Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Gabrielle Poeschl1 2
Joana Venâncio2
Daniel Costa2
1 Endereço para a correspondência: Rua Alfredo Allen, 4200-135 Porto, Portugal (e-mail:
gpoeschl@fpce.up.pt).
2 Universidade do Porto
PSICOLOGIA, Vol. XXVI (1), 2012 , Edições Colibri, Lisboa, pp. 33-53
34 Gabrielle Poeschl, Joana Venâncio e Daniel Costa
4 Pode-se recordar também o caso de Gisberta, um transsexual que foi morto em 2006 no
Porto por 14 rapazes, todos, excepto um, com idade inferior a 16 anos.
38 Gabrielle Poeschl, Joana Venâncio e Daniel Costa
Objectivos e hipóteses
Método
Respondentes
Participaram neste estudo 90 respondentes, 47 homens e 43 mulheres,
todos/as autoidentificados/as como sendo homossexuais ou bissexuais. São
Consequências da (não) revelação da homossexualidade e preconceito 41
Questionário
Os dados foram recolhidos por meio de um questionário adaptado do
instrumento utilizado por Costa (2008). O estudo era introduzido pelo
seguinte texto: “A questão da homossexualidade está, actualmente, no centro
de inúmeros debates, quer na comunicação social, quer nas conversas priva-
das. O presente questionário faz parte duma vasta investigação que incide
sobre diversos aspectos das relações entre os grupos sexuais”.
Seguiam-se três grupos de questões:
O primeiro grupo era composto pelos dez itens da Escala de Motivação
Interna (IMS) e da Escala de Motivação Externa (EMS) para responder de
forma não preconceituosa (Plant & Devine, 1998), já traduzidas para o portu-
guês e utilizadas por Costa (2008). Os itens tinham sido modificados no senti-
do de referir as motivações “das pessoas” em vez das motivações do res-
pondente para não se mostrar preconceituoso em relação aos homossexuais.
Os/as respondentes deviam indicar em que medida concordavam com cada
uma das proposições (1 = discordo totalmente; 7 = concordo totalmente).
O segundo grupo de itens, sobre as consequências da revelação ou não
revelação da homossexualidade, era precedido de uma citação retirada da
revista mensal Com’Out que denunciava o preconceito e a discriminação
enquanto barreiras à assumpção da orientação homossexual. Os/as respon-
dentes deviam exprimir a sua opinião sobre a probabilidade (1 = totalmente
improvável; 7 = totalmente provável) de uma pessoa homossexual assumida
e uma pessoa homossexual não assumida experimentarem cada uma das
dezanove consequências apresentadas. Os itens foram retirados do estudo de
Costa (2008), tendo sido escolhidas as consequências referidas por sete ou
mais participantes nesse estudo, e incluiu ainda o sentimento de “inseguran-
ça” que, pela recolha de testemunhos junto do meio LGBT, se julgou impor-
tante acrescentar.
O terceiro grupo, sobre as atitudes para com os homossexuais, era
formado pelos dez itens da escala ATG (Attitudes Toward Gay Men, Herek,
1988) e os dez itens da escala MHS (Modern Homonegativity Scale, Morri-
son & Morrison, 2002), também traduzidas para o português e utilizadas por
Costa (2008). Os/as respondentes deviam indicar as respostas que, segundo
eles/as, a maioria das pessoas dariam às vinte afirmações (1 = discordo
totalmente; 7 = concordo totalmente).
O último grupo de itens era destinado a recolher os dados sócio-
-demográficos e no fim do questionário eram ainda incluídas algumas linhas
para recolher a opinião dos/as respondentes sobre o questionário.
42 Gabrielle Poeschl, Joana Venâncio e Daniel Costa
Procedimento
A recolha de dados foi efectuada através da técnica de Snowball
(Goodman, 1960), através das redes sociais e através do contacto com asso-
ciações que promovem reuniões e encontros entre LGBT’s, nomeadamente a
Rede ex aequo, facilitando assim o encontro com esta comunidade.
Resultados e discussão
Factor 1 Factor 2
Sentimentos negativos (42.55%)
Depressão .86 -.01
Angústia .86 -.07
Baixa auto-estima .83 -.05
Isolamento .81 .06
Frustração .80 -.20
Culpa .78 .01
Solidão .78 -.00
Insegurança .78 .05
Sentimento de mentir .77 -.33
Infelicidade .74 -.05
Medo .71 .10
Vergonha .68 .02
Revolta .68 .13
Discriminação (19.53%)
Exclusão -.15 .84
Dificuldades profissionais -.04 .83
Dificuldades sociais -.05 .83
Desprezo .26 .72
Discriminação -.34 .70
Preconceito .19 .67
44 Gabrielle Poeschl, Joana Venâncio e Daniel Costa
Sentimentos ---
Revelação
Discriminação +.50*** ---
to, quer implícito, não está associada com a percepção de consequências mais
negativas, quer da revelação quer da não revelação da homossexualidade. O
facto das consequências percepcionadas da (não) revelação da homossexuali-
dade serem independentes do nível de preconceito atribuído à população em
geral sugere que, para os homossexuais, o problema colocado pela homosse-
xualidade é mais relacionado com o comportamento de alguns e menos com a
maneira de pensar da população em geral.
Homossexuais Heterossexuais
t (167)
(n=90) (n=79)
Conclusão
Referências
6 Ver, por exemplo, o Projecto Educação desenvolvido pela Associação Rede ex aequo, que
visa a disseminação de informação sobre os temas da homossexualidade, bissexualidade e
transgenderismo entre professores e alunos (www.rea.pt).
52 Gabrielle Poeschl, Joana Venâncio e Daniel Costa
Brotman, S., Jalbert, Y., Rowe, B., & Ryan, B. (2002). The impact of coming out on
health and health care access: The experiences of gay, lesbian, bisexual and
two-spirit people. Journal of Health & Social Policy, 15(1), 1-28.
Carneiro, N., & Menezes, I. (2004). Paisagens, caminhos e pedras: Identidade
homossexual e participação política. In A. F. Cascais (Ed.), Indisciplinar a teo-
ria: Estudos gays, lésbicos e queer (pp. 117-141). Lisboa: Fenda.
Corrigan, P. W., & Matthews, A. K. (2003). Stigma and disclosure: Implications for
coming out of the closet. Journal of Mental Health, 12(3), 235-248.
Costa, D. (2008). As representações sociais da homossexualidade e o papel da
assumpção da identidade sexual e do sexo de pertença nas atitudes para com
os homossexuais. Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Univer-
sidade do Porto: Dissertação de mestrado.
Costa, D., & Poeschl, G. (2010) Représentations des hétérosexuel-les sur les consé-
quences, pour les homosexuel-les, de révéler ou de taire leur orientation
sexuelle. X Conférence Internationale sur les Représentations Sociales (Tunis,
Tunísia).
Ellis, S. J., Kitzinger, C., & Wilkinson, S. (2002). Attitudes toward lesbians and gay
men and support for lesbian and gay human rights among psychology students.
Journal of Homosexuality, 44, 121-138.
Goodman, L. (1961). Snowball sampling. The Annals of Mathematical Statistics,
32(1), 148-154.
Herek, G. M. (1988). Heterosexuals’ attitudes toward lesbians and gay men: Corre-
lates and gender differences. Journal of Sex Research, 25, 451-477.
Herek, G. M. (2004). Beyond “homophobia”: Thinking about sexual prejudice and
stigma in the twenty-first century. Sexuality Research and Social Policy, 1(2),
6-24.
Herek, G. M. (2009). Hate crimes and stigma-related experiences among sexual
minority adults in the United States: Prevalence estimates from a national
probability sample. Journal of Interpersonal Violence, 24, 54-74.
Hewstone, M. (1989). Causal attribution: From cognitive processes to collective
beliefs. Cambridge, MA: Blackwell.
Jodelet, D. (1989). Folies et représentations sociales. Paris: Presses Universitaires de
France.
Krosnick, J. A. (1999). Survey Research. Annual Review of Psychology, 50, 537-
-567.
LaMar, L., & Kite, M. (1998). Sex differences in attitudes toward gay men and les-
bians: A multidimensional perspective. Journal of Sex Research, 35, 189-196.
Morrison, T. G., Kenny, P., & Harrington, A. (2005). Modern prejudice toward gay
men and lesbian women: Assessing the viability of a measure of modern
homonegative attitudes within an Irish context. Genetic, Social, and General
Psychology Monographs, 131(3), 219-250.
Morrison, M. A., & Morrison, T. G. (2002). Development and validation of a scale
measuring modern prejudice toward gay men and lesbian women. Journal of
Homossexuality, 43(2), 15-37.
Consequências da (não) revelação da homossexualidade e preconceito 53
Moscovici, S. (1976). La psychanalyse, son image et son public. Paris: Presses uni-
versitaires de France.
Naphy, W. (2004). Born to be gay: A history of homosexuality. Stroud: Tempus.
Pew Research Center (2007). 47-nation Pew global attitudes survey.
<http://pewglobal.org/reports/pdf/258.pdf>.
Plant, E. A., & Devine, P. G. (1998). Internal and external motivation to respond
without prejudice. Journal of Personality and Social Psychology, 75, 811-832.
Poeschl, G. (2003). Teoría de las representaciones sociales. In J. F. Morales & C.
Huici (Eds.), Estudios de Psicología Social (pp. 439-466). Madrid: UNED.
Poeschl, G. (2011). Homophobie, sexisme et justification de l’ordre social établi. In
C. Fraïssé (Ed.), L’homophobie et les expressions de l’ordre hétérosexiste
(pp. 67-84). Rennes: Presses Universitaires de Rennes.
Rede ex aequo (2006). Manual de Coordenadores de Grupos de Jovens LGBT
(2ª ed.).
Santos, A. C. (2005). Heteroqueers contra a heteronormatividade: Notas para uma
teoria queer inclusiva. Oficina do CES, 239. < www.ces.uc.pt >.
Schneider, D. J. (2004). The psychology of stereotyping. Nova Iorque: The Guilford
Press.
Venâncio, J. (2010). Homofobia e consequências da (não) assumpção da homosse-
xualidade: Um estudo sobre a visão LGBT. Faculdade de Psicologia e de Ciên-
cias da Educação, Universidade do Porto: Dissertação de mestrado.