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1 Conceitos básicos 15
1.1 Definição e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2 Generalidades algébricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.2.1 Morfismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.2.2 Ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.2.3 Quocientes e teoremas de isomorfismo . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.2.4 Soma direta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.2.5 Extensão do corpo de escalares . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.3 Representações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.3.1 Representação adjunta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.3.2 Construções com representações . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.3.3 Decomposições de representações . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
1.3.4 Lema de Schur . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
1.4 Derivações e produtos semidiretos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.4.1 Derivações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.4.2 Produtos semidiretos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.5 Séries de composição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.5.1 Série derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.5.2 Série central descendente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
1.6 Álgebras solúveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
1.7 Álgebras nilpotentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
1.8 Radicais solúveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1.9 Álgebras simples e álgebras semi-simples . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
1.10 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3
4 CONTENTS
3 Critérios de Cartan 77
3.1 Derivações e suas decomposições de Jordan . . . . . . . . . . . . . . . . 77
3.2 Critérios de Cartan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.3 Aplicações às álgebras semi-simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
3.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
4 Subálgebras de Cartan 99
4.1 Subálgebras de Cartan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
4.2 A abordagem algébrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
4.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
5 Cohomologia 121
5.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
5.2 Interpretações de H1 e H2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
5.2.1 Existência de complementares e H1 . . . . . . . . . . . . . . . . 126
5.2.2 Extensões abelianas e H2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
5.2.3 Representações afins . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
5.3 Lemas de Whitehead . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
5.4 Teoremas de Weyl e Levi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
5.4.1 Teorema de decomposição de Weyl . . . . . . . . . . . . . . . . 135
5.4.2 Teorema de decomposição de Levi . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
5.5 Álgebras redutı́veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
5.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
8.4.2 E6 , E7 e E8 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 220
8.4.3 F4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226
8.5 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 229
Para
Nita,
Chica e
Zénesto
com carinho
FAVOR IGNORAR AS PÁGINAS ANTERIORES
AO PREFÁCIO. ELAS SERÃO IMPRESSAS PELO
OUTRO ARQUIVO PS
8 CONTENTS
Prefácio
O objetivo deste livro é oferecer um texto introdutório às álgebras de Lie. O mate-
rial apresentado fornece ao leitor os princı́pios fundamentais das álgebras de Lie de
dimensão finita, desde as primeiras noções até resultados profundos que envolvem a
classificação e as representações das álgebras semi-simples.
As álgebras de Lie formam o aparato básico do que é conhecido genericamente
por teoria de Lie. Essa teoria teve suas origens por volta de 1870 a partir da idéia,
aparentemente singela, de abordar as equações diferenciais sob o mesmo ponto de vista
que o adotado por Galois para equações algébricas. O programa, lançado por Sophus
Lie e Felix Klein, consistia em estudar as equações diferenciais via seus grupos de
simetrias. Esse programa colocou em evidência os grupos contı́nuos de transformações
para os quais foi criada, ao longo dos anos, uma extensa teoria com ramificações nas
mais diversas áreas da matemática e de suas aplicações.
A alavanca básica na criação desse vasto corpo do conhecimento matemático foi a
descoberta, feita por S. Lie, dos grupos infinitesimais ou – como se diz hoje em dia –
das álgebras de Lie. Os resultados pioneiros da teoria, que foram posteriormente deno-
minados de teoremas de Lie, estabelecem a relação entre os grupos de transformações
– denominados atualmente grupos de Lie – e as álgebras de Lie, através da aplicação
exponencial. Esses teoremas mostraram desde cedo uma das caracterı́sticas da teoria
de Lie que é a de contrapor os conceitos complementares de grupos e álgebras de Lie.
Os grupos de Lie têm uma natureza geométrica enquanto que as álgebras de Lie são
objetos algébricos por excelência.
Este livro considera apenas as álgebras de Lie. Virtualmente o único pré-requisito
necessário para sua leitura é a álgebra linear, tanto no que diz respeito à linguagem
quanto aos resultados preliminares. Boa parte dos argumentos se reduzem, em última
instância, a uma aplicação do teorema das formas canônicas de Jordan. Aliás, os
conceitos e resultados da teoria das álgebras de Lie de dimensão finita estendem os
da álgebra linear, formando uma continuação natural da mesma. Com o objetivo de
situar o leitor foi incluı́do, ao final do livro, um apêndice sobre álgebra linear, onde são
comentados os principais resultados e a terminologia utilizada ao longo do texto.
Os diferentes capı́tulos contêm uma introdução que descreve o seu conteúdo. É
conveniente, no entanto, fazer aqui um comentário sobre os mesmos. No capı́tulo 1 são
introduzidos os conceitos, a terminologia a ser usada ao longo de todo o texto. Sua
leitura é imprescindı́vel àqueles que se deparam com as álgebras de Lie pela primeira
vez. Este capı́tulo é recheado de exemplos: quase nenhum conceito é apresentado sem
ser acompanhado dos exemplos que melhor o representem. O capı́tulo 2 apresenta dois
11
12 Prefácio
resultados que remontam os primórdios da teoria das álgebras de Lie. Eles descrevem,
por alto, as álgebras nilpotentes e as álgebras solúveis como sendo – em essência –
álgebras de matrizes triangulares superiores. Esses são os teoremas de Engel e de Lie,
que aparecem de forma recorrente nos desenvolvimentos posteriores. Já o capı́tulo 3 é
dedicado aos critérios de Cartan. Esses critérios servem para decidir se uma álgebra de
Lie é solúvel ou semi-simples, em termos de uma forma bilinear na álgebra – a forma
de Cartan-Killing. Eles desempenharam um papel fundamental tanto nos trabalhos de
Elie Cartan de classificação das álgebras simples quanto nos trabalhos posteriores de
formalização da teoria. O conceito de subálgebra de Cartan é onipresente na teoria
das álgebras semi-simples. Esse conceito é introduzido no capı́tulo 4, cujo resultado
principal é o teorema que garante que duas subálgebras de Cartan arbitrárias são
conjugadas entre si por um automorfismo da álgebra. Esse resultado é demonstrado de
duas formas diferentes: uma delas, de natureza mais concreta, restrita a álgebras sobre
o corpo dos reais (ou complexos) e outra para corpos arbitrários. Nessas demonstrações
aparecem um dos poucos casos, ao longo de todo o texto, em que é necessário lançar
mão de recursos que extrapolam o contexto da álgebra linear. A demonstração, no
caso das álgebras reais, se utiliza do teorema das funções implı́citas; já o caso geral
requer resultados de geometria algébrica que generalizam, para funções polinomiais, o
teorema da função implı́cita. O capı́tulo 5 contém uma introdução à cohomologia das
álgebras de Lie. O termo introdução aqui deve ser tomado ao pé da letra, já que logo
após as definições o objetivo é dirigido à demonstração de dois teoremas que fazem
parte do folclore da teoria. São eles o teorema de Weyl sobre as representações das
álgebras semi-simples e o teorema de Levi que decompõe uma álgebra de Lie arbitrária
como soma direta de uma álgebra semi-simples e uma álgebra solúvel. Esses teoremas
são demonstrados a partir dos lemas de Whitehead sobre cohomologias de álgebras
semi-simples.
Com os cinco primeiros capı́tulos se conclui o trabalho árduo de fundamentação da
teoria das álgebras de Lie. A partir daı́, com o domı́nio da linguagem, o leitor pode
apreciar os seus valores estéticos. Os capı́tulos 6 e 7 apresentam o cerne de uma das
mais belas teorias em voga nos dias de hoje: a teoria de Killing e Cartan de classificação
das álgebras simples. Essa teoria tira o leitor, entre surpreso e atônito, de uma postura
abstrata e geral e o transporta a um mundo habitado por seres especiais como os
ângulos de 120◦ , 135◦ e 150◦ ou os números inteiros ±1, ±2 e ±3. Esses capı́tulos
são complementados pelo capı́tulo 8, onde, por um lado, se concluem alguns aspectos
formais da classificação e, por outro, são apresentadas as álgebras simples de forma
concreta. Essas se constituem das álgebras clássicas, que são realizadas como álgebras
de matrizes, e das álgebras excepcionais. O capı́tulo 9 é, em princı́pio, independente
das álgebras de Lie. São estudados aı́ certos grupos de transformações lineares gerados
por reflexões, os grupos de Weyl. No entanto, esses grupos proporcionam uma visão
panorâmica dos sistemas de raı́zes, em cima dos quais é feita a classificação das álgebras
simples. Além do mais, os grupos de Weyl aparecem como uma ferramenta importante
nos desenvolvimentos posteriores.
Os nove primeiros capı́tulos formam o corpo central da teoria das álgebras de Lie
de dimensão finita. A partir daı́ existem bifurcações e o leitor pode escolher o cami-
Prefácio 13
nho de acordo com seus interesses. Uma possibilidade é a teoria de representação das
álgebras semi-simples. Uma introdução a essa teoria é feita no capı́tulo 11 onde são
apresentados os teoremas sobre as representações com pesos máximos e são caracteri-
zadas as representações irredutı́veis de dimensão finita das álgebras semi-simples sobre
corpos algebricamente fechados. Essas representações são dadas por conjuntos finitos
de inteiros não-negativos e dentre elas são selecionadas algumas – ditas fundamentais
– a partir das quais se obtêm as demais representações via o produto tensorial. As re-
presentações fundamentais das álgebras clássicas são apresentadas com detalhes. Isso
exigiu que se fizesse uma discussão sobre as álgebras de Clifford, uma vez que algumas
das representações das álgebras das matrizes anti-simétricas são spinoriais. A teoria
de representação de álgebras semi-simples é imensa, sendo ainda hoje em dia um ob-
jeto de pesquisa. Nesse sentido, o conteúdo do capı́tulo 11 é apenas introdutório e
não discute assuntos relevantes como, por exemplo, os caráteres das representações de
dimensão finita. A leitura do capı́tulo 11 requer o teorema de Poincaré-Birkhoff-Witt
sobre álgebras universais envelopantes, que é o objetivo principal do capı́tulo 10. Nesse
capı́tulo foi incluı́do ainda o teorema de Ado sobre representações de dimensão finita
de álgebras de Lie.
Numa outra vertente, os capı́tulos 12 a 15 são dedicados às álgebras semi-simples
reais. O capı́tulo 12 contém as construções básicas tais como a das formas reais com-
pactas e a decomposição de Cartan de uma álgebra real não-compacta. O material
deste capı́tulo é suficiente para a leitura de boa parte dos textos que envolvem álgebras
semi-simples reais como, por exemplo, a literatura sobre espaços simétricos ou a es-
trutura dos grupos de Lie semi-simples não-compactos. Independente disso, o capı́tulo
12 abre caminho para a classificação das álgebras simples reais que é feita nos dois
capı́tulos subseqüentes. A abordagem adotada aqui para essa classificação, que não é
a mais comum na literatura do gênero, consiste em determinar os diagramas de Sa-
take, o que é feito no capı́tulo 13, com a classificação propriamente dita sendo feita
no capı́tulo 14. Por fim, o capı́tulo 15 é dedicado à representação das álgebras semi-
simples reais não-compactas. O que se faz aı́ não é uma classificação detalhada dessas
representações, mas apenas uma indicação de como essas representações são extraı́das
das representações das álgebras complexas correspondentes.
Os capı́tulos todos são acompanhados de listas de exercı́cios. A maioria deles são
resolvidos por uma aplicação direta dos resultados do texto e têm o propósito, como
em qualquer lista de exercı́cios, de auxiliar o leitor a desenvolver uma intuição sobre
o assunto. Alguns dos exercı́cios, porém, contêm resultados relevantes e interessantes,
que por uma razão ou outra não encontraram espaço no texto, mas foram incluı́dos
como exercı́cios para efeito de informação ao leitor. Muitos desses exercı́cios têm uma
demonstração envolvente e por isso eles aparecem com sugestões detalhadas ou com
uma referência à literatura.
Ao final de muitos capı́tulos foi incluı́da uma seção intitulada “Notas”, que contém
comentários adicionais sobre a teoria, principalmente de caráter histórico e bibliográ-
fico. Essas notas não têm pretensão à erudição e servem apenas para dar algumas
indicações dos caminhos (e descaminhos) percorridos no desenvolvimento da teoria.
O fato é que a história da teoria de Lie é amplamente documentada, com diversos
14 Prefácio
textos acessı́veis (veja, por exemplo, Borel [4], Cartan [5], Fritzsche [16], Hawkins [18]
e Wussing [49]); torna-se irresistı́vel reproduzir algumas de suas passagens.
As referências bibliográficas procuram fornecer um amplo espectro de textos e ar-
tigos de pesquisa sobre a teoria de Lie, não se restringindo às álgebras de Lie especifi-
camente. Ao percorrê-la o leitor encontrará referências aos grupos de Lie, aos grupos
algébricos, à teoria de representação (de dimensão finita ou infinita), à teoria de semi-
grupos de Lie e a aplicações da teoria de Lie.
Este livro foi escrito ao longo dos últimos quatro ou cinco anos. Durante esse perı́odo
tive a oportunidade de utilizar parte do material em cursos de pós-graduação no Insti-
tuto de Matemática (Imecc) da Unicamp, para estudantes de mestrado e doutorado.
Nesses cursos (semestrais) adotava como conteúdo mı́nimo os capı́tulos de 1 a 7 e parte
dos capı́tulos 8 (incluindo as álgebras clássicas) e 9; dependendo das circunstâncias,
apresentava uma exposição mais detalhada do capı́tulo 9 ou o capı́tulo 11 (incluindo os
pré-requisitos da seção 10.1) ou ainda o capı́tulo 12 sobre álgebras semi-simples reais.
Espero que esta experiência sirva como sugestão àqueles que pretendam utilizar este
texto em algum projeto didático envolvendo a teoria de Lie.
Por fim, gostaria de expressar meus agradecimentos às diversas pessoas que, de al-
guma forma, participaram da confecção deste livro, apresentando sugestões, apontando
diversas falhas nas versões preliminares e manifestando o seu apoio. Em particular,
sou grato a todos estudantes que participaram dos cursos de álgebras de Lie no Imecc.
Agradeço em especial à colaboração de meus amigos e colegas Carlos Braga Barros,
José Adonai Seixas, Marco Antonio Fernandes, Marcelo Firer, Osvaldo do Rocio, Paulo
Ruffino e Pedro Catuogno.
Barão Geraldo
fevereiro, 1999
Luiz A. B. San Martin
Chapter 1
Conceitos básicos
Este é um capı́tulo introdutório, formado em sua maior parte pelas definições dos
conceitos que formam a linguagem básica da teoria das álgebras de Lie. Esses con-
ceitos são fartamente ilustrados por exemplos que devem servir de guia na leitura dos
capı́tulos subseqüentes. Os resultados (proposições, teoremas etc.) incluı́dos aqui não
têm um caráter profundo e servem, em sua maioria, para dar continuidade à exposição
e articular entre si os diferentes conceitos.
[ , ] : g × g −→ g
1. é bilinear,
Esta igualdade pode ser reescrita alternativamente de uma das duas formas
15
16 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
Existem razões especiais para escrever a identidade de Jacobi nestas formas; veja
a seguir representações adjuntas e derivações de álgebras de Lie.
Em geral, uma álgebra é um espaço vetorial g munido de um produto, isto é, uma
aplicação de g × g a valores em g. Qualquer aplicação deste tipo que mereça o nome de
produto deve ser bilinear. A anti-simetria e a identidade de Jacobi são caracterı́sticas
das álgebras de Lie. Outros tipos de álgebras têm outros tipos de propriedades que
a definem. Existem por exemplo as álgebras associativas, para as quais a propriedade
adicional é x(yz) = (xy)z. Aqui convém observar que o colchete de Lie não é, em geral,
associativo, pois em qualquer circunstância [[X, X], Y ] = 0 e no entanto [X, [X, Y ]] nem
sempre se anula.
Existe uma grande variedade de exemplos de álgebras de Lie, todos eles interessan-
tes, desde o ponto de vista da teoria em si como das aplicações desta teoria aos grupos
de Lie. Antes de ver alguns destes exemplos, no entanto, é conveniente introduzir a
noção, óbvia, de subálgebra de Lie.
Definição 1.2 Seja g uma álgebra de Lie. Uma subálgebra de g é um subespaço veto-
rial h de g que é fechado pelo colchete, isto é, [X, Y ] ∈ h se X, Y ∈ h.
Evidentemente, uma subálgebra de Lie é uma álgebra de Lie com a estrutura her-
dada pela estrutura de g.
Exemplos: A maioria dos exemplos que serão apresentados aqui são de subálgebras
da álgebra de Lie das transformações lineares. Por isso, o primeiro exemplo deve ser:
1. gl(n, K): o espaço de todas as transformações lineares de um espaço vetorial de
dimensão n sobre o corpo K que é o mesmo que o espaço das matrizes n × n com
coeficientes em K. O colchete é dado por
[X, Y ] = XY − Y X
com X e Y matrizes. Estas álgebras aparecerão adiante com bastante freqüência.
Muitas vezes elas serão indicadas por gl(n) apenas, sem especificar o corpo
quando este não for relevante. Da mesma forma, a álgebra das transformações
lineares de um espaço vetorial V será denotada por gl(V ).
Este exemplo se estende para espaços de transformações lineares de espaços ve-
toriais que não são de dimensão finita, com o colchete dado da mesma forma pelo
comutador. Um exemplo mais geral ainda é formado pela seguinte família de
álgebras de Lie.
2. Álgebras de Lie provenientes de álgebras associativas: Seja A uma álgebra asso-
ciativa e em A defina o colchete pelo comutador
[x, y] = xy − yx x, y ∈ A.
Para ver que este subespaço é uma subálgebra, procede-se como no exemplo
anterior, utilizando o fato de que J 2 = 1 e, portanto, que X ∈ so (p, q, K) se
e só se X t = −JXJ. Os casos p = 0 ou q = 0 se reduzem a so (n).
t
(g) u (n) = {X ∈ gl(n, C) : X + X = 0} onde X é a matriz obtida de X por
conjugação de suas entradas.
Este conjunto não é um subespaço vetorial complexo de gl (n, C) (por exem-
t t
plo, iX + (iX) = iX − iX , que em geral é não-nulo). Mas é subespaço
vetorial real de gl(n, C) quando este é considerado como espaço vetorial so-
bre R. u(n) é álgebra de Lie sobre o corpo dos reais (não é difícil verificar
que é fechado pelo colchete). Ela é denominada de álgebra unitária por ser
a álgebra de Lie do grupo das matrizes unitárias.
(h) su(n) = {X ∈ u(n) : tr X = 0}.
5. Álgebras de dimensão ≤ 2 :
[X, Y ] = Y
1.2. GENERALIDADES ALGÉBRICAS 19
[X 00 , Y 00 ] = αY 00
1.2.1 Morfismos
Definição 1.3 Uma transformação linear ψ : g → h (com g e h álgebras de Lie) é um
• automorfismo se é um isomorfismo e g = h.
Exemplos:
3. A aplicação traço
tr : gl(n, K) −→ K
é um homomorfismo, pois tr(XY − Y X) = 0 para quaisquer transformações
lineares X, Y e, portanto, tr[X, Y ] = 0 = [tr X, tr Y ], já que K, por ser de
dimensão um, é uma álgebra abeliana.
4. Seja P uma transformação linear inversível do espaço vetorial V . Então, a con-
jugação por P
A ∈ gl(V ) 7−→ P AP −1 ∈ gl(V )
é um automorfismo de gl(V ). 2
Uma forma de verificar que álgebras de Lie de dimensão finita são isomorfas é
através do colchete entre elementos de suas bases. Seja g uma álgebra de Lie e
{X1 , . . . , Xn } uma base de g. Tomando dois elementos Xi , Xj desta base, o colchete
entre eles [Xi , Xj ] pode ser escrito como combinação linear
X
[Xi , Xj ] = ckij Xk .
k
1.2.2 Ideais
Definição 1.4 Um subespaço h ⊂ g é um ideal se
∀Y ∈ h, X ∈ g, [X, Y ] ∈ h,
isto é,
[g, h] = ger{[X, Y ] : X ∈ g, Y ∈ h} ⊂ h.
h1 h2 h1 + h2 h 1 ∩ h2
ideal ideal ideal ideal
subálgebra ideal subálgebra subálgebra
subálgebra subálgebra ? subálgebra
Para verificar essa tabela, basta recorrer às definições. O sinal ? significa que a soma
de duas subálgebras não é, em geral, uma subálgebra. Uma situação tı́pica é a soma
de dois subespaços unidimensionais. Cada um deles é uma subálgebra e, no entanto,
o colchete entre eles pode sair do subespaço de dimensão dois que os contém.
Por
1 0 1
exemplo, sejam h1 e h2 os subespaços de sl(2, R) gerados por e
−1 1 0
respectivamente. Como
1 0 1 0 2
[ , ]= ,
−1 1 0 −2 0
h1 + h2 não é subálgebra.
Seja ψ : g → h um homomorfismo. As seguintes afirmações são de verificação
imediata
• ker ψ é um ideal.
• im ψ é uma subálgebra.
22 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
π : g −→ g/h
X 7−→ X
Teoremas de isomorfismo:
g/ ker ψ ≈ im ψ.
x1 + x2 ∈ h1 + h2 7→ x̄2 ∈ h2 /h1 ∩ h2 .
Exemplos:
g = h1 + h2
2. O subconjunto
z = {a1 ∈ gl(n, K) : a ∈ K}
é um ideal de gl(n, K) pois a identidade comuta com todas as transformações
lineares. Além do mais, gl(n, K) = z ⊕ sl(n, K) e da
3. Sejam
0 ∗ ∗
g = {X ∈ gl(3, K) : X = 0 0 ∗ }
0 0 0
e
0 0 ∗
h = {X ∈ gl(3, K) : X = 0 0 }.
0
h é ideal de g pois para todo X ∈ h, Y ∈ g, [X, Y ] = 0. O quociente g/h é uma
álgebra abeliana bidimensional pois dados X, Y ∈ g, [X, Y ] ∈ h. A álgebra g é
conhecida como álgebra de Heisenberg. 2
Exemplos:
24 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
P
1. gl (n, C) é (isomorfo a) gl (n, R)C pois X ∈ gl(n, C) é da forma X = aj Xj , Xj ∈
gl(n, R), aj ∈ C. O mesmo ocorre com os demais exemplos 1.1 (exceto u (n) e
su (n)); o complexificado das álgebras obtidas com K = R é, em cada um dos
casos, a mesma álgebra, mas com K = C.
2. Seja u(n) a álgebra unitária, que é uma álgebra de Lie sobre R. Então, u (n)C é
isomorfa a gl(n, C). De fato, X ∈ gl (n, C) pode ser escrito como X = A + B com
A e B matrizes complexas e A anti-simétrica (At = −A) e B simétrica (B t = B)
(tome A = (X − X t )/2 e B t
√ = (X + X )/2). Tem-se A = A1 + iA2 com A1 e A2
anti-simétricas reais (i = −1). Da mesma forma, B = B1 + iB2 com B1 e B2
simétricas reais. Como matrizes do tipo A+iB com A e B reais, A anti-simétrica
e B simétrica pertencem a u(n), qualquer elemento de gl(n, C) pode ser escrito
como Z + iW com Z, W ∈ u(n), e daı́ a afirmação. 2
1.3 Representações
Seja V um espaço vetorial e gl(V ) a álgebra de Lie das transformações lineares de V .
Seja também g uma álgebra de Lie (sobre o mesmo corpo de escalares que V ). Uma
representação de g em V é um homomorfismo
ρ : g −→ gl(V ).
Exemplos:
2. Seja g a álgebra de Lie de dimensão dois não-abeliana e tome uma base {X, Y }
de g tal que [X, Y ] = Y . A única transformação linear ρ : g → gl(n, K) que
satisfaz
1/2 0 0 1
ρ(X) = ρ(Y ) =
0 −1/2 0 0
1.3. REPRESENTAÇÕES 25
3. A aplicação
2a −2b 0
a b
∈ sl(2, K) 7−→ −c 0 b ∈ gl(3, K)
c −a
0 2c −2a
As imagens dos elementos desta base formam uma base de im ρ que tem as
mesmas constantes de estrutura.
1. (X + Y ) v = Xv + Y v,
2. X (u + v) = Xu + Xv,
3. xXv = X (xv),
4. [X, Y ]v = XY v − Y Xv.
26 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
ad(X) : g −→ g
para todo Z ∈ g. Esta expressão é exatamente uma das formas da identidade de Jacobi
apresentada na definição de álgebras de Lie.
O núcleo da representação adjunta é denominado de centro de g e é denotado por
z (g):
z (g) = {X ∈ g : ad(X)(Y ) = [X, Y ] = 0 para todo Y ∈ g}.
Isto é, o centro de uma álgebra de Lie é o conjunto de seus elementos que comutam
com todos os seus elementos. A terminologia aqui segue a da teoria de grupos como
toda a terminologia da teoria de álgebras de Lie. Evidentemente, z (g) é um ideal de g.
De forma mais geral, o centralizador de um subconjunto A ⊂ g é definido como
sendo
z(A) = {Y ∈ g : ∀X ∈ A, [X, Y ] = 0}.
É claro, o centralizador de g é o próprio centro (e, portanto, a notação é consis-
tente). Por outro lado, o centralizador de um conjunto unitário {X} é precisamente
o núcleo ker ad(X). Além do mais, o centralizador do conjunto A é a intersecção dos
centralizadores de seus elementos, o que acarreta que o centralizador decresce com o
aumento do conjunto.
1.3. REPRESENTAÇÕES 27
Exemplos:
1. A representação adjunta de uma álgebra abeliana g é trivial, isto é, para todo
X ∈ g, ad(X) = 0.
2. A representação do exemplo 3 da página 25 é a representação adjunta de sl(2, K);
as matrizes de ad(X), ad(H) e ad(Y ) na base {X, H, Y } são, respectivamente,
0 −2 0 2 0 0 0 0 0
0 0 1 0 0 0 −1 0 0 .
0 0 0 0 0 −2 0 2 0
3. Seja
0 ∗ ∗
g = {X ∈ gl(3, K) : X = 0 0 ∗ }
0 0 0
a álgebra de Heisenberg. Tome a base {X, Y, Z} com
0 1 0 0 0 0 0 0 1
X= 0 0 0 Y = 0 0 1 Z = 0 0 0 .
0 0 0 0 0 0 0 0 0
Suas constantes de estrutura são dadas por [X, Y ] = Z e os outros colchetes são
todos nulos. Da
4. Sejam g a álgebra não-abeliana bidimensional e {X, Y } uma base de g tal que
[X, Y ] = Y . Nesta base, as matrizes de ad(X) e ad(Y ) são
0 0 0 0
[ad(X)] = [ad(Y )] = .
0 1 −1 0
A representação adjunta é dada, portanto, por
0 0
[ad(aX + bY )] =
−b a
que é, sem dúvida, uma representação fiel, isto é, o centro desta álgebra é trivial.
28 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
5. Em gl (n, K) seja Eij a matriz cuja i, j-ésima entrada é 1 e as demais são todas
nulas. Seja H a matriz diagonal
H = diag{λ1 , . . . , λn }.
Então, ad(H)Eij = (λi −λj )Eij . Como {Eij }i,j=1,...,n forma uma base de gl(n, K),
ad(H) é diagonalizável e os seus autovalores são λi −λj , i, j = 1, . . . , n, associados
aos autovetores Eij respectivamente. O centralizador de H contém a subálgebra
das matrizes diagonais e coincide com essa subálgebra se e só se λi 6= λj para
todo i 6= j. 2
ρ : g −→ gl(V1 ⊗ · · · ⊗ Vn )
1.3. REPRESENTAÇÕES 29
por
ρ(X) = ρ1 (X) ⊗ 1 ⊗ · · · ⊗ 1 + ··· + 1 ⊗ · · · ⊗ ρn (X) (1.2)
onde 1 representa a identidade em cada um dos espaços. Então, como pode ser
verificado diretamente a partir das definições, ρ define uma representação de g em
V1 ⊗ · · · ⊗ Vn . Este é o produto tensorial das representações.
No caso particular em que n = 2 o produto tensorial é
Vale a pena observar que a aplicação ρ(X) = ρ1 (X) ⊗ ρ2 (X) não define uma re-
presentação já que não é linear. A motivação para definir o produto tensorial de
representações como acima vem do produto tensorial de representações de grupos de
Lie. A idéia é que se ρ1 , . . . , ρn são representações de um grupo, então, o produto
tensorial ρ1 (g) ⊗ · · · ⊗ ρn (g) ainda é uma representação do grupo. Por outro lado,
uma representação de um grupo de Lie induz uma representação de sua álgebra de Lie
por intermédio de derivadas da forma d/dt (ρ(exp tX))t=0 . Como a derivada de um
produto é a soma das derivadas de cada parcela, a representação da álgebra fica sendo
uma soma como em (1.2).
A representação ρ definida aqui será denotada por ρ1 ⊗ · · · ⊗ ρn . Essa notação,
apesar de permitir uma interpretação equivocada, é mais compacta que a notação ao
pé da letra
ρ1 ⊗ · · · ⊗ 1 + · · · + 1 ⊗ · · · ⊗ ρn ,
e não deve gerar confusão se fica claro que se trata de representações de álgebras de
Lie.
Representações duais
Dada uma representação ρ de g em V , pode-se tomar a representação ρ∗ de g no dual
V ∗ de V dada pela fórmula
ρ∗ (X)(λ) = −λ ◦ ρ(X) λ ∈ V ∗.
A verificação de que ρ∗ definida desta forma é, de fato, uma representação, é ime-
diata. O sinal negativo que aparece nessa definição é necessário para que os colchetes
apareçam na ordem certa.
A representação ad∗ em g∗ dual da representação adjunta é denominada repre-
sentação co-adjunta.
Restrições de representações
Seja ρ uma representação de g em V e suponha que W seja um subespaço invariante
por ρ, isto é,
∀X ∈ g, ρ(X)W ⊂ W.
A aplicação
ρ|W : X ∈ g 7−→ ρ(X)|W ∈ gl(W )
30 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
Quocientes de representações
Seja ρ uma representação de g em V e W ⊂ V um subespaço invariante pela repre-
sentação. A aplicação
ρ̄W : g −→ gl(V /W )
definida por X 7→ ρ(X) é uma representação. Aqui, ρ(X) : V /W → V /W é a única
transformação linear que comuta o diagrama
ρ(X)-
V V
π π
?ρ(X)- ?
V /W V /W
Exemplos:
2. Seja
0 a c
g = {(a, b, c) = 0 0 b : a, b, c ∈ K}
0 0 0
a álgebra de Heisenberg e ρ a representação em K3 dada pela inclusão. Se
{e1 , e2 , e3 } denota a base canônica de K3 , os subespaços W1 e W2 gerados por
{e1 } e {e1 , e2 }, respectivamente, são invariantes por ρ.
Restrições:
(a) ρ|W = 0
1
(b) ρ|W avaliado em (a, b, c) é a transformação linear que tem por matriz
2
0 a
na base {e1 , e2 }.
0 0
Quocientes:
0 b
(a) ρ̄W1 avaliado em (a, b, c) tem por matriz na base {ē2 , ē3 }.
0 0
(b) ρ̄W2 = 0.
V = V1 ⊕ · · · ⊕ Vn
V = W ⊕ W1 .
W 0 ⊕ W1 ⊂ V
V = (W 0 ⊕ W1 ) ⊕ W2 .
W = ((W1 ⊕ W2 ) ∩ W ) ⊕ W 0 . (1.3)
1.3. REPRESENTAÇÕES 33
x = x1 + x2 + x3
V = V1 ⊕ · · · ⊕ Vn
W = V1 ⊕ (W ∩ (V2 ⊕ · · · ⊕ Vn )).
W = V1 + W ∩ (V2 ⊕ · · · ⊕ Vn ).
Esta soma é direta pois V1 ∩(V2 ⊕· · ·⊕Vn ) = 0. Usando agora o passo de indução,
existe W 0 tal que
V2 ⊕ · · · ⊕ Vn = (W ∩ (V2 ⊕ · · · ⊕ Vn )) ⊕ W 0
V = (W ⊕ V1 ) ⊕ W 0 ,
Exemplos:
em K3 não é irredutı́vel, pois os subespaços gerados por {e1 } e por {e1 , e2 } são
invariantes. Não é também completamente redutı́vel já que he1 i, que é subespaço
invariante, não admite complementar invariante. Isto é conseqüência de que para
todo x ∈ K3 − he1 i,
0 1 1
0 0 0 x ∈ he1 i − {0}.
0 0 0
2. Existe uma classe de álgebras de Lie (as semi-simples) para as quais todas as re-
presentações de dimensão finita são completamente redutı́veis (essa é a afirmação
do teorema de Weyl, que será discutido com detalhes no capı́tulo 5). Para essa
classe de álgebras, pode-se classificar, a menos de isomorfismo, suas represen-
tações de dimensão finita. O que, aliás, é feito classificando as representações
irredutı́veis.
g = {X ∈ gl(n, K) : X é diagonal}.
x = x1 + · · · + xn com xi ∈ Vi .
De forma mais geral, uma derivação de uma álgebra é uma transformação linear
que satisfaz a regra de Leibniz de derivada de um produto D(xy) = D(x)y + xD(y).
Um tipo de derivação que aparece com freqüência na teoria são as adjuntas dos
elementos de g. Uma das formas da identidade de Jacobi apresentada no inı́cio mostra
que
ad(X)[Y, Z] = [X, [Y, Z]] = [[X, Y ], Z] + [Y, [X, Z]]
ou
ad(X)[Y, Z] = [ad(X)Y, Z] + [Y, ad(X)Z],
isto é, ad(X) é uma derivação. Derivações deste tipo são denominadas de deriva-
ções internas. O conjunto destas derivações coincide com a imagem da representação
adjunta. O espaço das derivações internas é, portanto, uma subálgebra de gl(g). Não é
difı́cil verificar que o espaço de todas as derivações também é uma subálgebra de gl (g).
Nem toda derivação é interna. Um exemplo trivial é o caso das álgebras abelianas
em que toda transformação linear é uma derivação e, no entanto, existe uma única
interna, que é a transformação identicamente nula. No outro extremo, nas álgebras
semi-simples, toda derivação é interna, como será visto adiante.
A proposição seguinte é útil, tanto para esclarecer a idéia subjacente ao conceito
de derivação, quanto em diversas situações da teoria.
Proposição 1.10 Seja g uma álgebra de Lie real de dimensão finita e D : g → g uma
transformação linear. Então, D é uma derivação se e só se para todo t ∈ R, etD é
automorfismo de g.
Demonstração: Suponha que para todo real t, etD seja automorfismo, isto é,
isto é, D é derivação. Por outro lado, assumindo que D é derivação, sejam as curvas
em g dadas por
α(t) = etD [X, Y ]
β(t) = [etD X, etD Y ].
Tem-se α(0) = [X, Y ] = β(0),
e
β 0 (t) = [DetD X, etD Y ] + [etD X, DetD Y ] = D[etD X, etD Y ] = Dβ(t),
pois D é derivação. Portanto, α e β satisfazem a mesma equação diferencial linear e
têm as mesmas condições iniciais e daı́ que α = β. 2
Exemplos:
1. Como já foi mencionado, toda transformação linear de uma álgebra abeliana é
uma derivação.
2. Seja g a álgebra não-abeliana bidimensional e {X, Y } uma base tal que [X, Y ] =
Y. Seja D : g → g linear que nesta base se escreve como
a c
D= .
b d
é equivalente a
Essas matrizes têm a mesma forma que as matrizes que aparecem na representa-
ção adjunta de g (veja o exemplo 4 da página 27). Portanto, toda derivação de
g é uma derivação interna. 2
38 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
[(X1 , Y1 ), (X2 , Y2 )] = ([X1 , X2 ], ρ(X1 )Y2 − ρ(X2 )Y1 + [Y1 , Y2 ]). (1.5)
Com esse colchete, g × h é uma álgebra de Lie que se decompõe em soma direta
g × h = (g × 0) ⊕ (0 × h)
A notação para o produto semidireto é g×s h ou g×ρ h. Essa última notação é usada
quando se deseja ressaltar a representação que define o produto semidireto. Qualquer
uma das notações distingue g de h, já que o papel que essas álgebras desempenham no
produto semidireto são distintos.
O produto direto de duas álgebras pode ser visto como um caso particular de um
produto semidireto. Para isto, basta tomar a representação nula de g em h. Nesse
caso, g passa a ser um ideal do produto e não apenas uma subálgebra como ocorre com
o produto semidireto em geral. Aliás, um produto semidireto é um produto direto se
e só se g (ou mais precisamente g × 0) é um ideal de g ×s h e, é claro, nesse caso ρ é
a representação identicamente nula. Esse fato pode ser verificado diretamente a partir
de (1.5), que define o produto semidireto, ou usando o fato de que se dois ideais i1 e i2
de uma álgebra satisfazem i1 ∩ i2 = 0, então [X, Y ] = 0 para X ∈ i1 e Y ∈ i2 , já que o
colchete está tanto em i1 quanto em i2 .
1.5. SÉRIES DE COMPOSIÇÃO 39
{[X, Y ] : X ∈ A, Y ∈ B}.
g(0) = g
g0 = [g, g]
..
.
g(k) = [g(k−1) , g(k−1) ].
e esta última soma está em g(k) , pois cada fator dos colchetes está em g(k−1) . Portanto,
g(k) é ideal. 2
Exemplos:
1. g é abeliana se e só se g0 = 0.
0 ∗ ∗ 0 0 ∗
2. g = { 0 0 ∗ }; g0 = { 0 0 0 }; g00 = {0} e g(k) = {0} se k ≥ 2.
0 0 0 0 0 0
3. Seja g a álgebra das matrizes triangulares superiores com zeros na diagonal
0 ··· ∗
.. . . .. }.
g = { . . .
0 · · · 0 n×n
Então,
[H, X] = 2X [H, Y ] = −2Y [X, Y ] = H
e, portanto, X, H, Y ∈ g0 e como {X, H, Y } é uma base de g, g0 = g. A mesma
afirmação vale para sl(2, K) desde que K seja um corpo de caracterı́stica diferente
de dois. Se a caracterı́stica é dois, g0 é o subespaço gerado por H e, portanto,
g00 = {0}.
8. Seja g = gl(2, K). Como tr(XY − Y X) = 0, g0 ⊂ sl(2, K). Pelo exemplo anterior,
g0 = sl(2, K) e daı́ que g(k) = sl(2, K) para k ≥ 2.
9. Os dois exemplos anteriores se generalizam completamente: tanto se g é sl(n, K)
ou gl(n, K), g0 = sl(n, K). Para ver isso, use a base dada pelas matrizes Eij cuja
i, j-ésima entrada é 1 e as demais são nulas. O produto de duas dessas matrizes é
dado por Eij Ers = δ jr Eis . Usando esse produto, é possı́vel proceder como no caso
em que n = 2, substituindo X, H e Y por Eij , Eii − Ejj e Eji , respectivamente.
10. A álgebra g = so(3) também satisfaz g(k) = g para todo k ≥ 0. De fato, a base
{i, j, k} dada por
0 0 0 0 0 1 0 −1 0
i= 0 0 −1 j= 0 0 0 k= 1 0 0
0 1 0 −1 0 0 0 0 0
satisfaz [i, j] = k, [j, k] = i, [k, i] = j e, portanto, está contida em g0 . 2
As observações sobre a série derivada, contidas nas seguintes proposições, são uti-
lizadas freqüentemente.
Proposição 1.13 O quociente g(k−1) /g(k) é uma álgebra abeliana.
De fato, para todo X, Y ∈ g(k−1) , [X, Y ] ∈ g(k) .
Proposição 1.14 Seja g álgebra de Lie e h ideal. Seja também π : g → g/h o homo-
morfismo canônico. Então,
π g(k) = (g/h)(k)
g1 = g
g2 = [g, g] = g0
..
.
gk = [g, gk−1 ].
1.5. SÉRIES DE COMPOSIÇÃO 43
(por exemplo:
produto de dois elementos : [X, Y ]
produto de três elementos : [X, [Y, Z]]
produto de quatro elementos: [[X, Y ], [Z, W ]] ou [X, [Y, [Z, W ]]])
Demonstração:
g1 = g ⊃ g2 ⊃ · · · ⊃ gk ⊃ · · ·
Exemplos:
0 ∗ ∗ 0 0 ∗
1. g = g1 = { 0 0 ∗ }; g2 = { 0 0 0 }; g3 = 0, assim como gk para
0 0 0 0 0 0
k ≥ 3.
44 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
∗ ∗ ∗ 0 ∗ ∗
2. g = { 0 ∗ ∗ }; g1 = { 0 0 ∗ }; gk = g2 se k ≥ 3.
0 0 ∗ 0 0 0
3. Para a álgebra não-abeliana g de dimensão dois, com base {X, Y } com [X, Y ] =
Y , gk é o subespaço gerado por Y para todo k ≥ 2.
a ∗ ∗ 0 ∗ ∗ 0 0 ∗
4. g = { 0 a ∗ }; g2 = { 0 0 ∗ }; g3 = { 0 0 0 } e gk = 0 para
0 0 a 0 0 0 0 0 0
todo k ≥ 4. 2
Assim como para a série derivada, os quocientes sucessivos dos elementos da série
central descendente são abelianos e a série central descendente da imagem sobrejetora
de uma álgebra coincide com a imagem da série central descendente da álgebra. Estes
fatos estão contidos nas proposições seguintes. Suas demonstrações são semelhantes às
correspondentes para a série derivada.
π(gk ) = (g/h)k .
A afirmação seguinte fornece uma comparação entre a série derivada e a série central
descendente.
Proposição 1.19 A série derivada decresce mais rápido que a série central descen-
dente:
g(k) ⊂ gk+1
Exemplos:
1. As álgebras abelianas são solúveis, pois para essa classe de álgebras g0 = 0.
são solúveis. Aliás, este é o exemplo tı́pico de álgebra solúvel. Como será visto
adiante (teorema de Lie), toda álgebra de Lie solúvel de transformações lineares,
de dimensão finita, sobre um corpo algebricamente fechado é uma subálgebra de
matrizes triangulares superiores.
4. As álgebras sl(n) não são solúveis pois suas álgebras derivadas coincidem com
elas mesmas. 2
Evidentemente, a álgebra derivada de uma álgebra solúvel está contida propria-
mente na álgebra.
Subálgebras e imagens homomórficas de álgebras solúveis são também solúveis.
Esta afirmação está garantida pela proposição seguinte.
Demonstração:
1. As álgebras derivadas sucessivas de h estão contidas nas correspondentes álgebras
derivadas de g. Portanto, h é solúvel se g o for.
Proposição 1.22 Seja g uma álgebra de Lie e h ⊂ g um ideal. Suponha que tanto h
quanto g/h sejam solúveis. Então, g é solúvel.
46 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
Demonstração: Seja k1 tal que (g/h)(k1 ) = {0}. Por π(g(k) ) = (g/h)(k) , tem-se que
π(g(k1 ) ) = 0. Isto significa que g(k1 ) ⊂ h. Como h é solúvel, existe k2 tal que h(k2 ) = {0}.
Daı́ que
g(k1 +k2 ) = (g(k1 ) )(k2 ) ⊂ h(k2 ) = {0}.
Portanto, g é solúvel. 2
gk0 = {0}
Exemplos:
não é nilpotente. 2
De fato, seja k tal que gk 6= 0 e gk+1 = 0. Então, gk ⊂ z(g), pois [g, gk ] = gk+1 = 0.
No entanto, o centro de uma álgebra solúvel pode se anular (exemplo: a álgebra
não abeliana bidimensional).
Outra diferença entre as álgebras nilpotentes e as solúveis está na possibilidade de
reconstruir a propriedade de solubilidade a partir de um quociente e do núcleo desse
quociente. O mesmo não ocorre com as álgebras nilpotentes: Se h ⊂ g é ideal e
ambos h e g/h são nilpotentes, então g é solúvel mas não necessariamente nilpotente.
Um exemplo é novamente a álgebra não-abeliana bidimensional com [X, Y ] = Y . O
subespaço h gerado por Y é ideal e é nilpotente por ser de dimensão um. O mesmo
ocorre com g/h. A álgebra não é, no entanto, nilpotente.
Sejam g uma álgebra de Lie sobre K e K uma extensão de K. Como gnK e gnK são
gerados por produtos de n elementos de g, vale a igualdade
(gn )K = (gK )n .
Se g é uma álgebra nilpotente, existe um inteiro k tal que todos os colchetes envol-
vendo k elementos de g se anulam. Em particular,
[X, . . . , [X, Y ] . . .] = 0
Como h1 é solúvel, h1 /h1 ∩ h2 é solúvel e daı́ que (h1 + h2 )/h2 é solúvel. Como h2 é
solúvel, h1 + h2 é solúvel pela proposição 1.22. 2
Nesta proposição, a hipótese de g ser de dimensão finita não é essencial. Ela foi colo-
cada aı́ só para facilitar o argumento da demonstração. Em geral, pode-se aplicar algum
princı́pio de maximalidade, ao invés do argumento da maximalidade da dimensão, e
chegar ao mesmo resultado.
Exemplos:
1. g é solúvel se e só se r(g) = g.
1.9. ÁLGEBRAS SIMPLES E ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES 49
2. O radical de gl(2, R) é
a
r(g) = z = { : a ∈ R}.
a
3. Em geral, o radical solúvel de gl(n, R) é o seu centro, que por sua vez, consiste
dos múltiplos da identidade, isto é, das matrizes escalares. 2
Assim como no caso solúvel, é possı́vel considerar também o radical nilpotente de
uma álgebra de Lie. Esse é um ideal que contém todos os ideais nilpotentes da álgebra.
A demonstração de sua existência, no entanto, requer o teorema de Lie. Por isso, a
discussão sobre os radicais nilpotentes foi colocada ao final do capı́tulo 2.
r(g) = 0
2. dim g 6= 1
O que se deseja chamar de simples são as álgebras que não possuem ideais além dos
triviais. Nesse sentido, as álgebras de dimensão 1 não possuem ideais. Essas não são,
no entanto, consideradas simples, essencialmente para que exista compatibilidade entre
os conceitos de álgebras simples e semi-simples. Como é imediato a partir da definição,
as álgebras unidimensionais não são semi-simples. Porém, as demais álgebras que não
possuem ideais próprios são semi-simples. De fato, seja g uma álgebra que não possui
ideais não-triviais. Como r (g) é um ideal, ele deve ser 0 ou g. No primeiro caso, g é
semi-simples como se pretende. O segundo caso não pode ocorrer se dim g ≥ 2. Isso
porque se r(g) = g então g é solúvel e, portanto, g0 6= g. Como g0 também é um ideal,
50 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
g0 = 0, isto é, g é abeliana. Mas isso é impossı́vel se dim g ≥ 2, pois todo subespaço
de uma álgebra abeliana é um ideal. Em outras palavras, as álgebras simples são
semi-simples.
Por outro lado, toda álgebra semi-simples é um produto direto de álgebras simples.
Isso é conseqüência de um dos critérios de Cartan, e será discutido no capı́tulo 3.
Exemplos:
1. sl(2, R) é simples. Para uma verificação direta, sejam
0 1 1 0 0
X= H= Y = .
0 0 −1 1 0
Os colchetes entre esses elementos são dados por [H, X] = 2X, [H, Y ] = −2Y e
[X, Y ] = H. Tome Z = aX + bH + cY . Então,
Proposição 1.33 Sejam g uma álgebra de Lie que não é solúvel e h ⊂ g um ideal
solúvel. Então, g/h é semi-simples se e só se h = r(g).
Esta proposição sugere que uma álgebra de Lie arbitrária possa ser decomposta
como a soma de álgebras, uma solúvel (radical) e outra semi-simples isomorfa ao quo-
ciente g/r (g). Uma decomposição deste tipo é possı́vel para quocientes de espaços
vetoriais de dimensão finita pois todo subespaço admite um subespaço complementar.
Nem sempre é possı́vel, no entanto, complementar um ideal de uma álgebra de Lie por
uma subálgebra (veja o exemplo abaixo). Porém, no caso em que o ideal é o radical de
uma álgebra de dimensão finita, é possı́vel mostrar a existência de uma subálgebra que
o complementa. Esta subálgebra é necessariamente semi-simples por ser isomorfa ao
quociente. Este é o enunciado do teorema de Levi, cuja demonstração, aliás bastante
envolvente, será feita no capı́tulo 5.
Exemplo: Sejam
0 ∗ ∗ 0 0 ∗
g = { 0 0 ∗ } e h = { 0 0 0 }.
0 0 0 0 0 0
W 1 = a1 X + b 1 Y + c 1 Z W2 = a2 X + b2 Y + c2 Z,
[W1 , W2 ] = (a1 b2 − a2 b1 )Z ∈
/ h1
Notas
As álgebras de Lie surgiram com Sophus Lie na década de 1870, dentro de seu programa
de estender, às equações diferenciais, a teoria de Galois para equações algébricas. A idéia –
52 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
devida a S. Lie – de olhar os grupos de transformações como sendo constituı́dos por grupos a
um parâmetro, obtidos por soluções de equações diferenciais ordinárias, foi crucial como ponto
de partida e para o desenvolvimento da imensa teoria construı́da desde então. As álgebras
de Lie aparecem como objetos infinitesimais associados aos grupos de transformações com o
colchete da álgebra correspondendo ao comutador do grupo. Um exemplo tı́pico é o de um
grupo de transformações lineares inversı́veis: as exponenciais dos elementos de uma álgebra
de Lie de matrizes formam (ou mais precisamente, geram) um grupo de Lie.
O termo “álgebra de Lie” foi popularizado a partir da década de 1920 com Hermann Weyl
(por sugestão de Nathan Jacobson), em substituição ao “grupo infinitesimal” que se utilizava
desde os tempos de Lie (veja [49]).
Os “grupos infinitesimais” foram considerados, a princı́pio, como objetos concretos associados
a grupos de transformações. Um dos programas de S. Lie era o de classificar os grupos de
transformações agindo num determinado espaço. Deve-se a Wilhelm Killing (1884) a idéia de
dividir esse problema em dois: o de classificar o objeto abstrato que corresponde à álgebra
de Lie e posteriormente analisar as ações dos grupos correspondentes (veja [18]).
O material apresentado neste capı́tulo pode ser encontrado em qualquer texto que contenha
uma introdução às álgebras de Lie. Esses textos normalmente se dividem em dois tipos: os
algébricos (no sentido da álgebra linear) representados principalmente por Jacobson [27] e
os que dão um tratamento simultâneo aos grupos e às álgebras de Lie como os clássicos de
Chevalley [6] e Helgason [19]. Seguem a tradição de Jacobson os livros de Humphreys [24] e
Serre [39]. Na segunda classe, encontram-se os livros Varadarajan [43], Fulton e Harris [17],
Onishchik e Vinberg [34], mais voltados à teoria de representação ou aos grupos algébricos,
e o de Hochschild [22], que cobre os fatos básicos da teoria de Lie. Numa classe à parte se
encontra o tratado de Bourbaki [4] em seus capı́tulos sobre grupos e álgebras de Lie.
1.10 Exercı́cios
1. Mostre que φ : g1 → g2 é um homomorfismo se e só se o seu gráfico é uma
subálgebra do produto direto g1 × g2 .
V1 · · · Vs
V1 ∧ · · · ∧ Vs .
µ (v ⊗ φ) (X) = φ (ρ (X) v)
19. Mostre que o colchete de uma álgebra de Lie é associativo se e só se g0 está contido
no centro de g.
21. Seja g uma álgebra de Lie solúvel. Então existe um ideal h ⊂ g de codimensão
um.
22. Uma álgebra de Lie que não é semi-simples contém um ideal abeliano.
1.10. EXERCÍCIOS 55
23. Dê exemplo de uma álgebra solúvel g com um ideal i ⊂ g que não contém a
álgebra derivada g0 .
25. Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita e suponha que exista uma base de
g tal que para todo X ∈ g a matriz de ad (X) em relação a essa base é triangular
superior. Mostre que g é solúvel.
28. Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita que admite um ideal h de codi-
mensão um. Tome X ∈ / h e seja l o subespaço gerado por X. Então g é isomorfa
ao produto semidireto de l por h com a representação de l em h dada pela repre-
sentação adjunta de X em h. Em particular, toda álgebra solúvel é, de alguma
forma, um produto semidireto.
30. Uma álgebra solúvel não-abeliana de dimensão três pode ser realizada como uma
álgebra de matrizes da forma
A x
0 0
com A uma matriz 2 × 2 e x uma matriz 2 × 1.
33. Seja g uma álgebra de Lie sobre R e ρ uma representação de dimensão finita de
g em V . Seja também h·, ·i um produto interno em V . Suponha que, para todo
X ∈ g, ρ (X) é anti-simétrica em relação a esse produto interno e mostre que ρ
é completamente redutı́vel.
56 CHAPTER 1. CONCEITOS BÁSICOS
34. O mesmo que o anterior para álgebras complexas, trocando o produto interno
por uma forma hermitiana e assumindo que ρ (X), X ∈ g, é anti-hermitiana.
35. Seja T : g → g uma transformação linear que comuta com ad (X) para todo
X ∈ g. Então,
T [X, Y ] = [T X, Y ] = [Y, T X]
para todo X, Y ∈ g. O centróide de uma álgebra de Lie é a álgebra associativa
das transformações lineares g → g que comutam com ad (X) para todo X ∈ g.
Mostre que se g0 = g, então o centróide é comutativo.
Os resultados principais deste capı́tulo são os teoremas de Engel e de Lie, que descrevem
as álgebras nilpotentes e solúveis como sendo – essencialmente – álgebras de matrizes
triangulares superiores. Esses teoremas surgem em qualquer contexto que envolva
álgebras nilpotentes ou solúveis. Em particular, o teorema de Engel, que tem como
conseqüência a caracterização das representações das álgebras nilpotentes, será uma
peça fundamental no estudo das subálgebras de Cartan, que formam a base para a
classificação das álgebras semi-simples.
57
58 CHAPTER 2. ÁLGEBRAS NILPOTENTES E SOLÚVEIS
Lie seja nilpotente, como será mostrado adiante. Por esse critério, fica simples encontrar
exemplos de representações (adjuntas inclusive) que não são nilpotentes. Por exemplo,
a representação adjunta da álgebra bidimensional não-abeliana, que é solúvel, mas não
é nilpotente, não é uma nil-representação. Isso, no entanto pode ser visto diretamente
tomando uma base {X, Y } com [X, Y ] = Y . Como ad(X)k Y = Y para todo k, ad(X)
não é nilpotente.
Para estudar as representações nilpotentes, vai ser utilizado o seguinte fato sobre a
adjunta em gl.
de onde se vê que, se B e C são nilpotentes, o mesmo ocorre com D. De fato, sejam k1 e
k2 tais que B k1 = 0 e C k2 = 0. Então, se k > k1 + k2 , todos os termos da soma acima se
anulam, pois se 0 ≤ j ≤ k, então (k − j) + j > k1 + k2 e daı́ que ou k − j > k1 ou j > k2 .
Portanto, D é nilpotente, de onde se tira que ρ1 ⊗ ρ2 é uma representação nilpotente se
tanto ρ1 quanto ρ2 são representações nilpotentes de dimensão finita. Em particular,
como a representação adjunta em gl(V ) é isomorfa a ρ ⊗ ρ∗ , tem-se o resultado.
Uma terceira possibilidade é observar que ad(A)n B é uma soma de termos da forma
A BAs com r + s = n e, portanto, se n é suficientemente grande r = 0 ou s = 0. Por-
r
A partir desse teorema, pode-se agora proceder por indução, através de quocientes
sucessivos, e construir uma base na qual todos os elementos de uma nil-representação
são triangulares superiores.
Teorema 2.3 Seja V um espaço vetorial de dimensão finita e g ⊂ gl(V ) uma subál-
gebra tal que todo X ∈ g é nilpotente. Então, existem subespaços
0 = V0 ⊂ V1 ⊂ · · · ⊂ Vn−1 ⊂ Vn = V
60 CHAPTER 2. ÁLGEBRAS NILPOTENTES E SOLÚVEIS
tal que XVi ⊂ Vi−1 , i = 1, . . . , n. Esses subespaços podem ser definidos indutivamente
por
V0 = 0
Vi = {v ∈ V : Xv ∈ Vi−1 para todo X ∈ g}.
Em particular, estendendo sucessivamente bases dos subespaços Vi , chega-se uma base
β de V tal que a matriz de X em relação a β é triangular superior com zeros na
diagonal para todo X ∈ g.
Demonstração: Defina
V2 = {v ∈ V : Xv ∈ V1 para todo X ∈ g}
Corolário 2.4 Seja V um espaço vetorial de dimensão finita e g ⊂ gl(V ) uma sub-
álgebra tal que todo X ∈ g é nilpotente. Então, g é nilpotente. Em particular, ρ(h) é
uma álgebra nilpotente se ρ é uma nil-representação da álgebra h em V .
Para a última afirmação deste corolário, h é uma álgebra arbitrária. Não pede-se
nem mesmo que h seja de dimensão finita. O que está envolvido é a imagem de ρ
2.1. ÁLGEBRAS NILPOTENTES 61
não sendo necessário nenhuma informação sobre o seu núcleo (um exemplo trivial é o
caso em que ρ = 0). No entanto, no caso de uma representação adjunta nilpotente, é
possı́vel verificar (para álgebras de dimensão finita) que a álgebra é nilpotente e não
apenas sua imagem pela adjunta.
O corolário 2.4 mostra, de imediato, que uma álgebra h de dimensão finita é solúvel
se sua representação adjunta é nilpotente, pois, nesse caso, ker (ad) é o centro da álgebra
que é abeliano e, portanto, solúvel, o mesmo ocorrendo com im (ad) ≈ h/ ker (ad) por
ser nilpotente. Para mostrar que nessa situação h é nilpotente, convém introduzir a
série central ascendente de uma álgebra de Lie g, que é definida indutivamente como
g0 = 0
gi = {X ∈ g : [Y, X] ∈ gi−1 para todo Y ∈ g}.
Os termos dessa série são ideais de g, pois, como segue da definição, [g, gi ] ⊂ gi−1 ⊂
gi para todo i. Em geral, pode ocorrer que, a partir de algum termo, a série central
ascendente se estabilize num ideal próprio de g. Isso não ocorre se a representação
adjunta de uma álgebra de dimensão finita é nilpotente. De fato, a seqüência de
subespaços Vi do teorema anterior coincide, no caso de uma representação adjunta,
com a série central ascendente. Dessa forma, se a representação adjunta é nilpotente,
a série central ascendente termina em g. Isso mostra o corolário
Corolário 2.5 Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita e suponha que ad é uma
nil-representação. Então, a série central ascendente satisfaz
0 = g0 ⊂ g1 ⊂ · · · ⊂ gn = g
para algum n.
Agora é quase que imediato provar o teorema de Engel.
Teorema 2.6 Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita e suponha que, para todo
X ∈ g, ad(X) é nilpotente. Então, g é nilpotente.
Demonstração: Pelo corolário anterior, a série central ascendente termina em gn =
g. Dessa forma, procedendo por indução e usando o fato de que [g, gi ] ⊂ gi−1 , mostra-se
que a série central descendente está contida na ascendente
gi ⊂ gn−i+1 .
Daı́ que gn+1 = 0 e, portanto, g é nilpotente. 2
Para fazer uma idéia concreta deste último teorema, é conveniente pensar em seu
significado em termos de colchetes sucessivos na álgebra. Por um lado, uma álgebra é
nilpotente se todos os produtos que envolvem uma certa quantidade de elementos se
anulam. No entanto, para que a representação adjunta de uma álgebra seja nilpotente,
pede-se algo aparentemente muito mais fraco, uma vez que se requer apenas que certos
produtos que envolvem dois elementos, um deles aparecendo uma única vez, se anulem;
o número de elementos nesses produtos não é, nem mesmo, fixado a priori para todos
os pares de elementos. O anulamento desses produtos, porém, é suficiente para se
mostrar que a álgebra é nilpotente.
62 CHAPTER 2. ÁLGEBRAS NILPOTENTES E SOLÚVEIS
Exemplos:
2. Seja g a álgebra das matrizes triangulares superiores com diagonal não-nula, mas
com os elementos diagonais iguais:
λ ∗
g = {
.. }.
.
λ
V = V1 ⊕ · · · ⊕ Vs
xy = yx + [x, y]
A partir dessas fórmulas de comutação, é possı́vel mostrar que os espaços das de-
composições primárias dos elementos de uma álgebra nilpotente são invariantes pela
álgebra. Tem-se
64 CHAPTER 2. ÁLGEBRAS NILPOTENTES E SOLÚVEIS
Exemplos:
λi (diag{a1 , . . . , an }) = ai
2. Para a álgebra
λ ∗
g = {
... },
λ
o único peso da representação canônica é dado pelo funcional
λ ∗
. .. 7−→ λ.
λ
Esse resultado é o melhor que se pode dizer sobre representações de álgebras nilpo-
tentes dentro do contexto geral colocado aqui. Observe que essa decomposição mostra
de imediato que, no caso algebricamente fechado, uma representação de uma álgebra
nilpotente é irredutı́vel se e só se ela é de dimensão um.
Os blocos (de Jordan) triangulares superiores que aparecem no teorema acima são
para corpos algebricamente fechados. No caso geral, consegue-se também uma de-
composição em blocos, estendendo a representação ao fecho algébrico do corpo de
escalares. A questão é que, ao voltar ao corpo original, não aparecem, em geral, blocos
triangulares superiores. Um exemplo tı́pico do procedimento de extensão e retorno ao
corpo de escalares é o caso de álgebras sobre R. Falando por alto, tomando uma repre-
sentação de uma álgebra real, essa representação pode ser complexificada e decomposta
como√acima com os pesos λj assumindo valores em C. Escrevendo λj = aj + ibj com
i = −1 e aj , bj funcionais lineares reais, o procedimento usual de descomplexificar
transformações lineares, permite decompor a representação real em blocos que são ou
triangulares superiores ou da forma
aj (X) −bj (X)
bj (X) aj (X) ∗
. .
.
aj (X) −bj (X)
0
bj (X) aj (X)
tais ideais vem do fato de que a álgebra derivada g0 é própria e, portanto, está contida
em subespaços de codimensão um, que são ideais por conterem g0 .
Para construir uma base que triangularize os elementos de uma álgebra solúvel,
o primeiro passo consiste em garantir a existência de um autovetor comum para os
elementos da álgebra. Isso é feito no seguinte teorema.
Demonstração: A primeira observação que se faz é que se λ(X) é, como no enun-
ciado, autovalor de X ∈ g com mesmo autovetor v, então λ é linear como segue da
igualdade Xv = λ(X)v. É suficiente então verificar a existência de um autovetor
comum.
Para isso, será utilizada indução sobre a dimensão de g. Se dim g = 1, g é gerada
por X e a existência de um autovetor para X vem do fato do corpo ser algebricamente
fechado. Se dim g > 1, g admite um ideal h de codimensão 1. A hipótese de indução
aplicada a h garante então a existência de w ∈ V , w 6= 0, tal que
Xw = λ(X)w X ∈ h.
1. W é invariante por X0 e
Essas igualdades mostram que W é invariante por h. Elas mostram também que,
em relação à base β, a restrição de Y a W é triangular superior, sendo que os elementos
diagonais são todos iguais a λ(Y ). Calculando então tr(Y|W ), chega-se a
tr(Y|W )
λ(Y ) = .
dim W
Mas, todo colchete de transformações lineares tem traço zero, assim
se k − j ≥ 1. Juntando isso com a expressão para Y X0k w dada em (2.1), tem-se que
Teorema 2.14 Sejam V um espaço vetorial de dimensão finita sobre um corpo al-
gebricamente fechado e g ⊂ gl(V ) uma álgebra solúvel. Então, existe uma base β =
{v1 , . . . , vn } de V e funcionais lineares λ1 , . . . , λn : g → K tal que, em relação a β,
X ∈ g se escreve como
λ1 (X) ∗
X=
.. .
.
λn (X)
independente. Esse procedimento pode ser repetido sucessivamente até obter a base e
os pesos requeridos. 2
Este teorema vale quando o corpo é algebricamente fechado. Como no caso das
álgebras nilpotentes, para tratar as álgebras sobre corpos gerais, é necessário estender
ao fecho algébrico e “descomplexificar” a extensão. Novamente, um exemplo tı́pico é
dado pelo caso real. Complexificando a representação e descomplexificando, se mostra
que é possı́vel triangularizá-la com blocos diagonais de ordem no máximo dois.
Por fim, tem-se a seguinte conseqüência do teorema anterior que é freqüentemente
útil quando se trabalha com álgebras solúveis.
Proposição 2.15 Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita. Então, g é solúvel
se e só se a álgebra derivada g0 é nilpotente.
Proposição 2.16 Sejam g uma álgebra de Lie de dimensão finita e h1 , h2 ideais nilpo-
tentes de g. Então, h1 + h2 é um ideal nilpotente e sua representação adjunta em g é
uma nil-representação.
A partir dessa proposição, mostra-se, com o mesmo argumento utilizado no caso dos
radicais solúveis, que numa álgebra de Lie de dimensão finita existe um ideal nilpotente
que engloba todos os ideais nilpotentes. Tem-se
Proposição 2.17 Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita. Então, existe um
ideal de g, denotado por rn(g) e denominado de radical nilpotente ou nil-radical de g,
que contém todo ideal nilpotente de g.
Por ser nilpotente, o nil-radical de uma álgebra é um ideal nilpotente do radical
solúvel. Dessa forma, o nil-radical se anula se isso ocorre com o radical, isto é, se a
álgebra é semi-simples. Ao longo do texto, o termo radical será empregado para indicar,
de preferência, o radical solúvel, enquanto que será mencionado explicitamente o radical
nilpotente quando for o caso.
Como foi mostrado na proposição 2.15, a álgebra derivada de uma álgebra solúvel
g é nilpotente e, portanto, está contida no nil-radical. Em particular, as imagens das
derivações internas de g estão contidas em rn(g). Este fato se estende a derivações em
geral.
Proposição 2.18 Seja g uma álgebra solúvel e D uma derivação de g. Então, im D ⊂
rn(g). Em particular, rn (g) é invariante por D.
Demonstração: Seja K o corpo de escalares visto como uma álgebra abeliana de
dimensão um. Então, K se representa em g por t 7→ tD e essa representação define o
produto semidireto h = K × g. Como K é uma álgebra abeliana, h0 ⊂ 0 × g ≈ g. De
forma explı́cita,
h0 = g0 + im D
como segue diretamente a partir do colchete
[(s, X), (t, Y )] = (0, sDY − tDX + [X, Y ])
em h. Isso mostra que h também é solúvel e, portanto, que h0 é um ideal nilpotente
de h e, em particular, de g. Daı́ que h0 ⊂ rn(g), de onde se conclui que im D ⊂ rn(g). 2
2.4. EXERCÍCIOS 73
Corolário 2.19 Seja g uma álgebra de Lie com radical solúvel r. Então,
[g, r] ⊂ rn(r).
Notas
Os teoremas de Engel e Lie fazem parte dos primórdios da teoria. O teorema de Engel
pode ser estendido a subespaços de transformações lineares que não são álgebras de Lie
mas que são fechados por “produtos” mais gerais que o comutador (para isso e para uma
demonstração alternativa do teorema de Engel veja Jacobson [27]). O teorema 2.12 que
decompõe uma representação de uma álgebra nilpotente como a decomposição de Jordan de
uma transformação linear é creditado a Zassenhaus (veja [27]).
2.4 Exercı́cios
1. Mostre a seguinte recı́proca da proposição 2.1: se ad (A) ∈ gl (gl (V )) é nilpotente
e tr A = 0 então A é nilpotente.
3. Dê exemplo de uma álgebra nilpotente cuja série central ascendente seja diferente
da série central descendente.
4. Para uma álgebra de Lie nilpotente g, mostre que existe uma seqüência de ideais
g = i0 ⊃ i1 ⊃ · · · ⊃ ik = 0
tal que ii+1 tem codimensão um em ii . Dê exemplo de uma álgebra solúvel sobre
R para a qual não existe uma seqüência dessas.
(a) g é quase-abeliana.
(b) Todo hiperplano de g é uma subálgebra
(c) Todo subespaço vetorial de g é uma subálgebra.
16. Mostre que as álgebras de Lie quase-abelianas podem ser realizadas como álgebras
de matrizes do tipo
a1 x
0 0
onde 1 representa a matriz identidade n × n e x é uma matriz n × 1.
18. Dê exemplo de uma álgebra de Lie solúvel, não nilpotente, cujo radical nilpotente
seja diferente da álgebra derivada.
19. Se uma álgebra de Lie g é tal que ρ (g) é uma álgebra abeliana, para toda repre-
sentação ρ irredutı́vel de dimensão finita, então g é abeliana.
20. Encontre uma álgebra de Lie g, um ideal h ⊂ g e uma derivação D de g tal que
h não seja invariante por D.
76 CHAPTER 2. ÁLGEBRAS NILPOTENTES E SOLÚVEIS
Chapter 3
Critérios de Cartan
g = gλ1 ⊕ · · · ⊕ gλm
onde
gλi = {X ∈ g : (D − λi )n X = 0 para algum n ≥ 1}
é o auto-espaço generalizado associado ao autovalor λi . Então,
77
78 CHAPTER 3. CRITÉRIOS DE CARTAN
Exemplo: Uma situação que ilustra bem a proposição acima se apresenta na álgebra
sl (n, R) da seguinte forma: seja
H = diag{λ1 , . . . , λn }
uma matriz diagonal em sl (n, R). A sua adjunta ad(H) é diagonalizável e seus auto-
valores são αij = λi − λj ; i, j = 1, . . . , n. Suponha αij 6= αrs se i 6= j e (i, j) 6= (r, s).
Então, os auto-espaços de ad(H) são dados da seguinte forma:
Teorema 3.2 Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita e D uma derivação de g.
Escreva D = S + N , de maneira única, com S semi-simples, N nilpotente e
Este teorema pode ser encarado como um resultado que afirma que certas trans-
formações, associadas de alguma forma a derivações, são também derivações. Esse tipo
de informação é útil em diversas situações. A seguir, será apresentado outro resultado
nessa direção. Antes disso, porém, é necessário introduzir a seguinte terminologia.
Seja λ = (λ1 , . . . , λk ) uma seqüência finita de elementos de um corpo. Uma terna
ordenada (i1 , i2 , i3 ) de elementos de {1, . . . , k} é dita λ-fechada (ou simplesmente
fechada), se λi1 + λi2 = λi3 . (Por exemplo, as ternas fechadas para λ = (1, 1, 2)
são (1, 2, 3) e (2, 1, 3), já para λ = (λ1 , λ2 , λ3 ) com λ1 = λ3 e λ2 = 0 as ternas
fechadas são todas as que terminam em 1 ou 3 e contêm 2). Diz-se que uma seqüência
µ = (µ1 , . . . , µk ) imita λ se as ternas fechadas para λ são também µ-fechadas, isto
é, µi1 + µi2 = µi3 se λi1 + λi2 = λi3 . (Por exemplo, se µ1 = µ3 e µ2 = 0, então
µ = (µ1 , µ2 , µ3 ) imita λ = (1, 2, 3)).
As seqüências que imitam os autovalores de uma derivação diagonalizável permitem
construir novas derivações:
Proposição 3.3 Seja S uma derivação de uma álgebra de Lie g de dimensão finita e
suponha que S é diagonalizável, isto é, SXi = λi Xi , i = 1, . . . , k, para λ = (λ1 , . . . , λk )
os autovalores e {X1 , . . . , Xk } uma base de autovetores de g.
Seja µ = (µ1 , . . . , µk ) uma seqüência que imita λ e defina a transformação linear
Tµ : g → g, por Tµ Xi = µi Xi , i = 1, . . . , k.
Então, Tµ também é derivação.
Já se λi +λj é autovalor então λi +λj = λl para algum l e a terna (i, j, l) é λ-fechada.
Como µ imita λ, tem-se que µi + µj = µl e o segundo membro da igualdade (3.2) co-
incide com µl [Xi , Xj ]. Por outro lado, pela proposição 3.1, S[Xi , Xj ] = λl [Xi , Xj ]. No
entanto, os autovetores de S associados ao autovalor λl são autovetores de Tµ , associ-
ados a µl o que mostra que Tµ [Xi , Xj ] = µl [Xi , Xj ] concluindo a demonstração. 2
Teorema 3.4 Sejam g uma álgebra de Lie de dimensão finita e D uma derivação de
g. Suponha que para toda derivação M de g se tenha
tr(DM ) = 0.
Então, D é nilpotente.
3.2. CRITÉRIOS DE CARTAN 81
µi = ψ(λi ) µ = (µ1 , . . . , µk ).
A seqüência µ imita λ pois se λi1 + λi2 = λi3 então µi1 + µi2 = ψ(λi1 + λi2 ) = µi3 .
Para essa seqüência µ, seja Tµ como na proposição anterior. Então, Tµ é derivação e,
por hipótese,
Xk
0 = tr(DTµ ) = λi ψ(λi ).
i=1
e, como esta é uma soma de racionais positivos, conclui-se que ψ(λi ) = 0 para todo i.
Como ψ é um funcional linear arbitrário e V é de dimensão finita, tem-se que λi = 0
para todo i, o que mostra o teorema. 2
A partir desta igualdade e usando a forma canônica de Jordan, pode-se ver que
2pn−2 (A) = (tr A)2 − tr(A2 ).
Em outras palavras, pn−2 (ρ(X)) é obtido a partir de tr ρ(X) e β ρ (X, X) se ρ é uma
representação. É aı́ que reside o interesse em β ρ . Se, por exemplo, tr ρ(X) = 0, o que
ocorre se X ∈ g0 (e em particular para todo X se g é semi-simples já que nesse caso
g = g0 como será visto adiante), o polinômio de menor grau em ρ(X) que aparece entre
os coeficientes do seu polinômio caracterı́stico é essencialmente β ρ .
Exemplos:
1. Se ρ é uma representação nilpotente de g então β ρ (X, X) = 0 para todo X ∈ g
pois o traço de uma transformação linear nilpotente se anula. Como β ρ se obtém
da forma quadrática β ρ (X, X) por polarização, se tem que β ρ é identicamente
nula para essas representações. Em particular, a forma de Cartan-Killing de uma
álgebra nilpotente é identicamente nula.
2. Seja ρ uma representação de uma álgebra solúvel. Passando ao fecho algébrico
do corpo de escalares, o teorema de Lie garante que os elementos de g podem
ser escritos, de maneira simultânea, como matrizes triangulares superiores e, por-
tanto, os elementos de g0 são representados por matrizes triangulares superiores
com zeros na diagonal. Assim que, ρ(X)ρ(Y ) é nilpotente se X ∈ g0 . Dessa
forma, no caso em que g é solúvel, β ρ (X, Y ) = 0 para X ∈ g0 e em particular,
β ρ é identicamente nula em g0 . Um dos critérios de Cartan a que se refere o
tı́tulo deste capı́tulo é justamente uma recı́proca deste fato, isto é, g é solúvel se
β ρ (X, ·) = 0 para X ∈ g0 e ρ a representação adjunta.
3. Um elemento X de sl(2), se escreve como
a b
X= .
c −a
3.2. CRITÉRIOS DE CARTAN 83
De onde se tira que tr X 2 = 2(a2 + bc). Essa é, portanto, a expressão de β ρ (X, X)
se ρ é a representação canônica de sl(2). A partir daı́, tem-se que a matriz de β ρ
em relação à base
0 1 1 0 0 0
X= H= Y =
0 0 0 −1 1 0
é
0 0 1
0 2 0
1 0 0
de onde se vê que β ρ é não-degenerada, já que o determinante desta matriz é
não-nulo. Em relação à base {A, H, S} com
0 −1 0 1
A= S=
1 0 1 0
a matriz de β ρ é diagonal, sendo que −β ρ (A, A) = 2 = β ρ (S, S).
Já a forma de Cartan-Killing de sl(2) é dada por 8(a2 + bc), como pode ser visto
a partir da forma dessa representação dada no primeiro capı́tulo. Essa forma é
um múltiplo de β ρ e é, portanto, não-degenerada. Esse fato é um caso particular
de um dos critérios de Cartan que afirma que uma álgebra é semi-simples se e só
se sua forma de Cartan-Killing é não-degenerada.
4. Escrevendo X ∈ so(3) como
0 −a −c
X = a 0 −b
c b 0
tem-se que tr X 2 = −2(a2 + b2 + c2 ) e essa é a expressão de β ρ se ρ é a repre-
sentação canônica dessa álgebra. Como esta representação coincide com a ad-
junta de so(3), essa é exatamente sua forma de Cartan-Killing. Se o corpo de
escalares é o corpo dos reais, a forma de Cartan-Killing é negativa definida e em
particular não-degenerada. O fato dela não ser degenerada está ligado ao fato
da álgebra ser simples. Já o fato dela ser negativa definida, admite uma inter-
pretação geométrica em termos de grupos de Lie: so(3, R) é a álgebra de Lie do
grupo de Lie compacto SO(3, R). Como acontece sempre com tais álgebras, sua
forma de Cartan-Killing é negativa definida. 2
Como o traço de duas transformações lineares conjugadas é o mesmo, a forma traço
é invariante por conjugações. Em termos da álgebra de Lie, essa invariância se traduz
nas seguintes afirmações.
para todo X, Y, Z ∈ g.
Lema 3.6 Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita e suponha que sua forma de
Cartan-Killing seja identicamente nula. Então, g é solúvel.
Demonstração: Para mostrar que g é solúvel, será mostrado que sua álgebra derivada
g0 é nilpotente. Para isso, seja X ∈ g0 . Então, X se escreve como
X
X= [Yi , Zi ]
i
3.2. CRITÉRIOS DE CARTAN 85
hX, Y i = 0
para todo X ∈ g0 e Y ∈ g.
A partir deste critério para as álgebra solúveis, pode-se mostrar o critério de Cartan
para as álgebras semi-simples. Este último será amplamente utilizado na classificação
dessas álgebras.
coincide com o traço de sua restrição a i. Mas ad(Y ) ad(X)|i = 0 pois i é abeliano.
Conseqüentemente,
hY, Xi = 0
para todo X ∈ i e Y ∈ g. Isso mostra que as álgebras que têm forma de Cartan-Killing
não-degeneradas são semi-simples.
Reciprocamente, assumindo que g é semi-simples, seja g⊥ o subespaço de g definido
por
g⊥ = {X ∈ g : hX, Y i = 0 para todo Y ∈ g}.
Então, g⊥ é um ideal pois
g = h1 ⊕ h2 .
ad (X) ad (Y )
A partir desta proposição e do fato provado anteriormente que garante que as com-
ponentes semi-simples e nilpotentes de uma derivação são também derivações, obtém-se
a seguinte decomposição dos elementos de uma álgebra semi-simples.
90 CHAPTER 3. CRITÉRIOS DE CARTAN
ad(X) = S + N
com S e N derivações que comutam entre si e com ad(X). Pela proposição anterior,
S = ad(XS ) e N = ad(XN ) e daı́ que
ad(X − XS − XN ) = 0
Este corolário é bastante útil em diversas situações. Ele garante, entre outras
coisas, que álgebras semi-simples contêm elementos cujas adjuntas são semi-simples,
já que existem elementos que não são nilpotentes e, portanto, admitem componentes
semi-simples não-nulas. Esse fato se estende a uma representação fiel qualquer como
mostra a seguinte proposição.
ad(S − XS ) e ad(N − XN )
β ρ (X, Y ) = tr (ρ (X) ρ (Y ))
X = diag{λ1 , . . . , λn }.
O segundo membro, por ser uma soma de quadrados de números racionais, não se anula
se uma das parcelas não se anula. Assim, tomando ψ tal que ψ(λj ) 6= 0 para algum
autovalor λj se chega a existência de Y = Xµ ∈ g tal que tr(Xµ X) 6= 0 mostrando que
β ρ 6= 0 e, portanto, não-degenerada. 2
Uma vez mostrado que β ρ não é degenerada para as álgebras simples, pode-se passar
às álgebras semi-simples, considerando suas componentes simples. Tem-se
g = g1 ⊕ · · · ⊕ gk
β ρ (X, Y ) = aj hX, Y i
X = X1 + · · · + Xk
em relação às componentes simples. Se Xj ∈ gj não é nulo, então existe Y ∈ gj tal que
β ρ (Xj , Y ) 6= 0. Como
β ρ (X, Y ) = β ρ (Xj , Y )
3.3. APLICAÇÕES ÀS ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES 93
Γ = Y1 X1 + · · · + Yn Xn .
e usando o fato de que cij = −dji , chega-se a que [Γ, X] = 0. O elemento de Casimir
guarda diversas informações sobre g e sua representação em V . Por exemplo, a di-
mensão de g é dada pelo traço de Γ, pois
tr Γ = β ρ (Y1 , X1 ) + · · · + β ρ (Xn , Yn ) .
V = V0 ⊕ V1
Com o auxı́lio do teorema de decomposição de Weyl, será fácil mostrar que a soma
que aparece nessa proposição é de fato direta. Na verdade, essa proposição é uma
conseqüência imediata do teorema de Weyl. No entanto, ela vai ser necessária para a
demonstração desse teorema, que será feita no capı́tulo 5.
Notas
O conceito de seqüência que imita outra é uma adaptação da teoria das réplicas de Chevalley:
as matrizes diagonais cujos autovalores imitam a seqüência dos autovalores de uma matriz
diagonal dada são réplicas dessa última (veja, por exemplo, [43] para um tratamento deta-
lhado dessa teoria).
A forma de Cartan-Killing foi introduzida por E. Cartan em sua tese (1894) como uma
ferramenta fundamental para colocar em bases sólidas as idéias de Killing sobre a classificação
das álgebras simples complexas (veja [18]).
Em muitos textos, uma álgebra de Lie é dita semi-simples se sua forma de Cartan-Killing é
não-degenerada (veja, por exemplo, [19]).
3.4. EXERCÍCIOS 95
3.4 Exercı́cios
1. Seja D uma derivação da álgebra de Lie g de dimensão finita e suponha que X ∈ g
é autovetor de D associado a um autovalor 6= 0. Então, ad (X) é nilpotente.
3. Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita e suponha que g admita uma
derivação inversı́vel. Então, g é nilpotente. (A recı́proca não vale: existem
álgebras de Lie nilpotentes sem derivações inversı́veis, como mostrado em [13]).
6. Dê exemplo de uma álgebra solúvel cuja forma de Cartan-Killing não é iden-
ticamente nula e de uma álgebra solúvel, mas não nilpotente, cuja forma de
Cartan-Killing é identicamente nula.
10. Dê exemplo de uma álgebra de Lie g e de subálgebras i ⊂ h tal que i é ideal de
h mas não de g. Mostre que isso não ocorre em álgebras semi-simples.
11. Seja i um ideal de uma álgebra de Lie g de dimensão finita. Suponha que i seja
semi-simples. Então, existe um ideal j de g tal que g = i ⊕ j.
96 CHAPTER 3. CRITÉRIOS DE CARTAN
12. Dê exemplo de um ideal i numa álgebra de Lie de dimensão finita tal que i⊥ ∩i 6= 0
onde ⊥ denota o ortogonal em relação à forma de Cartan-Killing. Mostre que
em toda álgebra que não é semi-simples existe um ideal desse tipo.
13. As componentes simples de uma álgebra de Lie semi-simples são duas a duas
ortogonais em relação à forma de Cartan-Killing.
14. Dê exemplo de uma derivação interna ad (X) cuja decomposição de Jordan
ad (X) = S + N
15. Sejam g uma álgebra de Lie simples sobre um corpo algebricamente fechado e β
uma forma bilinear invariante em g, isto é, β satisfaz
16. Use o exercı́cio anterior para escrever a forma de Cartan-Killing das seguintes
álgebras de matrizes na forma
hX, Y i = c tr (XY )
(a) sl (n, C)
(b) so (n, C)
(c) sp (n, C)
Encontre também a forma de Cartan-Killing das álgebras reais correspon-
dentes e mostre que no caso de so (n, R) a forma é negativa definida. (Com-
pare com a seção 8.2 do capı́tulo 8).
17. Suponha que g seja uma álgebra de Lie semi-simples que não é simples e que
o corpo de escalares seja algebricamente fechado. Então, existem em g formas
bilineares invariantes que não são múltiplas da forma de Cartan-Killing.
18. Seja g uma álgebra semi-simples sobre um corpo algebricamente fechado. Su-
ponha que β seja uma forma bilinear invariante que g1 e g2 sejam ideais com
g1 ∩ g2 = 0. Então, β (X, Y ) = 0 se X ∈ g1 e Y ∈ g2 . Use isso para carac-
terizar as formas bilineares invariantes nas álgebras semi-simples sobre corpos
algebricamente fechados.
3.4. EXERCÍCIOS 97
19. Considere, numa álgebra simples g sobre um corpo algebricamente fechado, uma
forma bilinear invariante β 6= 0. Tome uma base {X1 , . . . , Xn } de g e seja
{Y1 , . . . , Yn } a base dual em relação a β:
β (Xi , Yj ) = δ ij .
µ (v ⊗ φ) (X) = φ (ρ (X) v)
21. O objetivo deste exercı́cio é indicar a demonstração do seguinte fato (lema de Mo-
rozov): seja g uma álgebra semi-simples e seja Y ∈ g tal que ad (Y ) é nilpotente.
Suponha que Y, H ∈ g satisfazem
[H, Y ] = −2Y H ∈ im ad (Y ) .
[H, Z] = 2Z + X1
com X1 ∈ z (Y ), o centralizador de Y .
(b) Mostre que z (Y ) é invariante por ad (H).
(c) Seja Z como no item anterior e use a notação T = ad (H) e S = ad (Y ).
Mostre que para todo inteiro n ≥ 0
ad (H) z (Y ) ∩ ad (Y )n−1 ⊂ (z (Y ) ∩ ad (Y )n ) .
(T + m) (T + m − 1) · · · (T + 1) T = 0
Subálgebras de Cartan
1. h é nilpotente e
2. o normalizador de h em g coincide com h. Esta condição é equivalente a
20 . Se [X, h] ⊂ h então X ∈ h.
99
100 CHAPTER 4. SUBÁLGEBRAS DE CARTAN
1. Uma das razões pelas quais se introduz a noção de subálgebra de Cartan é que
esse tipo de subálgebra é exatamente o que aparece como g0 na decomposição
primária de ad(X) para X genérico (regular) em g. Outra razão vem da se-
guinte observação: o fato de h ser nilpotente garante que sua representação em
g, via a representação adjunta, se decompõe em g = ⊕gλi com λi os pesos da
representação. O funcional nulo é sempre um peso dessa representação, pois
a representação adjunta de h em si mesma é nilpotente. Além do mais, g0 é
subálgebra e h ⊂ g0 . A segunda condição na definição de subálgebra de Cartan
garante que h = g0 .
Exemplos:
1. Para g = sl(2),
a 0
h={ }
0 −a
é uma subálgebra de Cartan, pois h é abeliana, e se
0 1 1 0 0 0
X= H= Y = ,
0 0 0 −1 1 0
então
[H, aX + bH + cY ] = 2aX − 2cY
e este colchete está em h se e só se a = c = 0. Por razões semelhantes, a subálgebra
das matrizes diagonais é de Cartan em sl(n). Este exemplo não funciona se o
corpo de base é de caracterı́stica dois, pois, nesse caso, a subálgebra das matrizes
diagonais é a álgebra derivada de sl(n), que por sua vez é nilpotente.
2. Ainda em sl(2),
0 −a
h={ }
a 0
4.1. SUBÁLGEBRAS DE CARTAN 101
Essas matrizes formam uma base de sl (2) e satisfazem [H, A] = −2S, [H, S] =
−2A e [S, A] = 2H. Portanto,
3. Se g é nilpotente, então sua única subálgebra de Cartan é ela mesma. Isso porque,
se h é uma subálgebra própria, sua representação adjunta em g é nilpotente, o
mesmo ocorrendo então com a representação ρ de h induzida em g/h pela adjunta.
Existe, portanto, v ∈ g/h, v 6= 0 tal que ρ(X)v = 0 para todo X ∈ h. Tomando
um representante Y ∈ g de v, isso significa que Y ∈ / h e que [Y, h] ⊂ h, o que
mostra que h não é seu próprio normalizador.
4. Como exemplo de uma subálgebra nilpotente que não é de Cartan, tome a álgebra
das matrizes triangulares superiores em sl(n). As matrizes diagonais normalizam
essa álgebra. 2
Como foi dito acima, a representação adjunta de uma subálgebra de Cartan se
decompõe como a decomposição primária dos elementos regulares de g. Para definir
esses elementos regulares, tome X ∈ g. O polinômio caracterı́stico de ad(X) denotado
por pX é da forma
Definição 4.2 O posto de uma álgebra de Lie de dimensão finita é o menor ı́ndice i
em que pi não é identicamente nulo, onde pi denota, como acima, os coeficientes dos
polinômios caracterı́sticos. Um elemento X ∈ g é dito regular se pi (X) 6= 0 onde i é o
posto de g.
Exemplos:
1. Seja sl(2) com a base canônica {X, H, Y }. Tomando Z = aX +bH +cY , a matriz
de sua adjunta nessa base é
2b −2a 0
ad(Z) = −c 0 a
0 2c −2b
Demonstração:
1. g0 (X) é subálgebra, pois em geral, [gλi , gλj ] ⊂ gλi +λj .
2. Tome Y ∈
/ g0 (X) e escreva
Y = Y 0 + Y 1 + · · · + Yk com Y0 ∈ g0 (X); Yi ∈ gλi .
Algum Yi , i = 1, . . . , k é não-nulo. Como os subespaços gλi são invariantes por
ad(X), a decomposição correspondente para [X, Y ] é dada por
[X, Y ] = [X, Y0 ] + [X, Y1 ] + · · · + [X, Yk ],
o que mostra que [X, Y ] ∈ / g0 (X). De fato, a restrição de ad(X) a cada gλi é
inversı́vel já que esses autovalores são diferentes de zero. Portanto, [X, Yi ] 6= 0
para algum i = 1, . . . , k. Como X ∈ g0 (X), tem-se que Y não normaliza g0 (X).
Essa subálgebra coincide, portanto, com seu normalizador.
3. Para verificar que g0 (X) é nilpotente usa-se o fato de que X é regular.
O objetivo é mostrar que, para Y ∈ g0 (X), ad(Y )|g (X) é nilpotente e aplicar
0
o teorema de Engel. Isso, por sua vez, se garante mostrando que o polinômio
caracterı́stico de ad(Y )|g (X) é da forma λr onde r é a dimensão de g0 (X).
0
Observe que ad(X)|g (X) é nilpotente, pois este é o auto-espaço generalizado
0
associado ao autovalor nulo.
Dessa forma, denote por π 0 o polinômio caracterı́stico de ad(Y )|g (X) e suponha,
0
por absurdo, que esse polinômio não é da forma λr . Então,
π 0 (λ) = λr + · · · + qr−i (Y )λr−i
com i > 0 e qr−i (Y ) 6= 0. Isso garante que qr−i não é um polinômio identica-
mente nulo em g0 (X). Como os subespaços gλi são invariantes por ad(Y ), pois
[g0 (X), gλi ] ⊂ gλi , o polinômio caracterı́stico de ad(Y ) é dado por
pY (λ) = π 0 π 1 . . . π k
com π i o polinômio caracterı́stico de ad(Y )|g . O termo constante de π i é dado
λi
por det(ad(Y )|g ). Agora, a aplicação di (Z) = det(ad(Z)|g ) é um polinômio
λi λi
em g0 (X) e não é identicamente nulo, pois ad(X)|g é inversı́vel. Além do mais,
λi
o termo de menor grau de pY tem por coeficiente o polinômio
qr−i (Y )d1 (Y ) . . . dk (Y ),
que não é um polinômio identicamente nulo em Y como o é cada um de seus
fatores. Mas isso contradiz o fato de X ser regular, pois esse termo de menor
grau se anula em X já que qr−i se anula em X, pois ad(X) restrita a g0 (X) é
nilpotente. Como essa contradição vem do fato de que qr−i não é um polinômio
identicamente nulo para algum i > 0, tem-se que ad(Y ) é nilpotente em g0 (X)
para todo Y ∈ g0 (X) e, portanto, essa álgebra é nilpotente.
104 CHAPTER 4. SUBÁLGEBRAS DE CARTAN
Lema 4.7 Seja h uma subálgebra de Cartan. Então, existe X ∈ h tal que h = g0 (X).
No caso em que o corpo de base é real, a idéia para mostrar o teorema 4.5 é a
seguinte: seja φ um automorfismo de g. Então, para X ∈ g, tem-se a conjugação
isto é, φ[X, φ−1 Y ] = [φX, Y ] para todo Y ∈ g. Portanto, ad(φX) e ad(X) têm o mesmo
polinômio caracterı́stico e daı́ que X é regular se e só se o mesmo ocorrer com φX.
Baseado nisso, deve-se buscar um automorfismo φ e X ∈ h, tal que φX é regular. Para
isso, considera-se a aplicação ψ : g × h → g dada por
ψ(Y, X) = ead(Y ) X.
Agora, é possı́vel aplicar os lemas acima escolhendo X tal que h = g0 (X). Pelo
fato de que a transformação linear induzida por ad(X) em g/h é inversı́vel (lema 4.6),
a imagem de ad(X) complementa h em g. Na fórmula (4.1) Z e W são arbitrários.
Assim, se X é tal que h = g0 (X), então a imagem de dψ (0,X) é sobrejetora. Isso conclui
a demonstração do teorema 4.5, no caso em que o corpo de escalares é R. 2
A partir dessa demonstração do teorema 4.5 para álgebras sobre o corpo dos reais,
é possı́vel obter de maneira rápida o mesmo resultado para álgebras sobre o corpo C
dos complexos. De fato, dada uma álgebra complexa g, sua realificada gR é a álgebra
cujo espaço vetorial subjacente é o espaço vetorial real obtido de g, restringindo os
escalares aos reais. A dimensão de gR é o dobro da dimensão de g e os subespaços
de g são também subespaços de gR e suas dimensões duplicam quando considerados
como espaços reais. Agora, o fato de uma subálgebra h de g ser de Cartan, ou não,
106 CHAPTER 4. SUBÁLGEBRAS DE CARTAN
de Cartan são conjugadas entre si. Isso tem como conseqüência o teorema 4.5, já que
existem subálgebras de Cartan contendo elementos regulares.
A demonstração da conjugação entre subálgebras de Cartan em álgebras sobre cor-
pos algebricamente fechados arbitrários será feita adiante. No caso das álgebras sobre
os complexos é possı́vel dar uma demonstração por intermédio do cálculo diferencial,
como acima. Essa demonstração é incluı́da aqui, pois, além de ser mais concreta que
a geral, ela fornece uma interpretação geométrica das classes de equivalência por con-
jugação nas álgebras de Lie sobre os reais.
Teorema 4.8 Seja g uma álgebra de Lie sobre R e g o subconjunto, aberto e denso,
dos elementos regulares de g. As componentes conexas de g são abertos em g. Tome
X e Y numa mesma componente conexa. Então X ∼ Y .
Esses polinômios não são identicamente nulos pelo fato de p não se anular em z e
em w. Como o conjunto dos elementos que não anulam um polinômio não-nulo é
aberto e denso, existe x0 = (x01 , . . . , x0n−1 ) tal que q1 (x0 ) 6= 0 6= q2 (x0 ). Pelo passo
de indução, (x01 , . . . , x0n−1 , zn ) e z estão numa mesma componente conexa de C pois x0
e (z1 , . . . , zn−1 ) não anulam q1 . Da mesma forma, (x01 , . . . , x0n−1 , wn ) e w estão numa
mesma componente conexa de C. Agora, tome o polinômio de uma variável
Em resumo,
Exemplos:
1. Na álgebra sl(n, C), seja hβ a subálgebra das transformações lineares cujas ma-
trizes são diagonais na base β de Cn . Cada uma dessas subálgebras é de Car-
tan, pois elas são abelianas e se H é a matriz diagonal H = diag{λ1 , . . . , λn } e
A = (ajk ) é uma matriz n × n, então ad(H)A é dada pela matriz ((λj − λk )ajk ).
Assim, ad(H)A é diagonal para toda matriz diagonal H se e só se A também é
diagonal. Como dim hβ = n − 1, o posto sl(n, C) é n − 1. Ainda pela forma de
ad(H), H ∈ hβ , vê-se que H é regular se e só se λj −λk 6= 0, j 6= k, isto é, se todos
os autovalores de H são distintos. Pelo teorema anterior, duas dessas subálgebras
de Cartan são conjugadas por um automorfismo de sl(n, C). Nesse caso parti-
cular, o automorfismo que conjuga as subálgebras hβ 1 e hβ 2 é dado pela matriz
de mudança de base entre β 1 e β 2 . Seja P essa matriz. Então, P é inversı́vel
4.1. SUBÁLGEBRAS DE CARTAN 109
com vj ∈ Rn . Assim, se
γ = {Re w1 , Im w1 , . . . , Re wk , Im wk , v1 , . . . , vs },
com λij ∈ V ∗ . O grau de p é o maior dos ı́ndices ri . Tomando uma base β = {e1 , . . . , en }
de V , tem-se que p(x) é uma combinação linear de monômios do tipo
xr11 · · · xrnn
P = p1 f1 + · · · + pm fm
P = p1 f1 + · · · + pm fm ,
Proposição 4.11 Seja τ : K[W ] → K. Então, existe y ∈ V tal que τ (q) = q(y).
τ (q) = q ◦ P
∂
(xr11 · · · xrnn ) = ri xr11 · · · xri i −1 · · · xrnn
∂xi
as quais se estendem aos polinômios por linearidade. A partir daı́, define-se a diferencial
dpx do polinômio p em x como sendo o funcional linear cuja matriz na base β é dada
por
∂p ∂p
dpx = (x) · · · (x) .
∂x1 ∂xn
De maneira semelhante, define-se a diferencial de uma aplicação polinomial
P = p1 f1 + · · · + pm fm
4.2. A ABORDAGEM ALGÉBRICA 113
Proposição 4.12 Seja P : V → W uma aplicação polinomial e suponha que dPx0 seja
sobrejetora para algum x0 ∈ V . Então, a transposta σ p : K[W ] → K[V ] é injetora.
Demonstração: Suponha por absurdo que σ P não seja injetora e tome q ∈ ker σ p
com q 6= 0 e tal que o grau de q é mı́nimo entre os elementos não-nulos do núcleo de
σ P . Então, q ◦ P = 0 e, portanto, d(q ◦ P ) é o polinômio identicamente nulo definido
em V e a valores no espaço das matrizes 1 × n. Pela regra da cadeia,
para todo x ∈ V . Essa igualdade leva a uma contradição pois ela implica que o
polinômio x 7→ dqP (x) é identicamente nulo. De fato, suponha que isso não ocorre.
Então, pelo fato de que dPx0 é sobrejetora, tem-se que um de seus menores m × m é
inversı́vel. Denotando esse menor por A(x), o polinômio det A(x) não é identicamente
nulo e, portanto, existe x̄ tal que os polinômios det A(·) e dqP (·) não se anulam em x̄
(pois se p1 , . . . , ps são polinômios não-nulos, então p1 · · · ps é não-nulo, o que implica
que existe x̄ tal que pi (x̄) 6= 0, i = 1, . . . , s), o que contradiz (4.3). Assim, (4.3) implica
que dqP (x) é identicamente nulo como um polinômio em x. Agora, pela definição de
dq, tem-se que suas entradas são polinômios de grau menor que o grau de q. Mas q foi
tomado como sendo de grau mı́nimo entre os elementos não-nulos de ker σ P . Assim,
dq = 0 e, portanto, q é o polinômio constante e, como q ◦ P = 0, q = 0, contradizendo
a escolha de q 6= 0 e mostrando que σ P é injetora. 2
Para o próximo teorema será usada a seguinte notação: sejam B uma álgebra
associativa sobre K e A ⊂ B uma subálgebra. Então, A[x1 , . . . , xr ] denota a subálgebra
de B gerada por A e {x1 , . . . , xr } ⊂ B.
114 CHAPTER 4. SUBÁLGEBRAS DE CARTAN
Demonstração: Como
um raciocı́nio simples, por indução, garante que é suficiente considerar o caso em que
r = 1 e B = A[x].
Seja C o subcorpo de K gerado por A. Existem duas possibilidades:
a0 + a1 x + · · · + as x s ai ∈ A s ≥ 0.
Em particular,
p = b0 + b1 x + · · · + bm x m
e, é claro, pode-se supor que bm 6= 0. O elemento de A desejado é q = bm . De
fato, seja σ : A → K um homomorfismo tal que σ(q) 6= 0 e considere o polinômio
P na variável λ e com coeficientes em K dado por
P (λ) = a0 + a1 λ + · · · + am λm
akm R = P S
Q = c 0 + c 1 λ + · · · + c n λn
Para obter conjugações entre subálgebras de Cartan, a idéia é aplicar este teorema
a aplicações do tipo
(X, Y ) 7−→ ead(X) Y,
como foi feito no caso real. Para isso é necessário dar sentido às exponenciais
X 1
ead(X) = ad(X)k .
k≥0
k!
4.2. A ABORDAGEM ALGÉBRICA 117
Proposição 4.15 Seja D uma derivação nilpotente de uma álgebra de Lie g. Então,
exp D é um automorfismo de g.
Por fim, no caso em que o corpo não é algebricamente fechado, é possı́vel que
existam subálgebras de Cartan, que não são conjugadas. Mas, em todo caso, o teorema
4.5 continua valendo. Isso porque, estendendo o corpo de base K ao seu fecho algébrico
K, as subálgebras de Cartan h se estendem a subálgebras de Cartan hK e se pi é
o polinômio que determina os elementos regulares, então pi não se anula em hK e,
portanto, pi não se anula em h, o que mostra que em h existem elementos regulares.
4.3 Exercı́cios
1. Mostre que se duas álgebras de Lie são isomorfas, então seus postos coincidem.
Por outro lado, dê exemplos de álgebras de Lie com o mesmo posto que não são
isomorfas.
2. Em g = sl (2, R) o número de componentes conexas do conjunto g é maior que o
de classes de equivalência de subálgebras de Cartan.
3. Sejam X e Y matrizes reais e considere as funções α (t) = exp (t ad (X)) Y e
β (t) = exp (tX) Y exp (−tX) com t ∈ R. Verifique que α e β satisfazem uma
mesma equação diferencial com mesma condição inicial α (0) = β (0) e conclua
que
ead(X)Y = eX Y e−X .
9. Seja V o subespaço
V = {(a1 , . . . , an ) ∈ C : a1 + · · · + an = 0}.
13. Mostre que se uma subálgebra de Cartan de g é abeliana, então todas as demais
também são abelianas e, nesse caso, o centro de g coincide com a interseção das
subálgebras de Cartan.
120 CHAPTER 4. SUBÁLGEBRAS DE CARTAN
Chapter 5
Cohomologia
Neste capı́tulo, serão demonstrados dois teoremas fundamentais da teoria, que são os
teoremas de decomposição de Weyl e de Levi. O teorema de Weyl garante que toda
representação de dimensão finita de uma álgebra de Lie semi-simples é completamente
redutı́vel. Já o teorema de decomposição de Levi assegura que uma álgebra de Lie
qualquer é o produto semidireto de uma subálgebra semi-simples pelo radical solúvel.
O contexto em que esses teoremas devem ser colocados é o da teoria de cohomologia
de álgebras de Lie aonde eles são obtidos como conseqüências dos lemas de Whitehead
sobre a cohomologia de álgebras semi-simples.
5.1 Definições
Sejam g uma álgebra de Lie e ρ : g → gl(V ) uma representação de g no espaço vetorial
V. Associados a g e V , considere os espaços An de aplicações multilineares alternadas,
definidos da seguinte forma:
121
122 CHAPTER 5. COHOMOLOGIA
Nesta fórmula, o sı́mbolo b significa, como é usual, que o que está sob ele deve ser
omitido. Neste capı́tulo, a preocupação principal é com as cohomologias de ordem
baixa que envolvem dn apenas para n ≤ 2. As expressões de d para esses valores de n
são:
d0 v(X) = ρ(X)v
se v ∈ V e X ∈ g,
3. Hn = C n /F n para n ≥ 1.
Os elementos de C n são chamados de cociclos e os de F n de cofronteiras e Hn ,
n ≥ 1 são os espaços de cohomologia da representação. A rigor, Hn deveria ser escrito
como Hn (g, ρ) assim como An , C n , F n . Deve-se ressaltar que Hn e C n se anulam se
n > dim g.
Exemplos:
2. Como g é abeliana,
n
X
df (X1 , . . . , Xn ) = (−1)i+1 ρ(Xi )f (X1 , . . . , X
ci , . . . , Xn ).
i=1
F 1 = {f : f = vρ, v ∈ K} = Kρ,
f (Y )
f (X) = ρ(X)
ρ(Y )
γ(X1 , X2 ) = f0 [X1, X2 ],
• d0 v(·) = ρ(·)v = 0.
• d1 f (X, H) = −f [X, H] = 2f (X).
d1 f (X, Y ) = −f [X, Y ] = −f (H).
d1 f (H, Y ) = −f [H, Y ] = 2f (Y ).
Dessas igualdades, tira-se que dim F 2 = 3 = dim A2 , isto é, F 2 = A2 . De
fato, variando f na base {α, β, γ} dual de {X, H, Y }, df percorre a base
{α ∧ β, α ∧ γ, β ∧ γ} de ∧2 g.
• d2 = 0 pois
• d3 = 0 pois A4 = 0.
e
[ρu, ρv](A, w) = (ρu)(ρv)(A, w) − (ρv)(ρu)(A, w)
= (ρu)(0, Av) − (ρv)(0, Au)
= 0,
pois ρ(u)(0, w) = 0.
Para encontrar H1 desta representação, seja f : W → h ⊕ W = V e escreva
f = (f1 , f2 ) com f1 : W → h e f2 : W → W. A partir dessa decomposição dos
elementos de A1 , vale a seguinte decomposição de A1 : definindo
A11 = {f ∈ A1 : f1 = 0} = gl(W )
e
A12 = {f ∈ A1 : f2 = 0} = L(W, h)
Evidentemente
A1 = A11 ⊕ A12 .
Com esta decomposição, fica possı́vel encontrar d:
Para d0 , seja f = (A, v) ∈ V = h ⊕ W . Então,
pois tanto f (u) quanto f (v) são da forma (0, ∗) e ρ(u) ou ρ(v) se anula quando
aplicado num elemento deste tipo. Isso mostra que A11 ⊂ C 1 e, como F 1 ⊂ A11 , a
primeira cohomologia se decompõe como
H1 = (A11 /F 1 ) ⊕ (A12 ∩ C 1 ).
O quociente que aparece no primeiro termo desta soma é gl(W )/h (quociente de
espaços vetoriais) e, portanto, é dado juntamente com h. De fato, A11 = gl(W )
e F 1 = h, como já foi visto. Já a segunda parcela da soma é dada pelos cociclos
126 CHAPTER 5. COHOMOLOGIA
5.2 Interpretações de H1 e H2
Em geral, o anulamento de algum dos espaços Hn está ligado, de uma forma ou de outra,
à existência de complementares de subespaços em espaços de representações. Como
será visto adiante, esta relação entre a cohomologia e a existência de complementares é
o que permitirá demonstrar dois resultados bastante úteis que são o teorema de Weyl,
que garante a redutibilidade completa das representações de álgebras semi-simples, e o
teorema de Levi, que decompõe uma álgebra arbitrária como soma direta de seu radical
solúvel e uma álgebra semi-simples.
E = {T ∈ gl (V ) : T (W ) = 0 e T (V ) ⊂ W }.
(P + T )2 = P 2 + P T + T P + T 2 = P + T,
para todo X ∈ g. Por outro lado, esta igualdade pode ser interpretada como sendo a
igualdade que garante que um certo cociclo de uma representação de g em E é uma
cofronteira, isto é, como uma igualdade cohomológica. De fato, seja ρ̃ : g → gl(E) a
aplicação dada por
ρ̃(X)T = [ρ(X), T ].
Esta aplicação define uma representação de g em E. De fato, ρ̃ é nada mais nada
menos que a restrição a E da composta da representação adjunta de gl (V ) pela repre-
sentação ρ. O fato de que essa restrição é possı́vel é devido a que E é invariante pelas
adjuntas de ρ (X), X ∈ g, já que a imagem da aplicação
ρ (X) T − T ρ (X)
128 CHAPTER 5. COHOMOLOGIA
Vai ser mostrado adiante que se g é semi-simples, então, para todas suas repre-
sentações de dimensão finita, H1 = 0. Isso, juntamente com a proposição anterior,
garante que as representações de dimensão finita de álgebras semi-simples são comple-
tamente redutı́veis.
i) fσ = 0.
ii) σ é homomorfismo.
De fato, a equivalência entre i) e ii) é imediata. Já iii) é conseqüência de ii) pelo
fato de que a imagem de um homomorfismo é uma subálgebra. Por outro lado, se
a imagem de σ é subálgebra, o segundo membro na definição de fσ pertence a essa
imagem e, portanto, é necessariamente nulo.
Em vista disso, a questão de encontrar um complementar que é subálgebra se reduz
à questão de encontrar uma seção σ tal que fσ = 0.
Agora, dada uma seção σ, todas as outras seções são descritas como σ 0 = σ − p
onde p : g → V é uma transformação linear arbitrária. De fato, dada uma seção σ 0 ,
σ 0 − σ assume valores em V pois π(σ 0 − σ) = πσ 0 − πσ = 0 e, portanto, σ 0 = σ − p
com p = σ − σ 0 . Vice-versa, σ − p é uma seção, pois π(σ − p) = πσ = 1. A existência
de complementar que é subálgebra se garante mostrando que fσ é uma cofronteira da
seguinte representação de g em V : seja ρ : g → gl(V ) definida por
ρ(X)v = [σ(X), v]
ρ[X, Y ]v = [σ[X, Y ], v]
= [σ[X, Y ] + [σX, σY ] − σ[X, Y ], v],
130 CHAPTER 5. COHOMOLOGIA
ρ[X, Y ] = [[σX, σY ], v]
= [ρX, ρY ]v
Isso significa que af (V ) é o produto semi-direto de gl(V ) por V , dado pela repre-
sentação canônica.
Seja g uma álgebra de Lie. Uma representação afim de g em V é um homomorfismo
α : g → af (V ). Escrevendo α em coordenadas como α(X) = (ρ(X), v(X)) com
ρ : g → gl(V ) e v : g → V aplicações lineares, a condição para que α seja um
homomorfismo vem das igualdades
e
[αX, αY ] = [(ρ(X), v(X)), (ρ(Y ), v(Y ))]
= ([ρ(X), ρ(Y )], ρ(X)v(Y ) − ρ(Y )v(X)).
5.2. INTERPRETAÇÕES DE H1 E H2 131
Daı́ que α é uma representação afim se, e só se, ρ[X, Y ] = [ρX, ρY ], isto é, ρ é uma
representação linear usual e
o que significa que v é um cociclo para ρ. Portanto, uma representação afim consiste
de um par formado por uma representação linear e por um cociclo da representação.
Nesse sentido, é possı́vel distinguir representações afins equivalentes por intermédio da
primeira cohomologia da representação linear ρ.
Duas representações afins α1 , α2 : g → af (V ) são equivalentesse existe um auto-
morfismo ψ de af (V ) tal que α1 (X) = ψ (α2 (X)). Os automorfismos de af (V ) são
da forma
ψ (A, v) = P AP −1 , P v − P AP −1 a
ρ1 (X) = P ρ2 (X)P −1
v1 (X) = P v2 (X) − P ρ2 (X)P −1 a.
1. Z (ρ) é um grupo.
132 CHAPTER 5. COHOMOLOGIA
5. Denote por PH1 (ρ) o espaço projetivo de H1 (ρ), isto é, o conjunto das retas
passando pela origem de H1 (ρ) e por af (ρ) o conjunto das classes de equivalência
de representações afins cuja parte linear é ρ. Então, existe uma aplicação bem
definida f : PH1 (ρ) → af (ρ), que à reta r ∈ PH1 (ρ) associa a representação
afim definida por 1-cociclo que representa qualquer gerador de r. A aplicação
é bem definida pois dois cociclos determinam representações afins equivalentes
se eles são cohomologos ou se um é multiplo do outro (pois Z (ρ) contém as
transformações escalares).
6. A aplicação f : PH1 (ρ) → af (ρ) satisfaz: f (r1 ) = f (r2 ) se, e só se, existe
P ∈ Z (ρ) tal que r2 = P (r1 ). Isso vem do fato de que dois cociclos não nulos
v1 e v2 definem representações afins equivalentes se, e só se, existe P ∈ Z (ρ) tal
que v1 e P v2 são cohomologos.
Em suma,
Proposição 5.4 O conjunto das classes de equivalência das representações afins cuja
parte linear é ρ está em bijeção com o conjunto das órbitas de Z (ρ) em PH1 (ρ) jun-
tamente com {0}, que corresponde à própria ρ.
Teorema 5.5 Sejam g uma álgebra de Lie semi-simples de dimensão finita e ρ uma
representação de g em V também de dimensão finita. Então H1 (ρ) e H2 (ρ) se anulam.
A demonstração deste teorema é feita em duas partes; uma para cada um dos
espaços de cohomologia.
5.3. LEMAS DE WHITEHEAD 133
Por outro lado, foi mostrado no capı́tulo 3 (veja proposição 3.20) que, para qualquer
representação de uma álgebra semi-simples, a soma das imagens dos elementos de g
complementa a interseção de seus núcleos. Em particular para ρ̄,
\ X
C1 = ker ρ̄(X) ⊕ im ρ̄(X).
X∈g X∈g
Como o primeiro termo do segundo membro desta expressão está contido em F 1 , para
mostrar então que F 1 = C 1 , é suficiente mostrar que X∈g ker ρ̄(X) = 0.
T
Seja então f ∈ C 1 tal que ρ̃(X)f (Y ) = 0 para todo X, Y ∈ g. Então, para todo
X, Y ∈ g, ρ(Y )f (X) = 0, o que fornece, invertendo as posições de X e Y , que f [X, Y ] =
0 para todo X, Y ∈ g. Isto é, f se anula no derivado g0 de g. Como g é semi-simples,
g0 = g o que mostra que f = 0 concluindo que H1 = 0.
Antes de passar ao segundo lema, deve-se observar que o anulamento de H1 mostra
de imediato o teorema de decomposição de Weyl e, portanto, que o espaço V de qual-
quer representação ρ de g se decompõe em soma direta como
\ X
V = ker ρ(X) ⊕ im ρ(X)
X∈g X∈g
Seja então f ∈ C 2 tal que para todo X, Y, Z ∈ g, ρ̃(X)f (Y, Z) = 0. O que se deseja é
mostrar que f ∈ F 2 , isto é, f = dg para algum g ∈ A1 .
Para isso, será usada a primeira parte do teorema. Para X ∈ g, seja fX (Y ) =
f (X, Y ).
Evidentemente, fX ∈ A1 . Tem-se, além do mais, que fX ∈ C 1 . De fato, a partir
das definições, vê-se de imediato que
a) pode-se escolher v(X) de tal forma que X 7→ v(X) é linear, isto é, v ∈ A1 e que
Portanto,
ρ(X)f (Y, Z) = f (X, [Y, Z]). (5.5)
Com esta igualdade é possı́vel mostrar as propriedades de v enunciadas acima. Para
isso, a primeira observação que se faz é que, como g0 = g, todo elemento de g0 pode ser
escrito como combinação linear de colchetes e, portanto, f assume valores em
X
VI = im ρ(X).
X∈g
A soma que aparece nesse enunciado é uma soma direta de subespaços de g. Ela
não significa que g é o produto direto de r(g) com s. Dito de outra maneira, s não é,
em geral, um ideal de g. No entanto, a decomposição acima exibe g como o produto
semidireto de s por r(g), com a representação de s em r(g) sendo a representação ad-
junta. Como foi comentado no parágrafo sobre extensões, a álgebra s que complementa
r(g) não é, em geral, única. Qualquer desses complementos é chamado de componente
de Levi da álgebra.
A demonstração desse teorema está implı́cita nas seções anteriores no caso em que
o radical r(g) é abeliano. De fato, nesse caso, a existência de complementar isomorfo a
g/r(g) é conseqüência do anulamento da segunda cohomologia de uma representação da
álgebra quociente, que nesse caso é semi-simples. O que falta fazer então para concluir
a demonstração do teorema de Levi é mostrar o procedimento para reduzir o caso geral
ao caso em que o radical é abeliano.
O derivado r(g)0 de r(g) é um ideal de g e o radical de g/r(g)0 é isomorfo a r(g)/r(g)0
e é, portanto, abeliano. Os resultados anteriores se aplicam a g/r(g)0 e daı́ que existe
5.5. ÁLGEBRAS REDUTÍVEIS 137
g = s ⊕ z(g),
Proposição 5.9 Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita e g = r(g) ⊕ s uma
decomposição de Levi de g. Então,
sendo que a soma é direta pelo fato de que [s, s] ⊂ s e [g, r(g)] ⊂ r(g), de onde se tira
de imediato a igualdade do enunciado. 2
Proposição 5.10 Seja g ⊂ gl(V ) uma álgebra de Lie. Então, X é nilpotente para
todo X ∈ n = [g, r(g)].
tomando uma base β de V que é a união de bases dos subespaços Vλi , o subespaço de
peso, associado ao peso nulo de ρ, é formado pelas matrizes em relação a β que são
diagonais em blocos, com os blocos correspondendo às bases dos subespaços Vλi . Como
a representação adjunta de n em g é nilpotente, g está contido no subespaço associado
ao peso nulo e, portanto, seus elementos se escrevem em blocos diagonais da mesma
forma. Mas isso significa que Vλi é g-invariante para todo peso λi e, portanto, g se
representa em cada um desses subespaços de pesos. Seja ρi essa representação. Então,
Teorema 5.11 Seja g ⊂ gl(V ) uma subálgebra de Lie e suponha que sua representação
canônica em V seja irredutı́vel. Então, g é redutı́vel.
XY v = Y Xv + [X, Y ]v = 0
Notas
Existe uma relação bastante estreita entre a cohomologia de álgebras de Lie, um conceito
algébrico, e a cohomologia de grupos de Lie (topologia): se um grupo de Lie é compacto,
então sua cohomologia de de Rham coincide com a cohomologia de sua álgebra de Lie na
representação trivial (ρ = 0 em dimensão um).
A demonstração do teorema de Weyl usando cohomologia de álgebras de Lie não é a ori-
ginal devida a H. Weyl. Originalmente, Weyl demonstrou que uma representação de uma
5.6. EXERCÍCIOS 139
5.6 Exercı́cios
1. A cohomologia da soma de representações é a soma das cohomologias. De maneira
mais precisa, sejam g uma álgebra e ρi , i = 1, . . . , n, representações de g em Vi .
Escrevendo
ρ = ρ1 ⊕ · · · ⊕ ρn
tem-se Hk (g, ρ) ≈ i Hk (g, ρi ) para todo k. (Escreva os elementos de A em
P
suas componentes em cada um dos Vi ).
4. Mostre que gl (n, K) tem uma única componente de Levi, isto é, uma única sub-
álgebra semi-simples que complementa o seu radical.
140 CHAPTER 5. COHOMOLOGIA
5. Dê exemplos de álgebras que admitem mais de uma componente de Levi (con-
sidere álgebras reais e automorfismos da forma exp tX com X no radical).
6. Seja g uma álgebra de Lie e r seu radical. Mostre que [g, r] é o menor ideal i tal
que g/i é redutı́vel.
7. Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita e ρ uma representação irredutı́vel
de g em V não-trivial (ρ 6= 0). Mostre que
\ X
ker ρ(X) = 0 e im ρ(X) = V.
X∈g X∈g
se T
dim Vi > 1 para todo i. Mostre também que, numa representação qualquer de
g, X∈g ker ρ (X) é a soma das componentes irredutı́veis de dimensão um:
\
ker ρ (X) = {v ∈ V : ρ (X) v = 0 para todo X ∈ g}
X∈g
P
enquanto que X∈g im ρ (X) é a soma das componentes não-triviais de tal forma
que \ X
V = ker ρ (X) ⊕ im ρ (X) .
X∈g X∈g
Dê exemplo de uma representação de uma álgebra (não semi-simples) tal que essa
soma não é direta.
8. Uma vez mostrado o teorema de Weyl, pode-se mostrar que Hk (g, ρ) = 0 para
todo k se g é semi-simples e ρ é uma representação irredutı́vel não-trivial (ρ 6= 0).
Isso pode ser feito da seguinte maneira:
(b) A fórmula para ρ̃ (X) f mostra que se f ∈ C k , então ρ̃ (X) f = dfX , onde
fX ∈ Ak−1 é definida por
fX (X2 , . . . , Xk ) = f (X, X2 , . . . , Xk ) .
11. Mostre que uma álgebra de Lie é redutı́vel se e só se o seu centro coincide com o
seu radical nilpotente.
12. Seja g uma álgebra de Lie sobre um corpo algebricamente fechado com radical r.
Mostre que se ρ é uma representação irredutı́vel de g, então ρ (X) é múltiplo da
identidade para todo X ∈ r.
14. Dada uma álgebra de Lie g, denote por g∞ a interseção de suas álgebras derivadas.
Mostre que g/g∞ é solúvel e que (g∞ )0 = g∞ . Mostre também que g é o produto
direto de uma álgebra simples por uma solúvel se e só se g∞ é semi-simples.
(a) i0 = 0
(b) ij+1 /ij é um ideal abeliano maximal em g/ij .
18. Para uma álgebra de Lie de transformações lineares g ⊂ gl (V ) seja U (g) a álgebra
associativa gerada por g, isto é, U (g) é a álgebra associativa de transformações
lineares de V – com o produto dado pela composta – obtida tomando produtos
sucessivos de elementos de g. Mostre que para v ∈ V o subespaço
X = X1 + · · · + Xs
P ρ1 (X) = ρ2 (X) P X ∈ g.
21. Dê exemplo de uma extensão abeliana π : g → g tal que ker π admite comple-
mentar e, no entanto, a representação de g em ker π dada por seções de π não
tem H2 trivial.
22. Dê exemplo de uma álgebra de Lie g que não é semi-simples e que satisfaz g0 = g.
5.6. EXERCÍCIOS 143
24. Seja
so (n) = {A ∈ sl (n) : A + At }
a álgebra das matrizes anti-simétricas sobre um corpo K algebricamente fechado.
Mostre que so (n) é semi-simples. (Uma vez verificado que a representação
canônica de so (n) é irredutı́vel, é fácil verificar que as matrizes escalares não
pertencem a so (n)).
Álgebras semi-simples
145
146 CHAPTER 6. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
ρ(H)ρ(X)k v = (λ + 2k)ρ(X)k v
ρ(H)ρ(Y )k v = (λ − 2k)ρ(X)k v.
Portanto, iterações das ações de ρ(X) dão origem a autovetores de ρ(H) associados a
autovalores em ordem crescente, o mesmo ocorrendo com ρ(Y ), mas com autovetores
associados a autovalores em ordem decrescente. É dessa observação que se tira a
seguinte caracterização das representações irredutı́veis de sl(2).
onde v−1 = vn+1 = 0. Essas expressões mostram que, em relação à base dada, ρ(X)
é triangular superior, ρ(H) é diagonal (com autovalores inteiros) e ρ(Y ) é triangular
inferior.
vi = ρ(Y )i v0 .
Seja k o primeiro inteiro tal que vk+1 = 0. A existência desse k deve-se a que V é de
dimensão finita. O conjunto {v0 , . . . , vk } é linearmente independente pois
Esta igualdade segue por indução sobre i: para i = 0, ρ(X)v0 = 0 pela definição de v0
e evidentemente o segundo membro de (6.2) se anula. Para i ≥ 1,
que é a expressão para ρ (X) em (6.2). Essa igualdade mostra que o espaço gerado
por {v0 , . . . , vk } é invariante por ρ(X) e como ele é claramente invariante por ρ(H) e
ρ(Y ), ele coincide com V , já que a representação é irredutı́vel. Portanto, k = n e daı́
que para concluir a demonstração do teorema é suficiente mostrar que λ0 = n. Por um
lado,
ρ(H)vn = (λ0 − 2n)vn .
No entanto,
ρ[X, Y ]vn = ρ(X)ρ(Y )vn − ρ(Y )ρ(X)vn
= −ρ(Y )(n(λ0 − n + 1)vn−1 )
= −n(λ0 − n + 1)vn
e, portanto,
λ0 − 2n = −n(λ0 − n + 1)
o que implica que λ0 = n. 2
Teorema 6.2 Para cada n ≥ 0 existe uma única (a menos de isomorfismo) repre-
sentação irredutı́vel de dimensão n + 1 de sl(2) e essas representações cobrem todas
suas representações de dimensão finita.
ad(X)Z ∈ gα+γ
ad(Y ) ad(X)Z ∈ gα+β+γ .
Este lema, juntamente com o fato de que a forma de Cartan-Killing não é degene-
rada, tem as seguintes conseqüências interessantes.
Demonstração:
1. Seja H ∈ h. Como h·, ·i não é degenerada, existe X ∈ g tal que hH, Xi 6= 0.
Escrevendo
X = H1 + X1 + · · · + Xk H1 ∈ h, Xi ∈ gαi ,
o lema anterior garante que hH, Xi i = 0 e, portanto, hH, H1 i 6= 0, o que mostra
que a restrição não é degenerada.
3. De fato, se hX, Y i = 0 para todo Y ∈ g−α , então o lema anterior implica que
hX, Zi = 0 para todo Z ∈ g, o que contradiz o fato de que a forma de Cartan-
Killing não é degenerada. 2
ad[H1 , H2 ] = [ad H1 , ad H2 ] = 0
2. Pelo item anterior, é suficiente mostrar que dado X ∈ gα existe Y ∈ g−α com
hX, Y i = 1. Seja Y 0 ∈ g−α tal que hX, Y 0 i =
6 0. Então,
1
hX, Y 0 i = 1,
hX, Y 0 i
o que mostra o que se deseja.
3. Seja V o subespaço de g dado pela soma direta
· · · ⊕ gβ−2α ⊕ gβ−α ⊕ gβ ⊕ gβ+α ⊕ gβ+2α ⊕ · · ·
onde se adota que gβ+kα = 0 se β + kα não é raiz e, é claro, gβ+kα = h se
β + kα = 0. Essa soma é finita, pois existe apenas um número finito de raı́zes.
Sejam X ∈ gα e Y ∈ g−α com [X, Y ] = Hα , como foi garantido no item anterior.
Pela definição de V , ad(X)V ⊂ V e ad(Y )V ⊂ V . Além do mais,
ad(Hα )|V = ad[X, Y ]|V = [ad X|V , ad Y|V ].
Portanto,
tr(ad(Hα )|V ) = 0,
já que o traço de qualquer comutador se anula. Esta é a igualdade que, devi-
damente expandida, mostra que qβα é racional. De fato, seja dk = dim gβ+kα .
Então, X
tr(ad(Hα )|V ) = dk (β + kα)(Hα )
Xk
= dk (hβ, αi + khα, αi)
k X X
= hβ, αi dk + hα, αi kdk
k k
= 0.
P
Mas k dk > 0 pois d0 = dim gβ > 0. Portanto,
P
kdk
hβ, αi = − P hα, αi
dk
e daı́ que P
kdk
qβα =− P
dk
é racional.
4. Pelo item anterior, se hα, αi = 0, então hβ, αi = 0 para toda raiz β, isto é,
β(Hα ) = 0 para toda raiz β, o que contradiz o fato de que o conjunto das raı́zes
gera o dual h∗ de h. Isso mostra que hα, αi =
6 0 para toda raiz α. No entanto,
hα, αi = hHα , Hα i
2
= tr(ad(H
X α) )
= dβ β(Hα )2 ,
β raiz
6.2. SUBÁLGEBRAS DE CARTAN 153
Como hα, αi =
6 0,
1
hα, αi = P 2
dβ qβα
é um racional positivo.
tr(ad(Hα )|V ) = 0.
Mas, X
tr(ad(Hα )|V ) = −α(Hα ) + dk kα(Hα )
k≥1
X
= −hα, αi + dk khα, αi,
k≥1
1 = d1 + 2d2 + 3d3 + · · ·
H = diag{a1 , . . . , an }
154 CHAPTER 6. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
com a1 + · · · + an = 0 e, portanto,
No primeiro termo doPsegundo membro, cada a2i é somado n − 1 vezes, já o segundo
termo coincide com 2 i a2i pois
P
ai = 0. Portanto,
n
X
hH, Hi = 2n a2i .
i=1
Esta igualdade, juntamente com a fórmula de polarização, que relaciona uma forma
quadrática com a forma bilinear associada, fornece a forma de Cartan-Killing restrita
a h:
hH, H 0 i = 2n(a1 b1 + · · · + an bn ),
onde H 0 = diag{b1 , . . . , bn }. Devido a essa expressão,
1
Hαij = (Eii − Ejj )
2n
e, portanto, os valores da forma de Cartan-Killing nas raı́zes são os racionais
1
hαij , αrs i = (δ ir − δ is − δ jr + δ js ),
2n
onde δ ij = 1 se i = j e 0 caso contrário. Em particular,
1
hαij , αij i = .
n
Os valores de h·, ·i nos elementos dos espaços de raı́zes são dados por hEij , Ers i = 0 se
(r, s) 6= (j, i). Como
[Eij , Eji ] = Eii − Ejj = 2nHαij ,
segue que hEij , Eji i = 2n. 2
6.3. A FÓRMULA DE KILLING 155
Isso mostra que g(α) é isomorfa a sl(2) com o isomorfismo dado por
X ←→ Xα H ←→ Hα0 Y ←→ Y−α
. . . , β − 2α, β − α, β, β + α, β + 2α, . . .
β − pα, . . . , β − α, β, β + α, . . . , β + qα
são os únicos pesos da forma β + kα com k inteiro. Além do mais, vale a seguinte
fórmula (de Killing)
2hβ, αi
p−q = . (6.4)
hα, αi
A respeito deste teorema, valem os seguintes comentários:
3. O inteiro
2hβ, αi
hα, αi
é denominado número de Killing associado às raı́zes α e β.
−α, 0, α
Esta soma é finita, pois existe apenas um número finito de pesos. A representação
adjunta de g(α) em g deixa Vβ,α invariante pois
Portanto, g(α) se representa em Vβ,α . Essa representação é irredutı́vel. Para ver isso,
seja
Vβ,α = V1 ⊕ · · · ⊕ Vs
6.3. A FÓRMULA DE KILLING 157
2hβ, αi
Esta igualdade mostra de imediato que é inteiro. Mais ainda, como
hα, αi
2hβ, αi
+ 2k
hα, αi
2hβ, αi
tem a mesma paridade que , os diferentes autovalores de Hα0 dentro de Vβ,α têm
hα, αi
todos a mesma paridade. Isso mostra que as dimensões dos subespaços Vi são todas
pares ou todas ı́mpares, o mesmo ocorrendo com mi .
Por outro lado, os autovalores de Hα0 são todos simples, pois os auto-espaços são da
forma gβ+kα e estes têm dimensão um, já que β + kα 6= 0. A partir daı́, obtém-se a
irredutibilidade de Vβ,α . De fato, suponha que na decomposição acima s 6= 1. Então,
existem i, j tal que mj = mi + 2k com k ≥ 0, o que contradiz o fato de mi ser um
autovalor simples, pois então ele apareceria como autovalor em Vi e em Vj .
A irredutibilidade de Vβ,α e o fato que (β + kα)(Hα0 ) varia de dois em dois, quando
se varia k, garantem que
Vβ,α = gβ−pα ⊕ · · · ⊕ gβ+qα ,
o que mostra que o conjunto dos pesos na α-seqüência iniciada em β é um intervalo.
Agora, o maior autovalor de Hα0 dentro de Vβ,a é dado por
2hβ, αi
(β + qα)(Hα0 ) = + 2q.
hα, αi
Como dim Vβ,α = p + q + 1,
2hβ, αi
p+q = + 2q,
hα, αi
isto é,
2hβ, αi
p−q = ,
hα, αi
que é a fórmula de Killing. 2
No que segue, o termo α-seqüência iniciada em β será usado para designar apenas
o intervalo dos pesos da forma β + kα.
Como conseqüência da fórmula de Killing, tem-se
158 CHAPTER 6. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
Proposição 6.11 Os únicos múltiplos de uma raiz α que são raı́zes são ±α.
2hβ, αi
= 2c
hα, αi
e
2hβ, αi 2
= .
hβ, βi c
Sejam n = 2c e m = 2/c. Então, m, n são inteiros e mn = 4. Isso só é possı́vel se
n = ±1, ±2 ou ±4, isto é, c = ± 12 , ±1 ou ±2 e, portanto, c = ±1, pois como já foi
mostrado, os únicos múltiplos inteiros de uma raiz são ela mesma e sua oposta. 2
Exemplo: Continuando o exemplo da seção anterior, para uma raiz αij a subálgebra
g(αij ) é gerada por Eij , Eji e Eii − Ejj e, portanto, ela se identifica com a álgebra das
transformações lineares de traço zero do subespaço gerado por ei e ej onde {e1 , . . . , en }
é a base utilizada para escrever as matrizes. As expressões dadas para a forma de
Cartan-Killing mostram que para duas raı́zes αij e αrs o número de Killing é o inteiro
2hαij , αrs i
= δ ir − δ is − δ jr + δ js ,
hαij , αij i
enquanto que
Hα0 ij = Eii − Ejj .
Para a αij -seqüência iniciada em αrs , existem as possibilidades
1. {i, j} ∩ {r, s} = ∅. Então, a seqüência consiste de αrs apenas, pois αrs + αij e
αrs − αij não são raı́zes, já que esses funcionais não são da forma λa − λb . Além
do mais, a expressão acima mostra que o número de Killing associado às raı́zes
se anula.
6.4. SISTEMAS SIMPLES DE RAÍZES 159
2. {i, j} ∩ {r, s} tem um elemento. Então, na soma que fornece o número de Killing,
apenas uma das parcelas não se anula e daı́ que
2hαij , αrs i
= ±1
hαij , αij i
e a seqüência é formada por αrs e αrs + αij ou αrs − αij , pois esses são os únicos
funcionais possı́veis da forma λa − λb .
3. {i, j} = {r, s}. Então, αij = ±αrs e a seqüência é formada por ±αij e 0.
Os possı́veis números de Killing são 0, ±1 e ±2, sendo que este último caso só
ocorre se as raı́zes são múltiplas uma da outra. 2
Como o conjunto das raı́zes é finito, hQ é um espaço vetorial de dimensão finita sobre
os racionais. De maneira mais precisa,
B = {Hα1 , . . . , Hαl }
Hα = a1 Hα1 + · · · + al Hαl
160 CHAPTER 6. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
Esse sistema tem uma única solução, pois a matriz de seus coeficientes é a matriz da
forma não-degenerada h·, ·i em relação à base B. Além do mais, os coeficientes do
sistema são todos racionais e daı́ que cada ai é racional, o que mostra que B gera,
sobre os racionais, o dual Π e, portanto, hQ , concluindo a demonstração. 2
Demonstração: Só falta mostrar que é positiva definida. Para isso, seja H ∈ hQ .
Então,
X X
hH, Hi = tr ad (H)2 = α(H)2 = hHα , Hi2
α∈Π α∈Π
Lema 6.15 Tomando a ordem lexicográfica dada pela base ordenada {v1 , . . . , vl }, seja
{w1 , . . . , wm } um subconjunto de V satisfazendo
wm = a1 w1 + · · · + am−1 wm−1 .
hwm , w+ i = hw+ + w− , w+ i
2
= |w+ | + hw− , w+ i.
2
O último termo P é estritamente positivo, pois |w+ | > 0 e hw− , w+ i ≥ 0,
desta expressãoP
já que se w+ = bi wi e w− = cj wj , então
X
hw− , w+ i = bi cj hwi , wj i
162 CHAPTER 6. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
A partir de agora, fixa-se uma ordem lexicográfica dada por uma base de h∗Q .
i) α > 0
α = β + γ.
Lema 6.17 Σ 6= ∅.
Demonstração: Seja α uma raiz positiva minimal, isto é, tal que não existe β ∈ Π
com β > 0 e β < α. A existência de uma raiz desse tipo vem de que −γ ∈ Π se γ ∈ Π
e, portanto, existem raı́zes positivas e, como Π é um conjunto finito, existem raı́zes
positivas minimais. Uma raiz α, satisfazendo essas propriedades, é simples. De fato,
se α = β + γ com β, γ > 0 e β, γ ∈ Π então, α > β > 0 pois γ > 0 contradizendo a
escolha de α. 2
i) β − α ≤ 0, pois β = α + (β − α) e β é simples e
ii) β − α ≥ 0, pois α = β + (α − β) e α é simples,
2hβ, αi
0 ≥ −q =
hα, αi
Σ = {α1 , . . . , αl }.
Lema 6.20 Seja β ∈ Π com β > 0. Então, β se escreve de maneira única como
β = n1 α 1 + · · · + nl α l
Corolário 6.21 a) Seja γ uma raiz positiva que não é simples. Então, existe α ∈ Σ
tal que hγ, αi > 0 e γ − α é raiz positiva.
b) Toda raiz positiva γ pode ser escrita como
γ = αi1 + · · · + αik
αi1 + · · · + αis
s = 1, . . . , k são raı́zes.
Demonstração:
a) Se hγ, αi ≤ 0 para toda raiz simples α, então o lema 6.15 garante que Σ ∪ {γ} é
linearmente independente, contradizendo o lema anterior. Já o fato de que γ − α
é raiz vem da fórmula de Killing, uma vez que na α-seqüência iniciada em γ,
p > 0 pois hγ, αi > 0.
b) A afirmação é imediata se γ é uma raiz simples. Por outro lado, se γ não é
simples, então existe α ∈ Σ tal que γ − α é raiz positiva. Como γ = (γ − α) + α,
o resultado segue por indução. 2
164 CHAPTER 6. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
Σ = {α1 , . . . , αl }
β = n1 α 1 + · · · + nl α l
A afirmação em b) vem do último lema: se uma raiz é positiva, ela se escreve como
uma combinação linear em que os coeficientes são todos inteiros ≥ 0. Por outro lado,
se β não é positiva, então −β é positiva, e daı́ que todos os coeficientes de β em relação
a Σ são ≤ 0.
Baseado nesses fatos, introduz-se o seguinte conceito.
É claro que o conjunto das raı́zes simples definidas a partir de uma ordem lexi-
cográfica em h∗Q é um sistema simples de raı́zes. Vice-versa, partindo de um sistema
simples de raı́zes Σ, pode-se definir em h∗Q a ordem lexicográfica definida por Σ, que é
uma base de h∗Q . Em relação a essa ordem, o conjunto das raı́zes simples é exatamente
Σ. De fato, se nessa ordem β é uma raiz positiva, sua primeira coordenada não-nula
em relação à base Σ é positiva e, portanto, todas essas coordenadas são positivas por
b). Por essa razão, é impossı́vel escrever αi = β + γ com β e γ raı́zes positivas o que
mostra que os elementos de Σ são raı́zes simples. Como o conjunto das raı́zes simples
é uma base, Σ coincide com esse conjunto.
Não existe um único sistema simples de raı́zes. Por exemplo, se Σ é um sistema
simples, o mesmo ocorre com −Σ = {−α1 , . . . , −αl }. A quantidade de tais sistemas
(que é evidentemente finita) é dada pela ordem do grupo de Weyl. Esse é o grupo de
transformações lineares de h∗Q gerado por rα : h∗Q → h∗Q , α ∈ Π, onde rα é a reflexão
definida pelo hiperplano ortogonal à raiz α, isto é
2hβ, αi
rα (β) = β − α.
hα, αi
Sejam X X
n+ = gα n− = gα .
α∈Π+ α∈Π−
Então,
g = n+ ⊕ h ⊕ n−
e n+ e n− são duais pela forma de Cartan-Killing, pois hgα , g−a i 6= 0 e hgα , gβ i = 0 se
β 6= −α. Além do mais, h é auto-dual, pois a restrição de h·, ·i a h não é degenerada.
Essa é a estrutura básica das álgebras semi-simples e que imita a de sl(2) onde essa
decomposição é dada pela base {X, H, Y }. A álgebra n+ é nilpotente, pois se X ∈
gα , então, ad(X)k gβ ⊂ gkα+β , o mesmo ocorrendo com n− que é isomorfa a n+ . A
subálgebra de Cartan h normaliza tanto n+ quanto n− . Assim, b = h ⊕ n+ é uma
subálgebra e, como n+ é um ideal de b, essa subálgebra é solúvel. A subálgebra b é
conhecida como subálgebra de Borel.
soma – com possı́veis repetições – dos elementos de Σ. Dessa forma, para encontrar as
raı́zes positivas (e, portanto, todas as raı́zes, já que Π = Π+ ∪ −Π+ ) deve-se encontrar
quais as somas de elementos de Σ que são raı́zes. Isso é feito com a ajuda da fórmula
de Killing, passo a passo, considerando a quantidade de raı́zes simples que aparece na
expressão de uma raiz positiva: seja
Σ = {α1 , . . . , αl }
o sistema simples. Se β é uma raiz positiva, então
β = n1 α 1 + · · · + nl α l
com os coeficientes inteiros não-negativos. A altura de β é o inteiro positivo n1 +· · ·+nl .
Por exemplo, as raı́zes positivas de altura 1 são exatamente as raı́zes simples.
Já as raı́zes positivas de altura 2 são as da forma αi + αj com i 6= j (pois para
uma raiz α, 2α não é raiz). A fórmula de Killing para αi e αj permite encontrar quais
destas somas são raı́zes. De fato, se αj − pαi , . . . , αj + qαi é a αi -seqüência iniciada em
αj então p = 0 pois αi − αj não é raiz. Portanto,
2hαi , αj i
−q =
hαi , αi i
e daı́ que q > 0 (isto é, αi + αj é raiz) se e só se
2hαi , αj i
<0
hαi , αi i
(convém lembrar que hα, βi ≤ 0 se α e β são raı́zes simples distintas). Dessa forma,
para decidir quais são as raı́zes de altura dois, basta olhar a tabela
2hαi , αj i
i, j = 1, . . . , l
hαi , αi i
dos números de Killing associados às raı́zes simples.
Seja agora β uma raiz de altura 3. Pelo corolário 6.21, β = α + αk com α de altura
dois e αk ∈ Σ, isto é,
β = αi + αj + αk
com i 6= j. A fórmula de Killing para a αk -seqüência iniciada em αi + αj é
2hαi + αj , αk i
p−q = .
hαk , αk i
Com isso, existem as seguintes possibilidades:
a) i 6= k 6= j. Neste caso, p = 0 pois αi + αj − αk não é raiz por ser uma combinação
linear em que aparecem tanto coeficientes positivos quanto negativos. Daı́ que
partindo de αi +αj ∈ Π+ , os valores de k para os quais αi +αj +αk é raiz positiva
são aqueles em que
2hαi , αk i 2hαj , αk i
< 0 ou < 0.
hαk , αk i hαk , αk i
6.5. MATRIZES DE CARTAN E DIAGRAMAS DE DYNKIN 167
α = n1 α 1 + · · · + nl α l ,
então
2hα, αk i 2hα, α1 i 2hα, αl i
= n1 + · · · + nl
hαk , αk i hα1 , α1 i hαl , αl i
e novamente q (e, portanto, o fato de α + αk ser ou não raiz) é encontrado a partir dos
números de Killing correspondentes aos elementos de Σ.
Essa discussão permite que se convença que os números de Killing associados aos
elementos de um sistema simples determinam todas as raı́zes de h e, portanto, a estru-
tura da álgebra semi-simples. Isso será mostrado com detalhes no capı́tulo 8 por um
método que elabora devidamente os comentários acima.
Os números associados às raı́zes simples são colocados em forma de matriz l × l
como
2hαi , αj i
C= .
hαi , αi i i,j
Esta matriz recebe o nome de Matriz de Cartan do sistema simples de raı́zes. Os
elementos diagonais dessa matriz são todos iguais a 2 e os elementos de fora da diagonal
são inteiros negativos. A proposição seguinte mostra que as possibilidades para os
elementos de fora da diagonal são bastante restritas.
2hβ, αi
= 0, ±1, ±2, ±3.
hα, αi
Demonstração:
a) Como
2hβ, αi 2hβ, αi
e
hα, αi hβ, βi
são inteiros,
4hα, βi2
4 cos 2 θ =
hα, αihβ, βi
é inteiro. Portanto,
4 cos 2 θ = 0, 1, 2, 3, 4
e daı́ que cos θ é como no enunciado.
2hβ, αi
= ±4,
hα, αi
então
2 hβ, αi2
4 cos θ = 4 =4
hα, αihβ, βi
e cos θ = ±1, isto é, β é múltiplo de α. Daı́ que β = ±α e
2hβ, αi
= ±2,
hα, αi
120◦ , 135◦ ou 150◦ , se as raı́zes simples são distintas. Além do mais, o fato de que
cos 2 θ < 1 para i 6= j garante que se
2hαi , αj i
= −2 ou − 3,
hαi , αi i
então, necessariamente,
2hαj , αi i
= −1
hαi , αi i
pois o produto desses dois números de Killing coincide com 4 cos 2 θ. Em outras
palavras, se uma entrada cij , i 6= j da matriz de Cartan é −2 ou −3, então a entrada
cji é −1. Da mesma forma, se cij = 0, o mesmo ocorre com cji . Em resumo:
Proposição 6.24 Seja C = (cij ) a matriz de Cartan de um sistema simples de raı́zes.
Então,
1. cii = 2 para todo i,
2. cij = 0, −1, −2 ou −3,
3. cji = −1 se cij = −2 ou −3 e
4. cij = 0 se e só se cji = 0.
Nem todas as matrizes l × l satisfazendo essas quatro propriedades são efetiva-
mente matrizes de Cartan de algum sistema simples de raı́zes. As matrizes de Cartan
serão encontradas posteriormente através dos diagramas de Dynkin. Antes disso, é
conveniente ver alguns exemplos dessas matrizes.
Exemplos:
1. A matriz
2 −1
−1 2
é a matriz de Cartan de sl(3). As raı́zes simples são α1 = α12 e α2 = α23 , que
satisfazem
2hα1 , α2 i 2hα1 , α2 i
= = −1.
hα1 , α1 i hα2 , α2 i
Na α1 -seqüência iniciada em α2 tem-se que p = 0 e, portanto, q = 1. O mesmo
ocorre com a α2 -seqüência iniciada em α1 . Daı́ que α1 + α2 é a única raiz positiva
já que α1 + 2α2 e 2α1 + α2 não são raı́zes e, portanto, não existem raı́zes de altura
3.
2. A matriz
2 −1 0
−1 2 −1
0 −1 2
é a matriz de Cartan de sl(4). As raı́zes positivas são obtidas da matriz de Cartan
da seguinte forma.
170 CHAPTER 6. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
2hαi , α1 + α2 + α3 i
hαi , αi i
e, portanto, q = 0.
4. A matriz
2 −3
−1 2
é uma matriz de Cartan. As raı́zes de altura h são dadas por
(e) 2α1 + 3α2 é a única raiz de altura cinco. Isso porque, para a α1 -seqüência
iniciada em α1 + 3α2 , vale a fórmula
2hα1 , α1 + 3α2 i
p−q = = −1
hα1 , α1 i
e p = 0 pois 3α2 não é raiz. Daı́ que q = 1 e 2α1 + 3α2 é de fato raiz. Por
outro lado, a outra possibilidade seria α1 + 4α2 que não é raiz, como pode
ser visto a partir da α2 -seqüência iniciada em α1 .
Não existem raı́zes de altura seis. Somando raı́zes simples à raiz de altura cinco,
as possibilidades são 3α1 +3α2 e 2α1 +4α2 , que não são raı́zes por serem múltiplos
de raı́zes. Com isso, ficam determinadas todas as raı́zes positivas. Elas são de
altura no máximo cinco e sua quantidade é seis. Portanto, o número total de
raı́zes é doze e, como a subálgebra de Cartan tem dimensão dois, a álgebra semi-
simples associada à matriz de Cartan acima tem dimensão 14. 2
Σ = {α1 , . . . , αl }.
O diagrama contém l pontos (vértices) representando cada uma das raı́zes. Os vértices
são ligados ou não por um, dois ou três segmentos (arestas) de acordo com as seguintes
instruções.
1. Se
2hαi , αj i 2hαi , αj i
= =0
hαi , αi i hαj , αj i
não existe ligação:
e e
αi αj
2. Se
2hαi , αj i 2hαi , αj i
= = −1,
hαi , αi i hαj , αj i
αi e αj são ligadas por um segmento:
e e
αi αj
3. Se
2hαi , αj i 2hαi , αj i
ou
hαi , αi i hαj , αj i
172 CHAPTER 6. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
e e θ = 90o
e e θ = 120o
e e θ = 1350
e e θ = 150o
No caso de ligações com dois ou três segmentos, a direção convencionada para a ligação
está associada ao comprimento relativo entre as raı́zes. De fato, o quociente entre os
números de Killing correspondentes é
2hαi , αj i/hαi , αi i hαj , αj i
= . (6.5)
2hαi , αj i/hαj , αj i hαi , αi i
6.5. MATRIZES DE CARTAN E DIAGRAMAS DE DYNKIN 173
Portanto, se duas raı́zes são ligadas por um único segmento então elas têm o mesmo
comprimento enquanto que, se elas forem ligadas por dois ou três segmentos, o quadrado
de seus comprimentos relativos é dois e três, respectivamente. Por (6.5) se vê que a
direção de uma ligação múltipla foi escolhida de tal forma que ela aponta para a raiz
de menor comprimento entre as duas raı́zes da ligação.
Exemplos:
1. A matriz de Cartan
2 −3
−1 2
define o diagrama
e Ae
e e ... e e
3. A matriz de Cartan
2 −1 0 0
−1 2 −1 0
0 −2 2 −1
0 0 −1 2
e o diagrama
e e Ae e
Notas
A história do desenvolvimento da teoria das álgebras simples é relatada em detalhes em
Hawkins [18]; desde os trabalhos de W. Killing, que elaborou os fundamentos conceituais
da teoria, até o desfecho brilhante de E. Cartan. O teorema final de classificação (veja os
próximos capı́tulos) foi enunciado por W. Killing (1888-90), apresentando uma demonstração
com falhas, que foram cobertas por E. Cartan em sua tese (1894). Nas palavras de E. Cartan:
“No que diz respeito aos grupos contı́nuos e finitos, os princı́pios da teoria foram assentados
por S. Lie e M. Engel. Em uma série de artigos importantes, Killing deu um grande avanço
à teoria e, em particular, determinou todos os grupos simples com parâmetros complexos.
Mas suas demonstrações continham diversas lacunas e passagens inexatas. Em minha Tese
(1894) me propus a ordená-los com rigor. Mesmo assim obtive independentemente de Killing
diversos resultados novos” [5].
174 CHAPTER 6. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
O termo raiz para indicar os autovalores das adjuntas dos elementos de uma subálgebra de
Cartan foi utilizado por W. Killing para indicar as raı́zes do polinômio caracterı́stico das
adjuntas dos elementos da subálgebra de Cartan.
A abordagem às álgebras semi-simples via as subálgebras de Cartan é a adotada hoje em dia.
Com Killing e Cartan, a ênfase era dada aos elementos regulares. As subálgebras de Cartan
passaram a ser consideradas principalmente depois dos trabalhos de H. Weyl sobre grupos
compactos.
A teoria desenvolvida neste capı́tulo não se restringe a álgebras sobre corpos algebricamente
fechados desde que existam elementos regulares cujas adjuntas tenham autovalores no corpo
em questão. Exemplos de álgebras que satisfazem essa condição são as formas reais normais,
discutidas no capı́tulo 12.
6.6 Exercı́cios
Nos exercı́cios a seguir, o corpo de escalares é suposto algebricamente fechado e de
caracterı́stica zero, exceto nos casos em que se menciona explicitamente ao contrário.
3. Uma subálgebra de uma álgebra de Lie é dita abeliana maximal se ela for abeliana
e não estiver contida propriamente em nenhuma subálgebra abeliana. Mostre que
numa álgebra semi-simples uma subálgebra h abeliana maximal é de Cartan se e
só se ad(H) é semi-simples para todo H ∈ h. (Tome o fecho algébrico do corpo
de escalares e faça a decomposição em subespaços de pesos da extensão de h). Dê
exemplo de uma álgebra abeliana maximal numa álgebra semi-simples que não é
de Cartan.
Numa álgebra qualquer se h é subálgebra de Cartan e ad(H) é semi-simples, para
todo H ∈ h, então h é abeliana.
6. O suporte de uma raiz α é o conjunto das raı́zes simples que aparecem (com
coeficiente não-nulo) na combinação linear de α. Mostre que o suporte de toda
raiz é um subconjunto conexo do diagrama de Dynkin e que todo subconjunto
conexo é o suporte de alguma raiz.
11. Mostre que numa álgebra semi-simples g existem dois elementos X, Y ∈ g que
geram a álgebra.
14. O objetivo deste exercı́cio é indicar uma demonstração para o seguinte fato (teo-
rema de Jacobson-Morozov): Se g é uma álgebra de Lie semi-simples e Y ∈ g é
tal que ad (Y ) é nilpotente, então existem H, X ∈ g tais que
isto é, Y está contido numa álgebra sl (2). (Não é necessário que o corpo de
escalares seja algebricamente fechado).
(a) Suponha que g ⊂ gl (V ) via uma representação fiel (por exemplo a adjunta).
Mostre que existe um subespaço U ⊂ gl (V ), invariante pela adjunta de g,
tal que gl (V ) = g ⊕ U .
176 CHAPTER 6. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
[H 0 , X 0 ] = 2X 0 [H 0 , Y ] = −2Y [X 0 , Y ] = H 0 .
Diagramas de Dynkin
{u1 , . . . , ul }
177
178 CHAPTER 7. DIAGRAMAS DE DYNKIN
{u1 , . . . , ul }
de Ql , l ≥ 1, em que os ângulos entre seus elementos são de 90◦ , 120◦ , 135◦ ou 150◦ que
são normalizadas, isto é, |ui | = 1, i = 1, . . . , l. Para uma base normalizada, o cosseno
do ângulo entre dois de seus elementos ui e uj é dado √ por √ hui , uj i e, portanto, esse
1 2 3
produto interno assume apenas os valores 0, − , − ,− .
2 2 2
Lema 7.1 Ao retirar de um diagrama alguns vértices juntamente com todas as arestas
incidentes a esses vértices, o que se obtém ainda é um diagrama.
Lema 7.2 Num diagrama com l vértices, a quantidade de pares conectados, isto é, que
não são ortogonais, é < l.
{u1 , . . . , ul }
u = u 1 + · · · + ul .
Então, u 6= 0 e X X
0 < |u|2 = h ui , uj i
i j
l
X
|ui |2 +2 i<j hui , uj i
P
=
i=1 X
= l+ 2hui , uj i
i<j
e, portanto, X
−2hui , uj i < l.
i<j
Seja θij o ângulo entre ui e uj . Então, cos θij = hui , uj i. Pelos possı́veis valores de θij ,
tem-se que √ √
−2hui , uj i = 0, 1, 2, 3
7.1. CLASSIFICAÇÃO DOS DIAGRAMAS 179
e daı́ que −2hui , uj i ≥ 1 se hui , uj i 6= 0. Pela desigualdade acima, tem-se então que
a quantidade de pares que não são ortogonais é menor que l. Como essa quantidade
coincide com a de pares ligados isso mostra o lema. 2
A partir desses dois lemas, retiram-se de imediato alguns grafos que não são dia-
gramas: um ciclo é um pedaço de diagrama que se fecha. Por exemplo,
e e e
..
.
e e e
hu, wi =
6 0
e
|u|2 = hu, wi2 + hu, v1 i2 + · · · + hu, vk i2 = 1
180 CHAPTER 7. DIAGRAMAS DE DYNKIN
e e e
l , ,
e e e l e, e e,
, l l
e, le le
não ocorrem em um diagrama, já que em cada uma delas existem quatro arestas in-
cidentes a um único vértice. O lema mostra também que a única possibilidade para
um diagrama de Dynkin conter uma ligação tripla é dada pelo seguinte diagrama com
apenas dois vértices
G2 e e
Este diagrama define a matriz de Cartan que aparece no exemplo 4 da página 170.
Para o próximo lema, será utilizado o termo cadeia simples para indicar um dia-
grama ou um pedaço de diagrama do tipo
e e ... e e
isto é, um diagrama em que os vértices são ligados sucessivamente por apenas uma
aresta.
Lema 7.5 Suponha que um diagrama contém uma cadeia simples. Então, contraindo
a cadeia simples a um vértice e mantendo a esse vértice as ligações com a cadeia
simples, o que se obtém ainda é um diagrama.
e e e ... e e - e e e
v = v1 + · · · + vk .
7.1. CLASSIFICAÇÃO DOS DIAGRAMAS 181
Então, {v, u1 , . . . , uk } é uma base cujo diagrama é o obtido por contração da cadeia
simples, como no enunciado. De fato, tem-se em primeiro lugar que
X X
hv, vi = h vi , vj i
X i j X
= |vi |2 + 2 hvi , vj i
i X i<j
= k+2 hvi , vj i
i<j≤k
Agora, o ângulo entre vi e vi+1 é de 120◦ pois existe apenas um segmento ligando-os.
Portanto, 2hvi , vi+1 i = −1 e daı́ que a igualdade acima mostra que
|v|2 = k − (k − 1) = 1.
Para ver a ligação de v com os vértices fora da cadeia simples, o que se observa é que
um vértice ui se liga no máximo a um vj , já que num diagrama não existem ciclos. Isso
significa que cada ui não é ortogonal a no máximo um dos vértices vj . Daı́ que dado i,
hv, ui i = hvj , ui i
{v, u1 , . . . , ur }
os ângulos entre os seus elementos estão de acordo com os requeridos para definir um
diagrama. Além do mais, o fato de que o ângulo entre v e cada ui coincide com o ângulo
entre algum vj e ui implica que o diagrama definido por esse conjunto é exatamente o
diagrama obtido do original por contração de {v1 , . . . , vk } a v. 2
A partir desses lemas, é possı́vel obter a seguinte classificação preliminar dos dia-
gramas de Dynkin.
182 CHAPTER 7. DIAGRAMAS DE DYNKIN
Al e e ... e e
G2 e e
e e ... e e e ... e e
..
.
e e ... e e ... e e
Demonstração: O primeiro dos diagramas acima (cadeia simples) é o único que não
apresenta ligações múltiplas (ligações com duas ou três arestas entre vértices sucessivos)
ou bifurcações (vértices ligados a mais de dois vértices distintos). Já o segundo dos
diagramas é o único que apresenta ligações triplas. Agora, se um diagrama apresenta
uma ligação dupla ou uma bifurcação, então, a partir de uma das extremidades da
ligação dupla ou do ponto de bifurcação, inicia-se uma cadeia simples. Se ao final
dessa cadeia simples existe uma ligação dupla ou um bifurcação, pode-se realizar uma
das seguintes contrações
e e
, ,
e e e ... e, - e e,
l l
le le
e e e e
l , l ,
le e ... e, - l e,
, l , l
e, le e, le
e e e ... e e - e e e
ligação dupla nem outra bifurcação. Portanto, se um diagrama não é uma cadeia sim-
ples e nem contém uma ligação tripla, ele é como o terceiro diagrama do enunciado
(se contiver uma ligação dupla) ou como o quarto (se contiver uma bifurcação). Essa
afirmação conclui a demonstração da proposição. 2
Agora é feita a análise de quais são os possı́veis diagramas em que aparecem ligações
duplas ou bifurcações. Tem-se
Proposição 7.7 Os possı́veis diagramas que contêm ligações duplas são
BCl e e ... e e (l-vértices, l ≥ 2)
F4 e e e e (4 vértices)
isto é,
p(p + 1)
|u|2 = .
2
Da mesma forma,
q(q + 1)
|v|2 = .
2
Por outro lado,
p q
X X
hu, vi = h iui , jvj i
i=1 j=1
= hpup , qvq i
= pqhup , vq i,
pois ui é ortogonal a vj se i < p ou j < q. Como a ligação entre up e vq é dupla,
hup , vq i2 = 21 e daı́ que
1
hu, vi2 = p2 q 2 .
2
A desigualdade de Cauchy-Schwartz aplicada a u e v fornece, então,
1 2 2 p(p + 1) q(q + 1)
pq < .
2 2 2
Esta desigualdade é estrita, pois u e v são linearmente independentes, já que u pertence
ao espaço gerado por {u1 , . . . , up } e v ao espaço gerado por {v1 , . . . , vq }. Tem-se então
que
pq − p − q + 1 < 2,
isto é,
(p − 1)(q − 1) < 2.
Agora, consideram-se os diferentes casos.
E6 e e e e e (6 vértices)
e
E7 e e e e e e (7 vértices)
e
E8 e e e e e e e (8 vértices)
e w2
..
.
e wr−1
e e ... e e e ... e e
u1 u2 up−1 z vq−1 v2 v1
A partir daı́, define-se
p−1 q−1 r−1
X X X
u= iui v= ivi w= iwi
i=1 i=1 i=1
que são dois a dois ortogonais, pois pertencem a espaços gerados por vetores mutua-
mente ortogonais. Da mesma forma que na proposição anterior,
p(p − 1) q(q − 1) r(r − 1)
|u|2 = |v|2 = |w|2 = .
2 2 2
A relação desejada entre p, q e r vai aparecer ao olhar os ângulos que u, v e w formam
com z. Sejam θ1 , θ2 , θ3 esses ângulos. Como |z| = 1 e u, v, w são ortogonais dois a
dois, a norma da projeção ortogonal de z sobre o espaço V gerado por {u, v, w} é
cos 2 θ1 + cos 2 θ2 + cos 2 θ3 . No entanto, z ∈/ V pois {u, v, w} está contido no espaço
gerado por {ui , vi , wi } o que não ocorre com z. Daı́ que
cos 2 θ1 + cos 2 θ2 + cos 2 θ3 < 1.
186 CHAPTER 7. DIAGRAMAS DE DYNKIN
(p − 1)2 /4
cos 2 θ1 =
p(p − 1)/2
1 1
= (1 − ).
2 p
Da mesma forma,
1 1 1 1
cos 2 θ2 = (1 − ) cos 2 θ3 = (1 − ).
2 q 2 r
1. r = 2.
(a) q = 2. Então,
1
>0
p
e não há restrição a p. Os diagramas são como Dl do enunciado.
(b) q = 3. Então,
1 5
+ >1
p 6
e p < 6, isto é, p = 3, 4 ou 5 que dão origem aos diagramas com E6 , E7 e
E8 que aparecem no enunciado.
(c) q ≥ 4. Então,
1 1 1 1 3
1< + + ≤ +
p q 2 p 4
e daı́ que p < 4, o que contradiz a hipótese de que p ≥ q. Portanto, não
existem diagramas com esses valores de q e r.
7.1. CLASSIFICAÇÃO DOS DIAGRAMAS 187
2. r ≥ 3. Como q ≥ r ≥ 3, tem-se
1 1 1 1 2
1< + + ≤ +
p q r p 3
Como estes cobrem todos os casos, vê-se que os únicos diagramas possı́veis são os
enunciados. 2
Al , l ≥ 1 e e ... e e G2 e A e
α1 α2 αl−1 αl α1 α2
Bl , l ≥ 2 e e ... e Ae F4 e e Ae e
α1 α2 αl−1 αl α1 α2 α3 α4
eα6
Cl , l ≥ 3 e e ... e e
α1 α2 αAl−1 αl E6 e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5
eα eα7
l−1
,
Dl , l ≥ 4 e e ... e,
α1 α2 αl
l−2 E7 e e e e e e
l eα α1 α2 α3 α4 α5 α6
l
eα8
E8 e e e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5 α6 α7
188 CHAPTER 7. DIAGRAMAS DE DYNKIN
De acordo com a discussão feita até o momento, estes são os únicos diagramas de
Dynkin possı́veis. Pela forma como este teorema está enunciado, sua demonstração está
ainda incompleta no sentido em que falta verificar que os cinco diagramas especiais G2 ,
F4 , E6 , E7 e E8 e as quatro classes Al , Bl , Cl e Dl são de fato diagramas de Dynkin,
isto é, são definidos a partir de bases de Ql . Isso será feito apresentando explicitamente
bases de Ql que são associadas a esses diagramas, isto é, serão apresentadas as
O conjunto
Σl = {e1 − e2 , e2 − e3 , . . . , el − el+1 }
√
é uma base de El . Todos os elementos de Σl têm comprimento 2 e o ângulo
entre os elementos sucessivos de Σl é 120◦ , enquanto quaisquer outros pares de
elementos são ortogonais. Por isso, Al , l ≥ 1, é o diagrama de Σl .
Bl Em Ql , seja
Σl = {e1 − e2 , . . . , el−1 − el , el }.
Então, Σl é uma base de Ql e os primeiros l − 1 elementos de Σl têm o mesmo
padrão de comprimentos e ângulos que Al−1 . Além do mais,
|el−1 − el |2 = 2 = 2|el |2
de Ql é uma realização de Cl , l ≥ 3.
G2 Qualquer base de√Q2 cujos elementos formam um ângulo de 150◦ e têm comprimento
relativo igual a 3 é uma realização de G2 . Uma base deste tipo não existe quando
se considera o produto interno canônico em Q2 , pois essa base seria da forma
√ √
3 3 3 3
{(x, y), (− x ± y, x ± y)}
2 2 2 2
que não pode ser obtida sobre os racionais. Uma forma de evitar isso é tomar
subespaços de dimensão dois em espaços de dimensão maior, com o produto
interno canônico. Por exemplo, o par de vetores
1 1 1 1 2
(0, , − ) (− ,− , )
6 6 18 18 18
de Q3 tem G2 por diagrama com o primeiro dos vetores o de comprimento maior.
Essa realização é a que aparece na construção da álgebra de Lie G2 .
Cabe aqui o comentário de que uma realização de G2 em R2 se obtém facilmente
por √
3 3
Σ = {(1, 0), (− , )}
2 2
e que a insistência em uma realização racional é mais ou menos fictı́cia e se deve
ao contexto em que os diagramas de Dynkin vêm sendo tratados. No capı́tulo 9
será feita uma discussão detalhada sobre a relação entre os diagramas definidos
a partir de bases em espaços racionais e reais.
F4 Esse diagrama é realizado pela base de Q4 dada por
1
{e1 − e2 , e2 − e3 , e3 ,
(−e1 − e2 − e3 + e4 )}
2
√
em que o comprimento dos elementos maiores é 2 e dos menores é 1 e a ligação
dupla é feita entre e2 − e3 e e3 .
E6 , E7 e E8 Uma realização de E8 é a base do subespaço
E8 = {(x1 , . . . , x9 ) ∈ Q9 : x1 + · · · + x9 = 0}
de Q9 dada por
Σ8 = {e2 − e3 , e3 − e4 , . . . , e8 − e9 , v},
onde v é a projeção ortogonal de − (e2 + e3 + e4 ) sobre E8 que é
2 1
v = − (e2 + e3 + e4 ) + (e1 + e5 + e6 + e7 + e8 + e9 ) .
3 3
O vértice de bifurcação é dado por e4 − e5 que se liga a v e a e5 − e6 e o lado
maior da base do diagrama começa em e8 − e9 .
Os diagramas E6 e E7 são subdiagramas de E8 e, portanto, são realizados reti-
rando os primeiros vértices de E8 que são e8 − e9 e e7 − e8 .
190 CHAPTER 7. DIAGRAMAS DE DYNKIN
7.3 Exercı́cios
1. Construa as matrizes de Cartan correspondentes a cada um dos diagramas de
Dynkin.
Álgebras semi-simples.
Complementos
191
192 CHAPTER 8. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES. COMPLEMENTOS
Uma vez verificados esses dois fatos, fica faltando garantir que o diagrama depende
na verdade das classes de equivalência das álgebras. Isso é feito mostrando que
Por fim, o quadro se completa mostrando que álgebras que têm o mesmo diagrama
pertencem à mesma classe de equivalência, isto é,
O item (A) será discutido com detalhes no próximo capı́tulo, que trata dos grupos
de Weyl de um conjunto de raı́zes. A questão é que o diagrama definido por um
sistema simples de raı́zes depende apenas dos ângulos e dos comprimentos relativos
entre as raı́zes quando esses são medidos em relação ao produto interno na subálgebra
de Cartan, dado pela forma de Cartan-Killing. Assim, dois sistemas simples definem
o mesmo diagrama se um deles for obtido do outro por uma aplicação ortogonal (ou
isometria) em relação ao produto interno. No próximo capı́tulo será provado que o
grupo de Weyl é um grupo de transformações ortogonais cuja ação é transitiva no
conjunto dos sistemas simples de raı́zes, isto é, dois sistemas simples arbitrários são
obtidos um do outro por uma transformação do grupo de Weyl. Portanto, dois sistemas
simples de uma mesma subálgebra de Cartan definem um mesmo diagrama.
Tendo garantido que uma subálgebra de Cartan define, sem ambigüidades, um
diagrama de Dynkin, o fato de que duas subálgebras de uma mesma álgebra determi-
nam o mesmo diagrama vem da discussão do capı́tulo 4 sobre a conjugação entre as
subálgebras de Cartan. De fato, sejam h1 e h2 duas subálgebras de Cartan de g. Como
o corpo de escalares é algebricamente fechado, existe um automorfismo φ de g tal que
φ(h1 ) = h2 .
Isso implica que os diagramas de h1 e h2 coincidem. De fato, sejam Π1 e Π2 os
conjuntos das raı́zes de h1 e h2 respectivamente. Tomando α ∈ Π1 , existe, por definição,
X 6= 0 tal que
[H, X] = α(H)X
para todo H ∈ h1 . Aplicando φ a essa igualdade e usando o fato de que φ é um
automorfismo, chega-se a
para todo H ∈ h2 . Isso mostra que φ∗ α = α ◦ φ−1 é uma raiz para h2 e daı́ que
φ∗ (Π1 ) ⊂ Π2 . Mas φ é automorfismo e tanto Π1 quanto Π2 são finitos, portanto
8.1. ÁLGEBRAS ISOMORFAS 193
g = g1 ⊕ · · · ⊕ gs
h = h1 ⊕ · · · ⊕ hs
Demonstração: Suponha por absurdo que existam raı́zes que não estão nem em h∗1
nem em h∗2 . Existem então raı́zes positivas nessas condições. Escolha uma raiz positiva
β∈ / h∗1 ∪ h∗2 cuja altura seja mı́nima entre as raı́zes positivas que não estão em h∗1 ∪ h∗2 .
Essa raiz não é simples, pois, por construção, Σ ⊂ h∗1 ∪ h∗2 . Portanto, existe uma raiz
simples α ∈ Σ tal que β − α é raiz positiva. Pela escolha de β, β − α ∈ h∗1 ∪ h∗2 .
Suponha, para fixar as idéias, que β − α ∈ h∗1 . Isso implica que α ∈ h∗2 , pois se α ∈ h∗1 ,
então β = (β − α) + α ∈ h∗1 .
A contradição aparece ao ser examinada a α-seqüência iniciada em β − α. Como
β é raiz positiva, sua expressão como combinação linear das raı́zes simples mostra que
β − 2α é raiz negativa se e só se β = α, o que não ocorre, pois β não é simples. Por
outro lado, β − 2α ∈ / h∗1 ∪ h∗2 , já que se β − 2α ∈ h∗1 , então α = (β − α) − (β − 2α) ∈ h∗1
e se β − 2α ∈ h∗2 , então β − α = (β − 2α) + α ∈ h∗2 . Portanto, a escolha de β como raiz
de altura mı́nima implica que β − 2α não é raiz. Daı́ que a α-seqüência iniciada em
β − α é da forma
β − α, β, . . .
A fórmula de Killing mostra, então, que hβ − α, αi =
6 0, o que contradiz o fato de que
∗ ∗
β − α ∈ h1 e α ∈ h2 . 2
Proposição 8.3 Suponha que g seja simples. Então, seu diagrama é conexo.
β − pα, . . . , β, . . . , β + qα
Demonstração: Observe antes de mais nada que as raı́zes são duas a duas linear-
mente independentes, pois os únicos múltiplos de uma raiz são ela mesma e sua oposta.
A aplicação da identidade de Jacobi a [Xα , [Xβ , Xγ ]] fornece
Por hipótese β + γ = −α. Portanto, [Xα , Xβ+γ ] = Hα , pois hXδ , X−δ i = 1 para toda
raiz δ. Substituindo da mesma forma α + β e α + γ no segundo membro de (8.2), essa
igualdade fica sendo equivalente a
mostrando o lema. 2
8.1. ÁLGEBRAS ISOMORFAS 197
Lema 8.7 Sejam α, β, γ e δ raı́zes e suponha que nenhuma é a oposta da outra. Su-
ponha também que
α + β + γ + δ = 0.
Então,
mα,β mγ,δ + mβ,γ mα,δ + mγ,α mβ,δ = 0.
pois −δ = α + β + γ. Pelo lema 8.6 aplicado às raı́zes α, β + γ, δ, mα,β+γ = mδ,α , que
substituı́do na igualdade acima fornece
Observe que esta igualdade faz sentido e é válida mesmo que β + γ não seja raiz, pois,
nesse caso, o primeiro membro se anula pelo fato de que [Xβ , Xγ ] = 0 e o segundo pelo
fato de que mβ,γ = 0. Agora, aplicando a identidade de Jacobi ao primeiro membro de
(8.3), obtém-se a partir do segundo membro, fazendo permutações cı́clicas de α, β, γ,
que
(mα,δ mβ,γ + mγ,δ mα,β + mβ,δ mγ,α )X−δ = 0,
que implica a igualdade do enunciado. 2
Teorema 8.8 Suponha que g1 e g2 sejam álgebras simples e tome subálgebras de Car-
tan h1 ⊂ g1 e h2 ⊂ g2 . Denote por Π1 e Π2 os conjuntos de raı́zes correspondentes e
sejam h1Q e h2Q os subespaços racionais gerados pelas raı́zes. Suponha que exista uma
transformação linear (sobre os racionais) inversı́vel φ : h1Q → h2Q tal que φ(Π1 ) = Π2 .
Então, φ se estende a um isomorfismo φ̃ : g1 → g2 .
= c2 hφ (α) , φ (β)i,
Feito isso, o isomorfismo é dado pela igualdade das constantes de estrutura das bases
{Xα } e {Yφ(α) }.
A definição de Yφ(α) é feita por indução em relação a uma ordem em Π. Por isso, é
conveniente introduzir um sistema simples Σ ⊂ Π com a ordem correspondente em Π.
Por simplicidade de notação φ (α) será indicado por α0 .
A construção de Yα0 é por indução sobre a altura de α se α > 0 e pela relação
hYα0 , Y−α0 i = 1 se α < 0.
As raı́zes positivas de altura 1 são as raı́zes simples. Para essas raı́zes, escolha
elementos não-nulos arbitrários Yα0 ∈ g2α0 e tome Y−α0 de tal forma que hYα0 , Y−α0 i = 1.
Passando às raı́zes de altura n > 1, seja Πn o conjunto das raı́zes α tais que α ou
−α é de altura ≤ n, dependendo se α é positiva ou negativa. A hipótese de indução é
que Yα0 está definido para toda raiz α ∈ Πn−1 e se β, γ e β + γ estão em Πn−1 , então
Seja δ uma raiz positiva de altura n. Para definir Yδ0 escolha uma decomposição
δ = α + β com α raiz simples e β raiz positiva. Como α + β é raiz, mα,β 6= 0 e,
portanto, pode-se definir Yδ0 pela igualdade
Com esse teorema fica mostrado que se duas álgebras têm sistemas simples com o
mesmo diagrama, então elas são isomorfas, pois a transformação linear que associa os
elementos correspondentes dos sistemas simples se estende a um isomorfismo entre as
álgebras.
Para completar toda a discussão, falta verificar que a cada um dos diagramas corres-
ponde alguma álgebra simples. Essas álgebras serão construı́das adiante, distinguindo
as séries Al , Bl , Cl e Dl – que estão associadas a álgebras concretas de matrizes,
conhecidas como álgebras clássicas – dos demais diagramas que estão associados às
chamadas álgebras excepcionais.
200 CHAPTER 8. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES. COMPLEMENTOS
Al , l ≥ 1 e e ... e e
α1 α2 αl−1 αl
Σ = {λ1 − λ2 , . . . , λl − λl+1 }.
Bl O diagrama
Bl , l ≥ 2 e e ... e Ae
α1 α2 αl−1 αl
8.2. ÁLGEBRAS CLÁSSICAS 201
gi = {A ∈ sl(2l + 1) : At Ji + Ji A = 0}.
e, portanto, essas raı́zes são positivas e suas opostas −λj são negativas. Além do
mais, se i < j. então
e, portanto, essas raı́zes também são positivas sendo que suas opostas são nega-
tivas. Por fim,
λi − λj = (λi − λi+1 ) + · · · + (λj−1 − λj ),
como no caso Al .
Para encontrar a restrição da forma de Cartan-Killing a h seja H como em (8.7)
com
Λ = diag{a1 , . . . , al }.
A lista das raı́zes dada acima mostra que
l
X X X
hH, Hi = 2 a2i + (ai − aj )2 + (ai + aj )2 .
i=1 i6=j i6=j
Portanto,
l
X X
hH, Hi = 2 a2i + 4 (a2i + a2j ).
i=1 i<j
2
+ a2j ) = 2(l − 1) a2i ,
P P
Como i<j (ai i
l
X
hH, Hi = 2(2l − 1) a2i .
i=1
Λ0 = diag{a01 , . . . , a0l }.
1
Λλi = diag{0, . . . , 1i , . . . , 0},
2(2l − 1)
1
Λλi −λj = diag{0, . . . , 1i , . . . , −1j , . . . , 0},
2(2l − 1)
204 CHAPTER 8. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES. COMPLEMENTOS
1
Λλi +λj = diag{0, . . . , 1i , . . . , 1j , . . . , 0}.
2(2l − 1)
2(2l − 1) 1
hλi − λj , λi − λj i = 2 2
2=
2 (2l − 1) 2l − 1
e
2(2l − 1) 1
hλl , λl i = = .
22 (2l − 1) 2(2l − 1)
Portanto, so(2l + 1) é um representante das álgebras que têm diagrama Bl , l ≥ 2
e, em particular, essas álgebras são simples, pois o diagrama é conexo.
Uma forma alternativa para encontrar o diagrama de Σ é através da fórmula de
Killing: como são dadas expressões explı́citas para as raı́zes, é possı́vel determinar
os números de Killing pela α-seqüência iniciada em β, para duas raı́zes simples
α e β.
Quando l = 1, so(3) é isomorfa a sl(2). O isomorfismo pode ser visto tanto pelo
diagrama – neste caso a única raiz simples é λ1 – ou pela representação adjunta
de sl(2). A imagem dessa representação é uma subálgebra de so(3), pois ela deixa
invariante a forma de Cartan-Killing que é simétrica e não-degenerada. Mas, as
duas álgebras têm a mesma dimensão e, como a representação adjunta é fiel, ela
é um isomorfismo entre as álgebras.
Cl O diagrama
Cl , l ≥ 3 e e ... e e
α1 α2 αAl−1 αl
X X l
X
2 2
hH, Hi = (ai − aj ) + (ai + aj ) + 8 a2i
i6=j i6=j i=1
206 CHAPTER 8. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES. COMPLEMENTOS
Por polarização,
l
X
hH, H 0 i = 4(l + 1) ai a0i
i=1
0 0
se H é dado por Λ = diag{a01 , . . . , a0l }. A partir daı́, os duais Hα das raı́zes α
são dados por Λα como
1
Λλi −λj = diag{0, . . . , 1i , . . . , −1j , . . . , 0},
4(l + 1)
1
Λλi +λj = diag{0, . . . , 1i , . . . , 1j , . . . , 0} i 6= j,
4(l + 1)
e
1
Λ2λi = diag{0, . . . , 1i , . . . , 0}.
2(l + 1)
Essas expressões mostram que o diagrama de Dynkin de Σ é Cl (e, portanto, é
conexo e a álgebra é simples) com 2λl a raiz de comprimento maior, pois
4 1
h2λl , 2λl i = 4 (l + 1) =
42 (l + 1) 2 (l + 1)
e
2 1
hλi − λi+1 , λi − λi+1 i = 4 (l + 1) = .
42 (l + 1) 2 2(l + 1)
Para l ≤ 2, sp(l) é isomorfa a so(2l +1) já que os diagramas coincidem. Portanto,
sp(1) ≈ so(3) ≈ sl(2) e sp(2) é isomorfa a so(5).
Dl O diagrama
eα
, l−1
Dl , l ≥ 4 e e ... e,
αl−2
α1 α2 l
l eα
l
Como no caso de dimensão ı́mpar, essa álgebra é isomorfa à álgebra das ma-
trizes anti-simétricas em relação a uma forma bilinear simétrica não-degenerada
qualquer. Assim, tomando
0 1
J=
1 0
escrita em blocos l × l, so(2l) é isomorfa à álgebra
que também será denotada por so(2l). Escrevendo uma matriz 2l × 2l em blocos
l × l como J, A ∈ so(2l) se e só se
α β
A= (8.10)
γ −αt
com β e γ anti-simétricas. A subálgebra h das matrizes diagonais é de Cartan.
Seus elementos se escrevem como
Λ 0
H= (8.11)
0 −Λ
Portanto,
l
X
0
hH, H i = 4(l − 1) ai a0i .
i=1
1
Λλi +λj = diag{0, . . . , 1i , . . . , 1j , . . . , 0}.
4(l − 1)
1
hλl−2 − λl−1 , λl−1 − λl i = ,
2(l − 1)
1
hλl−2 − λl−1 , λl−1 + λl i =
(l − 1)
Σ = {λ1 − λ2 , λ1 + λ2 }
e essas raı́zes são ortogonais. Por isso o diagrama de so(4) é formado por
duas componentes conexas; cada uma com um único vértice. Essa álgebra
não é simples mas a soma de dois ideais simples isomorfos a A1 . Em outras
palavras, so(4) ≈ sl(2) ⊕ sl(2) ≈ so (3) ⊕ so (3). O isomorfismo se obtém
através da soma direta das álgebras g(λ1 − λ2 ) e g(λ1 + λ2 ) isomorfas a sl(2)
8.3. SUBÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES 209
O objetivo agora é verificar que g (Θ) é semi-simples. Isso é feito a partir das
seguintes considerações sobre a forma de Cartan-Killing h·, ·i de g (Θ):
β∈Π(Θ)
pois α(H) é racional. Isso mostra que h·, ·i restrito ao subespaço racional gerado
por Hα , α ∈ Σ é um produto interno. Esse subespaço racional tem a mesma
dimensão que h (Θ), pois Hα , α ∈ Θ é uma base de ambos. Dessa forma, se
{H1 , . . . , Hs } é uma base ortonormal do subespaço racional, então H ∈ h (Θ)
pode ser escrito como
H = a1 H 1 + · · · + as H s .
Se H 0 = a−1 −1 0
1 H1 + · · · + as Hs , então hH, H i = s, o que mostra que a forma não
é degenerada em h (Θ).
Essas relações mostram que os espaços ortogonais por h·, ·i seguem o mesmo padrão
que o da forma de Cartan-Killing de g. Portanto, h·, ·i não é degenerada. Em particular,
g (Θ) é semi-simples.
Por fim, é possı́vel mostrar que o diagrama de g (Θ) é exatamente Θ:
8.4. ÁLGEBRAS EXCEPCIONAIS 211
{gα : ±α ∈ Θ}
2hα, βi
α, β ∈ Θ
hα, αi
8.4.1 Construção de G2
Como foi verificado no exemplo da página 170, as raı́zes positivas de G2 são
α1 , α2
α1 + α2 , α1 + 2α2 , α1 + 3α2
2α1 + 3α2
q 2α1 + 3α2
αq 1 α1 +
q α2 α1 q+ 2α2 qα1 + 3α2
b
b TT "
"
b "
b T ""
b
b T "
q q α2
b "
b
T"
" b
" T b
" T b
" b
" T b
" b
q q
" T b
" Tq bq
de onde se vê de imediato que o conjunto das raı́zes se divide em seis raı́zes longas e
seis curtas.
Vai ser apresentada aqui uma construção de G2 baseada na representação canônica
de sl (3) em K3 .
A idéia dessa construção – que será também utilizada para o diagrama E8 – vem da
observação de que sl (3) aparece como subálgebra de G2 . De fato, o subespaço formado
pela subálgebra de Cartan e pelos espaços de raı́zes associados às raı́zes longas é uma
subálgebra isomorfa a sl (3), já que o diagrama dessas raı́zes é A2 .
Dessa forma, sl (3) se representa na álgebra G2 via a representação adjunta. É
natural, portanto, procurar a realização de G2 em espaços de representação de dimensão
14 de sl (3). Isso é feito da seguinte maneira:
A álgebra sl (3) se representa de maneira canônica em V = K3 e, portanto, no
dual V ∗ de V via a representação dual. Essas representações serão denotadas por Xv,
X ∈ sl (3), v ∈ V e Xα, X ∈ sl (3), α ∈ V ∗ sendo que essa última é dada pela
expressão Xα = −α ◦ X
A álgebra G2 é construı́da sobre o espaço vetorial
g = sl (3) ⊕ V ⊕ V ∗ .
ν = e1 ∧ e2 ∧ e3
V2 {e1 , e2 , e3 } uma base∗ de V . Uma vez fixado esse isomorfismo, o produto exterior
com
V se identifica com V . A identificação é feita pelo isomorfismo
^2
T : V −→ V ∗
V2
que associa ao elemento u ∧ v ∈ V o funcional α ∈ V ∗ tal que
^3
α(w) = u ∧ v ∧ w ∈ K = V
u ∧ v ∧ w = α(w)ν. (8.13)
X (u ∧ v) = Xu ∧ v + u ∧ Xv.
Xu ∧ v ∧ w + u ∧ Xv ∧ w + u ∧ v ∧ Xw = (tr X) u ∧ v ∧ w = 0.
pela relação
α ∧ β ∧ γ = γ(v)ν ∗ (8.14)
onde α, β, γ ∈ V ∗ e v = S (α ∧ β).
Esses isomorfismos são, em essência, o produto vetorial entre dois vetores de um
espaço de dimensão três. Por exemplo, se I : V ∗ → V é o isomorfismo que aplica a base
dual {1 , 2 , 3 } em {e1 , e2 , e3 } então I ◦ T (u ∧ v) é dado em coordenadas pelo produto
vetorial entre u e v.
Para manter a dualidade nas identificações é necessário tomar ν ∗ como sendo
ν ∗ = 1 ∧ 2 ∧ 3
T (u ∧ v) (S(α ∧ β)) = (u ∧ v, α ∧ β)
(u ∧ v, α ∧ β) = α(u)β(v) − α(v)β(u)
Portanto, se η ∈ 2 V ∗ e α ∈ V ∗ , então
V
∗
α (T −1 ) η = α (e1 ) e2 ∧ e3 − α (e2 ) e1 ∧ e3 + α (e3 ) e1 ∧ e2
= α (e1 ) (η, e2 ∧ e3 ) − α (e2 ) (η, e1 ∧ e3 ) + α (e3 ) (η, e1 ∧ e2 ).
α (Sη) = (η ∧ α, 1 ∧ 2 ∧ 3 )
com a soma percorrendo as permutações de três elementos e onde |σ| denota o ı́ndice
da permutação σ. Aplicando essa dualidade à expressão acima para α (Sη), vê-se que
∗
α T −1 = α (Sη)
2. Se X ∈ sl (3) e v ∈ V , então
6. Para v ∈ V e α ∈ V ∗ ,
1
[v, α] = v ⊗ α − α(v)1
3
onde v⊗α é visto como a transformação linear de V dada por (v ⊗ α) (u) = α(u)v.
Esse colchete está de fato em sl(3), pois tr(v ⊗α) = α(v) e, portanto, tr[v, α] = 0.
O seu valor em u ∈ V é
1
[v, α](u) = α(u)v − α(v)u.
3
Uma maneira alternativa de definir esse colchete é verificar, tomando uma base
de V , que
h[v, α], Xi = α(Xv) (8.15)
para todo X ∈ sl (3) onde h·, ·i é a forma traço da representação canônica de
sl (3) em V obtendo a partir daı́ o elemento [v, α] de sl (3) já que h·, ·i é uma
forma não-degenerada em sl (3).
Para mostrar a igualdade entre esses dois elementos de sl (3), seja Z um elemento
arbitrário de sl (3). Então, por (8.15) aplicado a Y = [v, α],
(não é difı́cil verificar que tr ((v ⊗ α) A) = α (Av) para uma tansformação linear
A qualquer). Por outro lado, (8.15) fornece ainda
e
h[v, Xα], Zi = (Xα) (Zv) = −α (XZv) .
Comparando os últimos membros dessas três igualdades e levando em conta que
Z é arbitrário e a forma de Cartan-Killing de sl (3) não é degenerada, chega-se à
identidade de Jacobi para a terna X, v e α.
8.4. ÁLGEBRAS EXCEPCIONAIS 217
Zu ∧ v ∧ w + u ∧ Zv ∧ w + u ∧ v ∧ Zw = 0
4 4
[[u, v], α] = − [u ∧ v, α] = − (u ∧ v) ∧ α
3 3
218 CHAPTER 8. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES. COMPLEMENTOS
(u ∧ v) ∧ α ∧ β = β ((u ∧ v) ∧ α) ν ∗ . (8.16)
β ((u ∧ v) ∧ α) = (u ∧ v, α ∧ β)
V2 V2 ∗
já que V ∗ é identificado com V via a dualidade (·, ·). A conclusão é que
4
β ([[u, v], α) = − (u ∧ v, α ∧ β)
3
e, como β é arbitrário, a identidade de Jacobi é satisfeita também nesse caso.
Esses casos cobrem todas as possibilidades exceto o caso em que aparecem dois
elementos de V ∗ e um elemento de V , que é semelhante a esse último por dualidade.
Com isso fica mostrado que g é uma álgebra de Lie. Sua dimensão é claramente 14.
A questão agora é verificar que g é de fato uma realização de G2 .
Em primeiro lugar se verifica, de maneira direta, que g é simples tomando um ideal
i 6= 0 e mostrando que i = g. Para isso, é suficiente mostrar que i ∩ sl (3) 6= 0, pois isso,
juntamente com o fato de que sl (3) é simples, garante que sl (3) ⊂ i e, portanto, que
V = [V, sl (3)] e V ∗ = [V ∗ , sl (3)] estão contidos em i. Seja então um elemento não-nulo
X ∈ i. Ele se decompõe como
X =A+α+v
com A ∈ sl (3), α ∈ V ∗ e v ∈ V . Suponha que
[w, X] = −Aw + w ∧ v = u + β u ∈ V, β ∈ V ∗
Como os elementos de sl (3) têm traço nulo, essas últimas raı́zes são dadas também
por λi + λj , i 6= j.
Um sistema simples de raı́zes é dado por
α 1 = λ 1 − λ2 α 2 = λ2
• α 1 + α 2 = λ1 ,
• α1 + 2α2 = λ1 + λ2 = −λ3 ,
• α1 + 3α2 = λ1 + 2λ2 = λ2 − λ3 ,
Comparando essas raı́zes com o gráfico apresentado acima, vê-se que as raı́zes longas
coincidem com as raı́zes de h em sl (3).
Para o cálculo da forma de Cartan-Killing, seja H = diag{a1 , a2 , a3 } em h. Então,
tr (ad(H)2 ) é dado por
e daı́ que
hH, Hi = 8 a21 + a22 + a23
e
hH, H 0 i = 8 (a1 a01 + a2 a02 + a3 a03 )
se H = diag{a01 , a02 , a03 }. Os duais em h das raı́zes são dados diretamente por essas
fórmulas. Por exemplo,
1 1 1 2 1
Hα1 = ( , − , 0) Hα2 = (− , ,− )
8 8 24 24 24
cujo diagrama é G2 .
8.4.2 E6 , E7 e E8
A construção das álgebras E6 e E7 pode ser feita a partir da álgebra E8 já que, ao
retirar uma ou duas raı́zes deste diagrama, obtêm-se os diagramas anteriores.
O caminho para a construção de E8 é semelhante ao de G2 , tomando agora repre-
sentações de sl (9) ao invés de sl (3).
Seja V o produto exterior
^3
V = K9 .
A álgebra sl (9) se representa em V por extensão linear de
X (u ∧ v ∧ w) = Xu ∧ v ∧ w + u ∧ Xv ∧ w + u ∧ v ∧ Xw
Esses espaços são duais entre si com a dualidade dada pela forma bilinear definida por
X
(−1)|σ| αi uσ(i) ,
(u1 ∧ u2 ∧ u3 , α1 ∧ α2 ∧ α3 ) =
σ
onde a soma percorre o conjunto das permutações de três elementos e |σ| denota o ı́ndice
da permutação σ. Via essa dualidade, as representações em V e V ∗ se relacionam por
g = sl (9) ⊕ V ⊕ V ∗ .
Da mesma forma que em G2 o colchete entre elementos de V deve definir uma aplicação
bilinear anti-simétrica de V a valores em V ∗ . Isso é feito com o auxı́lio da identificação
^2 ^6
V = K9 ↔ V ∗
V9 9
V2 escolhendo a forma volume ν = e1 ∧∗· · · ∧ e9 em
que se obtém K . Com essa escolha,
η∧θ ∈ V se identifica ao funcional α ∈ V cujo valor em ψ ∈ V é dado pela
igualdade
η ∧ θ ∧ ψ = α(ψ)ν
V9 9
K . De forma dual, identifica-se 2 V ∗ com V , escolhendo agora a forma volume
V
em
∗
ν ∗ em 9 (K9 ) dada por ν ∗ = 1 ∧ · · · ∧ 9 . EssasVidentificações definem
V
2 ∗
V2 ∗ operadores de
intercâmbio entre as representações de sl (9) em V e V e em V e V . A razão
∗
para isso é que Xν = (tr X) ν = 0 e Xν = 0. Além do mais, em virtude da escolha
de ν ∗ como o dual de ν, as identificações preservam a dualidade no sentido em que a
transposta do isomorfismo
^2
V −→ V ∗
é a inversa de ^2
V ∗ −→ V.
O colchete em g = sl (9)⊕V ⊕V ∗ é definido agora nos pares formados por elementos
dos subespaços que compõem esta soma.
para todo Z ∈ sl (9) onde h·, ·i denota a forma traço da representação de sl (9)
em K9 :
hX, Y i = tr (XY ) .
• [[v, w], φ] = a [v ∧ w, φ] = ab (v ∧ w) ∧ φ e
Deve-se verificar que o primeiro desses colchetes é a soma dos outros dois, ou de
forma equivalente que
ab (v ∧ w) ∧ φ = [v, φ] w − [w, φ] v.
Para verificar essa igualdade é suficiente mostrar que ela é satisfeita quando avaliada
em ψ ∈ V ∗ arbitrário. Da mesma forma que na construção de G2 , o valor de ψ no
primeiro membro é dado por
• αij , 1 ≤ i < j ≤ 9,
4. β 1rs − β ijk com (r, s) igual a um dos pares formados por i, j, k. O resultado dessa
soma é uma raiz α1a .
λ1 + · · · + λ9 = 0,
Com isso, é possı́vel localizar as raı́zes simples: em 2), a soma diminui os subı́ndices
da raiz β, portanto as raı́zes β 1jk com (j, k) 6= (8, 9) não são simples. No entanto, em
5),
−β 234 − β 567 = β 189
e, portanto, nenhuma das raı́zes β 1jk é simples. Já em 3), a soma aumenta os subı́ndices
de −β e daı́ que a única raiz que não aparece numa soma dessas é −β 234 . Como uma
raiz −β só aparece como uma soma de raı́zes no caso 3), −β 234 é simples. Por 4),
α12 = β 134 − β 234 . Portanto, as raı́zes simples são
cujo diagrama é
eα8
E8 e e e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5 α6 α7
é a única soma entre as raı́zes simples, envolvendo α8 , que é raiz. Na base do diagrama
a ordem é dada por α1 = λ8 − λ9 e α7 = λ2 − λ3 .
8.4. ÁLGEBRAS EXCEPCIONAIS 225
E7 e e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5 α6
Σ7 = {λ2 − λ3 , . . . , λ7 − λ8 , − (λ2 + λ3 + λ4 )}
e a −Σ7 . As raı́zes positivas são as raı́zes de E8 , que são combinações lineares com
coeficientes positivos das raı́zes em Σ7 , e esse conjunto é um sistema simples. Tomando
somas sucessivas de elementos de Σ7 , as raı́zes positivas de E7 ficam sendo
• λi − λj , 2 ≤ i < j ≤ 8,
• λ1 + λi + λ9 , 2 ≤ i ≤ 8.
7
No primeiro desses conjuntos de raı́zes existem 21 elementos, no segundo = 35
3
e no terceiro 7. Existem, portanto, 21 + 35 + 7 = 63 raı́zes positivas e daı́ que a
dimensão de E7 é 2 · 63 + 7 = 133.
O diagrama
eα6
E6 e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5
• λi − λj , 2 ≤ i < j ≤ 7,
• λ1 + λ 8 + λ 9
8.4.3 F4
A álgebra F4 pode ser construı́da como a subálgebra dos pontos fixos de um automor-
fismo involutivo de E6 .
Se θ : V → V é uma transformação linear do espaço vetorial V tal que θ2 = 1, os
seus autovalores são ±1 e V se decompõe em soma direta dos auto-espaços associados
a esses autovalores. Em particular, se θ : g → g é uma automorfismo da álgebra de
Lie g, essa se decompõe nos auto-espaços de θ. No entanto, como θ é automorfismo, o
subespaço dos pontos fixos
k = {X ∈ g : θ (X) = X}
é uma subálgebra de g.
Sendo assim, seja θ um automorfismo involutivo de E6 que estende o automorfismo
não-trivial do diagrama. A existência de θ vem do teorema 8.8: o automorfismo do
diagrama define uma transformação linear no dual h∗ da subálgebra de Cartan. Por
intermédio da forma de Cartan-Killing, define-se a partir daı́ uma transformação linear
na subálgebra de Cartan h que deixa invariante o conjunto das raı́zes. Pelo teorema
8.8, essa última se estende a um automorfismo da álgebra. Todas as transformações
lineares envolvidas são denotadas por θ. O fato de que o automorfismo do diagrama é
involutivo implica que existe uma extensão involutiva. Isso não é evidente a partir do
teorema 8.8, mas a discussão feita no capı́tulo 12 sobre extensões involutivas mostra,
em particular, que os automorfismos de diagramas admitem tais extensões (veja, para
mais detalhes, o exercı́cio 2 do capı́tulo 12).
O subespaço k dos pontos fixos por esse automorfismo é uma subálgebra simples
que realiza F4 .
Para ver isso, considera-se, em primeiro lugar, o subespaço hf = k ∩ h dos elementos
de h fixos pelo automorfismo. Escrevendo as raı́zes do diagrama como
eα6
E6 e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5
subespaço se expressa em termos das raı́zes simples como combinações lineares em que
algum dos coeficientes é negativo. Portanto, nenhuma raiz se anula em hf . Como o
número de raı́zes é finito, existe H ∈ hf tal que α (H) 6= 0 para toda raiz α. Esse
elemento de hf é regular na álgebra E6 e, portanto, em k. O seu centralizador em k é
hf e daı́ que esse subespaço é uma subálgebra de Cartan de k.
O subespaço gα ⊕ gθ(α) é invariante por θ e se decompõe como soma direta dos
subespaços Vα+ e Vα− gerados respectivamente por Xα + θXα e por Xα − θXα . Os
elementos de Vα+ são fixados por θ, enquanto que θ (Y ) = −Y para Y ∈ Vα− . O
subespaço Vα− é de dimensão um se θ (α) 6= α e se reduz a {0} se θ (α) = α. Fazendo
α percorrer o conjunto de todas as raı́zes, os subespaços Vα± juntamente com h geram
g. Dessa forma, a subálgebra k dos pontos fixos é dada por
X
k = hf ⊕ Vα+ .
α∈Π
Com essa igualdade a subálgebra k fica determinada tão logo se conheça a ação de
θ no conjunto de todas as raı́zes. As raı́zes de E6 foram dadas, acima, em termos dos
funcionais lineares λj , 2 ≤ j ≤ 7. Por isso, é conveniente calcular θ em termos desses
funcionais. Usando a expressão de Σ6 em termos de λj , chega-se a que
1 1 1 1 1 −2
1
1 1 1 −2 1
1 1
1 1 −2 1 1
[θ] =
3 1 1 −2 1 1 1
1 −2 1 1 1 1
−2 1 1 1 1 1
• θ (λ1 + λ8 + λ9 ) = −θ (λ2 + · · · + λ7 ) = λ1 + λ8 + λ9 .
A partir daı́, tira-se que as raı́zes positivas que são fixas por θ são
• λi − λσ(i) , i = 2, 3, 4,
• λ 1 + λ 8 + λ9 .
228 CHAPTER 8. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES. COMPLEMENTOS
pois θ (H) = H, o que mostra que as restrições a hf das raı́zes de E6 são raı́zes de hf
em k. No entanto, k é gerado por hf e Vα+ e, portanto, essas restrições cobrem todas
as raı́zes de hf .
O dual de hf se identifica com o subespaço dos pontos fixos por θ em h∗ . A projeção
ortogonal em h∗ sobre o subespaço dos pontos fixos por θ é dada por
α+θα
α 7−→
2
e, como α ∈ h∗ coincide em hf com sua projeção ortogonal, o conjunto das raı́zes de
hf é a projeção ortogonal das raı́zes de h em E6 (veja o capı́tulo 13 para mais detalhes
sobre essa projeção).
Para concluir, falta verificar que k é semi-simples e que o diagrama das raı́zes de hf
é F4 . O exercı́cio 4 traz indicações de como mostrar que k é semi-simples. Quanto ao
diagrama, a projeção do sistema simples de E6 é um sistema simples, isto é,
α1 + α5 α2 + α4
{ , , α3 , α6 }
2 2
é um sistema simples de raı́zes para hf como subálgebra de Cartan de k. O diagrama
associado a esse sistema é encontrado a partir dos números de Killing entre as raı́zes.
Por exemplo,
2hα3 , (α2 + α4 ) /2i hα3 , α2 i hα3 , α4 i
= + = −1
hα3 , α3 i hα3 , α3 i hα3 , α3 i
e, como hα2 + α4 , α2 + α4 i = hα2 , α2 i + hα4 , α4 i = 2hα2 , α2 i = 2hα4 , α4 i,
Em resumo, as álgebras de Lie simples com as respectivas dimensões são dadas pela
seguinte tabela:
tipo dim l≥1
Al l(l + 2) l ≥ 2
Bl l(2l + 1) l ≥ 3
Cl l(2l + 1) l ≥ 4
Dl l(2l − 1)
G2 14
F4 52
E6 78
E7 133
E8 248
Notas
As construções das álgebras excepcionais apresentadas aqui são devidas a H. Freudenthal.
Uma forma alternativa é apresentar as álgebras excepcionais como álgebras de derivações de
certas álgebras não associativas. Por exemplo, G2 é a álgebra das derivações dos octonions
(álgebra de Cayley) e F4 é a álgebra das derivações de uma álgebra de Jordan de dimensão
27, a álgebra de Jordan M38 , que pode ser realizada como uma subálgebra de matrizes sobre a
álgebra de Cayley. Um tratamento detalhado dessa construção é feito em [28] (veja também
[27] para G2 , F4 e E6 ). As construções do texto, apesar de longas e trabalhosas, apresentam
as raı́zes de forma clara e sucinta.
8.5 Exercı́cios
1. Escreva uma expressão para a forma de Cartan-Killing de cada uma das álgebras
clássicas em termos da forma traço de suas representações canônicas. (Use o
exercı́cio 15 do capı́tulo 3).
2. Seja g = g1 ⊕ g2 com g1 e g2 ideais simples. Mostre que as subálgebras de Cartan
de g são da forma h1 ⊕ h2 com hi ⊂ gi subálgebra de Cartan.
3. Uma subálgebra de Borel de uma álgebra semi-simples sobre um corpo algebrica-
mente fechado é uma subálgebra do tipo b = h + n+ com
X
n+ = gα
α∈Π+
Grupos de Weyl
Neste capı́tulo, os sistemas simples de raı́zes de uma subálgebra de Cartan serão olhados
com mais detalhes. Um objeto fundamental para entender os sistemas simples é o
grupo de Weyl que é o grupo de transformações lineares da subálgebra de Cartan
(ou seu dual), gerado pelas reflexões definidas pelas raı́zes. Dessa forma, o estudo
dos sistemas simples segue em paralelo ao dos grupos de Weyl. No que segue, serão
considerados os sistemas de raı́zes que representam uma abstração das propriedades
de um conjunto de raı́zes de uma subálgebra de Cartan. Com isso, leva-se em conta
uma situação um pouco mais geral que a requerida para as álgebras semi-simples sobre
corpos algebricamente fechados, que aparece, no entanto, em outros contextos como,
por exemplo, nas álgebras semi-simples reais.
1. r(α) = −α
231
232 CHAPTER 9. GRUPOS DE WEYL
O grupo de Weyl de Π é finito. A razão disto é que, como W é gerado por trans-
formações que deixam Π invariante, todo elemento de W deixa Π invariante e se um
elemento de W é a identidade quando restrito a Π, então ele é a identidade de V pois Π
gera V . Dessa forma, a restrição a Π define um homomorfismo injetor de W no grupo
das bijeções de Π. Como Π é finito, isso implica que W é finito.
Através do grupo de Weyl, pode-se introduzir um produto interno em V adaptado
a Π. Isso se deve ao seguinte fato geral da teoria de representações de grupos.
Em vista desta proposição, fixa-se, de uma vez por todas, um produto interno
invariante pelo grupo de Weyl.
Em termos do produto interno invariante, as reflexões rα , α ∈ Π, são reflexões em
relação ao hiperplano α⊥ ortogonal a α. Isso porque α⊥ é rα -invariante, pois rα é
ortogonal e deixa invariante o subespaço gerado por α. Dessa observação, segue de
imediato que o hiperplano dos pontos fixos de rα é exatamente α⊥ . Como, além do
mais, rα (α) = −α, rα é a própria reflexão ortogonal
2hβ, αi
rα (β) = β − α.
hα, αi
O grupo de Weyl permite decompor E e o sistema de raı́zes em componentes da
seguinte forma: seja F ⊂ E um subespaço invariante por W , isto é, wF = F para
todo w ∈ W . Como os elementos de W são transformações ortogonais, F ⊥ também é
invariante por W . Usando esse fato reiteradamente, obtém-se uma decomposição de E
em subespaços dois a dois ortogonais
E = E1 ⊕ · · · ⊕ Ek
Πα = {β ∈ Π : α ↔ β}
e
Π0α = {γ ∈ Π : α = γ}.
Esses conjuntos são ortogonais entre si, pois se γ ∈ Π0α não é ortogonal a β ∈ Πα ,
então a ligação de α a β se estende a γ contradizendo a definição de Π0α . Portanto, se
o sistema é irredutı́vel, toda raiz é ligada a α e daı́ que duas raı́zes são ligadas entre si.
Reciprocamente, se o sistema não é irredutı́vel, então se α e β estão em subespaços
invariantes diferentes não é possı́vel ligar α a β. 2
9.1. SISTEMAS DE RAÍZES 235
Proposição 9.7 Existe um produto interno invariante pelo grupo de Weyl tal que
hα, βi é racional para todo α, β ∈ Π.
E = E1 ⊕ · · · ⊕ Ek
Como será verificado logo mais, um sistema de raı́zes reduzido é sempre um conjunto
de raı́zes de alguma subálgebra de Cartan de uma álgebra de Lie semi-simples sobre
um corpo algebricamente fechado. Estes, no entanto, são subconjuntos de um espaço
vetorial racional, mas não real como considerado aqui. Convém, então, comparar esses
dois corpos de escalares. É claro, da mesma maneira que acima, podem ser definidos
sistemas de raı́zes em espaços vetoriais racionais. Agora, dado um espaço vetorial F
sobre o corpo dos racionais, seja E o espaço vetorial real obtido por extensão do corpo
236 CHAPTER 9. GRUPOS DE WEYL
2hβ, αi
onde θ é o ângulo entre α e β, verifica-se que = ±1 se
hα, αi
2hβ, αi
= ±2 ou ± 3.
hβ, βi
A partir daı́, é possı́vel mostrar que a fórmula de Killing vale também no contexto
dos sistemas de raı́zes. Como anteriormente para α, β ∈ Π, a α-seqüência iniciada em
β é formada pelo conjunto dos elementos do tipo β + nα que pertencem a Π ∪ {0}.
β − pα, . . . , β, . . . , β + qα
9.1. SISTEMAS DE RAÍZES 237
é um intervalo e satisfaz
2hβ, αi
p−q = .
hα, αi
−2α, −α, 0, α, 2α
2hβ, αi 2hβ, αi
2. =1= . Então, α e β são raı́zes de mesmo comprimento e formam
hα, αi hα, αi
entre si um ângulo de 60◦ . Dessa forma, α e β podem ser realizados em R2 por
√
1 3
α = (1, 0) β=( , ).
2 2
Por essa realização, vê-se que os únicos elementos da forma β + nα com n inteiro
que formam com α um dos ângulos permitidos entre raı́zes são β + α (ângulo de
30◦ ), β − α (ângulo de 120◦ ) e β − 2α (ângulo de 150◦ ). Se β + α é raiz, então
todos esses elementos são raı́zes por simetria em relação à reta perpendicular a
α e daı́ que a α-seqüência iniciada em β é um intervalo. Já se β + α não é raiz,
então β − 2α não é raiz e as raı́zes são β − α e β + α, que também formam um
intervalo.
238 CHAPTER 9. GRUPOS DE WEYL
2hβ, αi 2hβ, αi
3. = 2. Então, = 1 e as raı́zes podem ser realizadas como α = (1, 0)
hα, αi hβ, βi
e β = (1, 1), já que o ângulo entre elas é de 45◦ e
Daı́ se vê que as possı́veis raı́zes são β − α = (0, 1) e β − 2α = (−1, 1). Este
último elemento é raiz, pois é simétrico a β em relação à reta perpendicular a α.
Como (0, 1) é simétrico a (1, 0) em relação à reta perpendicular a (−1, 1), β − α
também é raiz e daı́ que a α-seqüência iniciada em β é um intervalo. Da mesma
forma se verifica que a β-seqüência iniciada em α é um intervalo.
2hβ, αi
4. = 3. O ângulo entre α e β é de 30◦ e hβ, βi = 3hα, αi. Portanto, uma
hα, αi √
realização em R2 é dada por α = (1, 0) e β = ( 32 , 23 ). A partir daı́, uma análise
geométrica semelhante aos casos anteriores mostra que a seqüência é de fato um
intervalo.
Fixando uma ordem lexicográfica em E, diz-se, como no capı́tulo 6, que uma raiz
α ∈ Π é simples se ela não é a soma de duas raı́zes positivas. O conjunto das raı́zes
simples será denotado por Σ. Toda a discussão feita anteriormente sobre as raı́zes
simples de uma subálgebra de Cartan se reproduzem aqui no contexto dos sistemas
de raı́zes. As demonstrações feitas, então, fazem referência às álgebras semi-simples
através apenas da fórmula de Killing que, pela proposição anterior, vale também para
sistemas de raı́zes em geral. Dessa forma, o conjunto das raı́zes simples é uma base
de E e uma raiz qualquer é escrita como combinação linear, com coeficientes inteiros,
das raı́zes simples, e todos os coeficientes com o mesmo sinal. Da mesma maneira, Σ
define uma matriz de Cartan e um diagrama Dynkin, que determinam sua estrutura
geométrica. O processo utilizado anteriormente para obter todas as raı́zes a partir do
sistema simples pode ser empregado aqui, já que a fórmula de Killing também está
disponı́vel. A diferença, porém, é que num sistema de raı́zes, em geral, pode ocorrer
que o dobro de uma raiz seja também raiz e isso não é detectado pelo diagrama de
Dynkin. Mas esse processo funciona para os sistemas reduzidos, o que mostra que
um sistema de raı́zes deste tipo é sempre o conjunto das raı́zes de uma subálgebra
de Cartan sobre um corpo algebricamente fechado. Sistemas de raı́zes não-reduzidos
aparecem, por exemplo, nas álgebras de Lie semi-simples reais.
A um sistema de raı́zes Π ⊂ E está associado um sistema dual Π∗ ⊂ E ∗ da seguinte
forma: um produto interno invariante pelo grupo de Weyl define o isomorfismo α ∈
E 7→ λα = hα, ·i ∈ E ∗ entre E e E ∗ . Esse isomorfismo define um produto interno em
E ∗ dado por hλα , λβ i = hα, βi. A reflexão em E ∗ em relação ao subespaço ortogonal a
9.1. SISTEMAS DE RAÍZES 239
λα é dada por
2hλβ , λα i
rλα (λβ ) = λβ − λα
hλα , λα i
= λrα β .
Portanto,
Π∗ = {λα : α ∈ Π}
é um sistema de raı́zes em E ∗ e o grupo de Weyl de Π∗ é o próprio grupo de Weyl de
Π agindo em E ∗ por transposição. Como a aplicação linear α 7→ λα é um isomorfismo
entre E e E ∗ , esses fatos sobre o sistema dual são um caso particular da seguinte
afirmação sobre isomorfismos entre sistemas de raı́zes.
se α ∈ Π1 .
onde
hβ, βi
cβ = .
hφ (β) , φ (β)i
A simetria entre α e β em (9.1) mostra que cα = cβ se hα, βi =
6 0. Pela irredutibilidade
de Π1 , cα independe de α, mostrando a primeira parte da proposição. A conjugação
entre as reflexões no grupo de Weyl segue da mesma maneira que no caso dos sistemas
duais. 2
240 CHAPTER 9. GRUPOS DE WEYL
Exemplos:
1. No caso em que E é de dimensão um, as câmaras de Weyl são dadas pelas duas
semi-retas complementares à origem. Nesse caso, os únicos sistemas de raı́zes
possı́veis são o reduzido {±α} e o não-reduzido {±α, ±2α}.
2. O sistema de raı́zes obtido pelo diagrama A2 é formado por ±α1 , ±α2 , ±(α1 +α2 ).
O ângulo entre duas raı́zes quaisquer é um múltiplo de 60◦ . Por essa razão, as
retas ortogonais às raı́zes formam ângulos sucessivos de 60◦ e existem seis câmaras
de Weyl
T
T
T 60o
T
T
T
T
TT
Então, existe uma ordem lexicográfica tal que Π+ (C) é o conjunto das raı́zes
positivas em relação a essa ordem.
Demonstração:
hα, tγ 1 + (1 − t)βi
para toda raiz positiva γ. Portanto, esse segmento está contido em E e daı́ que β
e β 0 pertencem à mesma componente conexa do conjunto dos elementos regulares,
isto é, β ∈ C.
Essas ações do grupo de Weyl permite estabelecer bijeções entre esse grupo, os con-
juntos de sistemas simples e as câmaras de Weyl. Essas bijeções serão garantidas pela
ação transitiva de W nesses conjuntos. Para mostrar isso, será necessário a seguinte
9.2. CÂMARAS DE WEYL 243
afirmação, que é um caso particular da proposição 9.18, a ser mostrada adiante, que
diz respeito às imagens do conjunto das raı́zes positivas pelos elementos do grupo de
Weyl.
De fato, como α ∈ Π− ,
Π− ∩ Π + + −
0 = ((Π0 − {α}) ∩ Π ) ∪ {α}.
Π+
0 ∩ rα Π
−
= rα−1 (rα Π+ −
0 ∩Π )
+
= rα (rα ((Π0 − {α}) ∪ {α}) ∩ Π− )
−1
= rα−1 (((Π+ −
0 − {α}) ∪ {−α}) ∩ Π )
+
= rα−1 ((Π0 − {α}) ∩ Π− ),
pois rα (Π+ +
/ Π− pois α ∈ Π− ,
0 − {α}) = Π0 − {α} e rα (α) = −α. Como −α ∈
−1 − −1 −
Π+ +
0 ∩ rα Π = rα ((Π0 − {α}) ∩ Π )
n rα−1 Π+ = n Π+ − 2.
Em todo, caso n (rα−1 Π+ ) é menor que n (Π+ ), existindo, portanto, w ∈ W tal que
rα−1 Π+ = wΠ+
0,
Σ = {α1 , . . . , αl }
cujo conjunto de raı́zes positivas é denotado por Π+ e a câmara de Weyl associada por
C. Como foi visto, todo sistema simples é obtido a partir deste pela ação do grupo de
Weyl.
Sejam α ∈ Π e w ∈ W . Então, β ∈ E,
2hβ, wαi
rwα (β) = β − wα
hwα, wαi
2hw−1 β, αi
= w(w−1 β − α)
hα, αi
= wrα w−1 (β)
pois w é isometria. Isto é, vale o seguinte caso particular da proposicão 9.9
A partir desta conjugação, é possı́vel mostrar que as reflexões em relação às raı́zes
simples apenas são suficientes para gerar W .
O objetivo agora é olhar com detalhes a maneira como as reflexões em relação às
raı́zes simples geram os elementos do grupo de Weyl. Seja
Σ = {α1 , . . . , αl }
9.3. DECOMPOSIÇÕES MINIMAIS 247
o conjunto das raı́zes positivas que são levadas em negativas por w e denote por n(w)
o número de elementos em Π(w). Este número está relacionado com a forma como w
se escreve como produtos das reflexões ri :
1. n(w−1 ) = n(w)
3. n(ri w) = n(w) ± 1 com o sinal de acordo com o sinal da raiz w−1 (αi ).
Demonstração:
1. Por (9.3),
Π(w−1 ) = w−1 (Π+ ) ∩ Π−
= w−1 (Π+ ∩ w(Π− )).
Além do mais, Π+ ∩ w(Π− ) tem o mesmo número de elementos que Π(w) já que
um é o oposto do outro. Como w−1 é bijeção, n(w−1 ) = n(w).
(a) w(αi ) é positiva. Então, as raı́zes positivas que são levadas em negativas
por w estão em Π+ − {αi } e sua quantidade é n(w). Além do mais, w(−αi )
é raiz negativa e daı́ que a quantidade de raı́zes negativas em wri (Π+ ) é
n(w) + 1.
(b) w(αi ) é negativa. Então, as raı́zes positivas que são levadas em negativas são
αi e as n(w) − 1 raı́zes em Π+ − {αi }. Como w(−αi ) é positiva, conclui-se
que a quantidade de raı́zes negativas em wri (Π+ ) é n(w) − 1.
w = r1 · · · rk
(v) Para algum par i, j com 1 ≤ i ≤ j < k pode-se retirar ri e rj do produto, isto é,
w = r1 · · · r̂i · · · r̂j+1 · · · rk
Demonstração:
r1 · · · rj αj+1 > 0.
(ii)⇒(iii) Seja j um ı́ndice dado por (ii). Então, r1 · · · rj αj+1 < 0 e αj+1 > 0 e daı́
que existe um ı́ndice i ≤ j tal que ri · · · rj αj+1 < 0 e ri+1 · · · rj αj+1 > 0. Isso
significa que ri aplica a raiz positiva ri+1 · · · rj αj+1 em uma raiz negativa. Mas ri
é a reflexão simples definida por αi . Portanto, pela proposição 9.12, tem-se que
αi = ri+1 · · · rj αj , mostrando (iii).
w = r1 · · · ri · · · r j · · · r k ,
A equivalência entre (i) e (v) desta proposição mostra que n(w) coincide com o
número de reflexões simples numa decomposição minimal de w. Portanto, o número
de raı́zes positivas que são levadas em negativas por w é dada pela sua decomposição
como produto de reflexões simples. A proposição a seguir estabelece isso de maneira
mais precisa informando, a partir de uma decomposição minimal, quais são as raı́zes
positivas que são levadas em negativas.
w = r1 · · · r k
uma decomposição minimal como produto das reflexões ri = rαi em relação às raı́zes
simples αi . Então, as raı́zes positivas que são levadas em negativas por w são
w−1 = rk · · · r1
que é também minimal. O item (ii) da proposição anterior, aplicado a esta decom-
posição, garante que as raı́zes
rk · · · rj+1 αj j = 1, . . . , k
250 CHAPTER 9. GRUPOS DE WEYL
são positivas. Estas raı́zes são levadas em raı́zes negativas por w. De fato, aplicando
w, obtêm-se as raı́zes
r1 · · · rj αj = −r1 · · · rj−1 αj
(pois rj αj = −αj ) e essas raı́zes são negativas em virtude do item (ii) da proposição
anterior aplicado à decomposição minimal de w.
Suponha que para algum par l, j com 1 ≤ l < j ≤ k,
rk · · · rj+1 αj = rk · · · rl+1 αl .
αj = rj · · · rl+1 αl
que, pelo item (iii) da proposição 9.17 garante que l = j. Assim, as raı́zes em (9.5)
são distintas, positivas e suas imagens por w são negativas. Como a quantidade dessas
raı́zes é k = n(w), isso mostra a proposição. 2
Demonstração:
de onde se conclui que hβ, αi = 0. Isso garante que, para uma raiz desse tipo,
rα β = β e, portanto, que wrα β = wβ. Tomando w0 = wrα , o lema 9.16 garante
que n(w0 ) = n(w)−1, já que wα é raiz negativa. Pode-se aplicar, então, a hipótese
de indução sobre w0 e concluir que wβ = w0 β = β, como se queria demonstrar.2
O primeiro item dessa proposição garante que se β é um elemento (do interior) da
câmara de Weyl C, então sua órbita
W β = {wβ : w ∈ W }
Demonstração: Suponha por absurdo que a reflexão w não seja em relação a ne-
nhuma raiz e seja F o subespaço dos pontos fixos de w. Então, não existem raı́zes
ortogonais a F e, portanto, as expressões hα, ·i, α ∈ Π, definem um número finito de
funcionais lineares não-nulos em F . Isso mostra que existe λ ∈ F tal que hα, λi =
6 0
para toda raiz α. Portanto, Wλ = 1, o que contradiz o fato de que wλ = λ. 2
No grupo de Weyl existem elementos especiais que são obtidos da seguinte maneira:
seja Σ um sistema simples de raı́zes cuja câmara de Weyl correspondente é C, então
252 CHAPTER 9. GRUPOS DE WEYL
Al , l ≥ 1 e e ... e e
α1 α2 αl−1 αl
eα
l−1
,
Dl , l ≥ 4 e e ... e,
αl−2
α1 α2 l
l eα
l
eα
, 3
e e,
α2
α1 l
l eα
4
eα6
E6 e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5
base canônica, isto é, com o grupo das permutações de l + 1 elementos. Portanto,
|W | = (l + 1)!. Dito de outra maneira, W é o grupo de transformações lineares
de Rl+1 formado pelas matrizes de permutação, que são as matrizes em que em
cada linha e em cada coluna existe exatamente uma entrada igual a 1 as demais
são nulas. Visto dessa maneira, W atua em E por restrição das transformações
lineares de Rl+1 .
A câmara de Weyl associada a Σ é
Isso porque o produto interno entre α = (x1 , . . . , xl+1 ) e αi,i+1 é xi − xi+1 e daı́
que para α ∈ C, xi > xi+1 . Como o grupo de Weyl é transitivo no conjunto das
câmaras de Weyl e age por permutações, as demais câmaras de Weyl são dadas
por
{(x1 , . . . , xl+1 ) : xi1 > · · · > xil+1 }
para as diferentes permutações i1 , . . . , il+1 de 1, . . . , l + 1.
O conjunto −Σ também é um sistema simples de raı́zes. A câmara de Weyl
associada é
w0 (αj,j+1 ) = −αl−j+1,l−j+2 ,
que é uma mudança de sinal seguida da permutação das raı́zes do diagrama que
são equidistantes ao centro.
isto é, muda o sinal da i-ésima coordenada em relação à base canônica. Como
essas reflexões geram W , os elementos do grupo de Weyl agem em Rl por mudança
de sinal seguida de permutações nas coordenadas em relação à base canônica. Por
outro lado, pode-se verificar, sem maiores dificuldades, que as transformações
lineares desse tipo pertencem a W . Portanto, W é o grupo de transformações
lineares cujas matrizes em relação à base canônica são dadas por SP onde P é
uma matriz de permutação e S é uma matriz diagonal cujas entradas são ±1.
Portanto, a ordem de W é
|W | = 2l l! .
w0 = −1.
As reflexões em relação a αij são, como antes, dadas por permutações nas coor-
denadas dos elementos. Já a reflexão em relação a β ij é dada por
já que aqui não existem as raı́zes λi ou 2λi que aparecem em Bl e Cl , respec-
tivamente. Assim, as matrizes dos elementos de W são, como acima, da forma
SP com P uma matriz de permutação e S diagonal com entradas ±1, mas com
det S = 1. Dessa forma, a ordem de W é
|W | = 2l−1 l! .
w0 = S
w0 (αj,j+1 ) = −αj,j+1
se j < l − 1, enquanto que w0 (αl−1,l ) = −β l−1,l e w0 β l−1,l = −αl−1,l .
E = {(x1 , x2 , x3 ) ∈ R3 : x1 + x2 + x3 = 0},
9.4. OS GRUPOS DE WEYL 257
F4 e e Ae e
α1 α2 α3 α4
E6 e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5
o elemento
µ = α1 + 2α2 + 3α3 + 2α4 + α5 + 2α6
é uma raiz (com as notações da realização de E6 feita no capı́tulo 8, µ = λ1 +
λ8 + λ9 ). Essa raiz é ortogonal às raı́zes simples α1 , . . . , α5 . Isso pode ser visto
diretamente a partir do diagrama calculando os números de Killing
2hαi , µi
i = 1, . . . , 5.
hαi , αi i
Wµ = {w ∈ W : w (µ) = µ}
72 · 6! = 51.840.
• Em
eα7
E7 e e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5 α6
126 · 25 · 6! = 2.903.040.
9.4. OS GRUPOS DE WEYL 259
• Em
eα8
E8 e e e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5 α6 α7
E = E− ⊕ E+ .
Daı́ que tudo se reduz a mostrar a existência de um elemento do grupo de Weyl que é
−1 em E− e a identidade em E+ . Enumere as raı́zes de E6 como no diagrama
eα6
e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5
{α1 − α5 , α2 − α4 }.
Como foi visto na realização da álgebra F4 (veja o capı́tulo 8), a projeção ortogonal
sobre E− das raı́zes de E6 é um sistema de raı́zes cujo diagrama é F4 . Um sistema
260 CHAPTER 9. GRUPOS DE WEYL
Lema 9.22 Sejam α e β raı́zes ortogonais tais que hα, αi = hβ, βi. Tome γ tal que
hγ, α − βi = 0. Então,
rα+β (γ) = rα rβ (γ) .
2hγ, αi 2hγ, βi
rα rβ (γ) = γ − α− β.
hα, αi hβ, βi
Por outro lado, o fato de que α e β têm o mesmo comprimento e são ortogonais entre
si garante que hα + β, α + βi = 2hα, αi. Portanto,
hγ, α + βi
rα+β (γ) = γ − (α + β) .
hα, αi
Isto é,
hγ, αi hγ, αi hγ, βi hγ, βi
rα+β (γ) = γ − α− β− α− β
hα, αi hα, αi hβ, βi hβ, βi
e a igualdade entre rα+β (γ) e rα rβ (γ) é conseqüência da hipótese sobre γ. 2
rα1 +α5 (γ) = rα1 rα5 (γ) e rα2 +α4 (γ) = rα2 rα4 (γ) .
(α1 + α5 ) /2 (respectivamente (α2 + α4 ) /2) por rα1 rα5 (respectivamente rα2 rα4 ). Esse
procedimento fornece um elemento do grupo de Weyl de E6 . Seja w\ esse elemento. O
corolário acima garante que w\ coincide com w̃ em E− e, portanto, w\ (γ) = −γ para
γ ∈ E− . Em particular, E− é invariante por w\ . Portanto, E+ também é invariante.
Essas substituições mostram também que todo elemento de W4 se estende a um
elemento do grupo de Weyl W de E6 . O lema seguinte garante que essa extensão é
única (compare com a proposição 13.12).
Lema 9.24 Suponha que u ∈ W seja tal que u (α) = α para todo α ∈ E− . Então,
u = 1.
cujos determinantes são det s1 = det s2 = −1. Além do mais, s21 = s22 = 1. Assim, s é
da forma (s1 s2 )k ou da forma (s2 s1 )k . Escrevendo t = s1 s2 ,
0 −1 2 −1 1 3 1 0
t= t = t =
1 −1 −1 0 0 1
Notas
Os grupos de Weyl formam uma classe particular dos grupos de Coxeter, que são grupos
gerados por reflexões ortogonais em relação a formas bilineares mais gerais que o produto
interno. Duas excelentes exposições sobre os grupos de Coxeter são o clássico Bourbaki [4] e
o texto mais recente de Humphreys [25]. Entre os grupos gerados por reflexões ortogonais em
relação a um produto interno existem, além dos grupos de Weyl, apenas a classe dos grupos
diedrais (grupo de simetrias de um polı́gono regular) e dois grupos excepcionais (H3 e H4 ). O
que distingue os grupos de Weyl dos demais é a existência de um reticulado invariante pelo
grupo. Nesse sentido, os grupos de Weyl são grupos de Coxeter cristalográficos. Associados a
formas bilineares positivas semidefinidas existem os chamados grupos afins, que desempenham
o papel de grupo de Weyl nas álgebras de Kac-Moody, que são álgebras de dimensão infinita
com uma estrutura que se assemelha a das álgebras semi-simples (veja [29]). São conhecidas
ainda algumas classes de grupos associados a formas não-degeneradas, que não são positivas
definidas. Uma delas é a classe dos grupos de Coxeter hiperbólicos que também podem ser
obtidos por reflexões do espaço hiperbólico (veja [25]).
O termo “involução principal” utilizado aqui não é de uso universal. É comum encontrar em
seu lugar a expressão “elemento de comprimento máximo” do grupo de Weyl.
O tratamento dado aqui à involução principal de E6 não é o usual. Normalmente a deter-
minação dessa involução é feita através dos polinômios invariantes pelo grupo de Weyl (veja
[25]).
9.5 Exercı́cios
1. Seja Π um sistema de raı́zes que se decompõe como união disjunta Π = Π1 ∪ Π2
e suponha que tanto Π1 quanto Π2 são fechados por somas ou diferenças de seus
elementos que são raı́zes, isto é,
• se α, β ∈ Πi e α ± β é raiz, então α ± β ∈ Πi .
5. Seja g uma transformação linear de E que deixa invariante o conjunto das raı́zes.
Mostre que g é inversı́vel e ortogonal em relação ao produto interno invariante pelo
grupo de Weyl. Mostre também que o conjunto G das transformações lineares
inversı́veis de E que deixam Π invariante é um grupo e que contém o grupo de
Weyl W como subgrupo normal.
7. Mostre que se o diagrama de Dynkin tem apenas ligações simples, então existe
uma única raiz µ tal que hµ, αi ≥ 0 para toda raiz positiva α. Já se o diagrama
tem ligações duplas ou triplas, então existem exatamente duas raı́zes satisfazendo
essa propriedade.
10. Seja ρ = 12 α>0 α; mostre que ρ (Hαi ) = 1 para toda raiz simples αi .
P
11. Mostre que para λ ∈ E, wλ < λ para todo w ∈ W se e só se λ (Hαi ) > 0 para
toda raiz simples αi .
264 CHAPTER 9. GRUPOS DE WEYL
12. Fixando um sistema simples de raı́zes, sejam ri as reflexões em relação às raı́zes
simples. No grupo de Weyl W , defina a relação ≤ por: w ≤ w0 se
Mostre que essa relação é uma ordem parcial em W . Mostre também que se
w ≤ w0 , então wΛ ≥ w0 Λ para todo Λ em que hΛ, βi ≥ 0 para toda raiz positiva
β e tal que os números de Killing 2hΛ,αi
hα,αi
são inteiros para as raı́zes α. Dê exemplo
de Λ satisfazendo essas condições e w, w0 ∈ W tais que wΛ ≥ w0 Λ e, no entanto,
w
w0 . (veja [11]).
(a) Ω é fechado;
(b) Π = Ω ∪ −Ω;
(c) Ω ∩ −Ω = ∅.
Mostre que essas condições são suficientes para que um subconjunto Ω ⊂ Π seja
o conjunto das raı́zes positivas em relação a uma ordem lexicográfica.
19. Encontre a ordem do grupo de Weyl dos diagramas clássicos pelo mesmo método
utilizado para os diagramas excepcionais.
21. Mostre que o grupo de Weyl de G2 coincide com Aut (A2 ). Mostre também que
W (F4 ) = Aut (D4 ). (Use o fato de que raı́zes longas de G2 e F4 formam o sistema
de raı́zes A2 e D4 respectivamente).
Álgebras envelopantes
A álgebra gl(V ) das transformações lineares de V é tanto uma álgebra de Lie quanto
uma álgebra associativa. Ao representar uma álgebra de Lie num espaço vetorial,
obtém-se uma subálgebra de Lie de transformações lineares. Em geral, essa álgebra
de Lie não é associativa, mas a álgebra associativa gerada por ela contém diversas
informações sobre a representação. A álgebra universal envelopante de uma álgebra de
Lie g é uma álgebra associativa U (g) construı́da (gerada) de maneira abstrata a partir
de g sendo que as representações de g induzem representações de U (g) de tal forma que
as imagens de U (g) por essas representações coincidem com as álgebras associativas
geradas pelas imagens das representações de g. Com a construção formal das álgebras
universais envelopantes desenvolve-se uma técnica algébrica bastante útil no estudo das
representações das álgebras de Lie.
i : g −→ U
267
268 CHAPTER 10. ÁLGEBRAS ENVELOPANTES
U (g)
Hρ̃
HH
6
i H H
HH
j
H
g - gl(V )
ρ
comuta.
O termo “universal” que aparece nessa definição vem do fato de que se toma uma
representação arbitrária ρ de g. É claro, pode-se definir álgebras envelopantes que
não são universais, só que associadas a representações pré-determinadas. Em todo
caso, a condição (i) acima garante que a álgebra associativa de transformações lineares
gerada por ρ(g) coincide com a imagem ρ̃(U ) da álgebra universal envelopante e garante
também que a representação ρ̃ obtida por extensão de ρ é única.
Duas álgebras universais envelopantes são isomorfas como álgebras associativas.
Para ver isso, a primeira coisa que se observa é que o homomorfismo i : g → U define
uma representação µ de g em U por multiplicação à esquerda:
µ(X)(a) = i(X)a X ∈ g, a ∈ U.
O fato de µ ser uma representação é conseqüência imediata de que i é um homomor-
fismo. Dessa forma, se i1 : g → U1 é uma outra álgebra universal envelopante, então
existe uma representação µ1 de g em U1 que define por sua vez uma representação µ̃1
de U em U1 . Como µ1 (g) gera µ̃1 (U ), os elementos de µ̃1 (U ) são também dados por
multiplicação à esquerda em U1 . Assim, se 1 ∈ U1 denota a unidade de U1 , então a
aplicação
φ1 : a ∈ U 7−→ µ̃1 (a)1
define um homomorfismo de U a valores em U1 . Da mesma forma existe um homo-
morfismo φ : U1 → U . Compondo esses homomorfismos, obtém-se o homomorfismo
φ ◦ φ1 de U , que restrito a i(g), é a identidade. Por essa razão, φ ◦ φ1 é a identidade
mostrando que esses homomorfismos definem isomorfismos entre U e U1 .
Essa discussão permite considerar como álgebra universal envelopante de g qualquer
uma das álgebras envelopantes isomorfas entre si. Uma tal álgebra será denotada
genericamente por U (g). Existe, no entanto, uma realização canônica de U (g), que é,
na verdade, a utilizada como álgebra universal envelopante de g. Para a construção
dessa realização canônica, é conveniente que se façam antes as seguintes considerações
sobre ideais e quocientes de álgebras associativas.
Dada uma álgebra associativa A, um ideal à esquerda é uma subálgebra I tal que
ab ∈ I
10.1. ÁLGEBRAS UNIVERSAIS ENVELOPANTES 269
se b ∈ I e a ∈ A. Mesmo que A seja uma álgebra com unidade, não se pede que
I contenha a unidade. De maneira semelhante, define-se o que vem a ser um ideal
à direita e um ideal bilateral. Este último é um ideal invariante por multiplicações à
direita e à esquerda. Como um ideal I é em particular um subespaço de A, é possı́vel
formar o espaço quociente A/I. No caso em que I é um ideal bilateral, o produto em
A passa ao quociente, definindo em A/I o produto
(a + I) (b + I) = ab + I
ab − a0 b0 = a(b − b0 ) + (a − a0 )b0
π : A −→ A/I
é um ideal à esquerda, já que essas são as matrizes que anulam o primeiro vetor da
base. As matrizes
1 0 0 1 1
X= e X =
0 0 0 0
são equivalentes módulo I. No entanto, tomando
0 0
Y = ,
1 0
XY = 0 e X 0 Y = X e X + I 6= I, já que X ∈
/ I.
Dado um subconjunto C ⊂ A, o ideal bilateral gerado por C é o menor ideal I desse
tipo que contém C. No caso em que A contém elemento unidade, esse ideal coincide
com o subespaço gerado por todos os produtos da forma
azb
X1 · · · Xk
XY − Y X − [X, Y ] ∈ T (g)
X1 · · · XY · · · Xk = X1 · · · Y X · · · Xk + X1 · · · [X, Y ] · · · Xk
em U (g), mas não em T (g). Os produtos em U (g) são, da mesma forma, dados por
justaposição de monômios. Passando ao quociente a inclusão de g em T (g), obtém-
se uma aplicação de g em U (g) que é, por construção um homomorfismo quando se
considera em U (g) o colchete dado pelo comutador. Essa aplicação de g em U (g) é
injetora, pois o ideal I tem interseção nula com g, já que os elementos de I são gerados
por elementos de ordem dois ou mais da álgebra tensorial. Por fim, uma representação
ρ de g no espaço vetorial V se estende a uma representação ρ̃ de U (g) que é definida
nos monômios por
ρ̃(X1 · · · Xk ) = ρ(X1 ) · · · ρ(Xk ). (10.1)
10.1. ÁLGEBRAS UNIVERSAIS ENVELOPANTES 271
Exemplos:
1. Seja g uma álgebra abeliana. Então, [X, Y ] = 0 para todo X, Y ∈ g. Dessa forma,
a identificação que se faz em T (g) para obter U (g) é a dada por XY = Y X e,
portanto, U (g) é a álgebra simétrica de g, que é abeliana. Seja
β = {X1 , . . . , Xn }
uma base ordenada de g. Os elementos de U (g) são combinações lineares de
monômios do tipo
Xi1 · · · Xik
com Xij ∈ β. Como dois elementos quaisquer de g comutam, é possı́vel reescrever
os monômios como
X1s1 · · · Xnsn .
O produto de dois desses monômios é dado como o produto de dois monômios
comutativos nas variáveis X1 , . . . Xn . Portanto, U (g) é nada mais nada menos
que uma álgebra de polinômios.
2. Seja g a álgebra solúvel de dimensão dois com base {X, Y } tal que [X, Y ] = Y .
Os elementos de U (g) são combinações lineares de monômios da forma
X1 · · · Xk
com Xi = X ou Y para todo i = 1, . . . k. Num monômio desses, toda ocorrência
do tipo XY , com X antecedendo Y , pode ser substituı́da por
XY = Y X + [X, Y ]
= Y X + Y.
Dessa forma, pode-se substituir o monômio dado por um monômio em que toda
ocorrência de X aparece à direita das de Y e um monômio qualquer de U (g) é
igual à um monômio da forma Y i X j , i, j ≥ 0. Assim, U (g) é o conjunto das
combinações lineares finitas desses monômios. O produto desta álgebra é obtido
por indução a partir da igualdade acima. Tem-se
k
k
X k
X Y = Y X k−j
j=0
j
272 CHAPTER 10. ÁLGEBRAS ENVELOPANTES
pela fórmula de comutação vista no capı́tulo 2. Daı́ se tira por indução que
k k−j k−(j1 +···+js−1 )
X X1 X
k s
X Y = ··· Cjk1 ···js Y s X k−(j1 +···+js )
j1 =0 j2 =0 js =0
onde
k k − (j1 + · · · + js−1 )
Cjk1 ···js = ··· .
j1 js
Esta igualdade fornece uma expressão explı́cita para o produto entre os monômios
Y j X k e Y sX r . 2
β = {X1 , . . . , Xn }
X1m1 · · · Xnmn
Demonstração:
m = Xi1 · · · Xik
pode ser escrito como combinação linear dos monômios ordenados. Isso é feito
por indução: seja d(m) a quantidade de pares ij , il com j ≤ l que aparecem como
subı́ndices no monômio acima tais que ij > il , isto é, d (m) é a quantidade de
pares fora de ordem que aparecem no monômio. A indução é feita sobre k, a
ordem de m e d(m). O passo de indução é feito da seguinte forma. Se d(m) = 0,
então m está bem ordenado e, portanto, pertence ao conjunto que se pretende
que seja gerador. Caso contrário, saindo de um par ij > il com j ≤ l e tomando
10.1. ÁLGEBRAS UNIVERSAIS ENVELOPANTES 273
σ : T (g) → T (g)
tal que
• σ se anula em I e
• restrita a T0 , σ é a identidade.
m = Xi1 · · · Xik
de T (g). Para definir σ(m), é usada indução sobre k, a ordem de m, e d(m) onde
d(m) é, como acima, o número de pares que aparecem no monômio m em ordem
contrária à ordem da base de g. Para iniciar o processo de indução, assume-se
que a ordem k de m é zero ou um, e define-se σ(m) = m, já que, nesse caso, o
monômio m está ordenado, e σ deve ser a identidade em T0 . Se k ≥ 2, define-se
σ(m) por indução sobre d(m). Se d(m) = 0, então σ(m) = m, pois m é um
monômio ordenado. Caso contrário, pode-se encontrar, como no item anterior,
um ı́ndice s tal que is > is+1 . Fixando esse ı́ndice, seja
onde o segundo membro é dado pela hipótese de indução. Essa definição de σ(m)
depende, em princı́pio, da escolha do ı́ndice s. Por outro lado, σ é evidentemente
a identidade quando restrita a T0 . Por isso, para concluir a demonstração do
teorema, é suficiente mostrar que
274 CHAPTER 10. ÁLGEBRAS ENVELOPANTES
(a) a expressão dada acima para σ(m) com d(m) ≥ 1 independe do ı́ndice s e
(b) σ se anula em I.
Caso I {s, s + 1} não intercepta {r, r + 1}. Por exemplo, s ≥ r + 2, isto é, m é
da forma
m = Xi1 · · · Xir Xir+1 · · · Xis Xis+1 · · · Xik .
Então, usando a comutação em ir e posteriormente em is , chega-se a que
σ(m) é dada por
com ir > ir+1 > ir+2 . Usando a definição de σ pela comutação entre Xir+1
e Xir+2 e a hipótese de indução, σ(m) será dada por
Por outro lado, definindo σ pela comutação entre Xir e Xir+1 , chega-se à
expressão
σ(Xi1 · · · Xir+2 Xir+1 Xir · · · Xik )
+σ(Xi1 · · · [Xir+1 , Xir+2 ]Xir · · · Xik )
(10.4)
+σ(Xi1 · · · Xir+1 [Xir , Xir+2 ] · · · Xik )
+σ(Xi1 · · · [Xir , Xir+1 ]Xir+2 · · · Xik ),
para σ(m). A diferença entre essas duas expressões se anula, pois os primei-
ros termos são iguais. Mais ainda, a hipótese de indução permite comutar
os demais termos, obtendo, para a diferença entre (10.3) e (10.4),
Mas esta expressão se anula pela identidade de Jacobi de g, o que mostra que
σ está bem definida, garantindo que o conjunto é linearmente independente.
Proposição 10.2 Seja D uma derivação de g. Então, existe uma única derivação D
e
de U (g) que estende D. Além do mais, a aplicação D 7→ De é uma representação da
álgebra das derivações de g no espaço U (g).
276 CHAPTER 10. ÁLGEBRAS ENVELOPANTES
Xi1 · · · Xis
com {X1 , . . . , Xn } uma base de g, pois o teorema de Poincaré-Birkhoff-Witt assegura
que os produtos desse tipo formam uma base de U (g). Nesse sentido, a seguinte
fórmula é útil.
Lema 10.3 Sejam D uma derivação de g e Xj , 1 ≤ j ≤ s elementos de g. Então,
X
e m (X1 · · · Xs ) =
D Dk1 X1 · · · Dks Xs
k
Corolário 10.4 Seja D uma derivação nilpotente de g. Então, para todo a ∈ U (g)
e m a = 0.
existe um inteiro m tal que D
a = X1 · · · Xs
mostrando o lema. 2
EX (a) = Xa.
Dessa forma, a imagem da representação se identifica com uma subálgebra de U (g) /J.
Uma vez construı́das essas representações, podem-se mostrar os seguintes lemas
centrais na demonstração do teorema de Ado.
azb
Isso mostra que para algum k esses produtos todos se anulam, já que a representação
canônica de n é nilpotente e, portanto, seus elementos são, em alguma base, matrizes
triangulares superiores com zeros na diagonal. 2
Lema 10.6 Seja J ⊂ U (g) um ideal bilateral de codimensão finita. Então, para qual-
quer inteiro k, o ideal J k também é de codimensão finita.
Xin11 · · · Xinss
formam uma base de T (g). O fato de J ser de codimensão finita garante que todos os
monômios dessa forma com s ou mais elementos, para algum s ≥ 1, estão contidos em
J pois, caso contrário, existiriam infinitos elementos linearmente independentes fora de
J. Isso mostra que todos os monômios com sk elementos, ou mais, k estão contidos no
k
ideal J e, portanto, esse ideal é de codimensão finita. Como π J = J k , conclui-se
que J k também é de codimensão finita. 2
Lema 10.7 Seja g uma álgebra solúvel e J um ideal bilateral de U (g). Denote por n
o radical nilpotente de g e suponha que J satisfaça as seguintes condições
Voltando agora ao teorema de Ado, seja g uma álgebra de dimensão finita e con-
sidere uma decomposição de Levi de g,
g=r⊕s
com r o radical solúvel de g e s semi-simples. Como foi dito acima, a idéia para
demonstrar a existência de representações fiéis é construir representações que são fiéis
no centro de g. Evidentemente, o centro de g está contido em r. Dessa forma, o
que se faz é construir, em primeiro lugar, uma representação de r que seja fiel no
centro e estender essa representação a g. Tanto essa extensão quanto a construção da
representação de r são obtidas através do seguinte teorema.
Teorema 10.8 Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita e suponha que g se
decompõe como
g=q⊕u
com q um ideal solúvel e u uma subálgebra.
Seja σ uma representação de dimensão finita de q e suponha que σ (X) é nilpotente
para todo X no radical nilpotente de q. Então, existe uma representação ρ de g tal que
q ∩ ker ρ ⊂ ker σ.
2. g é nilpotente
X =Y +Z
10.2. TEOREMA DE ADO E COMPLEMENTOS 281
FX = EY + D
eZ ,
ρ (X)kp = (ρ (Y ) + ρ (Z))kp
A partir desse teorema fica fácil obter uma representação de g que seja fiel em seu
centro. De fato, sejam r o radical, n o nil-radical e z o centro de g. Evidentemente,
z⊂n⊂r
Teorema 10.9 Toda álgebra de Lie de dimensão finita admite uma representação fiel
ρ de dimensão finita. Além do mais, essa representação pode ser tomada de tal forma
que ρ (X) é nilpotente para todo X no nil-radical da álgebra.
Demonstração: Seja g uma álgebra de Lie de dimensão finita. Por tudo que foi feito
até agora, existe uma representação σ de g que é fiel no centro z de g. Então,
ρ = ad ⊕σ
é uma representação fiel, pois se ρ(X) = 0, então ad(X) = 0 e X ∈ z, o que mostra que
X = 0, pois σ é fiel no centro. O fato de que ρ é nilpotente no nil-radical é conseqüência
de que isso ocorre para a representação adjunta, por definição de nil-radical e também
para σ conforme a construção feita acima através do teorema anterior. 2
10.3 Exercı́cios
1. Seja h ⊂ gl (V ) uma álgebra de Lie de transformações lineares e considere o
produto semi-direto g = h × V . Encontre uma representação fiel de g.
2. Seja A uma álgebra associativa finitamente gerada e I um ideal bilateral de A
tal que dim (A/I) é finita. Mostre que I admite uma base ideal finita, isto é,
existem a1 , . . . , as ∈ I tal que
X
I= Aai A .
i
k
Mostre também que dim A/I < ∞ para todo k.
3. Dê a expressão para o produto de dois monômios na álgebra universal envelopante
da álgebra de Heisenberg. Mostre que o centro da álgebra universal é a subálgebra
gerada pelo centro da álgebra de Lie.
4. Para uma álgebra de Lie g, mostre que a aplicação
X ∈ g 7−→ X ⊗ 1 + 1 ⊗ X ∈ U (g) ⊗ U (g)
se estende a um homomorfismo δ da álgebra universal U (g) em U (g) ⊗ U (g).
Mostre também que a ∈ U (g) pertence a g se e só se δ (a) = a ⊗ 1 + 1 ⊗ a.
(Calcule δ para um monômio X1 · · · Xk ∈ U (g)).
284 CHAPTER 10. ÁLGEBRAS ENVELOPANTES
Chapter 11
Representações de álgebras
semi-simples
Um fato que desempenha um papel central na teoria das álgebras semi-simples é que
as classes de equivalência das representações irredutı́veis de dimensão finita de sl(2)
são distinguidas entre si por inteiros ≥ 0. Um inteiro desses aparece como o maior
autovalor de determinados elementos da subálgebra de Cartan em apenas uma classe
de equivalência de representações irredutı́veis. Como será visto neste capı́tulo, essa
caracterı́stica das representações de sl (2) se generaliza a álgebras semi-simples sobre
corpos algebricamente fechados em geral. As representações irredutı́veis de dimensão
finita dessas álgebras são parametrizadas por l-uplas de inteiros não-negativos, onde
l é o posto da álgebra. Da mesma forma que em sl (2), esses inteiros são autovalores
maximais de certos elementos da subálgebra de Cartan e caracterizam os chamados
pesos máximos da representação.
Σ = {α1 , . . . , αl }
2
Hα0 = Hα
hα, αi
285
286 CHAPTER 11. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
são nilpotentes e duais entre si pela forma de Cartan-Killing. Além do mais, a subál-
gebra
b = h ⊕ n+
é solúvel. A subálgebra b é conhecida como a subálgebra de Borel. Tem-se também
g = n− ⊕ h ⊕ n+ = n− ⊕ b.
b) dim Vλ = 1.
Deve ser ressaltado que neste teorema não se assume que V é de dimensão finita.
Apesar disso, os subespaços de pesos são de dimensão finita. Dessa forma, dim V < ∞
se e só se a quantidade de pesos é finita.
Teorema 11.3 Para todo λ ∈ h∗ existe uma representação irredutı́vel com peso máxi-
mo λ.
Esses dois teoremas mostram que as representações (de dimensão finita ou não)
que são irredutı́veis e admitem peso máximo são parametrizadas pelo dual h∗ de h
no sentido em que para cada λ ∈ h∗ existe uma única (a menos de isomorfismo)
representação com peso máximo λ. No que segue, um representante qualquer dessa
classe de representações será denotado por ρλ e o espaço da representação por V (λ).
Quanto às representações de dimensão finita,
Vice-versa,
Pela forma como os pesos são obtidos dos pesos máximos, no teorema 11.2, conclui-
se que todos eles assumem valores inteiros em Hα0 para toda raiz α e o peso máximo
assume valores inteiros não-negativos nos elementos correspondentes às raı́zes positivas.
Esses teoremas são enunciados a partir de um sistema simples fixado. Mudando
esse sistema, altera-se n+ , n− , os vetores primitivos, os pesos máximos e os espaços de
pesos das representações. No entanto, com Σ fixo, o conjunto
está contido no subespaço racional h∗Q , já que um peso máximo associado a uma repre-
sentação de dimensão finita assume valores inteiros nas raı́zes. Além do mais, P está
contido no cone
{λ : λ(Hα ) ≥ 0, α ∈ Π+ },
isto é, na câmara de Weyl associada ao sistema simples e P é a interseção dessa câmara
com o reticulado
{λ : λ(Hα0 ) ∈ Z, α ∈ Π}.
Convém ressaltar também que os pesos máximos das representações de dimensão finita
assumem valores inteiros em Hα0 e não exatamente nos duais Hα das raı́zes.
O resto desta seção é dedicado às demonstrações dos teoremas acima.
gα Vλ ⊂ Vλ+α
b) A soma X
Vµ
µ peso
é direta e g-invariante.
Demonstração:
a) Sejam X ∈ gα e v ∈ Vλ . Então, se H ∈ h,
e, portanto, Xv ∈ Vλ+α .
11.1. REPRESENTAÇÕES IRREDUTÍVEIS 289
No que segue será denotado, como no capı́tulo 10, por U (g) a álgebra universal
envelopante de g. Essa álgebra desempenha um papel central nas demonstrações devido
à possibilidade de aplicar o Teorema de Poincaré-Birkhoff-Witt para obter bases dos
subespaços g-invariantes de uma representação. Esses subespaços são obtidos pela ação
de U (g) da seguinte forma: uma representação de g em V induz uma representação de
U (g) em V . Dado v ∈ V , o conjunto
Π+ = {β 1 , . . . , β k }
que define uma base ordenada {Yβ 1 , . . . , Yβ k } de n− com Yβ i ∈ g−β i . Essa ordem vai
ser útil para tomar uma base de U (g).
a) Os elementos da forma
geram W .
Demonstração:
b) Pelo lema anterior e pelo fato de que Yβ i ∈ g−β i , tem-se que Yβ k v ∈ Wλ−β k ,
Yβ2k ∈ Wλ−2β k , e assim sucessivamente, garantindo que
µ = λ − (m1 β 1 + · · · + mk β k ) mi inteiros ≥ 0.
Isso mostra que esses são todos os pesos da representação restrita a W , já que
espaços de pesos associados a pesos distintos são linearmente independentes.
Agora, como β i , i = 1, . . . , k, são raı́zes positivas, elas são combinações line-
ares com coeficientes inteiros positivos das raı́zes simples αi , i = 1, . . . , l, o que
mostra que os pesos são como no enunciado.
Falta verificar que as multiplicidades dos espaços de pesos são finitas. Para isso
se observa que se µ = λ − (m1 β 1 + · · · + mk β k ) é um peso de W , então Wµ é
gerado por elementos da forma
m0 m0
Yβ 1 1 · · · Yβ k k v m0i inteiros ≥ 0
que satisfazem
m1 β 1 + · · · + mk β k = m01 β 1 + · · · + m0k β k
e a quantidade das k-uplas de inteiros não-negativos (m01 , . . . , m0k ) que satisfazem
esta igualdade é finita. Isso segue do fato de que as raı́zes positivas são com-
binações lineares com coeficientes inteiros não-negativos das raı́zes simples e,
portanto, a igualdade acima define um sistema linear com coeficientes positivos
em (m01 , . . . , m0k ) e a quantidade de soluções inteiras positivas de um sistema desse
tipo é finita.
11.1. REPRESENTAÇÕES IRREDUTÍVEIS 291
ρ2 (X)P v = P ρ1 (X)v = 0,
se v ∈ Vλ .
W = U (g)v
π 1 ρ(X) = ρ1 (X)π 1
e, portanto,
π 1 U (g)v = U (g)π 1 v = U (g)v1
e este último espaço coincide com V1 , pois ρ1 é irredutı́vel. Isso mostra que a restrição
de π 1 a W é sobrejetora. Por outro lado, ker(π 1 |W ) = W ∩ V2 é um subespaço ρ-
invariante de V2 , pois é a interseção de subespaços invariantes. Como V2 é irredutı́vel,
11.1. REPRESENTAÇÕES IRREDUTÍVEIS 293
V2 = U (g)v2 ⊂ W ∩ V2 ,
isto é, V2 ⊂ W . Mas isso contradiz o fato de que dim Wλ = 1, pois v2 e v1 + v2 são
linearmente independentes e ambos são elementos primitivos de peso λ. Da mesma
forma, mostra-se que a restrição de π 2 é um isomorfismo garantindo que o subespaço
invariante é o gráfico de um operador de intercâmbio e, portanto, que ρ1 e ρ2 são re-
presentações isomorfas. 2
Corolário 11.8 Tomando uma representação como no teorema e uma raiz positiva
α ∈ Π+ , Xα é localmente nilpotente, isto é, para todo u ∈ V , Xαj u = 0 para algum
j ≥ 0.
v = u1 + · · · + us
com 0 6= uj ∈ Vµj , j = 1, . . . , s, e os pesos µj dois a dois distintos. Como se tem aı́ uma
quantidade finita de pesos, existe H ∈ h tal que µj (H) 6= 0 para todo j. Aplicando
reiteradamente H em v, obtêm-se as decomposições
H k v = µ1 (H)k u1 + · · · + µs (H)k us
Hv = λ(H)v se H ∈ h; Xv = 0 se X ∈ n+ .
Essas expressões definem uma representação pelo fato de que a álgebra derivada de b
é n+ . Seja v 6= 0 um elemento do espaço dessa representação e defina formalmente o
espaço vetorial V como sendo o espaço vetorial gerado por elementos do tipo
sendo que
X1n1 · · · Xsns v
é um múltiplo de v com o coeficiente dado pela representação unidimensional de b.
Isso define uma representação de U (g) e, portanto, de g em V .
Como a representação em v é proveniente da representação unidimensional de b, v
é um elemento primitivo de V associado ao peso máximo λ.
A representação desejada é obtida como um quociente da representação em V . De
fato, seja U ⊂ V o subespaço gerado por todos os subespaços próprios g-invariantes de
V . Então, U também é g-invariante e, portanto, fica definida a representação quociente
11.1. REPRESENTAÇÕES IRREDUTÍVEIS 295
π : V → V /U
de onde se tira que π(v) 6= 0. Por essa razão, π (v) é um elemento primitivo de peso
máximo em V /U e essa representação é irredutı́vel e de peso máximo λ, como se queria
mostrar. 2
autovalor λ1 (H) ele é, de fato, um elemento primitivo de peso λ. Isso mostra que ρ
admite peso máximo.
Seja α uma raiz positiva. Então, o subespaço g(α) gerado por
{Xα , Hα0 , Yα }
A idéia para mostrar o teorema 11.4 vem de que o conjunto dos pesos de uma
representação que satisfaz suas condições é invariante pelo grupo de Weyl, como é
garantido pelo lema seguinte.
Lema 11.10 Seja λ ∈ h∗ tal que λ(Hα0 ) é um inteiro positivo para toda raiz simples
α. Denote por P (λ) o conjunto dos pesos da representação irredutı́vel ρλ com peso
máximo λ. Então, wP (λ) ⊂ P (λ) para todo w no grupo de Weyl W .
A demonstração deste lema será feita adiante. Com ele se mostra o teorema 11.4
da seguinte forma.
l
X
µ=λ− mi α i mi inteiros > 0.
i=1
Assim, P (λ) é finito se e só se o conjunto das possı́veis l-uplas (m1 , . . . , ml ) que apare-
cem nesta expressão é limitado. Para verificar que isso ocorre, seja w ∈ W o elemento
do grupo de Weyl que satisfaz w(Σ) = −Σ. Tem-se que w−1 = w e, pelo lema,
wµ ∈ P (λ) se µ ∈ P (λ). Portanto, existem inteiros não-negativos ni , i = 1, . . . , l tal
que
Xl
−1
w µ=λ− ni α i .
i=1
l
X
µ = w(λ) − ni w(αi ).
i=1
11.1. REPRESENTAÇÕES IRREDUTÍVEIS 297
Essa é uma representação de λ − w (λ) como combinação linear das raı́zes simples
com os coeficientes pi +mi definidos a partir do peso µ. No entanto, λ−w(λ) se escreve
de maneira única como
X l
λ − w (λ) = ci α i
i=1
Lema 11.12 Nas condições do Lema 11.10, Xα e Yα são localmente nilpotentes para
toda raiz simples α ∈ Σ.
Xβ Yαm+1 v = Yαm+1 Xα v = 0
pois v é elemento primitivo. Pelo lema anterior, tem-se, então, que n+ Yαm+1 v = 0.
Daı́ que Yαm+1 v se anula, pois caso contrário, ele seria um elemento primitivo de
raiz λ − (m + 1)α, contradizendo o fato de que existe apenas um peso máximo.
e
0
Xα−µ(Hα ) Vµ ⊂ Vµ−µ(Hα0 )α se µ(Hα0 ) ≤ 0
e mostrar, de acordo com cada um dos casos, que
0 0
Xα−µ(Hα ) w 6= 0 ou Yαµ(Hα ) w 6= 0
para algum w ∈ Vµ e obter dessa forma que Vsα (µ) 6= 0 e, portanto, que sα (µ) é raiz.
11.2. REPRESENTAÇÕES FUNDAMENTAIS 299
Nos dois casos tem-se que para qualquer w ∈ Vµ existe um subespaço U de dimensão
finita que contém w e é invariante pela subálgebra g(α) isomorfa a sl(2). De fato, pelo
lema anterior Xα e Yα são localmente nilpotentes e, portanto, existem inteiros i, j tais
que X i w = 0 = Y j w. Como w ∈ Vµ , isso garante que U (g(α)) w está contido no
subespaço
Xi
Vµ+kα
k=−j
que é de dimensão finita por ser uma soma finita de subespaços de pesos. Portanto,
U = U (g(α))w é um subespaço invariante de dimensão finita.
Supondo agora que µ(Hα0 ) ≤ 0 (o outro caso é semelhante), U se decompõe em
componentes irredutı́veis e dentro de cada uma delas Hα0 é uma matriz diagonal da
forma
diag{m, m − 2, . . . , −m + 2, −m}
Como w é autovetor de Hα0 , w pertence a alguma dessas componentes irredutı́veis e daı́
que µ(Hα0 ) = m − 2k para algum k. Nessa componente, Xα anula apenas o autovetor
−µ(H 0 )
associado ao maior autovalor. Dessa forma, Xα−m+2k w 6= 0, isto é, Xα α w 6= 0. Isso
mostra que
2hα, µi
sα (µ) = µ − α = µ − µ (Hα0 ) α
hα, αi
é peso da representação. 2
Σ = {α1 , . . . , αl }
Hi = Hα0 i i = 1, . . . , l.
Como as raı́zes positivas são combinações lineares com coeficientes inteiros não-nega-
tivos das raı́zes simples, um funcional λ de h é o peso máximo de uma representação
irredutı́vel de dimensão finita se e só se λ (Hj ) é um inteiro ≥ 0 para todo j = 1, . . . , l.
Uma maneira alternativa de expressar isso é através da base dual
Φ = {λ1 , . . . , λl }
λi (Hj ) = δ ij .
λ = n 1 λ1 + · · · + n l λl
com os coeficientes ni inteiros ≥ 0. Esses são, portanto, os pesos máximos das repre-
sentações irredutı́veis de dimensão finita. Em particular, os elementos de Φ são pesos
máximos desse tipo e definem também representações de dimensão finita. As repre-
sentações associadas aos elementos de Φ são chamadas de representações fundamentais
(ou básicas), os elementos de Φ são os pesos fundamentais (ou básicos) e Φ é um sistema
fundamental de pesos. A definição de Φ como dual da base formada por Hj mostra
que, para encontrar os coeficientes λj como combinação linear das raı́zes simples, é
necessário resolver um sistema linear cuja matriz dos coeficientes é a matriz de Car-
tan do diagrama. Assim, os coeficientes dessas combinações lineares são as colunas da
inversa da matriz de Cartan.
Assim, como os pesos das representações irredutı́veis são obtidos por combinações
dos pesos fundamentais, as representações irredutı́veis também são obtidas das repre-
sentações associadas aos pesos básicos. Isso é feito através do processo conhecido por
composição de Cartan, que é descrito na seguinte proposição.
U ⊂ V1 ⊗ V2
Demonstração:
ρ (U (g)) v
que, como foi mostrado, é indecomponı́vel. Como a dimensão é finita, isso implica
que U é irredutı́vel.
(ρ1 ∗ ρ2 ) ∗ ρ3 = ρ1 ∗ (ρ2 ∗ ρ3 )
ρ = ρ1 ∗ · · · ∗ ρk
λ = λ 1 + · · · + λk .
Álgebras clássicas
A seguir, são apresentadas as representações fundamentais das álgebras clássicas. As
realizações dessas álgebras, assim como as notações das raı́zes, são as mesmas que
aparecem no capı́tulo 8.
Um sistema simples é
Σ = {α12 , . . . , αl,l+1 }
e, como o dual de uma raiz é dado por
1
Hαij = (Eii − Ejj ) ,
2n
2
os duais normalizados Hi = Hα das raı́zes simples formam a base
hαi , αi i i
{E11 − E22 , . . . , Ell − El+1,l+1 }
Φ = {λ1 , λ1 + λ2 , . . . , λ1 + · · · + λl }.
11.2. REPRESENTAÇÕES FUNDAMENTAIS 303
λ1 + · · · + λ k .
Xk (e1 ∧ · · · ∧ ek ) = e1 ∧ · · · ∧ eik
λ1 : Λ = diag{a1 , . . . , al } 7−→ ai ,
Σ = {λ1 − λ2 , . . . , λl−1 − λl , λl },
e
Λλl = diag{0, . . . , 2}.
A base dual de Σ0 é o sistema fundamental de pesos
1
Φ = {λ1 , λ1 + λ2 , . . . , λ1 + · · · + λl−1 , (λ1 + · · · + λl )}.
2
(veja o exercı́cio 15 para a expressão dos elementos de Φ em termos das raı́zes
simples). A representação canônica de so (2l + 1) em V = Kl+1 é irredutı́vel.
Seja {e0 , e1 , . . . , e2l } a base de V que diagonaliza h. Os espaços gerados pelos
elementos dessa base são os subespaços de pesos da representação em V e estão
associados aos pesos λ0 = 0 e ±λj , j = 1, . . . , l. Como n+ e1 = 0, o peso máximo
dessa representação é λ1 , mostrando que essa é a representação fundamental
associada ao primeiro dos pesos fundamentais.
As representações fundamentais associadas aos pesos
λ 1 + · · · + λk k ≤l−1
11.2. REPRESENTAÇÕES FUNDAMENTAIS 305
Vk
são dadas, de maneira semelhante ao caso Al , em V . O produto exterior
e1 ∧ · · · ∧ ek
e
Λ2λl = diag{0, . . . , 0, 1}.
O sistema fundamental de pesos é a base dual de Σ0 e é dado por
Φ = {λ1 , λ1 + λ2 , . . . , λ1 + · · · + λl−1 , λ1 + · · · + λl }.
Assim, tomando a base {e1 , . . . , e2l } de V = K2l que diagonaliza h, vê-se que os
produtos exteriores
e1 ∧ · · · ∧ ek
Vk
em V , 1 ≤ k ≤ l, são elementos primitivos associados aos pesos fundamen-
tais. Portanto, as representações obtidas por restrição aos subespaços invariantes
gerados por esses elementos primitivos são as representações fundamentais V de
sp (l). Aqui, ao contrário do caso Al , o espaço da representação não é todo k V
a menos que k = 1. Nesse caso, V é irredutı́vel, pois, para cada elemento ei da
base, existe X ∈ sp (l) tal que Xe1 = ei .
e
Λλl−1 +λl = diag{0, . . . , 1, 1}.
Assim, o sistema fundamental de pesos é dado por
λ1 + · · · + λl−1 + λk k ≤l−2
e
1 1
(λ1 + · · · + λl−1 − λl ) (λ1 + · · · + λl−1 + λl ) .
2 2
11.3. ÁLGEBRAS DE CLIFFORD 307
ej1 · · · ejs
numa ordem qualquer e com s arbitrário geram C, pois esses produtos são a imagem
dos elementos da base canônica de T (V ). No entanto, como a base é ortonormal,
e2i = −1 e ei ej = −ej ei se i 6= j
Exemplos:
C = K1 + V
2. Sejam V um espaço de dimensão 2 com uma forma bilinear h·, ·i e uma base
{i, j} ortonormal em relação a h·, ·i. Então, uma base da álgebra de Clifford
correspondente é {1, i, j, k} com k = ij. Os produtos dos elementos dessa base
são
i2 = j 2 = k 2 = −1 ij = k jk = i ki = j
e, portanto, C é a álgebra dos quatérnions. 2
11.3. ÁLGEBRAS DE CLIFFORD 309
Demonstração: Seja
{v1 , . . . , vn }
uma base ortonormal de V . Então,
[vi , vj ] = 2vi vj
vr vs vi vj = −vr vi vs vj = vi vr vs vj = vi vj vr vs
• Se {i, j} = {r, s}. Então, vi vj = ±vr vs , pois a base é ortonormal e daı́ que o
colchete entre esses dois elementos se anula.
vi vj vr vs = vi vj2 vs = −vi vs
e
vr vs vi vj = vr2 vs vi = vi vs
e, portanto, [vi vj , vr vs ] = −2vi vs .
onde Eij é a matriz cuja entrada i, j é 1 e as demais são nulas. Então, as constantes de
estrutura dessa base são as mesmas que as constantes de estrutura da base
1
− vi vj
2
o que mostra que a álgebra é realmente isomorfa a so (n) e que a representação em V ,
dada pelo colchete, é isomorfa à representação canônica de so (n). 2
Por essa proposição, a álgebra de Lie so (n) pode ser vista como uma subálgebra
de uma álgebra de Clifford. Dessa forma, uma representação de C induz, por restrição,
uma representação de so (n).
As representações de C são homomorfismos a valores na álgebra associativa das
transformações lineares de um espaço vetorial. Uma maneira conveniente de se obter
homomorfismos desse tipo é através da seguinte propriedade universal das álgebras de
Clifford:
Seja A uma álgebra associativa com unidade e
θ : V −→ A
θ : T (V ) −→ A.
Se esse homomorfismo se anula no ideal Ic que define C, então ele passa ao quociente
definindo um homomorfismo de C a valores em A. Como Ic é o ideal bilateral gerado
pelos elementos da forma
u ⊗ v + v ⊗ u + 2hu, vi1,
a condição para que θ passe ao quociente a C é que θ se anule nesses elementos. Dito
de outra maneira, se θ : V → A é uma aplicação linear que satisfaz para todo u, v ∈ V ,
θ : C 7−→ A.
Representação spin de Bl
A realização da álgebra Bl (= so (2l + 1)) foi feita escolhendo uma base de V
β = {d, e1 . . . , el , f1 , . . . fl }
V de C discutida
universal V acima. Para v ∈ V deve-se associar uma transformação linear
θ (v) : W → W de tal forma que, para u, v ∈ V ,
θ (w) η = w ∧ η.
V0
2. Para u ∈ W 0 , θ (u) é dada pela dualidade entre W e W 0 : θ (u)
W = 0 e para
w1 , . . . , ws ∈ W ,
s
X
θ (u) (w1 ∧ · · · ∧ ws ) = 2 (−1)i hu, wi i (w1 ∧ · · · ∧ w
bi ∧ · · · ∧ ws ) .
i=1
3. Sejam
^par X ^2k ^imp X ^2k+1
W = W e W = W
k k
η = ei1 ∧ · · · ∧ eis
V
da base de W , eles se anulam se ei ou ej não aparece em η e se ei aparece na posição
ki e ej na posição kj com ki < kj , então
• [fi ei + 1, d] = 0.
11.3. ÁLGEBRAS DE CLIFFORD 313
Λ = diag{a1 , . . . , al },
corresponde em C a
1
(a1 (f1 e1 + 1) + · · · + al (fl el + 1)) .
2
Os pesos fundamentais de so (2l + 1) são dados por
1
Φ = {λ1 , λ1 + λ2 , . . . , λ1 + · · · + λl−1 , (λ1 + · · · + λl )}
2
onde λi é o funcional que à matriz Λ associa sua i-ésima entrada diagonal. Esse
funcional é dado também por
Agora, seja
η = ei1 ∧ · · · ∧ eis 1 ≤ i1 < · · · < i s ≤ l
V
um elemento da base canônica de W . Então,
θ(ei )η = ei ∧ η
η m = e1 ∧ · · · ∧ el .
314 CHAPTER 11. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
• ei ej , i 6= j que corresponde a b e
• ei d que corresponde a γ
Representação spin de Dl
As representações spinoriais básicas de so (2l) são construı́das de forma semelhante ao
caso ı́mpar. Tomando uma base
{e1 , . . . , el , f1 , . . . , fl }
fj ei i<j e ei ej i 6= j
e1 ∧ · · · ∧ el e e1 ∧ · · · ∧ el−1
1
(λ1 + · · · + λl−1 − λl ) .
2
Isso conclui a construção da última das representações fundamentais de Dl .
V maneira semelhante ao caso ı́mpar, é possı́vel mostrar que a representação de C
De
em W induz um isomorfismo entre C e a álgebra associativa
^
gl W .
316 CHAPTER 11. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
Álgebras excepcionais
As colunas da inversa da matriz de Cartan fornecem os coeficientes dos pesos funda-
mentais quando escritos como combinações lineares das raı́zes simples. A matriz de
Cartan de G2 é
2 −1
−3 2
cuja inversa é
2 1
3 2
e, portanto, os pesos fundamentais são
λ1 = 2 α 1 + 3 α 2 e λ2 = α 1 + 2 α 2 .
• F4
2 −1 0 0 2 3 2 1
−1 2 −1 0 3 6 4 2
C=
0 −2 2 −1
C −1 =
4
8 6 3
0 0 −1 2 2 4 3 2
• E6
4 5 4 2
2 −1 0 0 0 0 3 3
2 3 3
1
5 10 8 4
−1 2 −1 0 0 0
3 3
4 3 3
2
0 −1 2 −1 0 −1 2 4 6 4 2 3
C= C −1 =
4 8 10 5
0 0 −1 2 −1 0
32 3
4 3 3
2
4 5 4
0 0 0 −1 2 0
3 3
2 3 3
1
0 0 −1 0 0 2 1 2 3 2 1 2
• E7
2 −1 0 0 0 0 0
−1 2 −1 0 0 0 0
0 −1 2 −1 0 0 0
C=
0 0 −1 2 −1 0 −1
0 0 0 −1 2 −1 0
0 0 0 0 −1 2 0
0 0 0 −1 0 0 2
11.3. ÁLGEBRAS DE CLIFFORD 317
3 5 3
2
2 2
3 2 1 2
2 4 5 6 4 2 3
5 15 9
2
5 2
9 6 3 2
C −1 =
3 6 9 12 8 4 6
2 4 6 8 6 3 4
1 2 3 4 3 2 2
3 9 7
2
3 2
6 4 2 2
• E8
2 −1 0 0 0 0 0 0
−1 2 −1 0 0 0 0 0
0
−1 2 −1 0 0 0 0
0 0 −1 2 −1 0 0 0
C=
0
0 0 −1 2 −1 0 −1
0
0 0 0 −1 2 −1 0
0 0 0 0 0 −1 2 0
0 0 0 0 −1 0 0 2
2 3 4 5 6 4 2 3
3 6 8 10 12 8 4 6
4 8 12 15 18 12 6 9
−1
5 10 15 20 24 16 8 12
C = 6
12 18 24 30 20 10 15
4 8 12 16 20 14 7 10
2 4 6 8 10 7 4 5
3 6 9 12 15 10 5 8
Notas
A abordagem algébrica aos teoremas de representação via álgebra universal envelopante e
o teorema de Poincaré-Birkhoff-Witt é considerada standard hoje em dia. Essa abordagem
surgiu dos trabalhos de Harish-Chandra e Chevalley, na década de 1940. A classificação das
representações irredutı́veis por inteiros positivos foi feita por E. Cartan em 1913 (veja [5]).
As fórmulas do caráter dimensão de Weyl mencionadas no texto fazem parte da teoria do
caráter de representações. Essa teoria foi desenvolvida inicialmente para grupos compactos
e álgebras semi-simples complexas através do truque unitário de Weyl, isto é, via métodos
transcendentes. Hoje em dia, existe uma extensa teoria que enfatiza os métodos algébricos
(uma apresentação dessa teoria pode ser encontrada em [17]).
O material sobre álgebras de Clifford, incluı́do no texto, é o mı́nimo exigido para apresentar
as representações básicas das álgebras Bl e Dl . Uma exposição sistemática recente sobre
essas álgebras pode ser encontrada em [36].
As inversas das matrizes de Cartan das álgebras excepcionais foram calculadas pelo Maple
incorporado ao Scientific Workplace
c
; calcular a inversa de uma matriz quadrada de mais
de três linhas é um tarefa árdua se os recursos computacionais são apenas o lápis e o papel.
318 CHAPTER 11. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
11.4 Exercı́cios
Para os exercı́cios a seguir, se o corpo de escalares não é especificado, então ele é
algebricamente fechado e de caracterı́stica zero.
eX e−Y eX ,
com X e Y localmente nilpotentes (veja exercı́cio 6 do capı́tulo 9), dê uma de-
monstração alternativa para o lema 11.10 que afirma que o conjunto dos pesos é
invariante pelo grupo de Weyl.
3. Mostre que se o grupo de Weyl é transitivo no conjunto dos pesos de uma re-
presentação e cada espaço de pesos tem dimensão um, então a representação é
irredutı́vel.
7. Seja {X1 , . . . , Xn } uma base de g e {Y1 , . . . , Yn } sua base dual em relação à forma
de Cartan-Killing e considere o elemento de Casimir
Γ = X1 Y1 + · · · + Xn Yn ∈ U (g) .
ver quais representações das álgebras à direita são spinoriais e quais são tensoriais.
11.4. EXERCÍCIOS 319
9. Com a ordem nas raı́zes simples como indicado nas realizações do capı́tulo 8, os
coeficientes dos pesos máximos das representações adjuntas das álgebras simples
em relação às raı́zes simples e aos pesos fundamentais são, respectivamente, os
seguintes:
Al (1, . . . , 1) e (1, 0, . . . , 0, 1)
Bl (1, 2, . . . 2) e (0, 1, 0 . . . , 0)
Cl (2, 2, . . . , 2, 1) e (2, 0, . . . , 0)
Dl (1, 2, . . . 2, 1, 1) e (0, 1, 0, . . . , 0)
G2 (2, 3) e (1, 0)
F4 (2, 3, 4, 2) e (1, 0, 0, 0)
E6 (1, 2, 3, 2, 1, 2) e (0, 0, 0, 0, 0, 1)
E7 (1, 2, 3, 4, 3, 2, 2) e (0, 0, 0, 0, 0, 1, 0)
E8 (2, 3, 4, 5, 6, 4, 2, 3) e (1, 0, 0, 0, 0, 0, 0, 0)
{e1 ∧ e2 + e3 ∧ e4 , e1 ∧ e4 + e2 ∧ e3 , e1 ∧ e3 − e2 ∧ e4 }
12. Mostre que se uma representação irredutı́vel ρ de uma álgebra semi-simples g tem
peso máximo λ, em relação a um sistema simples Σ, então a representação dual
ρ∗ tem peso máximo −λ em relação ao sistema simples −Σ. Uma representação
ρ é autodual se ela é equivalente à representação dual ρ∗ . Mostre que todas as
representações de dimensão finita das álgebras Al (l = 1), Bl , Cl , Dl (l par), G2 ,
F4 , E7 e E8 são autoduais. (Considere w0 ∈ W em que w0 Σ = −Σ).
15. Os coeficientes dos pesos fundamentais, quando escritos como combinações line-
ares das raı́zes simples, fornecem as colunas das inversas das matrizes de Cartan.
Para as álgebras clássicas esses coeficientes são dados da seguinte maneira
320 CHAPTER 11. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES
i n−i n−i i i
(1, . . . , 1, 0, . . . , 0) − (1, . . . , 1) = ( ,..., ,− ,...,− )
n n n n n
com n = l + 1. Use esta expressão para verificar que os coeficientes da
combinação linear de µi em relação às raı́zes simples λj − λj+1 são
n−i n−i n−i
,2 ,...,i ,··· .
n n n
A análise feita em capı́tulos anteriores das álgebras semi-simples sobre corpos algebrica-
mente fechados determina, em particular, a estrutura das álgebras semi-simples sobre
o corpo C dos complexos. Neste capı́tulo, serão estudadas as álgebras semi-simples
reais. O método consiste em considerar uma álgebra complexa gC , e, a partir dela,
suas formas reais, isto é, as álgebras reais cujas complexificadas são gC . Existe uma
classe especial de formas reais, as formas reais compactas. Toda álgebra complexa tem
uma única (a menos de isomorfismo) forma real compacta e a estrutura dessas formas
reais é completamente descrita pela álgebra complexa. Essas não são, no entanto, as
únicas formas reais, já que existem formas reais não-compactas. A descrição de uma
forma real não-compacta é feita a partir da decomposição que se obtém ao interceptá-
la com a forma real compacta (decomposição de Cartan). Esse método fornece uma
classificação das álgebras reais, por sistemas de raı́zes e diagramas, semelhante a das
álgebras sobre corpos algebricamente fechados.
321
322 CHAPTER 12. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES REAIS
Pelo que foi dito acima, o realificado de um espaço vetorial complexo tem uma
estrutura complexa canônica. Vice-versa, o polinômio minimal de uma estrutura com-
plexa é da forma λ2 + 1 cujas raı́zes são ±i que são os autovalores de J. Como esses
autovalores aparecem aos pares, a existência de uma estrutura complexa em W implica
que dim W é par. Se esse é o caso, definindo como em (12.1) o produto por escalares
complexos em W , obtém-se um espaço vetorial complexo cujo realificado é W .
Em geral, um espaço vetorial de dimensão par admite diferentes estruturas com-
plexas e essas dão origem a espaços vetoriais complexos, que apesar de isomorfos, são
distintos. Por exemplo, tomando W = Rn × Rn , existe a estrutura complexa J cuja
matriz nas bases canônicas de Rn é dada por
0 −1
J=
1 0
que é a representação usual de Cn . Por outro lado, escolhendo J com uma matriz
como acima mas numa base diferente, obtém-se outra multiplicação por um escalar
complexo.
Considerando ainda um espaço vetorial complexo V , seja U ⊂ V um subespaço.
Seu realificado é um subespaço real de V R . No entanto, nem todo subespaço de V R é
obtido pela realificação de um subespaço de V . Para que isso ocorra, é necessário que o
subespaço seja fechado por multiplicação por i. Em outras palavras, um subespaço de
V R é proveniente de um subespaço complexo se e só se ele é invariante pela estrutura
complexa J.
Quanto às complexificações, seja V um espaço vetorial real e VC o seu complexifi-
cado. Os elementos de VC se escrevem como u + iv, u, v ∈ V . Escrevendo os elementos
de VC desta maneira, fica definida a conjugação σ : VC → VC
σ(z w) = z̄ w z ∈ C, w ∈ VC .
É claro que
V = {w ∈ VC : σ(w) = w}.
Um espaço vetorial complexo U com uma conjugação σ pode ser visto como o
complexificado de um espaço real. De fato, σ é uma transformação linear de U R e
como é uma involução,
U R = U1 ⊕ U−1
com U1 o auto-espaço associado ao autovalor 1 e U−1 associado ao autovalor −1. O fato
de σ ser antilinear como transformação de U implica que se v ∈ U1 , então σ(iv) = −iv
e, portanto, iv ∈ U−1 . Em outras palavras, J(U1 ) ⊂ U−1 se J é a estrutura complexa
de U R . Da mesma forma, J(U−1 ) ⊂ U1 , o que mostra que U1 e U−1 têm a mesma
dimensão e, portanto, U é o complexificado de U1 . Além do mais,
U1 = {v ∈ U : σ(v) = v}
de V R , cujos autovalores são ±i. Portanto, J não tem autovetores em V R , mas sim no
seu complexificado. Sejam V±i os auto-espaços generalizados de J em (V R )C associados
aos autovalores ±i. Dentro de Vi , J tem uma matriz da forma
i ∗
..
.
i
e, como J 2 = −1, essa matriz é diagonal, de onde se conclui que Jv = iv para todo
v ∈ Vi . Da mesma forma, Jw = −iw para todo w ∈ V−i . Pelo fato de que J é real em
V R , V−i = σ(Vi ) onde σ é a conjugação de (V R )C associada a V R . Dessa forma, Vi e
V−i têm a mesma dimensão e, como
(V R )C = Vi ⊕ V−i ,
(a + bi + cj + dk)w = aw + Ew + F w + Gw a, b, c, d ∈ R, w ∈ (V R )C
Passando agora às álgebras de Lie, uma estrutura complexa J em uma álgebra de
Lie real g é dita adaptada se ela comuta com ad(X) para todo X ∈ g, isto é, se
para todo X, Y ∈ g. Uma estrutura complexa adaptada satisfaz a condição mais fraca
para todo X, Y ∈ g. Em geral a condição (12.3) não implica (12.2). É claro que se a
estrutura complexa é dada pela multiplicação por i de uma álgebra complexa, então
ela é adaptada. Reciprocamente, definindo a multiplicação por escalares complexos
através de J, g passa a ser uma álgebra de Lie complexa.
Na análise dos subespaços reais de uma álgebra complexa g, as conjugações que
interessam são aquelas que satisfazem
Definição 12.3 Seja g uma álgebra complexa. Uma forma real de g é uma subálgebra
g0 de gR que é o subespaço dos pontos fixos de uma conjugação σ que satisfaz (12.4).
Se isso ocorre, g é o complexificado de g0 .
Exemplos:
Proposição 12.4 Seja h uma álgebra complexa e sejam h·, ·i e h·, ·iρ as formas de
Cartan-Killing de h e hR , respectivamente. Então, para X, Y ∈ h,
hX, Y iρ = 2 RehX, Y i
T = ad(X) ad(Y )
tr T R = 2 Re (tr T )
A proposição anterior mostra de imediato que h·, ·i não é degenerada se isso ocorrer
com h·, ·iρ . Vice-versa, se h·, ·i não é degenerada, então, dado X ∈ h, existe Y ∈ h tal
que hX, Y i = 6 0 e se hX, Y i é puramente imaginário, então hX, iY i é real, o que mostra
que h·, ·iρ não é degenerada.
Portanto, uma álgebra complexa é semi-simples se e só se sua realificada também é.
Dessa forma, tomando g, gC e gρ como acima, se uma dessas álgebras for semi-simples,
o mesmo ocorre com as demais. Isso não garante, no entanto, que se uma delas for
simples as outras também são.
326 CHAPTER 12. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES REAIS
As álgebras do tipo I são as formas reais das álgebras simples complexas. Boa parte
da teoria é desenvolvida com o objetivo de determinar essas formas reais. Já as álgebras
do tipo II são as realificadas das álgebras simples complexas, como será provado logo
mais.
pois J é uma estrutura complexa adaptada. Mas como i é ideal, o último membro
dessas igualdades está contido em i, o que mostra que i é invariante por J e, portanto,
um ideal de h.
Reciprocamente, os ideais de h, quando realificados, dão ideais de hR . O que mostra
que h é simples se hR o for. 2
Esta proposição mostra em particular que gρ é uma álgebra real simples se g for
do tipo I. Para mostrar que as álgebras do tipo II são precisamente as realificadas das
álgebras simples complexas, é necessário mostrar um critério semelhante para essas
álgebras.
Proposição 12.8 Seja h uma álgebra complexa simples e denote por hC o complexi-
ficado do realificado de h, isto é, hC = (hR )C . Então, hC se decompõe como soma de
dois ideais simples
hC = i1 ⊕ i2
isomorfos a h.
12.1. FORMAS REAIS E ÁLGEBRAS SIMPLES 327
hC = hi ⊕ h−i .
pois J 2 = −1, o que mostra que φ(X) ∈ hi . O fato de que h−i ∩ h = 0 implica que φ
é injetora, pois se φ (X) = 0, então J (X) = −iX. Portanto, para concluir que h e hi
são isomorfas, é suficiente mostrar que φ : h → hC é um homomorfismo. Aqui entra
novamente o fato de que J é estrutura complexa adaptada:
Reciprocamente,
Proposição 12.9 Seja g uma álgebra real simples e suponha que gC se decomponha
como soma de ideais simples
gC = i1 ⊕ i2
isomorfos entre si. Então, g = hR para alguma álgebra complexa simples h e os ideais
são isomorfos a h.
328 CHAPTER 12. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES REAIS
gC = i1 ⊕ σ(i1 ).
X = X1 + X2 X1 ∈ i1 , X2 ∈ σ (i1 ) .
Teorema 12.10 Seja g uma álgebra real simples. Então, g é do tipo II se e só se
g = hR para alguma álgebra complexa simples h.
12.1. FORMAS REAIS E ÁLGEBRAS SIMPLES 329
g = j1 ⊕ · · · ⊕ js .
X = X1 + · · · + Xs Xk ∈ ik ⊕ σ(ik ).
A álgebra das matrizes 2n × 2n deste tipo é a realificada g de sl(n, C). Isso fornece
uma representação de g como álgebra de matrizes reais. A complexificada de g é a
330 CHAPTER 12. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES REAIS
com γ matriz complexa n × n de traço zero enquanto que g−i é o espaço das matrizes
do tipo
γ −iγ
iγ γ
com γ ∈ sl (n, C). Estas duas álgebras complexas são isomorfas a sl(n, C). 2
Definição 12.12 Uma álgebra de Lie sobre R é dita compacta se sua forma de Cartan-
Killing é negativa definida.
É claro que as álgebras compactas são semi-simples, pois suas formas de Cartan-
Killing não são degeneradas. O termo compacto usado para essas álgebras tem um
significado topológico. Uma álgebra semi-simples real é a álgebra de Lie de um grupo de
Lie compacto se e só se ela é compacta no sentido da definição acima. Isso porque, num
grupo compacto, as medidas de Haar são finitas, o que acarreta que grupos compactos
se representam como grupos de transformações ortogonais em relação a algum produto
interno. Em particular, a representação adjunta admite um produto interno invariante,
o que implica que a forma de Cartan-Killing é negativa definida.
O objetivo desta seção é demonstrar o seguinte teorema fundamental sobre as formas
reais compactas.
Teorema 12.13 Toda álgebra semi-simples complexa admite formas reais compactas.
Se u1 e u2 são formas reais compactas de g, então existe um automorfismo de φ de g
tal que φ(u1 ) = u2 e, portanto, as formas reais compactas são isomorfas entre si.
12.2. FORMAS REAIS COMPACTAS 331
• [Xα , X−α ] = Hα e
mα,β = −m−α,−β
e mα,β = 0 se α + β não é raiz. Essa condição garante que mα,β é real, como é
verificado abaixo.
A existência de bases de Weyl será mostrada logo mais. Dada uma base dessas,
seja u o subespaço real gerado por
com α percorrendo o conjunto Π+ das raı́zes positivas. Então, u é uma forma real
compacta. De fato,
Por fim,
[Aα , S−α ] = 2iHα .
Esses colchetes mostram que u é uma subálgebra real, pois mα,β e β (Hα ) são
reais.
332 CHAPTER 12. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES REAIS
Com isso, fica construı́da, a partir de uma base de Weyl, uma forma real compacta
de g. Essa construção mostra de imediato que o subespaço ihR é uma subálgebra de
Cartan de u. Além do mais, se k e s denotam respectivamente os subespaços gerados
por {Hα , Aα } e {Sα }, α ∈ Π, então
[k, k] ⊂ k [k, s] ⊂ s [s, s] ⊂ k.
Em particular, k é uma subálgebra de u.
A construção da forma real compacta é inspirada na álgebra unitária que é uma
forma real compacta de sl(n, C) como é mostrado no exemplo seguinte.
Exemplo: O conjunto formado por Ejk , j 6= k e Ejj − Ekk , j < k é uma base de
sl(n, C). Ela é um múltiplo inteiro de uma base de Weyl associada à subálgebra de
Cartan h das matrizes diagonais. Por isso, a construção acima, se feita com essa base,
fornece também uma forma real compacta. Ela é gerada pelas matrizes i(Ejj − Ekk ),
Ejk − Ekj e i(Ejk + Ekj ) e, portanto, ela é formada pelas matrizes complexas de traço
zero cujas partes reais são anti-simétricas e cujas partes imaginárias são simétricas.
Portanto, essa forma real compacta é a álgebra su(n) das matrizes anti-hermitianas de
traço zero. É claro que uma base de Weyl é uma generalização dessa base de su(n)
com Xα desempenhando o papel de Ejk , j < k. 2
O objetivo agora é mostrar a existência de bases de Weyl. Para isso, será usado o
teorema 8.8 do capı́tulo 8 e os lemas a ele relacionados. O que precisa ser mostrado é
que é possı́vel encontrar Xα ∈ gα , α ∈ Π, de tal forma que
mα,β = −m−α,−β . (12.8)
12.2. FORMAS REAIS COMPACTAS 333
Essa igualdade garante automaticamente que mα,β é real, pois, pelo lema 8.5,
hα, αi
mα,β m−α,−β = −q(p + 1) < 0.
2
Assim, (12.8) implica que m2α,β > 0 e, portanto, mα,β é real.
Lema 12.14 Existem Xα ∈ gα , α ∈ Π com hXα , X−α i = 1 e tal que se mα,β é definido
por
[Xα , Xβ ] = mα,β Xα+β ,
então mα,β = −m−α,−β .
Xα = xα Yα
e, portanto, xα deve ser tomado de tal forma que xα x−α = 1. Por outro lado, se for
possı́vel escolher xα tal que φ(Xα ) = −X−α , então
φ(Xα ) = xα φ(Yα )
xα
= kα X −α
x−α
e, portanto, tomando xα tal que
Com este lema, fica demonstrada a existência de bases de Weyl associadas a subál-
gebras de Cartan justificando a construção da forma real compacta.
A unicidade da forma real compacta é conseqüência do teorema 12.18 a seguir,
que é de interesse também para as decomposições de Cartan das formas reais não-
compactas, que serão discutidas posteriormente. Antes de enunciá-lo, são necessários
os seguintes comentários adicionais. Se g0 é uma forma real da álgebra complexa g e φ
é um automorfismo de g, então g = φg0 + iφg0 , o que mostra que φg0 também é uma
forma real de g. Além do mais, é imediato verificar que se σ é a conjugação de g em
relação a g0 , então a conjugação em relação a φg0 é dada por φσφ−1 .
Seja g1 outra forma real com conjugação σ 1 . Então, g0 é invariante por σ 1 se e só se
σ e σ 1 comutam e se isso acontece, então g1 é invariante por σ. De fato, suponha que
σ e σ 1 comutem. Então, dado X ∈ g0 , σ(σ 1 (X)) = σ 1 (σ(X)) = σ 1 (X), o que mostra
que σ 1 (X) é fixado por σ, isto é, σ 1 (X) ∈ g0 . Vice-versa, tomando Z = X + iY ∈ g
com X, Y ∈ g0 ,
σ 1 σ(Z) = σ 1 (X − iY )
= σ 1 (X) + iσ 1 (Y )
pois σ 1 é antilinear. Por outro lado,
Z = X + iY X, Y ∈ g0 . (12.9)
Z = σ 1 (Z) = σ 1 (X) − iσ 1 (Y )
Uma conseqüência desta proposição é o seguinte critério para decidir se duas álge-
bras compactas coincidem.
12.2. FORMAS REAIS COMPACTAS 335
Lema 12.16 Sejam u1 e u2 formas reais compactas. Então, elas coincidem se e só se
suas conjugações comutam.
0 ≥ hX, Xi = −hY, Y i ≥ 0
Lema 12.17 Seja σ a conjugação em relação a uma forma real compacta u da álgebra
complexa g. Então, a expressão
Hσ (X, Y ) = −hX, σY i
Teorema 12.18 Sejam g uma álgebra semi-simples complexa e u uma forma real com-
pacta de g. Seja também g0 uma forma real qualquer de g e denote por σ a conjugação
correspondente. Então, existe um automorfismo φ de g tal que σ comuta com a con-
jugação em relação à forma real compacta φ(u).
Hτ (X, Y ) = −hX, τ Y i
Hτ (ψ −1 X, Y ) = −hψ −1 X, τ Y i
= −hX, ψτ Y i
= −hX, σY i
= Hτ (X, ψ −1 Y )
2. Seja ξ = ψ 2 . Então, ξ = exp A para algum A e suas potências reais ξ t = exp tA,
t ∈ R são automorfismos de g. Para ver isso, seja {X1 , . . . , Xn } uma base de g
que diagonaliza ψ. Nessa base, ξ é diagonal
ξ = diag{λ1 , . . . , λn }
στ 1 = σξ 1/4 τ ξ −1/4
= στ ξ −1/2
= ψξ −1/2
τ 1 σ = ξ 1/2 τ σ
= ξ 1/2 ψ −1
Juntando este teorema ao lema 12.16, obtém-se a “unicidade” das formas reais
compactas.
Como ficou claro na seção anterior, existem álgebras complexas que não são simples
e que admitem formas reais simples (as complexificadas das álgebras de tipo II). Essas
formas reais não são compactas, como segue da proposição seguinte.
Proposição 12.20 Uma álgebra complexa g é simples se e só se sua forma real com-
pacta u é simples. Se g é semi-simples e se decompõe em ideais simples como
g = g1 ⊕ · · · ⊕ gs ,
Essa proposição mostra que as álgebras compactas simples são do tipo I. Ela mostra
também que o conjunto das classes de equivalência das álgebras compactas está em
bijeção com o das classes de equivalência das álgebras complexas semi-simples com a
bijeção sendo dada, por um lado, por complexificação e, por outro lado, pela construção
das formas reais compactas como foi feito acima.
A bijeção entre as álgebras semi-simples complexas e as compactas serve também
para revelar a estrutura dessas últimas. De fato, pela construção das formas reais
compactas, elas são escritas como
X
u = ihR ⊕ kα
α
g0 = k ⊕ s
onde
k = g0 ∩ u
s = g0 ∩ iu.
Essa decomposição é conhecida por decomposição de Cartan de g0 . É claro que a
decomposição depende da escolha da forma real compacta u. No entanto, como será
verificado adiante, duas decomposições de Cartan de uma álgebra semi-simples real g0
são obtidas uma da outra por um automorfismo de g0 .
Como u é subálgebra, [u, iu] ⊂ iu e [iu, iu] ⊂ u. Essas inclusões mostram que os
colchetes entre os elementos da decomposição de Cartan satisfazem
casos em que isso não ocorre, k é redutı́vel e sua componente semi-simples é compacta
(dessa forma k está sempre associada a grupos de Lie compactos).
Como as formas reais, as decomposições de Cartan também são descritas por in-
voluções das álgebras reais. Por um lado, seja τ a conjugação de g em relação à forma
real compacta u e θ sua restrição a g0 , o que é possı́vel, pois g0 é invariante por τ .
Então, θ é uma involução de g0 e
θ(X) = X se X ∈ k θ(Y ) = −Y se Y ∈ s.
Como τ é um antiautomorfismo de g, θ é um automorfismo de g0 . Além do mais, seja
Bθ a forma bilinear em g0 definida por
Bθ (X, Y ) = −hX, θY i. (12.12)
Então, Bθ é positiva definida, isto é, é um produto interno como segue do lema 12.17,
pois Bθ é a restrição de Hτ a g0 , já que a forma de Cartan-Killing de g0 é a restrição
da forma de Cartan-Killing de g.
Reciprocamente, seja θ um automorfismo involutivo da forma real não-compacta
g0 tal que Bθ definido como em (12.12) é um produto interno. Então, θ determina
uma decomposição de Cartan da seguinte forma: como θ2 = 1, g0 se decompõe nos
auto-espaços
V1 = {X : θ(X) = X}
e
V−1 = {Y : θ(Y ) = −Y }.
Pondo k = V1 e s = V−1 , g0 = k ⊕ s é uma decomposição de Cartan. De fato, com
k e s dessa forma, as relações (12.11) são satisfeitas, pois θ é um automorfismo (por
exemplo: se X ∈ k e Y ∈ s, então θ[X, Y ] = [θX, θY ] = −[X, Y ], o que mostra que
[X, Y ] ∈ s). Dessa forma, definindo u por
u = k ⊕ is,
u é uma subálgebra. Como
g = (k ⊕ is) ⊕ (ik ⊕ s),
u é uma forma real de g. Além do mais, como Bθ é um produto interno, a forma de
Cartan-Killing de g0 (e, portanto, a de g) é negativa definida em k e positiva definida
em s. Isso implica que u é uma forma real compacta. Como k = g0 ∩ u e s = g0 ∩ iu, θ
define uma decomposição de Cartan de g0 .
Em resumo,
Proposição 12.21 Dada uma decomposição de Cartan g = k ⊕ s, o automorfismo
involutivo θ definido por θ (X) = X se X ∈ k e θ (Y ) = −Y se Y ∈ s é tal que a forma
bilinear
Bθ (X, Y ) = −hX, θY i (12.13)
é um produto interno em g. Vice-versa, dado um automorfismo θ tal que (12.13) é
um produto interno, os seus auto-espaços determinam uma decomposição de Cartan.
O automorfismo θ é denominado involução de Cartan.
12.3. DECOMPOSIÇÕES DE CARTAN 341
sl(n, R) = so(n, R) ⊕ s
θ(X) = −X t
pois θ = 1 em so(n, R) e θ = −1 em s. 2
Proposição 12.23 Seja g uma álgebra semi-simples complexa e u uma forma real
compacta. Então,
gR = u ⊕ iu
é uma decomposição de Cartan do realificado de g.
Hθ (X, Y ) = −hX, θY i,
Para concluir esta seção será demonstrado que as decomposições de Cartan são
conjugadas por automorfismos de g0 .
g0 = k1 ⊕ s1 g0 = k2 ⊕ s2
φ(k1 ) = k2 φ(s1 ) = s2 .
a imagem por φ de uma decomposição de Cartan é a outra. Para mostrar que φ é real,
é necessário lembrar que na demonstração do teorema 12.18 ela foi construı́da como
sendo φ =ξ 1/4 onde ξ = (τ 1 τ 2 )2 é uma transformação diagonalizável. Agora, seja σ
12.4. ABELIANOS MAXIMAIS E FORMAS REAIS NORMAIS 343
Proposição 12.25 Seja a uma subálgebra abeliana, maximal em s. Então, existe uma
subálgebra abeliana maximal h de g que contém a. A subálgebra h é de Cartan e se
decompõe em soma direta como
h = (h ∩ k) ⊕ a = hk ⊕ a.
θ (X − θX) = − (X − θX) .
h = (h ∩ k) ⊕ (h ∩ s)
H = Hk + Hs
Um comentário que complementa essa proposição é que nem sempre uma subál-
gebra abeliana pode ser estendida a uma subálgebra de Cartan. Por exemplo, um
elemento nilpotente numa álgebra semi-simples não pode pertencer a uma subálgebra
de Cartan, já que essas subálgebras contêm apenas elementos semi-simples.
A razão para considerar a subálgebra a é para que ela desempenhe, na classificação
das álgebras reais, o mesmo papel das subálgebras de Cartan no caso dos corpos al-
gebricamente fechados. Isso é feito, de maneira semelhante, considerando as raı́zes
da representação adjunta de a em g0 . Como a ⊂ s, as adjuntas de seus elementos são
simétricas em relação ao produto interno Bθ e daı́ que seus autovalores são reais. Dessa
forma, a decomposição do complexificado de g0 em subespaços de pesos da representa-
ção adjunta de a é, na verdade, uma decomposição da própria álgebra g0 . Sendo assim,
seja α um funcional linear (real) em a e considere o subespaço
Demonstração: Um fato essencial para a demonstração (que não será mostrado aqui)
é que K é um subgrupo compacto do grupo das transformações lineares inversı́veis de
g0 .
Dito isso, sejam H ∈ a e H 0 ∈ a0 elementos regulares reais e considere a função
k ∈ K 7−→ Bθ (kH 0 , H) ∈ R.
Essa é uma função contı́nua e, como K é compacto, ela assume um mı́nimo em algum
k0 ∈ K. Portanto, se X ∈ k, a função real a valores reais dada por
t 7−→ Bθ et ad(X) k0 H 0 , H
Bθ k0 H 0 , e−t ad(X) H .
[H, k0 H 0 ] ∈ k.
Isso, juntamente com (12.14), que garante que [H, k0 H 0 ] é ortogonal a todo X ∈ k,
implica que H e k0 H 0 comutam. Portanto, k0 H 0 ∈ a e daı́ que a está contido no cen-
tralizador de k0 H 0 . Esse centralizador é k0 a0 , pois k0 é um automorfismo de g0 . Assim,
a ⊂ k0 a0 e daı́ que dim a ≤ dim a0 . Por um argumento simétrico, as dimensões de a e
a0 coincidem, mostrando que k0 a0 = a. 2
Definição 12.27 O posto real de uma álgebra semi-simples real é a dimensão comum
das álgebras abelianas maximais contidas em s.
Em geral, o posto real de uma álgebra de Lie é menor que o seu posto, já que as
subálgebras abelianas maximais em s nem sempre são subálgebras de Cartan. Essa
diferença entre o posto e o posto real permite distinguir uma classe especial de formas
reais.
Definição 12.28 Seja g uma álgebra semi-simples complexa. Uma forma real g0 de g
é normal se para qualquer decomposição de Cartan
g0 = k ⊕ s
As formas reais normais das álgebras semi-simples complexas formam o oposto das
formas reais compactas no sentido em que, por um lado, os pesos da álgebra complexa
assumem valores puramente imaginários nas subálgebras de Cartan das formas reais
compactas, enquanto que os mesmos pesos assumem valores reais nas subálgebras de
Cartan das formas reais normais. Da mesma maneira que as formas reais compactas,
toda álgebra complexa admite formas reais normais, que são conjugadas entre si:
12.4. ABELIANOS MAXIMAIS E FORMAS REAIS NORMAIS 347
Proposição 12.29 Seja g uma álgebra semi-simples complexa. Então, g admite forma
real normal.
Exemplo: A álgebra sl (n, R) é uma forma real normal de sl (n, C). Uma decom-
posição de Cartan de sl (n, R) é dada por k ⊕ s com k a subálgebra das matrizes
anti-simétricas e s o subespaço das matrizes simétricas. Além do mais, a subálgebra
h das matrizes diagonais é de Cartan e está contida em s e daı́ que o posto real de
sl (n, R) coincide com o seu posto.
A interpretação da proposição 12.26 a sl (n, R) fornece o resultado bastante conhe-
cido de que as matrizes simétricas são conjugadas, por matrizes ortogonais, a matrizes
diagonais. De fato, para uma matriz X, a exponencial de sua adjunta é dada por
ead(X) Y = eX Y e−X
(veja o exercı́cio 3 do capı́tulo 4). Daı́ que a proposição 12.26 garante que toda matriz
simétrica de traço zero é da forma P HP −1 com H ∈ h e P uma matriz da forma
P = eX1 · · · eXs
Formas reais de Al
A forma real compacta é su (n), n = l + 1.
Tipo AI A forma real é sl (n, R) que, como foi visto acima, é a forma real normal de
sl (n, C). A involução de Cartan restrita a sl (n, R) é θ (X) = −X t enquanto que
a restrição de θ a su (n) é dada por θ (X) = X.
Tipo AII A forma real é a álgebra sl (n, H) das matrizes quaterniônicas n × n em que
a parte real do traço é zero. Essas álgebras só ocorrem em dimensão complexa
par, isto é, como forma real de sl (m, C) com m = 2n. Sua construção, como
forma real de sl (2n, C), é feita da seguinte maneira: a álgebra dos quatérnions é
formada por elementos da forma
q = a + bi + cj + dk (12.15)
com a, b, c, d ∈ R e com o produto dado por i2 = j 2 = k 2 = −1 e
ij = k jk = i ki = j.
A multiplicação à esquerda por q define uma transformação linear de R4 cuja
matriz é
a −b −c −d
b a −d c
q= .
c d a −b
d −c b a
12.5. ÁLGEBRAS CLÁSSICAS 349
Tipo AIII As formas reais são su (p, q), p ≤ q. Essas são as álgebras das matrizes
complexas (p + q) × (p + q) que satisfazem
Ip,q X + X t Ip,q = 0 .
su (p) ⊕ su (q) ⊕ z
Formas reais de Bl e Dl
A forma real compacta é representada por so (n), n ≥ 5.
Tipo BDI A forma real é so (p, q), p ≤ q que é a álgebra das matrizes reais (p + q) ×
(p + q) tais que
Ip,q X + X t Ip,q = 0.
Em outras palavras, so (p, q) é a álgebra das matrizes anti-simétricas em relação
à forma quadrática cuja matriz é Ip,q . Uma matriz X ∈ so (p, q) se escreve em
blocos como
α β
X= α e γ anti-simétricas.
βt γ
Essa álgebra é uma forma real das matrizes complexas do mesmo tipo. Nessa
realização, uma forma real compacta é
α iβ
u=
i βt γ
com Λ diagonal p × p. Assim, o posto real é p = min (p, q). Esse posto coincide
com o posto da álgebra complexa quando
12.5. ÁLGEBRAS CLÁSSICAS 351
Formas reais de Cl
A forma real compacta é sp (n) = sp (n, C) ∩ su (2n).
Tipo CI A forma real normal de sp (n, C) é a álgebra simplética real sp (n, R) que é
formada por matrizes reais 2n × 2n escritas em blocos n × n como
α β
β e γ simétricas.
γ −αt
Uma decomposição de Cartan dessa álgebra é dada por
α −β α anti-simétrica
k={ }
β α β simétrica
e
α β
s={ } α e β simétricas.
β −α
A subálgebra k é isomorfa a u (n), a álgebra das matrizes anti-hermitianas n × n.
O isomorfismo é dado pela realificação de Cn em que uma transformação linear
complexa dada pela n × n matriz α + i β fica sendo uma matriz real como em k.
A matriz complexa é anti-hermitiana se e só se α é anti-simétrica e β é simétrica.
Um abeliano maximal em s é dado pelas matrizes diagonais
Λ 0
0 −Λ
com Λ matriz diagonal n × n. Assim, o posto real de sp (n, R) coincide com seu
posto, confirmando que essa é uma forma real normal.
A involução de Cartan em sp (n, R) é dada por θ (X) = −X t enquanto que na
forma real compacta u, θ (X) = X.
352 CHAPTER 12. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES REAIS
Tipo CII A forma real é a álgebra sp (p, q) das matrizes em sp (p + q, C) que satis-
fazem
AKp,q + Kp,q Āt = 0,
isto é, que são anti-simétricas em relação à forma hermitiana definida por Kp,q .
Essa álgebra é obtida pela involução de Cartan em su (p + q) definida por θ (X) =
Kp,q XKp,q cuja decomposição de Cartan é
X 0 W 0
0 Y 0 Z
k = { −X̄ 0
: X ∈ u (p) , Y ∈ u (q) ; W, Z simétricas sobre C}
X̄ 0
0 −Z̄ 0 Ȳ
e
0 X 0 Y
X̄ t 0 Yt 0
s = { : X, Y são p × q sobre C}.
0 Ȳ 0 −X̄
Ȳ t 0 −X t 0
A subálgebra k é isomorfa a sp (p) × sp (q).
Notas
A construção das formas reais compactas, como apresentada no texto, foi amplamente uti-
lizada por H. Weyl em seu truque unitário. Conta a história (veja [3, pg.74]) que E. Cartan
verificou, caso a caso, a existência de formas reais compactas das álgebras simples complexas,
sem levar em conta que isso levaria ao desenvolvimento de um método poderoso no estudo
das álgebras de Lie reais.
A decomposição de Cartan, além de ser um instumento fundamental na análise das álgebras
de Lie semi-simples reais, estabelece uma relação estreita entre essas álgebras e os espaços
Riemannianos simétricos (veja [19]) de tal forma que a classificação das álgebras praticamente
fornece uma classificação dos espaços simétricos.
12.6 Exercı́cios
1. Se g é uma álgebra semi-simples real, existe uma subálgebra h ⊂ g de dimensão
três isomorfa a sl (2, R) ou a so (3). Se g é uma álgebra compacta, então h é
necessáriamente so (3). Já se g não é compacta, existe h isomorfa a sl (2, R) e se
g admite uma raiz restrita α, em que 2α também é raiz, então existe h isomorfa
a su (2, 1).
2. Dê exemplo de álgebra complexa que não é a complexificada de uma álgebra real.
σ-Sistemas de raı́zes
Este capı́tulo tem o mesmo espı́rito que o capı́tulo 9 sobre grupos de Weyl. São con-
sideradas aqui transformações lineares involutivas que deixam invariante um sistema
de raı́zes. O estudo dessas involuções é decisivo na classificação por diagramas, a ser
feita no próximo capı́tulo, das formas reais das álgebras simples complexas. Nessas
álgebras, involuções que deixam invariante o sistema de raı́zes aparecem através das
involuções de Cartan.
dos elementos não regulares é invariante por σ. Portanto, o conjunto dos elementos
regulares também é invariante e, por continuidade, σ permuta entre si as câmaras de
Weyl.
Por essa razão, a menos de multiplicação por um automorfismo de diagrama, σ é
um elemento do grupo de Weyl W . De fato, tomando uma câmara de Weyl C e o
355
356 CHAPTER 13. σ-SISTEMAS DE RAÍZES
Definição 13.1 Um σ-sistema de raı́zes é dito normal se para toda raiz α ∈ Π, α −σα
não é raiz.
Os σ-sistemas que aparecem nas aplicações (às álgebras semi-simples reais, por
exemplo) são normais. Para os sistemas normais, a projeção ortogonal do conjunto das
raı́zes sobre o subespaço dos pontos fixos por σ ainda é um sistema de raı́zes:
2hP α, P βi
hP α, P αi
2. P α 6= α e σα é ortogonal a α. Então,
α + σα α + σα 1 1
hP α, P αi = h , i = hα, αi = hσα, σαi.
2 2 2 2
Portanto, para β ∈ Π, o número de Killing associado a P α e P β é
O último membro desta igualdade é inteiro por ser a soma de números de Killing
de Π. Essa igualdade mostra também que a reflexão rP α é dada por
2hα, βi 2hσα, βi
rP α (P β) = P β − α− σα .
hα, αi hσα, σαi
são
α1 , α2 , α3 , α4
α1 + α2 , α2 + α3 , α2 + α4
α1 + α2 + α3 , α1 + α2 + α4 , α2 + α3 + α4
α1 + α2 + α3 + α4 , α1 + 2α2 + α3 + α4 .
Denotando por ri a reflexão em relação à raiz simples αi , i = 1, . . . , 4, as reflexões r1 ,
r3 e r4 comutam entre si, pois as raı́zes são ortogonais duas a duas. Por essa razão,
σ = r1 r3 r4
σ (α2 ) = α1 + α2 + α3 + α4 .
13.1. SISTEMAS RESTRITOS 359
Os valores de σ nas demais raı́zes são encontrados por linearidade. Esses valores
mostram que σ define um sistema normal. O subespaço dos pontos fixos por σ é
de dimensão um e é gerado por α1 + 2α2 + α3 + α4 , enquanto que E − é gerado por
{−α1 , α3 , α4 }. A projeção P + (Π) − {0} é o sistema de raı́zes formado por
{γ 1 , . . . , γ l }
β = a1 γ 1 + · · · + al γ l ,
então
σβ = a1 γ 1 + · · · + ak γ k − ak+1 γ k+1 − · · · − al γ l .
Portanto, o primeiro coeficiente não-nulo de β coincide com o de σβ caso β tenha
componentes na direção dos k primeiros elementos da base.
Fixando uma ordem lexicográfica compatı́vel, seja Σ o sistema simples de raı́zes
correspondente. Esse sistema simples se divide nos subconjuntos
Lema 13.4 Seja A = (aij ) uma matriz real n × n inversı́vel e suponha que aij ≥ 0
para todo i, j. Seja também
Rn+ = {(x1 , . . . , xn ) : xi ≥ 0}
o primeiro octante em Rn . Tome v ∈ Rn+ e suponha que duas ou mais de suas co-
ordenadas sejam estritamente positivas. Então, Av tem pelo menos duas coordenadas
estritamente positivas, isto é, Av não pertence a um dos eixos coordenados.
Demonstração: Seja
v = (x1 , . . . , xn )
e suponha, sem perda de generalidade, que x1 , x2 > 0. Suponha por absurdo que
Av pertença a um eixo coordenado, por exemplo, Av = (y, 0, . . . , 0). Tome a, b ∈ R
arbitrários. Então, para t suficientemente pequeno, o segmento
vt = (x1 + at, x2 + bt, . . . , xn )
permanece em Rn+ e, como ARn+ ⊂ Rn+ , Avt ∈ Rn+ . Escrevendo Avt como
Avt = (y1 (t), . . . , yn (t)) ,
cada uma das coordenadas depende linearmente de t e y1 (0) = y. Além do mais,
yi (0) = 0 para i 6= 1 e yi (t) ≥ 0 se |t| é suficientemente pequeno. Portanto, se i 6= 1,
yi = 0 ao longo de um segmento. Isso mostra que a imagem do segmento está contida
na reta gerada pelo primeiro vetor da base e, portanto, essa reta contém a imagem por
A do plano gerado pelos dois primeiros vetores da base, já que a, b são arbitrários. Isso
contradiz o fato de que A é inversı́vel, o que mostra o lema. 2
Esse lema tem a seguinte conseqüência: uma matriz de permutação é uma matriz
quadrada inversı́vel, cujas colunas são os elementos da base canônica, isto é, têm uma
única coordenada igual a um e as demais são todas nulas. Como A é inversı́vel, suas
linhas também são elementos da base canônica. Em outras palavras, uma matriz de
permutação é a matriz de uma transformação linear que permuta os elementos da base.
Corolário 13.5 Seja A uma matriz cujas entradas sejam ≥ 0 e suponha que A2 = 1.
Então, A é uma matriz de permutação.
13.1. SISTEMAS RESTRITOS 361
com nj ≥ 0.
σ (αi ) − αi = απ(i) − αi + β i
w0 αi = αi + γ i (13.3)
com γ i uma combinação das raı́zes em Σ− , pois se r é uma reflexão que compõe w0 ,
então rαi = αi + β i com β i ∈ Σ− . Aplicações sucessivas dessas reflexões fornecem
(13.3). Dessa forma, se as matrizes de σ e w0 em relação à base Σ são escritas em
blocos, divididos de acordo com Σ+ e Σ− , como
A 0 a 0
σ= w0 = ,
C −1 b c
então a matriz de w0 σ é
aA 0
w0 σ = .
bA + cC −c
Por (13.3), a = 1 e, portanto, aA = A. Como w0 σ permuta os elementos de Σ, sua
matriz é uma matriz de permutação. Mas −c é uma matriz inversı́vel, pois w0 σ é
inversı́vel. Dessa forma, nenhuma linha de −c se anula. Isso implica que bA + cC = 0,
mostrando que w0 σαi = απ(i) . Em resumo,
Proposição 13.9 Suponha que o σ-sistema de raı́zes seja normal. Então, P + (Σ+ ) é
o sistema simples de raı́zes de P + (Π) − {0} associado à ordem lexicográfica em E + .
13.1. SISTEMAS RESTRITOS 363
Demonstração: Seja α uma raiz com P α > 0 onde P = P + . Então, α > 0, pois
σα 6= −α. Portanto, α é uma combinação linear com coeficientes inteiros ≥ 0 de
Σ. Dessa forma, P α é uma combinação linear semelhante de P (Σ). Mas P (Σ) =
P (Σ+ ) ∪ {0}, o que mostra que P (Σ+ ) é um conjunto de raı́zes positivas que gera E +
e, portanto, contém o conjunto das raı́zes simples correspondentes.
Por outro lado, seja αi ∈ Σ+ e suponha que
P αi = P β + P γ (13.4)
αi + απ(i) + δ = β + + σβ + + γ + + σγ + .
Como as raı́zes são positivas, essa igualdade mostra que apenas uma das raı́zes β ou γ
pode ter coordenada na direção de αi ou de απ(i) e que a outra deve estar em E − . Isso
contradiz o fato de que suas projeções são positivas. Portanto, as raı́zes em P (Σ+ ) são
simples, concluindo a demonstração. 2
Wσ = {w ∈ W : wσ = σw}.
W − ⊂ Wσ .
Lema 13.11 Suponha que o sistema seja normal e tome α ∈ Σ+ . Então, a reflexão
rP + α coincide com a restrição a E + de algum elemento de Wσ .
• α+σα não é raiz. Como o sistema é normal, α−σα não é raiz. Assim, ou σα = α
ou a α-seqüência iniciada em σα se reduz a σα. No primeiro caso, P + α = α e
rα ∈ Wσ . No segundo caso, α é ortogonal a σα e, portanto, a reflexão em relação
a P + α coincide com a composta rα rσα que está em Wσ .
Demonstração: Devido aos lemas anteriores, só falta verificar que a restrição de
w ∈ Wσ está em W + . Os elementos de Wσ permutam os sistemas simples em E + .
Como P + (Σ+ ) é um sistema simples, existe w0 ∈ W + tal que w0 wP + (Σ+ ) = P + (Σ+ ).
Pelo lema anterior, w0 w ∈ Wσ e, como na demonstração do lema 13.10, existe w00 ∈ W −
tal que w00 w0 w = 1, o que mostra que a restrição de w a E + está em W + . 2
Exemplos:
1. No diagrama
u e e
α1 α2 α3
existe uma única raiz em Σ− e como não existe ligação entre as raı́zes de Σ+ ,
dim E − = 1 e dim E + = 2. Isso garante que σ é uma reflexão, mais especifica-
mente, a reflexão em relação a α1 , já que essa raiz está em Σ− . Isso implica que
esse diagrama não é normal. De fato,
2hα2 , α1 i
σα2 = α2 − α1 = α1 + α2
hα1 , α1 i
e σα2 − α2 = α1 é raiz.
é a reflexão em relação a α2 . Esse diagrama também não é normal, pois σα1 −α1 =
α2 , que é raiz.
3. Para o diagrama
u e u
α1 α2 α3
366 CHAPTER 13. σ-SISTEMAS DE RAÍZES
σα2 = α1 + α2 + α3 ,
··· e e· · ·
α
13.2. DIAGRAMAS DE SATAKE 367
O próximo lema ainda diz respeito a diagramas interiores. Para esses diagramas, se
α ∈ Σ+ , então σα = α + γ onde γ é uma combinação linear das componentes conexas
de Σ− que se ligam a α.
Σc− = {α1 , . . . , αk }
e ..
α .
σα = α + γ 1 + · · · + γ l
σα = α + a1 α1 + · · · + ak αk + γ
2hβ, αi i
=0 i = 1, . . . , k. (13.6)
hαi , αi i
2hα, αn i
Seja αj a única raiz de Σi− que se liga a α. Então, = −1 se n = j, pois, por
hαn , αn i
hipótese, a ligação entre αj e α é simples, e 0, caso i 6= j. Portanto, o sistema linear é
escrito como
Ca = 2bj
Diagramas de Al
O diagrama
Al , l ≥ 1 e e ... e e
α1 α2 αl−1 αl
não seja raiz para nenhum par i 6= j. O segundo membro dessa igualdade é uma
raiz se e só se w fixa um dos ı́ndices e varia o outro. Assim, se w define um
sistema normal e w (j) = j para algum ı́ndice, então w (i) = i para todo ı́ndice
i e w é a identidade. Se isso ocorre, o diagrama de Satake é o próprio diagrama
de Dynkin.
Por outro lado, se w (j) 6= j para todo j, então w é necessariamente a seguinte
permutação, que é um produto de ciclos disjuntos:
não é diagrama normal, a única possibilidade que resta é o diagrama AI2 abaixo,
que só ocorre quando l é ı́mpar. A involução σ que corresponde a esse diagrama
é o elemento w do grupo de Weyl apresentado em (13.7), que é o produto das
reflexões em relação às raı́zes simples, que aparecem no diagrama numa posição
ı́mpar.
π : αi −→ αl−i+1 .
No diagrama de Satake essas raı́zes são ligadas entre si se elas não estiverem em
Σ− : αi ←→ αl−1+1 . Por construção, w0 ∈ W − é o único elemento do grupo
de Weyl de Σ− que satisfaz w0 (Σ− ) = −Σ− . Como tanto w0 quanto σ deixam
Σ− invariante, o mesmo ocorre com π e, portanto, Σ− é simétrico em relação ao
centro do diagrama. Além do mais, Σ− é conexo. De fato, se Σ− contém mais de
uma componente conexa, uma delas não é simétrica em relação ao centro. Seja Γ
uma componente conexa de Σ− que não é simétrica em relação ao centro. Como
w0 α = −πα para α ∈ Σ− , w0 (Γ) ∩ Γ = ∅. Mas isso não pode acontecer, pois os
elementos do grupo de Weyl de um diagrama preservam as componentes conexas
do mesmo. Dessa forma, os diagramas de Satake possı́veis são da forma AII
abaixo com o número de elementos em Σ− variando de zero a l − 2.
não seja raiz para nenhum par i 6= j. Essa condição é satisfeita por qualquer
permutação que seja o produto disjunto de ciclos da forma (i, j), pois para uma
permutação dessas o segundo membro se anula. Por outro lado, como σ é involu-
tiva, o mesmo ocorre com w e, portanto, σ = w é um produto de ciclos disjuntos.
Isso implica que σ é normal.
Diagramas Normais de Al :
AI1 e e ... e e
e e ... e u
6 6 6
..
.
AII
u
? ? ?
e e ... e u
Diagramas de Bl
O único automorfismo do diagrama
Bl , l ≥ 2 e e ... e Ae
α1 α2 αl−1 αl
é a identidade, pois a raiz αl tem tamanho diferente das demais. Dessa forma, σ
é necessariamente um elemento do grupo de Weyl e nos diagramas de Satake não
aparecem raı́zes ligadas por ←→.
Para encontrar os diagramas de Satake, deve-se separar os casos em que αl está ou
não em Σ− .
··· e u Ae
αl−2 αl−1 αl
Portanto, pelo lema 13.15, {αl−1 , αl } é um subdiagrama invariante. Mas esse
diagrama não é normal já que a aplicação involutiva σ correspondente é a reflexão
em relação a αl−1 e
2hαl , αl−1 i
σαl = αl − αl−1 = αl + αl−1
hαl−1 , αl−1 i
α = αj + αj+1 + · · · + αl (13.8)
é uma raiz tal que σα − α é raiz. De fato, j > 1, pois, por hipótese, Σ− não é
conexo. Portanto, αj−1 existe e está em Σ− . Além do mais, a inversa da matriz
de Cartan de Bl e o lema 13.16 garantem que
σα = αj−1 + αj + · · · + αl .
σαj = αj + 2 (αj+1 + · · · + αl ) .
Tomando agora a realização canônica do diagrama, as raı́zes são dadas por λi −λj ,
λi + λj , i 6= j, e λi . O grupo de Weyl é formado pelas permutações nos ı́ndices,
combinadas com mudanças de sinal nas coordenadas λj . Um sistema simples é
Σ = {λ1 − λ2 , . . . , λl−1 − λl , λl }
Diagramas Normais de Bl :
B1 e e ... e Ae
Diagramas de Cl
Assim como em Bl , a identidade é o único automorfismo do diagrama
Cl , l ≥ 3 e e ... e e
α1 α2 αAl−1 αl
(1, 2) (3, 4) · · · (l − 1, l) .
A partir daı́ é fácil verificar que σα−α não é raiz para nenhuma raiz α e, portanto,
que o diagrama é normal.
2. No caso em que αl ∈ Σ− o diagrama de Satake só pode ser o diagrama C3, pois
nesse caso Σ− não é conexo. De fato, seja {αj+1 , . . . , αl } a componente conexa
de αl em Σ− e suponha que αj−1 ∈ / Σ− . Então, a inversa da matriz de Cartan de
Cl mostra que
σαj = αj + 2 (αj+1 + · · · + αl−1 ) + αl .
Dessa forma,
σαj − αj = 2 (αj+1 + · · · + αl−1 ) + αl (13.9)
é raiz de Cl . O fato de que o segundo membro de (13.9) é raiz deve-se essen-
cialmente a que αl é de comprimento maior que as demais raı́zes simples. Na
realização canônica de Cl , σαj − αj = 2λj+1 .
Portanto, αj−1 ∈ Σ− se j 6= 1 e daı́ que {α1 , . . . , αj−1 } é invariante. Isso mostra
que o diagrama é como indicado. Se a componente conexa de αl termina em
αj+1 , então j = 1 ou j é par.
374 CHAPTER 13. σ-SISTEMAS DE RAÍZES
Para esse diagrama, σαi = −αi se i < j é ı́mpar ou i > j, σαi = αi−1 + αi + αi+1
se i < j e i é par e
(1, 2) · · · (j − 1, j)
Diagramas Normais de Cl :
C1 e e ... e e
A
C2 u e ... u e l par
A
C3 u e ... e u ... u u
A
Diagramas de Dl
O diagrama
eα
l−1
,
Dl , l ≥ 4 e e ... e,
αl−2
α1 α2 l
l eα
l
(1, 2) (3, 4) · · · (l − 1, l)
que pertence ao grupo de Weyl. Para essa permutação σα − α não é raiz para
nenhuma raiz α. O diagrama DI2 só ocorre quando l é par.
Esse caso cobre também, por simetria, o caso em que αl−1 ∈
/ Σ− . Por isso só falta
considerar o caso em que
2. αl−1 , αl ∈
/ Σ− . Existem duas possibilidades
(a) αl−2 ∈/ Σ− . Então, {α1 , . . . , αl−3 } é invariante. Se esse conjunto não inter-
cepta Σ− , então o diagrama fica sendo DI3, que é normal, com σ dada por
σ (λl−1 ) = −λl−1 e σ (λl ) = −λl e com os demais λi fixos. Outra possibili-
dade é dada pelo diagrama DI4 em que σ é o produto da permutação
P = (1, 2) (3, 4) · · · (l − 1, l)
por S tal que Sλl−1 = −λl−1 e Sλl = −λl e Sλi = λi para os demais valores
de i. (O caso em que αi ∈ Σ− , i < l − 3, é descartado por dar origem a σ
que não deixa invariante o conjunto das raı́zes, já que aparece uma ligação
com componente conexa Ak , k ≥ 2). O diagrama DI4 só ocorre com a
ordem de Σ− par, pois a restrição de σ a Σ− pertence ao grupo de Weyl
desse diagrama e −1 está no grupo de Weyl de Dl se e só se l é par.
(b) αl−2 ∈ Σ− . Existem duas possibilidades: se Σ− é conexo, então o diagrama
é DI-II5 que está associado a σ = S com Sλi = λi se i ≤ j e Sλi = −λi
se i > j onde j é o maior ı́ndice em que αj ∈ / Σ− . Já se Σ− não é conexo e
αj é a maior raiz fora de Σ− , então {α1 , . . . , αj−1 } é um Aj−1 invariante e a
possibilidade é um diagrama DI6 para o qual σ = P S = SP onde
P = (1, 2) (3, 4) · · · (j − 1, j)
{αl−2 , αl−1 , αl }
376 CHAPTER 13. σ-SISTEMAS DE RAÍZES
2. Se αl−1 , αl ∈
/ Σ− , então o conjunto Al−2 = {α1 , . . . , αl−2 } é invariante, pois αl−2
é ortogonal a αl−1 − αl . Dessa forma, uma das possibilidades é que Al−2 não
contenha raı́zes de Σ− e, portanto, o diagrama é DII3. Para esse diagrama σ é
o próprio automorfismo do diagrama que é normal. Outra possibilidade é dada
por DII4. Esse diagrama só ocorre com l ı́mpar e nesse caso σ é o produto da
permutação
P = (1, 2) (3, 4) · · · (l − 2, l − 1)
por Sλl = −λl , Sλi = λi , i < l. Aqui P pertence ao grupo de Weyl enquanto
que S realiza o automorfismo do diagrama.
Diagramas Normais de Dl :
Interiores
e
,
DI1 e e e ... e e,
l
le
u
,
DI2 u e u ... u e, l par
l
le
u
,
DI3 e e e ... e e,
l
lu
u
,
DI4 u e u ... u e, |Σ− | par
l
lu
13.2. DIAGRAMAS DE SATAKE 377
u
,
DI6 u e u ... e u e u. . . u,
l
lu
Exteriores
e
,
DII1 e e e ... e e, 6
l ?
le
e
,
DII2 u e u ... e u, 6 l ı́mpar
l ?
le
Diagramas excepcionais
Da mesma forma que para os diagramas clássicos, uma análise exaustiva dos diagramas
excepcionais permite determinar os diagramas de Satake.
O único diagrama de Satake de G2 é o próprio diagrama de Dynkin
e Ae
α1 α2
σ (α1 + α2 ) − (α1 + α2 ) = α2
F4 1 e e Ae e
α1 α2 α3 α4
F4 2 u u Au e
1. α4 ∈
/ Σ− .
(a) Se α3 ∈ Σ− , então α2 ∈ Σ− , pois caso contrário, {α3 , α4 } é invariante
não-normal. Isso implica que α1 ∈ Σ− , pois caso contrário, {α2 , α3 , α4 }
é um diagrama C3 invariante não-normal. Esse caso dá origem ao dia-
grama F4 2. E se
(b) α3 ∈ / Σ− , então {α1 , α2 , α3 } é um B3 invariante que só é normal se
α1 , α2 ∈
/ Σ− .
2. α4 ∈ Σ− . Então, em nenhuma possibilidade o diagrama é normal. As
possibilidades são:
(a) α1 ∈ Σ− . Nesse caso α2 ou α3 ∈ Σ− , pois caso contrário {α1 , α2 } é
invariante não-normal. Se α2 ∈ Σ− , o lema 13.16 fornece
2 4
σα3 = α3 + α1 + α2 + α4
3 3
que não é raiz. O mesmo acontece com σα2 se α3 ∈ Σ− .
(b) α1 ∈/ Σ− . Então, {α2 , α3 , α4 } é um C3 invariante e daı́ que este conjunto
está em Σ− . Mas se isso ocorre, σα1 = α1 + 3α2 + 4α3 + 2α4 e
σ (α) − α = α2 + 2α3
para α = α1 + α2 + α3 + α4 .
E6 Os diagramas internos de
eα6
E6 I1 e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5
E6 I2 e u u u e
e e
, ,
e, 6 u, 6
, ,
E6 II1 e e, 6 E6 II2 e u,
l ? l
le lu
l l ?
le
? le
1. α2 , α4 ∈
/ Σ− . Se α1 , α5 ∈
/ Σ− , então {α2 , α3 , α4 , α6 } é um D4 invariante não-
normal. Por outro lado, se α1 , α5 ∈ Σ− , então σα2 = α4 + γ e σα2 = α4 + γ 0
com γ 6= γ 0 , já que γ não tem componente na direção de α1 , o que não
ocorre com γ 0 . Mas isso contradiz o fato de que σ é involutiva.
380 CHAPTER 13. σ-SISTEMAS DE RAÍZES
3 1 3 1
σα1 = α5 + α2 + α3 + α5 + α6 .
4 2 4 4
(b) α1 , α5 ∈ Σ− e aqui α3 está ligado a uma componente conexa A2 .
E7 1 e e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5 α6
e os diagramas
E7 2 u E7 3 u
e e u u u e u e u e e e
E7 4 u E7 5 u
u u u u u e u e u u u e
8 10 8 4
σα1 = α1 + α2 + α3 + 4α4 + α5 + α6 + 2α7 .
3 3 3 3
Os coeficientes que aparecem aı́ formam o dobro da primeira coluna da inversa
da matriz de Cartan de E6 (veja página 316).
É suficiente considerar, então, os casos em que α1 ∈ Σ− . Em todos eles α7 ∈ Σ− ,
pois caso contrário, o seu complementar é um A6 invariante. Agora, distinguem-se
os casos:
1. α3 ∈
/ Σ− . Então, {α4 , . . . , α7 } é um A4 invariante e, portanto, está contido
em Σ− e assim, como no lema 13.16, os coeficientes de σα3 em relação a esse
A4 não são inteiros. Esse caso não fornece nenhum diagrama.
13.2. DIAGRAMAS DE SATAKE 381
eα8
E8 1 e e e e e e e
α1 α2 α3 α4 α5 α6 α7
E8 2 e e e u u u e
E8 3 e u u u u u u
13.3 Exercı́cios
1. Mostre que se um diagrama normal é conexo, então sua projeção no espaço dos
pontos fixos por σ também é um diagrama conexo.
é o único elemento do grupo de Weyl tal que wα − α não é raiz para toda raiz α.
7. No diagrama de
u
e u u u u u u
σ é
σα1 = α1 + 3α2 + 4α3 + 6α5 + 4α6 + 2α7 + 3α8 .
Tomando a realização de E8 como no capı́tulo 8,
8. Seja λ ∈ P (Π) uma raiz restrita e denote por m (λ) a quantidade das raı́zes
α ∈ Π tais que P (α) = λ. Então, valem as seguintes afirmações:
(d) Se m (λ) é par, então 2λ ∈ P (Π) se e só se existe α ∈ Π com λ = P (α) tal
que
hα, σαi < 0
e, nesse caso, hβ, σβi < 0 para toda raiz β com P (β) = λ.
(e) Se m (λ) é ı́mpar, então hα, σαi = 0 para toda raiz α 6= λ tal que P (α) = λ.
(f) Se λ = P (α) = P (β) é tal que 2λ não é raiz restrita e α 6= β, α 6= σβ,
então hα, βi ≥ 0 e hα, βi > 0 se e só se hα, σβi = 0.
• aα+β = ±aα aβ se α, β, α + β ∈ Π.
α = n1 α 1 + · · · + nl α l
O objetivo deste capı́tulo é classificar as formas reais das álgebras simples complexas
através dos diagramas de Satake. O procedimento consiste em associar a uma forma
real um automorfismo involutivo da forma real compacta (involução de Cartan). Os
possı́veis automorfismos involutivos são determinados por suas restrições a subálgebras
de Cartan e essas restrições dão origem a σ-sistemas de raı́zes que foram estudados
no capı́tulo anterior. Dessa forma, a classificação dos diagramas normais que foi feita
propicia a determinação de todas as formas reais das álgebras complexas simples.
14.1 Automorfismos
A toda forma real g de uma álgebra semi-simples gC está associada uma involução de
Cartan θ que é dada a partir da interseção de g com uma forma real compacta u. De
maneira precisa, dada a decomposição de Cartan
g = k ⊕ s = (g ∩ u) ⊕ (g ∩ iu) ,
θ é o automorfismo que é 1 em k e −1 em s. Sendo um automorfismo de g, θ se
estende a um automorfismo de gC , também denotado por θ. Pela forma como se
define a involução de Cartan, fica claro que u é invariante por θ e daı́ que θ define um
automorfismo involutivo de u.
Reciprocamente, um automorfismo θ : u → u, tal que θ2 = 1, decompõe u como
u = u + ⊕ u−
com θ = 1 em u+ e θ = −1 em u− . Como θ é automorfismo, os colchetes entre esses
subespaços são dados por
[u+ , u+ ] ⊂ u+ [u+ , u− ] ⊂ u− [u− , u− ] ⊂ u+ .
Em particular, u+ é uma subálgebra e
u+ ⊕ iu−
385
386 CHAPTER 14. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES REAIS. CLASSIFICAÇÃO
σθ = θσ
gθ∗ α = θgα .
Por outro lado, toda transformação que deixa invariante o conjunto das raı́zes é a
restrição de um automorfismo da álgebra:
Teorema 14.1 Seja θ uma transformação linear de ihR e suponha que θ∗ (Π) = Π
onde Π é o conjunto das raı́zes de h. Então, θ se estende a um automorfismo de u.
φ (gα ) = gθ∗ α
φ (Xα ) = aα Xθ∗ α .
aα a−α = 1
Ainda pelo fato de Xα formar uma base de Weyl, mα,β = −m−α,−β e, portanto, o lema
8.5 garante que
hα, αi
m2α,β = q (p + 1)
2
onde p e q são dados pela α-seqüência iniciada em β. O segundo membro dessa igual-
dade permanece inalterado se α e β são substituı́dos por θ∗ α e θ∗ β, respectivamente,
pois θ∗ é uma transformação linear ortogonal em relação à forma de Cartan-Killing
e a θ∗ α-seqüência iniciada em θ∗ β é a imagem por θ∗ da α-seqüência iniciada em β.
Portanto, m2α,β = m2θ∗ α,θ∗ β e daı́ que
e, portanto, que
aα+β = ±aα aβ .
Uma vez verificadas essas propriedades de aα , é possı́vel modificar φ e obter um
automorfismo que preserva u. Essa modificação será da forma
ψ = φ ◦ exp (ad(iH))
α = n1 α 1 + · · · + nl α l ,
então uma indução simples a partir da fórmula aα+β = ±aα aβ mostra que
α = ±nα11 · · · nαll
(veja exercı́cio 9 do capı́tulo 13). Além do mais, −α = α , pois aα a−α = 1. A expressão
dada para ψ mostra, então, que
e, como esses elementos geram u, essa forma real compacta é invariante por ψ. 2
φ = exp (ad(iH)) .
ψ (Xα ) = ±Xα .
O sinal ± provém do sinal da igualdade aα+β = ±aα aβ que por sua vez é dado por
ψ (Xα ) = Xα
ψ = φ ◦ exp (ad(iH)) ,
• α = ±1,
• α −α = 1 e
mθ∗ α,θ∗ β
• α+β = α β se α + β é raiz.
mα+β
• α θ∗ α = 1.
As formas reais das álgebras simples complexas serão encontradas pela análise dos
possı́veis conjuntos de coeficientes α = ±1, α ∈ Π, que são determinados a partir de
seus valores para as raı́zes simples. A determinação das formas reais a partir desses
coeficientes é viável, pois a álgebra dos pontos fixos de uma extensão involutiva qual-
quer é isomorfa à álgebra dos pontos fixos de uma extensão canônica, como mostra a
proposição a seguir.
Proposição 14.3 Seja θ como acima. Suponha que θ 6= 1 admita alguma extensão
canônica involutiva. Denote uma dessas extensões por ψ 0 . Seja φ uma extensão in-
volutiva de θ a um automorfismo de u. Então, existem uma extensão canônica ψ e
H0 ∈ hR tal que
exp (i (ad H0 )) φ exp (−i (ad H0 )) = ψ.
Além do mais, ψ é dado por
ψ = ψ 0 exp (i (ad H+ ))
H−
ψ = ψ 0 exp (i (ad H+ )) e H0 = . (14.2)
2
Esses valores de ψ e H0 satisfazem o que se pede. Para verificar isso, vai ser usada a
notação H ` para indicar a transformação i ad (H), H ∈ hR .
Para uma extensão qualquer η de θ valem as fórmulas
o que é equivalente a
exp 2H+` = 1.
Por um cálculo semelhante,
` ` `
ψ 2 = ψ 0 eH+ ψ 0 eH+ = e2H+ = 1
e daı́ que ψ é de fato uma involução. Por outro lado, as expressões para φ e ψ em
(14.1) e (14.2) mostram que
φ = ψ exp H−` .
Portanto,
= ψ exp (θH0 + H− − H0 )`
`
= ψ exp − H2− + H− − H2−
= ψ.
Para concluir, só falta verificar, então, que ψ é uma extensão canônica. Para isso,
seja α uma raiz. Então, para X ∈ gα , H ` X = iα (H) X e, portanto,
exp H ` X = eiα(H) X.
Aplicando essa igualdade a H+` e usando o fato de que exp 2H+` = 1, conclui-se que
α (H) é um múltiplo par de π para toda raiz α. Portanto, α (H) é um múltiplo de π e
daı́ que
exp H+` Xα = ±Xα ,
o que mostra que a composta ψ = ψ 0 exp H+` é uma extensão canônica se o mesmo
ocorre com ψ 0 . 2
14.2. SISTEMAS DE RAÍZES 391
Nessa proposição a hipótese de que θ admite uma extensão canônica involutiva pode
ser enfraquecida assumindo apenas a existência de uma extensão involutiva, já que a
construção feita na demonstração do teorema 14.1 fornece uma extensão canônica a
partir de uma extensão arbitrária. O problema central aqui é a existência de extensões
involutivas, pois nem sempre uma transformação involutiva θ que preserva as raı́zes
admite uma extensão involutiva. Exemplos de tais transformações são dadas pelos
diagramas não-admissı́veis que aparecem na seção 14.3 adiante. Em todo caso, vale a
pena mencionar que se φ é uma extensão canônica de θ, então φ4 = 1, pois φ2 é uma
extensão canônica da identidade e, portanto, φ2 (Xα ) = ±Xα para toda raiz α.
Como fica claro a partir da demonstração da proposição acima, o fato de que φ
e ψ são conjugados se deve a que um desses automorfismos é obtido do outro por
multiplicação à direita de exp (i (ad H− )) com θ (H− ) = −H− . Esse fato é ressaltado
no seguinte
φ = ψ exp (i (ad H− ))
Um caso particular em que este corolário se aplica é quando θ = −1. Nesse caso,
duas extensões quaisquer de θ são relacionadas como no enunciado e, portanto, elas
são equivalentes entre si, com a equivalência dada por um automorfismo de u.
Em geral, se as extensões estão relacionadas por
φ = ψ exp (i (ad H+ ))
com θ (H+ ) = H+ , elas nem sempre são conjugadas por um automorfismo da álgebra
(ou mesmo por uma transformação linear qualquer). Isso ocorre, no entanto, no caso
em que tanto φ quanto ψ se restringem à identidade nos espaços de raı́zes gα em que
θ∗ α = α, como será mostrado na próxima seção.
h = hk ⊕ a
392 CHAPTER 14. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES REAIS. CLASSIFICAÇÃO
hC = hk ⊕ a ⊕ ihk ⊕ ia.
Proposição 14.5 Para uma raiz α denote por Hα seu dual pela forma de Cartan-
Killing: α (·) = hHα , ·i. Seja hR o subespaço real de hC gerado Hα , α ∈ Π. Então,
hR = ihk ⊕ a.
A análise da álgebra real g será feita a partir das raı́zes restritas que são os autovalo-
res das adjuntas dos elementos de a. Essas raı́zes são as restrições a a das raı́zes de hC .
Para olhar essas restrições, é conveniente considerar o dual de a como um subespaço do
dual de h através da aplicação a∗ → h∗ que associa a um funcional de a sua extensão
a h que é identicamente nula em hk . Por essa inclusão, as restrições a a são descritas
através da conjugação X → X de gC em relação a g da seguinte maneira.
A um funcional linear α de hC se associa o funcional linear α definido por
α(H) = α H
• α (H) = α (H) se H ∈ a.
α = −θ∗ α = −α ◦ θ−1 = −α ◦ θ.
Lema 14.6 Seja θ a involução de Cartan de uma forma real não-compacta que deixa
invariante a subálgebra de Cartan. Se α é uma raiz tal que θ∗ α = α, então o espaço
de raı́zes correspondente gα está contido em k + ik. E se β é uma raiz arbitrária, então
β + θ∗ β não é raiz. Portanto, β − β não é raiz e a conjugação define um σ-sistema
normal em hR .
gα = [gβ , gθ∗ β ]
X = [Y, θY ]
gera gα . Mas
θX = θ[Y, θY ] = −X
e, portanto, X ∈ s + is e daı́ que α = β + θ∗ β não é raiz. 2
Σco = {α1 , . . . , αp },
αj = ασ(j) + β j (14.3)
com β j uma combinação linear de Σim (veja proposição 13.6 no capı́tulo 13).
O que se pretende agora é discutir a maneira como as formas reais são obtidas
dessas transformações em hR e h∗R . Seja α → α uma aplicação involutiva de h∗R que
preserva as raı́zes. Definindo θ∗ α = −α, e θ por dualidade, as formas reais são obtidas
por extensões involutivas de θ a u. Se ψ é uma extensão dessas, então deve-se construir
uma forma real g como g = k ⊕ s com
k = {X : ψX = X} e is = {X : ψX = −X}.
próxima seção quando for feita a análise dos diagramas de Satake. Em todo caso, é
suficiente olhar as extensões canônicas. Elas são dadas por coeficientes α através das
igualdades
ψXα = α X−α
onde Xα ∈ gα forma uma base de Weyl e ψ denota a extensão. Usando a notação
[Xα , Xβ ] = mα,β Xα+β ,
se α + β é raiz, os coeficientes α devem satisfazer as condições da página 389. Essas
condições, escritas em termos de α → α, ao invés de θ, são:
C1 α = ±1,
C2 α −α = 1,
mα,β
C3 α+β = − α β e
mα,β
C4 α α = 1.
Esta última condição é imposta para garantir que a extensão é involutiva. Constru-
indo a forma real g a partir de α → α dessa maneira, o subespaço
a = {H : θH = −H}
não é, em geral, um abeliano maximal em s. Para que isso ocorra, é necessário incluir
uma condição extra sobre o sistema α , que é dada pelo seguinte lema.
Lema 14.7 Com as notações acima, a condição
α = 1 se α = −α (14.4)
é necessária e suficiente para que a seja abeliano maximal em s.
Demonstração: O centralizador de a é
X
h⊕ gα
com a soma sobre α tal que α (H) = 0 para todo H ∈ a. Como isso ocorre se e só se
α = −α, esse centralizador intercepta h se e só se α = −1 para alguma raiz imaginária
α. Assim, a é abeliano maximal em s se e só se α = 1 para as raı́zes em que α = −α. 2
e daı́ que exp (i (ad H)) = exp (i (ad H 0 )) se α (H) − α (H 0 ) é um múltiplo par de π para
toda raiz α. Em vista disso, a idéia é mostrar que é possı́vel encontrar H satisfazendo
(14.5) de tal forma que θ (H) = −H e aplicar o corolário 14.4 que garante, então, a
conjugação entre φ e ψ.
Para H ∈ hR , θ (H) = −H se e só se β (H) = 0 para todo β ∈ h∗R em que θ∗ β = β,
isto é, o auto-espaço de θ associado a −1 é o anulador do espaço dos pontos fixos de θ∗ .
Esse espaço de pontos fixos é gerado pelas raı́zes simples imaginárias e pelas diferenças
αj −ασ(j) , αj ∈ Σco , onde σ é a permutação do diagrama de Satake correspondente (veja
(14.3)). Assim, o que se procura
é H, satisfazendo (14.5) de tal forma que α (H) = 0
para α ∈ Σim e αj − ασ(j) (H) = 0 para αj ∈ Σco .
Escrevendo o sistema simples, dado por ordens lexicográficas compatı́veis, como
Σ = {α1 , . . . , αk , αk+1 , . . . , αl }
αr (Hs ) = δ rs .
H = α1 (H) H1 + · · · + αl (H) Hl = H 0 + H 00
1. se
β =β+γ+δ
com γ 6= −δ raı́zes imaginárias tais que β + γ e β + δ são raı́zes e γ + δ não é
raiz, então β β = 1.
2. Se
β =β+γ+δ+τ
com γ, δ, τ raı́zes imaginárias tais que
• β + γ, β + δ, β + τ , β − γ, β − δ e β − τ são raı́zes e
• γ + δ, γ + τ e δ + τ não são raı́zes,
então β β = −1.
Demonstração: É uma aplicação reiterada dos lemas 8.6 e 8.7 (veja páginas 196 e
197). Esses lemas dizem que para raı́zes α, β, γ e δ, que não são opostas duas a duas,
então
398 CHAPTER 14. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES REAIS. CLASSIFICAÇÃO
O lema 8.7, aplicado às raı́zes −β, β, γ e δ (que somam zero), fornece
já que, por hipótese, γ + δ não é raiz e, portanto, mγ,δ = 0. Substituindo nessa
igualdade mγ,−β = −m−β,γ , chega-se a
mβ,γ mβ,δ
=
m−β,γ m−β,δ
e daı́ que
mβ,δ mβ+γ,δ
β β = = 1,
m−β,δ m−β−δ,δ
pois o lema 8.6, aplicado às raı́zes −β, δ e β + γ, mostra que
e, portanto,
mβ,δ mβ+δ,γ mβ+γ+δ,τ
β β = .
m−β,γ m−β+γ,δ m−β+γ+δ,τ
Agora, aplicando o lema 8.7 às raı́zes −β, β + δ, γ e τ e usando o fato de que
γ + τ não é raiz, mostra-se que
e daı́ que
mβ+γ+δ,τ mβ+δ,τ
=− .
m−β,γ mβ+δ,γ
Dessa forma, a expressão para β β se simplifica como
mβ,δ mβ+γ,τ
β β = − .
m−β+γ,δ m−β+γ+δ,τ
e o segundo membro dessa igualdade é −1, pois o lema 8.6, aplicado às raı́zes β,
τ e −β + γ + δ, garante que
concluindo a demonstração. 2
Diagramas não-admissı́veis
• O diagrama de Dl
uδ
,
u e u ... u e,
γ βl
l uτ
Aqui, β = αj é a maior raiz, que não é imaginária. Como foi visto no capı́tulo
13,
β = αj−1 + αj + 2 (αj+1 + · · · + αl−2 ) + αl−1 + αl
e, se for tomado γ = αj−1 e
• O diagrama normal de E7
uα7
u u u u u e
α1 α2 α3 α4 α5 α6
β = − (λ2 + λ4 + λ5 + λ6 + λ7 + λ8 ) = λ1 + λ3 + λ9
γ = − (λ2 + λ7 + λ8 ) δ = − (λ2 + λ5 + λ6 ) τ = λ3 − λ4
14.3. DIAGRAMAS DE SATAKE 401
• O diagrama normal
u
u e u u u e
β = α1 + α2 + 2α3 + 2α4 + α5 + α7
e as raı́zes
γ = α1 δ = α3 + α4 τ = α3 + α4 + α5 + α7
satisfazem o lema.
• O diagrama
uα8
e u u u u u u
α1 α2 α3 α4 α5 α6 α7
β = − (λ2 + λ3 + λ4 + λ5 + λ6 + λ7 + 2λ8 + λ9 ) = λ1 − λ8
e as raı́zes que mostram que o diagrama não é admissı́vel são, por exemplo,
Diagramas admissı́veis
O item 1 do lema 14.9 permite mostrar que todos os diagramas interiores que aparecem
na tabela são de fato admissı́veis. As raı́zes γ e δ são indicadas a seguir para cada um
dos diagramas:
β = αj−1 + αj + αj+1
• Para um diagrama em B, a única raiz simples cuja conjugada não é ela mesma
é β = αj , a raiz que se liga a Σim . Para essa raiz, a inversa da matriz de Cartan
de Bl fornece
β = αj + 2 (αj+1 + · · · + αl )
e, tomando
γ = δ = αj+1 + · · · + αl ,
verifica-se que o diagrama é admissı́vel.
• Para o primeiro dos diagramas em CII, a situação é como em AII, exceto pela
última raiz β = αl . Nesse caso,
β = αl + 2αl−1
e γ = δ = αl .
• Para o segundo dos diagramas em CII só falta verificar o caso em que β = αj é
a maior das raı́zes não-imaginárias. Para essa raiz,
β = αj−1 + αj + 2 (αj+1 + · · · + αl−1 ) + αl
e, aqui, pode-se tomar γ = αj−1 e
δ = 2 (αj+1 + · · · + αl−1 ) + αl .
• No diagrama E7II as raı́zes são como em AII, já em E7III e em E8II a situação
é a mesma de E6IV.
No caso dos diagramas exteriores, os que não contêm raı́zes imaginárias são ad-
missı́veis, pois pode-se tomar α = 1 para toda a raiz simples α, já que para esses
diagramas o conjugado de uma raiz simples é outra raiz simples. Os diagramas exte-
riores que não contêm raı́zes imaginárias são o segundo de AIII, o terceiro de DI e
E6II. Os restantes três diagramas exteriores são
αj = αk + (αj+1 + · · · + αl−j ) = αk + γ
com γ raiz. Assim, pode-se tomar αj arbitrário e αk de tal forma que a condição
C3 seja satisfeita para αk e γ.
αl−1 = αl + αl−2
e αl−1 − αl é raiz e a escolha de αl−1 e αl pode ser feita de maneira compatı́vel
com C3 .
α1 = α5 + α2 + α3 + α4 ,
Tipo Σ P (Σ)
AI e e e e e e e e
u e u u e u e e e e
AII
e e e u
6 6 6
u
? ? ? e e e Ae
AIII e e e u
e e e e
Z
6 6 6 6Z e
? ? ? ? e e e e
e e e e A
e e e u u Au e e e Ae
B
e e e e e e e e
CI A A
u e u e u e e e e e
CII A A
u e u e u u u e e e Ae
A
e e
, ,
e e, e e,
l l
le le
DI
u
,
e e u u,
l e e e Ae
lu
e
,
e e e e e, 6
l ? e e e Ae
le
14.3. DIAGRAMAS DE SATAKE 405
Tipo Σ P (Σ)
u
,
e u u u u, e
l
lu
DII
u
,
u e u u e,
l e e e e
le
DIII A
e
,
u e u e u,
e e e Ae
6
l ?
le
e Ae e Ae
G2
e e Ae e e e Ae e
F4I
u u Au e e
F4II
e e
e e e e e e e e e e
E6I
e
,
e, 6
,
e e, 6
l
le
?
l ? e e Ae e
le
E6II
e
,
u, 6
,
e u,
l
lu
l e Ae
e
l?
E6III
406 CHAPTER 14. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES REAIS. CLASSIFICAÇÃO
Tipo Σ P (Σ)
u
e u u u e e e
E6IV
e e
E7I e e e e e e e e e e e e
u
e e Ae e
E7II u e u e e e
u
e Ae e
E7III e e u u u e
e e
E8I e e e e e e e e e e e e e e
u
e e Ae e
E8II e e e u u u e
2. Se α 6= α e hα, αi = 0, então
2hP β, P αi 2hβ, αi 2hβ, αi
= + .
hP α, P αi hα, αi hα, αi
3. Se α 6= α e hα, αi =
6 0, então
2hP β, P αi 4hβ, αi 4hβ, αi
= + .
hP α, P αi hα, αi hα, αi
Essas fórmulas fornecem de imediato os números de Killing entre os elementos de
P (Σco ) e, portanto, os diagramas de Dynkin. Por exemplo, para o primeiro diagrama
em AIII, se αr e αl−r+1 são as raı́zes ligadas a Σim , então, para i < r, αi = αl−i+1 é
ortogonal tanto a αi quanto às raı́zes ligadas a ela. Assim, os números de Killing
2hP αk , P αi i
hP αi , P αi i
14.4. EXERCÍCIOS 407
14.4 Exercı́cios
1. Dada uma decomposição de Cartan g = k ⊕ s, seja a ⊂ s um abeliano maximal e
denote por Φ o conjunto das raı́zes restritas de a em g. Escolhendo um sistema
positivo de raı́zes Φ+ , seja X
n+ = gα .
α∈Φ+
h = (h ∩ k) ⊕ (h ∩ s) = hk ⊕ hs .
w = exp (X + θX) .
A teoria de representação das álgebras semi-simples reais é feita a partir da teoria de-
senvolvida para álgebras sobre corpos algebricamente fechados e, em particular, para
álgebras complexas. O procedimento é o de sempre nessas situações e consiste em com-
plexificar as representações reais, obtendo representações complexas cuja classificação
é utilizada para descrever as representações reais. Este capı́tulo está baseado no artigo
de Iwahori [26].
409
410 CHAPTER 15. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS REAIS
por g se e só se ele é invariante por gC . Dessa forma, ρ é uma representação do tipo I
se e só se ρc é uma representação irredutı́vel de gC e do tipo II caso contrário.
Exemplos de representações do tipo I ou II apareceram no estudo das álgebras
simples reais feito no capı́tulo anterior. A complexificada de uma álgebra real simples
g pode ser simples ou não. No primeiro caso, a representação adjunta de g – que
é irredutı́vel – se complexifica em uma representação irredutı́vel e, portanto, é do
tipo I. Da mesma forma, as representações adjuntas das álgebras reais simples, cujas
complexificadas não são simples, são representações do tipo II. Em outras palavras, o
tipo da representação adjunta de uma álgebra real simples acompanha o tipo da álgebra.
No caso das álgebras do tipo II, foi mostrado que a álgebra complexificada se decompõe
em dois ideais simples isomorfos, sendo que um é obtido do outro por conjugação
em relação à álgebra real. Uma decomposição dessa natureza ocorre também com
representações do tipo II, em geral. De fato, seja v → v a conjugação de VC em relação
a V . Então, as representações do tipo II se decompõem em subespaços conjugados,
como mostra a proposição seguinte.
Proposição 15.1 Seja ρ uma representação do tipo II. Então, VC se decompõe como
VC = U ⊕ U
VC = U ⊕ U
é direta. 2
b) seja σ uma representação complexa em U e suponha que ela seja do tipo I. Então,
σ é a complexificada de uma representação real irredutı́vel do tipo I. Em outras
palavras, o espaço realificado Ur se decompõe em subespaços invariantes e irre-
dutı́veis por σ r como
Ur = V ⊕ iV
onde V é um subespaço real de Ur e as restrições de σ r a V e iV são repre-
sentações equivalentes, irredutı́veis e do tipo I.
Demonstração:
U = V + iV.
Demonstração:
a) Seja W ⊂ U um subespaço vetorial real não-nulo invariante pela realificada da
restrição de ρc a U . Então, W ⊂ U é invariante pela realificada de ρc e, portanto,
o mesmo ocorre com W + W ∩ V . Como esse subespaço é não-nulo, e ρ é
irredutı́vel, isso mostra que
V ⊂ W + W.
Usando o mesmo argumento com o subespaço real iV no lugar de V mostra-se a
inclusão
iV ⊂ W + W
que, juntamente com a anterior, garante que W = U . Portanto, a realificada da
restrição de ρc a U é irredutı́vel e daı́ que essa representação é do tipo II.
• T (v + u) = T (v) + T (u) e
α : U −→ C.
414 CHAPTER 15. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS REAIS
Com as operações usuais de soma e produto por escalar, U (∗) se torna um espaço
vetorial complexo que tem a mesma dimensão de U .
O espaço conjugado a U é definido como sendo o dual (usual) de U (∗)
∗
U = U (∗)
u ∈ U 7−→ u ∈ U .
Como foi visto na seção anterior, existe uma bijeção entre R1 e C 1 , não acontecendo
o mesmo com as representações do tipo II. Para entender essas representações, introduz-
se, no conjunto das representações complexas irredutı́veis do tipo II, a relação σ 1 ∼ σ 2
que é satisfeita se σ 1 é equivalente a σ 2 ou a σ 2 . Essa relação também é uma relação
de equivalência e se denotará por
P σ 1 (X) = σ 2 (X)P
Com essas notações, pode-se enunciar o resultado final sobre a relação entre as
representações irredutı́veis reais e complexas.
(a) a uma representação real ρ do tipo II qualquer uma das componentes irre-
dutı́veis da complexificada ρc e
(b) a uma representação complexa σ do tipo II sua realificada, que também é do
tipo II.
VC = U ⊕ U
Essas aplicações entre R2 e Cb2 são inversas uma da outra. Para ver isso, tome em
primeiro lugar a situação como em a). Então, o realificado da representação em U é
equivalente a ρ. A equivalência é dada por P : U → V definida por
P : u ∈ U −→ u + u ∈ V.
Por outro lado, seja σ uma representação complexa do tipo II e σ r sua realificada.
Essa é uma representação real do tipo II em Ur . Portanto, sua complexificada decompõe
a complexificação (Ur )c em invariantes irredutı́veis como
(Ur )c = W ⊕ W .
O que se deseja mostrar é que a representação em W ou W é equivalente a σ. A
demonstração disso é bastante semelhante ao que foi feito no capı́tulo anterior com
as álgebras simples reais do tipo II (veja teorema 12.8). De fato, seja J : Ur → Ur
a estrutura complexa associada à realificação. Os autovalores de J são ±i e seus
auto-espaços em (Ur )c são conjugados entre si. Além do mais, o fato de que σ é
uma representação complexa garante que σ r (X)J = Jσ r (X) para todo X ∈ g. Isso
mostra que os auto-espaços são invariantes pela complexificação de σ r e, portanto, na
decomposição acima de (Ur )c , pode-se tomar W como sendo o auto-espaço associado ao
autovalor i. Sendo assim, mostra-se como no teorema 12.8, que a aplicação P : U → W
dada por
1
P (u) = (u − iJ(u))
2
é um operador de intercâmbio entre σ e a representação em W . 2
Esta seção será concluı́da com os seguintes comentários sobre representações que
são equivalentes a suas conjugadas.
Jσ(X) = σ(X)J
para todo X ∈ g.
J 2 = c1,
sendo que J é qualquer isomorfismo antilinear que comuta com σ. Esse ı́ndice será
denotado por ±1.
J 2 = 1.
Ur = U1 ⊕ U−1 .
Esses auto-espaços são invariantes pelos realificados de σ, já que σ comuta com J.
Portanto, o realificado de σ é redutı́vel e daı́ que a representação é do tipo I. 2
i2 = j 2 = k 2 = −1 ij = k, jk = i, ki = j.
I 2 = −1 J 2 = −1 K 2 = −1.
420 CHAPTER 15. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS REAIS
sistema simples de raı́zes Σ. O subespaço real de h∗c gerado pelas raı́zes será denotado
por h∗R . Da mesma forma, denota-se por hR o subespaço real de hc gerado por Hα ,
α ∈ Π. Em geral, hR é diferente de h. No caso em que g é uma forma real compacta de
g, pode-se tomar h = ihR e, para as outras formas reais, é possı́vel escolher h = ihk ⊕ a
com a abeliano maximal na componente simétrica s de uma decomposição de Cartan
de g.
A conjugação de gC em relação a g é denotada por X → X. Evidentemente, hc é
invariante por conjugação. Como no capı́tulo anterior, isso permite definir no dual h∗c
a conjugação dada para λ ∈ h∗c por
λ (H) = λ H ,
onde o conjugado de λ H é tomado em C.
A conjugação definida em h∗c pela fórmula acima é de tal forma que o isomorfismo
entre hc e seu dual comuta com as conjugações nesses espaços. De fato, a forma de
Cartan-Killing em gC satisfaz
hX, Y i = hX, Y i
para todo X, Y ∈ gC . Portanto, se λ ∈ h∗c e H ∈ h, então
Σ = {α1 , . . . , αl }.
Φ = {µ1 , . . . , µl }
2
Hα0 = Hα .
hα, αi
Φ = {µ1 , . . . , µl }
Hα = H α
de h. Mas dados j, k = 1, . . . , l,
0
µj H αk = µj (Hαk ) = µj (Hαk ) = δ jk ,
Uma vez estabelecidas essas notações e fatos básicos, pode-se voltar a atenção às
conjugadas das representações de g. Como foi comentado mais de uma vez, uma
representação complexa irredutı́vel de g se estende a uma representação irredutı́vel de
gC também denotada por σ. Da mesma forma, a representação conjugada σ se estende
a uma representação de gC . Em termos das conjugações em gC e U , a extensão de σ é
dada explicitamente por
σ (X) = σ X X ∈ gC .
e o coeficiente do último termo coincide com λ(H), pois H = H. Por outro lado,
σ iH v = i σ (H)v = λ iH v,
deixa claro que se µ é o peso máximo de σ, então µ + α não é peso de σ para nenhuma
raiz simples α ∈ Σ, mostrando que µ é o peso máximo de σ em relação a Σ. 2
Com esses fatos, é possı́vel mostrar que os conjugados das representações funda-
mentais são também representações fundamentais. De fato, como Σ e Σ são sistemas
simples de raı́zes, existe um único elemento w0 do grupo de Weyl W tal que
Σ = w0 Σ.
Σ = {α1 , . . . , αl },
o automorfismo do diagrama determina uma permutação π nos ı́ndices das raı́zes pela
fórmula
απ(j) = w0 (αj ) .
Essa permutação pode ser aplicada também aos ı́ndices dos pesos fundamentais. Como
Φ é definida pelas relações
2hµj , αk i
= δ jk ,
hαk , αk i
tem-se ainda que Φ = w0 Φ, e a permutação π nos ı́ndices dos pesos fundamentais
também é dada por
µπ(j) = w0 µj .
Considerando agora as representações associadas aos pesos fundamentais, seja σ j ,
1 ≤ j ≤ l, a representação irredutı́vel cujo peso máximo, em relação a Σ, é µj . Pela
proposição anterior, a representação cujo peso máximo – em relação a Σ – é µj é conju-
gada a σ j . Por outro lado, µπ(j) é a imagem de µj por um elemento do grupo de Weyl,
portanto a representação cujo peso máximo é µj é equivalente σ π(j) . Conseqüentemente,
σ π(j) é conjugada de σ j . Em suma,
Φ = {µ1 , . . . , µl }
A partir dessa proposição fica fácil obter uma caracterização, em termos dos pesos
máximos, das representações irredutı́veis que são autoconjugadas.
Um peso máximo é uma combinação linear, com coeficientes inteiros ≥ 0 dos pesos
fundamentais. Tomando o sistema fundamental de pesos como na proposição anterior,
o peso máximo µ de uma representação irredutı́vel σ é escrito como
Como duas representações com pesos máximos são equivalentes se e só se os pesos (em
relação a um mesmo sistema simples de raı́zes) coincidem, essa expressão de w0 (µ)
fornece a seguinte caracterização das representações autoconjugadas.
m1 = m2 , . . . , m2k−1 = m2k .
Uma vez estabelecido este critério de autoconjugação, o objetivo fica sendo a análise
do ı́ndice das representações irredutı́veis. Para isso, assumem-se como dados os ı́ndices
das representações fundamentais. Um peso máximo é a soma, com multiplicidades, dos
pesos fundamentais. Por isso, para encontrar o ı́ndice de uma representação irredutı́vel
em termos dos ı́ndices fundamentais, é suficiente determinar o ı́ndice da representação
cujo peso máximo é a soma de pesos máximos dados.
Sejam σ 1 e σ 2 representações irredutı́veis em U1 e U2 com pesos máximos µ1 e µ2 ,
respectivamente. A representação irredutı́vel com peso máximo µ1 + µ2 é dada pela
composição de Cartan σ 1 ∗ σ 2 , que foi descrita no capı́tulo 11. Essa é a representação
no subespaço invariante de U1 ⊗ U2 gerado por v1 ⊗ v2 onde v1 é um elemento primitivo
em U1 e v2 é um elemento primitivo em U2 .
15.4. ÁLGEBRAS SEMI-SIMPLES 425
Jj = j 1 j = 1, 2.
U1 ⊗ U2 = V1 ⊕ · · · ⊕ Vs
ψ j = π j ◦ J.
Essa proposição, juntamente com uma indução simples, mostra que se o peso
máximo de uma representação σ é combinação linear apenas dos pesos fundamen-
tais autoconjugados, então o ı́ndice de σ é o produto dos ı́ndices das representações
fundamentais, tomados com multiplicidades iguais aos coeficientes.
Para levar em conta as representações fundamentais que não são autoconjugadas,
é necessário mais uma informação sobre as composições de Cartan.
que, pelo critério da proposição 15.15, é o peso máximo de uma representação auto-
conjugada. Seja U o espaço da representação σ. O espaço de σ ∗ σ é um subespaço
invariante de U ⊗ U . Neste produto tensorial, a expressão
J (u ⊗ v) = v ⊗ u
J (z (u ⊗ v)) = J ((zu) ⊗ v) = z (v ⊗ u) .
cujo último membro coincide com o segundo membro da expressão anterior, já que
σ(X)u é por definição σ (X) u.
A comutatividade de J com σ ⊗ σ, juntamente com o fato de que σ ∗ σ é autocon-
jugada, permite mostrar, como no lema anterior, que J deixa invariante o subespaço
de σ ∗ σ definindo, portanto, um isomorfismo antilinear de ı́ndice +1 nesse espaço,
concluindo a demonstração do lema. 2
e daı́ que a representação é dada por composições de Cartan sucessivas das repre-
sentações cujos pesos máximos são µ2j−1 + µ2j , j = 1, . . . , k, ou µj , j = 2k + 1, . . . , l,
e, portanto, seu ı́ndice é dado, por aplicações reiteradas da proposição 15.16, pelo
produto dos ı́ndices dessas representações. As representações associadas a µ2j−1 + µ2j
são composições de Cartan de representações conjugadas entre si. Portanto, pelo lema
anterior, seus ı́ndices não colaboram com o ı́ndice da representação original. Dessa
forma, o ı́ndice da representação definida por µ é dado por
n2k+1
2k+1 · · · nl l
Teorema 15.18 Seja g uma álgebra semi-simples real e gC sua complexificada. Es-
colha uma subálgebra de Cartan h de g e um sistema simples de raı́zes na subálgebra
de Cartan hc de gC . Denote por Φ o sistema fundamental correspondente. Então, Φ
pode ser escrito como
µ = m1 µ1 + · · · + m2k µ2k + n1 ν 1 + · · · + ns ν s
n1 1 · · · ns s
15.5 Exemplos
A proposição 15.15 mostra quais são as representações autoconjugadas em termos da
permutação π nas raı́zes simples. A partir daı́ é possı́vel olhar as representações auto-
conjugadas para os diferentes tipos de álgebras reais simples.
Para as formas reais não-compactas das álgebras complexas simples, é possı́vel ler
a permutação π diretamente nos diagramas de Satake. Esses diagramas se referem a
subálgebras de Cartan construı́das a partir de um abeliano maximal na parte simétrica
428 CHAPTER 15. REPRESENTAÇÕES DE ÁLGEBRAS REAIS
de uma decomposição de Cartan (ao contrário do que foi feito até aqui, em que a
subálgebra de Cartan é arbitrária). Escolhendo uma subálgebra de Cartan dessas,
se o diagrama de Satake é interior, então a permutação π que aparece na proposi-
ção 15.15 é a identidade (veja proposição 13.8 do capı́tulo 13). Por isso, para as
formas reais associadas a um diagrama desses, todas as representações irredutı́veis
são autoconjugadas. Para os diagramas exteriores, a permutação π é indicada pela
ligação ←→ entre as raı́zes simples não-imaginárias que são permutadas entre si. Isso
permite reconhecer qual é o automorfismo do diagrama e a partir daı́ dividir as raı́zes
simples como no teorema 15.18. Uma vez feita essa divisão, obtêm-se de imediato as
representações irredutı́veis que são autoconjugadas.
No caso em que u é uma forma real compacta, pode-se tomar uma subálgebra de
Cartan da forma ihR . Nesse caso, α = −α para toda raiz α e, assim, a permutação
π das raı́zes simples é dada por −w0 onde w0 é o único elemento do grupo de Weyl
em que w0 (Σ) = −Σ. No caso dos diagramas A1 , Bl , Cl , Dl (l par), G2 , F4 , E7 e E8 ,
w0 = −1 e, portanto, a permutação é trivial. Dessa forma, todas as representações
das algebras compactas associadas a esses diagramas são autoconjugadas. Para os
diagramas Al (l ≥ 2), Dl (l ı́mpar) e E6 , a permutação π não é trivial e as representações
autoconjugadas são apenas aquelas que satisfazem a condição (15.1). Por exemplo,
nenhuma das representações fundamentais de Al (l ≥ 2) é autoconjugada para a forma
real compacta, que nesse caso é su (n), n = l+1. Portanto, essas representações não são
do tipo I. Em particular, a representação canônica de su (n) em R2n é irredutı́vel. Um
exemplo de uma representação autoconjugada, nesse caso, é a representação adjunta,
que é, além do mais, do tipo I. O peso fundamental dessa representação é µ1 + µl e
esse peso satisfaz (15.1).
A terceira classe de álgebras simples reais são as álgebras do tipo II, isto é, as
realificadas das álgebras simples complexas. Para essas álgebras, α = α para toda raiz
α e, assim, todas as representações irredutı́veis são autoconjugadas.
A questão de determinar os ı́ndices das representações autoconjugadas é um tanto
mais delicada. Eis um exemplo.
Se g0 é uma forma real normal de g, então toda representação irredutı́vel é do
tipo I. Isso vem da construção de g0 a partir de uma base de Weyl e da forma das
representações irredutı́veis. De fato, seja uma base de Weyl com Xα ∈ gα e Yα ∈ g−α
com α percorrendo o conjunto das raı́zes positivas. Se v é um elemento primitivo da
representação complexa, então uma base da representação é dada por
onde {α1 , . . . , αs } é uma ordenação do conjunto das raı́zes positivas. O subespaço real
gerado por esses elementos é invariante por g0 e não cobre todo o realificado do espaço
da representação. Dessa forma, o realificado não é irredutı́vel e a representação é do
tipo I.
15.6. EXERCÍCIOS 429
15.6 Exercı́cios
1. Seja g uma álgebra de Lie real e ρ uma representação irredutı́vel real de g em V .
Mostre que o centralizador de ρ (g) em gl (V ) é uma álgebra de Lie isomorfa a R,
C ou H.
Álgebra Linear
A.1 Quocientes
Seja V um espaço vetorial e W ⊂ V um subespaço. O quociente V /W é formado pelas
classes de equivalência da relação de equivalência em V definida por v ∼ w se e só se
v − w ∈ W . A classe de equivalência de v ∈ V , denotada por v, é o subespaço afim
v = v + W = {v + u : u ∈ W }.
As operações em V /W são definidas por
v+w =v+w
xv = xv
com v, w ∈ V e x escalar. A aplicação π : V → V /W definida por π(v) = v é linear e
sobrejetora. Se a dimensão de V é finita, então dim (V /W ) = dim V − dim W e V /W
é isomorfo a qualquer complementar de W em V .
Seja T : V → V uma transformação linear e suponha que W seja invariante por
T , isto é, T w ∈ W para todo w ∈ W . Então, T passa ao quociente definindo uma
aplicação linear T : V /W → V /W por T v = T v. A aplicação T é a única que faz com
que o diagrama
T -
V V
π π
? T - ?
V /W V /W
seja comutativo. (Se W não é invariante por T , então a expressão dada acima para T
depende do representante da classe de equivalência, não definindo uma transformação
no quociente).
431
432 APPENDIX A. ÁLGEBRA LINEAR
pT (λ) = det(λ1 − T )
Vi = ker pm mi
i (T ) = {v ∈ V : pi (T )v = 0}.
i
Vi = {v ∈ V : (T − ai 1)mi v = 0},
ai 1
ai
.. .
.
ai 1
ai
Esses são os blocos de Jordan da transformação linear inicial T e uma matriz formada
por blocos desse tipo representa T em forma canônica de Jordan. Essa decomposição
mostra que T = S + N com S|V = a1 1, que é diagonal e N = T − S, que é nilpotente.
i
Essas três transformações lineares comutam entre si.
Em espaços vetoriais sobre corpos gerais, uma transformação linear T se decompõe
como
T =S+N
com S e N comutando entre si e também com T , N nilpotente e S semi-simples, isto
é, sua extensão ao fecho algébrico é diagonalizável. Além do mais, essa decomposição
é única.
tem-se que B não é degenerada se e só se o único elemento v ∈ V que satisfaz B(v, w)
para todo w ∈ V é v = 0.
Dada uma base β = {e1 , . . . , en } de V , a matriz de B na base β é definida como
sendo
[B]β = (B(ei , ej ))ij .
Se β ∗ = {1 , . . . , n } é a base dual de β (definida por i (ej ) = δ ij ), então a matriz [Bt ]ββ ∗
de Bt em relação as bases β e β ∗ coincide com [B]β . Dessa forma, vê-se que B não é
degenerada se e só se det[B]β 6= 0. A matriz de uma forma bilinear permite calculá-la
em coordenadas através da seguinte fórmula
onde [v]β é a matriz coluna das coordenadas de v em relação a β. Para fazer a mudança
de base da matriz de B, seja β 1 outra base. Então [v]β = P [v]β 1 onde P é a matriz de
mudança de base entre β 1 e β. Substituindo essa igualdade na fórmula para B, vê-se
que [B]β 1 = P t [B]β P .
Para qualquer subconjunto ∅ = 6 W ⊂ V o seu ortogonal em relação a B é dado por
W ⊥ = {v ∈ V : ∀w ∈ W, B (v, w) = 0}.
B1 (v, w) = B2 (T v, T w).
Se isso ocorre, então [B1 ]β = P t [B2 ]β P para toda base β onde P é a matriz de T .
A forma bilinear B é simétrica [respectivamente, anti-simétrica] se B(v, w) = B(w, v)
[= −B(w, v)]. Se uma forma bilinear é simétrica ou anti-simétrica o mesmo ocorre com
sua matriz em relação a qualquer base.
Para uma forma bilinear simétrica é possı́vel encontrar uma base
β = {e1 , . . . , en }
A.3. FORMAS BILINEARES 435
ortogonal em relação B, isto é, tal que B(ei , ej ) = 0 se i 6= j (isso se o corpo de escalares
não é de caracterı́stica dois). Para ver isso, tome
e⊥
1 = {v ∈ V : B(e1 , v) = 0}
[B] = diag{λ1 , . . . , λn }
B(fi , fj ) = 0 se i 6= j. Com isso, pode-se encontrar uma base β tal que a matriz de
uma forma bilinear anti-simétrica seja da forma
0k×k −Λ 0
Λ 0k×k 0
0 0 0l×l
onde Λ é uma matriz diagonal inversı́vel e l = n − 2k. Se a forma não é degenerada,
l = 0 e n = 2k, isto é, formas anti-simétricas não-degeneradas só ocorrem em dimensão
par.
Da mesma forma que no caso simétrico, pode-se escolher a matriz Λ de acordo com
os quadrados perfeitos no corpo de escalares. Por exemplo, se a forma não é degenerada
e o corpo de escalares é algebricamente fechado, multiplicando-se à esquerda e à direita
por uma matriz blocos da forma
a
a
com a matriz k × k inversı́vel, pode-se obter uma base em que Λ é a matriz identidade.
Já no caso do corpo dos reais, o mesmo procedimento permite obter uma base em que
Λ é uma matriz diagonal formada por ±1. Agora, trocando ei por fi nas posições em
que aparece −1, chega-se a uma base em que Λ é a matriz identidade. Por isso, todas
as formas anti-simétricas não-degeneradas em corpos algebricamente fechados ou no
corpo dos reais são equivalentes.
Uma maneira conveniente de escrever formas bilineares num espaço V é por in-
termédio de uma forma bilinear não-degenerada e transfomações lineares de V . Isso é
feito da seguinte maneira: Suponha que B e B1 sejam formas bilineares e que B não
seja degenerada. Pode-se, então, tomar P : V → V definida por
P = (Bt )−1 (B1 )t .
Pela forma como se definiu Bt : V → V ∗ , tira-se de imediato que
B1 (u, v) = B (P u, v)
para todo u, v ∈ V . As propriedades de B1 se tiram a partir das propriedades de P .
Por exemplo, B1 não é degenerada se e só se P é inversı́vel e se B é simétrica, então B1
é simétrica ou anti-simétrica se e só se P é simétrica ou anti-simétrica em relação a B.
Isso significa que
B(P u, v) = B(u, P v) ou B(P u, v) = −B(u, P v),
respectivamente.
VC = W1 ⊕ W1 ⊕ · · · ⊕ Ws ⊕ Ws ⊕ U1 ⊕ · · · ⊕ Ut
TC wl = aj wl + wl−1
Com a escolha feita das bases, a restrição de T aos auto-espaços generalizados reais
438 APPENDIX A. ÁLGEBRA LINEAR
A.4.2 Realificações
Seja V um espaço vetorial sobre C e V R o espaço vetorial sobre R, obtido por restrição
dos escalares a R. Considerado apenas como um conjunto, V R coincide com V e se
dim V < ∞, então dim V R = 2 dim V . Seja T : V → V uma transformação linear
(sobre os complexos). O seu polinômio caracterı́stico pode ser escrito como
pT (λ) = (λ − a1 )k1 · · · (λ − ar )kr
e T se decompõe em blocos de Jordan dados por conjuntos l.i, {w1 , . . . , wk } com
T wl = aj wl + wl−1 .
Evidentemente, T é uma transformação linear de V R . Seja U o subespaço de V
gerado por um conjunto {w1 , . . . , wk } que define um bloco de Jordan de T . Esse
conjunto l.i é uma base de U e U é invariante por T . Também é evidente que U é
um subespaço real de V R . Por outro lado, wl e iwl , l = 1, . . . , k, são linearmente
independentes sobre R, pois wl 6= 0. A partir daı́, verifica-se que
{w1 , iw1 , . . . , wk , iwk }
A.5. ÁLGEBRA TENSORIAL 439
é uma base de U quando esse subespaço é visto como espaço vetorial real. Escrevendo
aj = αj + iβ j , tem-se que
T wl = αj wl + β j (iwl ) + wl−1 e T (iwl ) = −β j wl + αj (iwl ) + iwl−1 .
Essas expressões fornecem a forma canônica de Jordan real de T como trans-
formação linear de V R . Ao longo da diagonal aparecem os blocos
αj −β j
,
β j αj
o que mostra que o polinômio caracterı́stico do realificado de T é dado por
q(λ) = (λ − a1 )k1 (λ − a1 )k1 · · · (λ − ar )kr (λ − ar )kr .
f : V1 × · · · × Vs −→ W
f˜ ◦ π = f
π(v1 , . . . , vs ) = v1 ⊗ · · · ⊗ vs .
⊗s V ou V ⊗s .
(V ⊗ W ) ⊗ U ≈ V ⊗ (W ⊗ U ) ≈ V ⊗ W ⊗ U
(v ⊗ w) ⊗ u ←→ v ⊗ (w ⊗ u) ←→ v ⊗ w ⊗ u.
V ⊗W ≈W ⊗V
Esses isomorfismos são chamados de naturais, pois eles dependem apenas das de-
finições dos espaços envolvidos e não requerem nenhuma escolha adicional. Um outro
isomorfismo entre produtos tensoriais é
Aqui o isomorfismo depende da escolha de uma dualidade, isto é, existem diversos
isomorfismos e nenhum deles é, do ponto de vista lógico, melhor que os outros. Uma
escolha canônica é feita associando o tensor α1 ⊗ · · · ⊗ αs com αi ∈ Vi∗ ao funcional
linear dado por
v1 ⊗ · · · ⊗ vs 7−→ α1 (v1 ) · · · αs (vs ).
O fato de que essa expressão define um funcional linear no produto tensorial vem do
comentário acima de que aplicações multilineares definidas em V1 × · · · × Vs se fatoram
em aplicações lineares do produto tensorial. É comum escrever esse isomorfismo como
uma dualidade entre os produtos tensoriais do duais e dos espaços, isto é, como uma
transformação bilinear h·, ·i a valores no corpo de escalares dada por
com vi ∈ Vi e αi ∈ Vi∗ .
Dois subespaços de V ⊗s que devem ser destacados são os espaços dos tensores simé-
tricos e o dos tensores anti-simétricos. Um tensor f ∈ V ⊗s é um funcional multilinear
no dual V ∗ . Assim, f é um tensor simétrico se para toda permutação σ dos ı́ndices
i = 1, . . . , s tem-se, para αi ∈ V ∗ ,
e o tensor é anti-simétrico se
onde |σ| é a ordem da permutação, que é par ou ı́mpar dependendo se σ pode ser escrito
como o produto de um número par ou ı́mpar de permutações simples (permutações de
dois elementos).
442 APPENDIX A. ÁLGEBRA LINEAR
ou por
1X
A (v1 ⊗ · · · ⊗ vs ) = (−1)|σ| vσ(1) ⊗ · · · ⊗ vσ(s) .
s! σ
Nessas fórmulas, o coeficiente normalizador é colocado para garantir que tanto S quanto
A sejam projeções, isto é, que suas restrições aos espaços dos tensores simétricos e
anti-simétricos, respectivamente, sejam a identidade. Sem essas normalizações, obtêm-
se ainda aplicações sobre os tensores simétricos e anti-simétricos mas que não são
projeções.
Com esses operadores, pode-se definir o produto simétrico
v1 · · · vs = S (v1 ⊗ · · · ⊗ vs )
v1 ∧ · · · ∧ vs = A (v1 ⊗ · · · ⊗ vs ) .
vi1 · · · vis i1 ≤ · · · ≤ is
é base de ∧s V .
A.5. ÁLGEBRA TENSORIAL 443
As somas X X
V = s V e ∧V = ∧s V
s≥0 s≥1
w ∧ v = (−1)pq v ∧ w
no caso simétrico e
X
hv1 ∧ · · · ∧ vs , α1 ∧ · · · ∧ αs i = (−1)|σ| ασ(1) (v1 ) · · · ασ(s) (vs ) (A.1)
σ
no caso dos produtos exteriores. Essas dualidades não são restrições das dualidades
1
entre os produtos tensoriais, pois o fator nas definições de S e A faz com que as
n!
1
restrições sejam as expressões dadas acima multiplicadas por . Por fim, a soma que
s!
aparece no segundo membro de (A.1) é nada mais nada menos que o determinante da
matriz s × s, (αi (vj ))i,j .
444 APPENDIX A. ÁLGEBRA LINEAR
Bibliography
445
446 BIBLIOGRAPHY
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448 BIBLIOGRAPHY
Index
449
450 INDEX
decomposição grupo
de Cartan, 337 cristalográfico, 260
de Iwasawa, 405 de Coxeter, 260
de Jordan, 431 de Weyl, 230
minimal, 246 finito, 230
primária, 430 grupo infinitesimal, 51
derivação, 35, 77
Haar
decomposição de Jordan, 79, 90
medida de, 328
em álgebras semi-simples, 89
Heisenberg
interna, 35
álgebra de, 23, 52
diagrama
homomorfismo, 19
de Dynkin, 169, 185
de Satake, 363 ideal, 21
diferencial exterior, 122 à esquerda, 266
dualidade, 52 à direita, 267
Dynkin bilateral, 267
diagrama de, 169, 185 identidade de Jacobi, 15
ı́ndice de uma representação, 416
elemento de Casimir, 316 inversa de matriz de Cartan, 314, 365
elemento de Coxeter, 263 involução
elemento primitivo, 284 de Cartan, 338
elemento regular, 101, 238 principal, 250
real, 343 isomorfismo, 19
Engel Iwasawa
teorema de, 61 decomposição de, 405
espaço racional, 157
estrutura complexa, 320 Jacobi
adaptada, 322 identidade de, 15
estrutura quaterniônica, 418 Jacobson-Morozov
extensão canônica, 387 teorema de, 173
Jordan
forma bilinear, 431 decomposição de, 431
anti-simétrica, 433 forma canônica de, 431
invariante, 52
Killing, 143
simétrica, 432
fórmula de, 154
forma canônica de Jordan, 431
número de, 154, 233
real, 436
forma real, 322 lema
compacta, 328 de Morozov, 98
normal, 344 de Schur, 81
forma traço, 82 de Whitehead, 131
de Cartan-Killing, 82 Levi
fórmula da dimensão de Weyl, 297 componente de, 135
fórmulas de comutação, 63 Lie
INDEX 451
teorema
de Ado, 281
de Cayley-Hamilton, 430
de decomposição de Weyl, 134
de Engel, 57, 61, 73
de Jacobson-Morozov, 173
de Levi, 135
de Lie, 68, 70
de Poincaré-Birkhoff-Witt, 270
tipo
de álgebra de Lie real, 324
de representação real, 407
truque unitário de Weyl, 138
Weyl
base de, 329
câmara de, 238
fórmula da dimensão de, 297
grupo de, 230
truque unitário de, 138
Whitehead
lemas de, 131
Zassenhaus, 73