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Prisão cautelar: requisitos e medidas alternativas Prisão cautelar: requisitos e medidas alternativas
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A Turma afastou, de igual modo, fundamento A Turma enfatizou que teriam sido aplicadas
prisional referente à necessidade de resguardo da medidas acauteladoras diversas da prisão para
ordem pública, ante a gravidade dos crimes outros investigados com situação análoga à do
imputados, bem assim alusivo à necessidade de paciente, com a eficácia pretendida. Embora o
resguardar a confiança da sociedade nas paciente não tivesse se disponibilizado à
instituições. A jurisprudência da Corte, no ponto, colaboração premiada, essa circunstância não seria
afirmaria que, por mais graves e reprováveis que relevante, mesmo porque a custódia processual
não poderia servir de instrumento para obter A Segunda Turma, em julgamento conjunto, por
colaboração por parte do preso. Vencidos os entender presentes situação de flagrância, bem
Ministros Cármen Lúcia e Celso de Mello, que como os requisitos do art. 312 do CPP, referendou
denegavam a ordem. Entendiam cabível a prisão decisão do Ministro Teori Zavascki (relator), que
cautelar imposta, pois outras medidas não se decretara prisão cautelar de senador. Referendou,
mostrariam suficientes para garantir a instrução também, as demais decisões prisionais proferidas
processual. Em passo seguinte, a Turma, por em relação a assessor desse mesmo senador,
decisão majoritária, deliberou, com base no art. advogado e banqueiro. O Colegiado determinou,
580 do CPP, estender os efeitos dessa decisão — ainda, que os autos fossem imediatamente
inclusive quanto às medidas cautelares impostas remetidos ao Senado para que, pelo voto da
— a outros investigados contra os quais teria sido maioria de seus membros, resolvesse sobre a
decretada prisão preventiva, também dirigentes de prisão de seu integrante, nos termos do art. 53, §
empresas envolvidas nos fatos sob exame. 2º, da Constituição (―Art. 53. Os Deputados e
Analisou que os fundamentos utilizados para as Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
respectivas prisões, quando não idênticos, seriam quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. ... §
assemelhados aos do decreto exarado em desfavor 2º. Desde a expedição do diploma, os membros do
do paciente. Assim, também seria cabível a Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo
substituição da prisão por outras medidas, como em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os
no caso do paciente (CPP, art. 282, § 6º). Não autos serão remetidos dentro de vinte e quatro
obstante, haveria outros investigados cuja situação horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da
não seria semelhante, de modo a não caber a maioria de seus membros, resolva sobre a
extensão. Vencidos, no ponto, os Ministros prisão.‖). Na espécie, o Procurador-Geral da
Cármen Lúcia e Celso de Mello. República requerera medidas restritivas de
HC 127186/PR, rel. Min. Teori Zavascki, liberdade em relação às pessoas mencionadas pelo
28.4.2015. (HC-127186) fato de empreenderem esforços para dissuadir
(Informativo 783, 2ª Turma) outrem de firmar acordo de colaboração premiada
Gravidez e prisão preventiva submetido à homologação do STF. As tratativas
A Constituição assegura às presidiárias condições dos ora investigados com o pretenso beneficiário
para que possam permanecer com seus filhos do referido pacto compreendiam desde auxílio
durante o período da amamentação e enfatiza a financeiro destinado à sua família, assim como
proteção à maternidade e à infância. Com base promessa de intercessão política junto ao Poder
nessa orientação, a Segunda Turma concedeu a Judiciário em favor de sua liberdade. Nas
ordem em ―habeas corpus‖ para revogar a prisão conversas gravadas, os interlocutores discutiram a
preventiva decretada. Na espécie, a paciente fora possibilidade de o senador interceder
presa em flagrante pela suposta prática do delito politicamente junto a Ministros do STF para a
descrito no art. 33 da Lei 11.343/2006. Grávida de concessão de ―habeas corpus‖ que beneficiasse o
sete meses, ela fora recolhida a uma penitenciária pretenso colaborador na delação premiada. A
desprovida de estrutura física para acolhimento de Turma anuiu haver estado de flagrância na prática
presas nessa condição. A Turma reputou que a do crime do art. 2º, ―caput‖ e § 1º, da Lei
prisão provisória decretada em desfavor da 12.850/2013 (―Art. 2º. Promover, constituir,
paciente não atendera aos requisitos do art. 312 do financiar ou integrar, pessoalmente ou por
CPP, especialmente no que diz respeito à interposta pessoa, organização criminosa: ... § 1º.
indicação de elementos concretos que, ao Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de
momento da decretação, fossem imediatamente qualquer forma, embaraça a investigação de
incidentes a ponto de justificar a constrição. infração penal que envolva organização
Asseverou, ainda, que não se poderia olvidar que a criminosa‖), porquanto os participantes atuariam
paciente estaria em estágio avançado de gravidez com repartição de tarefas e unidade de desígnios.
[CPP: ―Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão AC 4036 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori
preventiva pela domiciliar quando o agente for: ... Zavascki, 25.11.2015. (AC-4036)
IV – gestante a partir do 7º (sétimo) mês de AC 4039 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori
gravidez ou sendo esta de alto risco‖]. Zavascki, 25.11.2015. (AC-4039)
HC 128381/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, (Informativo 809, 2ª Turma)
9.6.2015. (HC-128381) Senador e prisão preventiva - 2
(Informativo 789, 2ª Turma) Para o Colegiado, a menção a interferências, a
Senador e prisão preventiva - 1 promessas políticas no sentido de obter decisões
favoráveis por parte de Ministros do STF aqueles que resultem de violação às normas de
constituiria conduta obstrutiva de altíssima direito penal, a gravação de conversa feita por um
gravidade. O ostensivo desembaraço do dos interlocutores sem o conhecimento dos demais
congressista teria mostrado que a conduta em que é considerada lícita, para os efeitos da aludida
incorrera não causara a ele desconforto nem vedação constitucional, quando não esteja
exigira a superação de obstáculos morais. Isso presente causa legal de sigilo ou de reserva da
sinalizaria, por sua vez, que o mencionado conversação.
parlamentar não mediria esforços para embaraçar AC 4036 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori
o desenvolvimento das investigações encartadas Zavascki, 25.11.2015. (AC-4036)
na denominada ―Operação Lava Jato‖. Inclusive, AC 4039 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori
ele teria deixado transparecer que exploraria o Zavascki, 25.11.2015. (AC-4039)
prestígio do cargo que ocupa para exercer (Informativo 809, 2ª Turma)
influência sobre altas autoridades da República. Senador e prisão preventiva - 3
Conforme conversas gravadas, as partes A Turma asseverou que a conduta por parte do
envolvidas e demais interlocutores teriam filho do candidato à delação premiada no sentido
discutido, abertamente, meios e rotas de fuga do de gravar reuniões com o senador e demais
Brasil, por parte do candidato à delação premiada, participantes não revelaria violação à normativa
caso o STF viesse a conceder-lhe ―habeas corpus‖. constitucional. Portanto, não macularia os
Os Ministros aduziram que a participação de elementos de provas colhidos até agora. As provas
senador em planejamento de fuga de preso à concretas e específicas presentes nos autos teriam
disposição do STF constituiria situação, além de demonstrado as tratativas das partes para que a lei
verdadeiramente vexaminosa, incrivelmente penal não fosse aplicada. A representação
perigosa para a aplicação da lei penal, inclusive apresentada teria a participação de senador que
para outros investigados e réus na ―Operação Lava estaria atentando, em tese, com suas supostas
Jato‖. Essa participação traduziria claro condutas criminosas, diretamente contra a própria
componente de incentivo ao curso de ação jurisdição do Supremo Tribunal Federal. No
consistente na fuga: o respaldo de ninguém menos âmbito das prisões cautelares para os
que o líder do governo no Senado para representantes do Senado, somente se admitiria a
estratagema dessa estirpe funcionaria, modalidade de prisão em flagrante decorrente de
potencialmente, como catalisador da tomada de crime inafiançável em tese. Dos delitos apontados
decisão nesse sentido. A Turma enfatizou, ainda, como praticados pelo senador consta, dentre eles,
que o fato de um dos ora investigados possuir o de organização criminosa — crime permanente
cópia de minuta de anexo de acordo de —, a contemplar não só a possibilidade de
colaboração premiada, a ser submetido à flagrante a qualquer tempo como até mesmo a
homologação, revelaria a existência de perigoso chamada ―ação controlada‖, nos termos da Lei
canal de vazamento, com fortes indícios de terem 12.850/2013 (―Art. 8º. Consiste a ação controlada
sido obtidos de forma ilícita, cuja amplitude ainda em retardar a intervenção policial ou
seria desconhecida, o que afrontaria a Lei administrativa relativa à ação praticada por
12.850/2013 (―Art. 7º. O pedido de homologação organização criminosa ou a ela vinculada, desde
do acordo será sigilosamente distribuído, contendo que mantida sob observação e acompanha mento
apenas informações que não possam identificar o para que a medida legal se concretize no momento
colaborador e o seu objeto‖). Nesse contexto, o mais eficaz à formação de provas e obtenção de
requerimento de prisão preventiva teria informações‖). A hipótese presente é de
demonstrado de maneira robusta, com base no inafiançabilidade, nos termos do CPP [―Art. 324.
material indiciário colhido até o momento, a Não será, igual mente, concedida fiança: ... IV -
existência do ilícito - materialidade - e dos quando presentes os motivos que autorizam a
indícios suficientes de autoria. Indicaria ainda, a decretação da prisão preventiva (art. 312)‖].
possível existência de graves crimes contra a Segundo a Turma, a decisão ora referendada teria
Administração da Justiça, contra a Administração como um de seus principais fundamentos a
Pública, de organização criminosa e mesmo de garantia da instrução criminal, das investigações,
lavagem de dinheiro, para a consecução dos quais aliado à higidez de eventuais ações penais
teria havido supostamente importante participação vindouras, tendo em vista a concreta ocorrência e
dos requeridos. Embora o art. 5º, LVI, da a possibilidade de interferência no depoimento de
Constituição desautorize o Estado a utilizar-se de testemunhas e na produção de provas,
provas obtidas por meios ilícitos, considerados circunstâncias que autorizariam a decretação da
custódia cautelar, nos termos da juris prudência da declarada pelo STJ, para concluir pela existência
Corte. Assim, a necessidade de resguardar a de elementos probatórios idôneos para justificar a
ordem pública, seja pelos constantes atos pratica condenação. Apenas parte da apuração teria sido
dos pelo grupo (cooptação de colaborador, comprometida pelas provas obtidas a partir dos
tentativa de obtenção de decisões judiciais dados bancários encaminhados ilegalmente à
favoráveis, obtenção de documentos judiciais Receita Federal. Evidenciada, pela instância
sigilosos), pela fundada suspeita de reiteração ordinária, a ausência de nexo causal entre os
delitiva, pela atualidade dos delitos (reuniões elementos de prova efetivamente utilizados e os
ocorridas no corrente mês), ou ainda pela considerados ilícitos, não se poderia dizer que o
gravidade em concreto dos crimes, que atentariam suporte probatório ilegal contaminara todas as
diretamente contra os poderes constitucionalmente demais diligências.
estabelecidos da República, não haveria outra HC 116931/RJ, rel. Min. Teori Zavascki,
medida cautelar suficiente para inibir a 3.3.2015. (HC-116931)
continuidade das práticas criminosas, que não a (Informativo 776, 2ª Turma)
prisão preventiva. Produção antecipada de prova e necessidade de
AC 4036 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori fundamentação
Zavascki, 25.11.2015. (AC-4036) É incabível a produção antecipada de prova
AC 4039 Referendo-MC/DF, rel. Min. Teori testemunhal (CPP, art. 366) fundamentada na
Zavascki, 25.11.2015. (AC-4039) simples possibilidade de esquecimento dos fatos,
(Informativo 809, 2ª Turma) sendo necessária a demonstração do risco de
Provas perecimento da prova a ser produzida (CPP, art.
Prova ilícita: desvinculação causal e condenação 225). Essa a orientação da Segunda Turma ao
A 2ª Turma denegou a ordem em ―habeas corpus‖ conceder ordem de ―habeas corpus‖ para
em que alegada ausência de justa causa para a reconhecer a nulidade de prova testemunhal
propositura de ação penal em desfavor do produzida antecipadamente. Tal prova apresentava
paciente, então denunciado, em concurso de como justificativa que ―as testemunhas são
agentes, pela suposta prática do crime do art. 168- basicamente policiais responsáveis pela prisão,
A do CP e dos delitos previstos no art. 1º, I, II e cuja própria atividade contribui, por si só, para o
parágrafo único, da Lei 8.137/1990. A defesa esquecimento das circunstâncias que cercam a
sustentava que a peça acusatória embasara-se em apuração da suposta autoria de cada infração
prova ilícita, constituída por elementos colhidos penal‖. Em consequência, determinou-se o
mediante quebra de sigilo bancário requisitado desentranhamento dos respectivos termos de
diretamente pela Receita Federal às instituições depoimento dos autos.
financeiras. A Turma consignou que o STJ, ao HC 130038/DF, rel. Min. Dias Toffoli,
conceder parcialmente a ordem em ―habeas 3.11.2015. (HC-130038)
corpus‖ lá apreciado, reconhecera a nulidade da (Informativo 806, 2ª Turma)
prova colhida ilicitamente, mas deixara de trancar
a ação penal, tendo em conta remanescerem outros Recursos
elementos de prova, regularmente colhidos, que
seriam suficientes para atestar a materialidade e Recurso exclusivo da defesa e circunstância
autoria dos delitos. Ademais, tendo em conta essa fática não reconhecida em primeiro grau
decisão proferida pelo STJ, o juízo de 1º grau Não caracteriza ―reformatio in pejus‖ a decisão de
reanalisara a viabilidade da ação penal, a despeito tribunal de justiça que, ao julgar recurso de
das provas então consideradas nulas, e concluíra apelação exclusivo da defesa, mantém a
pela existência de justa causa amparada por outras reprimenda aplicada pelo magistrado de primeiro
provas. Na ocasião, não apenas as provas ilícitas grau, porém, com fundamentos diversos daqueles
foram retiradas dos autos, como os fatos a ela adotados na sentença. Esse o entendimento da 1ª
relacionados também foram desconsiderados. Turma que, em conclusão de julgamento e por
Posteriormente à impetração perante o STF, fora maioria, negou provimento a recurso ordinário em
prolatada sentença condenatória, na qual nenhuma ―habeas corpus‖ por ausência de constrangimento
prova produzida ilegalmente fora utilizada para a ilegal ou abuso de poder a ferir direito do
condenação. O juízo natural da ação penal, com recorrente. Na espécie, a defesa alegava que o
observância do contraditório, procedera ao exame tribunal ―a quo‖ teria promovido indevida
do suporte probatório produzido, e afastara dele o inovação de fundamentação ao agregar motivo —
que lhe poderia contaminar pela ilicitude personalidade voltada para o crime — que não
fora invocado pelo juízo de origem para exasperar e de 17.2.2014, respectivamente). Vencidos os
a pena-base em dez meses. A Turma asseverou Ministros Teori Zavascki, Edson Fachin, Roberto
que o tribunal local apenas procedera à correta Barroso e Rosa Weber, que indeferiam o pleito
qualificação de elemento equivocadamente por considerarem incabível a aplicação analógica
considerado pelo magistrado de primeira do art. 191 do CPC ao prazo previsto no art. 4º da
instância, na fixação da pena-base, como Lei 8.038/1990.
resultante da conduta social do agente, que deveria Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki,
ter se inserido na avaliação de sua personalidade. red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 3.9.2015. (Inq-
Observou que o fato de o juízo de primeiro grau 3983)
haver afirmado não existirem elementos que (Informativo 797, Plenário)
permitissem a avaliação negativa da personalidade Denúncia e prazo em dobro para resposta à
do agente, e, ainda assim, analisá-los sob prisma acusação
diverso, não impediria que se reconhecesse o Em face da importância da fase pré-processual da
equívoco dessa mensuração. Dessa forma, ao denúncia, a Segunda Turma, por maioria, deu
proceder à correta classificação entre as provimento, em parte, a agravo regimental em
circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, não inquérito para deferir o prazo em dobro para que o
significaria suplementação da fundamentação denunciado apresente sua resposta. Na espécie, o
adotada. Pontuou que, no caso, o que se haveria de requerente fizera dois pedidos: a) que tivesse
definir seria a amplitude do efeito devolutivo acesso à integralidade da prova disponível à
próprio do recurso de apelação. Frisou que a acusação, com a reabertura de prazo para a
apelação examinara o tema colocado pela defesa resposta preliminar; e b) que o prazo de 15 dias do
— dosimetria da pena — e, nesse ponto, o tribunal art. 4º da Lei 8.038/1990 (―Art. 4º - Apresentada a
poderia concluir e reexaminar a matéria, conforme denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a
o fizera. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e notificação do acusado para oferecer resposta no
Luiz Fux, que davam provimento ao recurso. O prazo de quinze dias‖) fosse contado em dobro,
Ministro Marco Aurélio aduzia que não se poderia por aplicação analógica do art. 191 do CPC (―Art.
utilizar de recurso da defesa para se corrigir o 191 - Quando os litisconsortes tiverem diferentes
pronunciamento da primeira instância, ainda que a procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os
pena tivesse sido mantida no mesmo patamar. prazos para contestar, para recorrer e, de modo
Destacava que, precluso o recurso para o geral, para falar nos autos‖). Quanto ao termo ―a
Ministério Público, não poderia o Estado-acusador quo‖ do prazo, a Turma denegou o pedido, porque
obter vantagem a partir do recurso da defesa. toda a documentação que teria relação direta com
RHC 119149/RS, rel. Min. Dias Toffoli, a denúncia estaria disponível na secretaria do STF
10.2.2015. (RHC-119149) para que a defesa procedesse à devida resposta.
(Informativo 774, 1ª Turma) Por outro lado, em nome do princípio da ampla
Requisito de Admissibilidade Recursal defesa, deferiu a concessão do prazo em dobro.
Litisconsórcio e prazo em dobro para a resposta Destacou que o art. 4º da Lei 8.038/1990
à acusação permitiria, nessa fase processual, que o
É cabível a aplicação analógica do art. 191 do denunciado oferecesse resposta às imputações
CPC (―Quando os litisconsortes tiverem diferentes penais que contra ele tivessem sido deduzidas pelo
procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os Ministério Público. A amplitude material da
prazos para contestar, para recorrer e, de modo defesa alcançaria não apenas preliminares ou
geral, para falar nos autos‖), ao prazo previsto no questões formais, mas também o próprio mérito da
art. 4º da Lei 8.038/1990 (―Apresentada a imputação penal. Abarcaria, ainda, a possibilidade
denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a de o Tribunal, após o oferecimento da denúncia,
notificação do acusado para oferecer resposta no exercer o controle de admissibilidade da acusação
prazo de quinze dias‖). Com base nesse penal, ao acolher, receber ou rejeitar a denúncia e
entendimento, o Plenário resolveu questão de mesmo julgar improcedente o pedido e, em
ordem suscitada pelo Ministro Teori Zavascki consequência, proferir juízo de absolvição penal,
(relator) e, em consequência, deferiu, por maioria, nos termos da Lei 8.038/1990 (―Art. 6º - A seguir,
o pedido formulado por denunciado no sentido de o relator pedirá dia para que o Tribunal delibere
que lhe fosse duplicado o prazo de oferecimento sobre o recebimento, a rejeição da denúncia ou da
de resposta à acusação. A Corte reiterou, desse queixa, ou a improcedência da acusação, se a
modo, o que decidido na AP 470 AgR-vigésimo decisão não depender de outras provas‖). Vencido
segundo e vigésimo quinto/MG (DJe de 24.9.2013 o Ministro Teori Zavascki (relator), que negava
provimento ao agravo regimental. Apontava presente estágio processual seria prematuro, na via
tratar-se de um prazo em que a ação penal sequer sumaríssima do ―habeas corpus‖, proceder à
fora instaurada e, por isso, não se poderia aferir a configuração de dolo eventual. Anotava que o
existência de litisconsórcio, justamente porque as magistrado que estivesse a conduzir o processo
partes na ação penal ainda não estariam definidas. penal de conhecimento teria mais condições do
Afirmava que esse tipo de manifestação não teria que a Corte para, ao coligir todos os dados
relação com as situações previstas no CPC que informativos, formar a sua própria convicção.
pudessem estabelecer uma analogia, como seria o Assim, a partir desse ponto ele iria pronunciar ou
caso dos recursos. impronunciar o réu, desclassificar o delito para
Inq 4112/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, outro que não se incluísse na competência penal
red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, do júri, ou até mesmo absolve-lo sumariamente.
1º.9.2015. (Inq-4112) HC 113598/PE, rel. Min. Gilmar Mendes,
(Informativo 797, 2ª Turma) 15.12.2015. (HC-113598)
Sentença (Informativo 812, 2ª Turma)
Tribunal do júri e novo enquadramento fático- Tribunal do Júri
jurídico Art. 478, I, do CPP e leitura de sentença
Se houver incorreto enquadramento fático-jurídico prolatada em desfavor de corréu
na capitulação penal, que repercuta na A leitura, pelo Ministério Público, da sentença
competência do órgão jurisdicional, admite-se, condenatória de corréu proferida em julgamento
excepcionalmente, a possibilidade de o anterior não gera nulidade de sessão de
magistrado, antes da pronúncia e submissão do réu julgamento pelo conselho de sentença. Com base
ao júri popular, efetuar a desclassificação para nesse entendimento, a 1ª Turma negou provimento
outro tipo penal e encaminhar o feito ao órgão a recurso ordinário em ―habeas corpus‖ em que
competente. Com base nessa orientação e, em face discutida a nulidade da sentença condenatória
da peculiaridade do caso concreto, a Segunda proferida pelo tribunal do júri. Apontava o
Turma, por maioria, concedeu, em parte, a ordem recorrente que o Ministério Público teria
em ―habeas corpus‖ para afastar o dolo eventual impingido aos jurados o argumento de autoridade,
homicida, com a retirada da competência do em afronta ao CPP (―Art. 478. Durante os debates
tribunal do júri. O magistrado competente deve as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer
então proceder ao correto enquadramento jurídico referências: I - à decisão de pronúncia, às decisões
mediante a análise do contexto fático-probatório, posteriores que julgaram admissível a acusação ou
mantida a higidez dos atos processuais até então à determinação do uso de algemas como
praticados, sem prejuízo de eventual ―mutatio argumento de autoridade que beneficiem ou
libelli‖. Na espécie, o paciente, após a ingestão de prejudiquem o acusado;‖). A Turma observou que,
significativa quantidade de bebida alcóolica, teria embora o STJ não tivesse conhecido do ―habeas
cedido a direção de seu veículo a outra pessoa, corpus‖, analisara a questão de fundo e, por isso,
também alcoolizada, que, em alta velocidade e não estaria caracterizada a supressão de instância.
sem o cinto de segurança, ocasionara o acidente No mérito, asseverou que o art. 478, I, do CPP
automotivo e o próprio óbito. No carro, também vedaria que, nos debates, as partes fizessem
teriam sido encontrados alguns miligramas de referência a decisões de pronúncia e às decisões
cocaína. A Turma destacou jurisprudência da posteriores que julgassem admissível a acusação
Corte firmada na excepcionalidade do como argumento de autoridade para prejudicar ou
trancamento da persecução penal na via do beneficiar o acusado. Apontou que a proibição
―habeas corpus‖. Tal medida seria recomendada legal não se estenderia a eventual sentença
tão somente quando indiscutível a atipicidade da condenatória de corréu no mesmo processo.
conduta, presente a causa extintiva de Destacou, ainda, a ausência de comprovação de
punibilidade ou, ainda, quando ausentes indícios que o documento, de fato, teria sido empregado
mínimos de autoria, o que não se aplicava à como argumento de autoridade e do prejuízo
hipótese dos autos. Apontou que pela descrição insanável à defesa.
fática contida na denúncia seria induvidosa a RHC 118006/SP, rel. Min. Dias Toffoli,
incompetência do tribunal do júri para processar e 10.2.2015. (RHC-118006)
julgar a demanda, a afastar qualquer subsunção (Informativo 774, 1ª Turma)
dos fatos investigados ao art. 121, ―caput‖, do Tribunal do júri: leitura de peça em plenário e
Código Penal. Vencido o Ministro Celso de nulidade
Mello, que denegava a ordem. Destacava que no
A 2ª Turma negou provimento a recurso ordinário vedaria toda e qualquer referência à pronúncia,
em ―habeas corpus‖ no qual se pleiteava a mas apenas a sua utilização como forma de
anulação de julgamento realizado por tribunal do persuadir o júri a concluir que, se o juiz
júri, em razão da leitura em plenário, pelo membro pronunciara o réu, logo este seria culpado. No
do Ministério Público, de trecho da decisão caso sob análise, porém, nada indicaria que a peça
proferida em recurso em sentido estrito interposto lida fora usada como argumento de autoridade.
pelo réu contra a decisão de pronúncia, o que, Aparentemente, estar-se-ia diante de pura e
segundo alegado, ofenderia o art. 478, I, do CPP, simples leitura da peça, e, portanto, não haveria
na redação dada pela Lei 11.689/2008 (―Art. 478. nulidade a ser declarada. O Ministro Celso de
Durante os debates as partes não poderão, sob Mello acrescentou que o art. 478 do CPP, na
pena de nulidade, fazer referências: I – à decisão redação conferida pela Lei 11.689/2008, ensejaria
de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram grave restrição à liberdade de palavra do
admissível a acusação ou à determinação do uso representante do Ministério Público, o que
de algemas como argumento de autoridade que ocasionaria um desequilíbrio naquela relação
beneficiem ou prejudiquem o acusado‖). O paritária de armas que deveria haver entre as
Colegiado asseverou, inicialmente, que a norma partes, notadamente no plenário do júri.
em comento vedaria a referência à decisão de RHC 120598/MT, rel. Min. Gilmar Mendes,
pronúncia ―como argumento de autoridade‖, em 24.3.2015. (RHC-120598)
benefício ou em desfavor do acusado. Por outro (Informativo 779, 2ª Turma)
lado, a mesma lei que modificara a redação do
referido dispositivo — Lei 11.689/2008 — PSV: tribunal do júri e foro por prerrogativa de
estabelecera, no parágrafo único do art. 472, que função (Enunciado 45 da Súmula Vinculante)
cada jurado recebesse, imediatamente após prestar O Plenário acolheu proposta de edição de
compromisso, cópia da pronúncia ou, se fosse o enunciado de súmula vinculante com o seguinte
caso, das decisões posteriores que julgassem teor: ―A competência constitucional do tribunal do
admissível a acusação. A distribuição de cópia da júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de
pronúncia seria explicável pelo fato de ser essa a função estabelecido exclusivamente pela
peça que resumiria a causa a ser julgada pelos Constituição Estadual‖. Assim, tornou vinculante
jurados. A redação original do CPP previa o o conteúdo do Verbete 721 da Súmula do STF.
oferecimento, pela acusação, do libelo acusatório, PSV 105/DF, 8.4.2015. (PSV-105)
com a descrição do fato criminoso, como admitido (Informativo 780, Plenário)
na decisão de pronúncia (artigos 416 e 417). Pronúncia e envelopamento por excesso de
Assim, se a denúncia contivesse circunstância em linguagem
relação à qual não fora admitida — uma Constatado o excesso de linguagem na pronúncia
qualificadora, por exemplo — o libelo narraria a tem-se a sua anulação ou a do acórdão que
acusação a ser submetida ao plenário já livre dessa incorreu no mencionado vício; inadmissível o
circunstância. Na sistemática atual, no entanto, simples desentranhamento e envelopamento da
abolida essa peça intermediária, seria a própria respectiva peça processual. Com base nessa
decisão de pronúncia que resumiria a causa em orientação, a Primeira Turma, por maioria, deu
julgamento. Isso explicaria porque a peça seria provimento a recurso ordinário em ―habeas
considerada de particular importância pela lei, a corpus‖ para anular o aresto por excesso de
ponto de ser a única com previsão de entrega aos linguagem. Na espécie, o excesso de linguagem
jurados. Além disso, muito embora recebessem apto a influenciar os jurados mostrara-se
apenas a cópia da decisão de pronúncia, os jurados incontroverso, reconhecido pelo STJ à
teriam a prerrogativa de acessar a integralidade unanimidade. A Turma asseverou que o abandono
dos autos, mediante solicitação ao juiz presidente da linguagem comedida conduziria principalmente
(CPP, art. 480, § 3º). Assim, ao menos em tese, o leigo a entender o ato não como mero juízo de
poderiam tomar conhecimento de qualquer peça admissibilidade da acusação, mas como título
neles entranhada. Dada a incoerência entre as condenatório. Assentada pelo STJ a insubsistência
normas que vedam a leitura da pronúncia e outras do acórdão confirmatório da pronúncia por
peças e, ao mesmo tempo, determinam o excesso de linguagem, a única solução
fornecimento de cópia da pronúncia e autorizam contemplada no ordenamento jurídico seria
os jurados a consultar qualquer peça dos autos — proclamar a sua nulidade absoluta, determinando-
incoerência essa apontada pela doutrina — seria se a prolação de outra. O simples envelopamento
cabível a redução teleológica. Em suma, a lei não da denúncia não se mostraria suficiente ante o
disposto no CPP (―Art. 472 ... Parágrafo único. O O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro
jurado ... receberá cópias da pronúncia ou, se for o no exterior, por si só, não atrai a competência da
caso, das decisões posteriores que julgaram justiça federal, porquanto não teria ofendido bens,
admissível a acusação e do relatório do serviço ou interesse da União (CF, art. 109, IV).
processo‖). Vencido o Ministro Roberto Barroso, Com base nessa orientação, a Primeira Turma,
que negava provimento ao recurso. Assentava ser com ressalva da posição majoritária quanto não
satisfatória a solução do envelopamento porque os conhecimento da impetração, porque substitutiva
jurados não teriam acesso ao que nele contido, de recurso extraordinário, denegou a ordem de
além de ser compatível com a razoável duração do ―habeas corpus‖. No caso, tratava-se de crime em
processo. Precedentes citados: HC 123.311/PR que a fase preparatória iniciou-se no Brasil,
(DJe de 14.4.2015); RHC 122.909/SE (DJe de porém, a consumação ocorreu no estrangeiro. O
12.12.2014) e HC 103.037/PR (DJe de juízo de direito corregedor do tribunal do júri
31.5.2011). estadual declinou da competência para a justiça
RHC 127522/BA, rel. Min. Marco Aurélio, federal que, por sua vez, suscitou conflito
18.8.2015. (RHC-127522) negativo de competência. O STJ assentara
(Informativo 795, 1ª Turma) incumbir o julgamento a um dos tribunais do júri
estadual, competente o juízo da capital do Estado
onde por último residira o acusado. O inciso V do
art. 109 da CF prevê a competência da justiça
federal quando, ―... iniciada a execução no País, o
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
ANO DE 2016 estrangeiro...‖. No Brasil houve a prática de atos
meramente preparatórios. O ato criminoso fora
inteiramente cometido no exterior, a afastar a
Competência incidência da mencionada regra constitucional,
cuja interpretação há de ser estrita. Fixada a
Interceptação telefônica e competência competência da justiça estadual e definida a
A Segunda Turma denegou a ordem em ―habeas cidade de Ribeirão Preto como o último domicílio
corpus‖ em que discutida a competência para o do paciente no País, o julgamento compete a um
exame de medidas cautelares em procedimento de dos tribunais do júri do Estado de São Paulo, nos
investigação criminal. Na espécie, o juízo da vara termos do art. 88 do CPP (―No processo por
central de inquéritos de justiça estadual deferira crimes praticados fora do território brasileiro, será
interceptação telefônica e suas sucessivas competente o juízo da Capital do Estado onde
prorrogações nos autos da referida investigação. A houver por último residido o acusado. Se este
defesa alegava que esse juízo especializado seria nunca tiver residido no Brasil, será competente o
incompetente, pois o procedimento investigatório juízo da Capital da República‖).
seria incidente relacionado a ação penal atribuída HC 105461/SP, rel. Min. Marco Aurélio,
a outro juízo. O Colegiado reputou que o art. 1º da 29.3.2016. (HC-105461)
Lei 9.296/1996 (―A interceptação de (Informativo 819, 1ª Turma)
comunicações telefônicas, de qualquer natureza,
para prova em investigação criminal e em Extradição
instrução processual penal, observará o disposto
nesta Lei e dependerá de ordem do juiz Extradição: concurso material e limite de tempo
competente da ação principal, sob segredo de de pena
justiça‖) não fixa regra de competência, mas sim A Segunda Turma deferiu, com restrição, pedido
reserva de jurisdição para quebra de sigilo, o que de extradição formulado em desfavor de nacional
fora observado. Além disso, há precedentes do estadunidense, lá processado pela suposta prática
STF que admitem a divisão de tarefas entre juízes de diversos delitos equiparados aos crimes
que atuam na fase de inquérito e na fase da ação tipificados nos artigos 213 e 217-A do CP. O
penal. Colegiado ressaltou a inaplicabilidade, no Estado
HC 126536/ES, rel. Min. Teori Zavascki, requerente, da ficção jurídica do crime
1º.3.2016. (HC-126536) continuado. Assim, se aplicada a regra do cúmulo
(Informativo 816, 2ª Turma) material, o extraditando ficaria sujeito a pena
Competência e crime cometido no estrangeiro bastante superior a 30 anos, o máximo permitido
por brasileiro na legislação brasileira. Ainda que fosse possível
computar qualquer reprimenda, crimes de corrupção passiva (CP, art. 317, ―caput”
independentemente de sua duração, no sistema e § 1º, c/c art. 327, §§ 1º e 2º) e lavagem de
pátrio, seria vedado, por outro lado, executá-la dinheiro (Lei 9.613/1998, art. 1º, V, VI e VII, com
para além do teto de 30 anos. Assim, haveria a redação anterior à Lei 12.683/2012). Ainda, na
necessidade de o Estado requerente assumir, mesma assentada, a Corte, por maioria, recebeu
formalmente, o compromisso diplomático de denúncia oferecida contra ex-deputada, hoje
comutar em pena de prisão não superior a esse prefeita municipal, pelo suposto delito de
limite as reprimendas privativas de liberdade corrupção passiva. Por fim, julgou prejudicados os
eventualmente imponíveis no caso, considerada, agravos regimentais. Inicialmente, o Tribunal, por
inclusive, a exigência de detração penal. maioria, rejeitou as preliminares suscitadas.
Ext 1401/Governo dos Estados Unidos da Afirmou não prosperar a alegação de nulidade do
América, rel. Min. Celso de Mello, 8.3.2016. depoimento prestado pela denunciada perante o
(Ext-1401) Ministério Público, ao argumento de que teria sido
(Informativo 817, 2ª Turma) ouvida como testemunha e não como investigada,
Habeas Corpus o que comprometeria o direito de não
HC e desclassificação autoincriminação. Isso porque, embora ela tivesse
É incabível a utilização do ―habeas corpus‖ com a sido ouvida na condição de testemunha e
finalidade de se obter a desclassificação de assumido o compromisso de dizer a verdade,
imputação de homicídio doloso, na modalidade constaria do termo de depoimento que ela teria
dolo eventual, para homicídio culposo, na hipótese sido informada de que estariam ressalvadas
em que apurada a prática de homicídio na direção daquele compromisso ―as garantias
de veículo automotor. Isso porque os limites constitucionais aplicáveis‖. Afastou também a
estreitos dessa via processual impossibilitariam a pretensão do denunciado de ver suspenso o
análise apurada do elemento subjetivo do tipo processo, por aplicação analógica do art. 86, § 4º,
penal para que se pudesse afirmar que a conduta da CF, já que essa previsão constitucional se
do paciente fora pautada pelo dolo eventual ou destinaria expressamente ao chefe do Poder
pela culpa consciente. Essa a conclusão da Executivo da União. Desse modo, não estaria
Segunda Turma ao indeferir a ordem de ―habeas autorizado, por sua natureza restritiva, qualquer
corpus‖ em que pleiteada tal desclassificação. O interpretação que ampliasse a incidência a outras
Colegiado afirmou que a análise de mais de uma autoridades, notadamente do Poder Legislativo.
corrente probatória — dolo eventual ou culpa Rechaçou o alegado cerceamento de defesa,
consciente — no processo de competência do arguido em agravos regimentais, por meio dos
tribunal do júri exigiria profundo revolvimento de quais se buscava acessar o inteiro teor do acordo
fatos e provas, o que ultrapassaria a cognição do de colaboração premiada e respectivos termos de
procedimento sumário e documental do ―habeas depoimento de réu já condenado pela justiça
corpus‖, em flagrante transformação dele em federal por crimes apurados na denominada
processo de conhecimento sem previsão na ―Operação Lava Jato‖. Ressaltou que o
legislação vigente. Por outro lado, ressaltou que, Procurador-Geral da República juntara aos autos
na fase de pronúncia, vigoraria o princípio do ―in todos os depoimentos de colaboradores que se
dubio pro societate‖, segundo o qual somente as referiam ao acusado e aos fatos referidos na
acusações manifestamente improcedentes seriam denúncia.
inadmitidas. O juiz verificaria, nessa fase, tão Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e
somente, se a acusação seria viável, deixando o 3.2016. (Inq-3983)
exame apurado dos fatos para os jurados, que, no (Informativo 816, Plenário) Parte 1: Parte 2:
momento apropriado, analisariam a tese defensiva Inquérito: corrupção passiva e lavagem de
sustentada. dinheiro - 2
HC 132036/SE, rel. Min. Cármen Lúcia, Da mesma forma, o Tribunal entendeu que seria
29.3.2016. (HC-132036) improcedente a alegação de nulidade de
(Informativo 819, 2ª Turma) depoimentos complementares prestados por
Investigação Preliminar colaborador, em razão da ausência de nova
Inquérito: corrupção passiva e lavagem de homologação ou ratificação do acordo de
dinheiro - 1 colaboração premiada pelo Supremo Tribunal
O Plenário recebeu, parcialmente, denúncia Federal. Não se poderia confundir o acordo de
oferecida contra deputado federal, presidente da colaboração premiada, que estaria sujeito à
Câmara dos Deputados, pela suposta prática dos homologação judicial, com os termos de
depoimentos prestados pelo colaborador, que estaleiro para a construção de outro navio-sonda.
independeriam de tal homologação. Na espécie, o Todavia, o Colegiado afirmou que não ficara
acordo de colaboração premiada firmado entre o demonstrada concretamente a participação dos
Ministério Público Federal e colaborador teria denunciados nessa fase inicial de negociação da
sido devidamente homologado por juiz federal, construção dos navios-sonda. Assinalou que nada
nos termos da Lei 12.850/2013. À época, pelas fora produzido, em termos probatórios, que
declarações até então prestadas pelo colaborador, indicasse a efetiva participação dos denunciados
não haveria notícia de envolvimento de autoridade nos supostos crimes ocorridos na época da
com prerrogativa de foro no STF, razão pela qual celebração dos contratos, nos anos de 2006 e
seria inquestionável a competência daquele juízo 2007, ou mesmo que os acusados tivessem, no
para a prática do ato homologatório. Assim, a período imediato, recebido vantagem indevida
eventual desconstituição de acordo de colaboração para viabilizar a negociação ou se omitido em
teria âmbito de eficácia restrito às partes que o fiscalizar esses contratos, em razão do mandato
firmaram, de modo que não beneficiaria e nem parlamentar. Assim, ante a falta de apresentação
prejudicaria terceiros. Vencido o Ministro Marco de indícios de participação dos denunciados
Aurélio, ao fundamento de que o STF não seria quanto a esse período, a denúncia não mereceria
competente para julgar a denunciada, tendo em ser recebida.
vista que ela não gozaria de prerrogativa de foro Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e
perante esta Corte. Acolhia, por outro lado, a 3.2016. (Inq-3983)
preliminar de cerceamento de defesa, pela (Informativo 816, Plenário)
impossibilidade de acesso, como um todo, às Inquérito: corrupção passiva e lavagem de
delações premiadas pelos acusados. dinheiro - 4
Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e No tocante ao segundo momento delitivo, o
3.2016. (Inq-3983) Tribunal reputou que o aditamento à denúncia
(Informativo 816, Plenário) trouxera reforço narrativo lógico e elementos
Inquérito: corrupção passiva e lavagem de sólidos que apontariam ter ambos os denunciados
dinheiro - 3 aderidos à exigência e recebimento de valores
O Plenário sublinhou que as razões apresentadas ilícitos, a partir de 2010 e 2011. Nesse item, a
pelo Ministério Público teriam demonstrado peça acusatória narrara os fatos em tese delituosos
adequadamente a necessidade de a denunciada ser e a conduta dos agentes, com as devidas
processada e julgada no STF, em conjunto com o circunstâncias de tempo, lugar e modo, sem
deputado federal. No caso, a peça acusatória qualquer prejuízo ao exercício de defesa. A
imputara ao parlamentar condutas delituosas materialidade e os indícios de autoria, elementos
desdobradas em dois momentos distintos. No básicos para o recebimento da denúncia,
primeiro, o acusado teria solicitado e aceitado encontrar-se-iam presentes a partir do substrato
promessa de vantagens indevidas para garantir a trazido no inquérito. A Corte observou que a
continuidade de esquema ilícito implantado no interposta pessoa a que se referiria a denúncia
âmbito da Petrobras, assim como para manter seria a acusada, que, para coagir lobista a pagar
indicados políticos em seus cargos na referida valor ainda pendente, referente às aludidas
sociedade de economia mista. Em um segundo comissões ilegítimas, apresentara, por solicitação
momento, a percepção de valores indevidos teria do deputado, dois requerimentos à Comissão de
sido para pressionar o retorno do pagamento de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos
propinas, valendo-se de requerimentos formulados Deputados requisitando informações ao TCU e ao
por interposta pessoa e com desvio de finalidade Ministério de Minas e Energia acerca dos
na atuação legislativa. Relativamente à primeira contratos de interesse do lobista com a Petrobras.
fase, o acusado, entre junho de 2006 e outubro de A pressão exercida pelo acusado, por intermédio
2012, solicitara para si e para outrem e aceitara da denunciada, surtira efeito, uma vez que o
promessa de vantagem indevida em razão da lobista se vira compelido a pagar as quantias
contratação, pela Petrobras, de estaleiro para a prometidas. Ademais, a materialidade e os
construção de navio-sonda. Além disso, entre indícios de autoria relativos aos crimes de
fevereiro de 2007 e outubro de 2012, o lavagem de dinheiro, elementos básicos para o
parlamentar também solicitara, para si e para recebimento da denúncia, também se encontrariam
outrem e teria aceitado promessa, direta e presentes. Depoimento prestado pelo lobista no
indiretamente, de vantagem indevida, a fim de que âmbito de colaboração premiada indicaria que,
a Petrobras realizasse a contratação do mesmo para operacionalizar suposto pagamento de parte
da propina ao deputado, teriam sido transferidos aceito vantagem ilícita para praticar o ato. Seriam
valores de sua conta na Suíça. Ainda sobre necessários outros indicativos de adesão à conduta
entregas de valores para o acusado, outro réu viciada para que a acusação pudesse ser viável.
investigado no âmbito da ―Operação Lava Jato‖ Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e
confirmara que teriam sido realizadas em espécie. 3.2016. (Inq-3983)
Outros elementos probatórios apontariam para (Informativo 816, Plenário)
operação destinada ao pagamento de propina ao HC: denúncias anônimas e lançamento
deputado, realizada entre 21 de dezembro de 2011 definitivo - 1
e 30 de outubro de 2012, por meio de suposta Nos crimes de sonegação tributária, apesar de a
simulação de contratos de prestação de serviços de jurisprudência do STF condicionar a persecução
consultoria. Haveria, ainda, repasse ao acusado penal à existência do lançamento tributário
mediante simulações de contratos de mútuo. O definitivo, o mesmo não ocorre quanto à
parlamentar requerera, também, doações a investigação preliminar. Os crimes contra a ordem
determinada igreja como forma de saldar parte das tributária ou de outra modalidade delitiva podem
quantias supostamente a ele devidas, além de ser tentados e consumados e jamais se entendeu
pagamento em horas voo mediante fretamento de pela impossibilidade da investigação preliminar
táxi aéreo. durante a execução de um crime e mesmo antes da
Inq 3983/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 2 e consumação. Com base nessa orientação, a
3.2016. (Inq-3983) Primeira Turma julgou extinto o ―writ‖, sem
(Informativo 816, Plenário) resolução do mérito. Assentou a inadequação da
Inquérito: corrupção passiva e lavagem de via processual, por se tratar de ―habeas corpus‖
dinheiro - 5 substitutivo do recurso ordinário constitucional.
O Tribunal concluiu que os elementos colhidos Porém, concedeu a ordem de ofício para trancar a
indicariam possível cometimento de crime de ação penal no que se refere aos crimes fiscais a
corrupção passiva majorada (CP, art. 317, ―caput” envolver apropriação e sonegação de
e § 1º), ao menos na qualidade de partícipe (CP, contribuições previdenciárias descontadas de
art. 29), por parte do deputado federal. Excluir-se- produtores rurais, ao crime de lavagem de
ia, todavia, do quanto recebido, a causa de dinheiro tendo por antecedente a sonegação dessas
aumento do art. 327, § 2º, do CP, incabível pelo mesmas contribuições previdenciárias, e ao crime
mero exercício do mandato popular, sem prejuízo de sonegação da Cofins pertinente à parte quitada.
da causa de aumento contemplada no art. 317, § 1º Afirmou, ainda, a inexistência de prejuízo na
(―A pena é aumentada de um terço, se, em continuidade da ação penal em relação ao restante
consequência da vantagem ou promessa, o da imputação. Na espécie, durante as
funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer investigações, iniciadas para apurar crimes de
ato de ofício ou o pratica infringindo dever ordem tributária, foram revelados, fortuitamente,
funcional‖). A jurisprudência do STF exigiria, indícios de crimes mais graves, especificamente o
para tanto, imposição hierárquica não de corrupção de agentes públicos para acobertar as
demonstrada nem descrita nos presentes autos. Os atividades supostamente ilícitas. Os pacientes
indícios existentes apontariam também que a respondem a ação penal por apropriação indébita
acusada teria concorrido para a prática do delito previdenciária, associação criminosa, falsidade
de corrupção passiva, nos termos do já aludido art. ideológica, corrupção ativa e sonegação de
29 do CP (―Quem, de qualquer modo, concorre contribuição previdenciária. Além disso, são
para o crime incide nas penas a este cominadas, na acusados de omitir informação ou prestar
medida de sua culpabilidade‖). Assim, não declaração falsa às autoridades fazendárias.
assistiria razão à defesa da denunciada, de que a Pretendiam a nulidade da investigação porque: a)
conduta descrita na inicial acusatória seria de iniciada a partir de denúncia anônima; b) fora
outro tipo penal. Vencidos os Ministros Dias autorizada interceptação telefônica para apurar
Toffoli e Gilmar Mendes, que não recebiam a crimes fiscais sem que houvesse lançamento
denúncia oferecida contra a acusada. Pontuavam tributário definitivo; e c) os tributos sonegados
que a conduta imputada a ela seria a de assinar seriam, em parte, inválidos, e o remanescente teria
requerimento à Comissão de Fiscalização sido quitado e parcelado.
Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, HC 106152/MS, rel. Min. Rosa Weber,
prática normal à atividade parlamentar. Não 29.3.2016. (HC-106152)
haveria, entretanto, prova de que a então (Informativo 819, 1ª Turma)
parlamentar tivesse solicitado, ou recebido, ou
HC: denúncias anônimas e lançamento atual jurisprudência do STF, que condicionaria a
definitivo - 2 persecução por crime contra a ordem tributária à
A Turma, de início, reafirmou o entendimento da realização do lançamento fiscal. O lançamento
Corte no sentido de que notícias anônimas não definitivo do crédito tributário constituiria
autorizam, por si sós, a propositura de ação penal atividade privativa da autoridade administrativa e,
ou mesmo, na fase de investigação preliminar, o sem tributo constituído, não haveria como
emprego de métodos invasivos de investigação, caracterizar o crime de sonegação tributária (HC
como interceptação telefônica ou busca e 81.611/DF, DJU de 13.5.2005). Apesar de a
apreensão. Entretanto, elas podem constituir fonte jurisprudência do STF condicionar a persecução
de informação e de provas que não pode ser penal à existência do lançamento tributário
simplesmente descartada pelos órgãos do Poder definitivo, o mesmo não ocorreria relativamente à
Judiciário. Assim, assentou a inexistência de investigação preliminar. Crimes poderiam ser
invalidade na investigação instaurada a partir de tentados e consumados e jamais se entendera pela
notícia crime anônima encaminhada ao MPF. impossibilidade da investigação preliminar
Destacou que em um mundo no qual o crime durante a execução de um crime e mesmo antes da
torna-se cada vez mais complexo e organizado, consumação. A afirmação seria válida tanto para
seria natural que a pessoa comum tivesse receio de crimes contra a ordem tributária como para
se expor ao comunicar a ocorrência de delito. Daí qualquer outra modalidade delitiva. O Colegiado
a admissibilidade de notícias crimes anônimas. ressaltou que o tema do encontro fortuito de
Nas investigações preliminares, ao se verificar a provas no âmbito de interceptação telefônica fora
credibilidade do que fora noticiado, a investigação abordado em alguns julgados da Corte. A validade
poderia prosseguir, inclusive, se houvesse da investigação não estaria condicionada ao
agregação de novas provas e se preenchidos os resultado, mas sim à observância do devido
requisitos legais, com o emprego de métodos processo legal. Na espécie, as provas dos crimes
especiais de investigação ou mesmo com a de corrupção fortuitamente colhidas no curso da
propositura de ação penal, desde que, no último interceptação não pareceriam se revestir de
caso, as novas provas caracterizassem justa causa. ilicitude, pelo menos no exame que comportam na
Elementos probatórios colhidos pelas autoridades via estreita do ―habeas corpus‖,
policiais teriam constatado a inexistência de independentemente do resultado obtido quanto aos
registro de bens, imóveis e veículos ou qualquer crimes contra a ordem tributária que motivaram o
propriedade em nome dos sócios constantes no início da investigação.
contrato social de empresa cujos lançamentos HC 106152/MS, rel. Min. Rosa Weber,
tributários eram expressivos, o que poderia 29.3.2016. (HC-106152)
caracterizar não serem os reais proprietários. Na HC: denúncias anônimas e lançamento
situação dos autos, fora a interceptação telefônica definitivo - 4
que revelara os indícios da prática de crimes mais A Turma frisou que os autos não estariam
relevantes. Não haveria que se falar, portanto, em instruídos com cópia dos lançamentos tributários,
utilização indevida da notícia crime anônima, cujo o que inviabilizaria uma análise precisa da alegada
tratamento observara a jurisprudência do STF. invalidade dos tributos constituídos. Entretanto,
Ademais, a investigação e a persecução penal em embargos opostos a sequestro incidente na
teriam prosseguido com base nas provas ação penal, o magistrado de primeiro grau teria
colacionadas a partir dela e não com fulcro prolatado sentença a reconhecer a
exclusivo nela. De igual forma, as diligências inconstitucionalidade de parte dos valores
mais invasivas, como a interceptação telefônica, lançados, com reflexo no sequestro decretado.
só foram deflagradas após a colheita de vários Ademais, os tributos lançados consistiriam em
elementos probatórios que corroboravam o teor da contribuições descontadas de produtores rurais
notícia anônima e que, por si só, autorizavam a pessoas físicas e incidentes sobre a receita
medida investigatória. proveniente da comercialização da produção de
HC 106152/MS, rel. Min. Rosa Weber, gado, tributo este reputado inconstitucional pela
29.3.2016. (HC-106152) Suprema Corte (RE 363.852/MG, DJe de
HC: denúncias anônimas e lançamento 23.4.2010). Declarados inconstitucionais tributos
definitivo - 3 lançados contra a empresa, estaria afetada, na
Quanto ao argumento de nulidade da investigação mesma extensão, a acusação da prática de crimes
porquanto iniciada antes da existência de fiscais. Contudo, remanesceria a validade da
lançamento tributário definitivo, a Turma citou a Cofins lançada, o que não acarretaria prejuízo para
a imputação de sonegação para esse crime, visto decisão que reconhecera a prescrição no tocante a
não ter sido apresentada prova inequívoca de que militar acusado da suposta prática de ato
o remanescente fora pago ou parcelado. De todo libidinoso com menor de idade. No caso, em razão
modo, o reconhecimento da inconstitucionalidade desse fato fora instaurado, contra o militar,
parcial das contribuições rurais lançadas e a procedimento administrativo em que alegada,
quitação total ou parcial da Cofins atingiriam desde o início, a prescrição. Esta, no entanto,
apenas a imputação pelos crimes tributários, e não somente fora declarada pelo STM, que concedera
os demais crimes objeto da denúncia, entre eles ―habeas corpus‖ de ofício. O recorrente sustentava
corrupção. Ao tempo da autorização da que o direito líquido e certo a fundamentar o
interceptação telefônica, não existiriam os fatos ―mandamus‖ seria o direito à ordem democrática e
extintivos das obrigações tributárias. Embora o à ordem jurídica, e que a concessão de ―habeas
julgamento de inconstitucionalidade pelo STF no corpus‖ de ofício teria sido aplicada
RE 363.852/MG fosse com efeitos retroativos, equivocadamente porque em sede administrativa.
não significaria que a autorização para a A Turma assinalou que o ―Parquet‖ militar,
interceptação tivesse sido arbitrária, porque atuando como ―custos legis‖, não teria
baseada em lançamentos tributários tidos como legitimidade ativa no tocante ao mandado de
hígidos e válidos. De igual forma, a quitação segurança. Os direitos à ordem democrática e à
posterior do tributo afetaria a pretensão punitiva, ordem jurídica não seriam de titularidade do
mas não atingiria retroativamente a validade dos Ministério Público, mas de toda a sociedade. O
atos de investigação praticados anteriormente. mandado de segurança, na espécie, se insurgiria
Prejudicada, ainda, a persecução penal no tocante contra decisão judicial, e não administrativa. Além
à sonegação dos tributos supervenientemente tidos disso, não houvera usurpação de competência que
como inválidos ou dos tributos quitados em pudesse ser considerada ilegalidade ou abuso de
momento posterior, mas sem afetação necessária poder, mesmo porque o acusado fora absolvido
do restante da imputação, que inclui crimes de em sede penal.
quadrilha e corrupção. Também prejudicada a RMS 32970/DF, rel. Min. Cármen Lúcia,
imputação do crime de lavagem de dinheiro no 16.2.2016. (RMS-32970)
que se refere à suposta ocultação e à dissimulação (Informativo 814, 2ª Turma)
das contribuições previdenciárias reputadas Crime sexual contra vulnerável e titularidade da
inconstitucionais. Afinal, se o crime antecedente é ação penal - 1
insubsistente, não poderia haver lavagem. O Plenário, por maioria, denegou a ordem em
HC 106152/MS, rel. Min. Rosa Weber, ―habeas corpus‖ impetrado com base na suposta
29.3.2016. (HC-106152) ilegitimidade do Ministério Público para intentar
Prisão ação penal pública contra o paciente, denunciado
Prisão preventiva e reincidência - 2 pela alegada prática, em 2007, do crime de
A Segunda Turma, em conclusão de julgamento, atentado violento ao pudor com violência
declarou prejudicado ―habeas corpus‖ em que presumida (CP, art. 214, c/c o art. 224, ―a‖, na
discutida ausência de fundamentação idônea, redação originária). No caso, o representante da
lastreada na necessidade de preservação da ordem vítima apresentara requerimento perante a
pública, a justificar a prisão preventiva do autoridade policial (CP, art. 225, na antiga
paciente — v. Informativo 773. O Colegiado redação) e ajuizara queixa-crime. Posteriormente,
registrou o trânsito em julgado de sentença penal o Ministério Público manifestara-se pela rejeição
condenatória. O Ministro Gilmar Mendes (relator) da queixa por ilegitimidade da parte e oferecera
reajustou o seu voto. denúncia. A queixa-crime fora, então, rejeitada, e
HC 124180/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, a parte fora admitida como assistente da acusação.
1º.3.2016. (HC-124180) Prevaleceu o voto do Ministro Roberto Barroso,
(Informativo 816, 2ª Turma) no que acompanhado pelos Ministros Luiz Fux,
Gilmar Mendes e Dias Toffoli. Entendeu que a
Condições da Ação controvérsia acerca da recepção do art. 225 do CP
pela atual ordem constitucional não poderia levar
Mandado de segurança e legitimidade ativa do à eventual desproteção da vítima. Em outras
Ministério Público Militar palavras, não se poderia, num primeiro momento,
A Segunda Turma negou provimento a recurso declarar a inviabilidade de ação penal privada e,
ordinário em mandado de segurança interposto posteriormente, a impossibilidade de ação penal
pelo Ministério Público Militar, em face de pública, para deixar o bem jurídico violado sem
tutela. Assim, necessário interpretar esse liberdade. Ademais, a regra nova do preceito
dispositivo à luz do art. 227 da CF (―É dever da penal em comento não retroagiria, uma vez que
família, da sociedade e do Estado assegurar à prevalecia o disposto no art. 100 do CP, desde a
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta entrada em vigor da Constituição. Portanto, a ação
prioridade, o direito à vida, à saúde, à penal, na hipótese, sempre seria pública. Além
alimentação, à educação, ao lazer, à disso, assentou que o princípio da retroatividade
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao de norma penal mais benéfica aplica-se às leis
respeito, à liberdade e à convivência familiar e penais, e não a entendimentos jurisprudenciais.
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda Seria possível, contudo, que certo posicionamento
forma de negligência, discriminação, exploração, tivesse efeitos retroativos apenas se dissesse
violência, crueldade e opressão‖). Dessa forma, respeito à tipicidade ou não de determinada
interpretar o art. 225 do CP de modo a não conduta, mas, no caso, se cuidaria da legitimidade
entender cabível qualquer tipo de sanção em face ativa para exercício da ação penal. Ainda que essa
da conduta perpetrada implicaria negar aplicação legitimidade pudesse influir na punibilidade, não
ao art. 227 da CF. Necessário, portanto, se poderia sustentar que alguém tem o direito
excepcionar a aplicabilidade da redação antiga do subjetivo de não ser punido porque, no momento
art. 225 do CP para a situação dos autos, tendo em em que praticado o fato, entendia-se que a
conta a relevância do aludido dispositivo titularidade da ação penal pertencia a outrem, de
constitucional. O Ministro Luiz Fux ressaltou que acordo com a orientação jurisprudencial
eventual juízo de não recepção do art. 225 do CP dominante à época. Vencidos os Ministros Teori
poderia implicar insegurança jurídica, tendo em Zavascki (relator), Marco Aurélio e Ricardo
conta diversos casos já julgados de acordo com Lewandowski (Presidente), que concediam
essa norma. Ademais, em relação a possível parcialmente a ordem para reconhecer a
decadência do direito de ação em hipóteses ilegitimidade ativa do Ministério Público, com o
semelhantes, seria possível concluir que o menor, consequente arquivamento dos autos.
ao adquirir a maioridade, poderia propor ação HC 123971/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki,
penal no que se refere a bem jurídico que lhe red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
dissesse respeito. O Ministro Dias Toffoli 25.2.2016. (HC-123971)
salientou que o tema seria delicado por envolver (Informativo 815, Plenário)
relações e dramas familiares, e que não caberia ao Ação penal e “habeas corpus” de ofício - 4
Estado invadir essa problemática. O Ministro Em conclusão de julgamento, a Primeira Turma,
Gilmar Mendes frisou o princípio da proteção por maioria, resolveu questão de ordem no sentido
insuficiente para afirmar que a decisão da Corte de conceder ―habeas corpus‖, de ofício, para
não poderia implicar esvaziamento da tutela do trancar ação penal por ausência de justa causa. No
bem jurídico no caso concreto. caso, delegado de polícia, hoje parlamentar, teria
HC 123971/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, autorizado o pagamento de diárias a policial para
red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, viagens oficiais não realizadas. O juízo recebera a
25.2.2016. (HC-123971) denúncia referente ao crime de peculato apenas
(Informativo 815, Plenário) em relação à policial. O tribunal provera recurso
Crime sexual contra vulnerável e titularidade da do ―Parquet‖ para dar prosseguimento à ação
ação penal - 2 penal relativamente ao então delegado. Em
Por sua vez, os Ministros Edson Fachin e Rosa seguida, diplomado deputado, os autos vieram ao
Weber também denegaram a ordem, mas o STF. Instado a se pronunciar, o Procurador-Geral
fizeram com fulcro na não recepção, pela da República deixara de ratificar a denúncia e
Constituição, do art. 225 do CP, na redação requerera o arquivamento por entender ausente o
anterior à Lei 12.015/2009, na parte em que dolo do acusado, o que afastaria a justa causa da
estabelecia ser privada a ação penal quando o ação penal —v. Informativos 797 e 802. A Turma
crime fosse cometido contra criança ou observou que a alteração da competência inicial
adolescente. O Ministro Edson Fachin apontou em face de posterior diplomação do réu não
que o dispositivo viola o art. 227 da CF. invalidaria os atos regularmente praticados e o
Condicionar o exercício do poder punitivo estatal feito deveria prosseguir da fase em que se
em crimes graves à iniciativa dos representantes encontrasse, em homenagem, ao princípio
legais de crianças ou adolescentes não cumpriria ―tempus regit actum‖. Ressaltou que a denúncia
com o ditame de assegurar a essas pessoas, com teria sido regularmente recebida pelo então juízo
prioridade, o direito à dignidade, ao respeito e à natural. Não caberia, portanto, a ratificação da
peça, o novo oferecimento e consequentemente a meses, no Brasil, por força de outras condenações,
renovação do ato de recebimento. Por outro lado, impostas pelo Poder Judiciário brasileiro, desde
o pedido de arquivamento também não seria 2006. O Colegiado, de início, afastou tese
possível neste momento processual, na medida em defensiva de prescrição da pretensão executória.
que o titular da ação penal na origem exercera Anotou que a condenação pelo crime que
regularmente o recebimento da denúncia. motivara o pedido extradicional se tornara
Entretanto, não se poderia extirpar o direito de o definitiva em 2002 e que o prazo prescricional
Procurador-Geral da República não querer teria se interrompido tendo em conta a
encampar a acusação. reincidência, considerada a primeira condenação
AP 905 QO/MG, rel. Min. Roberto Barroso, no Brasil, transitada em julgado em 2006. Além
23.2.2016. (AP- 905) disso, citou o art. 116, parágrafo único, do CP,
(Informativo 815, 1ª Turma) segundo o qual ―depois de passada em julgado a
sentença condenatória, a prescrição não corre
Ação penal e “habeas corpus” de ofício - 5 durante o tempo em que o condenado está preso
Além disso, o STF não estaria vinculado ao por outro motivo‖. Por fim, a Turma, por maioria,
recebimento da denúncia pelo juízo de 1º grau. reconheceu a aplicação da detração do tempo da
Todavia, seria processualmente adequado o exame prisão cautelar para fins de extradição no tocante à
de eventual concessão de ―habeas corpus‖ de pena a ser cumprida no País requerente. Vencido,
ofício com base na manifestação do Procurador- no ponto, o Ministro Teori Zavascki, que não
Geral da República. Frisou que a orientação entendia aplicável a detração. Ressaltava que o
jurisprudencial do Tribunal seria no sentido de extraditando se encontrava cumprindo prisão
que o trancamento de ação penal pela via do penal por força de condenações no Brasil, e que o
―habeas corpus‖ só seria cabível quando período em que, concomitantemente, estava preso
estivessem comprovadas, desde logo, a atipicidade em razão do pedido de extradição deveria ser
da conduta, a extinção da punibilidade ou a considerado apenas como cumprimento de
evidente ausência de justa causa. Assinalou que o reprimenda imposta pelo Judiciário brasileiro.
Procurador-Geral da República concluíra pela Ext 1397/Governo do Chile, rel. Min. Dias
falta de justa causa. Constatou não haver nos autos Toffoli, 16.2.2016. (Ext-1397)
prova do dolo efetivo do acusado. Haveria, na (Informativo 814, 2ª Turma)
denúncia, um conjunto relevante de depoimentos, Habeas Corpus
no sentido de que o réu, como delegado chefe, “Habeas corpus” contra decisão monocrática
cumpriria função puramente burocrática. A Ao proferir decisão pelo não conhecimento do
atribuição de autorização do pagamento das ―writ‖, o Tribunal, por maioria, reafirmou sua
diárias seria, efetivamente, do chefe imediato da jurisprudência no sentido de não ser cabível
policial. Assim, o parlamentar estaria sendo ―habeas corpus‖ impetrado contra decisão
submetido a processo penal apenas pela sua monocrática de ministro da Corte. Na espécie, os
posição hierárquica, sem nenhum tipo de pacientes impugnaram decisão do Ministro Cezar
envolvimento direto com os fatos. Vencido Peluso, que prorrogara o prazo para a realização
Ministro Marco Aurélio e a Ministra Rosa Weber, de escutas telefônicas anteriormente autorizadas.
que entendiam não ser cabível o implemento da O Tribunal esclareceu que o ato apontado como
ordem de ofício à falta de flagrante ilegalidade, coator — decisão monocrática — não poderia ser
abuso de poder ou decisão teratológica. questionado pela via estreita do presente ―writ‖.
AP 905 QO/MG, rel. Min. Roberto Barroso, Ademais, o tema estaria materializado no
23.2.2016. (AP- 905) Enunciado 606 da Súmula do STF (―Não cabe
(Informativo 815, 1ª Turma) ‗habeas corpus‘ originário para o Tribunal Pleno
Extradição de decisão da Turma ou do Plenário, proferida em
Extradição: concomitância de prisão cautelar e ‗habeas corpus‘ ou no respectivo recurso‖).
penal e detração Destacou que não se trataria de impedir a revisão
A Segunda Turma deferiu pedido extradicional do ato do relator, mas que haveria outro caminho,
formulado pelo Governo do Chile em desfavor de conforme previsto no art. 38 da Lei 8.038/1990 e
nacional daquele País, lá condenado por crime de no art. 21, § 1º, do RISTF. Vencidos os Ministros
―roubo com intimidação‖, à pena de cinco anos e Marco Aurélio (relator), Dias Toffoli, Gilmar
um dia. No caso, o extraditando, preso em razão Mendes, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski
do pleito extradicional em 2015, encontrava-se (Presidente), que admitiam a impetração.
cumprindo pena de reclusão de 21 anos e 11 Enfatizavam a importância da proteção judicial
efetiva que se materializaria no ―habeas corpus‖. criminal. Apontava-se a ilegitimidade da
Aduziam que o próprio texto constitucional instauração do referido procedimento por parte do
reconheceria cabível o ―habeas corpus‖ contra Ministério Público estadual para apurar os
autoridade submetida à Constituição, nos termos mesmos fatos objeto do Inq 3.738/SP, que fora
especificados, no caso, juízes do STF. previamente arquivado no STF — v. Informativo
HC 105959/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, 809. Prevaleceu o voto do Ministro Gilmar
red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, Mendes. Afirmou que, em tese, a situação em
17.2.2016. (HC-105959) comento se enquadraria na hipótese de cabimento
(Informativo 814, Plenário) da reclamação perante o STF, na forma do art.
102, I, ―l‖, da CF. Assim, de acordo com o art. 18
Investigação Preliminar do CPP, após o arquivamento do inquérito por
Inquérito e compartilhamento de provas - 3 falta de provas, poder-se-ia proceder a novas
A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e pesquisas se de outras provas houvesse notícia.
por maioria, deu provimento a agravo regimental Por outro lado, a reabertura da investigação não
em que se discutia a possibilidade de compartilhar poderia decorrer da simples mudança de opinião
provas colhidas em sede de investigação criminal ou reavaliação da situação. Seria indispensável
com inquérito civil público, bem como outras que houvesse novas provas ou, ao menos, novas
ações decorrentes dos dados resultantes do linhas de investigação em perspectiva. Não seria
afastamento do sigilo financeiro e fiscal e dos possível, ademais, a reabertura de investigações
alusivos à interceptação telefônica — v. para aprofundar linhas investigativas já
Informativos 780 e 803. O Colegiado, ao assentar disponíveis para exploração anterior. No vertente
a viabilidade do compartilhamento de provas, caso, contudo, teria havido a simples reabertura de
reiterou o que decidido no Inq 2.424 QO-QO/RJ investigação arquivada a pedido do PGR. Os fatos
(DJe de 24.8.2007) e na Pet 3.683 QO/MG (DJe estariam inseridos no contexto de irregularidades
de 20.2.2009), no sentido de que ―dados obtidos que foram objeto original do Inq 3.738/SP. O
em interceptação de comunicações telefônicas e Ministro Dias Toffoli acresceu que a instauração
em escutas ambientais, judicialmente autorizadas do referido procedimento em âmbito estadual se
para produção de prova em investigação criminal qualificaria como ato de persecução criminal.
ou em instrução processual penal, podem ser Além disso, os fatos objeto dos distintos
usados em procedimento administrativo procedimentos seriam os mesmos, bem assim
disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas seriam idênticos os panoramas probatórios. A
em relação às quais foram colhidos, ou contra única distinção seria um acréscimo na capitulação
outros servidores cujos supostos ilícitos teriam legal dos fatos e uma tentativa de ampliar o
despontado à colheita dessa prova‖. Vencidos os período de investigação. Por fim, as supostas
Ministros Marco Aurélio (relator) e Edson Fachin, novas provas a embasar o procedimento seriam
que negavam provimento ao agravo regimental. O elementos de informação contidos em inquérito
relator afirmava que, em face do contido no art. civil, que fora trancado por envolver detentor de
5º, XII, da CF, não se poderia estender o prerrogativa de foro perante o STF e por possuir
afastamento do sigilo a situações concretas não características de investigação criminal, o que
previstas. Já o Ministro Edson Fachin destacava tornaria esses elementos de informação provas
que o compartilhamento de provas não seria, ilícitas. Em divergência, os Ministros Teori
peremptoriamente, vedado, porém sua Zavascki (relator) e Cármen Lúcia negavam
regularidade deveria ser examinada de acordo com provimento ao agravo. Asseveravam não caber
o caso concreto. reclamação para se verificar se novas provas são
Inq 3305 AgR/RS, rel. Min. Marco Aurélio, hábeis a ensejar a reabertura de investigação cujo
red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, arquivamento fora determinado pelo STF. Além
23.2.2016. (Inq-3305) disso, não se trataria de persecução penal
(Informativo 815, 1ª Turma) propriamente dita, mas somente tomada de
Arquivamento de inquérito e procedimento providências no âmbito do Ministério Público
investigatório criminal - 2 estadual, fato que não implicaria ofensa à
Em conclusão de julgamento, a Segunda Turma, autoridade da decisão pelo arquivamento do Inq
ante o empate na votação (RISTF, art. 150, § 3º), 3.738/SP.
deu provimento a agravo regimental e acolheu Rcl 20132/SP, rel. orig. Min. Teori Zavascki,
pedido formulado em reclamação, para determinar red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes,
o trancamento de procedimento investigatório 23.2.2016. (Rcl-20132)
(Informativo 815, 2ª Turma) revelaria quão distante se estaria da fórmula
Princípios e Garantias Processuais inversa, em que ao acusado incumbiria demonstrar
Presunção de inocência e execução provisória de sua inocência, fazendo prova negativa das faltas
condenação criminal - 1 que lhe fossem imputadas.
A execução provisória de acórdão penal HC 126292/SP, rel. Min. Teori Zavascki,
condenatório proferido em julgamento de 17.2.2016. (HC-126292)
apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou (Informativo 814, Plenário)
extraordinário, não compromete o princípio Presunção de inocência e execução provisória de
constitucional da presunção de inocência. Esse o condenação criminal - 2
entendimento do Plenário, que, por maioria, O Plenário ressaltou que, antes de prolatada a
denegou a ordem em ―habeas corpus‖ que visava a sentença penal, haveria de se manter reservas de
desconstituição de acórdão que, em sede de dúvida acerca do comportamento contrário à
apelação, determinara a imediata prisão do ordem jurídica, o que levaria a atribuir ao acusado,
paciente por força de sentença condenatória de para todos os efeitos — mas, sobretudo, no que se
primeiro grau. A Corte afirmou que o tema refere ao ônus da prova da incriminação —, a
relacionado com a execução provisória de presunção de inocência. Nessa senda, a eventual
sentenças penais condenatórias envolveria condenação representaria juízo de culpabilidade,
reflexão sobre a) o alcance do princípio da que deveria decorrer da logicidade extraída dos
presunção da inocência aliado à b) busca de elementos de prova produzidos em regime de
necessário equilíbrio entre esse princípio e a contraditório no curso da ação penal. Para o
efetividade da função jurisdicional penal. Tal sentenciante de primeiro grau, ficaria superada a
equilíbrio deveria atender a valores caros não presunção de inocência por um juízo de culpa —
apenas aos acusados, mas também à sociedade, pressuposto inafastável para condenação —,
diante da realidade do intrincado e complexo embora não definitivo, já que sujeito, se houver
sistema de justiça criminal brasileiro. A recurso, à revisão por tribunal de hierarquia
possibilidade da execução provisória da pena imediatamente superior. Nesse juízo de apelação,
privativa de liberdade seria orientação a de ordinário, ficaria definitivamente exaurido o
prevalecer na jurisprudência do STF, mesmo na exame sobre os fatos e provas da causa, com a
vigência da CF/1988 (HC 68.726/DF, DJU de fixação, se fosse o caso, da responsabilidade penal
20.11.1992, e HC 74.983/RS, DJU de 29.8.1997). do acusado. Então, ali que se concretizaria, em seu
Essa orientação seria ilustrada, ainda, pelos sentido genuíno, o duplo grau de jurisdição,
Enunciados 716 e 717 da Súmula do STF destinado ao reexame de decisão judicial em sua
(―Admite-se a progressão de regime de inteireza, mediante ampla devolutividade da
cumprimento da pena ou a aplicação imediata de matéria deduzida na ação penal, tivesse ela sido
regime menos severo nela determinada, antes do apreciada ou não pelo juízo ―a quo‖. Ao réu
trânsito em julgado da sentença condenatória‖, e ficaria assegurado o direito de acesso, em
―Não impede a progressão de regime de execução liberdade, a esse juízo de segundo grau,
da pena, fixada em sentença não transitada em respeitadas as prisões cautelares porventura
julgado, o fato de o réu se encontrar em prisão decretadas. Desse modo, ressalvada a estreita via
especial‖, respectivamente). O plexo de regras e da revisão criminal, seria, portanto, no âmbito das
princípios garantidores da liberdade previsto em instâncias ordinárias que se exauriria a
nossa legislação — princípios do devido processo possibilidade de exame de fatos e provas e, sob
legal, da ampla defesa, do contraditório, do juiz esse aspecto, a própria fixação da
natural, da inadmissibilidade de obtenção de responsabilidade criminal do acusado. Portanto, os
provas por meios ilícitos, da não auto- recursos de natureza extraordinária não
incriminação, com todos os seus desdobramentos configurariam desdobramentos do duplo grau de
de ordem prática, como o direito de igualdade jurisdição, porquanto não seriam recursos de
entre as partes, o direito à defesa técnica plena e ampla devolutividade, já que não se prestariam ao
efetiva, o direito de presença, o direito ao silêncio, debate da matéria fática e probatória. Noutras
o direito ao prévio conhecimento da acusação e palavras, com o julgamento implementado pelo
das provas produzidas, a possibilidade de tribunal de apelação, ocorreria uma espécie de
contraditá-las, com o consequente reconhecimento preclusão da matéria envolvendo os fatos da
da ilegitimidade de condenação que não esteja causa. Os recursos ainda cabíveis para instâncias
devidamente fundamentada e assentada em provas extraordinárias do STJ e do STF — recurso
produzidas sob o crivo do contraditório — especial e extraordinário — teriam âmbito de
cognição estrito à matéria de direito. Nessas jurisprudência, de atribuir efeito apenas
circunstâncias, tendo havido, em segundo grau, devolutivo aos recursos especial e extraordinário
juízo de incriminação do acusado, fundado em — como previsto em textos normativos — seria,
fatos e provas insuscetíveis de reexame pela sob esse aspecto, mecanismo legítimo de
instância extraordinária, pareceria inteiramente harmonizar o princípio da presunção de inocência
justificável a relativização e até mesmo a própria com o da efetividade da função jurisdicional.
inversão, para a situação concreta, do princípio da HC 126292/SP, rel. Min. TeoriZavascki,
presunção de inocência até então observado. Faria 17.2.2016. (HC-126292)
sentido, portanto, negar efeito suspensivo aos (Informativo 814, Plenário)
recursos extraordinários, como o fazem o art. 637 Presunção de inocência e execução provisória de
do CPP e o art. 27, § 2º, da Lei 8.038/1990. condenação criminal - 4
HC 126292/SP, rel. Min. Teori Zavascki, O Plenário asseverou que seria possível tanto a
17.2.2016. (HC-126292) ocorrência de equívocos nos juízos condenatórios
(Informativo 814, Plenário) proferidos pelas instâncias ordinárias quanto em
Presunção de inocência e execução provisória de relação às instâncias extraordinárias. Todavia,
condenação criminal - 3 para essas eventualidades, sempre haveria outros
A Corte destacou, outrossim, que, com relação à mecanismos aptos a inibir consequências danosas
previsão constitucional da presunção de não para o condenado, suspendendo, se necessário, a
culpabilidade, ter-se-ia de considerá-la a execução provisória da pena. Assim sendo,
sinalização de um instituto jurídico, ou o desenho medidas cautelares de outorga de efeito
de garantia institucional, sendo possível o suspensivo ao recurso extraordinário ou especial
estabelecimento de determinados limites. Assim, a seriam instrumentos inteiramente adequados e
execução da pena na pendência de recursos de eficazes para controlar situações de injustiça ou
natureza extraordinária não comprometeria o excessos em juízos condenatórios recorridos. Por
núcleo essencial do pressuposto da não outro lado, a ação constitucional do ―habeas
culpabilidade, na medida em que o acusado corpus‖ igualmente comporia o conjunto de vias
tivesse sido tratado como inocente no curso de processuais com inegável aptidão para controlar
todo o processo ordinário criminal, observados os eventuais atentados aos direitos fundamentais
direitos e as garantias a ele inerentes, bem como decorrentes da condenação do acusado. Portanto,
respeitadas as regras probatórias e o modelo mesmo que exequível provisoriamente a sentença
acusatório atual. Nessa trilha, aliás, haveria o penal contra si proferida, o acusado não estaria
exemplo recente da LC 135/2010 - Lei da Ficha desamparado da tutela jurisdicional em casos de
Limpa, que, em seu art. 1º, I, expressamente flagrante violação de direitos. Vencidos os
consagraria como causa de inelegibilidade a Ministros Marco Aurélio, Rosa Weber, Celso de
existência de sentença condenatória por crimes Mello e Ricardo Lewandowski (Presidente), que,
nela relacionados, quando proferidas por órgão ao concederem a ordem, mantinham a
colegiado. A presunção de inocência não jurisprudência firmada a partir do julgamento do
impediria que, mesmo antes do trânsito em HC 84.078/MG (DJe de 26.2.2010), no sentido de
julgado, o acórdão condenatório produzisse efeitos que a prisão antes do trânsito em julgado da
contra o acusado. De todo modo, não se poderia condenação somente poderia ser decretada a título
desconhecer que a jurisprudência que assegura, cautelar, e de que a ampla defesa não poderia ser
em grau absoluto, o princípio da presunção da visualizada de modo restrito, porquanto englobaria
inocência — a ponto de negar executividade a todas as fases processuais, inclusive as recursais
qualquer condenação enquanto não esgotado de natureza extraordinária.
definitivamente o julgamento de todos os HC 126292/SP, rel. Min. Teori Zavascki,
recursos, ordinários e extraordinários — teria 17.2.2016. (HC-126292)
permitido e incentivado a indevida e sucessiva (Informativo 814, Plenário)
interposição de recursos da mais variada espécie, Câmara de tribunal de justiça composta por
com indisfarçados propósitos protelatórios. juízes de 1º grau - 2
Visaria, não raro, à configuração da prescrição da Não viola o princípio do juiz natural o julgamento
pretensão punitiva ou executória. Cumpriria ao de apelação por órgão colegiado presidido por
Poder Judiciário e, sobretudo, ao STF, garantir desembargador, sendo os demais integrantes
que o processo —único meio de efetivação do ―jus juízes convocados. Com base nessa orientação, a
puniendi‖ estatal —resgatasse sua inafastável Primeira Turma, por maioria, julgou extinto o
função institucional. A retomada da tradicional ―writ‖ sem resolução do mérito. Assentou a
inadequação da via processual, por se tratar de Termo de colaboração premiada e Súmula
―habeas corpus‖ substitutivo de recurso ordinário, Vinculante 14
impetrado contra acórdão do STJ — v. A Segunda Turma, por maioria, negou provimento
Informativo 801. A Turma tampouco concedeu a a agravo regimental em reclamação em que se
ordem de ofício. Consignou que a convocação pretendia a obtenção de acesso a termos de
excepcional e transitória de juízes de primeiro colaboração premiada colhidos em sede de
grau para fazer frente ao excessivo número de investigação criminal. No caso, a autoridade
processos e substituir desembargadores nas reclamada obstara acesso ao reclamante —
câmaras julgadoras, com respaldo em lei denunciado em ação penal — quanto a termos
específica, não caracterizar ofensa ao princípio do relativos a fatos não relacionados à inicial
juiz natural. Ao contrário, essa solução, longe de acusatória. Entretanto, permitira acesso no que se
caracterizar a criação de juízos de exceção ou ―ad refere ao termo no qual fundada a denúncia.
hoc‖, teria a virtude de tentar concretizar uma Sustentava-se ofensa ao Enunciado 14 da Súmula
prestação jurisdicional célere e efetiva, em plena Vinculante (―É direito do defensor, no interesse do
conformidade com a garantia constitucional da representado, ter acesso amplo aos elementos de
razoável duração do processo (CF, art. 5º, prova que, já documentados em procedimento
LXXVIII). Ou seja, não vulnera as garantias investigatório realizado por órgão com
fundamentais do processo, especialmente porque competência de polícia judiciária, digam respeito
observados critérios objetivos e com expressa ao exercício do direito de defesa‖). O Colegiado
autorização legal. Vencidos os Ministros Marco assinalou que esse enunciado sumular assegura ao
Aurélio (relator) e Edson Fachin que concediam a defensor legalmente constituído o direito de
ordem de ofício. acesso às provas já produzidas e formalmente
HC 101473/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, incorporadas ao procedimento investigatório,
red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, excluídas, consequentemente, as informações e
16.2.2016. (HC-101473) providências investigatórias ainda em curso de
(Informativo 814, 1ª Turma) execução e, por isso, não documentadas no
próprio inquérito ou processo judicial. Lembrou
Defensoria Pública e defensor público natural que o conteúdo dos depoimentos pretendidos pelo
A Segunda Turma denegou a ordem em ―habeas reclamante, embora posteriormente tornado
corpus‖ no qual se pretendia a incidência do público e à disposição, encontrava-se, à época do
princípio do defensor natural. No caso, defensor ato reclamado, submetido a sigilo. Assim,
público fora designado para exercer suas funções enquanto não instaurado formalmente o inquérito
em duas comarcas distintas, em dias da semana acerca dos fatos declarados, o acordo de
predeterminados. Por sua vez, o juízo no qual colaboração e os correspondentes depoimentos
processado o paciente determinara a realização de estariam sujeitos a estrito regime de sigilo.
audiência em dia no qual o defensor estaria em Instaurado o inquérito, o acesso aos autos é
comarca diversa, e designara outro advogado para restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao
prestar-lhe assistência na oportunidade. Por essa delegado de polícia, como forma de garantir o
razão, alegava-se, no ―habeas‖, que haveria ofensa êxito das investigações. Assegura-se ao defensor,
à ampla defesa e ao defensor público natural, e no interesse do representado, amplo acesso aos
que o juízo deveria redesignar a audiência para dia elementos de prova que digam respeito ao
em que o defensor público estivesse disponível. A exercício do direito de defesa, devidamente
Turma afirmou que fora assegurado ao paciente o precedido de autorização judicial, ressalvados os
direito de contato prévio e privativo com seu referentes às diligências em andamento. Entendeu,
defensor ―ad hoc‖. Este exercera seu mister com ademais, que seria recomendável não julgar o
eficiência e exatidão, pois participara ativamente pleito prejudicado porque, entre o pedido do
dos depoimentos, formulando perguntas tanto para reclamante e o levantamento do sigilo, vários atos
o acusado quanto para as testemunhas do processuais teriam sido praticados. Dessa forma, a
Ministério Público. Além disso, a Defensoria prejudicialidade poderia implicar a anulação de
Pública deveria se acomodar ao Poder Judiciário, vários desses atos. Vencido o Ministro Dias
e não o contrário, pois a atuação da Defensoria Toffoli, que julgava prejudicado o agravo.
ainda seria insuficiente em alguns locais. Reputava que o termo de colaboração em debate
HC 123494/ES, rel. Min. Teori Zavascki, já fora disponibilizado, tendo em vista não estar
16.2.2016. (HC-123494) mais sob sigilo, razão pela qual não haveria mais
(Informativo 814, 2ª Turma) interesse processual.
S U PERIOR TRI BU NAL D E J U STIÇA
DIREITO PENAL – STJ a decretação da perda do cargo somente
pode ser ajuizada pelo Procurador-Geral de
(INFORMATIVOS 552-578) Justiça quando previamente autorizado pelo
Colégio de Procuradores, o que constitui
ANO DE 2014 condição de procedibilidade, juntamente com
o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória. Com efeito, em se tratando de
DIREITO PENAL. MAIOR GRAU DE normas legais de mesma hierarquia, o fato
REPROVABILIDADE DA CONDUTA DE de a Lei Orgânica Nacional do Ministério
PROMOTOR DE JUSTIÇA EM CRIME DE Público prever regras específicas e
CORRUPÇÃO PASSIVA. diferenciadas das do Código Penal para a
perda de cargo, em atenção ao princípio da
O fato de o crime de corrupção passiva ter especialidade – lex specialis derogat generali
sido praticado por Promotor de Justiça no – , deve prevalecer o que dispõe a lei
exercício de suas atribuições orgânica. REsp 1.251.621-AM, Rel. Min.
institucionais pode configurar Laurita Vaz, julgado em 16/10/2014.
circunstância judicial desfavorável na
dosimetria da pena. Isso porque esse fato DIREITO PENAL. INAPLICABILIDADE DO
revela maior grau de reprovabilidade da ART. 92, I, DO CP A SERVIDOR PÚBLICO
conduta, a justificar o reconhecimento da APOSENTADO ANTERIORMENTE À
acentuada culpabilidade, dada as específicas CONDENAÇÃO CRIMINAL.
atribuições do promotor de justiça, as quais
são distintas e incomuns se equiparadas aos Ainda que condenado por crime praticado
demais servidores públicos latu sensu. durante o período de atividade, o servidor
Assim, a referida circunstância não é inerente público não pode ter a sua aposentadoria
ao próprio tipo penal. REsp 1.251.621-AM, cassada com fundamento no art. 92, I, do
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em CP, mesmo que a sua aposentadoria
16/10/2014. tenha ocorrido no curso da ação penal. De
fato, os efeitos de condenação criminal
DIREITO PENAL. PROCEDIMENTO PARA previstos no art. 92, I, do CP – segundo o
DECLARAR A PERDA DO CARGO DE qual são efeitos da condenação criminal a
MEMBRO VITALÍCIO DO MINISTÉRIO “ perda de cargo, função pública ou mandato
PÚBLICO ESTADUAL. eletivo” – , embora possam repercutir na
esfera das relações extrapenais, são efeitos
Em ação penal decorrente da prática de penais, na medida em que decorrem de lei
corrupção passiva praticada por membro penal. Sendo assim, pela natureza
vitalício do Ministério Público Estadual, constrangedora desses efeitos (que
não é possível determinar a perda do acarretam restrição ou perda de direitos),
cargo com fundamento no art. 92, I, a, do eles somente podem ser declarados nas
CP. De acordo com o art. 92, I, a, do CP, é hipóteses restritas do dispositivo
efeito não automático da condenação a mencionado, o que implica afirmar que o rol
perda do cargo, função pública ou mandato do art. 92 do CP é taxativo, sendo vedada a
eletivo quando aplicada a pena privativa de interpretação extensiva ou analógica para
liberdade por tempo igual ou superior a um estendê-los em desfavor do réu, sob pena de
ano, nos crimes praticados com abuso de afronta ao princípio da legalidade. Dessa
poder ou violação de dever para com a maneira, como essa previsão legal é dirigida
Administração Pública. Entretanto, quanto à para a “ perda de cargo, função pública ou
perda do cargo de membro do Ministério mandato eletivo” , não se pode estendê-la ao
Público Estadual, há norma especial (Lei servidor que se aposentou, ainda que no
8.625/1993 – Lei Orgânica Nacional do decorrer da ação penal. Precedentes citados:
Ministério Público) que dispõe que a perda REsp 1.317.487-MT, Quinta Turma, DJe
do referido cargo somente pode ocorrer após 22/8/2014; e RMS 31.980-ES, Sexta Turma,
o trânsito em julgado de ação civil proposta DJe 30/10/2012. REsp 1.416.477-SP, Rel.
para esse fim. O art. 38, § 2º, da Lei Min. Walter de Almeida Guilherme
8.625/1993 ainda prevê que a ação civil para (Desembargador convocado do TJ/SP),
julgado em 18/11/2014. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO
CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 916.
Consuma-se o crime de roubo com a
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. inversão da posse do bem, mediante
QUESTÃO PREJUDICIAL EXTERNA E emprego de violência ou grave ameaça,
CRIME DE DESCAMINHO. ainda que por breve tempo e em seguida a
perseguição imediata ao agente e
Ainda que o descaminho seja delito de recuperação da coisa roubada, sendo
natureza formal, a existência de decisão prescindível a posse mansa e pacífica ou
administrativa ou judicial favorável ao desvigiada. Como se sabe, o delineamento
contribuinte – anulando o auto de acerca da consumação dos crimes de roubo
infração, o relatório de perdimento e o e de furto foi construído com base no direito
processo administrativo fiscal – romano, cuja noção de furtum – elaborada
caracteriza questão prejudicial externa pelos operadores práticos do direito e pelos
facultativa que autoriza a suspensão do jurisconsultos –, mais ampla que a do furto
processo penal (art. 93 do CPP). O STF, do direito moderno, trazia a exigência da
por ocasião do julgamento do HC 99.740-RJ contrectatio (apreensão fraudulenta da
(DJe 1º/2/2011), firmou compreensão no coisa), visto que se exigia, necessariamente,
sentido de que a consumação do delito de o apossamento da coisa. É de se notar que,
descaminho e a abertura de processo-crime a partir das interpretações discrepantes da
não estão a depender da constituição palavra contrectatio – entendida
administrativa do débito fiscal porque o delito diversamente no sentido de trazer, de mover
de descaminho é formal e prescinde do de lugar, de tocar (materialmente) e pôr a
resultado. E, secundando o entendimento do mão –, explica-se a profusão de teorias sobre
Pretório Excelso, este STJ, por ambas as a consumação do furto. O desenvolvimento
Turmas com competência em matéria penal, desses conceitos, no âmbito do direito
vem também decidindo que o descaminho é romano, levou à distinção de quatro
crime formal, e que a persecução penal momentos da ação: (a) a ação de tocar o
independe da constituição do crédito objeto (contrectatio); (b) a ação de remover a
tributário, como se colhe em reiterados coisa (amotio); (c) a ação de levar a coisa,
precedentes. Do exposto, resulta que, sendo tirando-a da esfera patrimonial do proprietário
desnecessária a constituição definitiva do (ablatio); e (d) a ação de colocar a coisa em
crédito tributário para a tipificação do delito, lugar seguro (illatio). O porquê de tanto
não fica a ação penal – instaurada para a esforço intelectual pode ser encontrado no
apuração de crime de descaminho – no fato de o direito romano não ter desenvolvido
aguardo de processo administrativo, ação a ideia de “tentativa”, motivo pelo qual era
judicial ou execução fiscal acerca do crédito necessária a antecipação da consumação,
tributário, tendo em vista a independência considerando-se já consumado o furto com o
entre as esferas. Todavia, a existência de simples toque da coisa, sem necessidade de
decisão administrativa ou judicial favorável levá-la. Todavia, com o surgimento da noção
ao contribuinte provoca inegável repercussão de tentativa, ficou evidente que não se fazia
na própria tipificação do delito, necessária a antecipação da consumação
caracterizando questão prejudicial externa (attrectatio). Decorre daí o abandono das
facultativa que autoriza a suspensão do teorias radicais (consumação pelo simples
processo penal (art. 93 do CPP). REsp toque ou somente com a colocação da coisa
1.413.829-CE, Rel. Min. Maria Thereza de em local seguro). No Brasil, o histórico da
Assis Moura, julgado em 11/11/2014. jurisprudência do STF quanto ao tema
remete a dois momentos distintos. No
primeiro momento, observava-se, acerca da
ANO DE 2015 consumação do crime de roubo próprio, a
existência de duas correntes na
jurisprudência do STF: (i) a orientação
Recursos Repetitivos tradicional, que considerava consumada a
DIREITO PENAL. MOMENTO infração com a subtração da coisa, mediante
CONSUMATIVO DO CRIME DE ROUBO. violência ou grave ameaça, sem cogitar
outros requisitos, explicitando ser Recursos Repetitivos
desnecessário o locupletamento do agente DIREITO PENAL. MOMENTO
(HC 49.671-SP, Primeira Turma, DJ CONSUMATIVO DO CRIME DE FURTO.
16/6/1972; RE 93.133-SP, Primeira Turma, RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO
DJ 6/2/1981; HC 53.495-SP, Segunda CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 934.
Turma, DJ 19/9/1975; e RE 102.389-SP, Consuma-se o crime de furto com a posse
Segunda Turma, DJ 17/8/1984); e (ii) a de fato da res furtiva, ainda que por breve
orientação segundo a qual se exige, para a espaço de tempo e seguida de
consumação, tenha a coisa subtraída saído perseguição ao agente, sendo
da esfera de vigilância da vítima ou tenha prescindível a posse mansa e pacífica ou
tido o agente a posse pacífica da res, ainda desvigiada. O Plenário do STF (RE 102.490-
que por curto lapso (RE 93.099-SP, Primeira SP, DJ 16/8/1991), superando a controvérsia
Turma, DJ 18/12/1981; RE 96.383-SP, em torno do tema, consolidou a adoção da
Primeira Turma, DJ 18/3/1983; RE 97.500- teoria da apprehensio (ou amotio), segundo a
SP, Segunda Turma, DJ 24/8/1982; e RE qual se considera consumado o delito de
97.677-SP, Segunda Turma, DJ 15/10/1982). furto quando, cessada a clandestinidade, o
Para esta corrente, havendo perseguição agente detenha a posse de fato sobre o bem,
imediata ao agente e sua prisão logo em ainda que seja possível à vítima retomá-lo,
seguida com o produto do roubo, não haveria por ato seu ou de terceiro, em virtude de
que se falar em roubo consumado. Num perseguição imediata. Desde então, o tema
segundo momento, ocorreu a estabilização encontra-se pacificado na jurisprudência dos
da jurisprudência do STF com o julgamento Tribunais Superiores. Precedentes citados do
do RE 102.490-SP em 17/9/1987 (DJ STJ: AgRg no REsp 1.346.113-SP, Quinta
16/8/1991), no qual, de acordo com a referida Turma, DJe 30/4/2014; HC 220.084-MT,
orientação tradicional da jurisprudência (i), Sexta Turma, DJe 17/12/2014; e AgRg no
definiu-se que “Para que o ladrão se torne AREsp 493.567-SP, Sexta Turma, DJe
possuidor, não é preciso, em nosso direito, 10/9/2014. Precedentes citados do STF: HC
que ele saia da esfera de vigilância do antigo 114.329-RS, Primeira Turma, DJe
possuidor, mas, ao contrário, basta que 18/10/2013; e HC 108.678-RS, Primeira
cesse a clandestinidade ou a violência, para Turma, DJe 10/5/2012. REsp 1.524.450-RJ,
que o poder de fato sobre a coisa se Rel. Min. Nefi Cordeiro, Terceira Seção,
transforme de detenção em posse, ainda que julgado em 14/10/2015, DJe 29/10/2015
seja possível ao antigo possuidor retomá-la (Informativo 572).
pela violência, por si ou por terceiro, em Recursos Repetitivos
virtude de perseguição [...]”. Após esse
julgado, o STF, no que tange ao momento DIREITO PENAL. CONFIGURAÇÃO DO
consumativo do roubo, unificou a CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL.
jurisprudência, para entender que se RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO
consuma o crime de roubo no momento em CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 918.
que o agente obtém a posse do bem, Para a caracterização do crime de estupro
mediante violência ou grave ameaça, ainda de vulnerável previsto no art. 217-A,
que não seja mansa e pacífica e/ou haja caput, do Código Penal, basta que o
perseguição policial, sendo prescindível que agente tenha conjunção carnal ou
o objeto subtraído saia da esfera de pratique qualquer ato libidinoso com
vigilância da vítima. Precedentes citados do pessoa menor de 14 anos; o
STJ: AgRg no REsp 1.410.795-SP, Sexta consentimento da vítima, sua eventual
Turma, DJe 6/12/2013; e EDcl no REsp experiência sexual anterior ou a
1.425.160-RJ, Sexta Turma, DJe 25/9/2014. existência de relacionamento amoroso
Precedentes citados do STF: HC 94.406-SP, entre o agente e a vítima não afastam a
Primeira Turma, DJe 5/9/2008; e HC ocorrência do crime. Inicialmente, registre-
100.189-SP, Segunda Turma, DJe se que a interpretação jurisprudencial acerca
16/4/2010. REsp 1.499.050-RJ, Rel. Min. do art. 224, “a”, do CP (antes da entrada em
Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, vigor da Lei 12.015/2009) já vinha se
julgado em 14/10/2015, DJe 9/11/2015 consolidando no sentido de que respondia
(Informativo 572). por estupro ou por atentado violento ao pudor
o agente que mantinha relações sexuais (ou um critério objetivo para análise da figura
qualquer ato libidinoso) com menor de 14 típica, vale dizer, a idade da vítima”. Dessa
anos, mesmo sem violência real, e ainda que forma, não se pode qualificar ou etiquetar
mediante anuência da vítima (EREsp comportamento de crianças, de modo a
1.152.864-SC, Terceira Seção, DJe desviar a análise da conduta criminosa ou
1º/4/2014). Com efeito, o fato de alterações justificá-la. Expressões como
legislativas terem sido incorporadas pela Lei “amadurecimento sexual da adolescente”,
12.015/2009 ao “Título IV – Dos Crimes “experiência sexual pretérita da vítima” ou
contra a Dignidade Sexual”, especialmente mesmo a utilização das expressões “criança
ao “Capítulo II – Dos Crimes Sexuais contra prostituta” ou “criança sedutora” ainda
Vulnerável”, do CP, estanca, de uma vez por frequentam o discurso jurisprudencial, como
todas, qualquer dúvida quanto à irrelevância, se o reconhecimento de tais circunstâncias,
para fins de aperfeiçoamento do tipo penal em alguma medida, justificasse os crimes
inscrito no caput do art. 217-A, de eventual sexuais perpetrados. Esse posicionamento,
consentimento da vítima ao ato libidinoso, de todavia, implica a impropriedade de se julgar
anterior experiência sexual ou da existência a vítima da ação delitiva para, a partir daí,
de relacionamento amoroso entre ela e o julgar-se o agente. Refuta-se, ademais, o
agente. Isso porque, a despeito de parte da frágil argumento de que o desenvolvimento
doutrina sustentar o entendimento de que da sociedade e dos costumes possa
ainda se mantém a discussão sobre configurar fator que não permita a
vulnerabilidade absoluta e vulnerabilidade subsistência de uma presunção que toma
relativa, o tipo penal do art. 217-A do CP não como base a innocentia consilli da vítima.
traz como elementar a expressão Basta um rápido exame da história das ideias
“vulnerável”. É certo que o nomem iuris que a penais – e, em particular, das opções de
Lei 12.015/2009 atribui ao citado preceito política criminal que deram ensejo às
legal estipula o termo “estupro de vulnerável”. sucessivas normatizações do Direito Penal
Entretanto, como salientado, a brasileiro – para se constatar que o caminho
“vulnerabilidade” não integra o preceito da “modernidade” é antípoda a essa espécie
primário do tipo. Na verdade, o legislador de proposição. Deveras, de um Estado
estabelece três situações distintas em que a ausente e de um Direito Penal indiferente à
vítima poderá se enquadrar em posição de proteção da dignidade sexual de crianças e
vulnerabilidade, dentre elas: “Ter conjunção adolescentes, evoluiu-se, paulatinamente,
carnal ou praticar outro ato libidinoso com para uma Política Social e Criminal de
menor de 14 (catorze) anos”. Não cabe, redobrada preocupação com o saudável
destarte, ao aplicador do direito relativizar crescimento físico, mental e afetivo do
esse dado objetivo, com o fim de excluir a componente infanto-juvenil de nossa
tipicidade da conduta. A propósito, há população, preocupação que passou a ser
entendimento doutrinário no viés de que: compartilhada entre o Estado, a sociedade e
“Hoje, com louvor, visando acabar, de uma a família, com reflexos na dogmática penal.
vez por todas, com essa discussão, surge em Assim é que novas tipificações vieram
nosso ordenamento jurídico penal, fruto da reforçar a opção do Estado brasileiro – na
Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009, o linha de similar esforço mundial – de
delito que se convencionou denominar de combater todo tipo de violência, sobretudo a
estupro de vulnerável, justamente para sexual, contra crianças e adolescentes. É
identificar a situação de vulnerabilidade que anacrônico, portanto, qualquer discurso que
se encontra a vítima. Agora, não poderão os procure considerar a modernidade, a
Tribunais entender de outra forma quando a evolução moral dos costumes sociais e o
vítima do ato sexual for alguém menor de 14 acesso à informação como fatores que se
(quatorze) anos. [...]. O tipo não está contrapõem à natural tendência civilizatória
presumindo nada, ou seja, está tão somente de proteger certos grupos de pessoas física,
proibindo que alguém tenha conjunção carnal biológica, social ou psiquicamente
ou pratique outro ato libidinoso com menor fragilizadas. Além disso, não há que se falar
de 14 anos, bem como com aqueles em aplicação do princípio da adequação
mencionados no § 1º do art. 217-A do Código social, porquanto no julgamento de caso de
Penal. Como dissemos anteriormente, existe estupro de vulnerável deve-se evitar carga de
subjetivismo, sob pena de ocorrência de vigorar com a seguinte redação: “Transitada
possíveis danos relevantes ao bem jurídico em julgado a sentença condenatória, a multa
tutelado – o saudável crescimento físico, será considerada dívida de valor, aplicando-
psíquico e emocional de crianças e se-lhes as normas da legislação relativa à
adolescentes – que, recorde-se, conta com dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no
proteção constitucional e infraconstitucional, que concerne às causas interruptivas e
não sujeito a relativizações. Ora, a tentativa suspensivas da prescrição”. Portanto, diante
de não conferir o necessário relevo à prática da nova redação dada ao CP, a pena de
de relações sexuais entre casais em que multa não mais possui o condão de
uma das partes (em regra, a mulher) é menor constranger o direito à locomoção do
de 14 anos, com respaldo nos costumes sentenciado (STF: AgRg no HC 81.480-SP,
sociais ou na tradição local, tem raízes em Primeira Turma, DJ 5/4/2002; e HC 73.758-
uma cultura sexista – ainda muito SP, Segunda Turma, DJ 24/9/1999). É
impregnada no âmago da sociedade imperioso frisar que a nova redação do art.
ocidental, sobretudo em comunidades 51 do CP trata da pena de multa como dívida
provincianas, segundo a qual meninas de de valor já a partir do trânsito em julgado da
tenra idade, já informadas dos assuntos da sentença penal condenatória, ou seja, em
sexualidade, estão aptas a manter momento, inclusive, anterior ao próprio
relacionamentos duradouros e estáveis cumprimento da pena privativa de liberdade
(envolvendo, obviamente, a prática sexual), ou da restritiva de direitos. Isso implica
com pessoas adultas. Ressalta-se, por fim, afirmar que o jus puniendi do Estado exaure-
que praticamente todos os países do mundo se ao fim da execução da pena privativa de
repudiam o sexo entre um adulto e um liberdade ou da restritiva de direitos,
adolescente – e, mais ainda, com uma porquanto, em nenhum momento, engloba a
criança – e tipificam como crime a conduta pena de multa, considerada dívida de valor a
de praticar atos libidinosos com pessoa ainda partir do trânsito em julgado da sentença
incapaz de ter o seu consentimento penal condenatória. Entendimento oposto, ou
reconhecido como válido. Precedentes seja, a possibilidade de constrição da
citados: AgRg nos EDcl no AREsp 191.197- liberdade daquele que é apenado somente
MS, Quinta Turma, DJe 19/12/2014; e AgRg em razão de sanção pecuniária, consistiria
no REsp 1.435.416-SC, Sexta Turma, DJe em legitimação da prisão por dívida, em
3/11/2014. REsp 1.480.881-PI, Rel. Min. afronta, portanto, ao disposto no art. 5º,
Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, LXVII, da CF e, ainda, no art. 7º, 7, da
julgado em 26/8/2015, DJe 10/9/2015 Convenção Americana sobre Direitos
(Informativo 568). Humanos (Pacto de San José da Costa
Recursos Repetitivos Rica), cujo texto estabelece que “ninguém
DIREITO PENAL. EXTINÇÃO DA deve ser detido por dívida”. Dessa forma, o
PUNIBILIDADE INDEPENDENTEMENTE reconhecimento da pena de multa como
DO ADIMPLEMENTO DA PENA DE dívida de valor atribui à sanção pecuniária
MULTA. RECURSO REPETITIVO (ART. caráter extrapenal. Se a natureza da multa,
543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA após o trânsito em julgado da condenação,
931. fosse compreendida como de caráter penal,
Nos casos em que haja condenação a mesmo diante da extinção da pena privativa
pena privativa de liberdade e multa, de liberdade ou da restritiva de direitos pelo
cumprida a primeira (ou a restritiva de cumprimento, os efeitos da sentença se
direitos que eventualmente a tenha conservariam até o adimplemento da pena
substituído), o inadimplemento da sanção pecuniária, porquanto não reconhecida a
pecuniária não obsta o reconhecimento extinção da punibilidade do apenado. Após a
da extinção da punibilidade. A Lei alteração legislativa que considerou a pena
9.268/1996 deu nova redação ao art. 51 do de multa como dívida de valor, deve-se
CP e extirpou do diploma jurídico a assinalar também a alteração da
possibilidade de conversão da pena de multa competência para a execução da sanção,
em detenção, no caso de inadimplemento da exclusiva, então, da Fazenda Pública,
sanção pecuniária. Após a alteração conforme disposto no enunciado da Súmula
legislativa, o mencionado artigo passou a 521 do STJ: “A legitimidade para a execução
fiscal de multa pendente de pagamento ainda, (c) se, para a configuração do delito
imposta em sentença condenatória é em questão, é dispensável a identificação
exclusiva da Fazenda Pública”. Portanto, individualizada dos titulares dos direitos
extinta a pena privativa de liberdade (ou autorais violados ou de quem os represente.
restritiva de direitos) pelo seu cumprimento, o Quanto ao primeiro ponto em debate (a),
inadimplemento da pena de multa não obsta realmente, o art. 530-D do CPP dispõe que
a extinção da punibilidade do apenado, "Subsequente à apreensão, será realizada,
porquanto, após a nova redação do art. 51 do por perito oficial, ou, na falta deste, por
CP, dada pela Lei 9.268/1996, a pena pessoa tecnicamente habilitada, perícia
pecuniária é considerada dívida de valor e, sobre todos os bens apreendidos e
desse modo, possui caráter extrapenal, de elaborado o laudo que deverá integrar o
forma que sua execução é de competência inquérito policial ou o processo". Entretanto,
exclusiva da Procuradoria da Fazenda ainda que esse dispositivo legal literalmente
Pública. REsp 1.519.777-SP, Rel. Min. disponha que a perícia deve ser realizada
Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, sobre "todos os bens apreendidos", a
julgado em 26/8/2015, DJe 10/9/2015 materialidade do crime previsto no art. 184, §
(Informativo 568). 2º, do CP pode ser comprovada mediante
Recursos Repetitivos laudo pericial feito por amostragem do
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. produto apreendido, já que basta a
COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DO apreensão de um único objeto para que,
DELITO DE VIOLAÇÃO DE DIREITO realizada a perícia e identificada a falsidade
AUTORAL. RECURSO REPETITIVO (ART. do bem periciado, tenha-se como
543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA configurado o delito em questão. Nesse
926. sentido, a Sexta Turma do STJ (HC 213.758-
É suficiente, para a comprovação da SP, DJe 10/4/2013) já definiu que "há
materialidade do delito previsto no art. critérios estatísticos aptos a permitir que o
184, § 2º, do CP, a perícia realizada, por perito conclua sobre a falsidade ou
amostragem, sobre os aspectos externos autenticidade dos bens a partir de
do material apreendido, sendo exemplares representativos da amostra
desnecessária a identificação dos apreendida [...] contraproducente a análise
titulares dos direitos autorais violados ou de dezenas ou mesmo de centenas de
de quem os represente. No que diz respeito produtos praticamente idênticos para fins de
à comprovação da materialidade dos delitos comprovação da materialidade do delito de
contra a propriedade intelectual, a Lei violação de direito autoral. Entender de forma
10.695/2003 (Lei Antipirataria), além de diversa o disposto no art. 530-D do Código
modificar o art. 184 do CP, incluiu, para de Processo Penal apenas dificultaria a
facilitar a apuração desses crimes, os arts. apuração do delito em questão e retardaria o
530-A e seguintes no CPP, prevendo a término do processo judicial, em
possibilidade de elaboração de laudo pericial inobservância ao princípio constitucional da
por apenas um perito. Previu-se, também, razoável duração do processo (CF, art. 5º,
nos crimes de ação penal pública LXXVIII)", de modo que "a exigência do
incondicionada - aos quais se aplica o legislador de que a perícia seja realizada
procedimento previsto nos arts. 530-B a 530- sobre todos os bens apreendidos se presta,
H -, a possibilidade de a autoridade policial na verdade, não para fins de comprovação
agir de ofício, apreendendo o produto ilícito e da materialidade delitiva, mas para fins de
tomando as medidas necessárias para dosimetria da pena, mais especificamente
cessar a atividade criminosa. Daí o debate para a exasperação da reprimenda-base,
sobre: (a) se a materialidade do crime uma vez que se mostra mais acentuada a
previsto no art. 184, § 2º, do CP pode ser reprovabilidade do agente que reproduz, por
comprovada mediante laudo pericial feito por exemplo, com intuito de lucro, 500 obras
amostragem do produto apreendido; (b) se é intelectuais, [...] do que aquele que, nas
suficiente a análise de características mesmas condições reproduz apenas 20". Do
externas do material apreendido para a mesmo modo, a Quinta Turma do STJ (AgRg
aferição da falsidade necessária à tipificação no REsp 1.451.608-SP, DJe 5/6/2015)
do delito descrito no art. 184, § 2º, do CP; e, também entende que a materialidade do
delito previsto no art. 184, § 2º, do CP pode Turma (HC 273.164-ES, DJe 5/2/2014)
ser comprovada mediante perícia por quanto a Sexta Turma (AgRg no AREsp
amostragem no material apreendido. Em 416.554-SC, DJe 26/3/2015) do STJ. Além
relação ao segundo ponto (b), deve-se disso, o tipo penal descrito no art. 184, § 2º,
destacar que o STJ já possui o entendimento do CP, é perseguido, nos termos do art. 186,
de que é dispensável excesso de formalismo II, do mesmo diploma normativo, mediante
para a constatação da materialidade do crime ação penal pública incondicionada, de modo
de violação de direito autoral, de modo que a que não é exigida nenhuma manifestação do
simples análise de características externas detentor do direito autoral violado para que
dos objetos apreendidos é suficiente para a se dê início à ação penal.
aferição da falsidade necessária à Consequentemente, não é coerente se exigir
configuração do delito descrito no art. 184, § a sua individualização para a configuração do
2º, do CP. Nessa perspectiva, registre-se delito em questão. Saliente-se, ainda, que o
que, conforme a Quinta Turma do STJ, a delito previsto no art. 184, § 2º, do CP é de
análise das características externas, tais natureza formal. Portanto, não demanda,
como a padronização das impressões para sua consumação, a ocorrência de
gráficas, presença de logotipo padrão, resultado naturalístico, o que corrobora a
códigos IFPI, nome do fabricante, cor do prescindibilidade de identificação dos
disco, e a conclusão de que os objetos não titulares dos direitos autorais violados ou de
possuem características de fabricação quem os represente para a configuração do
comuns, são suficientes a atestar a crime em questão. REsp 1.456.239-MG e
falsificação, "até mesmo porque, na maioria REsp 1.485.832-MG, Rel. Min. Rogerio
dos casos, o conteúdo da mídia falsificada é Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em
idêntico ao produto original, situando a 12/8/2015, DJe 21/8/2015 (Informativo 567).
diferença unicamente em seus aspectos Recursos Repetitivos
externos" (AgRg no REsp 1.359.458-MG, DIREITO PENAL. FURTO PRATICADO NO
DJe 19/12/2013). Ademais, seguindo o intuito INTERIOR DE ESTABELECIMENTO
da legislação pátria de facilitar o combate à COMERCIAL GUARNECIDO POR
pirataria, não seria razoável exigir minúcias MECANISMO DE VIGILÂNCIA E DE
no laudo pericial, como a análise do SEGURANÇA. RECURSO REPETITIVO
conteúdo das mídias apreendidas, mesmo (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
porque "a caracterização da materialidade TEMA 924.
delitiva [...] pode ser afirmada [até mesmo] A existência de sistema de segurança ou
por exames visuais sobre a mídia fraudada" de vigilância eletrônica não torna
(AgRg no REsp 1.441.840-MG, Quinta impossível, por si só, o crime de furto
Turma, DJe 10/6/2014). Com a mesma cometido no interior de estabelecimento
compreensão, a Sexta Turma do STJ (AgRg comercial. O crime impossível –
no REsp 1.499.185-MG, DJe 9/3/2015). Por subordinado às regras da adequação típica –
fim, no tocante à terceira questão em debate se manifesta por meio de duas modalidades
(c), de fato, para a configuração do crime em clássicas (art. 17 do CP): (a) a ineficácia
questão, é dispensável a identificação absoluta dos meios empregados pelo agente
individualizada dos titulares dos direitos e (b) a absoluta impropriedade do objeto. A
autorais violados ou de quem os represente. primeira decorre dos meios empregados pelo
Isso porque a violação de direito autoral agente nos atos executivos. A segunda
extrapola a individualidade do titular do refere-se à hipótese em que o objeto do
direito, devendo ser tratada como ofensa ao crime não existe ou lhe falta alguma
Estado e a toda a coletividade, visto que qualidade imprescindível para configurar-se a
acarreta a diminuição na arrecadação de infração. No tocante à primeira modalidade
impostos, reduz a oferta de empregos (em torno da qual surge a discussão aqui
formais, causa prejuízo aos consumidores e enfrentada), há que se distinguir a
aos proprietários legítimos e fortalece o insuficiência do meio (inidoneidade relativa) –
poder paralelo e a prática de atividades deficiência de forças para alcançar o fim
criminosas conexas à venda desses bens, delituoso e determinada por razões de
aparentemente inofensiva. Sob essa qualidade, quantidade, ou de modo – da
orientação, posicionam-se tanto a Quinta ausência completa de potencialidade causal
(inidoneidade absoluta), observando-se que É de perigo abstrato o crime previsto no
a primeira (diferentemente da segunda) não art. 310 do Código de Trânsito Brasileiro.
torna absolutamente impossível o resultado Assim, não é exigível, para o
que consuma o delito, pois o fortuito pode aperfeiçoamento do crime, a ocorrência de
suprir a insuficiência do meio empregado. No lesão ou de perigo de dano concreto na
caso de furto praticado no interior de conduta de quem permite, confia ou entrega
estabelecimento comercial guarnecido por a direção de veículo automotor a pessoa não
mecanismo de vigilância e de segurança, habilitada, com habilitação cassada ou com o
tem-se que, embora os sistemas eletrônicos direito de dirigir suspenso, ou ainda a quem,
de vigilância tenham por objetivo evitar a por seu estado de saúde, física ou mental, ou
ocorrência de furtos, sua eficiência apenas por embriaguez, não esteja em condições de
minimiza as perdas dos comerciantes, visto conduzi-lo com segurança. Ao contrário do
que não impedem, de modo absoluto, a que estabelece o crime imediatamente
ocorrência de subtrações no interior de anterior (art. 309), ou mesmo o posterior (art.
estabelecimentos comerciais. Ora, não se 311), nos quais o tipo exige que a ação se dê
pode afirmar, em um juízo normativo de “gerando perigo de dano”, não há tal
perigo potencial, que o equipamento indicação na figura delitiva prevista no art.
funcionará normalmente, que haverá vigilante 310. Pode parecer uma incoerência que se
a observar todas as câmeras durante todo o exija a produção de perigo de dano para
tempo, que as devidas providências de punir quem dirige veículo automotor, em via
abordagem do agente serão adotadas após a pública, sem a devida Permissão para Dirigir
constatação do ilícito etc. Conquanto se ou Habilitação (art. 309) e se dispense o
possa crer que, sob a perspectiva do que risco concreto de dano para quem contribui
normalmente acontece, na maior parte dos para tal conduta, entregando o automóvel a
casos o agente não logrará consumar a quem sabe não habilitado ou, o que é pior, a
subtração de produtos do interior do quem notoriamente não se encontra em
estabelecimento comercial guarnecido por condições físicas ou psíquicas, pelas
mecanismos de vigilância e de segurança, circunstâncias indicadas no tipo penal, de
sempre haverá o risco de que providências conduzir veículo automotor. Duas
tomadas, por qualquer motivo, não frustrem a considerações, porém, enfraquecem essa
ação delitiva. Além disso, os atos do agente aparente contradição. Em primeiro lugar, o
não devem ser apreciados isoladamente, legislador foi claro, com a redação dada aos
mas em sua totalidade, uma vez que o arts. 309 e 311, em não exigir a geração
criminoso pode se valer de atos inidôneos no concreta de risco na conduta positivada no
início da execução, mas ante a sua art. 310. Poderia fazê-lo, mas preferiu
indiscutível inutilidade, passar a praticar atos contentar-se com a deliberada criação de um
idôneos. Portanto, na hipótese aqui risco para um número indeterminado de
analisada, o meio empregado pelo agente é pessoas por quem permite a outrem, nas
de inidoneidade relativa, visto que há situações indicadas, a condução de veículo
possibilidade (remota) de consumação do automotor em via pública. Em segundo lugar,
delito. Sendo assim, se a ineficácia do meio não há total identidade das situações
deu-se apenas de forma relativa, não é previstas nos arts. 309 e 310. Naquela,
possível o reconhecimento do instituto do cinge-se o tipo a punir quem dirige sem
crime impossível previsto no art. 17 do CP. habilitação; nesta, pune-se quem permite,
REsp 1.385.621-MG, Rel. Min. Rogerio confia ou entrega a direção de veículo
Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em automotor tanto a pessoa não habilitada, com
27/5/2015, DJe 2/6/2015 (Informativo 563). habilitação cassada ou com o direito de dirigir
Recursos Repetitivos suspenso quanto a quem, por seu estado de
DIREITO PENAL. CARACTERIZAÇÃO DO saúde, física ou mental, ou por embriaguez,
CRIME DE ENTREGA DE DIREÇÃO DE não esteja em condições de conduzi-lo com
VEÍCULO AUTOMOTOR A PESSOA NÃO segurança. Trata-se, na verdade, de uma
HABILITADA. RECURSO REPETITIVO visão que deve repousar mais corretamente
(ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). no incremento do risco ocasionado com a
TEMA 901. entrega da direção de veículo para pessoa
não habilitada ou em quaisquer das outras
hipóteses legais. Conforme entendimento com areia, pede ao seu ajudante, não
doutrinário, em todas essas situações, a habilitado, que realize uma manobra de
definição do risco permitido delimita, poucos metros, em área rural desabitada e
concretamente, o dever de cuidado para sem movimento, para melhor posicionar a
realizar a ação perigosa de dirigir veículo carroceria do automóvel. Faltaria tipicidade
automotor em vias urbanas e rurais, material a tal comportamento, absolutamente
explicando o atributo objetivo contido no inidôneo para pôr em risco a segurança de
dever de cuidado objetivo. A violação da terceiros. Portanto, na linha de entendimento
norma constitui a criação de um risco não de autorizada doutrina, o art. 310, mais do
permitido, culminando, com o desvalor da que tipificar uma conduta idônea a lesionar,
ação, na lesão ao dever de cuidado objetivo. estabelece um dever de garante ao
Por todo exposto, afigura-se razoável atribuir possuidor do veículo automotor. Neste caso,
ao crime materializado no art. 310 a natureza estabelece-se um dever de não permitir,
de crime de perigo abstrato, ou, sob a ótica confiar ou entregar a direção de um
ex ante, de crime de perigo abstrato- automóvel a determinadas pessoas,
concreto, em que, embora não baste a mera indicadas no tipo penal, com ou sem
realização de uma conduta, não se exige, a habilitação, com problemas psíquicos ou
seu turno, a criação de ameaça concreta a físicos, ou embriagadas, ante o perigo geral
algum bem jurídico e muito menos lesão a que encerra a condução de um veículo
ele. Basta a produção de um ambiente de nessas condições. Precedentes citados: RHC
perigo em potencial, em abstrato, de modo 48.817-MG, Quinta Turma, DJe 28/11/2014;
que a atividade descrita no tipo penal crie e AgRg no RHC 41.922-MG, Quinta Turma,
condições para afetar os interesses DJe 15/4/2014. REsp 1.485.830-MG, Rel.
juridicamente relevantes, não condicionados, Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para
porém, à efetiva ameaça de um determinado acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz,
bem jurídico. Embora seja legítimo aspirar a Terceira Seção, julgado em 11/3/2015, DJe
um Direito Penal de mínima intervenção, não 29/5/2015 (Informativo 563).
pode a dogmática penal descurar de seu Recursos Repetitivos
objetivo de proteger bens jurídicos de DIREITO PENAL. REMIÇÃO DE PENA EM
reconhecido relevo, assim entendidos, na RAZÃO DE ATIVIDADE LABORATIVA
dicção de Claus Roxin, como “interesses EXTRAMUROS. RECURSO REPETITIVO
humanos necessitados de proteção penal”, (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ).
qual a segurança do tráfego viário. Não se TEMA 917.
pode, assim, esperar a concretização de É possível a remição de parte do tempo de
danos ou exigir a demonstração de riscos execução da pena quando o condenado,
concretos a terceiros para a punição de em regime fechado ou semiaberto,
condutas que, a priori, representam potencial desempenha atividade laborativa
produção de danos a pessoas extramuros. Segundo o art. 126, caput, da
indeterminadas, que trafeguem ou caminhem Lei de Execução Penal (LEP), “O condenado
no espaço público. O subsistema social do que cumpre a pena em regime fechado ou
tráfego viário exige o respeito a regras de semiaberto poderá remir, por trabalho ou por
observância generalizada, sem o qual se estudo, parte do tempo de execução da
enfraquece o princípio da confiança (aqui pena”. Ainda, dispõe o § 6º do referido
entendido, conforme o pensamento de Roxin, dispositivo legal que: “O condenado que
como princípio de orientação capaz de cumpre pena em regime aberto ou
indicar os limites do cuidado objetivo semiaberto e o que usufrui liberdade
esperado ou do risco permitido), condicional poderão remir, pela frequência a
indispensável para o bom funcionamento do curso de ensino regular ou de educação
trânsito e a segurança de todos. Não se profissional, parte do tempo de execução da
exclui, por óbvio, a possibilidade de pena ou do período de prova, observado o
ocorrerem situações nas quais a total disposto no inciso I do § 1º deste artigo”.
ausência de risco potencial à segurança Constata-se que os dispositivos supracitados
viária afaste a incidência do direito penal, não fizeram nenhuma distinção ou referência,
como se poderia concluir do exemplo de para fins de remição de parte do tempo de
quem, desejando carregar uma caminhonete execução da pena, quanto ao local em que
deve ser desempenhada a atividade atividade laborativa, não se há de impor ao
laborativa, de modo que se mostra condenado que exerce trabalho extramuros
indiferente o fato de o trabalho ser exercido os ônus decorrentes dessa ineficiência. Cabe
dentro ou fora do ambiente carcerário. Na
ressaltar que a supervisão direta do próprio
verdade, a lei exige apenas que o condenado
esteja cumprindo a pena em regime fechado trabalho deve ficar a cargo do patrão do
ou semiaberto (HC 206.313-RJ, Quinta apenado, cumprindo à administração
Turma, DJe 11/12/2013). Ademais, se o carcerária a supervisão sobre a regularidade
condenado que cumpre pena em regime do trabalho. Por fim, se concedida ao
aberto ou semiaberto pode remir parte da apenado pelo Juízo das Execuções Criminais
reprimenda pela frequência a curso de a possibilidade de realização de trabalho
ensino regular ou de educação profissional,
extramuros, mostrar-se-ia, no mínimo,
não há razões para não considerar o trabalho
extramuros de quem cumpre pena em regime contraditório o Estado-Juiz permitir a
semiaberto como fator de contagem do realização dessa atividade fora do
tempo para fins de remição. Além disso, insta estabelecimento prisional, com vistas à
salientar que o art. 36 da LEP somente ressocialização do apenado, e, ao mesmo
prescreve a exigência de que o trabalho tempo, ilidir o benefício da remição. REsp
externo seja exercido, pelos presos em 1.381.315-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti
regime fechado, por meio de “serviço ou
Cruz, Terceira Seção, julgado em
obras públicas realizadas por órgãos da
Administração Direta ou Indireta, ou 13/5/2015, DJe 19/5/2015 (Informativo 562).
entidades privadas, desde que tomadas as
cautelas contra a fuga e em favor da
disciplina”. Dessa forma, em homenagem,
sobretudo, ao princípio da legalidade, não
ANO DE 2016
cabe restringir a futura concessão de remição
da pena somente àqueles que prestam
Terceira Seção
serviço nas dependências do
estabelecimento prisional, tampouco deixar
de recompensar o apenado que, cumprindo a
pena no regime semiaberto, exerça atividade DIREITO PENAL. REITERAÇÃO
laborativa, ainda que extramuros. Na CRIMINOSA NO CRIME DE DESCAMINHO
verdade, a LEP direciona-se a premiar o
E PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. A
apenado que demonstra esforço em se
ressocializar e que busca, na atividade reiteração criminosa inviabiliza a aplicação
laboral, um incentivo maior à reintegração do princípio da insignificância nos crimes de
social: “A execução penal tem por objetivo descaminho, ressalvada a possibilidade de,
efetivar as disposições de sentença ou no caso concreto, as instâncias ordinárias
decisão criminal e proporcionar condições verificarem que a medida é socialmente
para a harmônica integração social do
recomendável. Destaca-se, inicialmente, que
condenado e do internado” (art. 1º). A
ausência de distinção pela lei, para fins de não há consenso sobre a possibilidade ou
remição, quanto à espécie ou ao local em não de incidência do princípio da
que o trabalho é realizado, espelha a própria insignificância nos casos em que fica
função ressocializadora da pena, inserindo o demonstrada a reiteração delitiva no crime de
condenado no mercado de trabalho e no 32 descaminho. Para a Sexta Turma deste
Tribunal Superior, o passado delitivo do
próprio meio social, minimizando suas
agente não impede a aplicação da benesse.
chances de recidiva delitiva. De mais a mais,
Já para a Quinta Turma, as condições
ausentes, por deficiência estrutural ou
pessoais negativas do autor inviabilizam o
funcional do Sistema Penitenciário, as
benefício. De fato, uma conduta formalmente
condições que permitam a oferta de trabalho
típica, mas materialmente insignificante,
digno para todos os apenados aptos à
mostra-se deveras temerária para o
ordenamento jurídico acaso não se analise o lesão jurídica provocada –, deve ser
contexto pessoal do agente. Isso porque se examinada a vida pregressa do agente. Note-
estaria instigando a multiplicação de se que a incidência do princípio da
pequenos crimes, os quais se tornariam insignificância nos casos de reiteração do
inatingíveis pelo ordenamento penal. Nesse crime de descaminho estaria legitimando a
sentido, o Plenário do STF, quando do conduta 77 criminosa, a qual acabaria por se
julgamento dos HC 123.734-MG (DJe tornar, em verdade, lícita. Ora, bastaria, por
2/2/2016), HC 123.533-SP (DJe 8/8/2014) e exemplo, que o agente fizesse o transporte
HC 123.108-MG (DJe 1º/2/2016), a despeito das mercadorias de forma segmentada.
de ter exarado que a aplicação do princípio Logo, a reiteração delitiva deve efetivamente
da insignificância “deve ser analisada caso a ser sopesada de forma negativa para o
caso pelo juiz de primeira instância, e que a agente. Esclareça-se que, ao somar um
Corte não deve fixar tese sobre o tema”, requisito de ordem subjetiva ao exame
acabou por traçar orientação no viés de que acerca da incidência do princípio da
a vida pregressa do agente pode e deve ser insignificância, não se está desconsiderando
efetivamente considerada ao se analisar a a necessidade de análise caso a caso pelo
possibilidade de incidência do preceito da juiz de primeira instância. Antes, se está
insignificância. Ressaltou-se, no mencionado afirmando ser imprescindível o efetivo exame
julgamento, que adotar indiscriminadamente das circunstâncias objetivas e subjetivas do
o princípio da insignificância, na hipótese em caso concreto, porquanto, de plano, aquele
que há qualificação ou reincidência, seria que reitera e reincide não faz jus a benesses
tornar a conduta penalmente lícita e também jurídicas. Dessa forma, ante a ausência de
imune a qualquer espécie de repressão previsão legal do princípio da insignificância,
estatal. Além disso, na mesma ocasião, deve-se entender que não há vedação à sua
salientou-se que a imunização da conduta do aplicação ao reincidente, o que não significa,
agente, ainda que a pretexto de protegê-lo, entretanto, que referida circunstância deva
pode deixá-lo exposto à situação de justiça ser desconsiderada. A propósito, ressalta-se
privada, na medida em que a inação do a teoria da reiteração não cumulativa de
Estado pode fomentar a sociedade a realizar condutas de gêneros distintos, a qual
“justiça com as próprias mãos”, com considera que “a contumácia de infrações
consequências imprevisíveis e penais que não têm o patrimônio como bem
provavelmente mais graves. Concluiu-se, jurídico tutelado pela norma penal (a exemplo
assim, que: “o Judiciário não pode, com sua da lesão corporal) não poderia ser valorada
inação, abrir espaço para quem o socorra. É como fator impeditivo à aplicação do princípio
justamente em situações como esta que se da insignificância, porque ausente a séria
deve privilegiar o papel do juiz da causa, a lesão à propriedade alheia” (STF, HC
quem cabe avaliar em cada caso concreto a 114.723-MG, Segunda Turma, DJe
aplicação, em dosagem adequada, seja do 12/11/2014). Destaca-se, ainda, que apenas
princípio da insignificância, seja do princípio as instâncias ordinárias, que se encontram
constitucional da individualização da pena”. mais próximas da situação que
Portanto, entende-se que, para aplicação do concretamente se apresenta ao Judiciário,
princípio da insignificância no crime de têm condições de realizar o exame do caso
descaminho, além de ser analisado o tributo concreto, por meio da valoração fática e
iludido e os vetores – (a) mínima probatória a qual, na maioria das vezes,
ofensividade da conduta do agente; (b) possui cunho subjetivo, impregnada pelo livre
nenhuma periculosidade social da ação; (c) convencimento motivado. Por fim, não se
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do desconhece a estrutura objetiva do princípio
comportamento; e (d) inexpressividade da da insignificância. No entanto, preconiza-se a
ampliação de sua análise para se incorporar Fischer, julgado em 16/2/2016, DJe
elementos subjetivos que revelem o 24/2/2016 (Informativo n. 577). Quinta Turma
merecimento do réu. Isso não guarda relação
DIREITO PENAL. USO INDEVIDO DE
com o direito penal do autor, mas antes com
INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA. Subsume-
todo o ordenamento jurídico penal, o qual
se à figura típica prevista no art. 27-D da Lei
remete à análise de mencionadas
particularidades para reconhecer o crime n. 6.385/1976 a conduta de quem, em função
privilegiado, fixar a pena-base, escolher o do cargo de alta relevância que exercia em
sociedade empresária, obteve informação
regime de cumprimento da pena, entre
outros. Nesse contexto, ainda que haja um sigilosa acerca da futura aquisição do
controle acionário de uma companhia por
eventual desvirtuamento da teoria da
insignificância em sua gênese, faz-se isso outra (operação cujo estudo de viabilidade já
com o intuito de assegurar a coerência do se encontrava em estágio avançado) – dado
capaz de influir de modo ponderável nas
ordenamento jurídico pátrio, tornando a
incidência do princípio da bagatela um decisões dos investidores do mercado,
verdadeiro privilégio/benefício, que, portanto, gerando apetência pela compra dos ativos da
sociedade que seria adquirida – e, em razão
deve ser merecido, não se tratando da mera
aplicação de uma teoria, haja vista, não raras dessa notícia, adquiriu, no mesmo dia, antes
vezes, ser necessária a adaptação de teorias da divulgação do referido dado no mercado
de capitais, ações desta sociedade, ainda
à nossa realidade. Precedentes citados do
STF: HC 120.662-RS, Segunda Turma, DJe que antes da conclusão da operação de
21/8/2014; HC 109.705-PR, Primeira Turma, aquisição do controle acionário. O art. 27-D
da Lei n. 6.385/1976 (“Utilizar informação
DJe 28/5/2014. EREsp 1.217.514-RS, Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado relevante ainda não divulgada ao mercado,
em 9/12/2015, DJe 16/12/2015 (Informativo de que tenha conhecimento e da qual deva
manter sigilo, capaz de propiciar, para si ou
n. 575). QUINTA TURMA
para outrem, vantagem indevida, mediante
Quinta Turma negociação, em nome próprio ou de terceiro,
com valores mobiliários”) foi editado para
DIREITO PENAL. COMPENSAÇÃO DA
assegurar a todos os investidores o direito à
ATENUANTE DA CONFISSÃO equidade da informação, condição inerente à
ESPONTÂNEA COM A AGRAVANTE DA
garantia de confiabilidade do mercado de
PROMESSA DE RECOMPENSA. É possível capitais, sem a qual ele perde a sua
compensar a atenuante da confissão essência, notadamente a de atrair recursos
espontânea (art. 65, III, "d", do CP) com a para as grandes companhias. A legislação
agravante da promessa de recompensa (art. penal brasileira não explicitou, entretanto, o
62, IV). O STJ pacificou o entendimento no que venha a ser “informação relevante”,
sentido de ser possível, na segunda fase da fazendo com que o intérprete recorra a
dosimetria da pena, a compensação da outras leis ou atos normativos para saber o
atenuante da confissão espontânea com a alcance da norma incriminadora. A par disso,
agravante da reincidência (REsp 1.341.370- convém destacar que, segundo doutrina,
MT, Terceira Seção, DJe 17/4/2013). Esse "insider trading é, simplificadamente, a
raciocínio, mutatis mutandis, assemelha-se à utilização de informações relevantes sobre
presente hipótese, por se tratar da uma companhia, por parte das pessoas que,
possibilidade de compensação entre por força do exercício profissional, estão 'por
circunstâncias igualmente preponderantes, a dentro' de seus negócios, para transacionar
saber, a agravante de crime cometido com suas ações antes que tais informações
mediante paga com a atenuante da confissão sejam de conhecimento do público". Assim,
espontânea. HC 318.594-SP, Rel. Min. Felix "o insider compra ou vende no mercado a
preços que ainda não estão refletindo o descreve um mínimo de materialidade ou
impacto de determinadas informações sobre objetividade ou, noutros termos, a
a companhia, que são de seu conhecimento consciência mínima para permitir a sua
exclusivo". Cumpre esclarecer que as utilização por um investidor médio‟, ou seja, a
"informações" apenas terão relevância para a informação deve estar dotada de
configuração do crime do art. 27-D da Lei n. potencialidade para „influir, de modo
6.385/1976 se a sua utilização ocorrer antes ponderável, na decisão dos investidores do
de serem divulgadas no mercado de capitais. mercado de vender ou comprar valores
Isso porque os fatos com potencial de mobiliários emitidos pela companhia, tal
influência sobre as decisões dos investidores como prevê o artigo 157, § 4º, da Lei n.
devem ser comunicados publicamente, 6.404/1976‟”. Acrescenta-se, ainda, que,
conforme determinam os arts. 3º e 6º, “para que se possa fazer um juízo de
parágrafo único, da Instrução Normativa n. prognose relativamente à idoneidade da
358/2002 da CVM, bem como o art. 157, § informação”, sugere-se fazer “uma
4º, da Lei n. 6.404/1976. Da leitura dos comparação: 'se tal informação quando
referidos comandos normativos, conclui-se publicada fosse, num juízo de previsibilidade
que, quando o insider detiver informações reportado ao momento ex ante da operação,
relevantes sobre sua companhia, deverá suscetível de gerar apetência pela compra ou
informá-las ao mercado tão logo seja venda de ativos, tal informação revelava
possível (arts. 3º da Instrução Normativa n. idoneidade para influenciar a evolução da
358/2002 da CVM e 157, § 4º, da Lei n. cotação. Se as alterações que poderia induzir
6.404/1976), ou, no caso em que não puder fossem sensíveis, será informação
fazê-lo, por entender que sua revelação privilegiada”. Nessa linha intelectiva,
colocará em risco interesse da empresa (art. seguindo definição doutrinária, pode-se dizer
6º da Instrução Normativa), deverá abster-se que informação relevante é aquela que: "a)
de negociar com os valores mobiliários não foi tornada pública; b) é capaz de influir
referentes às informações privilegiadas, de modo ponderável na cotação de títulos ou
enquanto não forem divulgadas. Em termos valores mobiliários (price sensitive); c) seja
gerais, pode-se encontrar a definição de precisa ou concreta”. REsp 1.569.171-SP,
“informação relevante” nos arts. 155, § 1º, da Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em
Lei n. 6.404/1976 e 2º da Instrução n. 16/2/2016, DJe 25/2/2016 (Informativo n.
358/2002 da CVM. Registre-se, nesse 577). Quinta Turma
contexto, que a Instrução Normativa n.
DIREITO PENAL. USO INDEVIDO DE
358/2002 da CVM, em seu art. 2º, elenca 22
INFORMAÇÃO PRIVILEGIADA E
(vinte e duas) hipóteses como exemplos de
AUMENTO DE PENABASE. Representa
fatos potencialmente relevantes, o que
circunstância judicial idônea a exasperar a
constitui, sem dúvida, importante fonte
hermenêutica para a seara criminal, assim pena-base do condenado pelo crime de uso
como a Lei de Sociedade Anônimas. indevido de informação privilegiada (art. 27-D
da Lei n. 6.385/1976) o exercício de cargo de
Entretanto, compete ao aplicador da lei a
valoração em concreto da relevância da alta importância que possibilitou o acesso à
informação, conforme o momento e a “informação relevante”. Isso porque o crime
em questão não exige que o sujeito ativo seja
realidade em que ocorreram, até porque o rol
mencionado não é taxativo, mas ocupante de determinado cargo. O referido
exemplificativo. De mais a mais, conforme tipo penal estabelece apenas que a pessoa,
relativamente à informação, “tenha
entendimento doutrinário, “além desse
critério de índole normativa, a informação conhecimento e da qual deva manter sigilo”.
„deve ter em relação à realidade que Desse modo, o exercício de cargo de alta
relevância que possibilitou o acesso à
“informação privilegiada” demonstra maior operações “dólar-cabo” – nas quais são
culpabilidade na ação perpetrada, situação efetuados pagamentos em reais no Brasil,
que não se traduz em dupla punição pelo com o objetivo de disponibilizar, por meio de
mesmo fato (bis in idem). REsp 1.569.171- quem recebe tal pagamento, o respectivo
SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em montante em moeda estrangeira no exterior –
16/2/2016, DJe 25/2/2016 (Informativo n. preenchem os elementos do delito de evasão
577). Quinta Turma de divisas, na forma do art. 22, parágrafo
único, primeira parte, da Lei n. 7.492/1986,
DIREITO PENAL. ATIPICIDADE PENAL DO
que tipifica a conduta daquele que, “a
EXERCÍCIO DA ACUPUNTURA. 83 O qualquer título, promove, sem autorização
exercício da acupuntura não configura o legal, a saída de moeda ou divisa para o
delito previsto no art. 282 do CP (exercício exterior”. As regras que disciplinam a
ilegal da medicina, arte dentária ou transferência internacional de valores – e
farmacêutica). É cediço que o tipo penal que, portanto, estabelecem o significado de
descrito no art. 282 do CP é norma penal em saída de divisa ou moeda sem autorização
branco e, por isso, deve ser complementado legal – são diversas em relação à saída física
por lei ou ato normativo em geral, para que e à saída eletrônica. Para bem compreender
se discrimine e detalhe as atividades tais diferenças, transcreve-se integralmente o
exclusivas de médico, dentista ou art. 65 da Lei n. 9.069/1995, com a redação
farmacêutico. Segundo doutrina, “A vigente à época dos fatos: “Art. 65. O
complementação do art. 282 há de ser ingresso no País e a saída do País, de
buscada na legislação federal que moeda nacional e estrangeira serão
regulamenta as profissões de médico,
processados exclusivamente através de
dentista ou farmacêutico. Dispõem sobre o transferência bancária, cabendo ao
exercício da medicina a Lei n. 3.268, de estabelecimento bancário a perfeita
20.09.57 e o Dec. n. 20.931, de 11.01.32”. identificação do cliente ou do beneficiário. §
Das referidas leis federais, observa-se que 1º Excetua-se do disposto no caput deste
não há menção ao exercício da acupuntura. artigo o porte, em espécie, dos valores: I –
Nesse passo, o STJ reconhece que não há quando em moeda nacional, até R$
regulamentação da prática da acupuntura, 10.000,00 (dez mil reais); II – quando em
sendo da União a competência privativa para moeda estrangeira, o equivalente a R$
legislar sobre as condições para o exercício 10.000,00 (dez mil reais); III – quando
das profissões, consoante previsto no art. 22, comprovada a sua entrada no País ou sua
XVI, da CF (RMS 11.272-RJ, Segunda saída do País, na forma prevista na
Turma, DJ 4/6/2001). Assim, ausente regulamentação pertinente. § 2º O Conselho
complementação da norma penal em branco, Monetário Nacional, segundo diretrizes do
o fato é atípico. RHC 66.641-SP, Rel. Min. Presidente da República, regulamentará o
Nefi Cordeiro, julgado em 3/3/2016, DJe disposto neste artigo, dispondo, inclusive,
10/3/2016 (Informativo n. 578). Sexta Turma sobre os limites e as condições de ingresso
DIREITO PENAL. OPERAÇÕES “DÓLAR- no País e saída do País da moeda nacional.
CABO” E PRINCÍPIO DA § 3º A não observância do contido neste
INSIGNIFICÂNCIA. Nos casos de evasão de artigo, além das sanções penais previstas na
divisas praticada mediante operação do tipo legislação específica, e após o devido
“dólar-cabo”, não é possível utilizar o valor de processo legal, acarretará a perda do valor
R$ 10 mil como parâmetro para fins de excedente dos limites referidos no § 1º deste
aplicação do princípio da insignificância. artigo, em favor do Tesouro Nacional”. O
Conforme entendimento adotado pelo STF referido dispositivo excetua apenas o porte,
na AP 470, as transações conhecidas como em espécie, do valor de até R$ 10 mil ou o
equivalente em moeda estrangeira, além de de o delito ter sido cometido por organização
remeter ao 84 estabelecimento de outras criminosa complexa e bem estrutura pode ser
hipóteses, na forma prevista na valorado de forma negativa a título de
regulamentação pertinente. Assim, não circunstâncias do crime. Apesar de a Quinta
prospera a tese de que deve ser considerado Turma do STJ, no HC 123.760-SP (DJe
atípico o envio de moeda ou divisas ao 28/11/2011) ter decidido que a sofisticação e
exterior se o volume de cada operação não a complexidade do esquema voltado à
exceder a R$ 10 mil. Isso porque, em prática de operações financeiras clandestinas
primeiro lugar, ressalvada a hipótese do não poderiam ser consideradas
porte de valores em espécie, o ingresso no circunstâncias judiciais desfavoráveis, pois
país e a saída do país, de moeda nacional e seriam ínsitas ao tipo penal, tal entendimento
estrangeira “serão processados não deve prosperar. Isso porque a evasão de
exclusivamente através de transferência divisas pode ser praticada de diversas
bancária, cabendo ao estabelecimento formas, desde meios muito rudimentares –
bancário a perfeita identificação do cliente ou como a simples saída do país com porte de
do beneficiário” (art. 65, caput, da Lei n. dinheiro em valor superior a dez mil reais
9.069/1995). Ou seja, a legislação sem comunicação às autoridades brasileiras
excepcionou, em relação ao valor inferior a – até a utilização de complexos esquemas de
R$ 10 mil (ou seu equivalente em moeda remessas clandestinas. Assim, não parece
estrangeira), apenas a saída física de justo apenar da mesma forma condutas tão
moeda. No caso de transferência eletrônica, distintas como a mera saída física com
saída meramente escritural da moeda, a lei valores não declarados e um sofisticado
exige, de forma exclusiva, o processamento esquema de remessa ilícita, sendo correta,
através do sistema bancário, com perfeita neste último caso, a valoração negativa da
identificação do cliente ou beneficiário. Além vetorial das circunstâncias do delito na
disso, no caso da transferência clandestina fixação da pena-base do delito de evasão de
internacional, por meio de operações do tipo divisas. REsp 1.535.956-RS, Rel. Min. Maria
“dólar-cabo” ou equivalente, existe uma Thereza de Assis Moura, julgado em
facilidade muito grande na realização de 1º/3/2016, DJe 9/3/2016 (Informativo n. 578).
centenas ou até milhares de operações Sexta Turma
fragmentadas sequenciais. É muito mais
DIREITO PENAL. CRIME DE
simples do que a transposição física, por
CONTRABANDO E IMPORTAÇÃO DE
diversas vezes, das fronteiras do país com
COLETE À PROVA DE BALAS. 85
valores inferiores a R$ 10 mil. Admitir a
atipicidade das operações do tipo “dólar- Configura crime de contrabando a
cabo” com valores inferiores a R$ 10 mil é importação de colete à prova de balas sem
prévia autorização do Comando do Exército.
fechar a janela, mas deixar a porta aberta
para a saída clandestina de divisas. REsp A Portaria n. 18 do DLOG, publicada em
1.535.956-RS, Rel. Min. Maria Thereza de 19/12/2006, regulamenta as normas de
avaliação técnica, fabricação, aquisição,
Assis Moura, julgado em 1º/3/2016, DJe
9/3/2016 (Informativo n. 578). Sexta Turma importação e destruição de coletes balísticos
e exige determinadas condições aos
DIREITO PENAL. COMPLEXIDADE DO compradores e importadores desse tipo de
ESQUEMA CRIMINOSO COMO artefato, tais como, autorização prévia do
CIRCUNSTÂNCIA NEGATIVA NA Comando do Exército e restrição a
DOSIMETRIA DA PENA DO CRIME DE determinados órgãos e pessoas. Desse
EVASÃO DE DIVISAS. Na fixação da pena modo, a importação de colete à prova de
do crime de evasão de divisas (art. 22, balas está sujeita à proibição relativa e, por
parágrafo único, da Lei n. 7.492/1986), o fato conseguinte, configura crime de contrabando
quando realizada fora dos moldes previstos do cumprimento, mas não uma inidoneidade
nesse regulamento. RHC 62.851-PR, Rel. ou desnecessidade da pena. Vale ressaltar
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em que essa interrupção, no caso do indulto, é
16/2/2016, DJe 26/2/2016 (Informativo n. um ato de clemência do Estado, que só será
577). reconhecido ao apenado após regular
procedimento judicial. Portanto, até a
DIREITO PENAL. INDULTO E DETRAÇÃO. prolação da decisão que extinguir a
O período compreendido entre a publicação punibilidade do agente, a sua custódia será
do decreto concessivo de indulto pleno e a
decorrente de uma prisão pena. A detração,
decisão judicial que reconheça o benefício por sua vez, é decorrência do princípio
não pode ser subtraído na conta de constitucional da não culpabilidade. A CF
liquidação das novas execuções penais, estabelece que "ninguém será considerado
mesmo que estas se refiram a condenações culpado até o trânsito em julgado de
por fatos anteriores ao decreto indulgente. A sentença penal condenatória". Ocorre que,
concessão do indulto, pleno ou parcial, atinge mesmo antes do trânsito em julgado, em
a pena. Será pleno quando extinguir a pena algumas situações, faz-se necessária a
por completo, resultando na extinção da constrição provisória do acusado. Essa, no
punibilidade. E será parcial, também entanto, é uma prisão cautelar. E, por vezes,
chamado de comutação, quando o ao final do julgamento, pode ocorrer a
afastamento da pena não se der por absolvição do agente ou a prescrição da
completo. No entanto, em ambos os casos, pretensão punitiva. Dessa forma, a detração
os demais efeitos penais e civis do crime visa impedir que o Estado abuse do poder-
permanecem inalterados. Assinale-se, ainda,
dever de punir, impondo ao agente uma
que o indulto não é aplicado de forma fração desnecessária da pena quando
automática. Necessita, assim, de um houver a perda da liberdade ou 86 a
procedimento judicial em que o juiz da internação em momento anterior à sentença
execução irá avaliar se o apenado preenche, condenatória. Em razão desses casos, para
ou não, os requisitos insculpidos no decreto amenizar a situação do réu, o CP
presidencial. Embora haja doutrina que regulamentou que: “Art. 42 - Computam-se,
defenda ser meramente declaratória a na pena privativa de liberdade e na medida
decisão concessiva de indulto, os decretos de segurança, o tempo de prisão provisória,
presidenciais, em geral, possuem condições no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão
objetivas e subjetivas que necessitam de administrativa e o de internação em qualquer
avaliação judicial. Nessa medida, esse dos estabelecimentos referidos no artigo
trâmite processual certamente levará um anterior‟. Nessa linha intelectiva, a detração é
espaço de tempo para ser cumprido, o que uma operação matemática em que se subtrai
afasta a possibilidade de publicação do da pena privativa de liberdade (ou medida de
decreto concessivo do benefício em um dia segurança) aplicada ao réu ao final do
e, já no dia seguinte, a sua aplicação no caso processo, o tempo de prisão provisória,
concreto. Assim, o indulto somente poderá prisão administrativa ou internação em
produzir os seus efeitos após essa avaliação. hospital de custódia e tratamento psiquiátrico
Além disso, em regra, a concessão do indulto que o sentenciado já cumpriu anteriormente.
pressupõe a existência de uma sentença Frise-se que, em razão da equidade, admite-
penal condenatória com trânsito em julgado. se a detração inclusive em processos que
Uma vez transitada em julgado a sentença não guardem relação entre si, desde que a
penal condenatória, surge a pretensão de segregação indevida seja posterior ao crime
execução da pena. Se, posteriormente, o em que se requer a incidência do instituto.
Estado desistir de prosseguir na execução da Nestes casos, embora a prisão processual
pena, haverá, tão somente, uma interrupção
fosse necessária no momento em que foi sexualidade com conotação obscena e
realizada, ao final do julgamento do pornográfica. O art. 241-E do ECA (“Para
processo, a conduta do agente não resultou efeito dos crimes previstos nesta Lei, a
em uma punição efetiva. Dessa forma, é expressão „cena de sexo explícito ou
possível utilizar esse período para descontar pornográfica‟ compreende qualquer situação
a pena referente a crime praticado em data que envolva criança ou adolescente em
anterior. Conclui-se, portanto, que a detração atividades sexuais explícitas, reais ou
é um instituto que pretende amenizar as simuladas, ou exibição dos órgãos genitais
consequências de uma custódia processual, de uma criança ou adolescente para fins
abatendo-se da pena efetivamente aplicada o primordialmente sexuais”) trouxe norma
período em que o réu esteve preso por meio penal explicativa – porém não completa –
de medida cautelar, seja em razão de prisão que contribui para a interpretação dos tipos
provisória, prisão administrativa ou penais abertos criados pela Lei n.
internação em hospital de custódia e 11.829/2008. Nessa linha de intelecção, a
tratamento psiquiátrico. Assim, o instituto da definição de material pornográfico
detração não pode tangenciar o benefício do acrescentada por esse dispositivo 87 legal
indulto porque, enquanto o período não restringe a abrangência do termo
compreendido entre a publicação do Decreto pornografia infanto-juvenil e, por conseguinte,
Presidencial e a decisão que reconhece o deve ser interpretada com vistas à proteção
indulto, decretando-se a extinção da da criança e do adolescente em condição
punibilidade do agente, refere-se a uma peculiar de pessoas em desenvolvimento
prisão pena, a detração somente se opera (art. 6º do ECA). Desse modo, o conceito de
em relação à medida cautelar, o que impede pornografia infanto-juvenil pode abarcar
a sua aplicação no referido período. REsp hipóteses em que não haja a exibição
1.557.408-DF, Rel. Min. Maria Thereza de explícita do órgão sexual da criança e do
Assis Moura, julgado em 16/2/2016, DJe adolescente e, nesse sentido, há
24/2/2016 (Informativo n. 577). entendimento doutrinário. Portanto,
configuram os crimes dos arts. 240 e 241-B
DIREITO DA CRIANÇA E DO
do ECA quando subsiste incontroversa a
ADOLESCENTE E PENAL. TIPIFICAÇÃO
finalidade sexual e libidinosa de fotografias
DAS CONDUTAS DE FOTOGRAFAR CENA
produzidas e armazenadas pelo agente, com
PORNOGRÁFICA E ARMAZENAR enfoque nos órgãos genitais de adolescente
FOTOGRAFIAS DE CONTEÚDO – ainda que cobertos por peças de roupas –,
PORNOGRÁFICO ENVOLVENDO
e de poses nitidamente sensuais, em que
CRIANÇA OU ADOLESCENTE. Fotografar explorada sua sexualidade com conotação
cena e armazenar fotografia de criança ou obscena e pornográfica. REsp 1.543.267-SC,
adolescente em poses nitidamente sensuais, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
com enfoque em seus órgãos genitais, ainda julgado em 3/12/2015, DJe 16/2/2016
que cobertos por peças de roupas, e (Informativo n. 577).
incontroversa finalidade sexual e libidinosa,
adequam-se, respectivamente, aos tipos do DIREITO PENAL. AUMENTO DE PENA-
art. 240 e 241-B do ECA. Configuram os BASE FUNDADO NA CONFIANÇA DA
crimes dos arts. 240 e 241-B do ECA quando VÍTIMA NO AUTOR DE ESTELIONATO. O
subsiste incontroversa a finalidade sexual e cometimento de estelionato em detrimento de
libidinosa de fotografias produzidas e vítima que conhecia o autor do delito e lhe
armazenadas pelo agente, com enfoque nos depositava total confiança justifica a
órgãos genitais de adolescente – ainda que exasperação da pena-base. De fato, tendo
cobertos por peças de roupas –, e de poses sido apontados argumentos idôneos e
nitidamente sensuais, em que explorada sua diversos do tipo penal violado que
evidenciam como desfavoráveis as de pena-base no mínimo legal. Isso porque a
circunstâncias do crime, não há jurisprudência do STJ posiciona-se no
constrangimento ilegal na valoração negativa sentido de que a aplicação da causa de
dessa circunstância judicial (HC 86.409-MS, aumento em patamar acima do mínimo é
Sexta Turma, DJe 23/10/2014). HC 332.676- plenamente válida desde que fundamentada
PE, Rel. Min. Ericson Maranho na gravidade concreta do delito. HC 250.455-
(Desembargador convocado do TJ/SP), RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
julgado em 17/12/2015, DJe 3/2/2016 17/12/2015, DJe 5/2/2016 (Informativo n.
(Informativo n. 576). 576). Sexta Turma