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Curso de Linguística Geral é uma das obras mais importantes da história relacionada aos estudos da

linguagem. Embasada por Ferdinand de Saussure, um dos maiores estudiosos nessa área, este livro
foi lançado em 1916, postumamente pelos alunos de Saussure. Esses aprendizes fizeram uma
compilação das obras do mestre a fim de construir uma obra que internalizasse as ideias geniais
desse que foi um dos maiores responsáveis pela estruturação da linguística como ciência. Os temas e
conceitos abordados por esse livro dizem respeito ao trabalho realizado por Ferdinand em estudar a
língua como elemento fundamental da comunicação humana. Ele, por sua vez, faz uma divisão no
seu campo de estudo, popularmente conhecida como dicotomias. Esse desmembramento serviu para
clarificar os conceitos que ele tinha com relação à função exercida pela linguagem. Nesta obra as
dicotomias são: língua x fala; significante x significado; sincronia x diacronia; sintagma x
paradigma.

Esta obra começa fazendo um panorama evolutivo da linguística, que teve três fases antes de
encontrar o seu real objeto de estudo. Primeiro veio à gramática com a sua visão limitada e
normativa da língua, impondo regras do que certo e errado na língua. Depois, surgiu a filologia que
não tinha apenas a língua como objeto de estudo, mas também os textos literários, comentando-os e
interpretando-os. Por último, a história da linguística chega à gramática comparada que, como o
próprio nome já diz, faz uma comparação entre as línguas. Nessa fase temos o nome de
Franz Bropp que em 1816 lançou uma obra intitulada de Sistema da Conjuração do Sânscrito,
estudando as relações que uniam essa língua a várias outras como o grego, germânico, latim e
etc. Bropp não foi o primeiro a assinalar, contudo, que essas novas línguas pertenciam a uma mesma
família, mas foi ele que compreendeu que as relações entre línguas afins podiam torna-se matéria
para uma ciência autônoma. Ainda na parte introdutória do livro, merece menção a parte em que o
autor começa a fazer comentários sobre os erros cometidos pela gramática comparativa, que não
enquadrou à história nos seus estudos sobre a língua. Essa atitude
exclusivamente comparatista acarretou uma série de conceitos errôneos em torno da linguagem,
dando início ao surgimento dos neogramáticos, que por sua vez, analisavam a língua “não como um
organismo que se desenvolve por si, mas um produto do espírito coletivo dos grupos linguísticos
(p.12)”.

No desenrolar da obra, encontramos no segundo capítulo as tarefas da linguística e as suas relações


com determinadas ciências. Na leitura dessa parte, cumpre enfatizar, que em momento algum a
linguística se dissocia da gramática normativa. A linguística, como ciência, apenas estreita as
relações do seu estudo para um melhor desempenho das teorias sobre a linguagem. É claro que para
isso a linguística não poderá trabalhar sozinha. Então, surgi à correlação entre ciências como a
fisiologia que, não diferente da linguística, estuda os aspectos fônicos da língua. Diferentemente da
filologia que tem seu papel definido como ciência e se distingue da linguística.

No terceiro capítulo do livro, aparecem os questionamentos sobre o objeto de estudo da linguística.


No desenrolar do texto fica cada vez mais evidente o interesse de Saussure pelo estudo da língua,
pois, para ele, a linguagem é social e individual, enfim, a fusão da língua e da fala.

Ferdinand escolhe o estudo sistemático da língua, por esta ser a matéria indissociável da linguagem.
Para reforçar esse argumento o autor coloca: “Para atribuir à língua o primeiro lugar do estudo da
linguagem pode-se, enfim, fazer valer o argumento de que a faculdade - natural ou não – de articular
palavras não se exerce senão com ajuda de instrumento criado e fornecido pela coletividade (p.18)”.
Ainda nesse capítulo, mais precisamente no segundo subtópico, inicia-se o estudo da língua no meio
da linguagem. É nos exemplificado, fisiologicamente, como ocorre o fenômeno da interação da
língua no ato da comunicação, tanto no aspecto físico quanto no psíquico. É interessante observar
nesta parte da obra como os mecanismos que compõe a linguagem funcionam no dado momento da
comunicação, fazendo com que a interação entre indivíduos efetivamente ocorra. Além
disso, Saussure, continua traçando paralelos entre língua e fala, sempre dando ênfase na primeira.

Na última parte desse capítulo surgi o debate em torno do signo linguístico, denominado
como Semiologia. Essa parte da obra é crucial, pois, nos próximos capítulos, Saussure começa a
fazer as distinções sobre as suas famosas dicotomias. Por isso, o entendimento do signo linguístico
como uma entidade do conjunto que forma a linguagem é fundamental. Ainda sobre
a semiologia cabe ilustrar a diferença existente entre ela e a linguística. Enquanto
a linguística limita-se em estudar apenas a linguagem humana, a semiologia vai além, estudando a
dos animais e de toda e qualquer sistema de comunicação, seja natural ou convencional.

Finalizando essa parte, no quarto capítulo, o autor começa a separar a língua da fala, dividindo-as
como duas partes particulares da linguística. Mesmo sabendo que ambas são indissociáveis na
formação da linguagem, percebemos a ênfase, na leitura desse capítulo, em que Saussure, em várias
situações, coloca a língua no patamar superior ao da fala. Ele chega a afirmar categoricamente que a
língua seria a parte essencial no estudo da linguagem, e a fala, portanto, seria a parte secundária.
Toda essa valorização da língua como objeto de estudo perdura também nos próximos capítulos do
texto, sobretudo na parte seguinte em que começa a ser conceituada as famosas dicotomias
de Saussure.

Ferdinand de Saussure ficou conhecido no mundo todo por elaborar teorias que propiciaram o
desenvolvimento da linguística enquanto ciência. A partir daí acabou desencadeando no surgimento
do Estruturalismo, corrente que veio de encontro com o gerativismo e o pragmatismo. Na base dessa
reestruturação linguística Saussure criou dicotomias que explicassem, de forma clara, as suas ideias
em torno da língua. Na obra em questão, ele começa analisando a natureza do signo linguístico.
Cada um deles é visto separadamente por Saussure que sistematiza seus conceitos a fim de clarificar
ainda mais o seu raciocínio. Uma das primeiras dicotomias refere-se ao conceito de significante e
significado. O primeiro consiste em uma imagem acústica, enquanto o outro reside no plano do
conteúdo. Depois dessa sucinta definição o livro da continuidade aos exemplos que envolvem o
signo linguístico, no intuito de elucidar ainda mais os conceitos que envolvem essa dicotomia. A
segunda dicotomia diz respeito ao estudo da língua na história.

Durante muito tempo a linguística não analisava o seu objeto de estudo, a língua, numa perspectiva
histórica. Então surgi à segunda dicotomia conhecida como sincronia e diacronia. A primeira estuda
a língua num determinado ponto da história, enquanto a outra estuda a língua no curso evolutivo da
história. Nessa parte do livro é indispensável à leitura do capitulo referente à imutabilidade e
mutabilidade da língua, pois, os questionamentos levantados são de extrema importância para o
entendimento das dicotomias de Saussure.

Essa obra, portanto, é uma boa pedida para aqueles que querem se aprofundar na área da linguística,
como também para qualquer outro profissional de áreas diferentes que estejam interessados em
desmistificar o surgimento e a evolução da língua. Habilidosamente, a obra clarifica os conceitos
elaborados por Saussure que, sistematicamente mudaram a forma de ver e estudar a linguística.
Mesmo com a oposição de alguns linguistas contemporâneos, o Curso de Linguistica Geral é uma
excelente material para a compreensão da linguística como ciência, sobretudo para aqueles que estão
dando os primeiros passos nessa área.

Introdução

Cap. I – Visão geral da história da Lingüística

A Lingüística passou por três fases sucessivas antes de reconhecer seu verdadeiro objeto.
A primeira fase foi a Gramática, estudo iniciado pelos gregos e continuado até hoje, principalmente pelos franceses.
É uma disciplina normativa, baseada na lógica.
A seguir passou a fazer-se Filologia, que, modernamente, foi iniciada por August Wolf, a partir de 1777. Além da
língua, o principal objeto da Filologia são os textos, os quais pretende interpretar e comentar pelo método crítico.
A terceira fase é a da Gramática comparada, quando se descobriu que as línguas podiam ser comparadas. Iniciado
por Franz Bopp (1816), seguido por Jacob Grimm, Pott, Kuhn, Benfley e Aufrecht.
Merecem destaque, entre os últimos integrantes da escola comparatista, Max Muller, G. Curtius e August
Schleicher.
A escola comparatista constitui o primeiro período da Lingüística indo-européia, mas nunca chegou a delimitar seu
objeto de estudo.
A lingüística propriamente dita surgiu do estudo das línguas românicas e germânicas, principalmente a partir dos
neogramáticos alemães, que colocaram em perspectiva histórica todos os resultados das comparações e
encadearam os fatos em sua ordem natural.

Cap. II – Matéria e tarefa da Lingüística

A tarefa da Lingüística é constituída inicialmente por todas as manifestações da linguagem humana. Sua tarefa será:

a) Fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger, reconstituindo, na medida do possível, as
línguas-mães de cada família;
b) Procurar as forças que estão em jogo, de modo permanente e universal, em todas as línguas e deduzir as leis
gerais;
c) Delimitar-se e definir-se a si própria.

Cap. III – Objeto da Lingüística

1 – A Língua: sua definição

O objeto concreto e integral da Lingüística é difícil de delimitar.


Outras ciências trabalham com objetos previamente dados e que se podem considerar, em seguida, sob diversos
pontos de vista.
Em Lingüística tal relação não ocorre, pois é o ponto de vista que cria o objeto. E seja qual for a posição que se
adote, o fenômeno lingüístico apresenta perpetuamente duas faces que se correspondem e das quais uma não vale
senão pela outra:

a) As sílabas se articulam pelos órgãos vocais e são percebidas pelas impressões acústicas. Não se pode reduzir a
língua ao som, nem separar este da articulação vocal.
b) O som não constitui a linguagem. Ele forma com a idéia uma unidade complexa, fisiológica e mental.
c) A linguagem tem um lado social e outro individual, ambos interdependentes.
d) A linguagem implica ao mesmo tempo um sistema estabelecido e uma evolução. A unidade que une ambas as
coisas é tão íntima que é difícil separa-las.

Assim, o fenômeno lingüístico é sempre dualista, possui duas faces que se correspondem, e uma não vale senão
pela outra. Qualquer que seja o lado pelo qual se aborde a questão, o objeto não se oferece integralmente.
Entretanto, há uma solução para todas as dificuldades: é necessário colocar-se no terreno da língua e tomá-la como
norma de todas as outras manifestações. Dentre tantas dualidades, a língua parece suscetível duma definição
autônoma e fornece um ponto de apoio satisfatório.
A Língua é parte fundamental da linguagem. É um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto
necessário que permite o exercício da linguagem pelos indivíduos.
A linguagem é física, fisiológica e psíquica. Pertence ao domínio social e individual ao mesmo tempo. É
inclassificável em qualquer categoria dos fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade. A língua, ao
contrário, pode ser considerada em si mesma e tomada como princípio de classificação.
A esse princípio de classificação, poderia objetar-se que o exercício da linguagem é natural, enquanto a língua é
convenção. Mas não está provado que nosso aparelho vocal tenha sido feito para falar, assim como as pernas para
andar.
A língua, considerada como uma instituição social, é uma convenção, e a natureza do signo convencional é
indiferente. Por esse aspecto, a questão do aparelho vocal é secundária no problema da linguagem.
A definição do conceito de linguagem articulada poderia confirmar essa idéia. A articulação pode designar não só a
divisão da cadeia falada em sílabas, mas a subdivisão da cadeia de significações em unidades significativas. Assim,
pode-se dizer que não é a linguagem que é natural ao homem, mas a faculdade de constituir uma língua: um
sistema de signos distintos, correspondente a idéias distintas.
Para atribuir à língua o primeiro lugar nos fatos da linguagem pode se argumentar que a faculdade – natural ou não
– de articular palavras não se exerce senão com ajuda do instrumento criado pela coletividade. A língua, então, é o
que faz a unidade da linguagem.

2 – Lugar da Língua nos fatos da linguagem

Para encontrar o lugar da língua nos fatos da linguagem, é preciso reconstruir o circuito da fala.
O circuito pressupõe dois indivíduos, no mínimo. O primeiro forma uma imagem mental, ou conceito, associado à
representação dos signos lingüísticos ou imagens acústicas a ele associados. Esse fenômeno é inteiramente. Esse
fenômeno é inteiramente psíquico.
O cérebro transmite aos órgãos da fonação um impulso correlativo da imagem, através de um fenômeno fisiológico.
A propagação sonora da boca de um indivíduo ao ouvido de outro é um fenômeno físico. Em seguida o circuito se
prolonga de modo inverso.
O processo de linguagem é então físico, fisiológico e psíquico.
Tal circuito possui uma parte exterior, puramente física, uma parte psíquica, que exclui as não psíquicas, e uma
parte ativa e outra passiva, em que ativo é tudo que vai do centro de associação de um indivíduo ao ouvido de
outro.
Na parte psíquica, podemos chamar de executivo tudo que é ativo (conceito – imagem), e receptivo tudo que é
passivo (imagem – conceito).
Existe ainda uma faculdade de associação e coordenação que se manifesta desde que já não se trate de signos
isolados. Ela desempenha o principal papel na organização da língua enquanto sistema.
Entre todos os indivíduos unidos assim pela linguagem se estabelecerá uma espécie de meio termo, todos
reproduzirão, aproximadamente, os mesmo signos unidos aos mesmos conceitos.
Pelo funcionamento das faculdades receptiva e coordenativa, nos indivíduos falantes, é que se formam as marcas
sensíveis a todos, e são elas que estão na origem da cristalização social da linguagem.

Ao separar a língua da fala, separa-se ao mesmo tempo: 1) o que é social do que é individual; 2) o que é essencial
do que é acessório, ou incidental.
A língua não constitui uma função do falante. Ela é o produto que o falante registra passivamente.
A fala, ao contrário, é um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir: 1) as combinações
pelas quais o falante realiza o código da língua para exprimir seu pensamento pessoal; 2) o mecanismo psicofísico
que lhe permite exteriorizar essas combinações.

3 – Lugar da Língua nos fatos humanos. A Semiologia

A Língua, ao contrário da linguagem, é classificável entre os fatos humanos.


A Língua é uma instituição social, um sistema de signos que exprimem idéias. Pode-se, então, conceber uma
ciência que estude a vida dos signos no seio da vida social: a Semiologia.
A Semiologia estudará a consistência dos signos, as leis que os regem, e a Lingüística será uma parte dessa
ciência geral. A tarefa da Lingüística é definir o que faz da língua um sistema especial no conjunto dos fatos
semiológicos.
O signo escapa sempre à vontade individual ou social, e é este seu principal caráter. Esse caráter só aparece nítido
na língua, mas manifesta-se nas mais diversas coisas, e são menos estudadas.
O problema lingüístico é antes de tudo semiológico. Se a intenção é descobrir a verdadeira natureza da língua, será
mister considerá-la no que ela tem de comum com todos os outros sistemas semiológicos.
Considerando os ritos, os costumes, etc., como signos, esses fatos aparecerão sob outra luz e sentir-se-á a
necessidade de agrupa-los na Semiologia.

Cap. IV – Lingüística da Língua e Lingüística da Fala

Com outorgar à ciência da língua o primeiro lugar no conjunto dos estudos da linguagem, situamos toda a
Lingüística. Todos os outros elementos da linguagem, que constituem a fala, subordinam-se a esta primeira ciência.
O estudo da linguagem comporta duas partes: uma tem por objeto a língua, que é social e independe do indivíduo,
estudo essencialmente psíquico. Outra, secundária, tem por objeto a fala, elemento individual da linguagem,
inclusive a fonação, e é psicofísica.
O conjunto global da linguagem é incognoscível, ao passo que a distinção entre língua e fala, e a subordinação
desta a aquela, formam a primeira bifurcação quando se procura estabelecer a teoria da linguagem.

Cap. V – Elementos internos e Elementos externos da Língua

A definição de Língua pressupõe que eliminemos dela tudo o que lhe seja externo ao organismo, ao seu sistema:
tudo o que compõe a Lingüística externa.
As relações da língua com a etnologia, com a história política, com as instituições e com a geografia devem ser
estudadas separadamente do funcionamento interno da Língua.
A Lingüística interna e a Lingüística externa possuem métodos distintos. A última não admite uma disposição
qualquer dos objetos de análise. A língua é um sistema que conhece somente sua ordem própria.
Para efeito de análise, será considerado interno tudo quanto provocar mudança do sistema, em qualquer grau.

Cap. VI – Representação da Língua pela Escrita


1 – Necessidade de estudar esse assunto

O objeto concreto da Lingüística é o produto social depositado no cérebro de cada um: a língua. Mas tal produto
difere de acordo com os grupos lingüísticos. O lingüista está obrigado a conhecer o maior número de línguas para
tirar, por observação e comparação, o que nelas exista de universal.
Geralmente, conhece-se uma língua somente através da escrita. Conquanto seja estranho ao sistema interno, é
impossível irrelevar um processo pelo qual a língua pe ininterruptamente representada.

2 – Prestígio da escrita

Língua e escrita são dois sistemas distintos de signos. O papel do segundo é representar o primeiro.
A língua tem uma tradição oral independente da escrita e diversamente fixa. Os primeiros lingüistas não distinguiam
entre o som e a letra correspondente.
As causas do prestígio da escrita são inúmeras:

a) É mais fácil apreender a imagem visual de um signo que o liame natural, e único verdadeiro, o som.
b) Na maioria dos indivíduos as impressões acústicas são mais nítidas e mais duradouras que as impressões
acústicas.
c) A língua literária aumenta a importância imerecida da escrita, e a ortografia confere à escrita uma importância
primordial.
d) Quando existe desacordo entre a língua e a ortografia, a forma escrita fatalmente prevalece.

3 – Os sistemas de escrita

Existem apenas dois sistemas de escrita:

a) o sistema ideográfico, em que a palavra é representada por um signo único e estranho aos sons de que ela se
compõe.
b) O sistema fonético, que visa a reproduzir a série de sons que se sucedem nas palavras, baseado em seus
elementos irredutíveis.

O alfabeto grego é o protótipo dos estudos. Ele reflete a língua de maneira assaz racional. Quanto à lógica, esse
alfabeto é particularmente notável. Mas a harmonia entre grafia e pronúncia, que era perfeita quando da elaboração
do alfabeto, não dura ao passar do tempo.

4 – Causas do desacordo entre grafia e pronúncia

Entre as principais causas de desacordo temos que, em primeiro lugar, a língua evolui sem cessar, ao passo que a
escrita permanece imóvel. A grafia passa a não mais representar àquilo que deve representar.
Outro fator de desacordo pode ocorrer quando um povo toma emprestado outro seu alfabeto. Os recursos desse
novo sistema gráfico não se prestam adequadamente a sua nova função. Tem-se que recorrer a expedientes, como
a utilização de duas letras para designar um só som.
Existe ainda a preocupação etnológica, que procura a grafia correta na origem da palavra. Entretanto, o próprio
princípio é errôneo, pois o sistema escrito deve representar a pronúncia da palavra.

5 - Efeitos desse desacordo

O resultado das diversas tentativas de fixar a língua na escrita, ao longo do tempo, é que a escrita obscurece a
visão da língua.
Outro resultado é que quanto menos a escritura representa aquilo que deve representar, tanto mais se reforça a
tendência de toma-la por base.
O que fixa a pronúncia de uma palavra não é a escrita, mas sua história.
À força de impor-se à massa, a letra influi na língua e a modifica. Isso acontece nos idiomas muito literários, em que
o documento escrito desempenha papel considerável. (fato patológico.)
Essas deformações fônicas pertencem à língua, mas não resultam de seu funcionamento natural.

Cap. VII – A Fonologia


1 – Definição

Para a substituição da escrita pelo pensamento, do artificial pelo natural, precisou-se, antes, estudar os sons da
língua, pois, separados dos seus signos gráficos, eles representam apenas noções vagas.
A fisiologia dos sons é chamada Fonética. Esse termo foi substituído por Fonologia, pois o primeiro termo designou,
no princípio, os estudos das evoluções dos sons.
A Fonética pe uma ciência histórica, analisa acontecimentos, transformações e se move no tempo.
A Fonologia se coloca fora do tempo, já que o mecanismo da articulação permanece sempre igual a si mesmo.
O primeiro é parte essencial da ciência da língua. O segundo não passa de disciplina auxiliar e só se refere à fala.

2 – A escrita fonológica

O lingüista exige, antes de tudo, que lhe seja fornecido um meio de representar os sons articulados que suprima
qualquer equívoco.
O princípio da escrita fonológica é representar por um signo cada elemento da cadeia falada.

3 – Crítica ao testemunho da escrita

O primeiro passo, no estudo de uma língua, é traçar o sistema fonológico.

Quando se trata de línguas do passado, estamos limitados a dados indiretos.


a) O primeiro passo são os indícios externos, sobretudo o testemunho de contemporâneos que descreveram os sons e
a pronúncia de sua época.
b) Pode-se obter mais informações cruzando os indícios externos aos internos:
1) Indícios extraídos da regularidade das evoluções fonéticas
2) Indícios contemporâneos, como a diversidade de grafias e os textos poéticos.

Quando se trata de uma língua viva, o único método racional consiste em:
a) Estabelecer o sistema de sons tal como é reconhecido pela observação direta;
b) Observar o sistema de signos que servem para representar – imperfeitamente – os sons.

Introdução – Apêndice - Princípios de Fonologia

Capítulo I – As Espécies Fonológicas


1 – A definição de Fonema

A impressão acústica dos fonemas é a base de toda a teoria, e não o ato de fonação – a produção dos sons pelos
órgãos.

A cadeia acústica não se divide em tempos iguais, mas em tempos homogêneos, caracterizados pela unidade de
impressão (do som), que é o ponto de partida para o estudo fonológico.

Apesar do componente acústico dos fonemas ser primordial para a teoria, só podemos descrevê-los na cadeia
falada com base no ato articulatório.

O fonema, então, é a soma das impressões acústicas e dos movimentos articulatórios da unidade ouvida e da
unidade falada, das quais uma condiciona a outra.

Os elementos obtidos primeiramente pela análise dessa cadeia falada são momentos irredutíveis que não podem
ser considerados fora do tempo que ocupam.
Assim, pode-se falar do T, como espécie, e do t, em geral, levando-se em conta apenas o caráter distintivo e
deixando de parte aquilo que depende da sucessão no tempo.

2 – O aparelho vocal e seu funcionamento

São órgãos imóveis do aparelho vocal: a Laringe, a Boca, a Cavidade Nasal, os Lábios superiores, os Dentes
superiores, o Palato e o Véu palatal.
São órgãos móveis: a Glote, a Úvula, o ápice e o dorso da Língua, e o Lábio inferior.

A Glote pode abrir-se ou estreitar-se à passagem do ar. Se estreitar-se provoca uma vibração à passagem do ar,
que emite som. Se não estreitar-se, não emite som.
A Cavidade Nasal serve unicamente para ressoar as vibrações vocais que a atravessam. Não desempenham,
portanto, nenhum papel na produção do som.
A Cavidade Bucal oferece um jogo de muitas variações possíveis, e acumula as funções de ressoar e produzir o
som.

Na produção de som, os fatores que podem entrar em jogo são: a expiração, a articulação bucal, o som laríngeo e a
ressonância nasal, dos quais os dois primeiros são fatores constantes de todos os sons, e os últimos podem ou não
interferir na produção. De todos os fatores, somente a articulação bucal não é uniforme, e se caracteriza por permitir
inúmeras variações.

O fonema fica identificado quando se determina o ato fonatório (combinação singular dos três últimos fatores, que
diferenciam um fonema dos outros), e o ato fonatório é determinado, então, pelos movimentos articulatórios da
boca, pela presença ou ausência de vibração laríngea (sons sonoros e surdos), e pela participação ou não da
cavidade nasal na emissão do som (sons nasais).

3 – Classificação sos sons conforme sua articulação bucal

Geralmente parte-se da ponto (ou zona) de articulação para definir os sons.


O ponto de partida para a classificação sos sons bucais será a abertura (da boca), que vai da oclusão total à
abertura completa. Entre estes dois extremos os sons serão classificados numa escala de 0 a 6, e somente no
interior de cada abertura os fonemas serão distribuídos, levando-se em conta seu ponto de articulação.

A – Abertura Zero – Oclusivas


Existem três tipos de Oclusivas: as labiais /p/ surda, /b/ sonora, /(m)/ sonora e nasal; as dentais /t/ surda, /d/ sonora,
/(n)/sonora e nasal; as guturais /k/ surda, /g/ sonora, /(n)/ sonora e nasal.
As nasais são colocadas entre parêntesis, pois, se sua articulação comporta um fechamento completo da boca, a
abertura do canal nasal lhes oferece um canal de abertura superior à outras.

B – Abertura Um – Fricativas ou Expirantes


Caracterizam-se por um fechamento incompleto da cavidade bucal, que permite a passagem do ar.
Labiodentais /f/ surda, /v/ sonora; as linguodentais /s/ surda, /z/ sonora; e em português as palatais /ch/ surda, /j ou
g/ sonora.

C – Abertura Dois – Nasais


As quais já foram descritas: /m/ e /n/.

D – Abertura Três – Líquidas


a) Articulação lateral, em que distinguimos uma dental (alveolar) /l/ e em português uma molhada (palatal) /lh/.
b) Articulação vibrante, em que distinguimos dois /r/ dentais (alveolares) e uma gutural (velar) /R/.

E – Abertura Quatro – Semivogais


A partir do quarto grau entra-se no domínio das vogais. O mecanismo da fonação, entretanto, permanece o mesmo.
Passado certo grau de abertura, a boca funciona principalmente como ressoador. O timbre do som laríngeo aparece
completamente e o ruído bucal desaparece.

São semivogais o /i/ e o /u/.


Com relação às outras vogais, esses sons supõem ainda fechamento considerável, que as coloca bastante
próximas das consoantes, o que justifica sua classificação.
O /i/ se pronuncia com lábios arredondados e articulação dianteira; o /u/ se pronuncia com lábios arredondados e
articulação posterior.

F – Abertura Cinco – Vogais


Muitas línguas distinguem vários graus de abertura. Assim, no português, teremos abertas, semi-abertas,
semifechadas e fechadas. A única aberta é a vogal /a/, que enquadra-se no próximo grau de abertura.

G – Abertura Seis – Vogal /a/.

Capítulo II – O Fonema na Cadeia Falada

1 – Necessidade de estudar os sons na cadeia falada

Primeira Parte – Princípios Gerais

Cap. I – Natureza do signo lingüístico

1 – Signo, significado, significante

A unidade lingüística é uma coisa dupla, constituída da união de dois termos, ambos psíquicos e unidos por um
vínculo de associação: o conceito e a imagem acústica.
A terminologia utilizada é Significado, para conceito, e Significante, para a imagem acústica. A totalidade dos
conceitos é o que se chama Signo.

2 – Primeiro princípio: a arbitrariedade do signo

O laço que une o significado ao significante é arbitrário, o que equivale a dizer que o signo é arbitrário. Como prova
dessa arbitrariedade, temos as diferenças entre as línguas e a própria existência de línguas diferentes.
Este primeiro princípio domina toda a lingüística da língua.
Arbitrário quer dizer que o significante é imotivado, não guarda relação natural com o significado.

3 – Segundo princípio: caráter linear do significante

O significante, sendo de natureza auditiva, desenvolve-se unicamente no tempo, e tem as características próprias
do tempo: 1) representa uma extensão; 2) essa extensão só é mensurável na dimensão linear.
Os significantes acústicos dispõem-se na linha do tempo. Seus elementos se apresentam um após o outro,
formando uma cadeia.

Cap. II – Imutabilidade e Mutabilidade do Signo

1 – Imutabilidade

Se em relação ao conceito o significante é arbitrário, em relação à comunidade lingüística que o emprega é imposto.
Nem a massa e menos ainda o indivíduo podem mudar o signo.
A língua, em qualquer época que a observemos, é herança da época anterior. Um dado estado de língua é sempre
produto de fatores históricos, e esses fatores explicam porque o signo resiste a toda substituição.
Em todas as instituições sociais existe um equilíbrio ente a tradição imposta e a ação da sociedade. A língua é
dominada completamente pelos fatores históricos da transmissão, o que exclui toda transformação geral e
repentina.

Algumas considerações essenciais explicam a predominância da tradição sobre a mudança:


a) O caráter arbitrário do signo, que pressupõem em teoria sua substituição, funciona na prática como fator de
conservação;
b) A multidão de signos necessários para constituir qualquer língua dificultam sua substituição;
c) O caráter demasiado complexo da língua;
d) A resistência da inércia coletiva a toda renovação lingüística, porque a língua é feita por todos e utilizada por todos
ao mesmo tempo, o que, ao contrário de outras instituições, demonstra a impossibilidade de uma revolução.

Se a língua tem um caráter de fixidez, não é somente porque está ligada ao peso da coletividade, mas também
porque está situada no tempo. Os dois fatores são inseparáveis.
No fenômeno total há a conjugação destes dois conceitos antinômicos: a convenção arbitrária, em virtude da qual a
escolha se faz livre, e o tempo, graças ao qual a escolha se acha fixada.
Justamente porque o signo é arbitrário não conhece outra lei senão a da tradição, e é por basear-se na tradição que
pode ser arbitrário.

2 – Mutabilidade

O tempo, que assegura a continuidade da língua, tem outro efeito, em aparência contrário ao primeiro: o de alterar
mais ou menos rapidamente os signos lingüísticos.
O signo está em condições de alterar-se porque se continua no tempo.
Seja quais forem os fatores de alteração, quer funcionem isoladamente ou combinados, levam sempre a um
deslocamento da relação entre o significado e o significante.
Uma língua é radicalmente incapaz de se defender dos fatores que deslocam a relação entre o significado e o
significante. É uma das conseqüências da arbitrariedade dos signos, que distinguem a língua das outras instituições.
A língua, situada na massa social e no tempo, não permite alteração, mas o car´ter arbitrário de seus signos
pressupõem alterações livres, ao menos teoricamente. Disso resulta que a idéia e a matéria fônica, unidas no signo,
guardam uma vida própria, numa proporção inigualável em qualquer outra parte.
A língua evolui sob influência dos agentes que possam atingir quer seus sons, quer seus significados, e essa
evolução é fatal.
As causas da continuidade estão, a princípio, ao alcance do observador. As causas da alteração através do tempo
não estão dadas.

Cap. III – A lingüística estática e a evolutiva

1 - Dualidade interna de todas as ciências que operam com valores

O fator tempo cria para a Lingüística dificuldades particulares, e lhe coloca frente a duas retas distintas.
Na lingüística opera-se com a noção de valor. Trata-se de um sistema de equivalências entre coisas de ordens
diferentes: um significado e um significante.
Atua-se, então, em dois eixos: o das simultaneidades e o das evoluções.
A multiplicidade dos signos, que explica a continuidade das línguas, nos impede de estudar-lhe ao mesmo tempo as
relações no tempo e no sistema.

2 – Dualidade interna e a história da Lingüística

Desde que a Lingüística moderna existe, ela absorve-se completamente na diacronia. A comparação é apenas um
método de reconstruir o passado.
Os Gramáticos, na fase anterior aos estudos lingüísticos, tinham a nítida intenção de reconstruir estados. Seu
programa é estritamente sincrônico.
Os métodos dos gramáticos são menos repreensíveis que os dos comparatistas, já que os segundos não tinham
noção exata do seu alvo.
Após conceder grande espaço á História, a Lingüística voltará ao ponto de vista estático da gramática tradicional
com seus métodos renovados.

3 – Dualidade interna ilustrada com exemplos

A oposição entre os dois pontos de vista é absoluta e não admite compromissos.


1) Um fato diacrônico é um acontecimento que tem razão de ser por si mesmo: as conseqüências sincrônicas
particulares que podem dele derivar são-lhe totalmente estranhas.
2) Os fatos diacrônicos não alteram o sistema. A modificação não recai sobre a ordenação, e sim sobre os elementos
ordenados. Existe aqui um princípio: o sistema nunca se modifica diretamente; em si mesmo é imutável. Apenas
alguns elementos são alterados sem atenção à solidariedade que os liga ao todo.
3) Um estado lingüístico é sempre fortuito.
4) Os fatos diacrônicos e sincrônicos não são da mesma ordem. Os fatos da sincronia são sempre significativos. Os
da diacronia, ao contrário, não são intencionais.

Uma lei de acentuação, por exemplo, como tudo quanto respeita ao sistema lingüístico, é uma disposição de
termos. Um resultado fortuito e involuntário da evolução.
A língua é um sistema em que todas as partes podem ser consideradas na sua solidariedade sincrônica. Como a
alteração não ocorre no bloco, mas em algum elemento, só podem ser estudadas fora do sistema.

4 – A diferença entre as duas ordens ilustrada por comparações

Os estados sincrônicos não são conhecidos estudando os acontecimentos diacrônicos.


O sistema é sempre momentâneo, varia de um equilíbrio a outro. Os valores, no entanto, dependem de uma
convenção imutável: a regra do jogo, que em matéria de língua, são os princípios da Semiologia.

a) Na língua, as mudanças se aplicam a elementos isolados.


b) O lance repercute sobre todo o sistema, causando alterações imprevisíveis.
c) A alteração de um elemento, causando a evolução para um novo estado, é um fato absolutamente distinto do
equilíbrio precedente e do subseqüente. A alteração não pertence a nenhum dos dois estados, pois os estados são
a única coisa que importa.

5 – As duas lingüísticas opostas em seus métodos e em seus princípios

A oposição entre o diacrônico e o sincrônico se manifesta em todos os pontos.


O aspecto sincrônico é mais importante, pois ele constitui a única verdade para a massa falante.

a) À sincronia só pertence a perspectiva dos falantes, e seu método é reconhecer-lhes o conteúdo. A diacronia deve
distinguir sempre duas perspectivas: uma prospectiva, que acompanha o curso do tempo e a retrospectiva, que faça
o mesmo em sentido contrário.
b) O estudo sincrônico tem por objeto o conjunto dos fatos correspondentes a cada língua. Na medida em que for
necessário, a separação irá até os dialetos e subdialetos. A Lingüística diacrônica não necessita outra
especialização. Os termos que ela considera não pertencem forçosamente a uma mesma língua.

A antinomia radical entre o fato evolutivo e o fato estático tem por conseqüência fazer com que todas as noções
relativas a um e ao outro sejam irredutíveis entre si.

6 – A lei diacrônica e a lei sincrônica

Toda lei social apresenta duas características fundamentais: é imperativa e geral.


A lei sincrônica é geral, mas não é imperativa. Impõe-se aos indivíduos pela sujeição do uso coletivo. Mas na língua,
força alguma garante a manutenção da regularidade quando ela reina em alguma parte.
A diacronia supõe um valor dinâmico. Mas tal caráter imperativo não basta para que se aplique a noção de lei aos
fatos evolutivos. Não se fala de lei senão quando algum conjunto de fatores obedece à mesma regra, e os
acontecimentos diacrônicos têm sempre caráter acidental e particular.
Portanto, nem os fatos sincrônicos nem os diacrônicos são regidos por leis no sentido estrito. Se quiser se falar de
lei no sentido lingüístico, esse termo abrangerá significações diferentes.

7 – Existe um ponto de vista pancrônico?

Pode-se estudar a língua a partir de um ponto de vista pancrônicos delineando certas leis naturais, ou seja, relações
que se verificam em toda parte.
Assim, visto que existem transformações fonéticas, pode-se considerar este fenômeno como um dos aspectos
constantes da linguagem. É uma de suas leis.
Em lingüística existem leis que sobrevivem a todos os acontecimentos. São, entretanto, leis gerais, que independem
de fatos concretos. Quando se considera fatos particulares e tangíveis, já não há ponto de vista pancrônico.
8 – Conseqüências da confusão entre sincrônico e diacrônico

a) A verdade sincrônica parece ser a negação da verdade diacrônica. Entretanto, uma das verdades não exclui a
outra.
b) A verdade sincrônica concorda de tal modo com a verdade diacrônica que se costuma confundi-las ou julgar
supérfluo desdobra-las.

9 – Conclusões

Assim, a Lingüística se acha aqui ante sua segunda bifurcação.


Tudo quanto seja diacrônico na língua, não o é senão pela fala. É na fala que se acha o germe de toda modificação.
Mas as modificações, enquanto permanecem individuais, não são levadas em conta. Só entram no campo de
observação no momento em que a coletividade as acolhe.
Na história de toda inovação encontram-se dois momentos distintos: 1) aquele em que ela surge entre os indivíduos;
2) aquele em que se tornou um fato de língua, exteriormente idêntico, mas adotado pela comunidade.
A Lingüística diacrônica se ocupará das relações lógicas e psicológicas que unem os termos coexistentes e que
formem sistema, tais como são percebidos pela consciência coletiva.
A Lingüística diacrônica estudará as relações que unem termos sucessivos não percebidos por uma mesma
consciência coletiva e que subsistem uns aos outros sem formar sistema entre si.

Segunda Parte – Lingüística Sincrônica

Cap. I – Generalidades

O objeto da Lingüística sincrônica geral é estabelecer os princípios fundamentais de todo o sistema idiossincrônico,
os fatores constitutivos de todo estado de língua.
À sincronia pertence tudo o que se chama gramática geral, pois é somente pelos estados de língua que se
estabelecem as diferentes relações que incumbem à gramática.
De modo geral, é mais difícil fazer a Lingüística estática que a histórica, pois os fatos de evolução são mais
concretos.
Um estado da língua é um espaço de tempo durante o qual a soma de modificações ocorridas é mínima.
Em lingüística estática, nenhuma demonstração é possível sem uma simplificação convencional dos dados.

Cap. II – As entidades concretas da língua

1 – Entidades e unidades. Definições.

Os signos de que a língua se compõe não são abstrações, mas entidades concretas da Lingüística, que se ocupa
de suas relações.

1 – A entidade lingüística só existe pela associação do significado e do significante.


2 – A entidade lingüística não está completamente determinada enquanto não esteja delimitada. São
estas unidadesque se opõem no mecanismo da língua.

A língua não se apresenta como um conjunto de signos delimitados de antemão. É uma massa indistinta, na qual só
a atenção e o hábito nos podem fazer encontrar os elementos particulares. A unidade não tem nenhum caráter
fônico especial, e a única definição que dela se pode dar é a seguinte: uma porção de sonoridade que, com
exclusão do que precede e do que se segue na cadeia falada, é significante de um certo conceito.

2 – Método de delimitação

Um método correto de delimitação das unidades lingüísticas é colocar-se no plano da fala e representar a língua a
partir de duas cadeias paralelas: a dos conceitos e a das imagens acústicas, nas quais cada idéia corresponde a um
som.
Entretanto, se colocamos dada porção fônica em diversos contextos, temos que, outra representam o mesmo
conceito – e formam unidade entre si -, ora representam outra idéia – e constituem uma unidade diferente da
anterior.

3 – Dificuldades práticas da delimitação


Este método é correto se considerarmos que as unidades a serem delimitadas são as palavras. Entretanto, a noção
de palavra é incompatível com a noção de unidade concreta.
Outra teoria difundida diz que as únicas entidades concretas são as frases. Entretanto, se a frase é exclusividade da
Fala, não poderia passar por unidade lingüística. As frases apresentam grande diversidade, e se procurarmos o que
as une através dessa diversidade, voltamos à palavra, com seus caracteres gramaticais.

4 – Conclusão

Na maioria das ciências as unidades são dadas de antemão. Quando uma ciência não apresenta unidades
concretas imediatamente reconhecíveis é porque elas não são essenciais.
A língua tem o caráter de um sistema baseado completamente na oposição de suas unidades concretas. Não
podemos deixar de conhece-as, e sua delimitação, no entanto, é um problema tão grande que nos perguntamos se
elas existem de fato.

Cap. III – Identidades, Realidades, Valores

Em Lingüística estática, qualquer noção primordial depende da idéia que faça da unidade, e depende dela.

A – Identidade sincrônica
Trata-se, aqui, da identidade entre o mesmo elemento em contextos distintos.
Se a correspondência entre a porção fônica e o conceito forma a identidade, pode, também, haver identidade sem a
mesma correspondência. Uma palavra pode exprimir idéias diferentes sem que sua identidade fique comprometida.
A entidade não é puramente material; funda-se em certas condições a que é estranha sua matéria ocasional.
O vínculo entre dois empregos da mesma palavra não se baseia nem na identidade material nem na exata
semelhança de sentido, mas em outros elementos.

B – Realidade sincrônica
A distinção das partes do discurso é que deve servir para classificar as palavras da língua. Mas a distinção das
palavras em classes como substantivos, adjetivos, verbos etc., não é uma realidade lingüística inegável.
Realidade sincrônica é algo que tenha seu lugar no sistema da língua e que seja condicionado por ela.
Fora os conceitos forjados pelos gramáticos, as entidades concretas da língua não se apresentam por si mesmas à
nossa observação. Deve-se depreende-las para tomar contato com o real e elaborar todas as classificações
necessárias à Lingüística.

C – Valores sincrônicos
Todas as noções versadas anteriormente correspondem a valores.
Nos sistemas semiológicos, os quais os elementos se mantém equilibrados de acordo com regras determinadas, a
noção de identidade se confunde com a de valor, e reciprocamente. Este é o motivo pelo qual a noção de valor
recobre as de unidade, de entidade concreta e de realidade.
Em termos práticos seria interessante começar por decupar as unidades, subunidades e as unidades maiores.

Cap. IV – O valor lingüístico

1 – A língua como pensamento organizado na matéria fônica

As idéias e os sons, os dois elementos que entram em jogo no funcionamento da língua, bastam para entender
porque a língua é um sistema de valores puros.
Nosso pensamento é uma massa amorfa e indistinta. Sem o recurso dos signos seríamos incapazes de distinguir
duas idéias de modo claro e constante.
O som, a substância fônica, é nada mais que uma matéria plástica que se subdivide em partes distintas para
fornecer os significantes de que o pensamento tem necessidade.
A língua é uma série de subdivisões contíguas marcadas simultaneamente sobre o plano indefinido das idéias
confusas e o plano indeterminado dos sons (A/B).
O papel da língua frente ao pensamento é servir de intermediário entre o pensamento e o som, em condições tais
que uma união conduza a delimitações recíprocas de unidade. Trata-se do fato de o pensamento-som implicar
divisões, e de a língua elaborar suas unidades constituindo-se entre duas massas amorfas.
A lingüística trabalha no terreno limítrofe onde os elementos dessas duas ordens se combinam. Esta combinação
produz uma forma, não uma substância.
Não só as idéias e os sons são massas amorfas, como a escolha da porção acústica para tal idéia é arbitrária. Não
existe elemento imposto de fora. E por causa da arbitrariedade, os valores continuam a ser inteiramente relativos.
O fato social serve, por si só, para criar o sistema lingüístico. Estabelece os valores cuja única razão de ser está no
uso e no consenso geral.

2 – O valor lingüístico considerado em seu aspecto conceitual

O valor, sob o prisma conceitual, constitui um elemento da significação, e é difícil saber como a significação se
distingue do valor, apesar de estar sob sua dependência.
O conceito é a contraparte da imagem acústica no interior do signo, e este signo é, igualmente, a contraparte dos
outros signos da língua.
A língua é um sistema em que todos os termos são interdependentes e o valor de um resulta da presença
simultânea de outros.

Temos que: 1) o valor é constituído por uma coisa dessemelhante, suscetível de ser trocada por outra; 2) o valor é
constituído por coisas semelhantes, que podem ser comparadas com o valor do signo que se leva em conta.
Esses dois fatores são necessários para a existência de um valor.

No interior de uma língua, todas as palavras que exprimem idéias vizinhas se limitam reciprocamente.
Inversamente, existem termos que se enriquecem pelo contato com outros. Assim, o valor de qualquer termo está
determinado por aquilo que o rodeia.
O que ocorre com as palavras se aplica a qualquer termo da língua.
Se as palavras fossem encarregadas de representar conceitos dados de antemão, cada uma delas teria, de uma
língua para outra, correspondentes exatos para o sentido. Então, ao invés de idéias dadas de antemão, são os
valores que emanam do sistema.

3 – O valor lingüístico e sua parte material

Se a parte conceitual do valor é constituída por relações e diferenças com os outros termos da língua, pode-se dizer
o mesmo de sua parte material.
O que importa na palavra não é o som em si, mas as diferenças fônicas que permitem distinguir uma palavra de
todas as outras, pois são elas que levam a significação. Arbitrário e diferencial são duas qualidades correlativas.
O som não pertence à língua. É secundário. Todos os valores convencionais apresentam esse caráter de não se
confundir com o elemento tangível que lhes serve de suporte.
O significante lingüístico não é fônico, mas incorpóreo. É constituído unicamente pelas diferenças que separam sua
imagem acústica de todas as outras.
Esse princípio se aplica aos fonemas. Eles são, antes de tudo, entidades opositivas, relativas e negativas.

4 – O Signo considerado na sua totalidade

Na língua só existem diferenças. E diferenças sem termos positivos, porque o que haja de matéria fônica ou de
idéia num signo importa menos do que o que existe em redor dele nos outros signos.
Mas dizer que na língua tudo é negativo é verdade somente em relação ao significado e ao significante tomados
separadamente: desde que consideramos a totalidade do signo estamos perante uma coisa positiva em sua ordem.
Um sistema lingüístico é uma série de diferenças de sons com uma série de diferenças de idéias, e essa
confrontação engendra um sistema de valores, e é tal sistema que constitui o vínculo efetivo entre os elementos
fônicos e psíquicos no interior de cada signo.
Alguns fatos diacrônicos elucidam a questão: há casos em que a alteração do significante provoca a alteração da
idéia, e a soma das idéias distinguidas é a soma dos signos distintivos.
Inversamente, toda diferença percebida pelo espírito busca exprimir-se por significantes distintos, e duas idéias que
o espírito não mais distingue, tendem a se confundir no mesmo significante.
Quando se comparam os signos – positivos – já não se pode falar de diferenças, mas de oposição. Todo
mecanismo da linguagem se funda em oposições desse tipo e nas diferenças fônicas e conceituais que engendram.
O que é verdadeiro do valor também o é da unidade. Ela é, pois, diferencial.
Outra conseqüência desse princípio é que o que se de chama fato de linguagem (como a formação do plural, por
exemplo) é, em última análise, a definição de unidade, pois exprime sempre uma oposição de termos.
Unidade ou fato de gramática servem somente para expor as oposições lingüísticas.
Assim considerada, a língua é uma forma, e não uma substância. Todos os erros da nossa terminologia provêm da
suposição involuntária de que haveria uma substância no fenômeno lingüístico.
Cap. V – Relações sintagmáticas e associativas

Num estado de língua, tudo se baseia em relações.


As relações e diferenças entre termos lingüísticos se desenvolvem em duas séries distintas, cada uma das quais
geradora de certa ordem de valores. Correspondem a suas formas de nossa atividade mental, ambas
indispensáveis para a vida da língua.
De um lado, no discurso, os termos estabelecem entre si, em virtude do seu encadeamento, relações baseadas no
caráter linear da língua, que podem ser chamadas de sintagmáticas, compostas sempre de duas ou mais unidades
consecutivas. Num sintagma, um termo só tem valor porque se opõe ao que se segue ou ao precedente.
Fora do discurso, as palavras que oferecem algo de comum se associam na memória e assim se formam grupos
dentro dos quais imperam relações diversas. Elas não têm por base o exterior; sua sede está no cérebro. São
chamadas de relações associativas, de caráter arbitrário, oposto ao caráter presencial das relações sintagmáticas.

2 – As relações sintagmáticas

As relações sintagmáticas não se aplicam somente às palavras, mas aos grupos de palavras e às unidades
complexas de toda espécie, inclusive as frases.
A frase é o tipo por excelência de sintagma. Mas a frase pertence à fala, e o sintagma à língua. Há que se
questionar, então, o grau de liberdade dos sintagmas, em comparação com a liberdade de combinações que
permite a fala.
As frases feitas, as expressões idiomáticas, as palavras caracterizadas por anomalias morfológicas, pertencem à
língua. Esses torneios não podem ser improvisados. São fornecidos pela tradição.
Cumpre atribuir à língua e não á fala todos os tipos de sintagmas construídos sobre formas regulares. Tanto as
palavras compostas que seguem um tipo determinado (anarquia, anacoluto etc.), como as frases e grupos de
palavras estabelecidos sobre padrões regulares.
Entretanto, no domínio do sintagma, não há limite categórico entre o fato da língua e o fato da fala.

3 – As relações associativas

Os grupos formados por associação mental não se limitam a aproximar os termos que apresentam algo em comum.
O espírito capta também a natureza das relações que os unem em cada caso e cria com isso tantas séries
associativas quantas relações diversas existirem.
Os termos de uma cadeia associativa não se apresentam sem em número definido, nem numa ordem determinada.

Ensinamento
Ensinar aprendizagem elemento
Ensinemos educação lento
Etc. etc. etc.

Cap. VI – Mecanismo da Língua

1 – As solidariedades sintagmáticas

O conjunto das diferenças fônicas e conceituais que constituem a língua resulta de duas espécies de comparações;
as aproximações são ora associativas, ora sintagmáticas. Estes agrupamentos são estabelecidos pela língua. E é
esse conjunto de relações usuais que a constitui e que lhe preside o funcionamento.
A primeira coisa que chama atenção nessa organização são as suas solidariedades sintagmáticas, pois quase todas
as unidades da língua dependem seja do que as rodeia na cadeia falada, seja das partes sucessivas de que elas
próprias se compõem.
Via de regra, não falamos por signos isolados, mas por grupos de signos, que são eles próprios signos. Na língua,
tudo se reduz a diferenças, mas tudo se reduz, também, a agrupamentos.

2 – Funcionamento simultâneo de duas formas de agrupamento

Entre os agrupamentos sintáticos existe um vínculo de interdependência. A coordenação no espaço contribui para
criar coordenações associativas, e estas são necessárias para a análise das partes do sintagma.
Tomando por exemplo ‘desfazer’, podemos organizar a palavra na cadeia falada, e simultaneamente, por outro eixo,
existirão no subconsciente uma ou mais séries associativas compreendendo unidades que têm um elemento comum
com o sintagma.
É na medida em que estas outras formas flutuem ao redor de desfazer que a palavra pode ser decomposta em
subunidades: ou seja, construir um sintagma. Assim, desfazer não seria analisável se ‘des’ e ‘fazer’ não existissem
na língua.
Nossa memória associativa possui tipos de sintagmas dos mais simples aos mais complexos, e no momento de
emprega-los, fazemos intervir os grupos associativos para fixar nossa escolha.
Assim, nessa operação de eliminar mentalmente tudo quanto não conduza a diferenciação requerida no ponto
requerido, os agrupamentos associativos e os tipos de sintagmas estão ambos em jogo.
Inversamente, esse procedimento de fixação e escolha governa as mínimas unidades e até mesmo os elementos
fonológicos, quando estão revestidos de um valor.

3 – O arbitrário absoluto e o arbitrário relativo

O mecanismo da língua pode ser apresentado sob outro ângulo particularmente importante.
O princípio da arbitrariedade do signo não impede distinguir, em cada língua, o que é radicalmente arbitrário
(imotivado) do que é relativamente arbitrário (relativamente motivado).
Assim, ‘vinte’ é imotivado, mas ‘dezenove’ não o é no mesmo grau, porque evoca os termos dos quais se compõe e
outros que lhe são associados, com dez, nove, vinte e nove, setenta.
A motivação é tanto mais completa quanto a análise sintagmática seja mais fácil e o sentido das subunidades mais
evidente.
Portanto, a noção do relativamente motivado implica uma relação sintagmática e uma relação associativa.
Até aqui, as unidades não apareceram como valores, como os elementos de um sistema, e foram consideradas
sobretudo nas suas oposições; agora reconhecemos as solidariedades que as vinculam: são de ordem associativa e
sintagmática, e ambas limitam o arbitrário.
Tudo quanto se refira à língua quanto sistema exige que a abordemos do ponto de vista da limitação do arbitrário.
Em certo sentido, as línguas em que a imotivação atinge o máximo são mais lexicológicas, e aquelas em que se
reduz ao mínimo, mas gramaticais. Os exemplos mais extremos dos dois exemplos são, de um lado, o chinês, e do
outro, o indo-europeu e o sânscrito.

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