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ADOLESCENTES.
Curitiba
2010
Paula Cristina Estival de Lara
ADOLESCENTES.
Curitiba
2010
TERMO DE APROVAÇÃO
Paula Cristina Estival de Lara
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Especialista em Psicologia
Clínica – Abordagem Psicanalítica, no curso de pós-graduação em Psicologia Clínica da
Universidade Tuiuti do Paraná.
_____________________________________________
Profª. Ângela Mara Silva Valore
Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
_______________________________________________
Prof. Dr. Jorge Sesarino
Universidade Tuiuti do Paraná – UTP
conhecimento.
momentos.
desta monografia.
Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro.
(O outro- Adriana Calcanhoto)
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 8
2. DESENVOLVIMENTO................................................................................ 9
2.1.1. Transferência.............................................................................. 9
2.1.2. Adolescência............................................................................. 17
3. CONCLUSÃO............................................................................................ 28
REFERÊNCIAS............................................................................................... 29
RESUMO
definições diz ser a ação ou efeito de transferir (-se). A partir dessa definição
transferência.
fase da adolescência, que em análise, exigem que o psicanalista esteja atento para
2.1.1 Transferência
a transferência não foi uma descoberta de Freud, mas sim o seu uso no trabalho
(STRYCKMAN,1997)
histérica, Freud tinha a impressão de que tudo que ouvia iria contribuir apenas no
sentido da compreensão das neuroses. Entretanto, mais tarde Freud deu uma nova
interpretação com a reconstrução do caso da jovem histérica. Foi mais pelo “acaso”
Stryckman (1997) nos afirma que foi a partir das influências de Charcot,
Na obra Interpretação dos sonhos (1900) aparece pela primeira vez o termo
transferência e seu autor Freud elabora uma nova concepção desta, elucidando que
a mesma é constituída de restos diurnos vazios de sentido, puro material
descobre que a transferência não era mais pensável como uma relação
intersubjetiva, e por isso não poderia ser constituída por relação interpessoal e
realidade, de fantasias que são substituídas de uma pessoa anterior para o analista.
forma pela qual o sujeito vive sua vida amorosa. O analisante integraria o analista
tornou inconsciente.
a distinção delas.
Ademais, o referido autor afirma que a transferência seria composta por dois
Sobre a transferência positiva ainda nos explica que ela permite que o
paciente fale mais livremente sobre as coisas que lhe são mais difíceis.
analista.
levar em conta a resistência e representa uma conciliação entre as forças que estão
p.115)
lembranças.
Freud (1914) nos ensina sobre o manejo da transferência como sendo o principal
relação do sujeito ao seu saber inconsciente fez com que Lacan desenvolvesse o
Sobre esse conceito Chemama (2005) instrui que na procura pela análise o
que venha aliviar seu sofrimento e supõe ao analista um saber sobre esse
sofrimento e uma resposta para aliviá-lo. O analista, pela sua presença real e pela
sua fala devolve para o sujeito aquilo que lhe foi direcionado, dessa forma o eixo
Viana (2007) nos instrui dizendo que quando instalado o sujeito suposto
que sabe tudo ou de alguém que não sabe nada, mas permitir que o psicanalisante
transferência:
dizia Freud, mas sim uma atualização da realidade do inconsciente, atualização esta
presença que faz ato, faz com que haja a dimensão simbólica da transferência,
entrevistas preliminares.
Viana (2007) afirma que para se dar início a uma análise, é preciso que o
analista tome uma decisão, decisão de aceitar ou não um sujeito em análise. Para
Ademais, a autora nos diz que esse período das entrevistas serve de meio
permitindo que se enuncie uma dimensão de análise pela via de escutar do sujeito
sobre uma atualização do seu mito, concluindo algo sobre uma leitura estrutural.
precipitadamente, sendo que quem deve dar sentido à sua fala é o próprio
analisante, mantendo segundo Freud (1912) uma “atenção uniformemente
suspensa”.
colocados à prova, ocorrem confrontos entre aquilo que foi transmitido pelos pais e o
mudanças no corpo.
pré-concebida. Esse real traz um aspecto catastrófico, aparece como uma doença
ou como um acidente, afeta também a imagem do Outro, que até então são seus
pais, e é sobre tudo isso que o sujeito adolescente vai elaborar suas questões.
Já o registro do Imaginário tem um novo desenvolvimento na adolescência e
que era encarnado pelos pais. O que é experienciado aqui é a sensação de que “isto
Imaginário “conta para dar sentido à vida, ao preço irremediável à imagem infantil do
corpo.” (1999)
há uma prioridade do laço fraterno ao laço parental, ocorre a “saída da família” para
primeiro momento ele tenta colocar o psicanalista na mesma posição que qualquer
sua demanda.
lo, coloca-o na mesma posição em que colocaria qualquer outro adulto, a quem
contesta e se opõe.
do seu sintoma, que pode não vir a ser o mesmo para seus pais, ou para o seu
meio.
O sujeito adolescente pensa de modo sistemático; constrói teorias abstratas,
exige uma lógica sem falhas, censura aqueles que não seguem às premissas que
colocam até o fim. Esse modo de pensar leva o adolescente a tentar colocar o
psicanalista seria aquele que teria resposta para tudo, alguém sem defeitos.
tudo explicar, deve abrir mão de ser tomado como um sujeito que tudo sabe. Ao
invés disso deve propiciar que as questões do adolescente sejam abertas e deixá-
las abertas, deixá-lo com a sua demanda. Dessa forma o sujeito suposto saber é
na análise das determinações simbólicas, e não o que ela é num primeiro tempo, um
psicanalista corre esse outro risco de ser colocado na posição de cúmplice, pelo
adolescente. Isso pode vir acontecer segundo Rassial quando “ao compadecer-se
sob um modo histérico com a solidão do adolescente, [...], corre o risco de erotizar a
posição que venha interditar a análise, ou levá-la ao seu fracasso, pelo seu modo de
pensar, pelas incertezas que o tomam, pela constante desvalorização dos adultos.
vem por ele mesmo procurar a ajuda da análise. Entretanto, mesmo que a procura
desta análise tenha sido feita por iniciativa dos pais, pode se ter bons resultados.
puberdade, o psicanalista pode acolhê-la em análise pela demanda dos pais, mas
um problema delicado.
Um adolescente que tenha entrado em análise pela demanda dos pais pode
denotar uma demissão da parte deles ao procurar o psicanalista, e este pode ser
analista para o adolescente, Rassial (1999) nos instrui que é preciso que a demanda
conflito entre o adolescente e a família, o outro seria dele ser tomado como um
2004)
que podem ser mais favoráveis e sem problemas delicados para o analista, são
mesmo, pois como explica Rassial (1999, p.171) “[...] se há autorização ela não
adolescente está ainda se apropriando desse sintoma que é o que garante seu ser.
numa relação com a língua, pela ordem simbólica provida do lado do Outro.
Esse autor ainda afirma que o psicanalista deve manter-se em sua solidão,
que afeta seu ato. O ato do psicanalista não deve estar ligado a nenhuma demanda
externa, a nenhuma exigência da sociedade ou de terceiros, contudo ele deve
manter-se em sua solidão, não a que afeta o seu ser, mas a que afeta o seu ato.
funda seu desejo deixando agir um desejo que não capta outra coisa senão as
palavras.
instrui que o que deve ser priorizado são as desconstruções das figuras imaginárias
reformulação de sua posição, onde o Outro e o objeto recebem novo valor psíquico.
(1999, p.49)
realmente aconteça o início da cura analítica, ainda que com objetivo e prioridades
é regido por uma lógica ligada à apropriação do sintoma, ordenado pela repetição,
E mais, Rassial afirma que, “[...] o analista seria aquele que permitiria ao
essa tia quem paga suas sessões e que durante algumas entrevistas iniciais estava
sempre presente no discurso de Mariana como aquela que lhe dizia o que fazer:
“minha tia disse que, minha tia disse para...”. Até a segunda entrevista inicial a tia a
vem sozinha.
Os pais de Mariana, segundo ela mesma, não sabem de sua procura pelo
A queixa inicial de Mariana recai sobre sua vida ser um paradoxo, sobre o
fato de seus pais terem lhe imposto uma religião. Queixa-se também de se sentir
frustrada por ver seus pais falaram de um jeito correto de viver, mas que eles
disse esperar encontrar uma amiga, com quem pudesse conversar. Nesse momento,
a psicóloga deveria ter questionado sobre esse significante: amiga, ao invés disso
simbolizada.
O risco de que tanto nos advertiu Rassial (1999) foi vivenciado, o risco de
amorosas. Relata sobre beijos triplos, com amigos gays. Diz também estar
namorando de “mentirinha”, sendo ela lésbica e o namorado gay. Diz não gostar de
meninos, e inventou o namoro falso para sua mãe parar de “enchê-la” para arranjar
que a pode escolher e esta responde que não sabe, pois nunca tinha pensado nisso.
Mariana fazia coisas para a mãe ver. Aos 12 anos diz ter fumado pela
primeira vez, esperando que a mãe a pegasse fumando. Aos 13 anos diz ter perdido
14 anos diz ter tido sua primeira namorada. Após essas tentativas frustradas, fez
escrever, se matar. Contudo, afirma na ocasião que ao falar nisso, tudo pareceu
sem sentido. Conta que em um determinado dia deixou sua mochila aberta em seu
quarto, enquanto dormia no sofá da sala. O pai pega seu pendrive, onde tinham
vídeos com a namorada da ocasião. Foi nesse momento, segundo Mariana que
seus pais souberam de tudo o que ela tinha feito, e que confessou tudo o que fez.
e então abortado por conta da grande quantidade de remédios que tinha ingerido.
A respeito das convulsões, diz ter desde os 3 anos de idade, aos 13 anos foi
ao neurologista que lhe receitou remédio. Ainda durante o período de entrevistas diz
ter tido nova convulsão. Fez exames neurológicos e nenhuma lesão foi detectada.
Relata lembrar-se de algumas vezes ter forçado desmaios e que depois desmaiava
estava freqüentando e fazendo os pagamentos. A psicóloga diz à tia que nada lhe
será dito sobre os atendimentos a Mariana, mas sim, que ela estava vindo ao
consultório. Na sessão com Mariana, é contado pela psicóloga que sua tia havia
sinceramente, que essa atitude da tia tenha partido de seus pais, e não da própria
tia, em quem mais confiava e que segundo Mariana, era a única que via sua
mudança. Diz não saber o porquê do telefonema e se pergunta quando os pais irão
acreditar nela.
inicial da análise. As questões sobre sua sexualidade não foram mais faladas, porém
conta dos pagamentos, por não ter dinheiro para pagar a sessão - mas retornava na
semana seguinte. E outras vezes foram necessárias que a própria psicóloga fizesse
contato telefônico.
Rassial (1999) nos alerta que o psicanalista deve ter uma atitude profissional
sustentada pela análise e pela supervisão. O caso em questão estava sendo levado
questões levantadas pela paciente, passaram sem serem significadas, o que fez
com que a escuta da psicóloga estivesse muito prejudicada. Muito foi ouvido, e
Por todo o visto pode-se dizer que este manejo trata-se do analista não
aceitar, nem rejeitar a demanda do paciente, mas colocar este para “trabalhar”,
fazendo com que ele fale sobre a mesma. Todavia, acolhendo a demanda, produz-
se a transferência.
de seu ato, mas de estar atento para as posições em que esse adolescente tentará
adolescentes trata-se de que o analista leve a sério sua análise pessoal, sua
supervisão, pois quanto mais este é analisado, mais ele sente a transferência, não
conflito com a lei. In: BASTOS, R.; ÂNGELO, D.; COLNAGO, V. Adolescência,
Fronteira, 1993.
Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. IV. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
1905). Obras psicológicas de Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. VII.
Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. p.111 -
119.
Sigmund Freud: Edição Standard Brasileira, Vol. XII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
p. 175 - 188.
FREUD, S. Recordar, repetir e elaborar (novas recomendações sobre a técnica
da psicanálise II) (1914). In:__ - O caso Schereber, Artigos sobre técnica e outros
1998.
Elsevier, 2004.
2002.
RASSIAL, J.J. O Adolescente e o Psicanalista. Rio de Janeiro: Companhia de
Freud, 1999.
psicanálise: Freud & Lacan. Salvador, BA: Ágalma, 1997, p. 259 – 305.
julho-dezembro, 2007.