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O Temperamento Melancólico

(Dr. Jorge Hagemann)

I. Essência do temperamento melancólico


A alma do melancólico se excita debilmente por influências externas; e sua reação, se é que ele
reage, é mesmo assim débil. Mas tal excitação, ainda que sempre débil, permanece por longo
tempo na alma; e favorecida por novas impressões, que se repetem no mesmo sentido, afunda
mais e mais até apoderar-se e mover com violência a alma, e não se deixa arrancar logo sem
dificuldade. As impressões na alma do melancólico se parecem a um poste, que a força de
marteladas, se vai fundindo na dura terra com crescente tensão, fixando-se com tanta firmeza,
que não é fácil arrancá-lo. Esta nota característica do melancólico merece especial atenção,
posto que nos dá a chave para chegar ao conhecimento de muitas coisas que na conduta do
melancólico nos parecem inexplicáveis.

II. Principais disposições de ânimo do melancólico


1. Propensão à reflexão. Em seu modo de raciocinar, o melancólico se detém demasiadamente
em todos os antecedentes até as causas últimas. Como se dá de boa vontade à consideração do
passado, sempre volta a recordar os acontecimentos tempo depois de transcorridos os eventos.
Seu pensamento tende até o profundo; não permanece na superfície, mas seguindo as causas e
as conexões das coisas, indaga as leis ativas da vida humana, os princípios segundo os quais há
o homem de agir; seus pensamentos, por fim, se estendem a um vasto campo, penetram no
futuro e se elevam até o eterno.

O melancólico possui um coração cheio de abundantes e ternos afetos, no qual sente em certo
modo o que pensa também. Suas reflexões vão acompanhadas de um misterioso anelo [desejo
ardente acompanhado de ânsia]. Ao meditar sobre seus planos e particularmente sobre assuntos
religiosos, se sente comovido em seu interior, e mesmo profundamente agitado. Mas apenas
deixa transluzir no seu exterior estas ondas de violenta emoção.
O melancólico sem formação incorre facilmente num pensar contínuo, preocupado e num
“sonhar acordado”, porque não é capaz de resolver as múltiplas dificuldades que de todas as
partes lhe assediam.
2. Amor à solidão. No fim, o melancólico não se sente bem na companhia dos homens. Prefere
o silêncio e a solidão. Encerra em si mesmo, se isola do que o cerca e emprega mal seus sentidos.
Na presença de outros se distrai facilmente e não escuta nem atende, por ocupar-se com suas
próprias ideias. Por causa do mau uso que faz de seus sentidos, não se fixa nas pessoas; como
se estivesse sonhando, nem sequer saúda os seus amigos na rua. Semelhante desatenção e
sonhar a olhos abertos lhe acarretam mil contrariedades em suas tarefas e vida cotidiana.
3. Séria concepção da vida e inclinação à tristeza. O melancólico sempre considera as coisas no
seu aspecto mais negro e adverso. No íntimo de seu coração se encontra continuamente certa
suave melancolia, certo “choro interno”, o qual não provém, como afirmam alguns, de uma
enfermidade ou disposição mórbida, mas vem de um profundo e vivo impulso que o
melancólico sente em si até Deus e o eterno, e ao qual não pode corresponder atado como está
na terra pelo peso e as cadeias da matéria. Vendo-se ausente de sua verdadeira pátria e tendo-
se por peregrino neste mundo, sente nostalgia pela eternidade.
4. Propensão à quietude. O temperamento melancólico é um temperamento passivo. O
melancólico não conhece o proceder acelerado, impulsivo e laborioso do colérico e do
sanguíneo; é mais lento, reflexivo e cauteloso; nem é fácil empurrá-lo a ações rápidas; em uma
palavra, no melancólico se nota uma marcada inclinação à quietude, à passividade. Deste ponto
de vista, poderá se explicar também seu medo dos sofrimentos e seu temor aos esforços
interiores e a abnegação de si mesmo.

III. Especiais particularidades do melancólico


1. O melancólico é muito reservado. O melancólico dificilmente se acerca de pessoas estranhas,
nem entra em conversação com desconhecidos. Revela seu interior com suma reserva, e no mais
das vezes só aos que tem mais confiança; e então não acha palavra conveniente para declarar a
disposição de sua alma, porque experimenta de fato grande alívio podendo comunicar a um
homem que o entenda os tristes e sombrios pensamentos que pesam sobre sua alma. Mas até
chegar a tal colóquio há de superar numerosas dificuldades, e no mesmo discurso será tão torpe
que, apesar de sua boa vontade, não encontrará a calma. Tais experiências, todavia, o fazem ser
mais reservado. Um educador há de conhecer e ter em conta esta nota característica do
melancólico; do contrário tratará a seus educandos melancólicos com grande injustiça. Em
geral, ao melancólico custa muito o confessar-se, não é assim com o sanguíneo. O melancólico
quisera [ou poderia] desabafar por meio de um colóquio espiritual, mas não pode; o colérico
poderia expressar-se, mas não quer.
2. O melancólico é irresoluto. Por suas demasiadas reflexões, por seu temor às dificuldades, por
seu medo de que saia mal o plano ou o trabalho a empreender, o melancólico acaba por não se
resolver. Difere alegremente a decisão de um assunto, o despacho de um negócio. O que poderia
fazer no instante, o reserva para amanhã, ou se passado o amanhã, reserva então para a próxima
semana; logo se esquece disto e assim sucede passar meses inteiros no que poderia fazer em
uma hora. O melancólico nunca acaba com uma coisa. Muitos necessitam longos anos até
aclarar sua vocação religiosa e tomar o hábito. O melancólico é homem das oportunidades
perdidas. Enquanto os demais estão já do outro lado do fosso, ele está pensando e refletindo,
sem atrever-se a dar o salto. Descobrindo em seu pensar contínuo vários caminhos que
conduzem à mesma meta, e não podendo decidir-se sem grande dificuldade a um determinado
caminho, facilmente concede a razão e aos demais, nem persiste com teimosia em suas opiniões
próprias.
3. O melancólico se desanima. Ao começar um trabalho, ao executar um encargo desagradável,
ao internar-se em um terreno desacostumado, mostra o melancólico desalento e timidez. Dispõe
de uma firme vontade, nem lhe falta talento e vigor, mas lhe faltam muito frequentemente valor
e ânimo suficientes. Por isso se diz com razão: “O melancólico deve ser atirado na água para
que aprenda a nadar”. Se em suas empresas ocorrem algumas dificuldades, mesmo que
pequenas e de pouca importância, perde o ânimo e quisera deixá-las e abandoná-las de todo,
em ver de sobrepor, de compensar e reparar os fracassos padecidos, redobrando seus esforços.
4. O melancólico é lento e pesado. O melancólico é lento:
a) Em seu pensar: tem que considerar tudo com atenção e examiná-lo seriamente, até formar
um juízo sensato.
b) Em seu modo de falar: quando se vê obrigado a contestar rapidamente, ou a falar em um
estado de perplexidade, ou quando teme que de suas palavras poderiam depender graves
consequências, se intranquiliza, não encontra a resposta adequada, a qual é às vezes mesmo
falsa e insuficiente. Seu espírito pesado é talvez a causa de porque o melancólico tropeça com
frequência em suas palavras, deixa sem acabar suas frases, emprega uma má sintaxe e anda em
busca do bom emprego e da justeza de expressão.
c) Em seus trabalhos: trabalha esmerada e solidamente, mas sozinho, sem empurrões e com
muito tempo. O melancólico, contudo, não se têm por lento em seus trabalhos.

5. O orgulho do melancólico. Tem seu aspecto muito peculiar. O melancólico não aspira a
honras: tem, pelo contrário, certo medo de mostrar-se em público e de aceitar louvores. Teme
muito ser envergonhado e humilhado. Retrai-se muitas vezes aparentando deste modo as
aparências de modéstia e humildade; mas em realidade, não é esta uma prudente reserva, senão
mais bem certo temor à humilhação. Nos trabalhos cede as colocações e ofícios à presidência
de outras pessoas menos aplicadas e mesmo incapazes; sente-se, contudo, ferido em seu coração
por não considerar-se respeitado e apreciado o bastante em seus talentos. O melancólico, se
quer realmente chegar à perfeição, há de dirigir especialíssima atenção a este despeito,
arraigado no mais profundo de seu coração e fruto da soberba, como também a sua sensibilidade
e susceptibilidade às menores humilhações.

Do que até aqui foi dito segue-se que é muito difícil tratar com melancólicos; pois por suas
particularidades não os apreciamos em seu justo ponto, nem sabemos tratá-los com acerto. Ao
sentir isto o melancólico se torna ainda mais sério e solitário. O melancólico tem poucos
amigos, porque não são muitos os que lhe compreendem e que gozam de sua confiança.

IV. Qualidades boas do melancólico


1. O melancólico pratica com facilidade e gosto a oração mental. A séria concepção da vida, o
amor à solidão, a inclinação a refletir, são ao melancólico de todo muito proveitoso para
conseguir uma grande intimidade em sua vida de oração. O melancólico possui, por assim dizer,
uma natural disposição à piedade. Contemplando as coisas terrenas, pensa no eterno;
caminhando na terra, lhe atrai o Céu. Muitos santos tiveram um temperamento melancólico.
Contudo, também encontra o melancólico precisamente em seu temperamento uma dificuldade
para a oração. Porque, desanimando-se nas adversidades e sofrimentos, lhe falta a confiança
em Deus e assim se distrai com seus pensamentos sombrios de pusilanimidade e tristeza.
2. No trato com Deus, acha uma profunda e indizível paz. Nada melhor que o melancólico para
entender a palavra de Santo Agostinho: “Nos criaste para Ti, ó Deus, e inquieto está nosso
coração até que descanse em Ti”. O coração brando e cheio de afetos do melancólico sente no
trato com Deus uma imensa felicidade, a qual conserva também em seus sofrimentos, caso
tenha suficiente confiança em Deus e amor ao Crucificado.
3. O melancólico é muitas vezes um grande benfeitor da humanidade. O melancólico é para os
demais um guia no caminho até Deus, um bom conselheiro nas dificuldades, um supervisor
prudente, benévolo e digno de confiança. As necessidades de seus co-irmãos lhe despertam uma
extremada comiseração, junto com um grande desejo de ajudar-lhes; e quando a confiança em
Deus lhe alenta e apoia, sabe fazer grandes sacrifícios em bem de seu próximo, permanecendo
ele mesmo [o melancólico] firme e imperturbável na luta por seus ideais. Schubert em sua
Ciência da alma humana disse a respeito do melancólico normal: “Esta foi a forma
predominante da alma dos poetas e artistas mais sublimes, dos pensadores mais profundos, dos
inventores e legisladores mais geniais e, sobretudo, daqueles espíritos que abriram a seu século
e a seu povo o acesso a um mundo feliz e superior, ao qual levantou o mesmo sua própria alma,
atraído por inextinguível nostalgia”.

V. Qualidades más do melancólico


1. Os melancólicos incorrem por seus pecados em terríveis angústias. Penetrando mais que
outros no profundo da alma pelo seu desejo ardente de Deus, o melancólico se ressente muito
particularmente do pecado. Nada mais lhe abate que o pensamento de estar separado de Deus
pelo pecado mortal. E se alguma vez cai profundamente, não chega a levantar-se senão com
grande dificuldade, já que lhe custa muito o confessar-se pela humilhação a que deve se
submeter. O melancólico vive assim mesmo em constante perigo de recair no pecado, pois, o
seu contínuo pensar preocupado sobre seus pecados passados causa-lhe sempre novas e graves
tentações, nas quais de bom grado se deixa levar de sentimentalismo e tristes sentimentos, que
aumentam mais a força da tentação. Nele, a obstinação no pecado ou a recaída o submergem
em uma profunda e prolongada tristeza que pouco a pouco vai lhe privando da confiança em
Deus e em si mesmo. Então é vitima de semelhantes pensamentos: não tenho forças necessárias
para me levantar; nem Deus me envia para isso seu auxílio oportuno; Deus já não me quer, e
pelo contrário, busca me condenar. Este estado pode chegar a converter-se em cansaço da vida.
O melancólico quisera morrer; mas teme a morte. Por fim seu infeliz coração se rebela contra
Deus, acarretando amargas reprovações e sentindo em si a excitação do ódio e da maledicência
contra seu Criador.
2. Os melancólicos sem confiança em Deus nem amor à cruz são arrastados em meio de seus
sofrimentos a um excessivo desalento, passividade e até mesmo ao desespero. Se os
melancólicos têm confiança em Deus e amor à cruz, acercam-se de Deus e se santificarão
precisamente pelos padecimentos [sofrimentos], como enfermidades, fracassos, calúnias, tratos
injustos, etc. Mas se lhes faltam virtudes, sua causa andará muito mal. Sobrevirão-lhes penas,
talvez muito insignificantes, então se entristecerão deprimidos, enfadados e inquietos. Não
falarão nada ou muito pouco, estarão com um aborrecimento mesquinho e com cara rude;
fugiram da companhia dos homens e chorarão continuamente. Logo lhes acabará o ânimo para
seguirem em seus trabalhos, perderão o gozo em sua vida profissional encontrando sua maior
complacência em ver tudo sombriamente. Sua contínua disposição de ânimo será: nas 24 horas
do longo dia não conheço senão dores e penas. Este estado pode chegar a converter-se em uma
melancolia formal e desespero.
3. Os melancólicos que se abandonam a seus sentimentos de tristeza, incorrem em muitas faltas
contra a caridade e chegam a ser danosos a seus próximos.
a) O melancólico perde facilmente a confiança em seus semelhantes, em particular nos seus
superiores e confessor; e isto só por alguns defeitos insignificantes que descobre neles, ou
porque recebe da parte dos mesmos algumas leves repreensões.
b) Interiormente se subleva e indigna com veemência por qualquer desordem e injustiça que
nota. O motivo de sua indignação pode frequentemente justificar-se, mas não o seu grau de
enojo; nisto vai demasiadamente longe.

c) Dificilmente poderá esquecer as ofensas; das primeiras faz no princípio caso omisso; mas se
chegarem a se repetir as desatenções, penetrarão estas mais profundamente em sua alma,
excitando-lhe uma dor difícil de superar e despertando-lhe profundos sentimentos de desforra.
Gota a gota e não de repente, no melancólico vai se inoculando o vírus da antipatia àquelas
pessoas, das quais tem que sofrer muito ou nas quais encontre algo para criticar. Semelhante
aversão chega a ser tão veemente que apenas olhar para tais pessoas, dirigir-lhes a palavra ou
só de lembrar-se da pessoa enche-lhe de desgosto e nervosismo. Normalmente não desvanece
esta antipatia, senão quando o melancólico está separado e longe de tal ou qual pessoa, e então
só depois de transcorridos meses e mesmo anos inteiros.
d) O melancólico é muito desconfiado. Raras vezes confia em um homem, temendo sempre que
não busque o seu bem. Deste modo tem frequentemente e sem motivo algumas duras e injustas
suspeitas de seu próximo; imagina nele más intenções e tem medo de perigos que não existem.
e) Vê tudo sombriamente. O melancólico gosta de lamentar-se em suas conversas, chama
sempre a atenção sobre o lado sério da coisa, com regularidade se queixa logo da malícia dos
homens, do tempo nefasto em que vive e da decadência dos bons costumes. Seu lema é: vamos
de mal a pior. Também devido às adversidades, fracassos e ofensas, considera e julga as coisas
piores do que são na realidade. Como consequência segue-se às vezes uma exagerada tristeza,
um grande e infundado nojo dos demais, pensamentos profundos e preocupados sobre injustiças
reais ou suspeitas de injustiças; tudo isto durando dias e semanas. Os melancólicos que se
abandonam a esta inclinação de ver em tudo o obscuro e tenebroso [tétrico] chegarão a ser
pessimistas, quer dizer, homens que esperam o mau êxito em tudo; hipocondríacos, isto é,
homens que em pequenos padecimentos corporais se lamentam continuamente temendo sempre
enfermidades perigosas; misantropos, homens que doentes de esquivez e ódio aos homens,
manifesta aversão ao humano.
f) Uma dificuldade particular tem o melancólico na correção e repreensão dos demais. Como já
foi dito, o melancólico se indigna excessivamente ao notar desordens e injustiças e se sente
obrigado a intervir contra estes transtornos, ainda que muitas vezes não tenham nem ânimo nem
habilidade para tais coisas. Antes de dirigir a repreensão, medita detidamente no modo do
processo e nas palavras que há de usar; mas no momento que tem que falar lhe foge as palavras
da boca ou faz a repreensão tão cautelosamente, com tanta ternura e reserva que isto merece o
nome de crítica ou aviso. Em toda a sua conduta se nota quão difícil é castigar os outros. E
quando o melancólico quer dominar esta sua timidez incorre facilmente no extremo contrário,
dirige sua repreensão com nojo e nervosismo ou lança palavras demasiadamente severas, não
alcançando desta sorte nenhum fruto verdadeiro. Esta dificuldade é a cruz pesada dos superiores
melancólicos. Não sabem reprimir a nada e acumulam por isto muito nojo e deixam firmar
raízes a muitas desordens, mesmo que sua consciência lhe admoeste a se opor a estes
transtornos. Assim mesmo, tem com frequência os educadores melancólicos a grande
debilidade de se calarem demasiadamente ante as faltas de seus subalternos e ao repreender-los
o faz de forma grosseira e ruidosamente, e, em vez de animar os educandos, os desanimam e
paralisam em sua formação.

VI. Como deve educar-se a si mesmo o melancólico?


1. O melancólico tem que fomentar em si grande confiança em Deus e amor aos sofrimentos.
Disto dependerá tudo, a confiança e o amor à cruz são dois pilares com os quais se manterá
em pé com tal firmeza que nem as provas mais graves hão de sucumbir pelos lados fracos de
seu temperamento. A desgraça do melancólico está no não levar a sua cruz; sendo sua
salvação o aceitá-la com gosto e alegria (não à força). Por este motivo, o melancólico deve ter
muita consideração sobre a divina Providência, a bondade do Pai celestial, que envia as penas
para nosso bem, e por fim, deve ter uma terna devoção à Paixão de Cristo e à Mãe dolorosa
(Nossa Senhora das Dores).
2. Se lhe sobrevierem afetos de antipatia ou simpatia, de desalento, desconfiança, abatimento,
há ele de resistir no princípio, a fim de que estas más impressões não penetrem
demasiadamente em sua alma.
3. Ao sentir-se triste deve dizer a si mesmo o melancólico: “não está tão mal como imaginas;
vês as coisas demasiadamente negras [sombrias]”.
4. O melancólico deve estar sempre bem ocupado, para não dar tempo a pensamentos pesados
e preocupados. No trabalho assíduo supera a tudo.
5. O melancólico cultivará boas qualidades de seu temperamento, em particular a inclinação à
vida interior e a compaixão pelas desgraças dos homens; mas ao mesmo tempo combaterá
constantemente suas particularidades e pontos fracos, indicados acima.
6. Santa Tereza, em um capítulo especial sobre o tratamento de melancólicos mal dispostos
disse: “Com mui pouca atenção se poderá ver que se inclinam de um modo particular a impor
sua vontade, a proferir tudo o que lhes vem à mente, a deter a consideração nas faltas dos
outros, para ocultar as próprias, e a buscar sua satisfação e sua paz no seu próprio capricho”.
Santa Tereza assinala aqui dois pontos nos quais particularmente deve fixar-se o melancólico
em sua auto-educação. Com muita frequência está o melancólico muito excitado, muito cheio
de amarguras e angústias porque seus pensamentos não se ocupam senão nas faltas dos outros
e porque quisera ter tudo segundo a sua vontade e gosto. O melancólico pode cair em um mau
humor e desalento, quando as coisas não andam, mesmo nas coisas mais mínimas, como ele
quisera. Pelo qual, deve perguntar-se o melancólico sempre que se vê invadido pela tristeza:
não se deteve novamente e em demasia nas faltas de teu próximo? Deixe-os fazer o que
queiram; não resultou talvez esta ou aquela coisa segundo a sua vontade e desejo? Convence-
te de uma vez por todas da verdade das palavras do livro Imitação de Cristo: “Por que te
turbas se não te sucede o que quer ou deseja? Quem é o que tem todas as coisas segundo a
medida de sua vontade? Por certo, nem eu, nem você, nem homem algum sobre a terra. Não
há homem algum no mundo sem tribulação ou angústia, ainda que seja rei ou Papa. Pois,
quem é o que está melhor? Certamente, o que pode padecer algo por Deus” (I, 22).

VII. Do que há que observar no trato e educação de um melancólico


a) Há que tratar de compreender o melancólico. Os melancólicos apresentam muitos enigmas
em sua conduta para aquele que não conhece as propriedades do temperamento melancólico.
Por conseguinte, há que estudá-lo e às vezes esforçar-se por averiguar em que forma [o
temperamento] se caracteriza na pessoa interessada. Sem estes conhecimentos se cometerão
graves faltas no trato com melancólicos.
b) Trate de ganhar a confiança do melancólico. O que não é fácil, por certo, e somente se
consegue dando-lhe em tudo um bom exemplo e buscando sinceramente seu bem. Como um
broto fechado se abre ao brilho do Sol, assim se abre a alma melancólica, quando lha alumiam
os raios solares da bondade e da caridade.
c) Alente [ou anime, encoraje] sempre o melancólico. Repreensões ásperas, um trato mais
brusco e a dureza de coração o abatem e paralisam as forças. Palavras atentas e encorajadoras,
uma paciência sacrificada e constante [para com o melancólico], dá-lhe ânimo e fortaleza. O
melancólico se mostra muito agradecido por tal amabilidade.
d) Se deve exortar ao melancólico ao trabalho, mas sem pressioná-lo.
e) Como tomam tudo a sério com demasia e trabalham muito com seus sentimentos e coração,
estão os melancólicos muito expostos ao perigo de debilitar seus nervos, por isso há de se
preocupar com que os súditos melancólicos não esgotem completamente as forças de seus
nervos, pois se gastados estes, cairão em um estado lamentável de prostração, e não se
aliviaram senão com grandes dificuldades.
f) Também na educação da criança melancólica há que fixar-se de tratá-lo com afabilidade, de
animá-lo e impulsioná-lo ao trabalho. Acostumem-lhe ademais, a expressar-se bem em suas
conversas, a empregar bem seus sentidos e a cultivar a piedade. É digno de especial atenção o
castigo da criança melancólica; pois os desacertos têm, sobretudo neste ponto, funestas
consequências, fazendo-o exageradamente teimoso [cabeça-dura] e reservado. Por isso
castigue-o com grande prudência e bondade, evitando o máximo possível as aparências de
injustiça.

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