquer coisa, mas de modo ou o mal” (2 Co 5.10).
multiplicado.
c) Aplicação dos bens recebidos (Lc
19.23): “Por que não puseste, pois, o meu Aplicação a sua vida: conscientes somos
dinheiro no banco, para que eu, vindo, o que recebemos alguns talentos, os quais
exigisse com os juros?”. Aqui temos a re- devem ser multiplicados para entregarmos
velação de que, naquele tempo, havia ban- ao nosso rei Jesus na prestação de contas.
Como você está se preparando para esse
cos, aplicações, juros etc. Jesus pergunta
momento?
ao servo infiel: “por que não puseste, pois
o meu dinheiro no banco para que o rece-
besse com juros quando voltasse? ” Exce-
lente lição de aplicação dos recursos rece- DIANTE DA PROVA DE AMOR (Lc 19.14
bidos onde dá resultado. Isto significa que e 27): “Mas os seus concidadãos odiavam-
tudo o que Deus nos dá deve ser ampliado no, e mandaram após ele embaixadores,
e produzir resultados; e daquilo que temos dizendo: Não queremos que este reine
recebido, multiplicar e expandir. Vale sa- sobre nós. (...) E quanto àqueles meus
lientar que aquele senhor não recriminou inimigos que não quiseram que eu rein-
o servo que só trouxe cinco minas (a meta- asse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os
de do primeiro). A ambos recompensou na diante de mim.”
proporção que produziu.
O texto de Lc 19.14 é colocado logo
A cada um dos dois primeiros servos após o registro da distribuição das minas
aquele senhor tratou de “servo bom e fiel” pelos servos. Ele diz que os seus concida-
que, pelo fato de ter sido fiel no pouco, dãos odiavam aquele homem e manda-
receberia a recompensa maior. O texto de ram embaixadores informando que não
Mateus diz: “Entra no gozo do teu Senhor! queriam que o mesmo reinasse sobre
” (Mt 25.21 e 23). Deus nos testa nas pe- eles. Em Lc 19.27, vemos a sentença do rei
quenas coisas para nos recompensar com
sobre os súditos rebeldes: foram trazidos
maiores. Se formos fiéis nas mínimas e pas-
à presença do rei e sentenciados à mor-
sageiras coisas, Ele nos confiará a maior e
te. A “parábola das minas” retrata qual é
verdadeira herança (Lc 16.10-11). A Bíblia
nosso sentimento para com o nosso Se-
diz que até “um copo de água fresca” dado
nhor: se O amamos ou O odiamos. É raro
a um servo de Deus será recompensado
na eternidade (Mt 10.42). Deus não pede alguém dizer que odeia a Jesus. Entre-
aquilo que não nos tenha dado, contu- tanto, a infidelidade demonstra desprezo
do, daquilo que Ele nos der, certamente para com Ele e seu reino. Odiar a Jesus é
quererá resultados. Tudo será conforme a rejeitar o seu reino. Cada pessoa precisa
capacidade de cada um (Mt 25.15). Fazer decidir se ama ou odeia a Cristo, se acei-
parte do Reino de Deus é ter certeza da ta ou rejeita o seu reino. Amar a Cristo é
vitória final de Cristo sobre todas as coi- fazer a sua vontade, guardar as suas pa-
sas; de que, através d’Ele, somos vitorio- lavras e segui-lo (Jo 14.15; 15.14 e 10.27).
sos (1 Co 15.57-58), mas também que Não basta dizer que ama a Deus, se a vida

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 175


| O D I S C Í P U LO E S U A F I D E L I D A D E

o contradisser (Mt 15.7-9). Quando não CONCLUSÃO


investimos os bens e talentos recebidos Deus espera que sejamos fiéis tanto
no Reino de Deus, isto pode significar no muito quanto no pouco. O fiel não olha
contradição entre o que dizemos e pra- para quanto tem, mas para o que deve fa-
ticamos (Lc 19.20-21). Deus não se ilude zer com o que tem. Deus há de recompen-
com palavras ou justificativas fraudulentas. sar a cada um de acordo com sua fidelida-
Ele espera ação, resultados: tudo quan- de. A fidelidade é uma questão de amor a
to vier às nossas mãos para fazer, deve- Jesus. Não há desculpa para sermos infiéis.
mos fazê-lo conforme as nossas forças Não podemos negar que temos talento ou
(Ec 9.10). que o nosso dom é muito pequeno. O im-
portante é multiplicar o que foi concedido
por Deus; e isto é feito quando colocamos
o que temos à disposição de Jesus. Assim
como o discípulo fiel será recompensado,
Aplicação a sua vida: muitas são as vezes o discípulo infiel será condenado. É até
em que os lábios falam o que não vai ao
uma contradição dizer que alguém infiel
coração. Outras tantas são palavras diferen-
ciadas das ações. Quando afirmamos amar seja discípulo de Jesus, mas aqui suben-
a Deus, temos que estar coerentes com o tende-se que são discípulos nominais, e
estilo de vida por Ele determinado. Você é não verdadeiros. Seja, então, um discípulo
um discípulo fiel no sentir, falar e viver? fiel e entre no “gozo do seu Senhor”.

176 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 51

Leituras Diárias
DISCIPULADO - Segunda
Terça
Mc 4.1-20
1 Co 2.14-15

QUE TERRENO SOU EU? Quarta


Quinta
At 16.14-15
Mc 4.16-17
Sexta Jr 17.9
Marcos 4.1-20 Sábado 1 Pe 4.12
Domingo 1 Co 15.58

INTRODUÇÃO
À BEIRA DO CAMINHO (Mt 13.19): “Ou-
No exercício do discipulado, levamos vindo alguém a palavra do reino, e não a
em conta o terreno ou solo onde seme- entendendo, vem o maligno, e arrebata o
amos a palavra, porém, ao mesmo tem- que foi semeado no seu coração; este é o
po, fazemos um exame introspectivo, na que foi semeado ao pé do caminho”.
tentativa de responder: qual terreno sou
eu? Jesus fala sobre quatro tipos de solos A explicação de Jesus para este tipo
onde se faz a semeadura, e os respecti- de solo é grave em virtude do resultado.
vos resultados: À beira do caminho vêm Ele representa as pessoas que ouvem a
as aves do céu e comem a semente. Entre palavra do reino e não a entendem, vem
pedregais, a semente nasce viçosa, mas o maligno e lhes arrebata o que foi se-
não tem profundidade e o sol mata. Entre meado no coração. Em 2 Co 4.3-4, Paulo
espinhos, a planta até nasce, mas é su- diz que as pessoas que não entendem
focada por espinhos e não produz fruto. o evangelho são as que se perdem, vis-
A semente na boa terra produz a trinta, to ser o “deus deste século” quem cega
a sessenta e a cem por um. Os discípulos o entendimento delas para que não lhes
pedem a explicação da “parábola do se- resplandeça o evangelho “da glória de
meador” e Jesus passa a explicá-la con- Cristo”. Isto tem a ver também com 1 Co
forme vemos a seguir. 2.14-15, onde afirma que “o homem natu-
ral não compreende as coisas do Espírito
de Deus, porque lhe parecem loucura; e
Aplicação a sua vida: Lembre-se que você não pode entendê-las, porque elas se dis-
deve comparar sua vida a um desses solos cernem espiritualmente”. Somente quan-
no que diz respeito à produção de frutos do o coração está aberto para ouvir a pa-
para o Reino de Deus. lavra do reino é que o Espírito Santo tem
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 177
| DISCIPULADO – QUE TERRENO SOU EU?

livre acesso. Isto foi o que aconteceu com tribulação ou perseguição e, quando esta
Lídia, em Filipos, ao ouvir Paulo: O Senhor vem, logo “se escandaliza”. Jesus foi cla-
lhe abriu o coração, e ela entendeu e re- ro com os seus discípulos a respeito das
cebeu a palavra de Deus, sendo salva jun- aflições na vida cristã: “No mundo tereis
tamente com sua casa (At 16.14-15). aflições, mas tende bom ânimo, eu venci
o mundo” (Jo 16.33). Pedro diz para não
estranharmos as provas de fogo que vêm
Aplicação a sua vida: Em nome de Jesus, para nos tentar, “como se coisa estranha
não deixe que o maligno arrebate a Palavra nos acontecesse” (1 Pe 4.12). Aqueles que
do seu coração. Peça agora mesmo para buscam somente emoções e um cristia-
que o Senhor lhe desvende as maravilhas nismo sem cruz, vivem correndo atrás de
da sua lei (Sl 119.18). “ventos de doutrinas”, por serem meni-
nos em Cristo (1 Co 3.1; 4.14).

SOLO PEDREGOSO (Mc 4.16-17): “Do


mesmo modo, aqueles que foram seme-
Aplicação a sua vida: Uma pergunta:
ados nos lugares pedregosos são os que, Por acaso, você reconhece que é esse ter-
ouvindo a palavra, imediatamente com reno superficial? Então, clame ao Senhor
alegria a recebem; mas não tem raiz em agora e peça-Lhe uma vida espiritual pro-
si mesmos, antes são de pouca duração; funda, comprometida com Cristo e com
depois, sobrevindo tribulação ou perse- Sua Palavra.
guição por causa da palavra, logo se es-
candalizam”.
SOLO ESPINHOSO (Mc 4.18-19): “Outros
O solo pedregoso não tem a ver com
ainda são aqueles que foram semeados
terra misturada com pedra, mas com
entre os espinhos; estes são os que ou-
aquele que tem uma camada de terra por
vem a palavra; mas os cuidados do mun-
cima e uma espécie de laje de pedra por
do, a sedução das riquezas e a cobiça
baixo. Inicialmente, a semeadura brota
doutras coisas, entrando, sufocam a pala-
viçosa, mas a pedra por baixo impede a
vra, e ela fica infrutífera”.
penetração da raiz da planta. Então, ela
fica sem nutrientes para o seu desenvol- Três motivos fazem com que a palavra
vimento. Deste modo, não suporta o ca- do reino seja sufocada no terreno “entre
lor solar e morre por inanição. A ausência espinhos”: “Os cuidados deste mundo, a
de profundidade espiritual nos leva à su- sedução das riquezas e a cobiça doutras
perficialidade na fé e no relacionamento coisas”. As pessoas que não tem tempo
com Deus. E, assim, confiamos no entu- para Deus, mesmo tendo ouvido a pala-
siasmo e na emoção, e deixamos de nos vra do reino e tendo assumido, “forma-
basear na Palavra. Passamos a confiar no lizado” um compromisso, são atraídas
coração e ficamos sem sustentação espi- pelas “ocupações” e “as riquezas”. Assim,
ritual. Jeremias diz que o nosso coração é ficam infrutíferas. São crentes nominais.
enganoso (Jr 17.9). O discípulo de Cristo Dizem que são cristãos, mas sua vida é
não deve confiar no coração, isto é, nos igual à vida das pessoas deste mundo.
sentimentos, porque a vida é cheia de Observe que esse tipo de solo fica “in-
variantes. Há momentos em que estamos frutífero” (Mc 4.19). Lucas diz que são
alegres e há outros em que estamos tris- produzidos frutos imperfeitos. Isto é
tes. Quem assim procede, não suporta preocupante por dois motivos: primeiro,

178 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
DISCIPULADO – QUE TERRENO SOU EU? |

quem não produz muito fruto é corta- contraditório à natureza do discipulado.


do da videira verdadeira, é lançado fora, Observe que a “quantidade” começa com
seca, é colhido, é lançado no fogo e quei- trinta, dobra para sessenta e é elevada
ma (Jo 15.2, 5-2). Observe que essa falta para cem. Esses números indicam dife-
de frutificação abundante acontece com rentes “quantidades” de frutos, apesar de
aquele que não está ligado à palavra, isto todos serem da “boa terra”. Deus conhece
é, ao próprio Jesus. Segundo, o fruto im- a realidade dos desafios de quem prati-
perfeito, não desfruta da comunhão com ca o discipulado. Ele sabe quem pode e
o Pai, porque o Pai é perfeito (Mt 5.48). deve produzir nessas proporções. Aliás,
Acreditamos que os dois textos bíblicos Ele diz que devemos fazer conforme nos-
mencionados anteriormente não têm a sas forças (Ec 9.10). Há quem diga: “não
ver com a perda de salvação, até mesmo estou preocupado com números, o que
porque ela não se perde. Pensamos estar importa é que se pregue a palavra”. Isto
em foco aqui a perda de comunhão, re- também é contraditório ao ensino da pa-
sultando no entristecimento do Espírito lavra, que assegura: “Aquele que leva a
Santo (Ef 4.30; 1 Ts 5.19). O fruto imperfei- preciosa semente, andando e chorando,
to corre o risco de produzir outros frutos voltará, sem dúvida, com alegria, trazen-
segundo sua espécie. Daí a necessidade do consigo os seus molhos” (Sl 126.6). Em
do discipulado para aprofundar raízes Jo 15.16, Jesus diz que nos escolheu para
doutrinárias e espirituais na palavra e irmos e darmos fruto, e fruto que per-
transformar cada discipulando numa maneça. Muitas pessoas não voltam com
“boa terra”. os seus “molhos” porque não praticam o
discipulado, não investem em vidas, se
limitam a espalhar semente, sem investir
Aplicação a sua vida: Se você reconhece no aproveitamento e na edificação dos
que tem sido esse tipo de terreno, renuncie resultados. Deve-se considerar também
agora àquilo que torna sua vida infrutífera que, na parábola do semeador, foram
no reino de Deus e a consagre ao Senhor. alcançados quatro tipos de solo, e só um
Decida, hoje mesmo, a dar frutos. foi qualificado como “boa terra”. De onde
se deduz que o semeador semeou muito,
ainda que o aproveitamento tenha sido
A BOA TERRA (Mc 4.20): “Aqueles outros de apenas um tipo de solo. Porém, este
que foram semeados em boa terra são produziu a trinta, a sessenta e a cem por
os que ouvem a palavra e a recebem, e um. Quem pratica o discipulado, deve ter
dão fruto, a trinta, a sessenta, e a cem, por consciência dessa realidade e não espe-
um”. rar que todos os solos sejam “boa terra”.
A “boa terra” é qualificada pela quan- Contudo, deve confiar que, se dispuser
tidade de fruto que produz. Há quem o coração, não somente encontrará, mas
pense que Deus quer qualidade e não ele mesmo será a “boa terra”. Se não fizer
quantidade. Na verdade, Deus deseja isto, ficará como um dos três primeiros
quantidade com qualidade. Já vimos em terrenos.
estudos anteriores que Jesus disse que O primeiro fruto que alguém deve
o Pai é glorificado por aquele que pro- produzir na vida é o fruto “digno de arre-
duz muito fruto, e é isto o que qualifica pendimento” (Mt 3.8). Em seguida, vem
um discípulo de Cristo (Jo 15.8). Seguir o fruto do Espírito, que revela a nova
a Cristo e não produzir muito fruto é natureza de uma pessoa cujo terreno se

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 179


| DISCIPULADO – QUE TERRENO SOU EU?

tornou “boa terra” (Gl 5.22-24). Ainda que entendimento, toda superficialidade e
esses tipos de fruto estejam implícitos todo comprometimento com o mun-
na parábola do semeador, em virtude do de sua vida. Peça para Deus fazer de
de Jesus especificar o resultado da “boa sua vida uma “boa terra”, uma terra pro-
terra” (“Produziu a trinta, a sessenta e a dutiva, uma terra que glorifique o nome
trinta por um”), estão explícitas as ques- do Pai (João 15.8). Se você entende que
tões qualitativa e quantitativa. Se a terra tem sido uma “boa terra”, pois, tem sido
é “boa”, isto é, tem qualidade, produz em instrumento de Deus para levar dezenas,
quantidade. centenas e milhares a Cristo, não se van-
glorie disto, porque é Deus quem opera
em nós tanto o querer quanto o efetuar
CONCLUSÃO (Fp 2.13). Isto deve ser natural ao discípu-
lo de Cristo, pois, é a produção de muito
E você, sinceramente avaliando sua fruto que o qualifica como tal. Também
vida, levando em conta os frutos que não se acomode, achando que já alcan-
tem produzido, de que modo responde- çou o alvo, porque nem o apóstolo Paulo
ria à pergunta do tema deste estudo? Se se julgava assim (Fp 3.12). Apenas pros-
você não se enquadra nas qualificações siga, sendo firme, constante e “sempre
da “boa terra”, ore para que a palavra de abundante na obra do Senhor, sabendo
Deus penetre completamente em sua que o seu trabalho não é vão no Senhor”
vida. Peça para Deus tirar toda falta de (1 Co 15.58). Amém!

180 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
ESTUDO 52

Leituras Diárias
Segunda Mt 14.13.21

DISCÍPULO – UM MORDOMO Terça


Quarta
Mc 6.34-44
Lc 9.10-17

CRISTÃO Quinta
Sexta
Jo 6.1-13
Pv 24.11-12
Sábado Mt 14.17-18
Mateus 14.13-21; Marcos 6.34- Domingo Jo 6.12
44; Lucas 9.10-17; João 6.1-13.
O mordomo cristão não deve ser in-
INTRODUÇÃO diferente às multidões que Deus coloca
diante de si. Ele precisa vê-las como Deus
O estudo de hoje labora sobre o dis- as vê. O texto bíblico diz que Jesus com-
cípulo de Cristo como um mordomo cris- padeceu-se daquelas pessoas. A palavra
tão. Procura conscientizá-lo de sua res- grega para “compadeceu-se” é “splag-
ponsabilidade na administração daquilo chnizomai”, e significa “mover-se inti-
que tem recebido de Deus. Mostra, ainda, mamente”. É a ideia de “sofrer com”, isto
atitudes que o mordomo cristão deve to- é, partilhar do sofrimento do outro. So-
mar quando estiver em situações desa- mente quando nos colocamos no lugar
fiadoras da vida. Orienta também sobre do outro é que podemos entender seu
como usar, responsavelmente, os recur- sofrimento. Jesus viu ainda que aquela
sos de que dispõe em benefício do próxi- multidão era “como ovelhas sem pastor”.
mo. Ele tem a ver com a mordomia cristã, A ovelha sem pastor está desprotegida,
isto é, como bem administrar aquilo que desorientada e não é bem alimentada.
Deus coloca nas suas mãos ou diante de O discípulo de Cristo, como mordomo
si. Muitos desses princípios são encontra- cristão, tem o dever de se empenhar por
dos nos registros bíblicos da multiplica- levar as multidões ao Bom Pastor. Essas
ção dos pães e peixes. ovelhas caminham para o “matadouro”,
VÊ COMO DEUS VÊ (Mc 6.34): “Ao de- mas o discípulo e mordomo de Cristo
sembarcar, viu Jesus uma grande mul- não pode dizer que não sabe disto, e se
tidão e compadeceu-se deles, porque mostrar fraco no esforço para livrá-las (Pv
eram como ovelhas que não tem pastor. 24.11-12). O final de Mc 6.34 diz que Jesus
E passou a ensinar-lhes muitas coisas”. “passou a ensinar-lhes”. Se as multidões

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 181


| D I S C Í P U LO – U M M O R D O M O C R I S TÃ O

vivem sem Deus e estão caminhando Aplicação a sua vida: o mordomo cristão,
para a matança, é dever do discípulo de antes de agir, para e pensa em como en-
Cristo ir a elas e ensiná-las, na esperança contrar a resposta de que necessita a cada
de fazer “discípulos de todas as nações” desafio da vida. Você tem experimentado
(Mt 28.20). essa atitude?

É APROVADO NO TESTE DIVINO (Jo 6.6-


Aplicação a sua vida: a humanidade tem 7): “Mas dizia isto para o experimentar;
passado por momentos de desesperança. porque ele bem sabia o que estava para
Jesus Cristo nos ensina que devemos levar
fazer. Respondeu-lhe Filipe: Não lhes bas-
às pessoas a esperança que liberta. Que te-
mos feito para transpor essa barreira e levar tariam duzentos denários de pão, para
o conhecimento da Palavra de Deus aos receber cada um o seu pedaço”.
cativos? João explica o motivo de Jesus cha-
mar os discípulos à reflexão: para os “ex-
perimentar”. Os testes divinos fazem par-
É CHAMADO À REFLEXÃO (Jo 6.5): “En- te da pedagogia de Jesus. O mordomo
tão, Jesus, erguendo os olhos e vendo cristão passa por experiência de apren-
que grande multidão vinha ter com Ele, dizado e precisa descobrir o “como fazer”
disse a Filipe: Onde compraremos pães de Deus. Ele tem seus projetos e sabe
para lhes dar a comer?”. como realizá-los, mas o mordomo cris-
O Evangelho de João mostra que Jesus tão precisa se juntar a Ele e cumprir Sua
vontade. Muitas vezes, nossas sugestões
viu outra necessidade daquela multidão:
de “como fazer” são totalmente destoan-
sua fome de pão. Em razão disto, Jesus
tes do propósito divino. Filipe, que era
pergunta aos discípulos “onde” compra-
“calculista” e “pragmático”, se apressa em
riam “pães para lhes dar de comer”. Esta afirmar que “não lhes bastariam duzentos
pergunta chama os discípulos à reflexão. denários de pão, para receber cada um o
Há perguntas clássicas que precisamos seu pedaço”. Em Mc 6.36, vemos que os
fazer diante de um projeto ou de uma di- discípulos foram mais radicais: “Despe-
ficuldade. Exemplo: o que, por que, para de-os, para que vão aos lugares e aldeias
que, como, onde, quando, de que forma circunvizinhas, e comprem pão para si;
etc. Neste caso, temos uma multidão fa- porque não tem o que comer”. Porém, a
minta (de pão material e espiritual) e de- solução não estava no dinheiro e nem em
sorientada em diversas áreas da vida. En- outro lugar, estava entre eles e em Jesus.
tão, Jesus pergunta: “onde compraremos
pão”? Como, assim, “compararemos”?
Uma mente mais arguta perceberia que ASSUME RESPONSABILIDADES (Lc
Jesus é o pão da vida, que Deus convida 9.13): “Ele, porém, lhes disse: Dai-lhes vós
todos para virem comer e beber de gra- mesmos de comer. Responderam eles:
ça (Is 55.1). Deus quer que descubramos Não temos mais que cinco pães e dois
“onde” está a verdadeira resposta para peixes, salvo se nós mesmos formos com-
prar comida para todo este povo”.
nossos projetos e a real solução para os
desafios que se descortinam diante de Cada um dos evangelhos nos apre-
nós. Deus quer que usemos a razão, pois, senta o problema e a respectiva solução
Ele nos deu essa capacidade. sob uma ótica. Lucas nos informa que

182 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
D I S C Í P U LO – U M M O R D O M O C R I S TÃ O |

Jesus responsabiliza os discípulos pela Na verdade, André foi prático, porém


alimentação do povo: “Dai-lhes vós mes- pessimista. Mas, vamos nos firmar no fato
mos de comer”. A gente percebe que “ba- de que já identificamos o problema ou
teu” meio que um desespero neles. Não definimos o projeto, fizemos o levanta-
podemos transferir para os outros o que mento dos recursos e o trouxemos a Je-
Deus põe como responsabilidade nossa. sus. O projeto era alimentar cinco mil ho-
Tiago diz que isto é falta de fé (Tg 2.14- mens, sem contar as mulheres e crianças.
17). Quando Deus coloca um desafio A dificuldade era que, humanamente, os
diante de nós, Ele sabe qual é a solução, recursos eram insuficientes. Ficamos im-
porém há providências concretas a se- pressionados que os recursos não esta-
rem tomadas. vam com os discípulos, mas com um “ra-
paz”; outras versões dizem “um menino”.
Os pães eram de “cevada”, pão de pobre;
Aplicação a sua vida: você está sendo e os peixes eram “peixinhos”, portanto,
usado por Deus para levar a mensagem do pequenas tilápias, possivelmente assa-
evangelho como fruto da ação do Espírito das. Humanamente falando, é realmente
Santo em sua vida? frustrante se ter um projeto tão grande
com recursos tão parcos! É neste pon-
to que, ao colocarmos o que temos nas
DISPÕE DOS SEUS RECURSOS (Mc 6.38): mãos de Jesus, faz-se toda diferença!
“E ele lhes disse: Quantos pães tendes?
Ide ver! E, sabendo-o eles, responderam:
Cinco pães e dois peixes”. Aplicação a sua vida: uma característica
do discípulo de Jesus é ser otimista. Você
A resposta dos discípulos no ponto tem aprendido a ver possibilidades quando
anterior é melhor compreendida quando surgem as dificuldades?
comparada com Mc 6.38. Eles deveriam
fazer um levantamento de quais eram os
recursos disponíveis. Se você está endi- É DADO AO PLANEJAMENTO E À OR-
vidado ou tem um projeto, então, você GANIZAÇÃO (Mc 6.40): “E assentaram-se
sabe “o que” e “onde” estão o seu proble- repartidos de cem em cem, e de cinquen-
ma. Agora, você precisa saber “como” en- ta em cinquenta”.
contrar a solução. Então, precisa fazer um
Esta informação de Marcos, de que a
levantamento de quais são os recursos
multidão assentou-se em grupos de cin-
disponíveis. O que você tem? Vá ver, re-
quenta e de cem pessoas nos impressio-
comenda Jesus. Relacione seus recursos
na. Imagine o que é sair contando milha-
e traga-os a Jesus. Não os menospreze,
res de pessoas famintas e agrupando-as
porque você é um “mordomo cristão” e
dessa forma. E mais um detalhe: deve-
não um incrédulo irresponsável.
riam estar assentadas. Certamente, você
já viu o que acontece na distribuição de
É PRÁTICO E OTMISTA (Jo 6.8-9): “Um de alimento entre grandes multidões famin-
seus discípulos, chamado André, irmão tas. Deus nos abençoa e multiplica o que
de Simão Pedro, informou a Jesus: Está aí temos, mesmo pouco, mas precisamos
um rapaz que tem cinco pães de cevada e planejar e nos organizar para receber-
dois peixinhos; mas isto que é para tanta mos a bênção. Gosto da versão dos Sal-
gente? ”. mos 50.23, que diz: “Aquele que oferece

REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 183


| D I S C Í P U LO – U M M O R D O M O C R I S TÃ O

o sacrifício de louvor me glorificará; e se perdesse. Jesus nos transmite mais al-


àquele que bem ordena o seu caminho gumas lições com essa recomendação.
eu mostrarei a salvação de Deus”. Deus Primeiro, Deus não aprova o desperdício.
mostra a porta de saída, o socorro para Se todos estavam fartos, as sobras de-
aquele que “bem ordena o seu caminho”. veriam ser recolhidas. E se o motivo era
Se você quer encontrar “a salvação” divi- para que “nada” se perdesse, deduz-se
na para o momento em que se encontra, que o que foi recolhido teve um destino
haja como um mordomo cristão: planeje apropriado, não sabemos qual, mas cer-
e organize-se. Se fizer isto, Deus é pode- tamente bem aproveitado; afinal era para
roso para enviar socorrro sem que você que “nada” se perdesse. Segundo, sobras
imagine de onde. Quem poderia imagi- não devem ser abandonadas (jogadas)
nar que o “lanche” de um menino pudes- na natureza. Servir um banquete para
se alimentar aqueles milhares de pessoas milhares de pessoas e preservar a nature-
que ouviam Jesus? Experimente! Funcio- za é uma lição que devemos trazer para o
na! nosso estilo de vida: a natureza não deve
ser contaminada com nossas “sobras”.
COLOCA TUDO NAS MÃOS DE DEUS
(Mt 14.17-18; Lc 9.16): “Mas eles respon-
deram: Não temos aqui senão cinco pães Aplicação a sua vida: o maior clamor da
e dois peixes. Então, ele disse: Trazei-mos. modernidade é que destruímos o jardim
(...) E, tomando os cinco pães e os dois que Deus esculpiu para a humanidade.
peixes, erguendo os olhos para o céu, os O que você tem feito para preservar esse
jardim tão maravilhoso chamado planeta
abençoou, partiu e deu aos discípulos terra?
para que os distribuíssem entre o povo”.
Você seria capaz de dar graças por tão
pouco, para tanta necessidade? Pois é, Je-
sus o fez. Esta é outra lição, mas não nos CONCLUSÃO
deteremos nela aqui. O fato é que trouxe-
ram tudo o que tinham e entregaram nas Veja as pessoas com a visão compas-
mãos de Jesus. Faça o mesmo em relação
siva de Deus. Não invente soluções para
aos projetos de vida e às dificuldades que
Deus. Siga sua orientação. Avalie sua re-
lhe sobrevêm. Ponha tudo nas mãos de
alidade (veja quanto ou o que você tem).
Jesus e permita que Ele abençoe.
Traga o que tem para Jesus. Confie n’Ele.
Não argumente que é pouco. Apenas
RESPEITA O MEIO AMBIENTE (Jo 6.12): creia! Organize-se! Faça planilha; contro-
“E, quando já estavam fartos, disse Jesus le os gastos. Lembre-se: a salvação divina
aos seus discípulos: Recolhei os pedaços é somente para quem bem ordena o seu
que sobraram, para que nada se perca”. caminho. Cumpra sua parte: administre
Observe que, no verso doze, as “so- o que você tem, distribuindo-o criterio-
bras” foram recolhidas após todos esta- samente. Não desperdice e nem agrida
rem fartos, e o motivo era para que “nada” a natureza, porque tudo é criação divina.

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190 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I
REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 191
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